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Segue o poder do financismo

A crise política e institucional segue firme e solta, ocupando todos os espaços dos grandes meios de comunicação. Bolsonaro parece ter se dado conta de que os frutos colhidos pela estratégia que adotou desde o início de seu mandato não indicam uma boa performance em eventual disputa pela reeleição em outubro do ano que vem. O presidente vem acumulando uma série de quedas contínuas em sua popularidade e as pesquisas de opinião simulam uma derrota frente a Lula nas próximas presidenciais.

Em tal circunstância, o ex capitão promove um grande estelionato em suas promessas de campanha e se joga de braços abertos no colo do Centrão. Depois do grande empenho emprestado pelo Palácio do Planalto para a eleição de Arthur Lira (PP/AL) e Rodrigo Pacheco (DEM/MG), os laços de dependência de Bolsonaro para com o fisiologismo foram sendo cada vez mais apertados. A conquista de aliados na Presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal revelou-se fundamental para facilitar a tramitação de projetos de interesse do governo, mas principalmente para evitar o fantasma da tramitação oficial do impeachment.

Ocorre que Bolsonaro precisa manter acesa a chama do fundamentalismo de todos os tipos, aqueles apoiadores mais extremistas que estarão com o chefe para o que der e vier. Para manter esse grupo com fogo nos olhos, o discurso contra a vacina e a favor da cloroquina foi pouco a pouco sendo substituído pela campanha a favor do voto impresso. A tônica da narrativa se mantém a mesma. Trata-se de um discurso de ódio, supostamente contra “tudo o que está aí”, como se a família Bolsonaro não estivesse no centro do poder da política nacional desde janeiro de 2019. E nessa toada vale tudo, inclusive as ameaças permanentes de um golpe militar e os xingamentos e ofensas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas enquanto a cena política segue dominada por essa postura agressiva do Presidente, a retomada dos trabalhos da CPI da COVID no Senado Federal ao fim do recesso do legislativo promete ainda mais novas denúncias e provas de corrupção do governo na área da saúde, além das evidências da adoção de políticas claramente irresponsáveis e criminosas no enfrentamento da pandemia. A resposta de Bolsonaro a esse isolamento de seu governo teve o significado de amarrar ainda mais seu destino aos desejos do Centrão. A nomeação do Senador Ciro Nogueira (PP/PI) para o comando da Casa Civil introduz o fisiologismo no coração da equipe governamental. Paulo Guedes já teve uma parte de seu superministério desmembrado para atender a Onyx Lorenzoni (DEM/RS), aquinhoado com a estrutura dos antigos Ministérios do Trabalho e da Previdência. Além disso, não é improvável que ocorra ainda a retomada do extinto Ministério do Planejamento, que ficaria com o estratégico Orçamento da União, cobiçado por 11 em cada 10 parlamentares em Brasília.

Crise não afeta o poder dos bancos.

Mas enquanto as tensões políticas aumentam de intensidade e de temperatura, o financismo segue tranquilamente faturando mais do que nunca e comendo pelas beiradas. A agenda neoliberal de Paulo Guedes segue seu caminho, com promessas de mais privatizações e de continuidade da política de destruição do Estado e desmonte das políticas públicas. Trata-se de uma estratégia que busca obter uma espécie de neutralidade desse pessoal da nata do sistema financeiro em relação à antecipação da disputa eleitoral e do encurralamento crescente de Bolsonaro no xadrez político nacional. Afinal, os negócios lucrativos e as oportunidades de ganhos são fundamentais na lógica do capital, ainda que isso tudo se dê às custas de mais de meio milhão de vidas ceifadas de forma irresponsável e da verdadeira destruição da Nação.

O Brasil segue quebrado, com recordes sucessivos nos indicadores de desemprego e de precariedade do mercado de trabalho. Marcadores que avaliam a fome, a pobreza e a miséria apontam para a incapacidade de melhoria, ainda que algum tímido crescimento seja observado nas atividades econômicas de forma geral. A verdadeira dimensão do desastre que vem sendo implementado pelo governo a cada dia que passa só poderá mesmo avaliado de maneira efetiva mais à frente. No entanto, alguns setores seguem se dando muito bem, apesar da crise. Além do agronegócio e dos ramos ligados à exportação, os bancos e instituições financeiras não deixam de apresentar bons resultados em seus sucessivos balanços.

O primeiro grupo consegue manter alta lucratividade e faturamento elevado em razão do destino de suas vendas. Como dependem da chamada demanda externa, seus negócios não são afetados para compressão da massa salarial interna e da baixa capacidade de consumo no território nacional. Já os grupos do financismo exercem seu poder ao se constituírem e se comportarem como oligopólio. Como são poucos e gigantes, os bancos privados impõem ao mercado e à sociedade suas margens absurdas e seus “spreads” elevadíssimos. Além, é claro, de toda as benesses e complacências que recebem da tecnocracia das altas esferas de poder no comando da área econômica.

A banca privada iniciou o mês de agosto divulgando os números do segundo trimestre do ano. Uma loucura. Parece que vivem em outra galáxia. Na verdade, eles são o reflexo bem definido de uma sociedade altamente injusta e concentradora de renda e patrimônio. Os números deveriam provocar aquele sentimento de vergonha alheia, ao invés de estimular o conhecido orgulho de seus dirigentes e acionistas. Vamos a alguns deles que já são de conhecimento público.

Lucros bilionários no primeiro semestre.

O Banco Santander registrou um lucro de R$ 4,1 bilhões no segundo trimestre de 2021, o que significou uma alta de 102% em relação ao mesmo período de 2020. É isso mesmo! Seus ganhos mais do que dobraram em um ano. Trata-se do maior resultado alcançado para esse período de abril/junho em todo a série histórica da empresa.

O Itaú Unibanco apresentou lucro líquido de R$ 7,6 bi no segundo trimestre, representando um crescimento de 120% em relação ao mesmo período do ano anterior. Somados aos R$ 4,4 bi obtidos entre janeiro e março do presente ano, temos um lucro de R$ 13 bi apara o conjunto do primeiro semestre. Ou seja, o resultado para os primeiros seis meses foi mais de 90% superior aos R$ 6,8 bi registrados em 2020 para esse mesmo período.

Ora, para que seja possível reduzir esse escândalo que vem se repetindo há décadas a cada mês, trimestre, semestre ou ano, o único caminho é oferecer um contrapeso do setor público. Deixar o tal “mercado” atuando livremente apenas com as forças de oferta e demanda é eternizar a espoliação. De um lado, é necessário reforçar e aperfeiçoar a legislação e a regulamentação, de maneira a que elas sejam capazes de exercer o poder de redistribuição de renda e de promover maior justiça social. De outro lado, é fundamental que o governo se utilize de bancos públicos poderosos e robustos – como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o BNDES e os bancos voltados ao desenvolvimento regionais (BASA, BNB e BRDE) – para atuar de forma a corrigir as falhas da banca privada e oferecer crédito e condições de financiamento mais adequadas às necessidades das empresas e das famílias.

Esse é o caminho para quebrar o poder exagerado do financismo privado, condição necessária ao estabelecimento de uma nova ordem econômica e social mais justa e sustentável.

* Paulo Kliass/Carta Maior

*Foto em destaque: Bolsonaro promove um grande estelionato em suas promessas de campanha e se joga de braços abertos no colo do Centrão (Marcos Corrêa/PR)

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‘Contagem regressiva para catástrofe da covid’: a repercussão da crise política e de saúde do Brasil na imprensa internacional

Na semana em que atingiu mais um recorde de mortes por covid-19 e enfrentou uma crise política sem precedentes, o Brasil ganhou destaque em publicações estrangeiras.

Dessa vez, além de voltar a noticiar o descontrole da pandemia do novo coronavírus, jornais de todo o mundo chamaram atenção para a troca de comando nas Forças Armadas.

“Bolsonaro não conseguiu impedir a covid-19. Agora, pode estar mirando a democracia” foi o título do artigo de opinião publicado pelo jornal americano Washington Post.

Em meio a “um dos piores picos de infecções por covid-19 que o mundo já viu”, disse o diário, “não há fim para a onda à vista: graças à impressionante incompetência do presidente Jair Bolsonaro e seu governo, apenas 2% dos brasileiros foram totalmente vacinados e as medidas de lockdown necessárias para frear novas infecções, incluindo de uma variante virulenta que surgiu no país, são praticamente inexistentes”.

“Em vez de lutar contra o coronavírus, Bolsonaro parece estar preparando as bases para outro desastre: um golpe político contra os legisladores e eleitores que poderiam removê-lo do cargo”, afirmou o Washington Post.

Segundo o jornal, há “motivos para preocupação”, “embora as instituições democráticas do Brasil sejam relativamente fortes após mais de três décadas de consolidação”.

“O presidente brasileiro já contribuiu muito para o agravamento da pandemia covid-19 em seu próprio país e, por meio da disseminação da variante brasileira, pelo mundo. Ele não deve ter permissão para destruir uma das maiores democracias do mundo também”, concluiu o Washington Post.

O também americano New York Times publicou reportagem intitulada “Enquanto vírus e problemas econômicos assolam o Brasil, Bolsonaro improvisa e confunde”.

“Mesmo para um líder polarizador que muitas vezes parece agir por instinto, os movimentos recentes do presidente Jair Bolsonaro do Brasil confundiram e enervaram muitos no maior país da América Latina, onde o coronavírus está matando pessoas a uma taxa recorde”, disse o jornal, em texto assinado pelos correspondentes Ernesto Londoño e Letícia Casado.

Do outro lado do Atlântico, o britânico Financial Times, especializado em notícias financeiras, descreveu a troca de comando na Defesa, com a substituição do ministro Fernando Azevedo e Silva e dos chefes das três forças, como “o poder explosivo de uma bomba” detonada.

“Um dos maiores céticos do coronavírus do mundo, Bolsonaro recusou-se a usar máscara durante a maior parte do ano passado, criticou as vacinações e classificou a pandemia como “gripezinha”. Ele agora está lutando para manter seu governo unido e suas esperanças de reeleição vivas em meio a alguns dos piores números da covid-19 do mundo”, disse o jornal.

Já o também britânico Guardian deu destaque à movimentação de líderes da oposição pelo impeachment de Bolsonaro.

“O que quer que tenha acontecido, poucos duvidam que o drama da semana representa um momento crucial e potencialmente perigoso na história moderna de um país que emergiu apenas de duas décadas de ditadura em 1985”, escreveu Tom Phillips, correspondente do jornal no Rio de Janeiro.

“Com mais de 66 mil mortes somente em março, o Brasil está em meio a uma crise política e de saúde. Como o país chegou a esse ponto?”, questiona o britânico Telegraph em reportagem intitulada ‘Milhares de mortos e um país em turbulência: a contagem regressiva do Brasil para a catástrofe da covid’.

Para o francês Le Monde, Bolsonaro está cada vez mais “isolado e impopular”.

O italiano Corriere della Serra definiu a troca de comando da mais alta cúpula militar brasileira como “a pior crise desde o fim da ditadura”, escreveu a jornalista Sara Gandolfi.

Em artigo no alemão Frankfurter Allgemeine, o editor de política do jornal, Klaus-Dieter Frankenberger, classificou como “fatal” a gestão da pandemia de covid-19 por Bolsonaro. “O Brasil merece mais”, escreveu ele.

“Bolsonaro, o presidente populista de direita, não é inocente. De muitas maneiras, ele imitou seu modelo e seu herói Donald Trump: ignorou e minimizou o perigo do vírus por muitos meses; na verdade, até hoje. No trade-off entre conter a epidemia e manter a economia aberta, nunca optou pela proteção à saúde. Em vez disso, ele se gabava de sua resiliência”.

Por sua vez, no argentino Clarín, o jornalista Marcelo Cantelmi, chefe de política internacional do diário, escreveu em artigo intitulado “Brasil em crise Por que é o pior momento de Jair Bolsonaro?”: “O presidente brasileiro está encurralado, perdeu o apoio do establishment e de seus aliados. Por isso, demitiu a liderança das Forças Armadas, para tentar rearmar uma verticalidade militar que o proteja de um possível julgamento político”.

*Com informações do Uol

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Para tirar Moro do seu caminho na eleição de 2022, Bolsonaro sinaliza indicá-lo para o STF

É o resta a Bolsonaro, tirar Moro do seu caminho, indicando-o para o STF ainda em 2020, na vaga de Celso de Mello que se aposentará em novembro. Falta saber se Moro vai aceitar, já que está de olho na cadeira de Bolsonaro em 2022.

Moro não é o ‘terrivelmente evangélico’ no STF prometido por Bolsonaro à bancada evangélica. Mas o presidente terá oportunidade de cumprir a promessa logo mais.

A crise acabou, esta última, e presidente Jair Bolsonaro volta a dizer que poderá indicar Sergio Moro, ex-juiz e atual ministro da Justiça, para a vaga do STF. É comum aproximar e afastar o ex-juiz da indicação, parte do jogo de morde-e-sopra da relação estabelecida.

A recente crise política amaina, e o presidente coloca novamente o ex-juiz da lava Jato como o preferido para substituir o ministro Celso de Mello, no Supremo Tribunal Federal. O decano se aposenta em novembro, abrindo caminho para a primeira indicação de Jair na corte.

Aliados do presidente entendem esse movimento como uma forma de tirar Moro da possibilidade de uma disputa presidencial de 2022. De acordo com a Folha, o ministro conversou sobre a possibilidade de ir para o STF após a polêmica de retirar de sua pasta a Segurança Pública.

Segundo os aliados, foi uma DR, na linguagem popular uma ‘discussão da relação’, entre o presidente e Moro. E sua indicação abriria espaço para Bolsonaro interferir mais ainda no Ministério da Justiça, algo que faz com menor ou maior pressão desde o início do mandato.

Outro ponto sensível é a Polícia Federal. Com Moro fora do caminho, Bolsonaro poderá mexer em seu comando, o que já vem demonstrando intenção desde o ano passado.

Moro não é o ‘terrivelmente evangélico’ no STF prometido por Bolsonaro à bancada evangélica. Mas o presidente terá oportunidade de cumprir a promessa logo mais, com a saída de Marco Aurélio.

 

 

*Com informações do GGN/Folha