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Joaquim de Carvalho: Por que Carlos Bolsonaro não prestou depoimento no inquérito sobre o evento de Juiz de Fora?

Os dois estiveram próximos duas vezes. Em Florianópolis, quando Adélio fez curso de tiro. E em Juiz de Fora, quando Carlos se tranca no carro ao ver Adélio.

Uma das lacunas da investigação sobre a facada ou suposta facada em Juiz de Fora é a presença de Carlos Bolsonaro em Florianópolis no mesmo dia em que Adélio Bispo de Oliveira fazia o curso de tiro no .38, em 5 de julho de 2018.

O inquérito não faz referência se Carlos frequentou o .38 naquele dia, mas sua ida à cidade tinha o objetivo de ir ao local, de que era associado fazia três anos e ao qual prestou homenagem, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, conforme mostra o diploma afixado na parede da recepção.

Quando fiz o documentário “Bolsonaro e Adélio – Uma fakeada no coração do Brasil”, perguntei ao .38 se Carlos Bolsonaro esteve no local naquele dia e se havia imagens das câmeras de segurança. Um relações públicas do clube me atendeu, pediu que formalizasse a solicitação por e-mail, o que fiz e não recebi resposta.

Dois representantes do .38 prestaram depoimento no inquérito, o instrutor de tiro e um proprietário, mas não foram questionados sobre a presença de Carlos Bolsonaro. Um deles disse que, nesse dia, Adélio, à certa altura, ficou sentado na poltrona, mexia no celular e olhava sempre para a porta de entrada.

Adélio estava fazendo o curso, pelo qual receberia certificado, e pelas aulas recebidas teria pago três vezes o valor do aluguel do quarto onde vivia. Adélio não tinha arma. Em 7 de setembro, um dia depois do evento em Juiz de Fora, o Jornal Nacional publicou reportagem com entrevista da porta-voz do clube.

“Ele chegou aqui, fez um cadastro, foi acompanhado, após fazer um cadastro e dar a identidade dele, como todo e qualquer cidadão que vem aqui, por um instrutor para a prática de tiro. Esse instrutor fica junto no momento em que a arma é escolhida. Fica junto a todo instante”, disse Júlia Zanata, que, mais tarde, seria nomeada por Jair Bolsonaro para um cargo regional da Embratur em Santa Catarina.

Nas redes sociais, Júlia Zanata se destacou como militante bolsonarista e recorreu à Justiça para tentar tirar o documentário do YouTube, mas não conseguiu. A censura viria por iniciativa do próprio YouTube, alguns meses antes da eleição no ano passado.

O delegado da Polícia Federal Rodrigo Morais, que investigou o caso, disse a membros de sua equipe que havia dificuldade para investigar o entorno de Bolsonaro, mas, em junho de 2021, quando apurávamos o evento de Juiz de Fora, considerava a hipótese do auto atentado “plausível”.

Na época, o Tribunal Regional Federal da 1a. Região analisava a possibilidade de reabertura do inquérito para, em princípio, analisar o celular e o computador apreendido no escritório de Zanone Júnior, que foi o advogado de Adélio.

Ele dizia que, se o caso fosse reaberto, avançaria na investigação, não apenas analisar os arquivos de Zanone. O delegado cogitava pedir autorização do Supremo Tribunal Federal para uma perícia médica em Bolsonaro.

“Ninguém é obrigado a produzir prova contra si, mas eu pediria, para saber se o que provocou o ferimento”, disse a dois agentes da Polícia Federal.

Quando o caso foi reaberto, Rodrigo Morais acabou promovido para um cargo nos Estados Unidos, e quem assumiu a investigação foi o delegado Martin Bottaro Purper, que tinha investigado a facção criminosa PCC.

Algumas semanas depois, o jornal Metrópoles publicou reportagem sobre a linha de investigação: Purper estaria buscando verificar se havia ligação de Adélio com a facção criminosa.

Nunca mais a Polícia Federal tocou no assunto publicamente, mas a notícia gerou barulho na internet. A militância bolsonarista tentava ligar Adélio ao PCC e o PCC a Lula. Puro delírio, mas em época de campanha o barulho poderia ter efeito junto aos eleitores.

Carlos Bolsonaro é chave para eliminar as lacunas do inquérito sobre o evento de Juiz de Fora. Um vídeo publicado no documentário “Bolsonaro e Adélio – Uma fakeada no coração do Brasil” mostra que Adélio tenta se aproximar de Carlos na tarde de 6 de setembro de 2018, logo após a chegada de Bolsonaro ao Parque Halfeld, início da caminhada pelo calçadão.

Ao vê-lo, Carlos Bolsonaro entrou no carro e se trancou. Em entrevista a Leda Nagle, Carlos falou sobre essa aproximação, que ele não poderia negar, já que as imagens tinham se tornado públicas.

“Tem um determinado momento da gravação do meu pai em Juiz de Fora em que eu saio do carro e o Adélio vem na minha direção, e eu, por um acaso, volto no carro e, quando eu entro no carro novamente, ele recua porque viu que não conseguiria chegar até mim. Tem essa gravação. É público, todo mundo consegue ver. Então, eu voltei para o carro e dez minutos depois aconteceu o que aconteceu”, afirmou.

Se, ao se trancar no carro, desconfiou do homem que usava jaqueta preta apesar do calor na cidade, deveria ter alertado os seguranças.

Sobre a presença em Florianópolis no mesmo dia em que Adélio fazia o curso, contou que, naquele dia, não esteve no clube de tiro.

“Esse cidadão chamado Adélio esteve no clube de tiro .38 no mesmo dia em que eu estava em Florianópolis. Por um acaso, naquele dia, eu não fui ao clube de tiro. (…) Aloprei com um amigo meu que temos mais ou menos a mesma personalidade. ‘Não vou praí, vou pro hotel e dane-se. Não fui'”, disse, na mesma entrevista a Leda Nagle.

Se o clube de tiro tivesse atendido à minha solicitação para ver imagens daquele dia, seria eliminada a dúvida sobre o que diz Carlos Bolsonaro: se não esteve mesmo no clube de tiro naquele dia.

Se a Polícia Federal tivesse examinado o deslocamento de Carlos Bolsonaro a partir de seu celular, também se saberia por onde andou em Florianópolis.

Mas, como não investigava a hipótese de auto atentado, o delegado Morais não requisitou as imagens do clube nem examinou o celular de Carlos Bolsonaro.

A Leda Nagle, Carlos Bolsonaro sugere que poderia ser alvo de Adélio, o que não faz sentido. Examinando a rede social dele, é possível verificar que Adélio só começou a atacar Bolsonaro alguns dias depois do curso no .38.

Entrou na própria página de Jair Bolsonaro no Facebook e o ameaçou. Foi a partir daí que também passou a criticar as propostas de Bolsonaro, e reproduziu entrevista antiga, em que Bolsonaro defende guerra civil no Brasil, com a morte de 30 mil pessoas.

São postagens muito diferentes daquelas que vinha fazendo antes de realizar o curso de tiro, em que defende um projeto de lei apresentado por alguns deputados, entre eles Bolsonaro, para a redução da maioridade penal.

Também era favorável ao serviço de militares em projetos de lazer e educação para jovens. Atacou o projeto de lei que criminaliza a homofobia, apoiado por Jean Wyllys, então deputado pelo PSOL, que os bolsonaristas tentariam ligar a ele.

Esse comportamento, sobretudo as contradições, devem ser investigadas, se o que se busca, no caso de Juiz de Fora, é a verdade factual.

*Joaquim de Carvalho/247

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Lula: uma mão pesada contra o golpismo; e outra estendida à esperança. Por Boaventura de Sousa Santos

Confiemos no gênio político de Lula, para com uma mão pesada punir os golpistas presentes e futuros, e com outra, solidária, amparar e devolver a esperança ao seu povo.

Dificilmente se encontrará na política internacional um começo tão turbulento de um mandato democrático como o que caracterizou o do presidente Lula.

A democracia esteve por um fio e está salva (por agora), devido a uma combinação contingente de fatores excepcionais: o talento de estadista do presidente, a atuação certa no momento certo de um ministro no lugar certo, Flávio Dino, logo secundado pelo apoio ativo do STF.

As instituições especificamente encarregadas de defender a paz e a ordem pública estiveram ausentes, e algumas delas foram mesmo coniventes com a arruaça depredadora de bens públicos.

Quando uma democracia prevalece nestas condições, dá simultaneamente uma afirmação de força e de fraqueza. Mostra que tem mais ânimo para sobreviver do que para florescer. A verdade é que, a prazo, só sobreviverá se florescer e para isso são necessárias políticas com lógicas diferentes, suscetíveis de criarem conflitos entre si. E tudo tem de ser feito sob pressão. Ou seja, o futuro chegou depressa e com pressa.

O Brasil não volta a ser o que era antes de Jair Bolsonaro, pelo menos durante alguns anos. O Brasil tinha duas feridas históricas mal curadas: o colonialismo português e a ditadura. A ferida do colonialismo estava mal curada, porque nem a questão da terra, nem a do racismo antinegro, anti-indígena e anticigano (as duas heranças malditas) estavam solucionadas. A última só o primeiro governo de Lula começou a enfrentar (ações afirmativas etc.).

A ferida da ditadura estava mal curada devido ao pacto com os militares antidemocráticos na transição democrática de que resultou a não punição dos crimes cometidos pelos militares. Estas duas feridas explodiram com toda a purulência na figura de Jair Bolsonaro.
O pus misturou-se no sangue das relações sociais por via das redes sociais e aí vai ficar por muito tempo por ação de um lúmpen-capitalismo legal e ilegal, racial e sexista, que persiste na base da economia, uma base ressentida em relação ao topo da pirâmide, o capital financeiro, devido à usura deste.

Esta ferida mal curada e agora mais exposta vai envenenar toda política democrática nos próximos anos. A convivência democrática vai ter de viver em paralelo com uma pulsão antidemocrática sob a forma de um golpe de Estado continuado, ora dormente ora ativo. Assim será até 2024, data das eleições norte-americanas, devido ao pacto de sangue entre a extrema direita brasileira e a norte-americana.

A tentativa de golpe de 8 de janeiro alterou profundamente as prioridades do presidente Lula. Dado o agravamento da crise social, a agenda de Lula estava destinada a privilegiar a área social. De repente, a política de segurança impôs-se com total urgência. Prevejo que ela vá continuar a ocupar a atenção do Presidente durante todo o tempo em que o subterrâneo golpista mostrar ter aliados nas Forças Armadas, nas forças de segurança e no capital antiamazônico.

Este capital está apostado na destruição da Amazônia e na solução final dos povos indígenas. A fotos dos Yanomami que circularam no mundo só têm paralelo com as fotos das vítimas do holocausto nazista dos anos de 1940.

Como poderia eu imaginar que, oito anos depois de dar as boas-vindas na Universidade de Coimbra aos líderes indígenas de Roraima (comitiva em que se integrava a agora ministra Sônia Guajajara) e de receber deles o cocar e o bastão da chuva – uma grande honra para mim – assistiria à conversão do seu território, por cuja demarcação lutamos, num campo de concentração, um Auschwitz tropical?

O Brasil precisa da cooperação internacional para obter a condenação internacional por genocídio do ex-presidente e alguns dos seus ex-ministros, nomeadamente Sergio Moro e Damares Alves.

Quando o futuro chega depressa, faz exigências que frequentemente se atropelam.

O drama midiático causado pela tentativa de golpe exige muita atenção e vigilância por parte dos dirigentes. Contudo, visto das populações marginalizadas a viver nas imensas periferias, o drama golpista é muito menor do que:

  • Não poder dar comida aos filhos
  • Ser assassinado pela polícia ou pelas milícias
  • Ser estuprada pelo patrão ou assassinada pelo companheiro
  • Ver a casa ser levada pela próxima enxurrada
  • Sentir os tumores a crescer no corpo por excessiva exposição a inseticidas e pesticidas, mundialmente proibidos mas usados livremente no Brasil
  • Ver a água do rio onde sempre se buscou o alimento contaminada ao ponto de os peixes serem veneno vivo
  • Saber que o seu jovem filho negro ficará preso por tempo indefinido apesar de nunca ter sido condenado
  • Temer que o seu assentamento seja amanhã vandalizado por criminosos escoltados pela polícia.

Estes são alguns dos dramas das populações que no futuro próximo, responderão às sondagens sobre a taxa de aprovação do presidente Lula e seu governo. Quanto mais baixa for essa taxa, mais champanhe consumirão os golpistas e lideranças fascistas nacionais e estrangeiras.

Confiemos no gênio político do presidente Lula, que sempre viveu intensamente estes dramas da população vulnerabilizada, para governar com uma mão pesada para conter e punir os golpistas presentes e futuros e para com uma mão solidária, amparar e devolver a esperança ao seu povo de sempre.
Reprodução/TVT

Boaventura de Sousa Santos é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Autor, entre outros livros, de O fim do império cognitivo (Autêntica) e do recém-lançado Descolonizar – Abrindo a História do Presente (Boitempo).

*RBA

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Ao procurador de Haia: o Brasil rejeita uma nova anistia

Jamil Chade – Prezado procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan

Quem morre de fome no Brasil morre assassinado. Nesta semana, graças ao trabalho da plataforma de jornalismo Sumaúma, o mundo teve acesso a algumas imagens desse crime, na forma de corpos desnutridos de membros do povo yanomami.

Aquelas almas agonizantes são resultados de um plano para garantir que sua presença não seja um obstáculo para o avanço do crime organizado, disfarçado de “civilização”.

São cenas que sintetizam um projeto de destruição, que chamamos nos últimos quatro anos de “governo”. Corpos que, diante da desassistência, fazem uma antropofagia para garantir energia suficiente para sobreviver. Consomem a si mesmos até que, sem mais massa para recorrer, se apagam.

Eu escrevo esta carta ao senhor para fazer um pedido tão simples quanto poderoso: investigue Jair Bolsonaro e a transformação do estado brasileiro em uma máquina da morte.

Num país que alimenta 1 bilhão de pessoas pelo mundo, a fome de uma parcela de sua própria população é uma arma política. Não uma fatalidade.

Vimos a morte de crianças, a interrupção precoce de sonhos. Fomos confrontados com o assassinato de idosos, o verdadeiro incêndio de uma biblioteca, como diria o provérbio africano.

Sobre sua mesa estão pelo menos cinco queixas contra o ex-presidente brasileiro por crimes contra a humanidade e genocídio. Nas próximas semanas, os detalhes dessa última denúncia desembarcarão em Haia. Não confunda com um eventual livro de história. São imagens dos contornos intoleráveis do século 21 no Brasil.

Diante da guerra na Ucrânia e dos crimes pelo mundo, sei da dificuldade em selecionar qual aberração lidar com prioridade. Gostaria, ainda assim, de apresentar alguns argumentos sobre o motivo pelo qual investigar Bolsonaro é de interesse do planeta, e não apenas de cortes nacionais.

Quando os guardiões da floresta são assassinados pela fome, pelo envenenamento, pelo vírus, por bala ou por omissão, é uma parcela de todos nós que deixa de existir. Na Comissão Arns, a percepção é de que “quando uma comunidade indígena é assassinada, é toda uma matriz humana que se perde”.

Imagine um mundo onde os escandinavos seriam extintos? Uma extinção forçada da população que fala português?

A ciência já demonstrou que as áreas mais preservadas do planeta são justamente aquelas onde os povos indígenas têm uma presença sólida. Portanto, falar no impacto da morte dessas comunidades internacionais como um elemento existencial para o resto do planeta não é fazer poesia.

Antes da guerra no Leste Europeu, as mudanças climáticas geraram um número maior de refugiados em 2021 que todos os conflitos armados reunidos.

Já que o mundo capitalista não conta sofrimento em almas e seus operadores não são coveiros, vamos traduzir em números. Segundo a empresa de resseguros Swiss Re, o prejuízo com desastres naturais em 2021 atingiu a marca de R$ 2,2 trilhões. Foi como se a Argentina desaparecesse do PIB mundial em apenas um ano.

Costumo dizer que até os negacionistas climáticos sabem fazer contas. E, convenhamos, quem ousaria duvidar das constatações financeiras de uma empresa de seguros da Suíça, não é mesmo?

Diante dessa crise humanitária —no sentido mais amplo do termo—, tomo emprestadas algumas das conclusões da sentença proferida pelo Tribunal Permanente dos Povos. Segundo eles, os atos de Jair Bolsonaro foram “ataques sistemáticos, generalizados e intencionais contra os povos indígenas brasileiros, realizados por meio de uma política de Estado que obedecia a um planejamento deliberado, reiterado e executado de maneira uniforme por atos e omissões realizados pelo Presidente da República”.

De acordo com a sentença de seus colegas, tratava-se de um projeto de país que “inclui apenas parte da população brasileira, buscando exterminar qualquer tipo de diversidade e pluralidade existentes”.

Qual a mensagem que essa política manda ao mundo? A de que temos um planeta onde nem todos têm o direito de ter direitos.

Prezado senhor procurador,

Em muitos aspectos, o que está em jogo no Brasil é um modelo de planeta e de sociedade. O que está em disputa é qual conceito de futuro queremos abraçar. Um porto seguro plural ou apenas para aqueles destinados a fazer parte dos privilegiados?

Bolsonaro e seus aliados buscaram construir uma nação sem indígenas, seja por meio do uso da máquina do estado como ator de repressão, seja pela omissão e assimilação. A mensagem que, hoje, precisamos dar é de que tal caminho é insustentável e ameaçador. No Brasil ou em qualquer lugar.

Inconformado diante da morte de 40 integrantes de sua família e do drama do Holocausto, o polonês Raphael Lemkin lutou uma batalha solitária e vitoriosa nos corredores da ONU para convencer delegações de todo o mundo a criar o crime de genocídio, um marco para a humanidade e para as vítimas.

Agora, o senhor tem a oportunidade de dar um novo passo na construção da Justiça internacional.

De dar, finalmente, uma resposta a milhões de indígenas que foram ignorados por séculos durante a marcha da “civilização” e reinventar o futuro.

Basta da ideia de erguer monumentos. Os sobreviventes querem Justiça.

Uma apuração internacional ainda seria uma forma de reparação moral às vítimas de 500 anos de massacres nas profundezas da América Latina, aos aborígenes australianos ou aos 38 membros da etnia Dakota que, em 26 de dezembro de 1862, foram executados em Minnesota por ordem de Lincoln.

O senhor não pode apagar o horror da história, a hipocrisia de um sistema de educação que nos mentiu e nem desfazer a cor avermelhada da terra regada a sangue.

Mas pode, ao lutar contra a impunidade, ajudar a construir um mundo onde todos caibam. Onde as fronteiras do conceito de humanidade sejam estendidas para, finalmente, incluir toda a humanidade.

Por isso, lhe peço: sem Anistia!

Jamil

*Uol

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É preciso entender a ferocidade corruptora das mentiras do fascismo bolsonarista

Todos sabem que o bolsonarismo é a petrificação da mentira. Se o ex-presidente se mostrou totalmente incapaz de manejar uma brocha, seus instrumentos eleitorais esfolam qualquer conceito de civilidade possível.

É verdade que Bolsonaro nunca foi um político de distribuir bombons, simpatia ou coisa do gênero. Por isso suas campanhas, de 2018 e 2022 e seu governo foram sovados de fake news. Em bom português, mentiras, fraudes, goma, fábula, futrica e balões, muitos balões.

É preciso compreender que, por trás desse caráter caricato que Bolsonaro vende, há um sistema capital com linhas de ação bem definidas para que pessoas leves, sorridentes e afáveis enrijeçam os músculos faciais depois de receberem as mais tóxicas tempestades de fake news, sobretudo pelo whatsapp, vindos do fascismo bolsonarista.

Quantos amigos, conhecidos, parentes, que ostentavam uma disposição para não ferir a amizade, porque têm na essência uma aptidão a ser gentil e, depois, num arrasamento de tudo o que essas pessoas adubaram durante a vida, as mesmas se voltam defendendo com ferocidade os maiores absurdos praticados por Bolsonaro, mudando completamente o ambiente brasileiro como nação.

Infelizmente ainda não nos demos conta do quanto isso é perigoso para o país, menos ainda nos tocamos que, por trás disso, há uma muito bem desenhada engenharia de persuasão para se chegar a essa lobotomia digital que, em tese, o gabinete do ódio operou.

Está na hora, portanto, de entender que fake news é crime lesa-pátria e não uma mentira que se conta de braços cruzadas.

O que assombra da fake news é a sua capacidade de alargamento, é a sua combinação com a habilidade no uso das novas ferramentas que a tecnologia disponibiliza. E toda a obra do bolsonarismo foi desenhada aí, em coro, com pessoas sentadas numa cadeira desenhando a mudança de feição dominante do país e vendendo santeiros vulgares, de plástico, como o próprio Bolsonaro.

Então, o STF está coberto de razão quando trata como crime grave o cultivo artificial de fake news, tanto que Bolsonaro, que não tem outro mecanismo político para sobreviver, está apavorado com a denúncia da justiça brasileira de que fake news é crime, promovido por caçadores de mentes aleatórias que se transformam em presas fáceis, em corpo e alma, desse tipo de arquitetura macabra.

Uma coisa é mentir, outra, é saber mentir. Mas o pior é mentir profissionalmente e ainda mais grave é essa mentira se transformar numa panaceia pública, logo pela manhã, quando esse abuso é estampado no whatsapp de milhões de brasileiros.

Essa é uma matéria de disciplina complexa de um engenho que busca alimentação artificial nas farsas para produzir uma imensa transformação no pensamento vigente do país.

Até aqui não se conhece um antídoto para lidar com essa questão animalesca. A esquerda mesmo parece estar no sono derradeiro, apesar de ver legiões de brasileiros centrifugados por essa hostefagia programada por inteligência artificial capaz de moldar a concepção cultural de milhões de brasileiros.

É preciso neutralizar essa cadeia remada por criminosos, do contrário, o país caminhará para um precipício político inimaginável, porque tudo indica que as diretrizes de uma guerra futura que os fascistas alimentam, será muito mais transformadora, mas sobretudo infinitamente mais violenta, com o bolsonarismo ou qualquer outra logomarca política.

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Enquanto os cães ladram, a caravana de Lula passa

O governo Lula está ainda em fase embrionária, não para a mídia industrial. Por isso, é pueril Mervais e Doras tentarem produzir paixões, discutindo cada ponto e vírgula ditos por Lula, em que tudo se reduz à formas velhas e tradicionais da mídia patarata.

Esse tipo de bazófia da mídia brasileira atravessa séculos. Fazer o quê! A vida caseira nas redações industriais parou no tempo. Parece mesmo ser desvio biológico, ou sei lá uma questão de estilo típico de uma imprensa provinciana, incapaz de buscar uma fisionomia sequer decalcada em alguma coisa menos primitiva que beire ao semibárbaro.

Mas sabe como é, corporativismo a gente vê por aqui.

Uma coisa são os fatos, outra, são as tendências na hora de fazer a narrativa dos fatos.

Enquanto isso, Lula parte para dentro, não para a guerra contra o espelho da mídia, mas para dentro do Brasil, criando literalmente uma caravana, já anunciada pelo presidente em suas redes sociais, para conhecer e resolver os problemas reais do Brasil.

O nome disso é íntima harmonia entre o presidente e o povo.

E que fique claro, não é um exame superficial, é um exame daquele que escaramuça o problema em busca da chave do caso.

Lógico, Lula faz o correto ao filiar os ministros na mesma jornada.

Ninguém é ingênuo o suficiente para imaginar que, já já, surge inesperadamente a falange contrária, a da oposição. Sem perceberem que, agindo assim, os próprios adversários de Lula filiam-se a ele.

Como se sabe, política feita com inteligência, é uma obra de arte que se cota pelo seu coeficiente. E nisso, o mundo inteiro sabe que Lula é o cara.

Lula é daquele tipo que sabe como ninguém que um político cresce na medida em que se nacionaliza, ao contrário dos tecnocratas que acham que o país tem que ser uma chocadeira artificial de seus mirabolantes planos, sem rumo e sem qualquer efeito benéfico para a coletividade. O resultado disso é um borralho neoliberal. Mas dito sempre com elegância filosófica, é o pode-se chamar de buraco n’água chique.

Se Bolsonaro abandonou o país, Lula quer aperfeiçoar estudos que contemplem o Brasil como um todo para que nenhuma pequena cidade fique de fora do projeto nacional.

Por isso é fundamental que o nascedouro de um novo Brasil ou a volta do Brasil, como queiram, pinte com um pincel mais atrevido as tintas desse país para frisar cada paisagem de cada canto, por mais remoto que seja.

Lula, em menos de um mês, já mudou completamente o ambiente brasileiro. Quanto a isso, não resta a menor dúvida.

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O porquê da mídia se incomodar tanto com a afirmação de Lula de que Dilma sofreu golpe

Pela própria grande mídia, sai a notícia de que Valdemar da Costa Neto Presidente do PL, diz que havia propostas de decreto golpista ‘na casa de todo mundo’ que orbita o universo bolsonarista.

Em última análise, o que nos diz uma revelação como essa? É que, dar golpe de Estado no Brasil virou uma coisa banal, uma cultura da direita brasileira.

A questão é, como chegamos a isso que desembocou em Bolsonaro?

Com essa reação estrambótica da mídia com a declaração de Lula de que Dilma sofreu um golpe, tudo leva a crer que a mídia não quer que a história seja recontada e que, lógico, diga o que todos sabem, que ela foi a grande protagonista. Muitos jornalistas que afiançaram a chefia da casa, agora, que se sentem constrangidos, reagem mal, tão mal que não conseguem falar em outro assunto.

Este é o caso de Dora Kramer, que parece não ter outro assunto e todos os dias martela a mesma gororoba, a de que não foi golpe. Pior, ela acha que está totalmente certa, porque o golpista Temer, anda de trelelê com a própria jornalista, que se sente empoderada com as negativas do usurpador patife.

O caso de Temer, numa situação dessa, é considerado mais grave, pois, como se sabe, ele, como vice-presidente de Dilma sabotou-a, em um combinado com as duas figuras que não tem graça comentar sobre seus dotes no mundo da canalhices, Aécio e Cunha falam por si.

O que a mídia não percebe é que ela imita a Janaína Paschoal, o Cunha e o próprio Aécio e Temer, que também reagiram contra a fala de Lula, imagina isso!

Se tivessem todos a consciência tranquila, fossem integrais, nem dariam bola para o que Lula falou, mas reagem assim porque têm culpa no cartório.

A mesma mídia, que fala em modernidade e que o Brasil precisa copiar os modelos econômicos das grandes democracias do mundo, esteve diretamente envolvida nos últimos três golpes que a democracia brasileira sofreu, 1964 com os militares; 2016 contra Dilma e, 2018 contra Lula, quando a mídia fez questão de filmar a sua absurda prisão de , condenado sem uma mísera prova de crime, depois de quatro anos de uma perseguição implacável da Força-tarefa da Lava Jato, que revirou do avesso não só a vida de Lula, mas de toda a sua família.

Pois bem, a mídia, quando o STF diz textualmente que Sergio Moro era um juiz parcial, o que , em outras palavras, quer dizer um juiz corrompível, incapaz para assumir tal função, os jornalões, cinicamente, estamparam que a parcialidade de Moro não era prova de que Lula não havia cometido crime.

Antes, porém, a mídia ignorou por completo a série Vaza Jato produzida e publicada pelo Intercept, simplesmente porque não queria tirar a aura de herói de Sergio Moro, esculpida nas suas redações.

A mídia aplaudiu, comemorou a ida de Moro para o governo Bolsonaro. Hoje, ela quer jogar também esse fato para debaixo do tapete. Afinal, qualquer mãe defende sua cria, é compreensível.

O fato é que a mídia brasileira, que adora escandalizar em garrafais quando quer dizimar reputações de quem ela considera inimiga do mercado, não suporta e não aceita que se descreva um processo de golpe, que tem muito mais importância do que um fato em si, para que as pessoas entendam como a banda toca.

Daí, essa chiadeira de quem tem a mão amarela quando a palavra golpe surge no debate nacional.

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A carapuça de golpista que Lula enterrou na cabeça de Temer, serviu para toda a mídia

A gritaria infrene de Merval Pereira e cia., na mídia, merece nota.

Ninguém quer pagar a fatura do golpe. Merval e Dora Kramer foram os primeiros a se mostrarem atingidos frontalmente pelas palavras de Lula contra Temer.

Ora, a sinuosidade, o labirinto e a complicação que rodeiam o enredo malandro do golpe contra Dilma, é a própria confissão saliente de que a mídia foi parte crucial nessa vergonhosa página da democracia brasileira. Agora, tenta caminhar em zigue-zague para fugir dos justos ataques que sofrem pelos serviços prestados ao fascismo nativo.

O caso de Dora é emblemático, ela sapecou em seu twitter a seguinte fala: “acabei de falar com Michel Temer. Para além da nota reagindo à acusação de golpista, “promete falar a verdade se Lula insistir nos ataques.”

Pronto. Temer arrumou uma cuidadora na mídia, o caso dele está resolvido. Dora provou que, quando não se tem medo do ridículo, as coisas de fato sa4em do controle.

Na verdade, Lula atirou no que viu e acertou no que viu.

A mídia brasileira imita os golpistas militares de 1964, que chamam até hoje o golpe civil-militar de revolução ou contragolpe.

Isso muda a história? Claro que não. Piora e muito. O cinismo nunca foi bom conselheiro em qualquer fato.

Temer foi um canalha. Uma pessoa baixa, peçonhenta e, misturada com Aécio Neves e Cunha, formou a tríade vigarista que armou e deu o golpe na primeira mulher presidenta do Brasil.

Tudo com apoio luxuoso da grande mídia que, no seu circo de horrores, contra a presidenta, lambuzou-se da misoginia.

Então, é desnecessário dizer que foi golpe, até porque foi muito golpe. Foi saudade da ditadura. Foram fartos e múltiplos ataques a uma mulher honrada que estava sendo derrubada pelo esgoto da política e escória desse país, formando um lixo tóxico que fez brotar o fascismo nativo e, junto, o genocida Bolsonaro, que operou para dizimar o povo Yanomami.

Bolsonaro não caiu de paraquedas na cadeira da presidência, ele é a face mais bárbara do golpe em Dilma, tanto que, no dia da votação do impeachment, ao lado do seu filho marginal 03, homenageou o torturador Brilhante Ustra diante do silêncio obsequioso da grande mídia

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Sem discurso, direita brasileira ataca Lula com picuinhas brejeiras e requentadas

Quando se vê o suprassumo da hiperinflação do governo Sarney, Mailson da Nóbrega, criticando o governo Lula e dando conselhos a Haddad, imagina-se, é o fim dos tempos.

O ex-ministro da Fazenda, também conhecido como senhor hiperinflação, tecnocrata fundamentalista, Mailson da Nóbrega, é figurinha carimbada na Veja e na Jovem Pan.

Isso mesmo, aquele senhor é autor do pacote econômico, conhecido como Plano Verão, que não chegou sequer ao outono, fazendo a inflação gargalhar de suas teses, com sua nova moeda, ou seja, o Cruzado Novo.

Aliás, no Brasil, as moedas e “seus valores” mudam ao sabor de decretos e fantasias.

Não é sem motivos que os governos dos ditadores militares, sobretudo Figueiredo, depois, Sarney, Collor, FHC, Temer e Bolsonaro, que se associaram ao embuste neoliberal, jogaram a economia brasileira no brejo e nossa moeda com tarja preta. Todos eles sempre tiveram um pacote polpudo que, no final das contas, os brasileiros, principalmente os mais pobres, e o próprio país, mergulhava na bancarrota.

Agora mesmo, o Guedes de Bolsonaro, que recebeu de Temer um país manco, fez de tudo e conseguiu, prejudicar enormemente o Brasil. Para onde se olha, vê-se prejuízo e ninguém vai pagar nada por eles nesse particular, até porque todos os economistas, de Mailson a Guedes, no final das contas, admitem seus objetivos não foram alcançados. Que novidade! Mais novidade era todos dizerem que deu errado porque outras medidas que deveriam ser adotadas para que o plano econômico obtivesse êxito, não foram aprovadas pelo Congresso.

As medidas são sempre as mesmas, privatiza tudo, demite todos os funcionários públicos, acaba com o Estado e entrega a alma do país nas mãos da Bolsa de Valores e está tudo resolvido.

Como a sociedade não quer ouvir falar nessa cantilena ultra neoliberal, e essa turma sabe disso, o negócio é atacar Lula de forma subjetiva, lateral, marota e, consequentemente, picuenta, como é comum na brejeirice econômica brasileira, arrotando escola de Chicago.

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Vídeo: Como militares chantageiam presidentes

Uma fala fundamental de Pedro Dória sobre os militares.

Sabe, essa história toda da demissão sumária do comandante do Exército me pôs pra pensar… Sabia que tudo isso já aconteceu antes? Aconteceu no Império. Aconteceu na Primeira República. Aconteceu na Segunda República. Os militares, eles chantageiam, eles chantageiam. Está acontecendo tudo de novo. Mas agora é diferente.

Assista:

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Os comedores de terra

Enquanto nossas geladeiras estão abastecidas, nossos termômetros estão livres de mercúrio e nossos antidiarreicos vencem na gaveta, Roraima está osso e pele.

  • Pensem nas crianças, assustadas, desnutridas.
  • Pensem nas meninas, fracas, inflamadas.
  • Pensem nas mulheres, rotas alteradas.
  • Pensem nas feridas, das peles pintadas.

Vinicius, uma bomba caiu por aqui, e o que me veio foram seus versos lindos que contam histórias tristes. Não dá para não pensar. Não dá para parar de pensar nessa tragédia anunciada. Não dá para parar de se chocar com as imagens. Vergonha nacional, crime universal. Uma violação aberta e escancarada de direitos humanos, terras e corpos. Não é de hoje que garimpeiros têm licença para invadir, estuprar, afogar crianças com suas dragas lançadas no rio. Violentos, esses caras-pálidas, cujos rostos não se enrubescem, não têm vergonha nem coração. Seus mandantes são tão repulsivos quanto as larvas que saem pelas bocas desesperadas dos yanomami. Eles espalham fome, mercúrio, malária, devastações. Tiram tudo que podem. Minério, honra, peixe, dignidade, gás, comida, paz, água potável, oxigênio. E querem mais. Querem mais estradas, mais usinas, mais ouro. Querem espremer as florestas para extrair dinheiro, custe o que custar. Esses exploradores agem com liberdade e proteção, fazem o que bem entendem: agem com a certeza da impunidade.

Enquanto nossas geladeiras estão abastecidas, nossos termômetros estão livres de mercúrio e nossos antidiarreicos vencem na gaveta, Roraima está osso e pele, se despedindo de pessoas que morrem definhadas, vencidas pelos vermes, pela fome, expelindo suas vidas pelo próprio vômito. Poderia ser evitado. Não se morre mais de algumas doenças no século 21, mas lá o século é outro.

Os apelos não são de hoje, é uma luta antiga, mas está mais pungente do que nunca. O líder indígena do povo Yanomami, Davi Kopenawa, que se referia aos garimpeiros como “comedores de terra”, tentou. Não foram profecias, foram previsões ditas, na lógica dos acontecimentos no desgoverno em 2020. “A mineração vai destruir a natureza. Vai destruir os igarapés e os rios, e matar todos os peixes e o meio ambiente —e vai matar nós índios. E vai trazer doenças que nunca antes existiram na nossa terra.” “Os garimpeiros, sem dúvida, vão matar os índios isolados na área Yanomami.”

Hoje somos todos Yanomami …

…. de pele vermelha, sem cores, sem nada.

*Becky S. Korich – Advogada, escritora e dramaturga/Folha

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