O longo depoimento do general Freire Gomes, ex-comandante do Exército no governo Jair Bolsonaro, que passou oito horas prestando informações sobre o roteiro do golpe à PF, levantou a suspeita entre os militares de que Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, possa vir a ser responsabilizado pelos atos de seus subordinados.
Rotulado de “cagão” por Braga Netto por não ter aceitado participar de um suposto esquema de golpe, Freire Gomes ganhou mais uma alcunha: a de “traidor”. Como mostrou Andreia Sadi, vídeos que circulam nas redes sociais o tachavam dessa forma por ter decidido falar como testemunha, já que ele é apontado como um personagem que teria evitado o golpe, diz Lauro Jardim, O Globo.
O temor agora na cúpula militar é de que Freire Gomes complique não só a situação de Jair Bolsonaro como também a de Paulo Sérgio, responsável direto pelas Forças Armadas na gestão de Bolsonaro. Isso porque Exército, Marinha e Aeronáutica têm comportamentos hierárquicos e respeitam as decisões de seus superiores.
Ora, ora, o bolsonarismo tem que decidir o que quer. Quando se abre o twitter de Eduardo Bolsonaro, de cara, ele exibe a glória que as urnas eletrônicas lhe conferiram no pleito de 2018:
“Deputado Federal mais votado da história do Brasil (1.843.735) em seu segundo mandato por SÃO PAULO, Policial Federal, Advogado e 3º filho de Jair Bolsonaro”
Não há qualquer menção de que sua vitória seja fruto de urnas fraudadas, ao contrário, a maneira como ele vende sua glória é pura exaltação, ao estilo mais genuíno do culto à personalidade.
Já seu pai, que também venceu as eleições em 2018 e não quis bulir no assunto de urna, agora que está atrás nas pesquisas, apela para um expediente que jura ser a única forma de impedir a vitória de Lula em outubro.
Como entender a lógica dos Bolsonaro se só acreditam nas urnas se eles vencerem, porque, se perderem, é fraude.
O fato é que, a partir da instrução de Bolsonaro, militares comandados pelo Ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, resolveram fazer uma apuração paralela do resultado das urnas.
Nada disso se viu em 2018 e nas eleições anteriores, isso é uma novidade criada pelo potencial perdedor nas eleições deste ano, porque, como disse o New York Times, “Bolsonaro tem motivos de sobra para ter medo da cadeia numa eventual derrota.”
Então, o caso deixa de ser político e passa a ser policial e, consequentemente, piora ainda mais a percepção que o mundo hoje tem do governo Bolsonaro quando ele, praticamente, assina recibo de que seu governo está mesmo cravejado de grossas evidências de uma corrupção generalizada.
No caso da perda de poder, como diria o grande sambista, Moreira da Silva (Kid Moringueira), ele terá que acertar as contas com a Dona Justa.
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Se dependesse de Bolsonaro, ele cairia atirando, pelo menos atirando seus cães de guarda contra a população, porque o próprio é suficientemente covarde para criar uma temperatura e assanhar os cachorros loucos e, depois, correr para passar pomada nas queimaduras.
Essa tem sido a instrução de Bolsonaro, morde e sopra, como barata. Ele cria uma atmosfera de terror e, depois, usa toneladas de litros de hidratante para amaciar a lambança.
Foi assim no 7 de setembro passado. Logo após chamar Moraes de “Canalha”, correu como um desesperado atrás de Temer pedindo que o vampirão golpista intercedesse, como um deixa disso, na relação azeda que ele havia criado com o ministro do STF.
Possivelmente, avisado de que está abraçando jacaré em plena lagoa, Bolsonaro correu para tentar consertar o estrago, usando Temer como algodão .
Seja como for, naquele dia o Apolo pariu um rato assustado, encolhido, medrado, pedindo a todo custo que Temer aveludasse a mão do seu indicado ao STF.
Bolsonaro age por impulso. O sujeito é incapaz até de produzir alguma coisa minimamente elaborada, vide a situação miserável que fez o general Paulo Sergio Nogueira, ministro da Defesa, viver uma uma humilhação, que o Estadão, produziu um editorial ressaltando a vergonha que passou quando pediu ao TSE, em ofício urgentíssimo, acesso ao código fonte das urnas, que já estava disponível há um ano.
Isso dá a medida da esculhambação que é o governo desse presidente bagunça. O sujeito é um fuleiro e impõe suas fuleiragens aos seus mandados, que cumprem as suas ordens sem tem o menor cuidado de dar uma mancada, como o general que ocupa a pasta da Defesa.
O fato é que, sabendo do histórico de Bolsonaro, sobretudo, quando ainda no exército, ameaçou explodir a barragem do Guandu e, depois, jurar de pés juntos que não fez isso, para ele repetir mais de uma vez a sua tática covarde, não custa.
Bolsonaro não tem nada a perder, a não ser a própria liberdade, a sua, a dos filhos e de alguns derivados que o rodeiam.
E esse, com certeza, é o ingrediente que pesará no dia 7 de setembro.
De uma coisa, todos sabem, Bolsonaro é um trapalhão, capaz de, sob medida, praticar as maiores tolices, o que faz do capítulo de 7 de setembro uma incógnita, principalmente se o próprio perder o controle do veneno que está espalhando, que pode ser algo genérico, mas dependendo da falta de prevenção das instituições, Bolsonaro pode se sentir confortável em seu círculo para, carregado de medo de ir para a cadeia, como não para de confessar, produzir algo fora do controle, mesmo que ele amarele, como vai amarelar.
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O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luiz Edson Fachin, é aconselhado por interlocutores a não receber, nas próximas semanas, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.
A avaliação é que o Ministério da Defesa assumiu o papel, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, de tentar acuar a Justiça Eleitoral e levantar dúvidas sobre as urnas eletrônicas.
Um interlocutor do ministro Edson Fachin disse ao blog que não faz sentido receber o general Paulo Sérgio no momento em que assessores do governo divulgaram informações falsas, de que o presidente do TSE não queria receber o ministro da Defesa para esclarecer dúvidas das Forças Armadas, quando, na verdade, ele já havia sido recebido pelo ministro em duas ocasiões.
Além disso, quando fez o último pedido, o general queria uma audiência para o dia seguinte, quando a agenda do presidente do TSE estava totalmente ocupada.
“Eles não querem conversar, dialogar, eles querem passar a imagem de que estão levantando dúvidas sobre um sistema que é seguro para, depois, divulgarem que o tribunal não atendeu às sugestões e questionar o processo eleitoral”, disse o interlocutor de Fachin.
Na segunda-feira (9), ao divulgar as últimas respostas a sugestões encaminhadas pelo Ministério da Defesa para as eleições, o presidente do TSE fez questão de lembrar que cabe à Justiça Eleitoral organizar e comandar o processo eleitoral.
Um recado para as tentativas de ingerência do Palácio do Planalto e do Ministério da Defesa na condução das eleições deste ano.
A ordem dentro do TSE é dar como encerrada a fase de questionamentos e sugestões para a eleição deste ano, mas mantendo a Comissão de Transparência Eleitoral.
A partir de agora, entraria a fase de ouvir a comissão sobre os preparativos e organização do processo eleitoral. Qualquer mudança no sistema ficaria para a próxima eleição.
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Generais que integram o Alto Comando do Exército rejeitam uma crise da vacina por causa das diretrizes básicas para a pandemia da Covid, tentam blindar o comandante-geral, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, de desgaste e, com isso, buscam isolar Jair Bolsonaro (PL), informa a Folha.
Membros da cúpula da Força consideram que o incômodo do presidente com as regras de vacinação na volta ao trabalho presencial não provocou nem mesmo uma minicrise entre os militares e o governo.
Esses oficiais, ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato, afirmam que o documento produzido por Oliveira foi uma peça burocrática, sem motivo para um novo capítulo de estremecimento das relações entre Bolsonaro e o comando da Força.
A cúpula do Exército atuou para blindar o comandante no episódio, após o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, entrar no circuito.
O comando da Força cogitou elaborar uma nota pública com esclarecimento sobre o documento elaborado por Oliveira.
Ele estabelece diretrizes favoráveis a vacinação, uso de máscaras, distanciamento social e compartilhamento de informações corretas na atual fase da pandemia. Bolsonaro é um negacionista em relação aos quatro itens.
Braga Netto foi o interlocutor das insatisfações do presidente, embora pessoas ligadas ao ministro afirmem que não houve exigência para a elaboração de uma nota pública.
A ideia acabou sendo abortada, pelo menos até agora, diante da constatação de que um esclarecimento não se fazia necessário. Uma nota alimentaria uma crise que, na visão de generais do Alto Comando, não existia nem deveria existir.
Esses militares repisaram ao longo da sexta-feira (7) que as diretrizes do comandante do Exército eram administrativas e seguiam linha já adotada por seu antecessor no cargo, general Edson Leal Pujol, no ano anterior.
As orientações são semelhantes no caso de uso de máscaras, distanciamento social sempre que possível e vedação do compartilhamento de fake news sobre a pandemia.
A inovação ocorre em relação à vacinação, pela razão óbvia de que a campanha de imunização deslanchou ao longo de 2021.
Neste caso, ainda segundo a informação repisada na sexta, o comandante do Exército usou como base uma diretriz do próprio ministro da Defesa.
Assim, se Bolsonaro fosse levar adiante a queixa contra o ato do Exército, deveria estendê-la a seu ministro da Defesa, conforme integrantes da Força. Braga Netto foi colocado no cargo para atender aos interesses diretos do presidente.
No dia seguinte, o próprio Bolsonaro tornou público um encontro dele com o comandante do Exército. E disse não ter existido qualquer exigência de retificação ou explicação.
“Não, exigência nenhuma. Não tem mudança. Pode esclarecer. Hoje [sábado, 8] tomei café com o comandante do Exército. Se ele quiser esclarecer, tudo bem, se ele não quiser, tá resolvido, não tenho que dar satisfação para ninguém de um ato como isso daí. É uma questão de interpretação”, afirmou o presidente, em entrevista a jornalistas.
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Segundo a instituição, ‘a via proporcionará maior segurança para o trânsito da família militar’.
No dia 19 de julho, o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, inaugurou em Natal — com direito a palanque e cerimônia –, onde fica o Comando Militar do Nordeste, uma obra de pavimentação de 183 metros. O leitor não leu errado.
Segundo o Exército, a “via proporcionará maior segurança para o trânsito da família militar, particularmente para as alunas e alunos do Colégio Militar do Recife”.
“O evento contou com a participação das seguintes autoridades: Gen Ex Marco Antonio Amaro dos Santos, Chefe do Estado-Maior do Exército, Gen Ex Marco Antônio Freire Gomes, Comandante Militar do Nordeste, Gen Ex Júlio César de Arruda, Chefe do Departamento de Engenharia e Construção e Gen Ex André Luiz Novaes Miranda, Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército; Oficiais Generais da Comitiva do Comandante do Exército e do Comando Militar do Nordeste”, diz o comunicado da força.
Opinião majoritária é de que medida retiraria pressão após Bolsonaro forçar perdão a ex-ministro.
Em discussão na Câmara dos Deputados, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que visa barrar a presença de militares da ativa em cargos na administração pública tem apoio majoritário no Alto-Comando do Exército.
A PEC começou a ser discutida na esteira do episódio em que Jair Bolsonaro pressionou a Força a não punir o general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, por ter participado de um ato político com o presidente em 23 de maio.
A capitulação ao Planalto, defendida pelo comandante Paulo Sérgio Nogueira como uma forma de evitar uma crise ainda maior, não foi digerida plenamente pelo colegiado de 15 generais de quatro estrelas que formam a cúpula do Exército.
Eles fecharam questão com Paulo Sérgio, ainda que preocupados com o risco de anarquia militar em escalões inferiores —se um general pode participar de comícios, contra o que diz o código do Exército, o que dizer quando um sargento o fizer?
Mas, ato contínuo, passaram a debater formas de mitigar crises futuras. A ideia de barrar a presença de oficiais da ativa nos governos, que já vinha sendo fomentada há anos, ganhou corpo. Por óbvio, ninguém irá se manifestar publicamente.
Incomoda também o Exército o fato de que apenas a Força estar na berlinda. Poucos questionam, por exemplo, o fato de o almirante da ativa Flávio Rocha ocupar assento no Palácio do Planalto.
Por outro lado, houve críticas generalizadas à ida de Pazuello, após sua desastrosa passagem pelo Ministério da Saúde, a um posto justamente na Secretaria de Assuntos Estratégicos comandada por Rocha.
Após o apoio à candidatura Bolsonaro em 2018, majoritário entre militares segundo relatou em livro o comandante do Exército à época, Eduardo Villas Bôas, oficiais da reserva e da ativa entraram no governo federal.
Figuras como o general Luiz Eduardo Ramos (hoje na Casa Civil), general Walter Braga Netto (hoje na Defesa) e o almirante Bento Albuquerque (desde o início nas Minas e Energia) passaram meses na ativa antes de irem à reserva.
Outros, como Pazuello e Rocha, nunca deixaram o serviço ativo. Isso é permitido hoje: o militar segue ganhando seu soldo e recebe um valor como agregado ao novo cargo, usualmente a gratificação do comissionamento.
Para integrantes do Alto-Comando e interlocutores do grupo, o veto é o único instrumento para evitar novos casos Pazuello a balançar o barco da corporação. A medida é defendida há tempos por políticos com trânsito na caserna, como os ex-ministros da Defesa Raul Jungmann e Aldo Rabelo.
O efeito de longo prazo da crise com Bolsonaro, contudo, é visto como incerto e provavelmente duradouro. Em dois anos, o capitão reformado do Exército promoveu mais crises na caserna do que todos seus antecessores do pós-1985.
Numa das versões que correm sobre a derrota de Paulo Sérgio, a humilhação sofrida agora nas mãos do presidente teria sido um recuo tático, mas que nenhum avanço autoritário de Bolsonaro será tolerado.
Pode ser, mas a questão do temor de politização dos quartéis e, estendendo o conceito, das mais volúveis Polícias Militares, segue em pauta. Em especial pela manipulação bolsonarista percebida para uso no ano eleitoral de 2022.
Comandantes de unidades militares na ponta relatam que estão com o radar ligado para punir quaisquer transgressões disciplinares à la Pazuello, mas admitem que o monitoramento de redes sociais é dificílimo.
A PEC, de autoria da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), está na fase de coleta de assinaturas. Ela tem apoio de diversas lideranças, e passou a ser bem-vista pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Ele inclusive apoia a ideia de incluir um dispositivo no texto no qual seja obrigatória uma quarentena a juízes que pretendem se candidatar a cargos eletivos. Nas conversas, o período poderia ser de cinco a oito anos.
Lira, expoente do centrão, mira assim o grupo de magistrados ligados à finada Operação Lava Jato, maior ação anticorrupção da história que foi enterrada pela Procuradoria-Geral da República com apoio de Bolsonaro neste ano.
O juiz-símbolo da operação, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, é sempre visto como um eventual candidato ao Executivo, mantendo relativa boa pontuação em pesquisas para a Presidência.
Ele sempre foi odiado pelo centrão e hoje é pelo Planalto, após ter aderido a Bolsonaro e auxiliado o discurso de campanha do hoje presidente.
Voltando aos militares, interessa também ao centrão a ideia de que os quase 3.000 cargos ocupados por militares da ativa, volume semelhante aos que estão nas mãos de fardados da reserva, possam ser liberados para seus próprios indicados.
O texto da PEC, caso venha mesmo a tramitar, ainda é embrionário. Por ele, militares com até dez anos de caserna têm de se afastar para então assumir cargos públicos, enquanto quem tem mais de dez anos teria de ir automaticamente à reserva.
A regra espelha o que vale para as candidaturas de militares da ativa. Segundo o artigo 14 da Constituição, que dispões sobre elegibilidade, quem tiver menos de dez anos de serviço deverá afastar-se da atividade, enquanto quem tiver mais será agregado pela autoridade superior na campanha e, se eleito, vai para a reserva.
Isso pode acontecer sem a filiação partidária, vetada ao pessoal da ativa pelo artigo 142 da Carta.
Para tramitar, a PEC precisa de 171 votos (1/3 do plenário). Para ser aprovada, precisa de 308 votos (3/5 do total) em dois turnos. Daí é enviada para o Senado, onde precisa passar pela mesma votação. Aprovada, é promulgada —não passa pelo Executivo.
Pesquisador da relação entre militares e a política, o professor de ciências políticas da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Paulo Ribeiro da Cunha vê o presidente Jair Bolsonaro enfraquecido no meio militar a ponto de já se discutir internamente o cenário para as Forças quando ele não ocupar mais a Presidência.
“Esse grupo está muito mais preocupado em tentar uma saída sem maiores danos do que em forçar a reeleição do Bolsonaro”, diz o acadêmico.
No mais recente episódio de sua tumultuada relação com as Forças Armadas, Bolsonaro pressionou o Exército a não punir o general Eduardo Pazuello. O ex-ministro da Saúde havia participado de um ato político com o presidente no Rio, no último dia 23, atitude que transgrediu as normas disciplinares da corporação.
Na quinta-feira (3), o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, anunciou a decisão de livrar o oficial de qualquer penalidade.
Antes, no fim de março, Bolsonaro, ele próprio um capitão reformado, já havia provocado uma crise de dimensão inédita com a demissão simultânea dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Para Ribeiro da Cunha, a interferência presidencial de meses atrás acabou afastando-o das Forças e o imbróglio da última semana deixa o Exército “acéfalo”, com um comando desmoralizado diante da subserviência.
O professor escreveu o livro “Militares e Militância”, que aborda a presença das esquerdas nas Forças. Ele também assessorou a Comissão Nacional da Verdade, que investigou de 2012 a 2014 crimes da ditadura militar.
O acadêmico defende a tese de que militares e PMs deveriam ter canais legais de participação política não partidária, como associações de classe. Mas diz que isso não se confunde com a atitude de Pazuello de comparecer a um ato público a favor do presidente.
Quais as consequências da decisão de absolver o general Pazuello? Ninguém esperava que o comandante chegasse a rebaixar a grandeza de seu cargo a uma posição tão servil.
Algum nível de punição era esperado, branda que fosse. Sabia-se que Bolsonaro estava pressionando e, no final, saiu esse resultado. Quais as consequências? Imprevisíveis. De certa forma, ele abriu para a instituição um cenário em que todos os grupos internos podem se sentir à vontade para se manifestar.
Já há algum tempo o Exército dá sinais de desconforto, primeiro com Pazuello e militares ocupando cargos que associavam a instituição ao governo. Os militares foram contrários a uma intervenção na Venezuela, contrários a comemorar o golpe de 1964. Em vários momentos, Bolsonaro pressionou [o ex-comandante] Edson Pujol para ter uma presença maior do Exército e ele se recusou.
A última crise [com a demissão dos comandantes, em março], a meu ver, afastou completamente a instituição, ou seu conjunto maior, do governo.
Agora você tem um comandante do Exército que perdeu a moral para comandar a tropa. E a gente não sabe como isso vai se refletir nas polícias militares, isso sim um ponto muito delicado. E que também incomoda os militares.
Temos um cenário que não é atípico historicamente. Mas a posição do comandante em chefe foi a pior da história para quem comanda uma instituição. Ele se descolou da instituição e se colou no Bolsonaro. Talvez ele não consiga comandar nem o seu ajudante de ordens. Perdeu o respeito da tropa.
Nas polícias militares, a aproximação com o governo também aconteceu. No caso do Recife [onde PMs atiraram com balas de borracha em manifestantes], ali foi claramente a subversão do comando. Não tinha justificativa nenhuma.
A partidarização da polícia, ou de parte dela, com esse envolvimento da forma como está se apresentando, preocupa também os militares. Mas não vejo possibilidade de golpe.
Mas vamos ter uma situação de um Exército acéfalo de comando e em que vão palpitar muitas tensões até o Bolsonaro terminar o mandato dele.
Uma eventual saída do comandante Paulo Sérgio deixaria seu sucessor sem ter como enfrentar o presidente? Se o comandante renunciar, o que eu acho que é uma tendência, o próximo que assumir, se ele quiser comandar, vai ter que falar para a instituição e pela instituição.
Esse general pode seguir até o final, mas totalmente desmoralizado.
O governo já está chegando ao final. A margem de manobra já é muito pequena. Um militar que entra com uma postura de subserviência, como esse comandante se revelou, surpreendendo a todos, também vai ter a mesma situação de ser um comandante sem tropas.
Quais os efeitos de um comando sem a tropa? Mais manifestações políticas? Pode ter a aproximação do Exército, ou de grupos, de partidos políticos. Esse risco ocorre. Ou ter conflitos entre grupos dentro da instituição. Porque um pilar foi violentado, o da hierarquia e da disciplina.
Isso ser quebrado por um militar com a tradição golpista do Bolsonaro tem uma gravidade maior. É um capitão dando ordem para um general.
O péssimo exemplo veio de cima, não só do comandante, mas do próprio presidente da República. Não temos ainda clareza de qual o cenário que vai vir. Mas tenho plena convicção de que Bolsonaro está cada vez mais enfraquecido em uma ala em que acreditava ser extremamente forte. Nas polícias é provável que ele ainda tenha essa força, mas não sabemos até quando.
Como o sr. classificaria o apoio das Forças Armadas ao governo? É circunstancial a partir de uma eleição atípica ou é oportunista? Diante de uma polarização, parte dos militares embarcou [na candidatura Bolsonaro]. Porque tinha respaldo de vários generais, que até então tinham uma certa presença e influência na tropa. Por exemplo, o general Augusto Heleno. Os militares sabiam quem era Bolsonaro, mas achavam que iriam controlar. E foi o ponto em que eles erraram.
Hoje esse grupo está muito mais preocupado em tentar uma saída sem maiores danos do que em forçar a reeleição do Bolsonaro. Percebe-se claramente isso. Alguns deles já romperam de uma forma violentíssima. Basta ver o general Santos Cruz [ministro da Secretaria de Governo em 2019].
Isso pega muito mal na corporação: como tira um cara desses por causa de fofoca dos filhos?
O sr. então entende que os militares procuram uma forma não traumática para que Bolsonaro saia do poder em 2022? Exatamente. Os militares no entorno do presidente estão mais preocupados hoje em buscar uma alternativa do que em ver Bolsonaro como uma alternativa. Tentarão sair com um mínimo de lisura do processo, preservando a instituição. Essa preocupação existe.
Esse pessoal militar que era mais consistente, que tinha uma visão de um projeto, já caiu fora. Heleno está totalmente isolado.
Os militares estão sendo atingidos naquilo que eles reivindicavam frente aos civis, que era a competência. O desastre de Pazuello [na gestão da pandemia] mostrou que a competência deles não é maior nem menor.
Os desmandos que estão aparecendo até mesmo no Ministério da Saúde, como o do coronel que foi destituído [no Rio, por suspeitas em contratos], estão maculando as Forças Armadas. Isso é tudo o que eles não querem, porque era uma instituição muito respeitada.
A base de Bolsonaro na sociedade tende a erodir, como a de Donald Trump. Quem fala de Trump hoje? Desapareceu. Essa é a tendência dele.
O ministro do Supremo Edson Fachin cita a militarização do governo como indício do enfraquecimento da democracia. O sr. também vê assim? Fragiliza, inegavelmente, a democracia. Mas, para Bolsonaro chegar ao final do governo, ele vai ter que começar a abrir espaço dos militares para o centrão. A cada votação, é uma fatura. À medida que a sociedade começa a reagir e a popularidade despenca a olhos vistos, a fatura aumenta. Até um momento em que acharem conveniente cair fora.
Mas talvez a crise traga elementos para termos vitalidade para a democracia. Porque uma lição que vai ficar para a história é que [o conceito] dos militares na política ou no governo, como detentores de um saber supranacional, vai ser enterrado com o Bolsonaro. Isso para mim é claro. Eles não vão ter moral para falar que são melhores do que alguém ou que são mais competentes.
Bolsonaro vai trazer essa contribuição à democracia. Mas isso vai ser a médio prazo.
Acho que a nossa democracia vai superar tudo isso. Mas vamos passar por períodos turbulentos, talvez até um pouco traumáticos.
Nos seus trabalhos, o sr. defende que militares podem ter uma participação política institucionalizada. De que maneira isso aconteceria sem quebra de hierarquia ou sem partidarização? Temos que buscar mecanismos para isso, não tenho fórmulas. Em alguns países da Europa, já há federações de policiais ou mesmo de militares, tendo reconhecido direito de greve. Em alguns casos, há em exércitos militares discutindo com comandantes determinadas questões que atingem a todos, com um grau de amadurecimento.
O direito que eu reconheço, para mim é um fato histórico. Tem que haver mecanismos para que possam se expressar em suas várias tendências sem que haja punição para quem pensa diferente. É a democratização das instituições, o que é diferente da partidarização.
Nas polícias militares, foram mais de 400 greves desde 1988. É ilegal, mas hoje em dia isso já é um fenômeno social. Temos que aprender a lidar com isso. Como vai ser? Temos que sentar à mesa e reconhecer o princípio da isonomia —somos todos iguais— e o direito de falar. Senão, uma hora explode. Jair Bolsonaro participa de cerimônia de posse no Ministério da Defesa, em 2019
Bernardo Mello Franco, O Globo – Jair Bolsonaro seduziu as Forças Armadas com três moedas: prestígio, poder e dinheiro. Em troca, exigiu uma só: a submissão completa ao seu projeto político.
O capitão subiu a rampa com sete ministros militares. O loteamento se espalhou pelos escalões inferiores da máquina pública. Mais de seis mil fardados se penduraram em cargos civis.
Quem não ganhou emprego embolsou vantagens no contracheque. Os integrantes das Forças foram poupados da reforma da Previdência. Além de manter privilégios, arrancaram novos penduricalhos.
No mês passado, uma canetada autorizou militares da reserva a furar o teto constitucional. Alguns generais passarão a receber supersalários acima dos R$ 60 mil por mês.
O presidente nunca escondeu a regra do jogo: para manter as benesses, é preciso se curvar a ele e a seus filhos. No início do governo, o general Santos Cruz tentou contrariar interesses do vereador Carlos Bolsonaro. Puxou a fila dos demitidos antes de completar seis meses no cargo.
Outros oficiais toparam se humilhar para continuar no poder. Foi o caso do general Luiz Eduardo Ramos, chamado de “Maria Fofoca” e “Banana de Pijama” por um colega de gabinete. Ele engoliu os desaforos e foi promovido a chefe da Casa Civil.
Quando o governo começou a dar sinais de derretimento, o capitão elevou o tom das cobranças. Passou a exigir demonstrações públicas de apoio e ameaçou usar tanques contra prefeitos e governadores.
No fim de março, ele criou uma crise militar e derrubou o general Fernando Azevedo do Ministério da Defesa. Agora esvazia o novo comandante do Exército, que assumiu há pouco mais de dois meses.
Bolsonaro montou uma armadilha para o general Paulo Sérgio Nogueira. Levou o ex-ministro Eduardo Pazuello, que é oficial da ativa, para um comício em seu favor. O comandante ficou emparedado: ou punia o subordinado, arriscando-se a ser demitido, ou fechava os olhos para a indisciplina, abrindo as portas para a anarquia militar.
O general aceitou ficar de joelhos para o capitão. Perdeu a autoridade e ainda pode vir a perder o cargo. Basta que ele contrarie a próxima vontade do chefe.
Prazo para decisão vai até segunda-feira, mas expectativa é de antecipação.
O Globo – O comandante-geral do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, afirmou nesta quarta-feira em reunião com o Alto Comando que já está pronto para tomar sua decisão sobre punir o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por participar de ato pró-Bolsonaro no Rio de Janeiro. A decisão pode ser anunciada até a próxima segunda-feira, 7, mas a expectativa é que seja antecipada.
Segundo fontes militares, o comandante, que é o único responsável por decidir sobre o desfecho para Pazuello, preferiu debater o assunto reservadamente com o Alto Comando diante da sensibilidade do assunto na Força e o fator político de sua decisão. O caso Pazuello criou uma saia justa para o Exército e deixou sob pressão o general Paulo Sérgio, que assumiu o comando da Força em abril.
Nesta quarta-feira, Bolsonaro esteve no Ministério da Defesa onde ficou por cerca de 30 minutos. Nos últimos dias, o presidente vem conversando com o ministro Walter Braga Netto sobre a penalização de Pazuello.
Durante a reunião, segundo relatos ao GLOBO, os generais de quatros estrelas, que estão no topo da carreira militar, voltaram a fazer ponderações sobre a importância de uma punição a Pazuello. Contudo, após a conversa de hoje, concordaram que o desfecho escolhido pelo comandante será acatado por todos como uma “decisão do Exército, independentemente da posição pessoal de cada um”, relatou ao GLOBO um integrante do Alto Comando.
A expectativa mais otimista no momento é que Pazuello não passe de uma advertência verbal – a forma mais branda da punição. O militar está em alta no governo, principalmente, após blindar o presidente em seu depoimento na CPI da Covid. O ex-ministro, no entanto, foi reconvocado para prestar novos esclarecimentos.
Bolsonaro já sinalizou que não quer ver o general penalizado. E, na terça-feira, o nomeou para um cargo na Secretaria de Assuntos Estratégicos, órgão ligado diretamente à Presidência. O ato foi visto como um recado de que, embora ameaçado de punição, o ex-ministro conta com o apoio do Planalto.
Na semana passada, Pazuello apresentou sua justificativa por ter ido ao ato. O general, segundo interlocutores, teria alegado que a manifestação não era um evento político-partidário e que não há campanha no país. O mesmo argumento foi usado por Bolsonaro em sua live semanal.
Desde que assumiu o Ministério da Saúde no ano passado, Pazuello tem sido aconselhado a passar para a reserva remunerada para evitar a contaminação política do Exército. Ele, no entanto, tem resistido até agora e, mesmo diante da crise, segue com a intenção de se manter na ativa. Apesar do mal-estar entre oficiais, somente o general pode pedir para deixar a ativa. Pazuello só irá para a reserva automaticamente em março de 2022, quando termina o tempo dele de permanência no posto de general.
Agora, de volta ao governo, Pazuello comandará a secretaria de Estudos Estratégicos, subordinada à Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE), órgão vinculado à Presidência da República. A SAE é comandada pelo almirante Flávio Rocha. Pazuello deverá receber um salário de R$ 16.944,90.