Categorias
Mundo

Vídeo – O horror sionista vivido por uma brasileira em Gaza

Sem dúvida alguma, esse é o período mais macabro da história da ocupação dos sionistas na Palestina em 75 anos. Essa mistura de racismo, ódio classista, que é documentado pela história, praticado por Israel, é perversamente ideológico, é a própria fornalha do inferno.

Os interesses por trás disso ainda são uma lacuna a ser desvendada em sua forma mais crua, mesmo que saibamos que uma significativa parcela do sionismo, que se acha dona do mundo.

Ou seja, o sionismo funciona como uma orquestra aterradora em que o mal tem uma forma particular na batuta de quem a rege.

O que segue abaixo, um vídeo com relato de uma brasileira, alguém que compreendemos como nós, reconhecendo o seu drama e compreendendo com mais clareza o terror que o Estado de Israel impõe a Gaza.

“A situação está desesperadora, está difícil. As crianças estão chorando. Eu estou em uma escola. E a irmã da igreja disse que a escola não é mais um lugar seguro. Não podemos mais ficar aqui, os israelenses vão atacar todos os lugares. Eles mandaram o povo de Gaza sair. Todos os brasileiros aqui estão desesperados, não sabemos para onde ir. Temos que ir para o Sul, mas não sabemos quem vai nos receber. Não temos o que fazer, não sei”, disse Shahed.

Categorias
Justiça

Gilmar Mendes diz não saber se tem ‘pena’ ou ‘horror’ de Sergio Moro

Ministro do STF disse que o ex-juiz federal e agora senador perdeu ‘o senso do ridículo’ por vídeo em que brincou sobre ‘comprar um habeas corpus’ dele.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou nesta segunda-feira não saber se tem “horror ou pena” do ex-juiz federal e senador Sergio Moro (União Brasil-PR). A declaração foi dada após questionamento sobre um vídeo em que Moro aparece, aos risos, falando em “comprar um habeas corpus” do ministro. Nesta ocasião, que ocorreu em uma Festa Junina, Mendes afirmou que o senador “perdeu o senso do ridículo”.

— Eu não sei se tenho horror ou pena de Sergio Moro. Quem está sendo acusado de vender sentenças é ele. A gente deve rezar para não perder o senso de justiça. Se a gente não tiver sorte, que continuemos a rezar e pedir a Deus para não perder o senso do ridículo — afirmou em entrevista ao Jornal da Record.

Desde que o vídeo de Sergio Moro viralizou, em abril, Gilmar Mendes tem tecido uma série de críticas públicas ao senador. Na semana passada, em entrevista ao Roda Viva, Mendes também falou do ex-juiz federal e afirmou que em “Curitiba tem o germe do fascismo”.

— Curitiba gerou Bolsonaro. Curitiba tem o germe do fascismo. Inclusive todas as práticas que desenvolvem. Investigações à sorrelfa e atípicas. Não precisa dizer mais nada — disse Gilmar Mendes.

Após a declaração, a deputada federal e esposa de Moro, Rosangela, disse que o ministro do STF é “obcecado” por seu marido. A parlamentar também pediu respeito em nome do ex-juiz federal.

Sobre a gravação que lhe rendeu uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por calúnia, Sergio Moro diz ter sido uma “brincadeira infeliz” e que a fala foi “retirada de contexto.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor

Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação e reflexão de qualidade e independência.

Caixa Econômica Agência: 0197
Operação: 1288
Poupança: 772850953-6
PIX: 45013993768 – CPF

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Uncategorized

Falta ao mercado saber que Lula não foi eleito para servir à camadinha especulativa

Vozes do mercadinho reagem com ‘horror’ ao ouvir que prioridade é acabar com fome.

Janio de Freitas – Ah, que horror! Lula disse que prioritário é acabar com a fome, não a contenção de gasto social, o tal teto de gastos! A Bolsa caiu! Reação imediata do mercado (nome de guerra dos que não produzem, não se incluem na infraestrutura econômica, e ganham no jogo financeiro das Bolsas). E tome de manchetes em primeiras páginas e comentaristas do “mau passo” com que “Lula já começou”. Todos sempre reforçando a exigência reiterada pelo mercado: “Lula tem que indicar logo o novo ministro da Economia”.

Tem que? Ainda falta ao mercado a informação de que Lula foi eleito para presidir um país de mais de 215 milhões de habitantes, não para servir à camadinha especulativa. A decisão eleitoral completa neste domingo duas semanas, apenas. Nas quais o mercado se fez de inquieto porque este é um método eficaz para acionar o sobe-desce lucrativo da especulação financeira. E de quebra dizer quem manda, para ver no que isso dá. Nenhuma empresa séria depende da urgência de um nome de ministro.

Expoente dos chamados investimentos financeiros, Arminio Fraga deu a Lula, na Folha, a resposta do mercado: “Estabilidade fiscal (…) gera mais investimento e mais crescimento. Simples assim. E (…) aumenta a chance de os recursos beneficiarem os mais pobres”. Parece falar de economia, mas é de políticas que trata.

O crescimento não depende necessariamente de estabilidade financeira, e o Brasil tem no inflacionário governo Juscelino um dos seus tantos exemplos de desvario financeiro e crescimento. O governo da mediocridade desleal, de Michel Temer, até criou o “teto de gastos”, mas daí não vieram “mais investimento e mais crescimento”. Recursos, provenientes de estabilidade ou não, só “beneficiam os mais pobres” se esta for a política do governo. O que só por um breve período aconteceu no Brasil —e nem digo qual.

O batido tema da estabilidade fiscal ao gosto da especulação provocou, afinal, algo positivo. E assombroso. Em discreto pé de página, uma entrevista ao jornal O Globo (11 novembro, pág. 12) revelou uma franqueza nunca vista aqui, para divulgação pública, por parte de um economista, digamos, bem aceito.

Muito reverenciada por seus colegas destacados na imprensa brasileira, carioca que leciona na Johns Hopkins University, Monica de Bolle foi direta e clara desde o início. Sobre a reação do mercado a Lula: “O mercado (…) faz esses movimentos de Bolsa e dólar para ganhar dinheiro. Esses movimentos não querem dizer nada. Os economistas do mercado têm uma visão míope e estão com ela há muito tempo”. Eles e os jornalistas que os ecoam.

Mais: “O teto de gastos já não existe há bastante tempo, basicamente desde que foi criado. Foi modificado em praticamente todos os anos do governo Bolsonaro. (…) Foi uma regra fiscal para jogar no lixo. (…) O momento é de revogar e fazer um teto novo”.

A complacência utilitária do mercado com Bolsonaro e Paulo Guedes sufocou as reações a desatinos como a PEC Kamikaze, “a coisa mais populista e gastadora” (de Bolle), o orçamento secreto ainda vigente, o gasto eleitoreiro pró-reeleição. E tantas outras causas do rombo já estimado em prováveis R$ 400 bilhões, a ser deixado para o novo governo.

O que deveria inquietar o mercado e o empresariado bolsonarista é o risco decorrente de esperáveis investigações sobre os pagadores de atos golpistas contra o resultado eleitoral. Esses fatos que se espalham pelo país alertam para o rigor necessário à escolha dos futuros dirigentes da Polícia Federal, das demais polícias federais e da Abin. E, mais adiante, de quem restaure a moralidade na Procuradoria-Geral da República.

*Folha

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação e reflexão de qualidade e independência.

Caixa Econômica Agência: 0197
Operação: 1288
Poupança: 772850953-6
PIX: 45013993768 – CPF

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Mundo

Contra o horror, prossegue o levante palestino

Mesmo em face de turbas de linchamento e violência estatal, muitos palestinos não podem se dar ao luxo de que o regime colonial de ocupação de Israel volte ao ‘normal’.

Matéria de Amjad Iraqi publicada na Carta Maior – O caos que se desenrola na Palestina-Israel é real, brutal e aterrorizante. Caças a jato, foguetes, policiais e turbas de linchamento engoliram os céus e as ruas nos últimos quatro dias. O exército israelense e os militantes do Hamas continuam trocando tiros arbitrários, matando dezenas e ferindo incontáveis outros, esmagadoramente na sitiada Faixa de Gaza. Em Israel, multidões de grupos armados, muitos deles bandidos judeus acompanhados pela polícia, estão perambulando por cidades e bairros destruindo carros, invadindo casas e lojas e buscando derramamento de sangue no que muitos estão corretamente descrevendo como pogrons.

Esta descida ao Estado desenfreado e à violência da multidão está tragicamente abafando um dos momentos mais incríveis da história recente da Palestina. Durante semanas, as comunidades palestinas, com Jerusalém em seu epicentro, organizaram manifestações de massa que se espalharam como fogo em ambos os lados da Linha Verde. Iniciado por eventos no Portão de Damasco e seu bairro adjacente de Sheikh Jarrah, protestos eclodiram do campo de refugiados de Jabaliya em Gaza à cidade de Nazaré em Israel e ao centro da Cisjordânia em Ramallah. E até agora, eles mostram poucos sinais de enfraquecimento.

Mesmo que os eventos atuais deem uma guinada terrível, essas mobilizações das últimas semanas não podem ser negligenciadas. Embora palestinos de todos os matizes estejam profundamente cientes de sua identidade compartilhada, muitos temem, há muito tempo, que a violenta fragmentação de seu povo por Israel – estimulada por líderes nacionais que reforçaram essas divisões – tenha prejudicado irremediavelmente sua unidade. O fato de os palestinos terem saído às ruas em uníssono é um lembrete desafiador de que, apesar do número incomensurável de suas vítimas, a política colonial de Israel ainda não foi bem-sucedida. Essa perseverança é mais do que apenas uma fonte de consolo para os palestinos; isso os galvanizou a aproveitar este momento para forjar uma mudança radical e decisiva.

Esta não é a primeira vez que manifestações assim ocorrem: o Plano Prawer de 2013 para deslocar cidadãos beduínos em Naqab / Negev, a guerra de 2014 em Gaza e a Grande Marcha do Retorno de 2018 geraram ações conjuntas semelhantes, citando apenas eventos da última década. No entanto, qualquer palestino que participou dos protestos atuais ou acompanhou as notícias do exterior não pode deixar de sentir que essa onda é diferente das outras. Algo parece diferente. Ninguém tem certeza do que é ou quanto tempo vai durar – e depois da loucura da noite passada, isso talvez não importe mais. Mas é angustiante de assistir e eletrizante de se ver.

Não é apenas um slogan

A centralidade de Jerusalém neste avivamento nacional é uma parte vital da história. Há anos a capital histórica não estava presente na mente de tantos palestinos – e, na verdade, nas mentes de milhões em todo o mundo – do jeito que tem estado nas últimas semanas. A última vez que isso ocorreu foi em julho de 2017, quando, após um ataque de militantes palestinos à Polícia de Fronteira perto da mesquita de Al-Aqsa, as autoridades israelenses instalaram detectores de metal ao redor do complexo e se recusaram a permitir que fiéis muçulmanos entrassem sem serem examinados pelos detectores.

Rejeitando essa imposição da potência ocupante, os palestinos lideraram um boicote em massa aos detectores e protestaram contra qualquer tentativa de alterar o “status quo” do Haram al-Sharif. Sua desobediência civil obrigou os atores regionais a intervir e, no final, forçou Israel a remover os detectores que haviam instalado. Embora de alcance limitado, foi uma vitória inspiradora que ofereceu um vislumbre do potencial de organização palestina na cidade, que muitos temiam ter sido dizimada pela repressão israelense durante e após a Segunda Intifada.

Desta vez, a mobilização em Jerusalém é muito mais significativa. Ao contrário de 2017, os manifestantes palestinos não se contentaram em simplesmente suspender as restrições arbitrárias da polícia às festividades do Ramadã no Portão de Damasco. No que provou ser fatal, as autoridades israelenses e grupos de colonos intensificaram sua pressão para expulsar famílias palestinas de suas casas em Sheikh Jarrah, cujos despejos deveriam ser selados pela Suprema Corte neste mês, ao mesmo tempo em que a polícia estava escalando sua violência repressiva na Cidade Velha. O destino de Sheikh Jarrah, junto com outras áreas ameaçadas como Silwan, se entrelaçou com o coração da Jerusalém palestina – não apenas como um slogan enfadonho, mas como um movimento que realiza ações em massa para defendê-los.

Ao fazer isso, os palestinos abriram um caminho tremendo na oposição às tentativas de Israel de separar os bairros de Jerusalém uns dos outros e isolá-los de seus irmãos fora da cidade. Estimulados pelo despertar da capital, palestinos em outras cidades organizaram seus próprios protestos em apoio ao Sheikh Jarrah e Al-Aqsa, imperturbáveis pelas ameaças israelenses e atos de repressão. No sábado passado, milhares de cidadãos palestinos de Israel desafiaram as obstruções da polícia e viajaram de ônibus e a pé para professar sua fé no local sagrado, orando pelo Sheikh Jarrah ao mesmo tempo. Até que acontecessem os pogrons desta semana que permearem o país, todos os olhos estavam fixos em Jerusalém com uma energia fervorosa que não era sentida pelos palestinos há anos.

Uma característica extraordinária das manifestações é que elas estão sendo organizadas principalmente não por partidos ou figuras políticas, mas por jovens ativistas palestinos, comitês de bairro e coletivos de base. Na verdade, alguns desses ativistas rejeitam explicitamente o envolvimento das elites políticas em seus protestos, vendo suas ideias e instituições – da Autoridade Palestina à Lista Conjunta – como domesticadas e obsoletas. Eles estão se afirmando nas ruas e principalmente nas redes sociais, incentivando outros jovens que nunca participaram de protestos políticos a se associarem pela primeira vez. De muitas maneiras, esta geração está desafiando sua liderança tradicional tanto quanto está lutando contra o estado israelense.

Forças de segurança israelenses prendem manifestantes durante uma manifestação contra o plano de Israel de despejar palestinos no bairro de Sheikh Jarrah em Jerusalém Oriental, 6 de maio de 2021. (Jamal Awad / Flash90)

Resiliência em meio ao caos

Não é de se admirar que o Hamas tenha decidido entrar no palco disparando milhares de foguetes contra o sul e o centro de Israel em nome da defesa de Jerusalém. Para alguns palestinos, esta é uma intervenção militar justificada para apoiar o movimento de rua; para outros, é uma tentativa descarada de sequestrar os protestos para ganho próprio do Hamas, como fez com a Grande Marcha de Retorno de Gaza. Ainda assim, com o presidente Mahmoud Abbas adiando indefinidamente as eleições palestinas deste verão, os líderes políticos de ambos os lados dos territórios ocupados mostraram que têm pouco a oferecer além de velhas estratégias e um governo mais autoritário.

A cooptação não é a única ameaça que o crescente movimento enfrenta. Nas chamadas “cidades mistas” como Lydd, Jaffa e Haifa – cidades historicamente palestinas que foram transformadas à força em localidades de maioria judia por meio de expulsão e gentrificação – turbas de judeus de direita, muitas protegidas e auxiliadas pela polícia, estão linchando palestinos e aterrorizando seus bairros. Gangues de judeus armados de assentamentos na Cisjordânia, onde violentos ataques contra palestinos estão descontrolados, estão convergindo para essas cidades para entrar na briga. Alguns palestinos também estão atacando israelenses judeus e incendiando seus veículos e propriedades, incluindo ataques incendiários em sinagogas. Porém, apenas grupos de um certo lado têm poucos motivos para temer as autoridades – muito ao contrário, podem contar com a proteção da polícia.

Esses acontecimentos angustiantes provavelmente vão piorar nos próximos dias, à medida que Israel e o Hamas intensificam sua guerra assimétrica, com os palestinos na bloqueada faixa de Gaza pagando o preço mais alto. O governo israelense está agora considerando enviar o exército para ajudar a polícia a estabelecer a “ordem” no país, um movimento que vai impor ainda mais tirania sobre os cidadãos palestinos do Estado. Enquanto isso, muitos palestinos que apoiam os protestos ficaram com medo de tomar as ruas sob o risco de ferimentos, prisões ou pior. Outros se resignaram a acreditar que – após décadas de levantes, inação internacional e impunidade israelense – há pouca esperança de que este episódio traga qualquer mudança significativa.

Sinagogas e carros incendiados e lojas vandalizadas no centro da cidade de Lod, após uma noite de tumultos na cidade, 12 de maio de 2021. (Avshalom Sassoni / Flash90)

E ainda assim, mesmo que a violência pareça sair do controle, não deve ser permitido apagar as correntes de orgulho, solidariedade e alegria que têm energizado a onda de resistência palestina deste mês. Em uma imagem simbólica no domingo, um palestino em Lydd escalou um poste de luz para substituir uma bandeira israelense por uma palestina – uma cena desafiadora quase 73 anos depois que as forças sionistas limparam etnicamente a cidade na Nakba. Quando a polícia bloqueou a entrada de ônibus em Jerusalém para a noite sagrada de Laylat al-Qadr, os motoristas que passavam ofereciam carona aos palestinos que estavam dispostos a caminhar quilômetros para chegar a Al-Aqsa. No bairro de Wadi Nisnas, em Haifa, esta semana, os residentes palestinos se agruparam para afastar as turbas de judeus, sabendo que a polícia provavelmente mais ajudaria os agressores do que os pararia.

Nas redes sociais, um vídeo viral mostrou cidadãos palestinos rindo e aplaudindo enquanto um carro da polícia israelense passava sem saber que uma bandeira palestina havia sido enfiada na porta traseira do veículo. Outro vídeo popular mostrou um menino palestino, empurrado para fora de Al-Aqsa por uma multidão de policiais, jogando seu sapato na cabeça de um policial de capacete. Outro mostrava um palestino abrindo um sorriso quando sua filha, alheia ao fato de que seu pai estava sendo preso pela polícia em sua própria casa, impacientemente o indagava sobre sua boneca. Mesmo em meio ao caos, esses momentos de beleza e resiliência não devem ser esquecidos.

Um levante nacional

Não há dúvida de que este é um momento perigoso para todos aqueles que vivem na Palestina-Israel. A volatilidade nas ruas é petrificante e os perigos que elas trazem parecem quase sem precedentes. Essa loucura deveria ter sido evitada, mas os poderes constituídos a tornaram quase inevitável. A comunidade internacional, incluindo os Estados árabes, efetivamente abandonou a causa palestina; a direita israelense solidificou seu domínio do apartheid entre o rio e o mar; e as lideranças palestinas se recusaram a dar a seu povo uma palavra sobre seu futuro político.

É precisamente esse ambiente de isolamento e esmagamento que o nascente movimento palestino está tentando destruir. Muitos dos jovens ativistas que colocaram seus corpos em risco nas últimas semanas passaram suas vidas tentando garantir sua liberdade. Mais assertivos e mais equipados do que suas gerações anteriores, eles tentaram sua sorte nas redes sociais, na defesa pública, programas de “coexistência”, prática legal, até mesmo amizades com colegas de trabalho judeus – apenas para descobrir que permanecem presos pelas mesmas correntes que seus pais e avós antes deles. Privados de opções, a desobediência pública é agora uma das poucas estratégias que restaram aos palestinos para conter a opressão implacável de Israel, principalmente na luta contra os despejos de Sheikh Jarrah a Jaffa e além.

Cidadãos palestinos de Israel confrontam policiais israelenses durante uma manifestação de solidariedade a Gaza e Jerusalém, no centro de Haifa, em 9 de maio de 2021. (Mati Milstein)

Créditos da foto: Cidadãos palestinos de Israel confrontam policiais israelenses durante uma manifestação de solidariedade a Gaza e Jerusalém, no centro de Haifa, em 9 de maio de 2021. (Mati Milstein)

Este ato de agitação em massa não pode simplesmente ser classificado como um falso binário de resistência “violenta” ou “não violenta”. É, para ser franco, um levante nacional. Embora seja uma palavra profundamente estigmatizada, e mais usada para demonizar e justificar a brutalidade contra os manifestantes, os levantes são uma característica familiar da resistência popular contra a injustiça; os protestos de Black Lives após o assassinato de George Floyd no ano passado deram exemplos proeminentes disso. E para muitos palestinos nas ruas, qualquer violência que emane desses protestos – por mais abomináveis e condenáveis que sejam – permanece incomparável com a brutalidade diária, direta e estrutural infligida pelo estado que os governa.

De fato, junto com as guerras sísmicas de 1948 e 1967, o sucesso do sionismo como um projeto colonial de ocupação deriva em grande parte de sua abordagem cada vez mais rasteira de expropriação. Ele rouba território pedaço por pedaço, despeja famílias de casa em casa e silencia a oposição pessoa por pessoa. “Silêncio” é a chave para minar a resistência coletiva, enquanto dá aos críticos a ilusão de que eles têm tempo para virar a maré. E como os eventos em Jerusalém mostraram neste mês, quanto mais descaradamente Israel segue suas políticas, mais intensamente a resistência aumentará.

Os palestinos que foram às ruas nas últimas semanas sabem disso muito bem – e é por isso que eles não estão interessados em deixar Israel voltar ao “normal”. Normalidade significa permitir que o colonialismo de ocupação e o apartheid continuem funcionando sem problemas, sem serem impedidos pelo escrutínio local ou internacional. Essa condição violenta e desumana forma a experiência comum de milhões de palestinos, quer vivam sob bloqueio, regime militar, discriminação racista ou exílio. Todos entendem que estão enfrentando uma força única que tenta suprimi-los, pacificá-los e apagá-los, simplesmente por causa de sua identidade nativa.

Mesmo à beira de um estágio assustador de guerra, muitos palestinos não podem se dar ao luxo de esperar pela próxima crise para se livrar dessa força opressora. Há um levante acontecendo agora – e mesmo que isso não liberte os palestinos de suas correntes, pelo menos, pode afrouxar o controle de Israel sobre sua consciência.

*Carta Maior

*Amjad Iraqi é editor e escritor da 972 Magazine. Ele também é analista de políticas no think tank Al-Shabaka e anteriormente foi coordenador de defesa no centro jurídico Adalah. Ele é um cidadão palestino de Israel, baseado em Haifa.

*Publicado originalmente em 972 Magazine | Traduzido por César Locatelli

Siga-nos no Whatsapp: https://chat.whatsapp.com/H61txRpTVWc7W7yyCu0frt

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica: Agência 0197
Operação: 013
Poupança: 56322-0
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68

PIX: 45013993768
Agradecemos imensamente a sua contribuição