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Ciro Nogueira recebeu sacola de dinheiro como propina dos acusados de chefiar esquema do PCC

Em entrevista exclusiva, testemunha afirma que propina foi enviada ao senador, em Brasília

Por Leandro Demori, Cesar Calejon e Flávio VM Costa

Presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) recebeu uma sacola de papelão contendo dinheiro vivo enviado a ele por Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”. Os dois são, segundo investigação da Polícia Federal, os chefes do esquema criminoso do PCC (Primeiro Comando da Capital) que envolve a gestão de fundos de investimentos na Faria Lima e fraudes bilionárias no setor de combustíveis.

É o que conta, em entrevista exclusiva ao ICL Notícias, uma fonte anônima que teve contato direto com os dois chefes do esquema. A revelação feita ao ICL Notícias foi oficializada em depoimento à Polícia Federal (PF). A pessoa afirma ter ouvido do próprio Beto Louco que uma sacola com dinheiro vivo seria entregue a Ciro Nogueira. Ainda de acordo com a fonte, o encontro ocorreu no ano passado, no gabinete do Senado.

“Sim, ele falou que [a sacola com dinheiro] era para o Ciro Nogueira. Eles estavam indo encontrar o Ciro, em posse dessa sacola”, afirmou a testemunha em conversa gravada com os jornalistas Leandro Demori e Cesar Calejon.

“Era uma sacola de papelão. Era uma sacola grampeada. De uma largura compatível com o tamanho de uma cédula.”

O encontro entre o senador e os chefes do esquema do PCC, quando a sacola de dinheiro vivo foi enviada, ocorreu no mês de agosto de 2024, de acordo com a fonte.

A identidade da testemunha será preservada. Aos agentes da Polícia Federal, a fonte confirmou as mesmas informações reveladas na entrevista gravada ao ICL Notícias.

A propina estaria relacionada à defesa dos interesses dos suspeitos junto à ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e a projetos de lei que tramitam no Senado. Na ANP, eles tentavam reverter a revogação das licenças da Copape e Aster, as principais empresas envolvidas no esquema criminoso, onde contariam com a interferência do senador

Procurado, o senador Ciro Nogueira respondeu com um ofício encaminhado por ele ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, em que chamou o ICL Notícias de “site de pistoleiros”, negou as acusações e colocou seus sigilos à disposição da Justiça;

“Ao informar Vossa Excelência que essas pessoas jamais estiveram em meu gabinete, que por jamais ter tido proximidade de qualquer espécie, e portanto nunca poderia ter advogado em benefício delas e a inaceitável hipótese de que poderiam ter me favorecido financeiramente, de qualquer forma, é absolutamente mentirosa, peço a Vossa Excelência que determine, com a máxima urgência, à Polícia Federal, que solicite os registros de entrada em meu gabinete no ano citado ou em qualquer ano, e que requeira as imagens e os registros de entrada na sede ou nos escritórios dessas pessoas”, afirmou.

“Coloco, por meio deste, TODOS os meus sigilos à disposição (a começar pelos de meu gabinete, de meu telefone e todos os demais) para comprovar que em tempo algum mantive qualquer ligação com qualquer facção criminosa.”

Contactados através de seus advogados, Mohamad Hussein Mourad e Roberto Augusto Leme da Silva também não responderam até o fechamento dessa reportagem. O espaço segue aberto.

Ciro

Operação Carbono Oculto
Primo e Beto Louco estão foragidos desde quinta-feira (28), dia em que foi deflagrada a Carbono Oculto, uma megaoperação que reuniu esforços simultâneos da Receita Federal, Polícia Federal e Ministério Público paulista para desbaratar um esquema bilionário que envolve uso de fundos de investimentos sediados na Faria (avenida na zona oeste de São Paulo que reúne os principais operadores financeiros do país), fraudes fiscais no setor de combustíveis e lavagem de dinheiro para o crime organizado. Há suspeita de que houve vazamento dos mandados de prisão, o que possibilitou a fuga dos dois suspeitos.

Os dois suspeitos seriam os verdadeiros donos da Copape e da Aster. Outras empresas envolvidas no esquema seriam o Reag, um dos maiores fundos de investimento do país, que foi usado na compra de empresas, usinas e para blindagem do patrimônio dos envolvidos, e o BK Bank, fintech que movimentava dinheiro com uso das chamadas “contas bolsão” não rastreáveis.

Um dos políticos mais identificados com o Centrão, bancada suprapartidária de orientação conservadora conhecida por seu voraz apetite por verbas e cargos públicos, Ciro Nogueira foi ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, entre agosto de 2021 e dezembro de 2022. Nogueira é um dos principais defensores dos interesses do mercado financeiro no Congresso Nacional e é defensor ferrenho Jair Bolsonaro, de quem foi ministro.

O senador entrou, recentemente, em uma disputa interna pela indicação da chefia da ANP. Ao lado do líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), apadrinhou a candidatura de Daniel Maia. Mas o escolhido pelo presidente Lula foi o advogado Artur Watt, bancado por Otto Alencar (PSD-BA). O plenário do Senado aprovou a indicação de Watt para a diretoria-geral, no último dia 19.

Ciro

Emendas de Ciro Nogueira ao projeto de “devedor contumaz”
No ano passado, a atuação de Ciro Nogueira foi alvo de críticas de representantes do setor de combustíveis por apresentar emendas a projetos de lei que tramitam no Senado sobre a tipificação e punição do “devedor contumaz”. A avaliação era de que as propostas do senador atrapalham o andamento dos projetos.

O devedor contumaz é uma pessoa jurídica que, de forma reiterada e sem justificativa, deixa de pagar impostos, utilizando a inadimplência fiscal como parte do seu modelo de negócio para obter vantagem competitiva indevida sobre outras empresas que pagam seus tributos em dia. O objetivo dos projetos de lei é o de definir punições a quem recorre a essa prática fraudulenta.

As informações divulgadas sobre a Operação Carbono Oculto demonstram que o modelo fraudulento de negócios das empresas de Primo e Beto Louco é baseado justamente neste tipo de estratagema. Logo, não aprovar o projeto de lei era de interesse dos chefes do esquema do PCC.

Em 18 de junho de 2024, uma terça-feira, Ciro Nogueira apresentou duas emendas ao projeto de lei 125/2022, que tem a relatoria do senador Efraim Filho (União Brasil/PB). Ele rejeitou as duas propostas em seu relatório.

Como mostrou a colunista do UOL, Raquel Landim, a primeira emenda excluía da classificação de “devedor contumaz” os setores com influência estatal na formação de preço, caso dos combustíveis onde operam as empresas alvo da operação. A segunda emenda deixava a cargo da agência reguladora (no caso de combustíveis, a ANP) definir que firma se encaixa, ou não, no critério de “devedor contumaz”.

Em dezembro de 2023, o senador havia apresentado emenda a um outro projeto que trata do mesmo tema. A emenda também foi rejeitada.

Em abril deste ano, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou o projeto de lei. Logo após a deflagração da Carbono Oculto, o presidente do Senado David Alcolumbre (União Brasil-AP) colocou o projeto na pauta de votação do plenário, prevista para ocorrer nesta terça-feira (2).

Processos da Copape e da Aster na ANP
De acordo com a investigação do MP-SP e da PF, Primo e Beto Louco comandam uma intrincada rede criminosa presente em todas as etapas da cadeia produtiva do açúcar, álcool e combustíveis, e que é formada por uma miríade de empresas que atuam no transporte, fabricação, refino, armazenagem, além de redes de postos de combustíveis e lojas de conveniências.

As empresas Copape e Aster são instrumentalizadas há anos, afirma o MP, “para o desempenho de fraude fiscal estruturada, fraudes contábeis, falsidades diversas e lavagem de capitais.”

As investigações apontam que o grupo criminoso “inflava” artificialmente os preços dos insumos nas transações entre a Copape e a Aster com o objetivo de sonegar impostos e obter créditos tributários indevidos.

O esquema era dividido entre a gestão operacional das usinas e a gestão financeira e patrimonial, utilizando fundos de investimento e empresas de participações para ocultar a origem e destino dos recursos ilícitos.

As suspeitas sobre a Copape e Aster remontam há pelo menos cinco anos, quando as duas empresas experimentaram um crescimento exponencial no mercado de combustíveis.

Em 3 de agosto de 2021, a ANP cancelou autorizações de importação de gasolina e de solventes da Copape. Na época, ocupava a segunda posição no mercado brasileiro.

A Copape é uma formuladora, isto é, compra derivados de petróleo para fabricar gasolina e diesel. Já a Aster, é uma distribuidora de combustíveis.

Uma nota técnica da Secretaria de Fazenda de São Paulo divulgada na época apontou que, no período entre janeiro de 2020 até abril de 2021. a Copape havia sonegado R$ 1,38 bilhão de ICMS para o estado paulista.

O processo na ANP foi marcado por disputa judicial e culminou na revogação definitiva das licenças da Copape e da Aster referendada pela diretoria colegiada da agência, em 29 de novembro de 2024. Uma reunião do colegiado manteve a suspensão, em fevereiro deste ano.

Com a denúncia feita pela fonte ao ICL Notícias, a Polícia Federal abre uma nova linha de investigação sobre o esquema que envolve o principal grupo criminoso no Brasil – desta vez, nos salões da alta política em Brasília. Nossa reportagem segue apurando mais histórias relacionadas ao caso.

*Matéria publicada com exclusividade pelo ICL


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Vídeos do NYT contradizem o Estado nazista de Israel em ataque mortal em hospital de Gaza

Os ataques ao Hospital Nasser, em Gaza, mataram pelo menos 20 pessoas. Uma análise visual do Times questiona o que os militares israelenses alvejavam inicialmente no local e por que suas tropas atacaram uma segunda vez, matando socorristas e jornalistas.

A análise visual publicada pelo The New York Times em 31 de agosto de 2025 questiona a justificativa de Israel para os ataques ao Hospital Nasser, em Khan Younis, sul da Faixa de Gaza, que resultaram na morte de pelo menos 20 pessoas, incluindo cinco jornalistas e quatro profissionais de saúde. As imagens e vídeos analisados mostram que o primeiro ataque, ocorrido por volta das 10h08 (horário local) em 25 de agosto de 2025, atingiu a escadaria externa do hospital, onde o cinegrafista da Reuters, Hussam al-Masri, estava filmando.

Cerca de nove minutos depois, um segundo ataque, descrito como parte de uma tática de “double tap”, atingiu o mesmo local, matando socorristas e jornalistas que haviam chegado para ajudar ou documentar o primeiro bombardeio.Israel alegou que o ataque visava uma câmera de vigilância do Hamas e militantes supostamente presentes no hospital, conforme relatório preliminar das Forças de Defesa de Israel (IDF).

No entanto, a análise do Times levanta dúvidas sobre o alvo inicial, destacando que a escadaria atingida era frequentemente usada por jornalistas para transmissões ao vivo devido ao bom sinal de celular.

Além disso, a decisão de realizar um segundo ataque, quando equipes de resgate e jornalistas já estavam no local, é questionada, especialmente porque hospitais, profissionais de saúde e jornalistas são protegidos pelo direito internacional humanitário.

A tática de “double tap” é controversa e pode configurar crime de guerra, segundo especialistas, por atingir deliberadamente civis e equipes de socorro.Entre as vítimas, estão jornalistas como Mariam

Abu Dagga (freelancer da Associated Press), Mohammed Salama (Al Jazeera), Moaz Abu Taha (freelancer da NBC), Ahmad Abu Aziz (Quds Feed Network) e Hussam al-Masri (Reuters).

A Reuters e outras organizações de mídia condenaram o ataque, exigindo investigações. A ONU também pediu responsabilização, destacando a falta de resultados em investigações anteriores de ataques similares.

O lider dos nazistas de Israel Benjamin Netanyahu, classificou o incidente como um “erro trágico”, mas não abordou diretamente a tática de “double tap”.


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Lula: “Vamos mostrar a cara de quem faz parte do crime organizado”

Presidente ressalta operações recentes da PF defende mudanças com PEC da Segurança Pública

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou nesta sexta-feira, 29 de agosto, a prioridade que o Governo Federal tem dado ao enfrentamento do crime organizado e à reestruturação do sistema de segurança pública no país. Em entrevista à Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte (MG), Lula ressaltou a relevância das recentes operações deflagradas pela Polícia Federal e defendeu a aprovação da PEC da Segurança Pública, em tramitação no Congresso Nacional.

Em ação conjunta do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Polícia Federal (PF), Ministério da Fazenda, Receita Federal e outros órgãos, foram realizadas as operações Quasar, Tank e Carbono Oculto nesta quinta-feira (28). O objetivo foi desarticular organizações criminosas envolvidas em esquemas bilionários de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e fraudes no setor de combustíveis.

As ações resultaram em mais de 400 mandados judiciais, incluindo 14 de prisão, além de centenas de buscas e apreensões em oito estados. Foram bloqueados e sequestrados R$ 3,2 bilhões em bens e valores, em investigações que identificaram movimentações ilícitas de cerca de R$ 140 bilhões.

“Descobrimos que tem muita gente ligada ao crime organizado, e fizemos a operação mais importante da história dos 525 anos do Brasil. Agora queremos saber quem é que efetivamente faz parte do crime organizado”, pontuou o presidente.

INTEGRAÇÃO — Segundo Lula, as medidas só foram possíveis graças à integração das forças de segurança, articuladas pelo Núcleo de Combate ao Crime Organizado, criado em janeiro de 2025 pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. “Nós trabalhamos em conjunto com o Ministério Público de São Paulo dentro da operação e tem que ser assim, para a gente fazer valer a força da polícia e da justiça. A gente vai mostrar a cara de quem faz parte do crime organizado neste país”, declarou.

DIVERSIFICADA – Lula ressaltou a complexidade do cenário atual, com redes criminosas que atuam de forma transnacional e diversificada. “O crime organizado é sofisticado. Ele está na política, no futebol, na justiça. É um braço internacional poderoso, com relações no mundo inteiro. É uma multinacional. Mas vamos chegar lá, com investimento e inteligência”, reforçou.

PEC DA SEGURANÇA — Na entrevista, o presidente destacou a importância da PEC da Segurança Pública, que fortalece o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), dá estabilidade ao financiamento do setor e amplia a integração das polícias em âmbito federal, estadual e municipal. “O que aconteceu ontem foi importante. Eu acho que vai facilitar a aprovação da PEC no Congresso Nacional. O que queremos é saber como é que o Governo Federal pode ajudar, junto aos governadores, a fazer a política mais eficiente”.

GUARDAS MUNICIPAIS – O texto prevê a inclusão das Guardas Municipais como órgãos de segurança pública, a atualização das competências da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, e a criação do Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, com participação da sociedade civil.

MANAUS — Lula também antecipou que estará em Manaus nos próximos dias para a inauguração de um Centro de Combate ao Narcotráfico, que funcionará como espaço de articulação entre forças de segurança do Brasil e de países vizinhos, com foco no combate ao tráfico de drogas e contrabando. “Nós vamos inaugurar um centro de combate ao narcotráfico com políticas dos países amazônicos. Ou fazemos isso, ou a gente não vai acabar com o crime organizado, com o tráfico de árvores e de droga. O governo começou a agir fortemente e não tem mais volta”.

*Via Planalto/TVTNews


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Crime e Capital na Faria Lima: uma história de amor

O espanto é performático. Como se o crime organizado fosse uma anomalia no sistema, e não sua expressão mais honesta

Na manhã de 28 de agosto de 2025, a Operação Carbono Oculto desembarcou na Faria Lima como um tsunami de realidade sobre o asfalto dourado do capitalismo brasileiro. Mais de 350 mandados de busca e apreensão, 42 alvos concentrados na principal avenida financeira do país, R$ 52 bilhões movimentados entre 2020 e 2024, R$ 30 bilhões investidos em fundos “legítimos”. Os números são astronômicos, mas a surpresa deveria ser outra: por que ainda nos espantamos quando o crime organizado se encontra com o sistema financeiro?

A pergunta que ecoa pelos corredores envidraçados dos prédios espelhados da Faria Lima não deveria ser “como o PCC chegou até aqui?”, mas sim “por que demorou tanto para percebermos que eles já estavam aqui há muito tempo?”. Porque, se olharmos com honestidade para a história do capitalismo, veremos que crime e capital nunca foram estranhos um ao outro – são, na verdade, velhos companheiros de dança, girando ao som da mesma música: a acumulação de riqueza a qualquer custo.

O espanto é performático. Como se o crime organizado fosse uma anomalia no sistema, e não sua expressão mais honesta. Como se a Faria Lima fosse um templo da legalidade, e não o epicentro de uma criminalidade de gravata que há décadas opera sob a proteção do verniz institucional.

Walter Benjamin já alertava sobre a violência que se apresenta como norma jurídica. Aqui, o direito se apresenta como “violência civilizada”. A diferença entre o PCC e os fundos “legítimos” não está na natureza da operação, mas na qualidade da assessoria jurídica. O mercado financeiro é, por definição, uma máquina de extração. Extrai valor do trabalho, da natureza, da vida social. O PCC apenas eliminou os intermediários morais. Onde outros veem crime, deveríamos ver clareza.

A Reag Investimentos cresceu exponencialmente nos últimos anos. Seus gestores sabiam da origem do dinheiro? A pergunta é ingênua. No capitalismo financeiro, a origem do dinheiro é sempre duvidosa. A diferença é que alguns crimes são legalizados, outros não.

Mark Fisher chamou isso de realismo capitalista: a naturalização do sistema como única realidade possível. O crime não é exceção, é regra. O PCC apenas dispensou a hipocrisia. Enquanto a Polícia Federal cumpria mandados contra o PCC, quantos crimes aconteciam simultaneamente nos escritórios vizinhos? Quantas operações de “insider trading”? Quantos esquemas de manipulação de preços? Quantas pirâmides financeiras disfarçadas de inovação?

A investigação do crime cotidiano na Faria Lima exigiria uma operação permanente. Cada fundo que promete rentabilidade impossível. Cada fintech que cobra juros abusivos dos mais pobres. Cada consultoria que vende otimismo fiscal para sonegadores. O sistema financeiro brasileiro (e mundial) é uma lavanderia em funcionamento 24 horas. Lava dinheiro de corrupção política, de sonegação fiscal, de exploração trabalhista. O PCC apenas entrou na fila. Com mais eficiência que muitos concorrentes.

As fintechs mudaram o jogo, como noticiou a imprensa (e os Nikolas da vida). Facilitaram não apenas a inclusão financeira, mas a inclusão criminal. Democratizaram o acesso ao crime de colarinho branco. O PCC foi apenas um usuário avançado da tecnologia disponível.

Benjamin falava da aura perdida na era da reprodutibilidade técnica. Na era digital, perdemos também a aura do crime. Ele se massificou, se banalizou, se tornou app. O crime como serviço, o crime como plataforma. A diferença entre o dinheiro do PCC e o dinheiro “limpo” é cada vez mais tênue. Ambos circulam pelos mesmos canais, usam as mesmas ferramentas, seguem a mesma lógica: maximizar lucro, minimizar risco, externalizar custos sociais.

A história do capitalismo é a história da criminalização seletiva. O que é crime depende de quem define. Roubar um banco é crime. Roubar através de um banco é negócio. O realismo capitalista de Fisher opera justamente essa naturalização. Torna normal o que deveria ser escandaloso. A financeirização da vida, a mercantilização de tudo, a transformação de necessidades básicas em oportunidades de lucro.

O PCC entendeu a lição. Por que disputar territórios periféricos quando se pode disputar fundos de investimento? Por que controlar bocas de fumo quando se pode controlar usinas de álcool? A facção evoluiu do crime de rua para o crime de suite.

Mil e seiscentos caminhões. Quatro usinas de álcool. Um terminal portuário. O PCC construiu um império logístico que faria inveja a qualquer multinacional. Usou as mesmas estratégias: integração vertical, diversificação de portfólio, otimização fiscal. A criminalidade do PCC é espetacular porque é visível. A criminalidade do sistema financeiro é invisível porque é estrutural. Uma mata com arma de fogo, outra mata com planilha do Excel. Uma deixa corpo, outra deixa estatística.

Fisher morreu em 2017, antes de ver o PCC na Faria Lima. Mas já havia diagnosticado o problema: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo. É mais fácil imaginar o PCC fora do sistema financeiro do que imaginar um sistema financeiro sem crime. O realismo capitalista cria a ilusão de normalidade. Normaliza a exploração, a desigualdade, a violência sistêmica. O PCC apenas dispensou a ilusão. Assumiu o crime como método, não como desvio.

A operação da Polícia Federal e de outras instituições é certamente fundamental. Mas é também sintomática. Não por culpa sua, mas por “culpa” do realismo capitalista, parte de suas ações persegue o crime visível, deixando intocado o crime invisível. Prende os “novos” criminosos, protege os criminosos institucionalizados há décadas, quiçá séculos. “A culpa é do Capitalismo, estúpido”, vocifera o velho comunista.

Benjamin falava do “anjo da história”, que vê catástrofe onde vemos progresso. Na Faria Lima, o anjo veria crime onde vemos mercado. Veria violência onde vemos eficiência. Veria a pura expressão da barbárie onde vemos civilização. O PCC na Faria Lima não é aberração. É revelação. Revela a verdade que o realismo capitalista esconde: o crime não corrompeu o sistema. O sistema é o crime.

*Lindener Paleto/ICL


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Polícia prende homem após ameaçar explodir mochila na Praça dos Três Poderes

Equipes do 6º Batalhão de Polícia Militar fizerm contato e negociação com o suspeito, identificado como Daniel Mourão

Um homem que estava na Praça dos Três Poderes e afirmava portar explosivos em uma mochila foi preso pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) na manhã deste sábado (30/8).

A ocorrência foi registrada às 5h15, quando equipes do 6º Batalhão de Polícia Militar fizeram contato e negociação com o suspeito, identificado como Daniel Mourão. Protocolos das operações Gerente e Petardo foram acionados, com apoio do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE).

Por volta das 6h45, o Grupo de Intervenção Tática do BOPE prendeu o homem. O Esquadrão Antibombas fez varredura e inspeção nos pertences, mas não encontrou artefatos explosivos nem armas.

O Corpo de Bombeiros Militar do DF prestou atendimento no local, e o suspeito foi encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião por apresentar sinais de distúrbios psiquiátricos. Após atendimento médico, será conduzido à 5ª Delegacia de Polícia.

No dia 13 de novembro do ano passado, Francisco Wanderley Luiz morreu em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) após detonar um artefato explosivo sobre a própria cabeça nas proximidades da Praça dos Três Poderes.


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Após operação contra PCC, Receita Federal enquadra fintechs

Fisco publica nova instrução normativa que exige das instituições financeiras digitais as mesmas obrigações de transparência e de fornecimento de informações cobradas dos bancos

Um dia após a deflagração da megaoperação que desarticulou um esquema de fraudes e lavagem de dinheiro ligado à facção Primeiro Comando da Capital (PCC), a Receita Federal partiu para o cerco às fintechs. Uma nova instrução normativa foi publicada, nesta sexta-feira, pelo órgão, exigindo das plataformas digitais de serviços financeiros o mesmo nível de transparência aplicado aos bancos.

Segundo a Receita, o objetivo é combater os “crimes contra a ordem tributária, inclusive, aqueles relacionados ao crime organizado, em especial a lavagem ou ocultação de dinheiro e fraudes”.

Na quinta-feira, horas depois da deflagração da operação, a Receita havia anunciado que publicaria a nova instrução, sob a justificativa de que “fintechs têm sido utilizadas para lavagem de dinheiro nas principais operações contra o crime organizado porque há um vácuo regulamentar, já que elas não têm as mesmas obrigações de transparência e de fornecimento de informações a que se submetem todas as instituições financeiras do Brasil há mais de 20 anos”.

De acordo com o Correio Braziliense, o Fisco também ressaltou que, no ano passado, havia publicado uma instrução normativa que estendia às fintechs as obrigações de transparência e prestação de informações, com vigência prevista para janeiro de 2025, mas que “uma onda de desinformação e boatos, que atribuíram erroneamente a essa norma uma tributação sobre os pagamentos via Pix, acabou prejudicando o uso desses meios de pagamento, levando a Receita a retroceder e revogar a normativa”.

Nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou o parlamentar mineiro, sem citar o nome dele, e o acusou de beneficiar o crime organizado ao lançar o vídeo. “Tem um deputado que fez uma campanha contra as mudanças que a Receita Federal propôs e, agora, está provado que o que ele estava fazendo era defender o crime organizado, e nós não vamos dar trégua para o crime organizado”, enfatizou, em entrevista à Rádio Itatiaia, de Minas Gerais.


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Há mais de um ano Tarcísio sabia do esquema do PCC com combustíveis e usinas, mas calou-se

Governador sabia do esquema pelo menos desde maio do ano passado e agora quer faturar em cima da operação coordenada pela polícia federal e o MP de São Paulo

O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas parece aqueles padrinhos que só aparecem no dia do batizado e depois em aniversários, mas somem no resto do tempo.

A casa caindo em São Paulo, auditor preso com propina de R$ 1 bilhão (é bilhão com “b” mesmo, você não leu errado), feminicídio explodindo no estado, a violência policial aumentou 61%, e Tarcísio desaparecido.

Agora, uma operação federal desbaratou uma quadrilha, que tem como alvo principal o PCC (que, nunca é demais lembrar, nasceu e se expande a partir de São Paulo), sonegação de impostos, mais de 1000 postos de gasolina, a Faria Lima e usinas de álcool de São Paulo, para o governador surgir e dizer que tudo aconteceu graças a ele… Só que não.

Há mais de um ano o governador sabia do esquema, inclusive dos cabeças, e nada fez. A denúncia é de Alberto Luchetti em seu blog, em 29 de maio de 2024, diz Antonio Mello, Forum.

O Governador Tarcísio de Freitas está acusando o PCC de possuir 1.100 postos de gasolina no Estado de São Paulo. Segundo o governador, o crime organizado está investindo também em usinas de álcool e usando de força para ameaçar e chantagear produtores e a produção de combustíveis. Para conter o avanço dos criminosos, prometeu uma grande operação policial. Não sabemos se o governador está agindo desta forma por convicção ou para justificar um investimento maior ainda na Secretaria de Segurança Pública. Sempre que o PCC é citado no comércio de gasolina, as empresas de Roberto Augusto da Silva – mais conhecido como Beto Louco – e de seu sócio “Mohamed”, aparecem como representantes dessa facção criminosa.

Duas duas, uma: ou não fez nada ou sabia que estava havendo uma investigação e falou demais, o que poderia servir de alerta para a quadrilha tomar providências já que havia sido descoberta. Fica mal em qualquer das duas.

Tarcísio age como a fêmea do cuco, que põe seus ovos nos ninhos de outras aves, que chocam e alimentam o filhote estranho, até que ele alce voo sozinho. Nessa hora surge Tarcísio e diz que foi ele que fez.


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Fintechs ligadas ao crime irrigaram fake news de Nikolas sobre taxação do Pix

Plataformas financeiras ligadas a fraudes de combustíveis atuaram na campanha de desinformação, protagonizada por Nikolas Ferreira.

A ofensiva contra a Receita Federal no episódio da falsa taxação do Pix teve uma ajudinha — ajudona — financeira. Segundo fontes do Banco Central e da Receita Federal, fintechs investigadas por ligação com o crime organizado — agora expostas na Operação Carbono Oculto — tinham interesse em barrar a instrução normativa que ampliaria o monitoramento de transações suspeitas.

Por isso, atuaram na difusão do vídeo do deputado Nikolas Ferreira, do PL de Minas Gerais, cuja produção audiovisual foi usada como peça da campanha das fintechs.

A gravação em que o parlamentar afirmava que o Pix seria taxado superou 200 milhões de visualizações e levou o governo a revogar a instrução normativa.

De acordo com Dão Real, diretor do Sindifisco, a Receita já monitorava fraudes no setor de combustíveis, mas a migração para sistemas paralelos de pagamento criou uma zona cega.

A tentativa de incluir fintechs na e-Financeira — que obriga bancos a informar movimentações de CPF e CNPJ — foi abortada sob pressão política e desinformação.

“Em vez do controle preventivo, resta apenas a quebra de sigilo judicial, sempre posterior à fraude”, afirmou.

Deflagrada nesta quinta-feira, 28, a Operação Carbono Oculto cumpriu 350 mandados em oito estados. Investigações apontam que parte dos lucros do esquema de combustíveis foi lavada em fintechs e blindada em ao menos 40 fundos de investimento, com patrimônio estimado em R$ 30 bilhões. Uma única plataforma movimentou sozinha R$ 46 bilhões.

“Essas empresas funcionam como mecanismo de fuga. A instrução normativa visava justamente evitar isso”, disse Dão Real.

*Guilherme Amado/PlatôBR


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