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Apuração do caso Queiroz e milícias ajudou a derrubar diretor da Polícia Federal no Rio

(FOLHAPRESS) – A investigação sobre a natureza dos supostos elos entre milícias do Rio de Janeiro e a família do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o chamado caso Queiroz, teve papel de destaque no surpreendente anúncio de demissão do superintendente da Polícia Federal no estado, delegado Ricardo Saadi.

Bolsonaro vinha se queixando a interlocutores havia meses de que não confiava na atuação de Saadi, que não tinha ingerência direta sobre nenhuma investigação envolvendo o clã Bolsonaro, mas que agia em sintonia com quem lida com o assunto.

A reportagem ouviu de um governista que o presidente considera o tratamento dado às investigações envolvendo seu filho Flávio, senador pelo PSL-RJ, direcionado para atingir sua imagem. Daí a buscar responsáveis, foi um pulo: nunca antes um diretor regional da PF havia sido afastado por uma declaração presidencial.

Em março do ano passado, o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) levou a uma investigação da Polícia Civil que acabou sob intervenção dos militares que comandavam a segurança no Rio por suspeita de tentar tirar do foco o papel de milicianos na execução dela e de seu motorista, Anderson Gomes.

Por determinação do Ministério da Segurança Pública e da Procuradoria-Geral da República, foi criado um grupo na PF para apurar a operação-abafa. O andamento dessa investigação, sigilosa e ainda em aberto, são um dos grandes mistérios hoje em Brasília. O que se sabe é que há uma montanha de sigilos telefônicos e fiscais quebrados à disposição dos investigadores.

Essa apuração, tocada de Brasília, trabalhou ou trabalha em coordenação com Saadi e com o Ministério Público do Rio. Enquanto isso, operações no estado jogaram luz sobre ações de milicianos e o gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL), então deputado estadual (2003-18) e hoje senador.

Tudo começou numa investigação sobre gastos irregulares identificados pelo Coaf (órgão de controle de atividades financeiras) nas contas de Fabrício Queiroz, um ex-PM que era chefe de gabinete de Flávio. No decorrer das apurações, foi revelado que Queiroz empregou parentes de milicianos no gabinete, inclusive mulher e mãe de um suspeito de executar Marielle e Gomes.

Em abril deste ano, o senador e mais 85 pessoas tiveram seus sigilos quebrados pela Justiça, e Flávio foi à luta para obstruir a investigação em tribunais superiores. Em julho, o presidente do Supremo, Dias Toffoli, concedeu liminar suspendendo os procedimentos porque eles se baseavam em dados do Coaf solicitados sem autorização judicial prévia -o tema ainda será debatido no plenário da corte.

Os Bolsonaro negam quaisquer ligações com milícias, ainda que historicamente tenham sido defensores em tribunas do papel delas para conter o tráfico em favelas fluminenses. Não há nenhuma ligação comprovada conhecida entre a família e a morte de Marielle.

Um amigo de Saadi disse não que não ouviu nenhum relato de pressão direta sobre o delegado, apenas queixas vindas de emissários do Planalto sobre vazamentos e outros procedimentos que Bolsonaro considera constranger sua família.

Para ele, Saadi foi apenas um bode expiatório. Já outro conhecido dele levanta a especulação sobre o tipo de informação a que o superintendente teria tido acesso. A reportagem enviou uma mensagem pedindo entrevista com o delegado, mas ele não a respondeu.

O desgaste interno levou à decisão da chefia da PF de colocar Saadi, que assumiu em fevereiro do ano passado, na rotação natural de cargos da corporação. O processo vinha sendo conduzido com tranquilidade até que Bolsonaro interveio na quinta (15) e anunciou que o superintendente estava fora.

Para piorar o atrito, o presidente também disse que não aceitaria o substituto indicado para o cargo, o superintendente em Pernambuco, Carlos Henrique Oliveira, e que gostaria de ver no Rio o delegado Alexandre Saraiva, chefe da PF no Amazonas.

A situação entrou em banho-maria nesta sexta (16) com a ameaça de uma renúncia geral de superintendentes se Oliveira não for efetivado no Rio. Bolsonaro moderou um pouco seu discurso, dizendo que Saraiva seria uma sugestão, mas o impasse continua.

Tudo isso se insere no crescente mal-estar entre o presidente e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. O ex-juiz da Lava Jato, sob pressão devido às revelações de conversas suas com procuradores da operação a partir de vazamento do site The Intercept, já estava agastado com Bolsonaro desde que o presidente deu aval para retirar o Coaf de sua jurisdição.

Há cerca de duas semanas, ambos se encontraram para uma conversa no Palácio da Alvorada. Segundo relatos de conhecidos de ambos, a reunião acabou aos gritos, com Moro deixando a residência oficial do presidente. Na mesa, ficaram todos os problemas recentes.

Um aliado do ministro afirma que ele não entende a dinâmica de críticas e afagos que recebe do presidente senão como temor que sua figura política cresça e faça sombra à de Bolsonaro numa eventual disputa presidencial em 2022.

 

 

*Com informações do GaúchaZH

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Para delegados, demissão de superintendente, por Bolsonaro, ameaça autonomia da PF

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), sinalizou que vai tirar Ricardo Saadi do cargo por questão de produtividade.

indicato dos Delegados de Polícia Federal de São Paulo (SINDPF-SP) considerou uma ameaça à autonomia da Polícia Federal o anúncio feito pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) de demitir o superintendente da corporação no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi.

Para os delegados, não é atribuição do chefe do Executivo nacional decidir sobre a superintendência. A nota divulgada nesta quinta-feira (15/08/2019) pelo sindicato indica que, com esse comportamento, Bolsonaro trata a instituição de forma desrespeitosa.

“A escolha de superintendentes compete ao Diretor-Geral da Polícia Federal e a fala do presidente, mais que desrespeitosa, atenta contra a autonomia da Polícia Federal”, diz em nota a entidade.

e acordo com o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, a iniciativa de Bolsonaro foi uma surpresa para a corporação. “Faz muito tempo que eu não vejo um presidente fazer isso. Geralmente quem faz a troca é o diretor-geral da PF”, explicou o delegado.

Na visão de Paiva, o ideal seria que as indicações para a Polícia Federal não tivessem a interferência do governo. “Nós não gostaríamos que passassem pelas áreas políticas, por questões de interesse”, afirmou. “A PF é um órgão do Estado, não exclusivo do presidente”, declarou.

Ainda segundo o delegado, Ricardo Saadi já tinha planos de deixar a superintendência. “Ele estava querendo sair para morar em Brasília, com a família”, informou.

Ao deixar o Palácio do Alvorada nesta quinta-feira, Bolsonaro indicou que vai trocar o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Ao falar sobre o motivo da demissão, o mandatário do país resumiu: “Questão de produtividade” e um “sentimento” para evitar problemas.

Leia a nota na íntegra:
“O Sindicato dos Delegados de Polícia Federal no Estado de São Paulo (SINDPF-SP) manifesta seu repúdio às declarações dadas pelo presidente da República acerca da exoneração do superintendente regional da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Evocando um “sentimento” e alegando motivo de “produtividade”, Bolsonaro anunciou sua decisão durante entrevista a jornalistas no Palácio da Alvorada, em Brasília.

A escolha de superintendentes compete ao Diretor-Geral da Polícia Federal e a fala do presidente, mais que desrespeitosa, atenta contra a autonomia da Polícia Federal.

A PF é uma instituição de Estado e deve ter autonomia para se manter independente e livre de quaisquer ingerências políticas. Por isso é tão urgente que se aprove a PEC 412, que tramita há 10 anos no Congresso Nacional para garantir a autonomia da instituição.”

 

 

*Com informações do Metrópoles