Ministro afirma que presidente tem intenções políticas para atribuir ao Supremo a responsabilidade pela crise econômica.
Em entrevista à CNN Brasil nesta sexta-feira (28), o ministro decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, sinalizou que a Corte deve rejeitar a ação protocolada pelo governo de Jair Bolsonaro para derrubar as medidas restritivas para evitar a transmissão do coronavírus decretadas por governadores.
“Quanta perda de tempo! Tem conotação política, para atribuir ao Supremo a responsabilidade!”, disse o magistrado, ressaltando que a principal preocupação do governo deveria ser o combate à pandemia.
Através da Advocacia-Geral da União (AGU), apresentou à Corte uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), afirmando que Bolsonaro não está questionando decisões anteriores do STF, que reconheceu direito de governadores e prefeitos decretarem medidas restritivas para tentar controlar a pandemia. Porém, “algumas dessas medidas não se compatibilizam com preceitos constitucionais inafastáveis”, diz o órgão.
“[A ação] considera que algumas dessas medidas não se compatibilizam com preceitos constitucionais inafastáveis, como a necessidade de supervisão parlamentar, a impossibilidade de supressão de outros direitos fundamentais igualmente protegidos pela Constituição e a demonstração concreta e motivada de que tais medidas atendem ao princípio da proporcionalidade”, escreve a AGU.
A ação do governo vem no momento em que o Brasil já visualiza a chegada de uma terceira onda da pandemia, o que deve fazer com que governadores endureçam medidas de restrição. Neste sentido, a estratégia de Bolsonaro seria já se precaver para responsabilizar governadores e o próprio STF pela crise econômica que deve se intensificar.
“Brasil: nenhum lockdown à vista apesar da explosão da pandemia”, lamenta nesta segunda-feira (12) o jornal Les Echos. O diário econômico francês, que é referência no meio empresarial, escreve que “apesar de um tributo humano cada vez mais pesado e insuportável, o presidente Jair Bolsonaro resiste ao lockdown desejado pela comunidade científica”. “Ele terá de responder a uma comissão parlamentar de inquérito”, informa o correspondente em São Paulo, Thierry Ogier.
A média de vítimas continuou acima de 3 mil pessoas por dia nesse final de semana, e o número de mortos continua aumentando. “Até a Organização Mundial da Saúde (OMS) começa a perder a paciência diante de uma pandemia cuja ‘trajetória vai na má direção'”, observa o veículo. “O número de casos e mortes vem crescendo há seis semanas”, nota Maria van Kerkhove, epidemiologista da OMS. O país ultrapassou 350 mil mortes no fim de semana.
Mas Bolsonaro voltou a descartar a possibilidade de adotar um lockdown nacional. Les Echos cita a declaração recente na qual o presidente de extrema direita afirmou que não colocaria o “exército nas ruas para forçar o povo a ficar em casa”. Discurso que foi reiterado pelo novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, que disse que a polícia vai “garantir a todos a liberdade de ir e vir com serenidade e paz”.
O jornal gratuito 20 Minutos mostra que a maioria dos pacientes hospitalizados em cuidados intensivos no Brasil tem menos de 40 anos de idade, uma situação “alarmante” que é explicada pela variante brasileira P1, mais contagiosa e letal que as cepas anterior.
População dividida
A intransigência de Bolsonaro não surpreende a comunidade científica brasileira, mas causa irritação. Ouvida pela reportagem, Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, conta que “desde o início da pandemia, tem sido assim”. O governo federal insiste que medidas preventivas não são necessárias e, hoje, a população está dividida. “Tem muita gente que acaba acreditando no presidente e não adere às medidas preventivas”, lamenta a microbióloga.
Les Echos explica que os partidários de Jair Bolsonaro asseguram que é melhor “abrir” a economia a todo custo. Mas, na prática, o Brasil perde nas duas frentes. “Eles dizem que o lockdown vai arruinar a economia. Mas hoje vemos, por um lado, que a economia já está arruinada por um ano de pandemia e temos, por outro lado, até 4 mil mortes por dia”, destaca Pasternak.
Lockdown necessário
Como a maior parte de seus colegas, essa microbiologista é a favor de medidas de contenção rígidas, assinala o Les Echos. “Nunca tivemos isolamento no Brasil, como houve em Portugal ou na Inglaterra, e isso nos conduziu à situação atual”, afirma.
A única exceção nesse cenário dramático é a cidade de Araraquara, município do interior de São Paulo, que conseguiu reduzir o número de mortes após 10 dias de lockdown local. Mas no resto do país a situação permanece crítica, com falta de leitos, equipamentos e anestésicos nos hospitais.
Paulo Almeida, do mesmo instituto, teme um futuro sombrio. “Enquanto Bolsonaro estiver à frente do país, o governo federal não apoiará esse tipo de medida”, conclui o diretor-executivo do IQC.
Jair Bolsonaro agiu de olho no calendário com seu marketing do terror. No melhor dos mundos para ele, esta quarta, 31 de março, seria por tropas nas ruas, em alguns locais simbólicos ao menos, indicando quem manda. Seria um feito e tanto. Nos 57 anos do golpe militar de 1964, as Forças Armadas voltariam a ser uma ameaça à segurança dos indivíduos, “celebrando”, para usar um verbo da predileção de Braga Netto, mais um recorde de mortos por covid-19: 3.950 em 24 horas; 66 mil só no mês de março; 321.826 ao todo. Que feito! Quem não morresse em razão do vírus poderia morrer à bala.
É importante que tenhamos a clareza de que o presidente tentou desfechar um golpe. Eis o nome que se dá quando pessoas uniformizadas e armadas, que deveriam atuar como forças de Estado, resolvem ditar as regras da vida civil e da política. Não parece que seu novo ministro da Defesa seja do tipo que diz ao chefe: “Ah, melhor não…” Há um sinal de que, não fosse a resistência do Alto Comando das Forças Armadas, haveria general batendo às portas do Supremo para dizer: “Olhe, não se trata de um golpe, mas precisamos mudar isso…”
Não! Nunca achei, como escrevi aqui tantas vezes, que um golpe fosse viável ou factível. Isso não quer dizer que não se tenha tentado. Eis o ponto. Fosse o impeachment apenas matéria de merecimento, Bolsonaro teria de ser impichado 28 vezes. Mas, como se sabe, isso depende da política. As limitações de mobilização impostas pela pandemia também facilitam as tentativas de arruaça do mandatário.
Não pensem que Bolsonaro vai mudar. Uma das palavras de extremistas de direita, aqui e no mundo, é não recuar nunca. O presidente não é um teórico da coisa — como Filipe Martins —, mas é um intuitivo entusiasmado. O discurso negacionista encontra eco numa parcela significativa do país que, de verdade, está sendo ameaçada e lançada na insegurança econômica pela covid-19 e pela inépcia do governo.
E daí? Como de hábito, Bolsonaro atribui a terceiros os desastres provocados por seu governo e por ele próprio. Exerce, assim, o que tenho chamado aqui de estranho “populismo da morte”. Muita gente que é prejudicada pelas medidas de restrição social — e existem aos milhões — prefere voltar a sua fúria contra governadores e prefeitos. Falta-lhes a clareza necessária para constatar que o caos é filho da indisciplina, que o alimenta.
Na fase em que estamos, quanto mais o presidente sabotar o distanciamento social, como voltou a fazer nesta quarta, mais prolonga a crise. E, assim, entramos no círculo vicioso desse populismo da morte: a conclamação à indisciplina, em nome do funcionamento da economia, contribui para aumentar a contaminação e os óbitos, o que, por seu turno, acaba paralisando a economia, o que alimenta o proselitismo funesto.
Nesta quarta, no tal comitê contra a covid, até Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, sugeriu que as pessoas evitem aglomerações no feriado de Páscoa. Bolsonaro concedeu uma entrevista em seguida em que pregou vida normal e volta ao trabalho, insistindo na comparação esdrúxula, segundo a qual toques de recolher e outras medidas restritivas são coisas ainda piores do que estado de sítio. A afirmação é tão estúpida que nem errada chega a ser.
O atual presidente e o pensamento lógico nunca foram íntimos. Nos últimos dias, ele tem insistido na tese mentirosa de que o colapso na Saúde evidencia a ineficácia do “lockdown” — que, insista-se, nunca existiu em dimensão nacional ou estadual. Quando muito, algumas cidades o aplicaram, a exemplo de Araraquara, no interior de São Paulo, e com bons resultados.
E daí? Bolsonaro fala o que lhe dá na telha e, com uma simples declaração, transforma em bobos aqueles que acreditaram que o comitê poderia significar um passo adiante no combate à doença. É um pesadelo sem fim. Como lockdown não há e como há serviços que não podem parar, então já se tem uma taxa inevitável de contaminação — e, por consequência, de mortos.
O presidente não faz o menor esforço, no que lhe diz respeito, para impedir a permanência e agudização da tragédia. Ao contrário: sabota aquele que é, na prática, um esforço, ainda que modesto, do comitê que ele próprio criou.
Tem a arruaça na alma. Seja ao tentar agitar quarteis, seja ao recomendar às pessoas um comportamento que, potencialmente — e com altíssima potência —, é tão suicida como homicida.
Não haverá golpe. Isso não quer dizer que a democracia não esteja sendo esgarçada um pouco por dia, todos os dias.
O Brasil mata mais de um World Trade Center por dia.
O Brasil mata 14,6 Brumadinhos por dia.
O Brasil derruba 6,6 Boeings 747 por dia.
Mas nada move o coração do faraó.
Vejam a imagem. Há algo de perturbador nessa obstinação. Nada tem a ver com política. Nada tem a ver com economia. O que o move?
São Paulo vem batendo recordes de casos, mortes e ocupação de UTIs
“Temos uma situação bastante dramática.” O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), reconheceu com estas palavras a gravidade sem precedentes da pandemia no Estado.
A declaração foi feita em uma coletiva de imprensa na quarta-feira (17/3), enquanto São Paulo bate recordes de casos e mortes, vê sua rede de saúde passar de 90% de ocupação e aplica as medidas de isolamento mais rígidas desde o início da crise para tentar evitar uma tragédia ainda maior.
“Não há nenhum Estado no Brasil em situação confortável. Todos estão à beira do colapso”, disse Doria.
No entanto, segundo epidemiologistas e cientistas ouvidos pela BBC News Brasil, o sistema de saúde paulista já colapsou — e a situação vai se agravar ainda mais nos próximos dias.
“Dizer que está à beira do colapso é uma licença poética”, diz Domingos Alves, responsável pelo portal Covid-19 Brasil, que monitora a pandemia, e pelo Laboratório em Inteligência de Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto.
Márcio Sommer Bittencourt, médico do centro de pesquisa clínica e epidemiológica do Hospital Universitário da USP, faz a mesma avaliação.
Ele se baseia nos dados divulgados pelo próprio governo paulista, que apontou que ao menos 280 pessoas estão aguardando por um leito de UTI no Estado.
“Se há lista de espera de pacientes que não conseguem ser internados, alguns deles esperando há dias, não faz sentido dizer que está com 90% de ocupação”, diz Bittencourt. “O sistema de saúde de São Paulo está em colapso, sem dúvida.”
Para a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), todos os Estados brasileiros já colapsaram.
“Quando fala que está com mais de 90% de leitos de UTI ocupados, não estão contando as cidades que já não têm mais leito, as pessoas que estão esperando por um leito de UTI no pronto atendimento. Se levar isso em conta, já passou de 100%”, diz Maciel.
Recordes de casos e mortes, com UTIs lotadas
São Paulo vem batendo diariamente recordes de pessoas internadas por causa da covid-19 desde o final de fevereiro.
Havia até terça-feira (16/3) 24.992 pacientes hospitalizados, dos quais 10.756 em UTIs e o restante em enfermarias, segundo os dados mais recentes.
É bem mais do que as 6.250 pessoas que estavam internadas em uma UTI no pior momento da primeira onda da pandemia no Estado, em julho do ano passado.
Isso é um reflexo do aumento expressivo de novos casos nas últimas semanas. A média móvel, que leva em consideração os sete dias anteriores, passou de 13 mil pela primeira vez na pandemia na terça-feira e continuou subindo na quarta-feira. Está em 13.472 óbitos diários. Há cerca de um mês, eram cerca de 8,5 mil.
São Paulo também bateu na terça-feira o recorde de óbitos. Foram 679 em 24 horas, o maior índice já registrado. Até então, o recorde era o de sexta-feira (12/3), com 521 mortes.
O Estado também teve sua maior média móvel de óbitos na quarta-feira, com 421 mortes diárias.
Isso elevou o total para 65.519 vítimas fatais. Em nenhum outro Estado brasileiro morreu tanta gente por causa da covid-19. O segundo com mais vítimas é o Rio de Janeiro, com pouco mais da metade dos óbitos em São Paulo (34.586).
‘Tem que fazer lockdown agora’
Desde segunda-feira (15/3), está em vigor no Estado a chamada “fase emergencial” do plano de combate à pandemia de São Paulo entrou em vigor na última segunda-feira (15/3).
Ela foi criada justamente por causa desse agravamento inédito da pandemia — até então, o nível com as medidas mais duras de restrição do plano de combate à pandemia em São Paulo era a “fase vermelha”.
A nova fase prevê um toque de recolher das 20h às 5h, período em que a população deve ficar em casa.
Também foram suspensas as celebrações religiosas e atividades esportivas em grupo. Parques e praias foram fechados, e mesmo setores e serviços que podiam abrir na fase vermelha, como as lojas de material de construção, agora não podem funcionar.
Essas medidas ficarão em vigor até o próximo dia 30, mas, até agora, não surtiram muito efeito sobre a circulação dos paulistas.
O índice de isolamento foi de 44% no Estado e de 43% na capital na terça-feira. Em ambos os casos, houve o aumento de só um ponto percentual em relação a uma semana antes, quando a fase emergencial ainda não estava em vigor. O governo paulista diz que o objetivo é chegar a um índice acima de 50%.
Outro problema é que as novas restrições só vão se refletir nos números da pandemia daqui a duas semanas a um mês. Este é o tempo que especialistas apontam que leva para as medidas levarem a uma queda de casos e mortes.
“Agora que tudo desabou, querem tentar resolver, mas não dá mais tempo. Vai piorar antes de melhorar”, diz Márcio Bittencourt.
O epidemiologista critica a forma como não só o governo paulista, mas o país em geral vem reagindo à pandemia.
“Ficam correndo atrás do vírus e tomando decisões tardias e de curto prazo em vez de pensar em uma estratégia de médio e longo prazo para evitar que piore. Do ponto de vista epidemiológico, vai ser preciso intensificar as medidas de controle ainda mais.”
Era especulado que um anúncio nesta linha fosse feito hoje pelo governo de São Paulo, mas isso não aconteceu.
“Precisamos de algum tempo para observar o impacto das medidas que tomamos e ver se há necessidade de outras medidas”, disse Paulo Menezes, coordenador do centro de contingência da covid-19 de São Paulo, que assessora o governo estadual no combate à pandemia.
Domingos Alves discorda frontalmente dessa decisão. “Querem esperar o quê? O caos? Deviam falar que ainda não é hora para as famílias das pessoas que morreram por falta de leito de UTI. Quanto caos é caos suficiente para eles?”
Alves destaca que, hoje o Estado tem uma média móvel de 2.790 internações por dia por causa da covid-19. “”Já não dá pra prever que o sistema de saúde não vai dar conta disso?”, diz pesquisador, que defende um lockdown, como é chamado o conjunto de medidas mais restritivas de circulação, com o confinamento da população em suas casas durante todo o dia.
“Está na hora de fazer um lockdown completo, não aquela palhaçada de fazer só no final de semana ou alguns dias, tem que ser por no mínimo 15 dias para ter efeito. Só com um lockdown São Paulo vai conseguir reverter essa situação”, afirma o cientista.
Ethel Maciel concorda que será necessário o confinamento. “Vai precisar de lockdown, sem dúvida”, afirma epidemiologista.
“O ideal é que fosse nacional, coordenado pelo governo federal, porque hoje estamos em uma situação em que nenhum Estado está em condição de ajudar o outro. A gente sabe que o governo federal não vai, mas temos que dizer que isso é necessário mesmo assim.”
Na quarta-feira, país teve o maior aumento de casos diários desde novembro.
O governo francês anunciou nesta quinta-feira a imposição de uma nova quarentena em diversas partes do seu território, incluindo Paris, para tentar frear a terceira onda da Covid-19 na Europa. Na quarta, o país viu o maior aumento de casos desde novembro, com mais de 38 mil pacientes diagnosticados.
As novas medidas, que vão valer já a partir de sábado, afetarão os Altos da França, no Norte do país, e a Île-de-France, onde fica a capital. Dezesseis departamentos serão afetados e ficarão em lockdown por ao menos quatro semanas.
— A progressão da epidemia está se acelerando fortemente. Novas medidas, portanto, devem ser tomadas sem demora — disse o primeiro-ministro Jean Castex, no anúncio das medidas. — Ainda temos dias difíceis pela frente, mas também temos uma perspectiva de mudança, o que nos diz que não só esses esforços são essenciais, mas eles não serão em vão. Apenas negócios essenciais serão autorizados a abrir, incluindo comércios de livros e de música — uma crítica comum dos franceses durante a quarentena no ano passado
Escolas e faculdades funcionarão normalmente, exceto as de ensino médio, que terão apenas 50% das aulas presencialmente. Atividades extracurriculares para menores serão autorizadas.
Serão permitidos deslocamentos num raio de 10 km, sem limites de tempo. Viagens interregionais estão vetadas, exceto por “motivos profissionais e convincentes”..
O Palácio do Eliseu vinha fazendo o possível para evitar uma nova quarentena total e seus impactos econômicos, com medidas como toque de recolher nacional e diversas restrições regionais. O número de casos e a ocupação de leitos hospitalares, contudo, não para de crescer: nesta quinta, segundo o Ministério da Saúde, a quantidade de pacientes na UTI chegou ao seu maior número em 2021, atingindo 4.246.
O governo francês põe a responsabilidade das novas infecções na variante britânica do vírus, mais infecciosa. Segundo autoridades, três a cada quatro novas infecções são da variante britânica.
— Estamos em uma terceira onda em grande parte devido ao surgimento da famosa variante britânica. A situação é claramente grave, e será muito difícil até meados de abril — disse o presidente Emmanuel Macron na noite de quarta, em uma videoconferência com prefeitos.
Em Paris, onde pacientes são realocados para o interior do país para evitar a sobrecarga dos hospitais, a incidência da doença no último dia 14 era de 425 novos casos por 100 mil habitantes — bem acima do “limite de alerta” de 250 casos por 100 mil. A taxa de ocupação hospitalar na capital é de 57 por 100 mil, 20 a mais que a média nacional.
A pressão por novas medidas de contenção aumentou após a França suspender a aplicação de doses da AstraZeneca, na última terça, após relatos pontuais de complicações como edemas e embolias pulmonares. A Organização Mundial de Saúde afirmou que não havia motivos para paralisar a vacinação, mas ao menos 13 nações europeias optaram por esperar uma análise da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
A agência anunciou nesta quarta, pouco antes da coletiva de Castex, que a vacina é “segura e eficaz” e que, mesmo sem poder descartar neste momento uma correlação com as complicações, os benefícios são superiores aos riscos. Segundo dados da AstraZeneca, em cerca de 17 milhões de doses aplicadas, foram constatados 15 casos de trombose e 22 de embolia pulmonar. A incidência, disse a empresa, é inferior à esperada para a população geral.
“O ocorrido em Juiz de Fora mostra bem o que o discurso de ódio que Bolsonaro prega nestes seus pouco mais de dois anos de governo tem disseminado país a dentro”, analisa o jornalista Marcelo Auler sobre as ameaças à prefeita Margarida Salomão (PT).
Mesmo que se considere verdadeira a mudança de posicionamento de Jair Bolsonaro frente às vacinas e às máscaras necessárias ao combate à pandemia – algo que poucos acreditam verdadeiro e quase todos creditam ao efeito da fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – o discurso de ódio e de intolerância que o presidente e sua trupe plantaram no país já fincou raízes e vem dando frutos. Podres, é verdade. Mas a reprodução acontece.
Basta verificar-se o que acontece em Juiz de Fora, cidade mineira na Zona da Mata, com uma população em torno de 570 mil habitantes. Nela já faleceram pela Covid-19, até a noite de quarta-feira (10/03), 869 pessoas, entre os 21.502 oficialmente contaminados. Mas o número de juiz-foranos com suspeita da doença ultrapassa os 10% da população. Eram, até a mesma quarta-feira, 63.514. Quantidade que tem aumentado exponencialmente, provocando a ocupação de quase 94% dos leitos de UTI na rede do SUS.
A crescente disseminação da doença pelo município – na quarta-feira, 436 pessoas estavam internadas em enfermarias e leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em hospitais públicos e privados e ocorreram nove novas mortes – levou a prefeita Margarida Salomão (PT), domingo passado (07/03), suspende o funcionamento de todas atividades no município (“lockdown”), por uma semana.
Foi o suficiente para fazer brotar os “frutos podres” do discurso de ódio bolsonarista na cidade. Tal como já revelou Denise Assis, no Brasil247, em Empresários de Juiz de Fora informam que vão romper isolamento e exigem troca por “tratamento precoce”. No próprio domingo, Margarida e o seu vice-prefeito, Kennedy Ribeiro (PV), começaram a ser ameaçados. Inclusive com ameaça de morte, como registrada em Boletim de Ocorrência na delegacia de polícia local, na noite de segunda-feira. Ameaça que falava em utilização de arma de fogo, explicou o secretário Municipal de Segurança Urbana e Cidadania, Fernando Tadeu David, através da página oficial da Prefeitura nas redes sociais.
“Queixa-crime é da Pedagogia da Paz”
“Tomamos conhecimento de uma denúncia de ameaças recebidas nas mídias sociais por uma determinada pessoa, encaminhamos a Inteligência da Guarda Municipal e certificamos da existência dessa denúncia, inclusive envolvendo a utilização de armas e isso a gente não permite de forma alguma”, disse.
Como a própria Margarida explicou em vídeo, o registro da ameaça na polícia fez-se necessário para combater o fascismo que confunde oposição política com ameaças físicas. No cargo, ela se diz obrigada a praticar a “Pedagogia da Paz”. Esta, por sua vez, prega a intolerância contra a retórica do ódio:
“A queixa-crime é pedagógica. Faz parte da Pedagogia da Paz (…) Independentemente de a ameaça ter ou não fundamento, é fato que não se pode aceitar que alguém faça uma disputa de posição política ameaçando a eliminação do outro“, explicou a prefeita no vídeo (ouça abaixo).
Wellington Dias diz que 22 governadores, de esquerda, de direita e de centro concordam com pacto nacional de medidas restritivas para conter a Covid-19.
Sem ação do governo federal e com o caos sanitário instalado no Brasil, governadores de diferentes partidos não veem outra saída que não a de isolar Bolsonaro e tomar frente no combate à pandemia.
O governador do Piauí, Wellington Dias, representante do Fórum Nacional dos Governadores, informou neste domingo que os chefes dos executivos estaduais articulam um pacto nacional para implantar medidas restritivas até o dia 14 de março. O objetivo é conter o avanço do novo coronavírus, que já matou mais de 260 mil pessoas no país. Segundo Dias, 22 governadores estão de acordo.
De acordo com a assessoria de imprensa do governador do Piauí, a proposta foi feita por ele e, até o momento, apenas cinco estados não manifestaram uma posição favorável ao pacto: Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia, Acre e Roraima. Mas, também de acordo com a assessoria, a consulta aos governadores continua em andamento.
O avanço da Covid-19, com números elevados de novos casos e mortes, levou muitos estados e municípios a adotarem medidas restritivas, como fechamento de atividades não essenciais e toque de recolher. Mas o presidente Jair Bolsonaro é crítico de ações como essas e, por isso, o governo federal não vem fazendo um trabalho de coordenação nacional no sentido de restringir a circulação de pessoas ou de impedir algumas atividades econômicas consideradas não essenciais.
Segundo o governador do Pará, Helder Barbalho, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) está ajudando na consulta para que possam fechar uma proposta. De acordo com ele, a previsão é que ela fique pronta segunda-feira.
No Brasil, 5.470 pessoas morreram de covid nos últimos três dias e Bolsonaro segue com a campanha de proliferação do coronavírus.
Bolsonaro não parou um minuto sequer de estimular uma convulsão bélica na sua guerra biológica e associação à covid.
Só que o grave problema brasileiro já atravessou as fronteiras e o mundo já entendeu que, muito mais que um negacionista, Bolsonaro é um militante alucinado que trabalha pela contaminação em massa no Brasil e, consequentemente, no mundo, já que as variantes criadas aqui já partiram para diversos países.
Mais que isso, Bolsonaro patrocina programas na Jovem Pan, Record e outros de meios de comunicação para espalhar mentiras ou fake news, como queiram chamar. Ou seja, usa o dinheiro da população para promover uma guerra biológica contra o próprio povo.
E o que não falta são mercenários na mídia contratada por ele para cumprir esse papel criminoso sem sequer ser incomodada pela justiça.
Nos últimos três dias, os registros dão conta da morte de 5.470 pessoas por covid. O próprio ministério da Saúde, ou pelo menos o que resta dele, já que se encontra em total desmonte, já admite que o Brasil passará de 3 mil mortes diárias ainda em março.
Cientistas como Miguel Nicolelis e Natalia Pasternak dizem que, se não tiver lockdown e vacinação em massa, a tragédia tomará dimensões incalculáveis.
Por outro lado, Bolsonaro dobra a aposta na carnificina pagando a peso de ouro gente da grande mídia para convocar brasileiros a protestarem contra qualquer medida de restrição, no mesmo momento em que cria factoides sobre compra de vacinas sem comprovar nada do que diz.
Na verdade, parece que Bolsonaro se nutre de energia com cada feição de pavor e de tristeza que a covid está provocando no Brasil, porque ele é um louco, um alucinado que a vida inteira se nutriu de sangue alheio. Ele não vai parar se não for parado à força.
Pesquisadores britânicos apontam que contato em larga escala entre vacinados e variante de Manaus pode gerar mutações capazes de driblar totalmente a eficácia das vacinas.
O cenário atual no Brasil, que combina início da vacinação com transmissão descontrolada da covid-19, pode tornar o país uma “fábrica” de variantes potencialmente capazes de escapar por completo da eficácia das vacinas. Esta é a avaliação de cientistas britânicos diretamente envolvidos em algumas das principais pesquisas sobre mutações do coronavírus.
Pesquisadores da universidade Imperial College London e da Universidade de Leicester ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que lockdowns e outras medidas de contenção são particularmente necessários durante a vacinação de uma população.
Eles explicam que é justamente o contato entre vacinados e variantes que propicia o aparecimento de mutações “superpotentes”, capazes de driblar totalmente a ação do imunizante.
E, no Brasil, há uma combinação explosiva para que isso ocorra: vacinação ainda em ritmo lento, variante com a mutação E484k (que dribla anticorpos) e altas taxas de infecção.
Variante de Manaus pode favorecer mutação antivacina
O maior perigo está no contato da variante de Manaus, apelidada de P.1, com pessoas recém-vacinadas, explica o virologista Julian Tang, da Universidade de Leicester, no Reino Unido.
Segundo ele, ao entrar na célula humana e se deparar com uma quantidade ainda pequena de anticorpos da vacina, a variante, ao se replicar, pode promover mutações mas resistentes a esses anticorpos.
“Se você é vacinado numa segunda-feira, você não está imediatamente protegido. Leva algumas semanas para os anticorpos da vacina aparecerem e você ainda pode se infectar pelo vírus original ou pela variante P.1”, explica Tang.
Hospitais em Porto Alegre alcançam 100% da ocupação em UTIs.
“Se esses anticorpos da vacina surgem enquanto a infecção está ocorrendo e replicando no seu corpo, o vírus pode se replicar de maneira a evadir o anticorpo que está sendo produzido. As mutações mais benéficas ao vírus sobrevivem e se replicam, num movimento de seleção natural.”
Esse movimento é parte do processo de evolução do vírus, que tenta se adaptar a “adversidades”. A pessoa vacinada, porém infectada, pode passar o vírus mutante adiante se não houver medidas de controle em vigor, como quarentenas, fechamento de comércio e locais de lazer.
O risco de isso acontecer seria menor se a variante de Manaus não estivesse se espalhando pelo país e se as infecções estivessem sob controle. Isso porque a chance de o vírus original conseguir se fixar em grandes quantidades nas células de uma pessoa vacinada é pequena, já que os imunizantes foram produzidos exatamente para impedir a eficácia dessa ligação.
Mas a mutação E484k, presente na variante de Manaus, afeta exatamente o principal ponto de ligação entre o vírus e as células, tornando o “encaixe” mais eficaz e reduzindo a eficácia dos chamados anticorpos neutralizantes.
Pesquisas preliminares apontam redução da eficácia da vacina Oxford-AstraZeneca contra a variante da África do Sul com a mutação E484K e o Instituto Butantan está pesquisando o impacto delas no percentual de proteção da CoronaVac.
“Se há uma replicação descontrolada do vírus, ou seja, transmissão num ambiente sem regras de distanciamento social, lockdown e uso de máscaras, as pessoas suscetíveis vão se misturar com as vacinadas. Sem barreiras, o vírus pode se transmitir de uma população para outra, potencialmente gerando variantes que escapam à vacina”, disse Tang à BBC News Brasil.
O professor de Saúde Global Peter Baker, da Imperial College London, também afirma que o contato em larga escala de variantes do coronavírus com pessoas vacinadas gera uma “pressão” biológica para que essas variantes evoluam, criando mutações que driblem melhor os anticorpos.
“Isso vai acontecer principalmente se você tiver uma situação de epidemia de grande porte num país com sucesso moderado de vacinação. Você alcança assim o equilíbrio perfeito entre pessoas imunes e infectadas. E, quando essas populações se misturam, há risco de surgir uma nova variante resistente às vacinas”, disse à BBC News Brasil.
Descontrole da epidemia no Brasil
O Brasil vivencia exatamente essa confluência entre vacinação em estágio precoce e pico de casos de covid-19. O país superou os Estados Unidos no infeliz recorde de infecções em 24 horas.
Dados publicados nesta quinta-feira (24) pela Organização Mundial da Saúde apontam que foram registrados 59,9 mil casos de covid-19 no Brasil no período de 24 horas. Nos EUA, foram 57,8 mil.
O número de mortes diárias também não para de subir e bater recordes. Na quarta (3), foram registradas 1,8 mil mortes num dia – o maior número desde o início da pandemia. Em mais da metade dos estados brasileiros, a ocupação de leitos de UTI supera 80%.
Brasil tem quase 260 mil mortos por covid-19
Diante do colapso dos sistemas de saúde em vários municípios, governadores decretaram lockdown ou medidas de distanciamento social. Apesar do descontrole de infecções, o presidente Jair Bolsonaro declarou mais uma vez ser contra as restrições.
“No que depender de mim nunca teremos lockdown. Nunca, uma política que não deu certo em lugar nenhum do mundo”, afirmou o presidente.
Mas os dados desmentem a fala de Bolsonaro.
No Reino Unido, o lockdown em vigor em todo o país desde o início de janeiro reduziu em dois terços as infecção por covid-19. Em Londres a diminuição foi de 80%, segundo pesquisa da Imperial College London.
“Do ponto de vista científico, fechar fronteiras e implementar quarentenas em casa são eficazes em diminuir a infecções. E há benefícios em reduzir infecções. Você diminui o risco de surgirem variantes, ganha tempo para a campanha de vacinação avançar e para pesquisas concluírem vacinas adaptadas às variantes existentes hoje”, diz o professor Peter Baker.
Variante de Manaus pode dominar infecções no país
Um estudo liderado por Whittaker mostrou que a variante de Manaus é entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que o vírus original. A pesquisa revela ainda que a P.1 é capaz de evadir o sistema imune de infecções prévias em 25% a 61% dos casos. Ou seja, ela pode provocar reinfecções em indivíduos que já haviam sido contaminados pela covid-19.
E reinfecções são outro ingrediente importante para mutações perigosas, diz Peter Baker, da Imperial College London.
“Quando essas variantes entram em contato com pessoas que já foram infectadas, há uma pressão para que elas mutem mais, encontrem uma maneira de reinfectar pessoas previamente imunizadas”, diz.
“A combinação de uma epidemia prévia com uma nova grande epidemia, em que pessoas que já teriam imunidade são reinfectadas, gera um ambiente propenso a mutações. Achamos que isso é o que aconteceu no contexto brasileiro.”
Aparição de variantes no Brasil gera risco ao mundo todo
Além de já estar se espalhando pelo território brasileiro, a variante de Manaus já foi detectada em 25 países, apesar de várias nações terem cancelado voos para o Brasil e imposto quarentenas e testes de covid-19 a quem desembarcar vindo do país.
Isso revela que o descontrole da doença num país coloca em risco outras nações.
“Se você deixar o Brasil replicar o vírus de maneira descontrolada, essas variantes podem surgir e viajar para qualquer lugar”, diz o virologista Julian Tang, da Universidade de Leicester.
Universidade de Leicester.
“Se você tem um celeiro de produção de vírus num país, se você não controla a transmissão, vai ter mutação ocorrendo e prevalecendo por seleção natural, se essas variantes viajam pelo mundo e algumas delas escapam totalmente ou parcialmente às vacinas, é claro que é um risco.”
Os pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que vacinação em massa, combinda com medidas de restrição de contato social, como lockdowns, uso de máscaras e fechamento de comércio são importantes para conter altas taxas de infecções e impedir novas mutações, enquanto a imunização avança.
“Ninguém está seguro enquanto todos não estivermos seguros. E garantir que estamos seguros significa limitar a chance de variantes surgirem. Medidas de controle são úteis para alcançar isso, mas talvez mais importante ainda seja garantir uma estratégia global equitativa de vacinação. Isso significa que nenhum país deve ser deixado para trás”, defende Charlie Whittaker, da universidade Imperial College London.
Cúpula da pasta vê “tempestade perfeita”, com novas variantes, colapso hospitalar e falta de vacinas.
A cúpula do Ministério da Saúde espera que o Brasil atravesse nas próximas duas semanas o pior momento da pandemia. O Valor apurou que, no entorno do ministro Eduardo Pazuello, a expectativa é que haja uma explosão de casos e mortes no período, com os óbitos ultrapassando a barreira dos 3.000 por dia.
O diagnóstico decorre de uma tempestade perfeita: o alastramento do vírus em todo o país, impulsionado pelas aglomerações no fim do ano e no Carnaval; a dificuldade da população de manter-se em isolamento social; a circulação no país de novas variantes mais contagiosas e com grande carga viral; a iminência de um colapso do sistema hospitalar em diversos Estados ao mesmo tempo; e a falta de vacinas disponíveis para imunizar os brasileiros.
As atenções da pasta estão voltadas sobretudo para a região Sul. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a ocupação de leitos de UTI tem estado próximo ou acima de 100% durante toda a semana. Na região Norte, embora o número de casos seja menor, há preocupações quanto à pouca disponibilidade de leitos. Os alertas também já dispararam quanto à situação de Estados como Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Na visão da equipe de Pazuello, São Paulo tem conseguido até o momento evitar o pior por possuir a maior rede hospitalar do Brasil. Principal porta de entrada do país, o Estado mais populoso da federação registrou 60 mil das cerca de 260 mil mortes pelo coronavírus em solo brasileiro. Para a equipe de Pazuello, se um colapso hospitalar ocorrer ali, os números dessa “tragédia anunciada” podem subir exponencialmente.
A cúpula da Saúde entende que não há muito no momento o que fazer, a não ser estimular a reabertura de hospitais de campanha nos Estados. O governo federal também cogita novas instalações desse tipo já nos próximos dias.
As ações de fechamento e restrições à circulação de pessoas estão nas mãos dos Estados. O governo federal não vai decretar lockdown nacional, escorado em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e também por acreditar que as decisões devem ser tomadas levando em critérios regionais.
Para o médio prazo, as projeções da equipe de Pazuello são mais otimistas. A estimativa é que a vacinação começará a se acelerar a partir deste mês, com a maior produção do Butantan e da Fiocruz. Em abril, ambos já deverão estar produzindo 1,4 milhão de doses diárias.
Com as diversas vacinas importadas começando a chegar, a expectativa de Pazuello é vacinar 70 milhões de pessoas até o fim de junho. Fazem parte desse grupo prioritário idosos com mais de 60 anos, pessoas com comorbidades e médicos, professores, policiais, indígenas, entre outros.
Na quarta-feira, o Ministério da Saúde anunciou a intenção de comprar 100 milhões de doses da vacina da Pfizer e outras 38 milhões de doses da vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
Segundo um cronograma ao qual o Valor teve acesso, o ministério espera para o primeiro semestre a chegada de apenas 9 milhões de doses desse total, todas da Pfizer. Outras 30 milhões de doses da fabricante americana devem chegar entre julho e setembro. As entregas se aceleram no último trimestre, com 61 milhões de doses.
Já a Janssen deve entregar 16,9 milhões de doses em setembro e 21,1 milhões de doses em dezembro, segundo ficou apalavrado entre o ministério e a farmacêutica.
O Ministério da Saúde pretende autorizar a compra de vacinas por empresas e entes privados somente quando os grupos prioritários estiverem imunizados. Isso será feito por decreto, e as empresas terão que doar metade dos lotes para o Plano Nacional de Imunização (PNI).
O governo, porém, jogará toda sua força política para evitar que Estados façam o mesmo. O ministério já sinalizou aos laboratórios, com quem mantém contratos bilionários, que negociar com governadores individualmente ou em grupo não agradaria o governo federal. A impressão de governadores que estiveram reunidos com Pazuello nesta semana foi a mesma: dificilmente conseguirão adquirir vacinas separadamente ou em consórcios.
Planalto e Saúde tentam evitar que o governo federal perca o protagonismo na imunização – como aconteceu em janeiro, quando o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vacinou a primeira pessoa em território nacional com transmissão ao vivo pela TV.
Ontem, um grupo de 14 governadores enviou carta a Jair Bolsonaro pedindo a providências “imediatas” para a compra de novas doses de vacinas contra a covid-19. Eles citaram um “aumento exponencial dos casos de infecção e do número de óbitos” nos últimos dias. E disseram que estão “no limite de suas forças e possibilidades”.
Pazuello espera que toda a população esteja vacinada até o fim do ano. E pretende deixar o cargo somente quando isso acontecer. Segundo interlocutores, os partidos do Centrão já entenderam que dificilmente Bolsonaro trocará o auxiliar, de sua extrema confiança, durante a pandemia.
O número diário de 3.000 mortes, caso seja alcançado, não será um recorde mundial. Os Estados Unidos já chegaram a registrar mais de 5.000 mortes por dia no início de fevereiro, segundo a Universidade Johns Hopkins.
Bolsonaro desistiu nesta semana de fazer um pronunciamento em cadeia de rádio e TV sobre vacinação. A fala seria veiculada inicialmente na terça-feira, dia em que as mortes pelo coronavírus atingiram um recorde de 1.726, segundo o consórcio de veículos de imprensa. Foi, então, adiada para a quarta. Mas, diante de um novo recorde de 1.840 mortes, ele desistiu de vez da ideia.
Ontem, o presidente criticou o isolamento social e pediu que se pare de “frescura” e “mimimi”.
A despeito da fala de Bolsonaro, porém, a expectativa geral é que a escalada de mortes continue.