É impressionante a consciência da avó ao falar com a neta sobre a ineficácia da ivermectina para a covid. A neta diz que não vai se vacinar e que vai usar a ivermectina para se proteger da doença e a avó dá uma aula de sabedoria. Vídeo viralizou. Vale a pena assistir.
Se conquistar o ouro olímpico era um tabu para o futebol brasileiro até 2016, agora já virou rotina. Na manhã deste sábado (7), no mesmo Estádio de Yokohama que testemunhou o pentacampeonato em 2002, a seleção olímpica venceu a Espanha por 2 a 1, na prorrogação, e conquistou o título do futebol nas Olimpíadas pela segunda vez consecutiva. Matheus Cunha abriu o placar, Oyarzabal empatou, e Malcom definiu a vitória brasileira na prorrogação na mesma goleira em que Ronaldo marcou duas vezes há quase duas décadas. A Espanha, campeã em 1992, ficou com a terceira prata de sua história.
Brasil e Espanha tiveram campanhas contestáveis no caminho até a decisão, ainda que fossem desde o início os grandes favoritos ao ouro. A seleção brasileira, por exemplo, empatou com a Costa do Marfim na fase de grupos e precisou dos pênaltis para passar pelo México nas semifinais. Os espanhóis só venceram um jogo no tempo regulamentar em toda a campanha — contra a Austrália, na primeira fase. No mata-mata, precisou da prorrogação para derrotar os marfinenses e o Japão.
A final começou no padrão do famoso jogo de posição espanhol, que jogava 4-3-3. Uma esticada a partir do campo de defesa espanhol exigiu que Santos saísse da área para afastar com o pé aos dois minutos. Ainda que o domínio de posse fosse dos europeus, o Brasil esboçou o seu primeiro ataque aos sete, em uma roubada de bola. Mas Matheus Cunha conduziu até perder a bola perto da área. Aos 11, o goleiro Santos deu um chutão que se transformou em lançamento para Antony, mas o goleiro Simon saiu da área e impediu qualquer risco.
As trocas de passes da Espanha geraram um lance de alto perigo para o Brasil aos 15. Depois de uma bola cruzada, Diego Carlos desviou de cabeça contra o próprio gol, mas ele próprio conseguiu afastar em cima da linha. No minuto seguinte, Asensio cobrou falta por cima do gol. Aos 18, um erro na saída de bola da Espanha gerou oportunidade para os brasileiros. Richarlison rolou para Douglas Luiz, que chutou travado.
A seleção, que passou a ter mais controle sobre o volume de jogo, voltou a atacar bem aos 24. Arana trabalhou a bola pela esquerda e cruzou rasteiro para Richarlison, que bateu de virada. A bola foi na rede, mas pelo lado de fora. Antony fez, aos 29, uma bonita jogada pela esquerda e cruzou, mas Richarlison cometeu falta no meio da área.
O Brasil se defendia com uma linha de cinco quando não estava com a bola. Aos 31, a Espanha tentou furar o bloqueio jogando pelos lados. Asensio, na direita, chutou cruzado com o pé esquerdo, mas Santos pegou com facilidade. No meio do primeiro tempo, o árbitro australiano Chris Beath começou a perder o controle da partida. As entradas duras eram recorrentes, com cartões amarelos para Garcia, da Espanha, e Richarlison.
Aos 33, uma dessas faltas gerou uma boa chance para o Brasil. O goleiro espanhol saiu muito mal do gol e atropelou Matheus Cunha — a bola passou ao lado da trave. O choque gerou a revisão do árbitro de vídeo, e Beath confirmou o pênalti cometido por Simon. Richarlison, no entanto, pegou embaixo na bola depois de dar passos lentos a caminho da bola e mandou para fora.
Depois do pênalti desperdiçado pelo Brasil, os dois times ficaram mais cautelosos. Mas isso não impediu que a seleção atacasse. Aos 44, Richarlison recebeu na área e bateu em cima da zaga. Aos 46, o gol finalmente saiu. Daniel Alves aparou cruzamento alto e mandou de volta para o meio. Matheus Cunha, finalmente recuperado de lesão muscular, dominou com classe no meio de três zagueiros espanhóis e chutou no canto para abrir o placar. 1 a 0.
BRASILIA, BRAZIL - JUNE 05: President of Brazil Jair Bolsonaro speaks with press at Alvorada Palace on June 05, 2020 in Brasilia, Brazil. Brazil has over 614,000 confirmed positive cases of Coronavirus and OVER 34,000 deaths. (Photo by Andressa Anholete/Getty Images)
Presidente é um homem em profunda agonia que arrasta o Brasil para o abismo e corrói nossa (ainda frágil) democracia.
Se atestado de sanidade mental fosse pré-requisito para o mister presidencial, Jair Bolsonaro nem sequer teria assumido em janeiro de 2019. E isso não se trata de ofensa pessoal ou pretensão de minha parte em exercer, indevida e ilegalmente, o exercício de uma profissão que não domino, mas uma opinião amparada em falas e atitudes cada vez mais compatíveis com um quadro grave de doença psíquica.
Não há em Brasília, no restante do Brasil e mesmo em todo o mundo quem, gozando de plenas faculdades mentais e isenção ideológica, bem como de ‘padrões mínimos’ de moral, ética e bons valores, sobretudo os humanos, republicanos e democráticos, que considere o atual presidente da República um homem são e capaz de governar o País. O que até pouco tempo atrás poderia ser considerado método, estratégia ou mera personalidade, hoje mostra-se algo muito mais amplo e delicado.
Jair Bolsonaro é um homem visivelmente perturbado e atormentado, perdido em um labirinto muito próprio, onde cada porta aberta o conduz para um nível ainda pior de alienação, isolamento e descolamento da realidade. Para piorar, cercou-se de gente tão ou mais atormentada; tão ou mais intelectualmente limitada; tão ou mais incapaz de exercer qualquer tipo de atividade que impacte a vida de terceiros.
A agressividade de suas falas, sempre truncadas, ilógicas e quebradiças na forma e no conteúdo, agrava os efeitos e consequências que sua doença traz ao País.
Hoje, mais de trinta anos após a redemocratização, Bolsonaro conseguiu ressuscitar um defunto que parecia profundamente adormecido: militares com aspirações golpistas. Aliás, o Messias vem se especializando em ressuscitar os ‘mortos’; Lula está aí para provar.
O Brasil encontra-se paralisado e à espera de um desfecho – clínico ou institucional – cada vez mais urgente. Um País com tantos e tamanhos problemas de ordem social e econômica, com impactos tão profundos na vida dos menos favorecidos, não pode ficar a mercê da ‘psicopatia sociopata esquizofrênica homicida e tirânica’ de um (ex) chefe de Estado – sim; Bolsonaro não é, se é que algum dia já foi, o chefe de Estado do Brasil. Se antes era apenas um arruaceiro em busca de conflito, hoje é um doente perigoso ocupando a cadeira presidencial.
Devagar, par e passo, as instituições democráticas começam a reagir de forma unida e proporcional ao tamanho da ameaça. Poder Judiciário, grande parte da imprensa, sindicatos e entidades de classe, empresários economicamente relevantes, militares os mais diversos… Não são poucas as manifestações de resistência. Cabe agora ao tal ‘povo’ fazer a sua parte. Omitindo-se, fará parecer que os lunáticos são a maioria que dizem ser. E não são! Nunca foram. Esse é o recado que os agentes do caos têm de receber.
Presidente Jair Bolsonaro durante a apresentação do Planao nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19, no Palácio do Planalto. Sérgio Lima/Poder360 16.12.2020
Os ‘facilitadores’ no governo
Cristina Serra, Folha – A maior concentração de vigaristas por metro quadrado da Esplanada gravitou (gravita?) em volta do Ministério da Saúde no momento em que mais precisávamos de gente séria e especializada para salvar as nossas vidas e as de parentes e amigos.
Os holofotes da CPI da Covid no Senado jogaram luz sobre novos personagens, mostrando como se conectam as engrenagens de um submundo de crimes e trambiques em torno das grandes compras e aquisições do governo Bolsonaro. Constata-se que havia um ministério subterrâneo, operado por “facilitadores”, autodefinição de Airton Soligo, assessor do então ministro Eduardo Pazuello.
Soligo —que tem o sugestivo apelido de Cascavel— atuou durante dois meses sem nomeação oficial, sem agenda pública, sem assinatura de atos. Uma atuação clandestina e muito conveniente para quem não quer deixar rastro nem prestar contas a ninguém, a não ser ao chefe.
Outro “facilitador” é o reverendo Amilton Gomes de Paula, que abria portas com impressionante facilidade e rapidez para negociar vacinas de vento. O repórter Lúcio de Castro, da agência de jornalismo SportLight, mostrou que Amilton tem conexões com uma complexa rede de entidades fantasmas.
Uma delas, aberta na Flórida, nos EUA, registrou como diretores Bolsonaro, seu vice, Hamilton Mourão, o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva e um certo tenente coronel capelão Roberto Cohen. Tem todo jeito de ser picaretagem. A Presidência deve explicações, mas até agora não se manifestou.
O enredo de terror tem ainda mais um militar, o coronel Marcelo Blanco, que deixou o ministério, criou uma empresa de representação na área médica e também facilitou um atalho para o notório cabo Dominguetti.
Tais personagens ajudam a explicar como chegamos a ter 4.000 brasileiros mortos por dia de Covid. Hoje ainda choramos mil mortes diárias. É como se quatro aviões caíssem todos os dias. Sem nenhum sobrevivente.
Diante de apoiadores em SC, presidente chama ministro de ‘filho da puta’; em discurso, diz que não ofendeu nenhum ministro da corte.
Após repetidos ataques a integrantes do Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro xingou nesta sexta-feira (6), diante de apoiadores em Santa Catarina, o ministro Luís Roberto Barroso.
Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, o presidente aparece cumprimentando algumas pessoas em Joinville e chama Barroso de “filho da puta”. No trecho, o presidente dá a entender que o ministro teria mandado gente para o local para atacá-lo.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro, ao discursar em evento, disse que “parte” da corte quer “a volta da corrupção e da impunidade”, mas negou ter ofendido qualquer magistrado nos últimos dias.
“Não ofendi nenhum ministro do Supremo, apenas falei da ficha do sr. Barroso, defensor do terrorista [Cesare] Batisti, favorável ao aborto, da liberação das drogas, da redução da idade para estupro de vulnerável, ele quer que nossas filhas e netas com 12 anos tenham relações sexuais sem problema nenhum. Este mesmo ministro votou pelo direito das amantes”, disse.
Bolsonaro viajou para Joinville, onde desembarcou pela manhã e discursou em um almoço com empresários. À tarde, ele participou da entrega de dois caminhões para o Corpo de Bombeiros Voluntários da cidade e, à noite, também deve comparecer a um jantar. A agenda em Santa Catarina continua até este sábado (7), quando o presidente participa de uma motociata em Florianópolis.
Poucas pessoas usavam máscara de proteção contra a Covid-19 entre as centenas de convidados para o almoço. Entre os participantes do evento estavam o pastor Silas Malafaia, o empresário Luciano Hang e a vice-governadora de Santa Catarina, Daniela Reinehr (sem partido).
Citando gestões anteriores, especialmente do PT, o presidente associou “parte” do Supremo ao desejo da “a volta da corrupção e da impunidade”.
Nos últimos dias, Bolsonaro repetiu falas golpistas e falou na possibilidade de usar armas “fora das quatro linhas da Constituição” em meio à sua cobrança para implantação de voto impresso e ameaça de não serem realizadas eleições em 2022.
Ele também chegou a chamar Alexandre de Moraes de “ministro ditatorial” e disse que “a hora dele vai chegar”.
O presidente do STF, Luiz Fux, fez nesta quinta-feira (5) um discurso contundente, dizendo que Bolsonaro não cumpre cumpre a própria palavra. Fux cancelou a reunião entre os chefes dos Três Poderes que havia convocado.
Nesta sexta, Bolsonaro também voltou a criticar o sistema de votação brasileiro. “Estou atacando o Barroso? Não estou. Acho que ele deveria se orgulhar e ouvir da minha parte a verdade. É ele que fala que as urnas são invioláveis, o termo mais adequado seria impenetráveis. Esse tipo de gente quer decidir as eleições no ano que vem. Quero e desejo eleições, limpas, democráticas, sem que meia dúzia de pessoas conte os votos numa sala escura”, discursou.
“Não quero poder, quero paz e soberania, quero a liberdade de vocês, mas a alma da democracia é o voto, e o que querem é eliminar o voto”, continuou.
Bolsonaro também voltou a atacar os membros do G7, núcleo majoritário da CPI da Covid no Senado, que investiga a condução da crise sanitária pelo governo. Disse que o grupo não quer descobrir desvios de recursos na pandemia, mas atacar o governo.
Armas citadas pelo ministro Luis Felipe Salomão incluem declaração de inelegibilidade, cassação de chapa, campanhas de conscientização e uma resolução editada pela Corte.
O corregedor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luis Felipe Salomão, disse nesta sexta-feira que a Justiça Eleitoral tem um arsenal para combater a desinformação nas eleições. Ele citou três frentes de atuação. Uma delas é a atividade jurisdicional, ou seja, o julgamento de ações que podem levar à inelegibilidade e até mesmo à cassação de chapa. Outra é normativa, com uma resolução para responsabilizar quem produz ou dissemina notícias falsas. Por fim, há a atividade administrativa, com, por exemplo, campanhas e parcerias com agências de checagem.
Salomão, que é o responsável por tocar um inquérito no TSE para apurar os ataques do presidente Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas, participou nesta sexta de uma transmissão ao vivo organizada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio de Janeiro. Na palestra por videoconferência, Salomão disse que este é um momento difícil para a Justiça Eleitoral, mas não fez menção a Bolsonaro.
A nossa atuação no campo propriamente jurisdicional é através da detecção de propaganda irregular no período adequado. Como eu disse aqui, os juízes da propaganda atuam intensamente na repressão a esse tema. E especificamente nas Aijes (ações de investigação judicial eleitoral) e Aimes (ações de Impugnação de Mandato Eletivo), tratando de abuso do poder político, econômico e tratando do uso indevido dos meios de comunicação, como todos nós sabemos, podendo acarretar inclusive a inelegibilidade ou na cassação da chapa, impedindo até mesmo o registro, se for o caso. De modo então que temos elementos para tratarmos desse tema — afirmou Salomão.
No campo normativo, Salomão citou a resolução 23.610, do TSE, que diz: “A utilização, na propaganda eleitoral, de qualquer modalidade de conteúdo, inclusive veiculado por terceiros, pressupõe que o candidato, o partido ou a coligação tenha verificado a presença de elementos que permitam concluir, com razoável segurança, pela fidedignidade da informação, sujeitando-se os responsáveis ao disposto no art. 58 da Lei nº 9.504/1997, sem prejuízo de eventual responsabilidade penal.” O artigo 58 da Lei 9.504/1997 trata do direito de resposta.
Por outro lado, Salomão disse ser contra uma intervenção constante do Judiciário, o que poderia atrapalhar as campanhas eleitorais. Ele mencionou a atuação do TSE na eleição de 2018, quando foi um dos integrantes da Corte responsáveis por analisar representações relacionadas à propaganda eleitoral.
Nós optamos naquele momento por não sermos os censores do debate. A nossa tônica foi sempre muito mais aberta. Só mesmo fazíamos a intervenção no âmbito da propaganda eleitoral quando fosse muito gritante a notícia falsa ou quando ela tivesse realmente que receber a devida adequação, por conta justamente de que os candidatos migraram para o debate nas redes sociais. Se nós cerceássemos isso, fazendo um paralelo com o jogo de futebol, se a cada momento fôssemos apitar para marcar uma falta, o jogo não desenrolava, o debate não fluía — disse Salomão.
Em sua palestra, ele fez um histórico do direito à privacidade e à intimidade, quando mencionou a queda do presidente dos Estados Unidos Richard Nixon (1969 a 1974) antes do término do seu segundo mandato em razão do escândalo Watergate.
— Até que tivemos na década de 70 um caso também muito curioso que marcou o mundo, que foi o caso Watergate, quando se discutiu muito a a questão da privacidade, porque houve um grampo telefônico, e a partir daí houve a queda de um presidente americano — disse Salomão.
A reunião ‘Afastamento de um presidente por transtorno mental: questões éticas e forenses’, marcada para o dia 4, teria sido cancelada pelo departamento por pressões externas.
O Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP cancelou reunião online que seria realizada nesta quinta (5), para debater o impeachment do presidente Jair Bolsonaro devido a transtorno mental.
Por conta do cancelamento, funcionários, colaboradores, residentes, ex-residentes, alunos e ex-alunos do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da USP escreveram carta ao Departamento de Psiquiatria da FMUSP e à direção da FMUSP defendendo a realização da reunião geral.
A carta pede que o departamento “reagende com a máxima brevidade e publicidade a reunião geral com o tema ‘Afastamento de um presidente por transtorno mental: questões éticas e forenses’”.
O documento diz ainda que “o cancelamento da reunião lança sobre o Departamento de Psiquiatria da FMUSP a dúvida de que tenha recebido pressões externas que, ao censurar uma atividade acadêmica e de extensão à comunidade realizada há décadas, têm por objetivo restringir o papel da universidade no livre debate de ideias no Brasil”.
De acordo com os organizadores, a carta não tem por intenção criticar o departamento, que afinal teve a iniciativa de chamar a reunião, mas sim apoiá-lo a tomar a decisão necessária para garantir sua autonomia, a defesa da livre expressão e da ciência.
Leia a carta na íntegra abaixo:
PELA DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DA CIÊNCIA E DA AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA DA FMUSP
Nós, funcionários, colaboradores, residentes, ex-residentes, alunos e ex-alunos do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo subscrevemos essa carta para solicitar ao Departamento de Psiquiatria da FMUSP que reagende com a máxima brevidade e publicidade a reunião geral com o tema ”Afastamento de um presidente por transtorno mental: questões éticas e forenses” originalmente agendada para 05/08/2021 e cancelada na véspera de sua realização, conforme noticiado pelo jornal Folha de S. Paulo.
O cancelamento da reunião lança sobre o Departamento de Psiquiatria da FMUSP a dúvida de que tenha recebido pressões externas que, ao censurar uma atividade acadêmica e de extensão à comunidade realizada há décadas, têm por objetivo restringir o papel da universidade no livre debate de ideias no Brasil.
Com essa carta, cerramos fileiras junto ao Departamento de Psiquiatria da FMUSP na defesa da liberdade de expressão, da ciência e da autonomia universitária.
A carta e as assinaturas serão entregues ao Departamento de Psiquiatria e à direção da FMUSP.
Com isso, a liminar que mandou soltar o ativista perdeu a validade.
Em nova decisão, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) decidiu manter a prisão do ativista Paulo ‘Galo’ Lima, um dos autores do incêndio na estátua de Borba Gato, na zona sul de São Paulo.
Com isso, a liminar que mandou soltar o ativista perdeu a validade. Galo está preso desde 28 de julho.
“[A investigação policial serviu para] revelar detalhes sobre o planejamento e execução do incêndio, evidenciando a premeditação e o elo associativo entre os responsáveis, mostrando-se, assim, fundamental para comprovação de todos os delitos atribuídos aos representados”, diz trecho do decreto de prisão preventiva assinado pela juíza Gabriela Marques da Silva Bertoli.
“[O incêndio à estátua], além de danificar o patrimônio público e histórico, expôs a incolumidade pública a grave risco, resultando na exposição da vida, integridade física e patrimônio de indeterminado número de pessoas a perigo, considerando tratar-se de região em que há elevado fluxo de transeuntes e veículos, diversos imóveis comerciais e residenciais”, prosseguiu.
Na decisão, o TJSP diz ainda que “havia intenção de que as chamas alcançassem o posto de gasolina, o que poderia ter causado uma tragédia de imensuráveis proporções”. A juíza cita laudo pericial que constatou manchas escurecidas por substância líquida, “demonstrando a ligação da estátua ao posto por uma reta de pneus”.
Mesmo críticos da atuação de ministros do STF, militares dizem acreditar que ofensiva do Judiciário pode frear Bolsonaro.
Mesmo sendo críticos da atuação de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), integrantes do Alto-Comando do Exército manifestaram, em conversas reservadas, concordância com o gesto do presidente da corte, Luiz Fux, de interromper o diálogo com o presidente Jair Bolsonaro.
Pela primeira vez, Fux fez um discurso objetivo, em sessão do STF, em que condena textualmente a ofensiva golpista de Bolsonaro e os ataques desferidos pelo presidente contra o tribunal e contra o sistema eleitoral brasileiro.
O ministro afirmou que o chefe do Executivo não cumpre a própria palavra. Fux, então, cancelou reunião marcada com chefes dos Poderes para apaziguar ânimos.
A reação, adotada nesta quinta-feira (5), se soma a outros gestos concretos do Judiciário brasileiro diante da ameaça de golpismo de Bolsonaro.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral), presidido pelo ministro Luís Roberto Barroso, abriu um procedimento para investigar os ataques de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas.
O ministro Alexandre de Moraes atendeu pedido do TSE e incluiu o presidente em inquérito no Supremo que investiga um suposto esquema criminoso de fake news, em razão dos ataques às urnas.
Os dois ministros são atacados pelo presidente da República. A estratégia de Bolsonaro se concentra em Barroso, que preside o TSE.
A relação entre os Poderes não passa pelas Forças Armadas. Mas o próprio presidente envolveu Exército, Aeronáutica e Marinha na crise, de forma direta, ao insinuar golpe e falar, recorrentemente, em “meu Exército”.
A empreitada de Bolsonaro tem respaldo do ministro da Defesa, general da reserva Walter Braga Netto.
As Forças estão vinculadas à pasta comandada pelo general, que defende voto impresso —mesmo sem existir qualquer relação do assunto com o ministério que comanda— e que ameaçou a CPI da Covid no Senado, por meio de uma nota subscrita pelos comandantes das três Forças.
Generais que integram o Alto-Comando do Exército têm uma visão crítica em relação à atuação de ministros do STF. Eles entendem que o tribunal avança nas esferas de atuação de Executivo e Legislativo.
Um caso sempre citado é a decisão de Moraes de barrar, em abril de 2020, a nomeação do delegado Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro, para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Ramagem é diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
A escalada da crise, porém, e o temor do que pode ocorrer em 2022, ano de eleição presidencial, explicam uma aceitação entre integrantes do Alto-Comando dos gestos concretos do Judiciário contra o presidente da República.
Em conversas reservadas, generais afirmam que a reação de Fux faz sentido, diante do reiterado comportamento de Bolsonaro, que deixa claro que não quer conversa, na visão desses militares.
O procedimento aberto pelo TSE, a inclusão do presidente como investigado no inquérito das fake news e o cancelamento da reunião entre chefes de Poderes —precedido de um discurso do presidente do STF em que diz que o presidente da República não tem palavra— podem fazer Bolsonaro “baixar a bola”, conforme disseram integrantes do Alto-Comando do Exército.
Eles entendem, porém, que o efeito deve durar pouco. A crise deve se prolongar, com novos arroubos autoritários do presidente, que não segue a liturgia mínima do cargo que ocupa, na visão de generais da cúpula do Exército.
Esses mesmos generais afirmam inexistir a possibilidade de um golpe capitaneado por Bolsonaro e de uma consequente ruptura do processo democrático. Segundo eles, o simples exercício de imaginar o dia seguinte a um golpe mostraria a inviabilidade de uma iniciativa nesse sentido.
No Alto-Comando, existe um temor real de que se repitam no Brasil as cenas vistas nos Estados Unidos após a derrota do republicano Donald Trump, ídolo de Bolsonaro, para o democrata Joe Biden.
Em 6 de janeiro, dia da sessão que confirmou a vitória de Biden, Trump insuflou apoiadores a invadirem o Congresso americano. A invasão chegou a interromper a sessão. Cinco pessoas morreram no ataque ao Capitólio.
Trump estimulou apoiadores radicais com o discurso de fraude nas eleições. É a mesma cartilha seguida por Bolsonaro, um ano e dois meses antes das eleições de 2022.
Nos EUA, as Forças Armadas não embarcaram na aventura golpista. No Brasil, o ministro da Defesa tem se mostrado alinhado à postura do presidente.
Integrantes do Alto-Comando do Exército dizem não enxergar risco de ruptura com suporte das Forças Armadas. Para esses generais, o risco está na atuação de policiais nos estados, em um cenário de eventual derrota de Bolsonaro nas urnas.
O presidente faz reiterados acenos a forças de segurança locais, e uma parcela expressiva de policiais civis e militares é bolsonarista.