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Tchau queridos!

Moro e Mamãe Falei dão a ideia da amplitude de uma ambição perigosa. Mas não é só isso que liga os dois.

Quando a mídia nos jogou na condição política de colônia com aquela grosseira farsa do mensalão, por nunca aceitar a vitória de Lula, já no primeiro mandato, por estar enraizado no DNA da classe dominante que traz com ela a nostalgia da escravidão, o saudosismo da servidão e a tradição da casa grande que envenena toda a nação, tirou-nos completamente do conceito de civilização.

Essa técnica da qual hoje Bolsonaro se lambuza, de produzir falsos debates em busca de um assento central na manchete nacional, ele se inspirou em muita gente, como Steve Bannon, mas sua receita principal foi o Bonner do Jornal Nacional, da Globo, a mais efetiva e radical representante da extrema direita brasileira. Também, desse mesmo opulento núcleo de comunicação que virou um império, foi extraído o que de pior tem no fascismo brasileiro.

Por isso, a emissora gasta tanto com prêmios e mimos para que “quem manda” na sociedade poetize a manipulação escancarada com que a Globo jura que faz jornalismo.

Foi da miséria desse ambiente que surgiram esses dois personagens concatenados, não só por serem da mesma terra natal, mas por repartirem as luzes da mídia. Moro, a mídia industrial, sobretudo a Globo e, repartindo com ele a partir de uma outra instrução, a das redes, da internet, do youtube, um pangaré da mesma estirpe de Moro, chamado Mamãe Falei, do fascismo jovem do MBL.

Moro, basicamente, é o padrinho dessa frase “tchau querida”, pois foi através do seu grampo criminoso a presidência da República e o repasse para a Globo, de forma ainda mais criminosa, que Lula fala a Dilma  na despedida do telefonema, “tchau querida”.

Nesse mesmo período, o MBL, patrocinado por empresários que queriam arrebentar com os direitos dos trabalhadores e produzir esse caos em que vivemos, tinha em seu quadro, o tal Mamãe Falei que, mais tarde virou o deputado estadual bolsonarista, Arthur do Val.

Essa figura pernóstica se promoveu via internet, por influência da grande mídia, que já havia envenenado a imagem do PT para que os Marinhos pudessem impor aos brasileiros um novo império do neoliberalismo, delineando as políticas econômicas do golpista Temer e do genocida, Bolsonaro.

Bom, para encurtar a conversa, o sujeito foi cassado ontem, na verdade, bem cassado, com direito a nunca mais ter um facho de luz que lhe deu seguidores frenéticos. Antes, porém, as mesmas redes da mesma internet que tinham lhe dado um busto de salvador da pátria, fez dele um dos políticos mais execrados em praça pública com o vazamento do seu criminoso áudio em que divide com algum interlocutor a nojenta afirmação de que “as mulheres ucranianas eram fáceis por serem pobres”.

Já Sergio Moro, voltando lá atrás, antes mesmo de pagar a sua dívida de gratidão com Bolsonaro, com a cabeça de Lula, dando a ele a própria presidência da República, recebendo e em troca a recompensa de um super ministério, tatuou em sua testa uma espécie de tchau querido, quando, vendo que, mesmo com todo apoio da mídia, não teria a menor chance de enfrentar Bolsonaro, que fará Lula. Moro, praticamente está fora da disputa de qualquer cargo eletivo para o resto da vida, uma espécie de auto cassação, diferente do seu parceiro de partido, à época, Mamãe Falei.

Não há como deixar de registrar esses fatos e o porquê deles, que são sim bem mais complexos e reveladores.

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CASSADO: Alesp cassa mandato do deputado Mamãe Falei, Arthur do Val, que fica inelegível

A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) decidiu, por unanimidade, cassar o ex-deputado Arthur do Val (União) nesta terça-feira (17/5). Com isso, ele fica inelegível por oito anos.

Eleito na rabiola do bolsonarismo, o fascista Mamãe Falei, foi cassado depois do vazamento de uma mensagem em que dizia que as mulheres ucranianas eram fáceis por serem pobres.

O áudio caiu como uma bomba na sociedade, e um dos mais destacados fascistas do MBL, que apoiou Bolsonaro em 2018, além de cassado, ficou inelegível por oito anos.

O plenário manteve a deliberação do Conselho de Ética que decidiu que Mamãe Falei quebrou o decoro parlamentar ao proferir falas sexistas sobre mulheres ucranianas no início de março. O caso foi revelado pela coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles.

Em 20 de abril, Arthur do Val renunciou ao mandato. Entretanto, a Casa encarou a renúncia como uma manobra para evitar a inelegibilidade, e manteve o processo contra ele.

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Líder do MBL assume irrelevância: nós somos inúteis

Assumindo o esvaziamento quase total do “movimento”, o líder do MBL, Renan Santos, em entrevista na Folha, soltou algumas pérolas para justificar o fracasso de um grupo de espertos que pegou carona em 2013, utilizando quase que a mesma sigla MPL (Movimento Passe Livre) para oferecer uma pauta fascista a empresários e banqueiros que queriam a derrubada de Dilma.

A tal relevância que ele diz que o MBL teve foi essa, tratar questões políticas como negócios no livre exercício de um balcão.

Quando perderam os grandes patrocinadores, assim como o Vem pra Rua, outro grupo artificial saído da escória golpista, viraram pó. Estiveram no auge quando conseguiram juntar os  frustrados eleitores de Aécio que não aceitaram a derrota.

Mas o MBL sempre se manteve afastado de qualquer ideia de valores, a não ser financeiros. Os eiros e vezeiros de fake news, assim como Carluxo, os prodígios do MBL se somaram a Bolsonaro nas últimas eleições, quando foi decretada a morte da política e, com isso, conseguiram eleger figuras como Fernando Hollyday, Kim Kataguiri, Arthur do Val e o ex-PM Gabriel Monteiro, todos cidadãos de bem, que queriam “reconstruir a nação”.

O tempo passou, e rápido, para essas centrais de mercenários e os atos para consumo eleitoral que substituíam o debate político, caíram em desgraça.

Hoje vivem de um passado inventado em que não conseguem espaço em nenhum partido político, já que, depois das declarações de Kataguiri e Mamãe Falei, os maiores queima filme do país, sem falar de Gabriel Monteiro, que está a dois passos da cadeia.

O que se vê na entrevista de Renan Santos, na Folha, é o aguçamento das contradições de um suposto movimento, hoje isolado, que, a pretexto de tratar as questões políticas por dislexo, o que se verifica é que o discurso de Renan é de um sujeito falido como, aliás, tem um enorme know how de empresas que estão no prego dos cadastros da bacia das almas.

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Política

Cassação do mandato de Mamãe Falei é aprovada no Conselho de Ética da Alesp

O deputado Arthur do Val foi condenado por unanimidade pelo Conselho de Ética à perda de mandato em razão de áudios misóginos sobre refugiadas ucranianas.

O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) aprovou por unanimidade a cassação do mandado do deputado estadual Arthur do Val (União Brasil), o Mamãe Falei, em razão dos áudios misóginos sobre refugiadas da guerra na Ucrânia. O pedido de cassação ainda terá que ser apreciado no plenário da Alesp.

O relator do caso, deputado Delegado Olim (PP), acolheu as denúncias apresentadas contra Mamãe Falei e pediu a cassação do mandato do deputado estadual, conforme já havia antecipado.

As deputadas Erica Malunguinho (PSOL) e Marina Helou (Rede) fizeram falas duras contra Arthur do Val no conselho.

Malunguinho destacou que as declarações misóginas contra refugiadas representam algo maior. “Eu estou falando de uma história de violência, de uma estrutura e de uma lógica de poder que fazem com que as mulheres estejam sujeitadas ao poder do homem. Nisso, uma fala banal gera estupro, gera feminicídio. Isso que é ‘papo de homem’ demonstra exercício de poder e é necessário que a gente corte o mal pela raiz”, declarou a parlamentar.

“É fundamental sermos firmes e céleres nesse processo. Não podemos protelar, precisamos dar uma resposta para a sociedade”, cobrou Helou.

O deputado estadual Barros Munhoz (PSDB) ainda denunciou que apoiadores de Arthur do Val, que é integrante do MBL, estariam ameaçando a ele e a seus familiares em razão da votação.

Enio Tatto (PT) fez questão que o conselho reproduzisse os áudios misóginos para relembrar aos parlamentares as declarações de Arthur do Val sobre as mulheres refugiadas.

Integram o Conselho de Ética os seguintes parlamentares: Enio Tatto (PT), Adalberto Freitas (PSDB), Barros Munhoz (PSDB), Maria Lúcia Amary (PSDB), Wellington Moura (REP), Delegado Olim (PP), Erica Malunguinho (PSOL), Campos Machado (Avante) e Marina Helou (Rede).

Deputadas e deputados que não integram a comissão também fizeram duras críticas ao parlamentar, o que sinaliza que a cassação deve ser também aprovada no plenário da casa.

Em seus 5 minutos de fala, Arthur do Val atacou a todos os deputados da comissão e se vitimizou, dizendo que sofreu com o processo. “Não tenho duvidas que vai ser 10×0 porque todos aqui me odeiam”, declarou. Mamãe Falei disse que os deputados eram “escravos” do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) e que, por isso, estava sendo cassado.

*Com Forum

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Novo partido de Moro protagonizou escândalo de laranjas e abriga alvos da Lava Jato

O ex-juiz será correligionário da família Garotinho, de Arthur do Val e da filha de Cunha.

O novo partido do ex-ministro e ex-juiz federal Sergio Moro abriga políticos investigados por fraude eleitoral com candidaturas laranjas e nomes que foram alvo da Lava Jato, a operação que lhe deu visibilidade política.

Na lista de filiados à União Brasil, há Danielle Cunha, filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, um dos principais alvos da Lava Jato e que foi preso em 2016 justamente por ordem do então juiz federal, na ocasião o principal nome jurídico da operação que abalou o mundo político.

Há também, entre outros, a família Garotinho e o deputado estadual Arthur do Val, com quem Moro rompeu após o vazamento de áudios sexistas do parlamentar.

Moro trocou o Podemos pela legenda na quinta-feira (31) e não tem mais a garantia de que será candidato à Presidência da República, mas ainda trabalha para se lançar ao Palácio do Planalto.

Na manhã deste sábado (2), em São Paulo, o ex-juiz se encontrou com a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e com o ex-governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB), outros dois pré-candidatos à Presidência da chamada terceira via.

“Democratas não podem se conformar com os autocratas Lula/Bolsonaro. Precisamos da indignação e do apoio de todos os brasileiros de bem”, afirmou Moro em mensagem nas redes sociais acompanhada por uma foto dele com a senadora.

O ex-juiz afirmou ainda que conversou com Leite sobre a “necessidade de união do centro que está sendo liderada no União Brasil por Luciano Bivar”.

Na sexta-feira (1), o ex-juiz fez um pronunciamento em que manteve o tom de candidato a presidente e negou que será candidato a deputado federal. Uma ala do partido, liderada pelo pré-candidato a governador da Bahia, ACM Neto, porém, articula a expulsão de Moro da legenda caso ele mantenha seu projeto nacional.

​Moro pretende manter o discurso de combate à corrupção como sua principal bandeira. Interlocutores de Moro reconhecem que o Podemos tinha uma vinculação maior com sua pauta prioritária, mas afirmam que no cômputo geral a ida para o União será estrategicamente positiva para sua possível candidatura.

Nas eleições, independentemente do cargo a que irá concorrer, o ex-ministro do presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrentará questionamentos sobre seus novos colegas de legenda.

Entre eles, está, por exemplo, o deputado federal Fernando Bezerra Filho (União Brasil-PE), que foi indiciado pela Polícia Federal em junho de 2021 sob suspeita de crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e falsidade ideológica eleitoral.

A investigação apura se ele e seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), receberam propina de três empreiteiras envolvidas na Lava Jato. Os advogados de ambos afirmam que ambos são inocentes, que as investigações nasceram apenas com base em palavra de delator e que o caso é uma tentativa de criminalização da política.

O deputado federal Arthur Maia (União Brasil-BA) é outro que já foi atingido pela Lava Jato e agora será correligionário do juiz que deu início à operação. Ele respondeu a inquérito perante o STF porque teria recebido R$ 200 mil de doação de campanha da Odebrecht que não teriam sido declarados à Justiça, o que é conhecido como caixa dois.

*Com Folha

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Jamil Chade: Carta para Arthur do Val: a condição feminina na guerra e na paz

Senhor Deputado

Confesso que não conhecia seu nome, e nem sua denominação de guerra. Mas os áudios indigestos que vazaram com seus comentários sobre a situação na Ucrânia me obrigaram a escrever aqui algumas linhas sobre o que eu vi em campos de refugiados e filas de pessoas desesperadas para escapar da guerra e da pobreza ao longo de duas décadas.

Não estou acusando o senhor e sua comitiva do que estará exposto abaixo. Mas considero que, sem entender essa dimensão do sofrimento humano, fica impossível justificar uma viagem como a que o senhor faz para ajudar a defender um povo.

Ao longo da história, a violência sexual é uma das armas de guerra mais recorrentes para desmoralizar uma sociedade. Ela não tem religião, nem raça. Ela destrói. Demonstra o poder sobre o destino não apenas das vidas, mas também dos corpos e almas.

Percorrendo campos de refugiados em três continentes, o que sempre mais me impressionou foi a vulnerabilidade das mulheres nessa situação.

Mas, antes, vamos ser claros aqui. Não precisamos sair do Brasil para saber que as mulheres, simplesmente por serem mulheres, precisam passar a vida se explicando. Como se necessitassem de chancela ou justificativa para determinar o destino de seu corpo ou coração, se podem trabalhar ou ter tesão. Intolerável, não?

Então, o senhor pode imaginar o que isso significa em tempos de guerra, onde a lei e a moral são suspensas?

Conheci certa vez uma garota yazidi. Ela me contou como, depois de sua cidade ser tomada por islamistas, ela foi transformada em escrava sexual. Aqueles olhos verdes intensos se enchiam de lágrimas quando contava que, num calabouço, ela e as demais meninas se dividiam em dois grupos.

Aquelas que rezavam para sobreviver e aquelas que rezavam para morrer logo.

Ela também me contou que, num ato de solidariedade com as outras mulheres que viriam depois delas, foi iniciado um gesto espontâneo de escrever mensagens nas paredes daqueles quartos imundos, inclusive com dicas de como agir. Escreviam com a única cor que tinham. O vermelho do sangue de suas vaginas estupradas.

O senhor me diria: claro, isso é coisa de terrorista islâmico. Sim, sem dúvida. Mas quero lhe contar o que investigações e auditorias revelaram em um local mais próximo de nós: o Haiti.

Ali e em outros locais onde estão destacadas, as tropas de paz da ONU – repletas de moral, credibilidade e protocolos – foram acusadas de estupro e de abusos com mulheres, meninas e meninos. Alguns, em troca de comida. Num caso específico, um garoto era semanalmente estuprado por oficiais, em troca de bolachas. Há até mesmo uma categoria de crianças hoje nesses países, “os filhos da ONU”.

Na Sérvia, num barracão onde eram depositados os refugiados que aguardavam para chegar até a Europa Ocidental, conheci uma mulher que não falava. Sua irmã, depois, veio me explicar que ela ficou muda depois de ter sido estuprada pelo “guia” que seus pais tinham contratado na Turquia para que elas cruzassem as fronteiras. Para pagar pelo guia, os pais venderam as únicas coisas que tinham: uma casinha e dois animais.

Em Dadaab, no Quênia, entendi toda a minha ignorância quando fui perguntar para um grupo de crianças do que elas tinham mais medo. Achei que a resposta seria: as bombas de Mogadíscio. Mas era do escuro do campo de refugiados. Quando pedi para saber o motivo, uma delas sussurrou: “não podemos nem ir ao banheiro pela noite. Um homem pode fazer coisas ruins com nosso corpo”.

Anos depois, voltei a viajar para a África. Da janela do avião a hélice em que eu voava, podia ver como um garoto usava um pedaço de galho para tentar dirigir o destino de vacas e outros animais. Enquanto ele conseguia dar direção ao gado, algumas reses escapavam um pouco adiante.

Do assento em que eu estava, quase não consegui ouvir quando o piloto se virou para trás e, competindo com o barulho do motor, gritou que estávamos iniciando a aterrissagem. Jamais imaginaria que, minutos depois, era sobre aquele local de terra de onde o garoto estava retirando os animais que o avião iria pousar. O que de fato eu tinha visto era a preparação da pista de pouso.

Eu tinha viajado para um lugar a oeste da cidade de Bagamoyo, na Tanzânia, para escrever sobre o impacto da Aids numa das regiões mais pobres do planeta. Mas seria naquele local que eu descobriria, de uma maneira inusitada, a dimensão do drama de imigrantes e refugiados. Ao longo dos anos, visitei campos de refugiados na fronteira do Iraque, entre o Quênia e a Somália, em Darfur, na rota entre a Turquia e a Europa. Vi milhares de pessoas sem destino. Mas, nas proximidades de Bagamoyo, aquela história era diferente. Oficialmente, não havia uma guerra. Não havia um acampamento de refugiados. Mas eu logo descobriria que nem por isso o desespero deixava de estar presente naquela população.

Eu fazia uma visita a um hospital e esperava para falar com o diretor. Por falta de médicos, ele fora chamado para fazer um parto. Sabia que aquilo significava que eu passaria horas ali, à espera de minha entrevista. Restava fazer o que eu mais gostava nessas viagens: descobrir quem estava ali, falar com as pessoas, perambular pelo local, ler os cartazes e simplesmente observar. No portão do centro de atendimento, centenas de mulheres com seus véus coloridos aguardavam de forma paciente. Tentavam afastar as moscas, num calor intenso, enquanto o choro de crianças rompia os muros descascados daquela entrada de um galpão transformado em sala de espera.

Ao caminhar para uma das alas, fui barrado. Os enfermeiros me pediram que não entrasse no local. Quando perguntei qual era a especialidade daquela área, disseram que não podiam revelar. Em partes da África, o preconceito e o estigma em relação aos pacientes de Aids obrigam os hospitais a não indicar nem em suas paredes o nome da doença. Decidi sair do prédio em ruínas e, num dos pátios do hospital, vi duas garotas brincando.

Não tinham mais de 10 anos de idade. E o único momento em que olharam para o chão, sem resposta, foi quando perguntei o que faziam ali. Mas a curiosidade delas em saber o que um rapaz branco, com um bloco de notas na mão e uma câmera fotográfica, fazia lá era maior que sua vontade de contar histórias. Desisti de seguir com minhas perguntas. Expliquei que era jornalista brasileiro e, para dizer meu nome, mostrei um cartão de visita, que acabou ficando com elas.

Quando iam responder à minha pergunta sobre os seus nomes, nossa conversa foi interrompida por uma senhora que, da porta do hospital, me avisava que o diretor já estava à disposição para a entrevista. Deixei aquelas crianças depois de menos de cinco minutos de conversa. Já caminhando, virei e disse uma das poucas expressões que tinha aprendido em suaíli: kwaheri – “adeus”. Ganhei em troca dois enormes sorrisos.

Terminada a entrevista com o diretor do hospital, confesso que nem sequer notei se as meninas continuavam ou não no pátio. Estava ainda sob o choque de um pedido do gerente da clínica, que, ao terminar de me explicar o que faziam, me perguntou se eu não poderia deixar para eles qualquer comprimido que tivesse na mala. Qualquer um. Até mesmo se o prazo de validade já tivesse expirado.

Alguns meses depois, já na Suíça, abri minha caixa de correio de forma despretensiosa ao chegar em casa. Num envelope surrado e escrito à mão, chegava uma carta de Bagamoyo.

Pensei comigo: deve ser um erro e a carta deve ter sido colocada na minha caixa por engano. Eu não conheço ninguém em Bagamoyo. Mas o envelope deixava muito claro: era para Jamil Chade.

Antes mesmo de entrar em casa, deixei minha sacola no chão e abri o envelope. Uma vez mais, meu nome estava no papel, com uma letra visivelmente infantil. Eu continuava sem entender. Até que comecei a ler. No texto, em inglês, quem escrevia explicava que tinha me conhecido diante do hospital e que tinha meu endereço em Genebra por conta de um cartão que eu lhe havia deixado.

Como num sonho, as imagens daquelas garotas imediatamente apareceram em minha mente. Mas o conteúdo daquela carta era um verdadeiro pesadelo. A garota me escrevia com um apelo comovedor. “Por favor, case-se comigo e me tire daqui. Prometo que vou cuidar de você, limpar sua casa e sou muito boa cozinheira.” A carta contava que sua mãe havia morrido de Aids – naquele mesmo hospital – e que seu pai também estava morto.

Cada um dos oito filhos fora buscar formas de sobreviver e ela era a última da família a ter permanecido na empobrecida cidade. “Preciso sair daqui”, escrevia a garota. A cada tantas frases, uma promessa se repetia: “Eu vou te amar.”

Uma observação no final parecia mais um atestado de morte: “Com as últimas moedas que eu tinha, comprei este envelope, este papel e este selo. Você é minha última esperança.”

Deputado, talvez o senhor classificaria essa pessoa no grupo de “meninas fáceis”. Eu, porém, chorei de desespero e de impotência diante daquele pedido de resgate.

Eu e o senhor- homens brancos – nascemos como a classe mais privilegiada do planeta. Eu e o senhor não tivemos de fazer nada para adquirir esses privilégios. Existimos.

É nossa obrigação, portanto, desmontar o processo de profunda desumanização de uma guerra e da miséria. Cada um com suas armas.

Não sei qual será o destino que a Assembleia Legislativa em São Paulo, seu partido e seus eleitores darão ao senhor. Qualquer que seja ele, só espero que esse episódio revoltante sirva para que haja alguma insurreição de consciências sobre a condição feminina. Na guerra e na paz.

Grato pela atenção

Jamil Chade

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Agora vai: Moro fecha sua primeira aliança, é com Mamãe, Falei

Enfim, o ex-juiz considerado parcial pelo STF, pra não dizer picareta, pode contar com um aliado, trata-se de Arthur do Val, o Mamãe, Falei.

Agora sim, a candidatura do ex-herói vai decolar. Se não fosse trágico, seria cômico.

Que força política tem o Moro!

Pré-candidato à presidência, Sergio Moro (Podemos), aquele mesmo responsável pela destruição de milhões de empregos no Brasil via Lava Jato, fechou sua primeira aliança após ter se encontrado com o deputado estadual Arthur do Val (Patriota-SP), o “Mamãe Falei”.

“Encontrei Arthur do Val. Eleito deputado estadual em 2018, ele tem se destacado na Assembleia. Estaremos juntos pelo Brasil e por São Paulo no próximo ano”, escreveu Moro em sua conta no Twitter.

“O Brasil precisará da sua locomotiva econômica para sairmos do atoleiro que nos encontramos”, prosseguiu o ex-juiz.

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