O juiz tabelar do 6º Juizado Especial Cível da Comarca da Capital Lagoa Fernando Rocha Lovisi ordenou, nesta sexta-feira (16), que o deputado federal Eduardo Bolsonaro retire imediatamente a música “Roda Viva” de uma postagem feita em rede social. O descumprimento acarretará em multa diária no valor de mil reais.
O caso gerou polêmica no final de novembro, quando a juíza substituta Monica Ribeiro Teixeira indeferiu o mesmo pedido feito pela defesa de Chico Buarque. De acordo com a juíza substituta, faltava comprovação de que “Roda Viva” era mesmo do artista.
Nesta quinta-feira (15), o advogado de Chico, João Tancredo, entrou com uma nova ação. E, segundo ele, a redação da peça jurídica é praticamente idêntica a da ação anterior. Questionado sobre o que teria mudado, Tancredo disse “o conhecimento sobre música popular brasileira de quem analisou o caso”.
“Enfim, superamos o debate despropositado sobre a autoria da canção. Podemos agora focar na finalidade principal do processo, que é tratar com respeito a obra do Chico e com o rigor da lei os desmandos do deputado. Aliás, esse é o tipo de foco que precisa ser retomado em diversas áreas no país”, afirmou o advogado.
Além do pedido de urgência, a ação movida por Chico ainda cobra do deputado federal uma indenização de R$ 48 mil e a publicação da sentença condenatória na mesma rede social em que fez uso indevido da obra.
*Com DCM
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Show do cantor Chico Buarque em Porto Alegre, no último sábado (5). (Foto: Reprodução)
Durante show da turnê “Que tal um samba?” do cantor Chico Buarque, em Porto Alegre, no sábado (5), a ex-presidente Dilma Rousseff que estava na plateia, foi aplaudida de pé pelo público quando o cantor anunciou sua presença.
Apesar do nome, no show Chico traz blues, baião, bossa nova, valsa, romantismo, nostalgia e bom humor. Acompanhado da cantora Mônica Salmaso, o espetáculo celebra todas as décadas de Chico, com mais de 30 composições.
Com apresentações desde a última quinta-feira (3) na capital do Rio Grande do Sul, no Auditório Araújo Vianna, a apresentação no sábado encerrou a turnê no estado gaúcho.
Na apresentação de sexta-feira (4), o cantor fez uma referência as eleições ao dizer que “não posso fazer feio, especialmente em um dia como hoje, que estamos todos muito emocionados. É quase uma reestreia, nosso primeiro show”.
Chico então passou a dedilhar no violão a melodia de Lula Lá, e foi acompanhado pela plateia, que entoou os versos.
“Este show foi concebido, desde o primeiro ensaio, com a perspectiva da vitória. Se por acaso viesse o resultado adverso, acho que não estaria aqui hoje, acho que esse show não faria mais sentido”, disse o cantor, que ergueu com Mônica uma bandeira do PT entregue por uma pessoa da plateia.
Confira
Dilma recebendo o carinho que merece ontem no show de Chico Buarque, em Porto Alegre, após ele anunciar a presença dela no teatro pic.twitter.com/TDBlFHwQ2g
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O que vê é em cada cidade que Lula faz caminhada, ele arrasta multidões cada vez maiores. Sua campanha cresce a olhos vistos. Que chegue a eleição com uma explosão de alegria e a certeza de que o Brasil será governado por quem verdadeiramente sabe governar.
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31 de agosto de 2016. O Senado brasileiro escreve a mais vergonhosa página de sua história. Por 61 a 20, aprova o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) pelo infundado crime de responsabilidade baseado nas chamadas “pedaladas fiscais”.
20 de setembro de 2022. Após 6 anos e 20 dias, a ex-presidenta Dilma e equipe tomam ciência de que a 5ª Câmara de Coordenação e Revisão de Combate à Corrupção Ministério Público Federal (MPF) arquivou o inquérito que investigava as supostas pedaladas fiscais.
Essa decisão, unânime, foi aprovada em 7 de fevereiro pelo MPF, que não a publicizou na época.
“A verdade veio à tona”, disse Dilma Rousseff em nota oficial, publicada no seu blog.“Demorou, mas a Justiça está sendo feita”.
Na verdade, a decisão do MPF tem dois efeitos práticos:
1. Sepulta de vez qualquer denúncia contra a ex-presidenta Dilma. É fim de caso, mesmo!
2. Confirma o que já sabíamos desde 2016: Dilma foi vítima de um golpe, travestido de impeachment.
Mais precisamente de um golpe político, parlamentar, jurídico e, claro, midiático.
O golpe que derrubou Dilma não teria se concretizado sem o apoio maciço e as estratégias de manipulação da grande mídia, em especial da Rede Globo.
“Em 2016, foram inúmeras noites mal dormidas. Assistimos em agonia a democracia brasileira desmoronar”, relembram os jornalistas brasileiros Victor Fraga e Valnei Nunes, que há anos residem em Londres, no Reino Unido.
Era apenas o começo da tragédia que vivemos hoje em dia.
“Em seguida, vieram a campanha de lawfare e a prisão política de Lula e ascensão da extrema direita encarnada por Jair Bolsonaro, declaradamente defensor da ditadura militar e da tortura de presos políticos”, prosseguem.
“A grande mídia e as fake news tiveram um papel fundamental nesse processo”, salientam.
“Aí, decidimos realizar o documentário A Fantástica Fábrica de Golpes”, revelam Fraga e Nunes, que são os diretores.
Os jornalistas Victor Fraga e Valnei Nunes são os diretores do documentário A Fantástica Fábrica de Golpes
O filme é uma produção anglo-brasileira.
Estreou em Cuba, no Festival de Havana, em dezembro de 2021.
Percorreu diversos festivais europeus, entre os quais o prestigoso BFI, no Reino Unido, onde foi lançado em 29 de maio de 2022.
Atualmente, está em cartaz em nove cinemas de capitais brasileiras.
No entanto, devido ao crucial momento do Brasil, Fraga e Nunes decidiram, às vésperas das eleições, disponibilizar gratuitamente o filme a um pool de mídias alternativas, entre os quais o Viomundo.
Assista-o já! Está ao final.
A temporada é curtíssima.
Vai até amanhã, segunda-feira, 26-09.
O filme levanta questões urgentes.
O objetivo é fazer com que as pessoas reflitam sobre a situação do País e questionem a informação que recebem via grande mídia e redes sociais.
Ao longo dos últimos três anos, Fraga e Nunes viajaram por 11 cidades brasileiras e cinco países na Europa e América do Sul para coletar imagens exclusivas e entrevistar várias pessoas famosas, entre as quais: a ex-presidenta Dilma Rousseff, o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel, o cantor e compositor Chico Buarque, o advogado britânico de direitos humanos Geoffrey Robertson, o jornalista Glenn Greenwald e o ativista Jean Wyllys.
“Nosso filme é um registro histórico e uma ferramenta de denúncia. Precisamos aprender com os erros cometidos nos últimos anos para que Brasil se livre de sua longa tradição de golpes de estado”, concluem Victor Fraga e Valnei Nunes
https://youtu.be/M6ja8zpeluY
*Com Viomundo
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Documento já conta com mais de 800 mil assinaturas e é reação às manifestações de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas.
O cantor e compositor Chico Buarque gravou um vídeo em que lê um trecho da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!”
O documento é inspirado na “Carta aos Brasileiros”, de 1977, que comemorou 45 anos nesta segunda-feira (8). Organizadores da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, publicaram um novo texto em defesa da democracia nos grandes jornais do país.
O manifesto, que foi divulgado no último dia 26 de julho, já conta com mais de 800 mil assinaturas e é considerado uma crítica velada às acusações de fraude nas urnas eletrônicas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ato em 11 de agosto
O texto publicado nesta segunda-feira comemora a existência da “Carta aos Brasileiros”, reforça o seu propósito de defesa da democracia e convida para participação no ato de quinta-feira (11), no Largo de São Francisco, em frente à Faculdade de Direito da USP.
“A mobilização popular será o antídoto eficaz para evitar eventual investida contra o resultado da eleição, independentemente de quem seja o vencedor”, diz um trecho da “Carta de 22”.
No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.
Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:
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Cerca de 4 mil pessoas, entre elas Lula e Janja, assistiram à apresentação em que Chico Buarque cantou um dos hinos da luta contra a ditadura: “Apesar de Você”.
Motivo da fúria de Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de censura ao Lollapalooza, a toalha com o rosto de Lula – com a mesma estampa que Pabllo Vittar desfilou pelo festival de música – foi erguida por Chico Buarque no Show de Verão da Escola de Samba Mangueira na noite desta quarta-feira (30) em uma casa de apresentações no Rio.
Ao lado da namorada Janja, o petista foi ovacionado pela plateia, que entoou o coro: “Olê, Olê, olê, olá! Lula! Lula!”.
Amigo pessoal de Lula, Chico compartilhou nos stories de seu perfil no Instagram o vídeo do show, que teve plateia lotada, no espaço para 4 mil pessoas. O cantor, um dos símbolos da luta contra a Ditadura, cantou “Apesar de Você”, um dos hinos contra o regime autoritário, que motivou sua perseguição após o golpe de 64.
Lula estava em um camarote e viu subir no palco, além de Chico, nomes como Alcione e Leci Brandão.
“Obrigado Rio, obrigado Mangueira. Viva o Brasil e a cultura brasileira”, escreveu Lula em seu Instagram, compartilhando o vídeo da festa no Rio.
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Governador tucano citou o cantor ao lado de Sérgio Reis em vídeo contrário a polarizações.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), a pagar R$ 40 mil ao cantor e compositor Chico Buarque por danos morais. A defesa do artista é feita pelo advogado João Tancredo.
O processo gira em torno de um vídeo publicado por Leite no ano passado, por ocasião do 7 de Setembro (veja abaixo). Na peça, o tucano falava em colocar o Brasil de volta ao centro, para superar as polarizações políticas, e citava Chico —um apoiador histórico do PT.
“Basta ver em Chico Buarque e Sérgio Reis duas belezas musicais, e não só duas escolhas políticas. Basta lembrar que nós, assim como eles, somos todos brasileiros”, disse Leite no vídeo.
O tribunal fluminense já havia determinado, ainda no ano passado, que a peça com imagens de Chico Buarque fosse apagada das redes sociais.
O governador do Rio Grande do Sul recorreu no âmbito do processo por danos morais, afirmando que não houve violação porque a imagem do cantor já seria amplamente utilizada.
A juíza Ingrid Charpinel Reis, porém, discordou. “A liberdade de expressão e pensamento é direito constitucional, porém o réu extrapolou o limite de seu direito ao usar a imagem e nome do autor em campanha publicitária”, diz na decisão.
“É inadmissível prestigiar conduta em que o mundo virtual seja transformado em uma terra sem leis, sem as garantias constitucionais conquistadas a duras penas”, segue a magistrada, concluindo que a conduta de Eduardo Leite gerou dano moral a Chico Buarque.
A decisão foi comemorada pelo advogado João Tancredo. “O debate político que o governador propõe não interessa. Não vem ao caso a demagogia de quem fez campanha para eleger um presidente autoritário e agora prega diálogo. A lei é clara e não se trata de uma escolha”, afirma.
“Difícil é entender como marqueteiros caríssimos não se atentem ao pré-requisito básico de qualquer campanha publicitária: ter autorização do artista para utilizar seu nome e sua imagem”, segue.
Na decisão, a juíza Ingrid Charpinel Reis afirma que a quantia de R$ 40 mil garante o caráter punitivo-pedagógico da decisão, de modo a desestimular a prática adotada pelo tucano.
“A publicação do material não autorizado pelo artista em campanha publicitária de política a qual não se alinha, leva à sua depreciação, causando-lhe dor e sofrimento, que, por óbvio, devem ser reparados”, diz a juíza.
Em outubro de 2021, Leite chegou a regravar a peça, substituindo o nome de Chico por “aquele cantor que eu não posso dizer o nome”.
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Amigo é para estas coisas (agosto de 2018) Por Martinho da Vila*
Visitar amigo que está hospitalizado ou recluso é um grande sofrimento. Foi triste ver o Arlindo Cruz no hospital. Veio à mente a imagem da Rosinha de Valença, violonista preferida. Ela ficou doze anos em coma.
A Beth Carvalho está acamada, volta e meia conversamos por telefone.
Nestes casos, um posicionamento é só comparecer quando muito aguardado e com certeza de que a visita vai proporcionar alguma alegria a quem está enfermo, mas fica a sensação de impotência por não poder fazer nada e causa um abalo por muitos e muitos dias. O mesmo acontece com visita a presidiários. Melhor é mandar uma mensagem.
Ao saber que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava no aguardo a uma visita, o contato com um dos advogados dele foi por telefone:
– Alô!
– Bom dia Dr. Ferreira!
– Bom dia! Sua voz é inconfundível.
– Não nos conhecemos pessoalmente, mas algumas vezes nos falamos e a sua também já é familiar. Somos da nobre Família Ferreira. (O nome do sambista é Martinho José Ferreira, e Lula o trata por Ferreira.)
– Nobre e imensa.
– Muito grande mesmo… E importante. Temos o Procópio ator, a Bibi atriz, o Ferreira poeta…
– E o Virgulino Lampião. Pertencemos a uma das maiores famílias do Brasil, só perdemos para os Silva.
– Por falar neles, como vai o nosso?
– Está bem. Apenas um pouco irritado pelas ordens ou desordens dos juízes e desembargadores. Num mesmo dia mandaram soltar, prender, soltar de novo, prender novamente… Agora está calmo, aguardando a sua visita.
Esta conversa ocorreu no meado do mês passado. O Dr. Manoel Caetano Ferreira perguntou se seria possível ir visitá-lo na quinta-feira, dia 3 deste agosto. Lamentavelmente não poderia, por causa de compromissos artísticos em Juazeiro e Petrolina. Porém aconteceu que a Lídia Costa, responsável pela agenda profissional, alguns dias após informou sobre o cancelamento dos shows. Imediatamente:
– Alô meu xará Ferreira! Soube agorinha que não vou mais viajar e posso ir ver o Silva Presidente.
– Há um problema. A Dona Cléo pode ir, mas não poderá entrar. Já agendei com o Chico Buarque e só são permitidas duas pessoas. A Carol ia com ele, também não vai. Posso agendar você e o Chico. Sua esposa poderá ficar esperando em uma sala confortável, a do Chefe da Polícia Federal, em companhia da Gleisi Hoffmann.
– Um momento, por favor, vou falar com ela.
Um tanto frustrada, Cléo concordou. Viajou comigo, comprou umas flores para o Lula e eu, finalmente, pude rever o Seu Inácio. Cheguei bastante apreensivo, devagar, devagarinho, calculando que ele estaria de “teto baixo”. A prisão provoca um estado depressivo, difícil de ser contornado. Que nada! Cruzamos os olhares e abriu um sorrisão.
– Alô Seu Ferreira! Até que enfim, hein!
– Oi Seu Da Silva!
Saudou, e abraçamo-nos efusivamente. Ao receber as flores, inquiriu galhofando:
– A tua mulher ainda é aquela gaúcha de São Borja que eu conheci em Belo Horizonte no lançamento de um livro seu?
– Ela mesma. É sua admiradora, tipo fã. Evangélica sem fanatismo, ora por você quase todos os dias, vai a manifestações pela sua liberdade com uma camisa que tem a inscrição “Lula ladrão, roubou meu coração”.
O sério Chico Buarque sorriu.
Sem falar muito, o Chico menos ainda, ficamos os três conversando aleatoriamente sobre futebol, música e literatura. O Lula tem pouca escolaridade, mas é bastante culto porque lê muito. Ele é o brasileiro que tem mais títulos de Doutor Honoris Causa outorgados por universidades daqui e do exterior e está, de fato e de direito, em prisão especial, com banheiro próprio, televisão… Falamos sobre a detenção domiciliar que os advogados conseguiriam se ele abrisse mão da candidatura e ele disse “não troco a minha dignidade pela liberdade.” E falou que não deseja sair da prisão enquanto não apresentarem uma prova contra ele.
O que mais o sensibiliza é a vigília que centenas de pessoas fazem dia e noite próximo ao lugar onde ele está. De manhã ele ouve:
– Bom dia, Presidente Lula!
A frase é repetida também ao anoitecer, por muitas vozes:
– Boa noite, amigo Lula!
Quase no final da visita o Dr. Rocha, um amigo antigo que também é um dos advogados, entrou na sala com o Dr. Ferreira e a Gleisi Hoffmann. Notamos que eles tinham assuntos reservados para tratar, nos despedimos e saímos.
No caminho até a sala onde me aguardava a Cléo, paramos várias vezes para fotos com policiais federais simpáticos. Antes de partirmos, a Cléo pediu ao Chico para posar em uma fotografia conosco, chamou o delegado-chefe, entregou-lhe o seu iPhone e ele, gentilmente, tirou.
Alguns fãs, raivosos, criticaram a ação da visita. Ficaram sem resposta. Iria responder, educadamente, dizendo que não se abandona um amigo na adversidade, mas foi melhor o silêncio, pois não deu margens para tréplicas.
*Do blog da Socialista Morena
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Em um manifesto em tom dramático e que está colhendo adesões, Chico Buarque, Leonardo Boff, Zélia Duncan, dom Mauro Morelli, Padre Júlio Lancellotti, Carol Proner, Zélia Ducan, entre outros, lançaram neste sábado (6) uma “carta aberta à humanidade” na qual denunciam que “o monstruoso governo genocida de Bolsonaro deixou de ser apenas uma ameaça para o Brasil para se tornar uma ameaça global”.
No manifesto, há um apelo para que STF, OAB, Congresso Nacional, CNBB e Nações Unidas entrem em ação: “Pedimos urgência ao Tribunal Penal Internacional (TPI) na condenação da política genocida desse governo que ameaça a civilização”.
Leia a íntegra do texto:
O Brasil grita por socorro.
Brasileiras e brasileiros comprometidos com a vida estão reféns do genocida Jair Bolsonaro, que ocupa a presidência do Brasil, junto a uma gangue de fanáticos movidos pela irracionalidade fascista.
Esse homem sem humanidade nega a ciência, a vida, a proteção ao meio ambiente e a compaixão. O ódio ao outro é sua razão no exercício do poder.
O Brasil hoje sofre com o intencional colapso do sistema de saúde. O descaso com a vacinação e as medidas básicas de prevenção, o estímulo à aglomeração e à quebra do confinamento, aliados à total ausência de uma política sanitária, criam o ambiente ideal para novas mutações do vírus e colocam em risco os países vizinhos e toda a humanidade. Assistimos horrorizados ao extermínio sistemático de nossa população, sobretudo dos pobres, quilombolas e indígenas.
O monstruoso governo genocida de Bolsonaro deixou de ser apenas uma ameaça para o Brasil para se tornar uma ameaça global.
Apelamos às instâncias nacionais – STF, OAB, Congresso Nacional, CNBB – e às Nações Unidas. Pedimos urgência ao Tribunal Penal Internacional (TPI) na condenação da política genocida desse governo que ameaça a civilização.
“O maior tempo de nossa existência nós o empregamos em nos escondermos do que somos terrestremente” (Mário de Andrade – do Cabotinismo/1939).
A elite brasileira passou a vida tentando construir uma caricatura europeia no Rio de Janeiro, como uma barreira de contenção contra as manifestações espontâneas do povo. Para isso não poupou esforços em reprimir os terreiros de religiões de matrizes africanas, assim como os terreiros das escolas de samba, junto com o conservadorismo religioso que imperou no país todos esses anos.
Se hoje os evangélicos atacam terreiros, a mando de bispos, no passado, padres convocavam diretamente a polícia para cumprir a mesma tarefa “legal” nas casas de umbanda e candomblé em todo o país.
Todos falharam, o Brasil passa, lindamente, a virada do ano de branco na beira da praia por conta da vitória cultural dos orixás. Não há como negar essa realidade tão materializada na nossa vestimenta nessa data.
Filho primeiro dos terreiros de candomblé e umbanda, o samba se confunde com o próprio Brasil em todas as suas variações, sejam elas dos atabaques em estado puro, na suavidade da batida de João Gilberto, na intensidade de muitas obras de Villa Lobos, sejam num imenso leque de denominações que o samba produziu, como o Côco, o Maracatu, Samba Rural, Samba de Roda, do Partido Alto, de Enredo, Samba de Breque e de tantas outras denominações que eu ficaria aqui nominando durante horas, tal a diversidade que o samba, assim como o seu coirmão, o Choro, tem, afinal, são frutos da mesma matriz, a música negra brasileira, que tem como seus principais representantes, Cartola e Pixinguinha e como característica o diálogo intenso entre melodia e ritmo em que um alimenta o outro, embebecendo quem toca e hipnotizando quem ouve.
Essas duas expressões, que representam a alma das ruas brasileiras, é como o artesanato musical que na sua essência carrega segredos e confunde a arte com o que há de essencial na vida dos brasileiros. Ou seja, a arte do humano ou, se preferirem, o humano da arte.
Não fosse a filosofia das ruas, não teríamos feito a mais rica e a mais representativa arte brasileira, que é a nossa música popular, porque a rua é a própria síntese antropofágica que, em 1917, Mário de Andrade sentenciou sobre nossas fusões de raça e, consequentemente musical que desembocaram num protagonismo negro, mas que abarcou todo o contingente brasileiro que, verdadeiramente, sentiam-se brasileiros.
Diante desse legado, os negros compartilharam sabedoria e partilharam da construção dessa arte brasileira, que tem no carnaval sua principal fonte de criação, de reinvenção, de rompimento com qualquer barreira.
O carnaval, que representa o Macunaíma de Mário de Andrade, sem caráter nenhum em sua definição estética, produziu, através dessa liberdade, um espaço amplo para a imaginação em que povo pudesse ser o grande protagonista de uma arte coletiva que se transformou no maior espetáculo da terra, porque, antes de tudo, o carnaval é a arte da resistência, da quebra de valores estruturados, sobretudo numa civilização que até hoje é pautada, do ponto de vista institucional, no que ela herdou da escravidão.
Por isso, essa extraordinária reação do povo na sua base mais concreta, mais sentida em que as camadas mais pobres da população podem se manifestar e trazer um sentimento coletivo que abarca todo o país.
E foi justamente isso que vimos na Marquês de Sapucaí no domingo e na segunda-feira, uma guerra declarada a toda podridão bolsonarista, sem perder a poética, o humor, a seriedade da causa e, principalmente, sem deixar de estabelecer o limite da fronteira do povo contra o fascismo do governo Bolsonaro.
Assim, o brasileiro, martirizado por essa lógica inescrupulosa do mercado que produziu esse ogro e, nota por nota, batida por batida, protagonizou uma arte profunda, trágica, humana, revelando um sentimento cotidiano que explodiu na avenida, numa distinção clara entre o povo e a casta no velho embate de classes em que, na vida concreta, nas ruas, o povo sempre vence.
Chico Buarque, com a sua genialidade, criou a música “Rio 42” que acabou se revelando profética, a guerra declarada na Sapucaí contra Bolsonaro em pleno domingo de carnaval, com as escolas dando um espetáculo de inédita criatividade em prol da resistência do povo brasileiro.
Rio 42 (Ópera do Malandro) Chico Buarque
Se a guerra for declarada Em pleno domingo de carnaval Verás que um filho não foge à luta Brasil, recruta O teu pessoal Se a terra anda ameaçada De se acabar numa explosão de sal Se aliste, meu camarada A gente vai salvar o nosso carnaval Vai ter batalha de bombardino A colombina na Cruz Vermelha Vai ter centelha na batucada Rajada de tamborim A melindrosa mandando bala O mestre-sala curvando a Europa A tropa do general da banda Dançando o samba em Berlim Se a guerra for declarada A rapaziada ganha na moral Se aliste, meu camarada A gente vai salvar o nosso carnaval