Empresário foi quem decidiu que Bolsonaro deveria ser internado no Einstein, e não no Sírio-Libanês, após o evento de Juiz de Fora. Ele também pretendia legalizar cassinos no país.
A Polícia Federal encontrou no celular do empresário Meyer Nigri, fundador da Tecnisa, uma ordem direta de Jair Bolsonaro (PL) para “repassar ao máximo” uma mensagem com desinformação sobre as urnas eletrônicas e pesquisas eleitorais, além de ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O celular de Nigri foi periciado em meio a uma investigação sobre mensagens golpistas trocadas entre empresários bolsonaristas em um grupo de WhatsApp em 2022. O caso foi arquivado por determinação do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que determinou, por outro lado, que as apurações em relação a Nigri e Luciano Hang, das lojas Havan, sejam mantidas. Moraes ordenou que as investigações sobre Nigri continuem justamente porque a Polícia Federal encontrou um vínculo entre o empresário e Bolsonaro na disseminação de notícias falsas.
Foi Meyer Nigri que, em 2018, quando Bolsonaro era visto como um candidato a presidente com poucas chances de ser eleito, “abraçou a causa” do então candidato, segundo o jornal O Globo. “Por mais de uma vez, abriu seu apartamento em São Paulo para apresentar o ex-capitão e permitir que ele falasse de seu projeto à elite paulistana”, relata a reportagem. O empresário é muito influente na comunidade judaica, e fez campanha por Bolsonaro neste ambiente.
Também em 2018, após o chamado ‘evento de Juiz de Fora’, durante a campanha eleitoral, foi Nigri o responsável pela escolha do Hospital Albert Einstein para a internação de Bolsonaro, em detrimento do Sírio-Libanês. À época, a imprensa relatou que a escolha se devia justamente à proximidade que Bolsonaro havia construído com membros da comunidade judaica.
Advogado afirma que chance de isso acontecer é ‘zero’.
A expectativa de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) é a de que a quebra dos sigilos bancários de Jair Bolsonaro (PL), determinada na semana passada, pode acertar em cheio em um eventual flanco do ex-presidente: as doações feitas a ele por meio do Pix, que somam R$ 17 milhões, diz Mônica Bergamo, Folha.
O grande volume de recursos, transferidos em um espaço curto de tempo, levantou a suspeita de que, entre os doadores, possam estar “laranjas” que estariam oficializando, por meio dos depósitos, um recurso que na verdade era de caixa dois.
As suspeitas aumentaram depois da informação de que o general Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, guardava US$ 25 mil, em dinheiro vivo, para entregar a Bolsonaro depois da venda de joias no exterior.
Advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten diz que a chance de aparecer algum depósito de origem duvidosa na conta de Bolsonaro é “zero, zero”.
“São depósitos de R$ 2, R$ 20, R$ 200. Raros são os que têm valor maior”, afirma ele.
A quantia recebida por Bolsonaro foi revelada pela Folha. Segundo relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), os R$ 17,2 milhões foram depositados a ele nos seis primeiros meses deste ano.
O órgão do governo federal ainda apontou que as movimentações atípicas podem estar atreladas à vaquinha feita por apoiadores para pagar multas do ex-presidente com a Justiça.
Tido como falastrão pelos amigos, advogados e até pelos policiais que já o interrogaram, o programador Walter Delgatti, o chamado hacker da Vaza Jato, reservou revelações bombásticas para sua mais recente aparição pública, na semana passada, sob os holofotes da Comissão Parlamentar Mista (CPMI) dos Atos Golpistas.
Falou tanto que a Polícia Federal (PF) foi obrigada a chamá-lo para um novo depoimento, na última sexta-feira. Os policiais já tinham ouvido Delgatti – mas ainda não haviam escutado muita coisa sobre o suposto plano para gerar uma onda de dúvidas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, ação que teria aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e envolveria até o Ministério da Defesa e um grampo no ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
O Metrópoles teve acesso, no entanto, a um material mostrando que, longe das câmeras e dos depoimentos ensaiados por advogados, o programador narrou, para conhecidos, os bastidores da trama, enquanto ela estava em curso. Desde o segundo semestre do ano passado, Delgatti já vinha relatando, em conversas mais íntimas, a existência de um plano para tentar mudar os rumos da eleição presidencial de 2022.
São informações ainda desconhecidas para a PF ou para a CPI, registradas durante a própria execução do suposto projeto golpista, entre agosto e setembro do ano passado. O teor das conversas foi mantido dentro do contexto de cada áudio. Cortes foram feitos pela reportagem para preservação do sigilo da fonte.
“O resultado que eles querem” Na véspera do encontro com o então presidente Bolsonaro, por exemplo, Delgatti foi gravado antecipando o que sabia sobre a pauta da reunião — horas antes do áudio, o programador já havia ido à sede do PL falar com o presidente nacional da sigla, Waldemar Costa Neto, quando a trama também teria sido tratada.
“Eles vão configurar o código-fonte para dar o resultado que eles querem”, disse. “Eles vão pegar agora uma urna. Eles mesmo vão fazer isso”, afirmou. Na ocasião, o programador explicou que as investidas tinham como objetivo provocar o TSE a autorizar a fiscalização das urnas por militares, abrindo caminho para contestar uma possível vitória do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nesse mesmo dia, 9 de agosto, ele foi gravado dentro do hotel Phenícia, no Setor Hoteleiro Sul de Brasília. No vídeo, até então inédito, ele aparece em frente ao balcão, conversando com um funcionário do estabelecimento. Foi lá, antes do encontro com o ex-presidente no Palácio do Alvorada, que um motorista, com placa fria, passou para pegá-lo, como mostrou a revista Veja em agosto de 2022.
“Quem manda aqui sou eu” No mês seguinte, no dia 22 de setembro, dez dias antes do primeiro turno, o programador conta detalhes do que seria um protagonismo do ex-presidente Bolsonaro na empreitada, dando a entender que os dois teriam se encontrado várias vezes. “O Bolsonaro, ele tá fazendo questão que eu vá lá. Aí, teve alguém da equipe que falou: “Irmão, é bom ele não vir aqui porque pode queimar”. Ele (Bolsonaro) falou: “Quem manda aqui sou eu, e ele vai vir”.
Segundo Delgatti, o projeto beneficiaria diretamente o ex-presidente. “Ou você acha que o Presidente da República estaria correndo esse risco de me receber lá, me receber lá, se não fosse algo que ajudasse muito ele?”
No mesmo diálogo, ele ironiza o fato de que o grupo ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indiretamente beneficiado com a atuação de Delgatti nos vazamentos dos diálogos dos procuradores da Lava Jato, não teria o acolhido da mesma forma. “O Lula nunca quis… me falou um “oi.” Nas palavras do programador: “O que eu vou fazer atrás de Lula? Eu nunca vou ser de esquerda. Eu sempre gostei de arma.”
Leite com Nescau Na sessão da CPI, Delgatti foi indagado sobre a proximidade com a deputada Carla Zambelli, investigada por ter recrutado o programador. Segundo a defesa da parlamentar, a proximidade seria por conta de um projeto de trabalho que envolvia o cuidado com as redes sociais da política. Segundo a gravação obtida pelo Metrópoles, no entanto, o programador e Zambelli tinham uma relação quase familiar, segundo relato do hacker.
“Eles estenderam a mão para mim, cara. A Carla me tratou hoje como se fosse um filho, coisa que nunca aconteceu na minha vida”, disse Delgatti. “A ponto da mãe dela me servir leite com Nescau, na mesa, e acompanhado com ela”, contou o programador, revelando que jogou até vídeo-game com o filho de Zambelli.
Pagamento Nessa segunda-feira (21/8), veio a público o áudio entregue à PF pela defesa de Walter Delgatti, no que seria a prova do vínculo financeiro entre eles. A mensagem mostra uma mulher, supostamente ligada à campanha eleitoral da deputada federal, prometendo a ele “trocar uma ideia sobre o pagamento” e “sobre essa tua (de Delgatti) proposta”.
Na mensagem, à qual o Metrópoles teve acesso, não fica claro o serviço em discussão nem qual seria a ideia sugerida pelo programador. Segundo advogado de Delgatti, o áudio seria um “caminho da prova”.
O advogado de Carla Zambelli, Daniel Bialski, no entanto, afirma que todas as relações entre a equipe da parlamentar e Delgatti envolviam uma proposta de trabalho que o programador encaminhou aos assessores da deputada, sobre a manutenção das publicações da política em redes sociais. E que outras hipóteses sobre a mensagem são “falácias”.
“Despida de idoneidade” Em nota, a defesa de Zambelli afirma que “refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais pela parlamentar, inclusive, negando as aleivosias e teratologias mencionadas pelo senhor Walter Delgatti”. Segundo o advogado Daniel Bialski, as versões do programador “mudam com os dias, suas distorções e invenções são recheadas de mentiras, bastando notar que a cada versão, ele modifica os fatos, o que é só mais um sintoma de que a sua palavra é totalmente despida de idoneidade e credibilidade”.
No último sábado (26/8), o Metrópoles publicou, com exclusividade, prints de um um extrato do banco digital Cora. Foi com base neste documento que os investigadores conseguiram dar o mínimo de credibilidade ao depoimento que o programador e “hacker” Walter Delgatti prestou, contando um plano golpista envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
*Matéria publicada com exclusividade pelo Metrópoles
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) sinalizou no Twitter que o juiz Ricardo Augusto Soares Leite foi suspeito, para ter a decisão de condenar o hacker Walter Delgatti a 20 anos de prisão. “O Juiz q condenou o hacker Delgatti, por ter invadido o celular de Moro e outras autoridades, é o mesmo q em 2018, determinou a suspensão das atividades do Instituto Lula. É um velho amigo da Lava Jato e sempre atuando em favor e na hora que a ultra direita e Bolsonaro precisam”, escreveu o parlamentar no Twitter.
O juiz Ricardo Augusto Soares Leites, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, condenou Delgatti na investigação da Operação Spoofing, aberta em 2019 a pedido do ex-juiz suspeito Sergio Moro para investigar o vazamento de mensagens de juízes e procuradores da Lava Jato. Atualmente, o ex-magistrado é senador pelo União Brasil-PR.
Em 2021, o Supremo Tribunal Federal declarou a suspeição de Moro nos processos contra o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em 2022, o ex-juiz foi derrotado no Tribunal Regional Eleitoral do estado de São Paulo (TRE-SP) por fraude em domicílio eleitoral e, em consequência, decidiu ser candidato no Paraná.
O Juiz q condenou o hacker Delgatti, por ter invadido o celular de Moro e outras autoridades, é o mesmo q em 2018, determinou a suspensão das atividades do Instituto Lula, É um velho amigo da Lava Jato e sempre atuando em favor e na hora que a ultra direita e Bolsonaro precisam.
21.08.2023 - Chegada a Joanesburgo.
Aeroporto Internacional O.R. Tambo. Foto: Ricardo Stuckert/PR
Cúpula na África do Sul abrigará debate sobre expansão em meio a receio de que grupo assuma caráter anti-EUA.
O Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, enfrenta na cúpula de Joanesburgo, de terça (22) a quinta-feira (24), o tema que deve definir o futuro e o perfil político do grupo criado para coordenar ações entre algumas das principais economias emergentes do mundo, diz a Folha.
Na reunião, que contará com as presenças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, do dirigente chinês, Xi Jinping, e do líder da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o bloco analisará se aceita novos membros e a que ritmo uma expansão se daria.
Entre outros pontos, o formato a ser desenhado no rico distrito de Sandton, na capital financeira sul-africana, deve indicar ainda se o Brics assumirá caráter mais político de contraposição a Estados Unidos e G7. Isso porque entre os mais de 20 candidatos a entrar no clube há países que antagonizam frontalmente com Washington, como Venezuela, Cuba, Irã e a Belarus, forte aliada de Moscou contra a Ucrânia.
A lista de postulantes inclui ainda as monarquias do Golfo Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, os vizinhos do Brasil Argentina e Bolívia, a Indonésia e importantes nações africanas como Egito e Nigéria.
Em maior ou menor nível, a expansão sempre esteve na agenda do Brics, tanto que os sul-africanos entraram no final de 2010, um ano e meio depois da primeira cúpula do clube, na Rússia. A ampliação é um projeto de longa data impulsionado pela China, mas enfrentava resistência dos demais sócios.
Mais de dez anos depois, a situação mudou. Pequim se consolidou como potência e viu crescer sua capacidade de influenciar o tabuleiro internacional. Em guerra contra a Ucrânia, a Rússia precisa do apoio chinês e não deve ser obstáculo à expansão. A África do Sul encara situação semelhante, com seu papel de liderança regional questionado diante de economias mais poderosas em seu continente.
Até mesmo Brasil e Índia —em geral os mais inflexíveis contra a ideia— têm dado sinais de que podem ceder. Recentemente, o chanceler indiano, Subrahmanyam Jaishankar, disse ver com a “mente aberta” a possibilidade de expansão, desde que haja regras para embasar as incorporações. Interlocutores dizem que o país se mostra disposto a aceitar o ingresso de alguns dos candidatos, como os do Golfo.
Já Lula deu declarações citando Arábia Saudita, Venezuela e Argentina como possíveis novos membros do Brics, o que colocou em xeque a posição do Itamaraty contra a expansão. Assim, a chancelaria brasileira tem negociado critérios para ao menos arrancar compromissos em troca da ampliação do bloco.
CANDIDATOS A ENTRAR NO BLOCO
Argélia
Argentina
Bangladesh
Barein Belarus
Bolívia
Cuba
Egito
Etiópia
Honduras
Indonésia
Irã
Cazaquistão
Kuwait
Marrocos
Nigéria
Arábia Saudita
Senegal
Palestina
Tailândia
Emirados Árabes Unidos
Venezuela
Vietnã
Os critérios ainda estão sendo negociados entre diplomatas dos cinco membros. O Brasil quer que os novos sócios declarem apoio à causa da reforma dos atuais mecanismos de governança internacional, entre os quais o Conselho de Segurança da ONU, além da defesa de uma arquitetura que preserve algum tipo de equilíbrio geopolítico. Existe a preocupação de que um crescimento desenfreado que inclua adversários históricos dos EUA seja percebido como o embarque do Brasil numa aliança antiamericana.
Para os assessores mais próximos de Lula, o Brics é crucial na estratégia do país de lutar por instituições internacionais que reflitam o atual caráter multipolar do mundo. Os auxiliares do petista dizem que o arranjo atual —seja no Conselho de Segurança ou em fóruns econômicos— não abre espaço para países emergentes e responde prioritariamente aos interesses dos EUA e de seus aliados europeus.
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, apresentou requerimento para a quebra do sigilo telefônico de Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Eliziane alega que Valdemar teria participado de uma reunião com o hacker Walter Delgatti Neto “de maneira pouco republicana”. Durante seu depoimento à CPMI na última quinta-feira (18), Delgatti afirmou ter participado de um encontro com Jair Bolsonaro (PL) e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), no qual Valdemar Costa Neto estava presente, diz o 247.
A relatora deseja obter acesso a informações desde o ano de 2022. O requerimento solicita a quebra do sigilo de ligações telefônicas, a obtenção de cópias do conteúdo de conversas do WhatsApp armazenadas no Google Drive, cópias de e-mails, fotos, áudios e vídeos trocados, bem como o histórico de localização e atividades de busca na internet. O UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa de Valdemar Costa Neto, que não respondeu.
Segundo relatos, Bolsonaro teria solicitado ao hacker que comparecesse ao Ministério da Defesa para discutir questões relacionadas às urnas eletrônicas. Delgatti mencionou que o ex-mandatário o convidou para se encontrar com um técnico nas dependências do ministério, a fim de abordar possíveis fragilidades no sistema eleitoral brasileiro. Esse encontro teria ocorrido no ano anterior à campanha presidencial.
Após a solicitação de Bolsonaro, o advogado de Delgatti relatou que seu cliente se encontrou com um ex-ministro e um coronel do Exército. Os encontros com Paulo Sérgio Nogueira, ex-chefe da Defesa, e o coronel Eduardo Gomes da Silva foram descritos por Ariovaldo Moreira em uma entrevista à GloboNews. Paulo Sérgio Nogueira nega ter tido tal reunião. O Ministro da Defesa, José Múcio, solicitou à Polícia Federal a lista dos militares que se reuniram com Delgatti no Ministério da Defesa. Esse pedido foi formalizado em um ofício enviado à PF na última sexta-feira (18).
Relatos também sugerem que Bolsonaro teria oferecido um indulto ao hacker como forma de persuadi-lo a comparecer ao Ministério da Defesa. Conforme o depoimento de Delgatti, essa promessa visava convencê-lo a cooperar. Na época, o hacker afirmou estar desempregado, o que o levou a considerar a proposta. Delgatti afirmou que um plano foi elaborado para minar a credibilidade das urnas eletrônicas. Ele mencionou a criação de um código-fonte próprio, em vez de utilizar o código do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o objetivo de enganar o público, mostrando que supostamente seria possível pressionar um voto e obter a computação de outro pela urna. Para executar esse plano, o hacker utilizaria uma urna eletrônica emprestada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e instalaria um aplicativo desenvolvido por ele.
O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), participou de uma solenidade no Palácio Iguaçu, em Curitiba, na tarde desta sexta-feira (10), em sua primeira visita à cidade desde que tomou posse. No mesmo dia, poucas horas antes, esteve em Foz do Iguaçu, assinando a ordem de serviço para a construção de uma nova ponte entre o Brasil e Paraguai.Na capital paranaense, onde chegou por volta das 16h40, a missão de Bolsonaro foi dar início ao funcionamento do Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública da Região Sul (CIISP-Sul), estrutura inaugurada em dezembro do passado pelo então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann.
Leandro Demori*
Mesmo a cobertura da mídia é diferente: hoje o grande cerne do caso coberto pela imprensa são e-mails dos próprios acusados montando o quebra-cabeça da quadrilha.
Os e-mails vieram à tona e estava tudo lá. Não tem um Deltan manipulando a história. Não tem uma turma do MPF selecionando delações e documentos pra montar uma linha narrativa. Dezenas de jornalistas publicaram os e-mails de Mauro Cid e de seus colegas da Ajudância de Ordens da Presidência e eles são cristalinos, diferentemente das informações vazadas seletivamente pela Lava Jato ao longo de anos.
No passado tínhamos operações da PF com releases do MPF distribuídos em coletivas de imprensa na mesma manhã. Os jornalistas todos comiam na mão da versão única montada nessas coletivas. Um espetáculo muito diferente do que se vê hoje. Alguém sabe o nome do procurador do caso? E do delegado? Pois é. Cada momento histórico com suas características.
No mais, segue valendo o que sempre valeu: provas na mesa e devido processo legal com amplo direito a defesa pra todo mundo.
A oposição ferrenha de Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) teve reflexo direto nas relações entre a corte e a cúpula militar. Quando foi presidente, o capitão proibiu integrantes de integrantes das Forças Armadas de se reunir com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), diz Bela Megale, O Globo.
No ano passado, com o acirramento entre militares e o judiciário, por meio de sucessivos questionamentos que o Ministério da Defesa passou a fazer sobre as urnas, alguns ministros tentaram contato com membros do Alto Comando das Forças. A tentativa de diálogo, porém, não teve sucesso.
O próprio Alexandre de Moraes enviou recados à cúpula do Exército, mas sempre recebeu desculpas como resposta e a agenda não ocorreu. As demandas chegaram a ser levadas ao então presidente Bolsonaro, que vetou qualquer encontro e informou que ele concentraria as comunicações.
O encontro de ministros com a cúpula militar só aconteceu após a mudança de governo, no início do ano. Em uma conversa com integrantes do Alto Comando do Exército, Moraes chegou a contar, rindo, que foi vetado pela Força até de malhar na academia do Comando Militar do Planalto (CMP), em Brasília, onde se exercitava diariamente.
Colegas do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral compartilham a impressão de que ele está dando um tempo para as pessoas se acostumarem à ideia de que Bolsonaro será preso. E então, para surpresa de ninguém, muito menos de Bolsonaro, o prenderá.
Em Goiânia no último fim de semana, Bolsonaro admitiu que em território brasileiro poderá acabar atrás das grades. Não foi conversa jogada fora só para vitimar-se e despertar a ira dos seus seguidores. Ele sabe o que fez. E sabe que Moraes também sabe. É o que Bolsonaro tem ouvido dos seus próprios advogados.
Os bolsonaristas, por ora, recolheram-se ao silêncio nas redes sociais, e nas ruas limitam-se a tocar a vida, sem indicações de que se revoltarão de novo. Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, que havia saído de cena desde o final do ano passado, voltou e está irritado com sua antiga tropa. Tenta orientá-la. Escreveu no Twitter:
“Parem com esse negócio de prisão. Parecem aqueles caras que amam viver a síndrome de Estocolmo. Se quer ajudar, desconstrua a narrativa e não fique correndo atrás de cliques ou lacrações para se sentir importante validando a dor que o adversário sente prazer em fazer você sofrer.”
Não disse como desconstruir “a narrativa”. Carlos é muito bom em construir e desconstruir narrativas, mas parece cansado, sem ânimo. Afastou-se do pai porque ele não lhe deu a merecida atenção na campanha eleitoral de 2022. Carlos discordou dos conselhos dados a Bolsonaro por marqueteiros profissionais.
A tampa do alçapão fechou sobre Bolsonaro. Ele não tem para onde ir. É investigado nos Estados Unidos, onde as joias que subtraiu ao tesouro nacional foram vendidas e compradas para esconder o crime afinal descoberto. Fugir para lá seria arriscar-se a ser preso pelo FBI, muito mais severo do que a Polícia Federal.
Não tem cidadania italiana, como muitos imaginam, que lhe permita evadir-se para a terra dos seus ancestrais. Venezuela? Naturalmente, nem pensar. Acionado por Trump, presidente americano à época, Bolsonaro pensou em invadir a Venezuela. Mas a munição aqui estocada não daria para 24 horas de guerra.
Bolívia? Pode ser uma alternativa. Mas é um país pobre, e Bolsonaro gosta de conforto, riqueza e boa vida. O Paraguai, talvez. Moraes lambe os beiços enquanto espera o sinal de que Bolsonaro pretende fugir. A Polícia Federal monitora os seus passos. Vá, Bolsonaro, dê motivo para ser preso, além dos que já deu.
O Brasil precisa mudar de assunto e voltar à normalidade política. Fora os que rezam em torno de pneus, os que brincam de marcha soldado e a República da Muamba e dos Camelôs que negociam joias roubadas, quem mais lamentará a sua sorte? Nem os militares – salvo os que estão e ainda serão presos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha o objetivo de anunciar na última sexta-feira (18) os ministérios que seriam ocupados por André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). No entanto, o presidente resolveu adiar o comunicado devido à repercussão dos escândalos envolvendo joias e a tentativa de fraude nas eleições de 2022, associados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ).
A justificativa usada pelo chefe do Executivo federal é que a imprensa estava inteiramente concentrada nos desdobramentos relacionados ao capitão da reserva, Mauro Cid, e ao hacker Walter Delgatti. Na avaliação de Lula, ninguém daria importância à chegada dos novos ministros.
Seus aliados e líderes do Centrão concordaram e optaram por apoiar a decisão do presidente. Eles continuarão as discussões ao longo do fim de semana para resolver algumas questões pendentes e definir a data dos anúncios, segundo o IG.
Contudo, apesar de usar Bolsonaro como justificativa, Lula aproveitou o momento para ganhar um pouco mais de tempo. Ele está indeciso em relação à pequena reforma ministerial que planeja realizar nos próximos dias.
Ficou decidido que André Fufuca ficará responsável pelo Ministério de Desenvolvimento Social, pasta atualmente sob a administração de Wellington Dias (PT-PI), enquanto Silvio Costa Filho administrará Portos e Aeroportos, setor atualmente chefiado por Márcio França (PSB-SP).
No plano delineado por Lula, o Bolsa Família deixará o MDS e passará para a pasta de Gestão. Márcio França, grande aliado de Geraldo Alckmin (PSB-SP), será realocado para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, sob a responsabilidade do vice-presidente da República.