Tudo muito antigo, tudo muito atual.
A proposta básica de Paulo Guedes de culpar o pobre por sua pobreza e de enaltecer o rico por sua riqueza, existe desde o Brasil colônia, antes mesmo de se falar em república. Não seria diferente no Brasil milícia.
Guedes deixou um recado claro, que não quer saber de oportunidade de promoção social aos mais pobres, porque o miserável, o pobre é um gastador. E se assim não fosse, seria tão próspero quanto um banqueiro que cobra 500 % no cartão de crédito e 600% no especial e coloca na inadimplência aproximadamente 70% dos que se aventuraram a tomar empréstimo nessa verdadeira milícia financeira que se pratica no Brasil. O pobre, segundo Paulo Guedes, que fica aí disputando comida nos lixões, sobretudo as crianças, poderia também ser um rentista que não precisa trabalhar, apenas especular na bolsa.
Essa gente pobre, segundo Guedes, que teima em trabalhar de sol a sol e consumir tudo o que encontra pela frente, vai se manter pobre assim. Nunca terá uma saúde financeira como os milionaríssimos banqueiros do Bradesco, Santander, Itaú e etc.
Para Paulo Guedes, os pobres escolheram ser pobres e os ricos escolheram ser ricos. É esse o grau de entendimento do homem que está entregando todo o patrimônio dos brasileiros pobres, que são a grande maioria da população, aos grandes milionários brasileiros e estrangeiros.
O Globo e a Folha abriram seus editoriais se derretendo de amores pela economia elitista de Paulo Guedes. A instrução da xaropada em prol do mercado como “novo modelo econômico do Brasil” só agrava o quadro de degradação social deixado por Temer, pois não oferece qualquer perspectiva de futuro ao pobre no Brasil, que ele viva com a sua dura realidade socioeconômica.
A palavra integração, para essa gente, é sinônimo de palavrão, insulto.
A serviço das grandes corporações financeiras e do rentismo que corre nas veias do empresariado brasileiro, a mídia, assim como Paulo Guedes, que considera os pobres como seres inferiores, defende essa lógica estrutural cumulativa, porque tudo não passa da ideia de que o rico é rico por seus méritos e o pobre por seus defeitos, consagrando a ideia de uma sociedade possível apenas pela lei do mais forte.
Essas são as fronteiras entre a miséria e a riqueza no Brasil. Um discurso carregado de desagregação, uma perversidade consagrada pelo mercado. Por isso, o Brasil, depois do golpe em Dilma, deixou de ser uma democracia para se transformar em fantoche do mercado onde se folcloriza um discurso antissocial para privilegiar uma parcela ínfima da sociedade que suga toda a riqueza do país.
Tudo isso com a espetacularização da riqueza em vários anúncios publicitários e nas próprias análises de economistas de mercados convidados pela grande mídia em parceria com o mercado.
Banqueiros fazem hoje templos, enquanto crianças disputam comida no lixo. Agora querem reduzir os custos de produção, encolhendo os impostos para a ampliação dos lucros. Isso, sem dizer que o debate político no Brasil nunca foi tão censurado na mídia para que a aceitação da sociedade brasileira seja plena, sem obstáculos, sem pensamento e que a sorte dos pobres seja resolvida por eles mesmos, nada de ideias, de valores humanos, o que interessa ao mercado e, consequentemente à mídia, é o resultado em termos de lucros.
A enorme riqueza que se acumulou no país entre o 1% milionário em relação ao restante da população é única no planeta. O número crescente do desemprego, do trabalho residual, da precarização da mão de obra e dos bicos apontam para um desastre nunca visto na história do país.
Quando se abre um jornal como a Folha, O Globo, os discursos ornamentais dão conta de que o pensamento mais adequado para a realidade brasileira é esse mesmo de Paulo Guedes. É ele que dará dinâmica para que os ricos fiquem cada vez mais ricos e que a miséria se torne cada vez maior, mais aguda e mais perversa em um país que já enfrenta um cotidiano de hecatombe econômica em que os pobres são as principais vítimas para que os ricos fiquem ainda mais ricos na base do roubo do patrimônio do povo, da agiotagem desmedida, no rentismo especulativo e no super lucro.
*Carlos Henrique Machado Freitas