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Ataque a Israel reconfigura a política na região

Pano de fundo são as conversações para a normalização de relações entre o país e a Arábia Saudita.

O ataque do Hamas a Israel traz um abalo sísmico na política do Oriente Médio. No curto prazo, a população israelense deverá se unir em torno do premiê Binyamin Netanyahu para dar uma resposta ao grupo terrorista (“rally’round the flag”). Mas essa é uma tarefa extremamente complexa tanto do ponto de vista militar como político.

Os israelenses não podem simplesmente despejar toneladas de bombas sobre Gaza, como fariam em condições normais. O Hamas capturou mais de uma centena de reféns e os espalhou pela área.

Netanyahu também precisa ser cuidadoso para não alienar o incomum apoio político que Israel conseguiu angariar. Uma incursão terrestre é provável, mas não sem muitas baixas entre os israelenses. Cenários mais tenebrosos incluem uma escalada, com o envolvimento militar do Hizbullah e eventualmente até do Irã.

Mais à frente, Netanyahu será cobrado por seus erros. Os serviços de inteligência fracassaram espetacularmente. Quando algo parecido aconteceu, 50 anos atrás, na Guerra do Yom Kippur, o governo de Golda Meir caiu poucos meses depois. Foi o começo do fim da hegemonia dos trabalhistas. Não é impossível que os israelenses se deem conta de que a estratégia da direita de apenas administrar o conflito com os palestinos não é sustentável, levando à eleição de uma administração que volte a discutir seriamente a paz, não com o Hamas, é claro, mas com outros grupos palestinos.

O pano de fundo geopolítico são as conversações para a normalização de relações entre Israel e Arábia Saudita. Por ora, elas ficam congeladas, como queriam o Hamas e o Irã. Dependendo do que acontecer nas próximas semanas e meses, podem colapsar inteiramente ou até acabar sendo fortalecidas, o que favoreceria uma solução negociada para o surgimento de um Estado palestino.

Gostaria de acreditar na segunda possibilidade, mas ninguém jamais perdeu dinheiro por apostar contra a paz no Oriente Médio.

*Hélio Schwartsman/Folha

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Hamas ameaça transmitir a execução de reféns israelenses se bombardeios em Gaza continuarem

Porta-voz do grupo extremista, Abu Obeida, disse responsabiliza Israel pela decisão de matar os cativos.

O Hamas, que lançou uma ofensiva-relâmpago contra Israel no sábado, ameaçou nesta segunda-feira matar reféns caso o Estado judeu continue com os bombardeiros contra a Faixa de Gaza. O grupo extremista armado acrescentou que pretende transmitir as execuções, diz O Globo.

“Qualquer ataque a civis inocentes sem aviso prévio será enfrentada infelizmente com a execução de um dos reféns sob nossa custódia, e seremos forçados a transmitir esta execução”, disse Abu Obeida, porta-voz do Hamas.

“Lamentamos esta decisão, mas consideramos que o inimigo sionista (Israel) e a sua liderança tem responsabilidade por isto”, afirmou Obeida, de acordo com a rede de televisão Al Jazeera.

Conflito armado
Dezenas de pessoas desaparecidas podem ter sido capturadas em Israel por integrantes do Hamas no último fim de semana. Agora, de acordo com a mídia local, as vítimas estão sendo mantidas em diferentes locais da Faixa de Gaza, e o governo israelense tem se mobilizado para estabelecer o número exato de reféns.

Porta-voz internacional do exército, Richard Hecht disse à CNN que “dezenas” de pessoas foram capturadas. Ele ressaltou que a situação era “complexa”, e que “civis, crianças e avós” estavam entre os desaparecidos. Além dos israelenses, porém, pessoas de outras nacionalidades também estão entre os sequestrados.

— O vídeo parece muito ruim, mas ainda tenho esperança. Espero que ela ainda esteja viva em algum lugar. Não temos mais nada pelo que esperar. Estamos tentando acreditar — destacou Ricarda, que também divulgou um vídeo nas redes sociais para apelar por informações sobre Shani.

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Bolsa de Israel perde mais de R$ 80 bilhões após ataques do Hamas

Setor financeiro liderou as perdas em mercado de Tel Aviv; dólar subiu cerca de 3% contra moeda israelense desde início do conflito.

A bolsa de Israel perdeu 63 bilhões de novos shekels israelenses no primeiro pregão após os ataques terroristas do Hamas. A quantia é equivalente a cerca de US$ 16 bilhões e a R$ 82 bilhões. A perda de valor de mercado das empresas listadas na bolsa de Tel Aviv foi registrada no domingo, 8. um dia após a ofensiva ao território israelense, segundo a Exame.

O funcionamento do mercado local vai de domingo a quinta-feira, devido ao sábado ser considerado dia sagrado no judaísmo, o Shabat. O principal índice da bolsa de Tel Aviv, o TA 35, caiu 6,47% no domingo. O índice, nesta segunda, sobe perto de 1%, recuperando parte das perdas do dia anterior.

O setor financeiro foi o que mais se desvalorizou em Israel. As perdas foram lideradas pelo Banco Hapolim, que perdeu 4,5 bilhões de shekels (R$ 5,9 bilhões) em valor de mercado. Os bancos Leumi e Mizrahi Tefahot tiveram respectivas depreciações de 4,2 bilhões e 3,1 bilhões de shekels (R$ 5,5 bilhões e R$ 4,11 bilhões).

O mercado de Israel
Cerca de 541 ações estão listadas na bolsa de Tel Aviv. A quantidade supera as 374 empresas listadas na B3. Apesar do número relativamente alto de companhias com capital aberto em Israel, a soma do valor é bem inferior à da bolsa brasileira.

No fim do último pregão, as empresas da bolsa de Tel Aviv valiam juntas 951,3 bilhões de shekels (R$ 1,24 trilhão), enquanto o valor de mercado das empresas da B3 terminou a última sessão em R$ 4,2 trilhões.

Desvalorização da moeda e alta do dólar
A queda do valor de mercado da bolsa israelense é seguida da desvalorização da moeda local. O dólar, que sobe no mundo inteiro em meio à aversão ao risco, chega ao segundo de apreciação contra o novo shekel nesta segunda-feira. A valorização dólar acumulada em dois dias é de 2,99% contra o shekel. Em Israel, o dólar é cotado a 3,9537 shekels.

 

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‘Foi a maior derrota da carreira de Netanyahu’, diz especialista da Crisis Group sobre impacto da guerra em Israel

Para Joost Hiltermann do Crisis Group, conflito pode transbordar para outros países do Oriente Médio dependendo do que acontecer em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, sagrada para muçulmanos e cristãos.

Ninguém estava preparado” para o que aconteceu na manhã de sábado em Israel, quando o grupo extremista armado Hamas lançou um ataque-surpresa terrorista sem precedentes por terra, céu e mar, disse ao GLOBO Joost Hiltermann, diretor do programa de Oriente Médio do Crisis Group e especialista no tema. Para ele, o resultado desta escalada do conflito entre judeus e palestinos é igualmente difícil de mensurar: “dependendo do que acontecer em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, sagrada para muçulmanos e cristãos”, outros atores regionais podem se envolver no conflito, transformando a disputa territorial em uma guerra mais ampla no Oriente Médio, avalia.

O especialista também destaca os impactos do confronto para a política interna de Israel:

— Se a guerra se limitar a Israel e ao Hamas, Israel vencerá militarmente. Mas do ponto de vista político e psicológico, o Hamas já venceu — afirma. — O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu sofreu a maior derrota de sua carreira.

Joost Hiltermann, diretor do programa de Oriente Médio do Crisis Group — Foto: Acervo pessoal

O que explica a falha de segurança de Israel nos ataques do Hamas?

É preciso perguntar às autoridades israelenses sobre isso e ver o que elas dizem, o resto é especulação. Mas minha impressão é que a inteligência israelense tem se concentrado na fronteira norte e na ameaça do Hezbollah e do Irã. E isso não significa que eles não estejam de olho no Hamas nem suspeitem das ligações entre o Hamas e o Irã. Mas, na minha opinião, eles fizeram uma avaliação errada de que o Hamas não tinha capacidade de travar uma guerra de grandes proporções neste momento, porque ainda estava se recuperando dos últimos confrontos. Eles também não achavam que o Hamas consideraria esse o momento certo pelo mesmo motivo. E digo isso em retrospecto, porque também fiquei surpreso com o fato de que esse era o melhor momento. Ninguém estava preparado.

  • O Hamas atacou por terra, céu e mar. Como tiveram acesso a todos esses equipamentos sem serem notados?

Foi um ataque multifacetado muito bem planejado e bem coordenado, realizado em motocicletas, caminhonetes e algumas asas-delta, que não são tão difíceis de conseguir. São todos equipamentos muito pequenos que podem ser facilmente usados com os foguetes, muitos deles feitos em casa. E o Hamas vem construindo esse arsenal há muito tempo, embora seja um arsenal pouco sofisticado. Mas esse é o ponto. É um povo que está sendo oprimido há muito tempo e está desesperado. Eles irão recorrer a todos os meios para encontrar uma forma de lutar por sua liberdade, inclusive motocicletas. No entanto, é preciso dizer que são meios muito imorais atacar, matar e sequestrar civis.

Qual é a gravidade do que está acontecendo neste momento? Podemos falar de uma nova guerra de Yom Kippur?

O único paradoxo com a guerra do Yom Kippur é o elemento surpresa, mas, fora isso, é muito diferente, porque no Yom Kippur eram os exércitos sírio e egípcio que cruzavam o território ocupado por Israel. Hoje, estamos falando de atores palestinos não estatais. O Hamas entrou em Israel a partir do território ocupado e conquistaram alguns tanques, capturaram algumas estruturas, mas foi um ataque baseado no uso de asas-delta, motocicletas e caminhonetes, totalmente diferente do que aconteceu no Yom Kippur.

A recente conexão entre Israel e a Arábia Saudita pode ter desencadeado esse ataque? Quais razões podem estar por trás do momento escolhido pelo Hamas?

Não creio que exista um gatilho único e, certamente, essas conversas não foram um gatilho, porque elas já estavam acontecendo há algum tempo. O Hamas citou a violência em Jerusalém, nas prisões palestinas, que tiveram sérios problemas nas últimas semanas, e também os protestos violentos em Gaza, na fronteira com Israel. Portanto, pode-se dizer que esses foram os gatilhos, embora as tensões não tenham sido tão diferentes de outras que ocorreram no passado. Parece ter sido muito mais a percepção de que Israel estava vulnerável naquele momento e que o Hamas já estava planejando um ataque há meses.

O Irã já declarou apoio à Palestina e o Hezbollah disparou mísseis em “solidariedade” ao Hamas… Qual é a chance de esse novo conflito entre Israel e Palestina se espalhar pelo Oriente Médio?

Depende do que Israel fizer em Gaza e do que acontecer na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, sagrada para muçulmanos e cristãos. Isso pode determinar se outros atores se envolverão no conflito, como o Hezbollah ou o Irã. No momento, não parece que isso vá acontecer, mas quem sabe? Às vezes, os conflitos acontecem porque os atores são arrastados, não porque eles realmente querem.

Correspondente em Tel Aviv: ‘Um foguete do Hamas caiu a uma quadra de onde estou dormindo’, relata Paola de Orte
Os EUA declararam apoio incondicional a Israel. Existe algum risco de que isso possa ser o início de um conflito global?

Não imediatamente. Os Estados Unidos estão brigando com a China pela Palestina, mas a Rússia não vai se envolver, porque está muito ocupada na Ucrânia. Então não parece que haja risco de um conflito global, embora possa haver uma escalada precoce além de Israel e Gaza. Espero que não aconteça, mas é possível.

Netanyahu prometeu destruir todos os locais onde o Hamas está presente. Estamos prestes a ver um banho de sangue?

Netanyahu prometeu destruir os locais onde há equipamento do Hamas, mas o problema é que são áreas povoadas por civis. Não posso prever nada nesse sentido, sob o risco de facilmente estar errado. Mas se Israel lançar uma invasão terrestre em Gaza é seguro dizer que haverá muitas baixas.

Existe um lado certo e um lado errado nessa história?

Há dois modos de analisar esta questão. Um deles é o da guerra, porque existe uma lei internacional para isso e ambos os lados violaram essa lei atacando civis e usando poder de fogo desproporcional. Não estou falando apenas de ontem, mas do passado. Mas há também a dimensão da ocupação militar isralenese de outro povo no território desse outro povo. E isso, inerentemente, causa mais conflitos. É isso que precisa ser resolvido, esperamos que por meio de negociações.

Em termos de política interna, Netanyahu sai mais forte ou mais fraco desse conflito?

Eventualmente, se essa guerra se limitar a Israel e ao Hamas, Israel vencerá militarmente. Mas, do ponto de vista político e psicológico, o Hamas já venceu. E por causa da falha de inteligência e do fracasso do Exército israelense em responder rapidamente, esse governo de direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já perdeu sua moral. É muito difícil de ver, porque no momento eles estão no meio de um conflito externo, então ninguém vai dizer nada para derrubá-los. Mas, quando a luta terminar, acho que o acerto de contas virá e eles vão se arrepender. Não sei se isso significa que o governo cairá ou apenas que algumas pessoas serão demitidas, mas, com certeza, Netanyahu sofreu a maior derrota de sua carreira.

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Vídeo: Abandonada por doadores, Gaza vive colapso social, fome e corte de energia

Jamil Chade*

Os ataques iniciados pelo Hamas contra a Israel abrem um período de incertezas e crise humanitária para a própria população no território palestino. Nas últimas horas, as autoridades israelenses cortaram o abastecimento de energia elétrica para a região, deixando milhares de pessoas sem luz.

Desde ontem, as agências da ONU responsáveis por atender a região foram obrigadas a suspender a distribuição de alimentos, de água e mesmo a coleta de lixo. De acordo com dados oficiais divulgados pela entidade, mais de 40 escolas foram fechadas, enquanto pelo menos 20 mil pessoas buscaram abrigo em instalações da agência da ONU.

Faltam ainda recursos. Para o ano de 2023, a entidade havia solicitado ajuda de US$ 344 milhões da comunidade internacional para socorrer os palestinos. Mas recebeu menos de 20% do que foi solicitado, num sinal de que muitos dos doadores abandonaram a população de Gaza.

Sob o bloqueio de Israel há 16 anos, Gaza já vivia uma situação humanitária considerada como crítica e a pobreza e a fome dominavam seus 2 milhões de habitantes. Neste período, quatro conflitos atingiram a região. De um lado, grupos palestinos acusavam Israel de transformar Gaza em uma prisão a céu aberto. De outro, acusavam o Hamas de usar o sofrimento dos civis para justificar seus objetivos políticos.

Agora, o temor na diplomacia internacional é de que a a população local seja a principal vítima da guerra entre o Hamas e Israel.

Condenando os atos do Hamas, o coordenador da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, deixou claro que a ameaça paira sobre a população civil. “Esse é um precipício perigoso e apelo para que todos deem um passo para longe do abismo”, disse.

Segundo a ONU, as taxas de pobreza na comunidade de refugiados palestinos, que constituem a maioria da população de Gaza, estão em torno de 81,5%.

O PIB per capita de Gaza – de cerca de US$ 1 mil por ano – é atualmente quatro vezes menor do que o dos países vizinhos ou mesmo o da Cisjordânia. “Essa terrível situação foi agravada por repetidos ciclos de hostilidades, tensões e violência exacerbadas, instabilidade política e a pandemia da COVID-19”, afirmam as agências humanitárias da ONU.

“Juntos, esses fatores desestabilizaram a vida de indivíduos e comunidades e aumentaram ainda mais as dificuldades que eles estão enfrentando. Tendo testemunhado mortes, ferimentos e danos ou perda de propriedade causados por quatro grandes rodadas de violência nos últimos 16 anos, muitos habitantes de Gaza – especialmente crianças – apresentam sinais de trauma”, destaca.

Antes mesmo dos ataques deste sábado, a ONU alertava que Gaza estava em “suporte de vida”, com 80% da população dependente de assistência humanitária.

Três em cada quatro habitantes de Gaza dependem de assistência alimentar emergencial e, apesar desse apoio, a taxa de insegurança alimentar grave aumentava.

A taxa de desemprego em 2021 foi de 47%, sendo que a taxa geral de desemprego entre os jovens foi de 64%.

1,1 milhão de refugiados palestino recebem assistência alimentar da UNRWA – a agência da ONU para os refugiados palestinos, em comparação com apenas 80.000 em 2000. Esse é um aumento de 1.324%.

Entre 2007 e 2022, 292 dos poços de água em Gaza, usados para consumo doméstico e para plantações, foram danificados ou destruídos pelas forças de segurança israelenses. Oitenta e um por cento da água extraída dos aquíferos de Gaza não atende à qualidade da água da OMS.

“A população de Gaza esgotou todos os seus mecanismos financeiros de enfrentamento e a ajuda humanitária é sua principal salvação, mas não é uma solução de longo prazo”, avaliava a entidade.

Antes da mais recente crise, foi determinado que uma solução viável e sustentável só seria possível com o fim do bloqueio e a abertura de oportunidades que estabelecerão as bases para o desenvolvimento econômico futuro.

*Uol

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Ministro da Defesa de Israel ordena preparação para evacuação da fronteira com o Líbano

Neste domingo, Hezbollah atacou Israel a partir da fronteira, um dia após ampla ofensiva terrorista do Hamas deixar centenas de mortos.

O Ministro da Defesa de Israel, Yoav Galant, ordenou a preparação para a evacuação das comunidade localizadas nas proximidades da fronteira do país com o Líbano. Nas últimas horas, moradores da região já começaram a deixar a área, após recomendações dos serviços de segurança, segundo o jornal israelense Haaretz.

O diário descreve uma “atmosfera altamente tensa” na região norte da Galiléia neste segundo dia de guerra. A maioria dos residentes próximos da fronteira com o Líbano evacuaram voluntariamente para zonas ao sul. Na região, seguem presentes equipes de emergência e trabalhadores essenciais. Poucos veículos civis são vistos nas estradas. Pelo contrário, há uma presença crescente de tanques e outros veículos militares.

Neste domingo, um dia após o ataque terrorista do Hamas, o Hezbollah lançou uma série de mísseis e artilharia contra três pontos nos campos de Shabaa, disputada região na fronteira entre Líbano e Israel. Até o momento, não foram relatadas vítimas. O líder do grupo armado, Hashem Safi al-Din, responsabilizou ainda os Estados Unidos e Israel pela ofensiva, através de uma mensagem enviada aos países neste domingo.

De acordo com o grupo armado baseado no Líbano, que também atua como um partido político no país, o ataque foi uma demonstração de “solidariedade” ao povo palestino com a operação terrestre, marítima e aérea terrorista lançada no sábado pelo Hamas.

“A Resistência Islâmica (…) atacou três posições do inimigo sionista nos campos de Shabaa ocupados (…) com um grande número de projéteis de artilharia e mísseis guiados”, disse o grupo xiita em um comunicado.

Apenas um dia depois do grupo extremista armado Hamas iniciar a ofensiva terrorista contra Israel, considerada a maior em 50 anos, o número de mortos e feridos não para de crescer. Neste domingo, o Ministério da Saúde palestino em Gaza informou que ao menos 313 palestinos morreram e quase 2 mil ficaram feridos com a reação das forças israelenses. Do outro lado, o levantamento mais recente aponta que há mais de 600 judeus mortos e 1.800 feridos — totalizando mais de mil vítimas fatais e 4 mil feridos.

Mas este parece ser só o início de um conflito sangrento, após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometer um ataque “com todas as forças” contra Gaza que deixará a cidade “em ruínas”. O governo de Israel instou a população palestina a deixar suas casas dentro de 24 horas e iniciou uma operação para evacuar os judeus que residem nos arredores da região.

Como começou
A ofensiva do Hamas contra o Estado de Israel começou às 6h30 de sábado com os disparos de foguetes de vários locais de Gaza. Em seguida, começaram os ataques de entre 200 e 300 combatentes palestinos infiltrados em Israel a diversas localidades próximas ao território. Segundo o Exército de Israel, eles usaram picapes, botes de borracha e até parapentes para entrar no território.

Um porta-voz das Forças Armadas israelenses confirmou que vários civis e soldados foram mantidos reféns em casa, como na cidade de Ofakim, ou levados para o território palestino. O número total de capturados, informa o Haaretz, é desconhecido.

O Hamas divulgou um comunicado após o início dos ataques. Israel, junto com o Egito, mantém um duro bloqueio contra a Faixa de Gaza desde que o grupo assumiu o poder em 2007. Desde então, ocorreram vários conflitos entre combatentes palestinos e o Estado judeu.

“Decidimos pôr fim a todos os crimes da ocupação [israelense], o seu tempo de violência sem responsabilização acabou”, declarou o grupo. “Anunciamos a Operação Dilúvio de al-Aqsa e disparamos, no primeiro ataque de 20 minutos, mais de 5 mil foguetes”, escreveram, fazendo referência à histórica disputa em torno da mesquita de al-Aqsa, local em Jerusalém que é sagrado tanto para muçulmanos como para judeus.

Um alto funcionário do Hamas disse que o objetivo da captura de reféns é trocá-los pelos prisioneiros palestinos nas cadeias israelenses. Em mensagem divulgada em redes sociais, Netanyahu disse que o país está em guerra contra o grupo. “Estamos em guerra e vamos vencer. O inimigo pagará um preço que nunca conheceu”, disse Netanyahu em mensagem de vídeo.

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Vídeo: Ironicamente, um corvo arranca a bandeira de Israel hasteada em ocupação de terras palestinas

Coincidência? Pode ser. Até mesmo os pássaros rejeitam a ocupação.

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Hezbollah assume responsabilidade por ataques contra Israel

O grupo libanês Hezbollah afirmou que as suas armas e foguetes estão a disposição do Hamas depois do ataque a Israel.

O grupo libanês Hezbollah assumiu, neste domingo (8/10), a responsabilidade por três ataques a Israel, em uma região conhecida como Fazendas Shebaa, usando mísseis e artilharia.

As Forças Armadas de Israel, por sua vez, responderam aos ataques disparando artilharia contra uma área do Líbano apontada como a origem dos disparos do Hezbollah, diz o Metrópoles.

O grupo islâmico Hamas iniciou uma série de ataques surpresas contra o território de Israel nesse sábado (7/10). Foram disparados milhares de mísseis a partir da Faixa de Gaza contra cidades e alertas foram disparados em várias regiões, incluindo Jerusalém e Tel Aviv.

O Hezbollah parabenizou o Hamas pelos ataques e informou que suas armas e foques estão à disposição do grupo islâmico.

Líbano x Israel
O Líbano e Israel são considerados inimigos. No entanto, uma trégua entre as duas nações tem sido mantida desde 2006, apesar de pequenos conflitos registrados entre israelenses e libaneses.

Entre um dos principais conflitos entre os dois países, que fazem fronteira, está a Operação Litania que, em 1978, o Exercito de Israel decidiu ocupar uma região do Líbano para atacar um grupo de palestino. A ação tinha como objetivo criar uma de segurança entre os dois territórios.

Além dos conflitos em terra, Israel e Líbano divergem sobre a sua fronteira marítima. No ano passado, os dois países assinaram um acordo para limitar a uma área no mar conhecida pelo seu vasto estoque de petróleo.

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Vídeo mostra bombas de Israel caindo na fronteira com a Faixa de Gaza; israelenses que moram nos arredores dessa região serão retiradas em 24 horas, anuncia governo

O Exército de Israel anunciou neste domingo (8) que nas próximas 24 horas todos os israelenses que vivem ao redor da Faixa de Gaza serão retirados. Além disso, uma força-tarefa foi criada para resgatar civis mantidos reféns pelo grupo Hamas que, no sábado (7), iniciou a ofensiva surpresa, iniciando o maior conflito militar na região nos últimos 50 anos. O número de mortos nos dois lados já chega a mais de 900.

O porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, acusa o Hamas de violar a lei internacional ao manter mulheres e crianças como reféns. Segundo as Forças Armadas do país, duas salas de operações usadas pelo grupo islâmico foram bombardeadas durante a madrugada. Já pela manhã, 10 outros alvos também foram atingidos, entre eles um centro de inteligência, um quartel militar e mais um local onde eram produzidas armas e equipamentos militares.

Além das explosões registradas na Faixa de Gaza, militares israelenses disseram que novos ataques foram feitos contra o norte de Israel partindo do Líbano. O grupo Hezbollah assumiu a autoria dos novos ataques, classificando-os como uma “solidariedade” ao povo palestino.

Israel respondeu aos ataques do Hezbollah disparando barragens de artilharia contra o sul do Líbano. Não há informações sobre vítimas.

*Com G1

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Após anos de cerco à Faixa de Gaza, ataque palestino contra Israel não foi inesperado

Diogo Bercito*

Mais de 2 milhões de pessoas no território não têm liberdade de movimento nem acesso a itens básicos.

Não dá para dizer que os ataques do Hamas ao sul de Israel neste sábado (7) foram inesperados. Palestinos têm dito há anos que a situação na Faixa de Gaza era insustentável, que um dia ia explodir —como explodiu.

Hamas e Israel vão travar um embate físico, de tanques e foguetes, mas vão se enfrentar também na arena pública nos próximos dias. Vão tentar convencer o mundo da justiça e da legalidade das suas ações. Nosso desafio é enxergar através da névoa da guerra. A perspectiva histórica ajuda nessas horas.

A Faixa de Gaza abriga diversas comunidades palestinas expulsas de suas terras em 1948, data da criação do Estado de Israel e do embate com seus vizinhos árabes. Herdaram um trauma. Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel ocupou a faixa. Manteve colônias ali até a sua retirada unilateral em 2005. O território foi tomado em seguida pela facção radical Hamas, que controla Gaza desde então.

O Hamas governa Gaza de maneira autoritária e impõe costumes conservadores à população. Sua liderança se descreve como uma força de resistência. Está em constante atrito com a facção rival, o Fatah, que administra a Cisjordânia. Os laços do Hamas com o eixo iraniano preocupam Israel, em especial.

Com a justificativa de sua segurança, Israel mantém um bloqueio terrestre, aéreo e naval à faixa. É uma forma de ocupação indireta. Palestinos dizem, portanto, que vivem na maior prisão a céu aberto do mundo. São mais de 2 milhões de pessoas instaladas em um território de 365 quilômetros quadrados –um quarto da área do município de São Paulo. Uma das maiores densidades populacionais do mundo.

Moradores de Gaza não têm liberdade de movimento nem acesso garantido a coisas como eletricidade, água potável, remédios e material de construção. Governada por um grupo extremista, uma geração de jovens cresceu odiando as pessoas do outro lado do muro. O Hamas lançou nos últimos anos saraivadas de foguetes contra civis israelenses na fronteira. Israel respondeu com bombardeios, debilitando a infraestrutura local.

Na guerra de 2014, que eu cobri para esta Folha, vi em Gaza algumas cenas mais desoladoras da minha carreira. Entre elas, prédios residenciais transformados em crateras, destruindo famílias inteiras. Entre disparos israelenses vindos da terra, do ar e do mar, palestinos não tinham para onde fugir. É o tipo de memória que persiste por ali e que é instrumentalizada pelo Hamas em dias como hoje.

Desconfie, portanto, das análises dizendo que essa guerra é inesperada. O ataque do Hamas pode ter tomado o governo de Israel de surpresa —o que sinaliza um fiasco histórico de inteligência (e também de bom senso). Mas não é um evento inesperado. É um lembrete do risco de manter um status quo injusto, uma lição que vale para outros governos no mundo.

Os palestinos que aparecem nos vídeos cruzando a fronteira e entrando em Israel nunca tinham deixado a faixa de Gaza durante as suas vidas. Celebram uma fuga, também, e não apenas o ataque e os sequestros. Nada disso justifica, que fique claro, a morte de dezenas de civis israelenses. Imagens terríveis circulam neste sábado, registrando a captura e assassinato de inocentes. É preciso condenar os ataques do Hamas de maneira inequívoca, como tantos governos já fizeram, inclusive, sem titubear. É preciso pressionar as partes envolvidas para que interrompam as hostilidades, também.

Mas, na esfera pública, palestinos têm feito perguntas importantes, que não podemos ignorar. Por exemplo, querem saber por que o mundo celebra os ucranianos que resistem aos russos enquanto condena os palestinos de Gaza. Querem saber também por que as pessoas não censuram com tanta veemência o cerco contínuo à Faixa de Gaza. Querem saber, ainda, quem vai lamentar a morte de civis palestinos nos próximos dias, durante os ataques do Exército israelense, que vai tentar compensar seu fracasso com violência. A dúvida, nesse caso, é quem tem direito à humanidade.

*Folha