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Brasil prepara complexa operação para resgatar mais brasileiros e palestinos da Faixa de Gaza

Maior desafio da operação diplomática é a quantidade de pessoas para serem repatriadas do conflito que já matou cerca de 16 mil palestinos.

O pai de um brasileiro teve um derrame enquanto aguarda a chance de poder sair de Gaza pelo único caminho possível atualmente: a fronteira com o Egito. Diplomatas brasileiros no Cairo já estão de prontidão, porque a qualquer momento podem precisar ir para Rafah, onde fica esta fronteira. O Brasil apresentou aos envolvidos nas negociações deste conflito uma lista com 102 nomes de pessoas que o governo quer resgatar de Gaza. Ao contrário do que alguns ainda pensam, esta não é uma decisão apenas tomada pelo governo egípcio.

Autoridades de Israel, Catar, além dos Estados Unidos e o Hamas também discutem e decidem os nomes de quem sai ou não. Desta relação, 41 são, de fato, brasileiros. O restante são familiares palestinos, o que até certo ponto vinha preocupando a diplomacia do Brasil desde que a lista estava sendo discutida.

Faz parte deste segundo grupo também uma ex-nora de um dos fundadores do Hamas. Ela é de Criciúma, Santa Catarina, e se mudou para Gaza em 2005 para se casar. Acabou se divorciando e continua na região sob forte ataque israelense há quase dois meses. Agora quer voltar ao Brasil.

Cerca de 80% das pessoas dessa lista estão em Rafah, mas na parte de Gaza que recebe o mesmo nome do trecho egípcio. Isso significa que estão bem perto da Fronteira. Os outros aproximadamente 20% estão em diferentes partes do território sitiado. Israel veio intensificando os ataques na região sul de Gaza depois de sete dias de tréguas, quando reféns e prisioneiros dos dois lados foram libertados.

Em mais de oito semanas de conflito, autoridades palestinas dizem que mais de 15.500 pessoas já foram mortas. Além de milhares de crianças, entre as vítimas estão 63 jornalistas até agora, segundo o Comitê de Proteção ao Jornalista, sendo 56 deles palestinos, 4 israelenses e 3 libaneses. Ainda de acordo com o CPJ, foram 11 jornalistas feridos, 3 estão desaparecidos e 19 foram presos cobrindo este conflito.

Esta operação diplomática, como um todo, está sendo mais complexa para o Itamaraty. O desafio logístico é maior, pois há muito mais pessoas para serem repatriadas, incluindo uma criança com hidrocefalia.

Quase 10 mil estrangeiros e palestinos com dupla nacionalidade já saíram da Faixa de Gaza pela fronteira de Rafah. Entre eles estão 32 brasileiros e parentes palestinos, lembrando que duas pessoas desistiram de sair na última hora, mesmo com seus nomes aprovados para cruzar a fronteira. A repatriação dos que integram essa segunda lista vai demandar mais esforço da enxuta equipe de diplomatas do Cairo, que deve contar com 6 pessoas envolvidas diretamente neste assunto.

Percurso
Um carro vai levar os diplomatas da capital egípcia até a fronteira, em Rafah, uma viagem de cerca de 350km que não tem durado menos de 7 horas. Há vários pontos de bloqueios militares, principalmente entre o canal de Suez e a fronteira. Assim como da outra vez, o grupo que conseguir sair agora deve ser trazido de ônibus para o Cairo e voltar para o Brasil em um avião da Força Aérea Brasileira. O Itamaraty tem até 72 horas para fazer isso, segundo exigências do governo egípcio, que cobra uma taxa de cerca de 10 dólares por cada estrangeiro que as embaixadas conseguem resgatar de Gaza.

Ao contrário da primeira operação, quando um avião da FAB passou semanas no Cairo à espera da saída do primeiro grupo, o Brasil só deve mandar um avião para o Egito desta vez quando as autoridades informarem que os brasileiros e os familiares palestinos poderão, de fato, entrar em território egípcio.

Esta semana começou com dezenas de tanques israelenses sendo vistos entrando parte sul da Faixa de Gaza, perto de Khan Younis, de acordo com agências internacionais. Espera-se que os militares israelenses comecem em breve operações por terra nesta área.

De acordo com a agência de notícias palestina WAFA, o exército israelense matou 30 palestinos em Al-Zaytoun e Al-Shujaiya, sul e leste de Gaza. Desde o início do conflito, o objetivo de Israel, que começou os ataques no norte da região, é pressionar o deslocamento interno de mais de dois milhões de palestinos para o sul, forçando o deslocamento da população para território egípcio, o que o governo do Egito até o momento diz que não aceitará, mesmo que receba alguma compensação financeira do governo de Israel em troca disso.

A presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Mirjana Spoljaric, viajou para Gaza e classificou como “intolerável” o sofrimento no território palestino. “Repito o nosso apelo urgente para que os civis sejam protegidos de acordo com as leis da guerra e para que a ajuda entre sem impedimentos”, postou no X, antigo Twitter.

Centenas de feridos já vieram para o Egito receber atendimento médico nas últimas semanas, já que quase todos os 35 hospitais de Gaza não têm condições de operar. Uma das pacientes é Rasha Elwan, que se recupera de ferimentos na perna no Hospital Geral de El-Arish, cidade a quase 50 km da fronteira. É onde também fica o aeroporto egípcio mais perto do sul de Gaza, operado pelas forças armadas locais. Na última quinta-feira, aviões vindos de Singapura, Catar e Itália desembarcaram com doações para serem levadas para a Faixa de Gaza.

Atraso na entrega de ajuda
Perto da fronteira ainda há uma imensa fila de caminhões carregados com ajuda humanitária. A reportagem conversou com alguns motoristas e voluntários que estão aguardando há mais de uma semana autorização para atravessar. Alguns disseram que preferem esperar do lado egípcio da fronteira, já que havia um congestionamento de caminhões carregados de ajuda humanitária que passaram pela fronteira, mas não tinham conseguido ainda entregar as doações.

É que com parte da estrada perto da fronteira foi danificada depois de ataques israelenses, os caminhões são forçados a percorrer um caminho maior – pelo menos 100km a mais – e os motoristas ainda precisam esperar que o exército israelense faça mais uma checagem nos veículos, o que está atrasando a entrega das doações e a entrada de mais veículos.

Ontem, a empresa palestina de telecomunicações Paltel divulgou um comunicado afirmando que os serviços de telecomunicações foram cortados na Faixa de Gaza depois de terem sido reparados. “Lamentamos anunciar que todos os serviços de telecomunicações na Faixa de Gaza foram perdidos devido ao corte das principais rotas de fibra do lado israelense”, disse a PalTel em mensagem nas redes sociais. “Gaza está… apagada de novo.”

*Opera Mundi

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Justiça de Israel retoma julgamento contra Netanyahu por caso de corrupção

Primeiro-ministro é acusado de recebimento de propina e falsidade ideológica, em processo que foi interrompido devido à ofensiva militar contra Gaza.

O Tribunal Distrital de Jerusalém reiniciou nesta segunda-feira (04/12) o julgamento no qual o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e sua esposa, Sara Netanyahu, são acusados de receber presentes em troca de favores políticos.

A retomada acontece após o fim do decreto de emergência que interrompeu todos os trabalhos dos tribunais superiores de Israel, medida que foi imposta pelo ministro da Justiça, Yariv Levin, no dia 7 de outubro, quando se iniciou a ofensiva militar de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza.

O processo reúne três diferentes denúncias de corrupção contra o casal apresentadas entre os anos de 2018 e 2019. Em uma delas, a promotoria acusa a família Netanyahu de receber artigos de luxo do empresário isralense Arnon Milchan, ligado a produtores de cinema de Hollywood, e do bilionário australiano James Packer, dono de um grande conglomerado de mídia em seu país.

O caso já havia sido responsável pelo fim do primeiro mandato de Netanyahu, em junho de 2021, mas não o impediu de ser eleito novamente em dezembro de 2022, graças a uma aliança entre diferentes setores da extrema direta sionista.

Grupos opositores ao premiê afirmam que esse processo é um dos motivos pelo qual o seu governo vem insistindo no projeto de reforma do Poder Judiciário que permite uma maior intervenção do Executivo nos tribunais superiores. Essa proposta tem sido fortemente criticada na sociedade israelense e inspirado grandes manifestações de repúdio a Netanyahu.

Segundo o diário Times of Israel, em caso de condenação, Sara e Benjamin Netanyahu podem receber penas de entre cinco a dez anos de prisão no caso da denúncia por corrupção, e até três anos de prisão por falsidade ideológica. A defesa dos acusados nega que eles tenham cometido os crimes atribuídos a eles.

A imprensa local também ressalta que, por enquanto, o premiê está dispensado de comparecer às audiências, mas poderia ser chamado a testemunhar dentro de alguns meses, dependendo de como o processo se desenrolar.

Neste domingo (03/12), um dia antes da retomada do julgamento, dezenas de milhares de pessoas se manifestaram em Tel Aviv contra o governo de Netanyahu. O protesto, no entanto, não criticava o premiê apenas pelas denúncias que enfrenta na Justiça, mas também por considerá-lo responsável pelos ataques do Hamas e pelo sequestro de cidadãos israelenses no dia 7 de outubro.

Uma pesquisa recente realizada pelo diário Ma’ariv mostrou que 80% dos cidadãos do país consideram o premiê como o principal culpado pelos acontecimentos de outubro passado.

Denúncia no TPI
Além da denúncia na Justiça israelense, Netanyahu também enfrenta uma acusação no Tribunal Penal Internacional (TPI), por crimes de guerra cometidos durante a ofensiva militar de Israel contra Gaza.

A denúncia foi apresentada em novembro passado pelo governo da Argélia e apoiada posteriormente pelos presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e da Turquia, Recep, Tayyip Erdogan.

O tema foi debatido nesta mesma segunda-feira (04/12) em reunião da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), em Istambul, na Erdogan, durante seu discurso como mandatário anfitrião, criticou os países islâmicos que ainda não apoiam a iniciativa argelina.

Segundoarinelli/Opera Mundi Erdogan, Netanyahu “não é apenas um assassino, mas também um corrupto”. O líder turco também declarou que considera Gaza como “um território palestino, que pertence aos palestinos e assim permanecerá para sempre”.

*Victor Farinelli/Opera Mundi

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Entrada do Irã no BRICS é ‘de suma importância, principalmente para a China’, aponta especialista

A entrada do Irã no BRICS, que será oficializada em 1º de janeiro de 2024, marca o ingresso de um país declaradamente contrário aos Estados Unidos. Que tipo de repercussões isso poderá trazer ao grupo?

Essas e outras questões foram respondidas por Jorge Mortean — geógrafo e professor de relações internacionais, mestre em estudos regionais do Oriente Médio no Irã e atual doutorando em geografia política na Universidade de São Paulo (USP) — no episódio desta segunda-feira (4) do podcast da Sputnik Brasil Mundioka, apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.

Para o especialista em estudos iranianos, a entrada do Irã no BRICS representa um ganho tanto para o país persa quanto para o grupo, uma vez que “temos aí a semiperiferia e periferia do mundo se aliando”, disse, referindo-se à teoria de sistema-mundo das relações internacionais, popularizada por Immanuel Wallerstein. “O que seria semiperiferia?”

“São países com um grau até importante de desenvolvimento tecnológico-industrial, que servem como ponte de retransmissão de fluxos de comércio (investimentos, capital). São grandes mercados e possuem certo poderio de defesa em suas respectivas regiões.”

Essas características, para Mortean, definem a posição ocupada pelas nações do BRICS mais do que qualquer relação econômica. Nesse ponto, o grupo de países, que agora se expande para se tornar o BRICS+ com a inclusão além do Irã, do Egito, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e da Etiópia — e, talvez, da Argentina — forma um agrupamento antissistêmico.

“Ou seja, ele faz um contraponto a toda a hegemonia que se diz aí ocidental de países desenvolvidos, nomeadamente Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão, que apesar de ser do Oriente, é um Oriente mais ocidentalizado do que nunca.”

“Oferece, portanto, uma nova possibilidade de ordem mundial”, resumiu.

*Sputnik

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Lula chora ao falar de Gaza e volta a defender mudanças no Conselho de Segurança da ONU

Presidente criticou ‘insensibilidade dos governantes’ e afirmou que trégua seria antecipada se a resolução brasileira não fosse vetada, mas não lembrou que EUA foram responsáveis por único voto contrário.

“Às vezes tenho a impressão de que estamos deixando de ser humanistas, de que estamos abrindo mão da fraternidade, abrindo mão da solidariedade, esquecendo que o ser humano nasceu para viver em paz”, foram as palavras de Lula enquanto continha as lágrimas, durante a cerimônia de declaração conjunta de intenções e acordos com a Alemanha, em Berlim, nesta segunda-feira (04/12).

Atendendo a questionamentos da imprensa, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltou a se pronunciar a respeito do conflito entre Israel e Gaza, intensificado desde 7 de outubro, quando Hamas lançou a primeira ofensiva contra o território israelense.

Comparado às últimas declarações a respeito do cenário, concedidas em entrevista à emissora catari Al Jazeera, desta vez, seu discurso teve um tom mais passivo e emotivo. O líder derramou lágrimas quando mencionou a falta de “fraternidade” e “solidariedade” entre governantes, princípios tidos como básicos para o petista: “Sou de um país com uma grande comunidade judaica e árabe. E a gente fica em paz. É esse modelo de paz que gostaria que tivesse em Israel”.

Lula reforçou que a posição do Brasil é, primordialmente, do respeito à Carta das Nações Unidas, que consiste que “nenhum país tem o direito de invadir a integridade territorial do outro”.

‘Ser do Conselho de Segurança da ONU não é um privilégio de apenas cinco países’
Embora tenha confirmado ter conversado com pelo menos 12 líderes do mundo sobre o cenário na Faixa de Gaza e reforçado que todas os países devem respeitar integralmente as Nações Unidas, voltou a criticar o próprio sistema do órgão ao citar a resolução que o Brasil apresentou enquanto presidia o Conselho da ONU, no mês de outubro, mas que acabou sendo vetada:

“A ONU deveria intervir para que encontrasse uma solução. O Brasil era presidente do Conselho de Segurança, o Brasil apresentou uma proposta para que houvesse uma trégua humanitária, para que poupasse tempo, para que retirasse as crianças”, disse Lula, lembrando que a decisão apresentada pelo Itamaraty contou com 12 votos a favor, duas abstenções (Reino Unido e Rússia) e um voto contra, sendo este último dos Estados Unidos – um país com poder de veto.

“Quem sabe se tivesse votado na posição do Brasil teria tido uma trégua bem antes, morrido bem menos gente”, lamentou o presidente, sem citar diretamente os Estados Unidos, acrescentando que o órgão tem que “mudar sua representação” com a entrada de outras nações, como Alemanha, Japão, Índia, países da África e da América Latina.

“Ser do Conselho de Segurança da ONU não é um privilégio de apenas cinco países. A geopolítica de 1945 não é a geopolítica de 2023”, ressaltou Lula.

102 brasileiros na Faixa de Gaza
Lula lembrou que o Brasil logrou a repatriação de 34 brasileiros e afirmou brevemente que o país ainda está atrás de 102 cidadãos que permanecem na Faixa de Gaza.

Com relação a uma possível solução para a guerra, o líder voltou a defender a consolidação de duas nações: “Respeito a posição de cada país e continuo defendendo historicamente desde que assumi algum entendimento. Tenho certeza que a única solução é a consolidação de dois países para viver pacificamente e harmonicamente”.

O que na prática parece estar “longe do fim”, de acordo com o petista, uma vez que confirmou ter se reunido e discutido com autoridades israelenses e palestinas, mas que “parece que tem gente que não quer paz”.

Pelo fim do discurso, o presidente declarou que o conflito entre Israel e a Palestina será uma pauta discutida na reunião do G20: “A gente não pode abrir mão de assuntos assim”.

*Opera Mundi

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Tropas de Israel expandem operação terrestre na Faixa de Gaza; tanques chegam ao sul do território

Volta dos ataques terrestres marcam mudança de estratégia das forças israelenses após fim da trégua com Hamas.

O exército israelense anunciou, nesta segunda-feira (04/12), a expansão de sua operação terrestre contra o Hamas para toda a Faixa de Gaza. Dezenas de tanques e escavadeiras entraram no sul do enclave, perto da cidade de Khan Younis, segundo testemunhas.

“As forças israelenses operam em toda a Faixa de Gaza e em qualquer lugar onde o Hamas tenha esconderijos”, disse Daniel Hagari, representante do Exército, na noite deste domingo (03/12). As tropas de Israel iniciaram sua ofensiva terrestre no norte de Gaza em 27 de outubro, onde assumiram o controle de várias áreas.

De acordo com testemunhas ouvidas pela AFP, os veículos militares entraram “a uma profundidade de dois quilômetros” na cidade de al-Qarara, no nordeste de Khan Younis. “Os tanques estão agora na estrada Salaheddine, que percorre a Faixa de Gaza de norte a sul”, disse Moaz Mohammed, de 34 anos, que mora na região.

A volta dos ataques terrestres marcam uma mudança de estratégia das forças israelenses. Desde que os combates foram retomados na sexta-feira (01/12), após o fim da trégua de uma semana com o Hamas, Israel tem privilegiado os bombardeios aéreos.

Israel nega deslocamento forçado de civis
Durante a noite de domingo, um ataque em frente ao hospital Kamal Adwan, no norte de Gaza, matou várias pessoas, segundo a agência de notícias palestina Wafa.

Em um comunicado, o governo do Hamas acusou o exército israelense de “violar” as normas do Direito Internacional Humanitário (DIH), que visa minimizar os efeitos dos conflitos armados para a população civil.

Israel negou nesta segunda-feira que esteja forçando os palestinos a ir para o Egito. “Não estamos tentando deslocar a população de maneira permanente”, disse Jonathan Conricus, porta-voz do Exército israelense.

“Pedimos aos civis que se retirassem do campo de batalha e designamos uma zona humanitária específica dentro da Faixa de Gaza”, disse ele, referindo-se à área costeira de Al-Mawasi.

“Estamos cientes de que o espaço e o acesso são limitados. Por isso é crucial obter o apoio de organizações humanitárias internacionais para ajudar a estabelecer infraestrutura na área de Al-Mawasi”, declarou.

Israel acusa o Hamas de agir em túneis debaixo dos hospitais e usar civis como escudos humanos.

De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde do Hamas, divulgado neste domingo, cerca de 15.523 pessoas morreram desde o início do conflito e dos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, em 7 de outubro. Cerca de 70% das vítimas são mulheres e crianças.

“Nas últimas horas, apenas 316 mortos e 664 feridos foram retirados dos escombros e levados para hospitais, mas muitos ainda estão soterrados”, disse o porta-voz do Ministério da Saúde do Hamas, Ashraf al-Qidreh.

Segundo as forças israelenses, cinco soldados morreram após a retomada dos combates na sexta-feira.

10.000 ataques aéreos
Desde o início da guerra, o exército israelense realizou “cerca de 10.000 ataques aéreos”. No sul da Faixa de Gaza, os ataques têm visado a cidade de Khan Younis e seus arredores.

No domingo, os moradores fugiram da cidade, a pé, amontoados em carrinhos ou em carros, com seus pertences empilhados no teto, de acordo com imagens divulgadas pela AFP.

Os hospitais no sul da Faixa de Gaza estão sobrecarregados de feridos e as reservas de combustível para acionar os geradores estão no fim.

No Hospital Nasser, em Khan Younis, a situação é caótica. “Faltam palavras para descrever os horrores que se abatem sobre as crianças aqui”, disse James Elder, porta-voz do Unicef no local, em um vídeo no domingo. “Vejo muitas crianças chegando entre as vítimas”, disse ele mais cedo no X.

Operações no sul de Gaza
Em visita aos reservistas, Herzi Halevi, o chefe do Estado-Maior israelense disse que o Exército continua com “sucesso” suas operações no sul da Faixa de Gaza.

Na manhã desta segunda-feira, as tropas de Israel também lançaram operações em várias áreas da Cisjordânia ocupada, incluindo Jenin, onde cerca de 30 veículos militares estão mobilizados, de acordo com a agência de notícias palestina Wafa.

Sem questionar o direito de seu aliado de “se defender” contra o Hamas, os Estados Unidos alertaram Israel contra o aumento do número de vítimas civis.

“Muitos palestinos inocentes foram mortos”, insistiu a vice-presidente Kamala Harris no fim de semana, se dizendo preocupada com imagens de Gaza e pedindo a Israel que “faça mais para proteger civis inocentes”.

A guerra entre Israel e o Hamas também tem consequências para os Estados Unidos, que notaram um aumento nos ataques contra seus soldados, bases ou aliados no Oriente Médio, exceto durante a trégua de uma semana, de 24 de novembro a 1º de novembro.

Um contratorpedeiro dos Estados Unidos abateu três drones Mar Vermelho, depois que navios comerciais na região foram alvo de ataques do Iêmen, no domingo. Washington denunciou “uma ameaça direta” à segurança marítima.

*Opera Mundi

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Fepal: Genocídio na Palestina é maior do que o da 2ª Guerra Mundial; são quase 11 mil crianças assassinadas — 230 por dia

Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal)*

Em 50 dias de matança na Palestina, a palavra genocídio saiu da masmorra dos especialistas no assunto ou dos solidários ao povo palestino e ganhou noticiários massivos, esteve nas locuções de líderes mundiais, de presidentes de países relevantes, dentre estes o brasileiro, do secretário-geral da ONU e do Papa Francisco.

Era vetado falar em genocídio quando o tema é a ocupação colonial israelense e sua limpeza étnica sistemática e continuada na Palestina.

No Brasil foram necessários alguns dias até que a menção ao genocídio tomasse corpo. O empurrão final veio do Presidente Lula.

Em 7 de outubro e nos dias seguintes, talvez só a Federação Árabe Palestina do Brasil tenha mencionado o genocídio em curso e, seguramente, até mesmo com a divergência de muitos dos solidários à Palestina.

A dimensão da barbárie israelense, entretanto, não podia mais ser escondida e passamos a ter companhia. Diante disso, os defensores do regime israelense se viram obrigados a lidar com esta nova e inesperada realidade.

Como sempre, EUA e seu tutelado agressor negaram o genocídio e, para variar, acusaram de “antissemitismo” (antijudaísmo) os locutores deste novo “inconveniente” aos “eleitos” e alegadamente herdeiros da “terra prometida”.

A grandiosidade da atual carnificina humana, que não escapa nem mesmo a entendimentos anêmicos sobre o tema, impôs à Comunidade Internacional esta constatação e a ousadia de dizê-lo: é genocídio monumental, equivalente – e até superior – aos grandes da história, dentre eles o havido durante a 2ª Guerra Mundial.

Em Gaza e na Cisjordânia, em menos de 50 dias, foram assassinados mais 15 mil palestinos.

Considerando os 7 mil desaparecidos sob os escombros, temos mais de 22 mil mortos.

Os apressados se aterão à ordem de grandeza dos 22 mil mortos, insignificantes perto dos 70 milhões de mortos para a 2ªGM. Mas a conta é diferente e parte dos 465 mortos ao dia numa população de apenas 2,2 milhões, encarcerada num campo de concentração de 365 km².

Como hoje, 29 de novembro, é o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, instituído pela ONU em 1977 como mea-culpa por ter aprovado, na mesma data, mas em 1947, a recomendação da partilha da Palestina, origem dos crimes de lesa-humanidade que duram até os dias atuais, vale a pena uma comparação entre os dois momentos históricos.

Naquela quadra histórica, em 4 anos de limpeza étnica na Palestina, iniciada em 18 de dezembro de 1947, que levou os colonos euro-judeus a tomarem pela força 78% do território palestino e dele expulsarem mais de 85% da população palestina originária, formam mortos, conforme dados oficiais, 15 mil palestinos. Algo ao redor de 10 mortos ao dia, em média. Agora foram 468 mortos ao dia, isto é, quase 47 vezes mais.

Numa comparação com a 2ª GM, novamente o horror na Palestina é maior.

Durante os 6 anos que durou esta guerra planetária, se na Europa (e apenas na Europa) de hoje, cuja população é de 752 milhões de habitantes, fosse aplicada a escala genocida israelense atual na Palestina, haveria 158 mil mortes ao dia. Nos quase 50 dias de orgia assassina israelense na Palestina, seriam 7,5 milhões os europeus assassinados.

E se a duração desta matança fossem os 6 anos que durou a 2ª GM, os cadáveres europeus seriam contados em 347 milhões, 46% da população europeia atual, ou 5 vezes mais que as vidas eliminadas entre 1939 e 1945.

Naqueles 6 anos, os mortos representaram 3% da população mundial. Em eventual repetição desta guerra em nossos dias, e na escala de mortes havida na Palestina atualmente, teríamos ceifadas 4,5% das vidas do planeta.

GENOCÍDIO DE CRIANÇAS

A atual matança na Palestina já é descrita como o genocídio das crianças, e não sem razão.

Conforme os dados oficiais disponíveis, as crianças assassinadas na Palestina são 6.150, enquanto as desaparecidas sob os escombros, quase nenhuma com vida, somam 4.700. Ou seja: quase 11 mil crianças assassinadas.

São monumentais 230 crianças palestinas assassinadas ao dia! Quase o dobro das 127 mortas ao dia durante a 2ª Guerra Mundial. Ou 81% mais crianças palestinas mortas hoje, por Israel e EUA, do que foram assassinadas na 2ª GM.

Se o genocídio da infância palestina atualmente em curso ocorresse na Europa destes dias, teríamos 70 mil crianças europeias mortas ao dia, que se tornariam 3,3 milhões nos quase 50 dias do genocídio da infância palestina.

Em um ano, passariam a 25 milhões e, em eventual repetição da 2ª GM hoje, teríamos 153 milhões de crianças assassinadas na Europa.

Só para termos um dado comparativo com outro evento bélico em curso, a guerra entre Rússia e Ucrânia, países que que somam quase 200 milhões de habitantes (100 vezes a de Gaza), não morreram ainda 100 crianças em quase 2 anos de conflito armado entre dois grandes exércitos.

Tão assustador quanto são os números da ONG Save the Children, que informa que desde 2019 morreram, anualmente, em todos os conflitos armados em todo o mundo (8 bilhões de habitantes, 3.600 vezes a população de Gaza), menos que 3 mil crianças, em média, anualmente.

ESTERILIZAÇÃO MASSIVA

Além da inédita matança de crianças palestinas, a indústria sionista da morte também mirou as mulheres palestinas: foram 4.500, considerando as desaparecidas sob os escombros, assassinadas, ou 96 ao dia.

Nesta escala, para a Europa, teríamos 33,1 mil mulheres assassinadas ao dia, que alcançaria 1,6 milhão no curso do mesmo período genocida das mulheres palestinas. Em um ano, 12,1 milhões europeias teriam sido eliminadas. E numa eventual reprise dos horrores da 2ª GM nestes dias, os corpos de 72,5 milhões de mulheres inundariam as ruas das metrópoles europeias em ruínas.

A combinação macabra da eliminação em escala industrial das vidas das crianças e das mulheres palestinas, como nunca registrado, indica algo claro: a intenção de Israel e EUA de exterminar o povo palestino.

Esta escala genocida em termos totais, com mais de 22 mil mortes, em poucas semanas, numa população de apenas 2,2 milhões, já é suficiente para, quando pouco, evidenciar um genocídio.

Mas quando falamos dos assassinatos massivos de crianças e mulheres, estamos diante da intencionalidade de atingir esta parte da demografia palestina para que esta sociedade perca sua capacidade reprodutiva.

Ou seja: colapsem suas possibilidades se seguir se reproduzindo e, com isso, entre num processo de declínio populacional. É uma espécie de esterilização coletiva da sociedade palestina.

Ao eliminarem-se os ventres dos quais virão à luz as gerações futuras, bem como a geração já saída deles, estamos diante de uma ação claramente genocida.

Se todas as ações na Palestina são claramente genocidas, desde ao menos dezembro de 1947 – para não falar dos planos sionistas remontados ao menos a 1896, quando do lançamento da obra O Estado Judeu, em que Theodor Herzl, o pai do sionismo político, preconiza um estado exclusivamente judeu em alguma parte do mundo, considerando a Palestina dentre eles, espaço no qual a população originária teria que ser eliminada para ser substituída por nova demografia euro-judaica –, isto ganha novas tonalidades nestes dias.

À luz disso, estamos diante de um regime – e sua elite dirigente, estatal e social – que promove genocídio, o primeiro televisionado da história, ofendendo ainda mais nossas consciências.

Não há lugar para este regime na Comunidade Internacional, razão pela qual Israel deve ser excluído da ONU, bem como deve o mundo civilizado romper todas as relações com este estado, ademais acusado, em relatórios robustos, de promover o Apartheid em toda a Palestina. O mundo civilizado exige isso.

Antes que seja tarde demais para a Palestina e para a humanidade.

 

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Israel lança onda de ataques a Damasco. Mísseis são abatidos por sistemas russos de defesa

Quatro caças F-16 da força aérea israelense atacaram os arredores de Damasco, na Síria, nas primeiras horas deste sábado (2), e os sistemas de defesa aérea da Síria conseguiram abater a maioria das bombas.

A confirmação veio do contra-almirante Vadim Kulit, vice-chefe do Centro de Reconciliação de Lados Opostos na Síria, do Ministério da Defesa da Rússia, acrescentando que não houve vítimas.

Ele especificou que os ataques vieram a partir do espaço aéreo das Colinas de Golã ocupadas, utilizando bombas aéreas guiadas.

“As forças de defesa aérea em serviço das forças armadas sírias derrubaram a maioria das bombas aéreas com os sistemas russos Pantsir-S e Buk-M2E”, disse o contra-almirante, segundo a agência Sputnik.

Houve numerosos ataques israelenses na Síria desde o início da guerra de Israel contra os palestinos, começando em 7 de outubro.

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Venezuelanos vão às urnas em referendo para reivindicar Essequibo, território em disputa com a Guiana

Tensão entre Caracas e Georgetown aumentou nos últimos dias, com participação de militares e acusações mútuas.

Mais de 20 milhões de venezuelanos são esperados em quase 15 mil centros de votação espalhados pelo país neste domingo (03/12) para a realização do referendo que pretende reivindicar a soberania da Venezuela sobre o território do Essequibo, que está em disputa com a Guiana.

A votação, convocada pelo governo do presidente Nicolás Maduro, servirá para perguntar aos venezuelanos se estão de acordo com as decisões de Caracas sobre como lidar com a contenda territorial. Serão apresentadas cinco perguntas às quais os eleitores poderão responder ‘sim’ ou ‘não’.

Com 160 mil km² e cerca de 120 mil habitantes, o território do Essequibo está localizado na fronteira entre a Venezuela e a Guiana e é objeto de disputa desde o século 19. No entanto, os atritos entre Caracas e Georgetown pelo controle da região se acentuaram após a descoberta de grandes poços marítimos de petróleo da costa essequiba.

O governo guianês entregou concessões à empresa norte-americana Exxon Mobil para explorar as reservas, o que levou a um crescimento vertiginoso do PIB da Guiana e à descoberta de novos poços pela companhia dos Estados Unidos. Segundo as projeções da empresa, há 11 bilhões de barris de petróleo sob as águas do Essequibo e a Guiana deve ultrapassar a produção de 1 milhão de barris por dia até 2027.

As operações desagradaram a Venezuela, que alega que as perfurações não poderiam ser realizadas de maneira unilateral pela Guiana em um mar que ainda não está delimitado por se tratar de águas que banham um território em disputa. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chegou a acusar o governo guianês de trabalhar pelos interesses estadunidenses e da Exxon Mobil.

As tensões entre os países escalaram ainda mais após Caracas anunciar a realização do referendo deste domingo. O engajamento das Forças Armadas venezuelanas na campanha eleitoral pelo “sim” e os exercícios militares realizados pelo exército guianês em parceria com tropas estadunidenses na fronteira elevaram a temperatura e levantaram a possibilidade de confrontações bélicas na região.

Além disso, a legitimidade do referendo é rechaçada pela Guiana, que recorreu à Corte Internacional de Justiça (CIJ) – tribunal da ONU localizado em Haia – para tentar barrar a votação, dizendo se tratar de “uma ameaça existencial” por supostamente ter intenção de anexar o Essequibo, a depender do resultado obtido.

Quais são as perguntas do referendo sobre o Essequibo?
As preocupações do governo guianês dizem respeito, especificamente, à quinta pergunta presente no referendo, que prevê “a criação do estado Guiana Essequiba e que se desenvolva um plano acelerado para a atenção integral à população atual e futura deste território que inclua entre outros o outorgamento de cidadania e cédula de identidade venezuelana, conforme o Acordo de Genebra e o Direito Internacional, incorporando em consequência dito estado ao mapa do território venezuelano”.

Outros pontos presentes na votação são contestados pela Guiana, como o que está presente na primeira pergunta, que visa o rechaço ao chamado “Laudo Arbitrário de Paris”, assinado em 1899. O documento foi elaborado por um grupo independente de cinco juristas que decidiu que os domínios sobre o Essequibo eram do Reino Unido, já que naquele momento a Guiana era uma colônia britânica. 50 anos depois, em 1949, a Venezuela alegou que o laudo deveria ser anulado por conta de um suposto conluio entre advogados britânicos e um dos juízes.

O governo guianês alega, até hoje, que o Laudo de Paris é o único documento válido para resolver a disputa, o que daria todo o controle do Essequibo a Georgetown. Já Caracas se apega ao chamado Acordo de Genebra, documento assinado meses antes da independência da Guiana pelas três partes – venezuelana, britânica e guianesa – no qual o Reino Unido reconhece a reclamação da Venezuela sobre o território e se compromete a negociar diretamente com o país na busca por uma solução.

A negociação direta prevista pelo acordo faz com que a Venezuela mantenha a posição de não reconhecer a jurisdição do CIJ sobre o tema, principalmente após a Guiana levar o caso ao tribunal de Haia em 2018. O tema das legitimidades de documentos e tribunais está presente nas perguntas dois e três, que questionam se o eleitor apoia a decisão do governo venezuelano de apenas reconhecer o Acordo de Genebra e não considerar o Tribunal de Haia apto para julgar a disputa.

Já a quarta pergunta trata da oposição “à pretensão da Guiana de dispor unilateralmente de um mar por delimitar, de maneira ilegal e em violação do direito internacional”.

‘Sim’ é consenso nacional, até entre opositores
O apoio ao referendo sobre o Essequibo se tornou o tema dominante da vida política da Venezuela desde que foi anunciado, no final de outubro. Apesar da proposta partir do governo, diversos partidos da oposição já manifestaram apoio à votação e devem mobilizar suas bases neste domingo para votar.

Organizações civis, sindicatos e movimentos populares também se somaram à campanha “o Essequibo é nosso”, realizando atos nas principais cidades do país semanas antes da votação. Segundo analistas, o resultado deve ser uma esmagadora vitória do ‘sim’ em quase todas as perguntas.

No entanto, a ultraliberal Maria Corina Machado, escolhida para ser a candidata da oposição de direita nas eleições presidenciais de 2024, se mantém contrária ao referendo. A ex-deputada reconhece a soberania venezuelana sobre o território em disputa, mas alega que a CIJ seria o foro ideal para resolver o conflito.

*Brasil de Fato

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ONGs acusam Israel de roubar órgãos de cadáveres palestinos em Gaza

Israel também retém cadáveres de palestinos como moeda de troca, recusando devolução dos corpos às famílias das vítimas para negociações futuras.

Ao negar o direito de enterrar entes queridos, Israel inflige a angústia do luto sem fim. Uma prática de décadas que ONGs de defesa dos direitos humanos descrevem como uma tentativa de controlar e punir as famílias palestinas. Muitos corpos estão enterrados em valas comuns como indigentes e outros estão esquecidos congelados em necrotérios.

As autoridades israelenses afirmam que esta política é necessária para evitar supostos tumultos e protestos durante os funerais de palestinos mortos por Israel. O regime israelense também usa a mesma tática de tratamento com mortos que são suspeitos de terem participado de ataques contra Israel, usando os seus cadáveres como barganha de negociações com líderes palestinos.

Israel é o único país do mundo que tem uma política de confisco e moeda de troca de restos mortais humanos, o que constitui uma grave violação do direito internacional e dos direitos humanos.

O diretor do hospital Al-Shifa, a maior unidade de saúde de Gaza, recentemente atacada e invadida pelo exército israelense, afirma que as IDF sequestraram corpos palestinos.

O número estarrecedor de mortos na Faixa de Gaza devido à invasão militar de Israel colapsou hospitais e cemitérios, fazendo com que palestinos fossem enterrados em valas comuns. À luz desta selvageria, a recusa de Israel em devolver os corpos dos mortos, deu contornos ainda mais sombrios a esta guerra.

Em junho de 1967, durante a Terceira Guerra Árabe-Israelense, Israel ocupou a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza. Neste contexto, militares israelenses enterraram soldados árabes e prisioneiros de guerra em valas comuns. Estes mortos não foram identificados até hoje, e as suas famílias foram condenadas ao luto e à procura incessantes.

Os cemitérios de números são locais dentro de Israel em zonas militares fechadas. Estas sepulturas anônimas, são identificadas por números. Ao longo das décadas, o exército continuou enterrando palestinos nestes cemitérios ou reteve os corpos até que as famílias aceitassem várias restrições para os respectivos funerais. O ‘Estado’ de Israel argumenta que manifestações em funerais representam uma ameaça à segurança nacional.

De 2007 a 2015, Israel interrompeu a prática de reter os corpos. Nesse ínterim, surgiram outras revoltas palestinas, muitas vezes referida como a “intifada das facas”. Durante este período, os palestinos atacaram esporádica e individualmente militares, policiais e colonos com facas e armas artesanais. Centenas de palestinos foram mortos e os seus corpos foram frequentemente confiscados às famílias.

Desde 2015, os corpos destes palestinos assassinados têm sido mantidos em gavetas do necrotério no Instituto Forense Abu Kabir, perto de Tel Aviv. O total é agora de 135, e os corpos que foram devolvidos às famílias foram sujeitos a condições rigorosas.

Em alguns casos, as famílias são informadas de que os seus entes queridos mortos devem ser enterrados longe das suas casas. Em 2018, o governo israelense, pela primeira vez, aprovou uma resolução que afirmava que os corpos dos palestinianos associados ao Hamas e à Jihad Islâmica, ou daqueles envolvidos em ataques particularmente dramáticos contra israelitas, deveriam ser retidos. De acordo com o grupo de direitos humanos israelense B’Tselem, manter os corpos dos palestinos como moeda de troca para futuras negociações é uma prática antiga em Israel.

As famílias dos falecidos também enfrentam uma série de complexidades jurídicas. Sem uma certidão de óbito, as viúvas não conseguem seguir em frente com as suas vidas e casar novamente. Se os seus maridos assassinados eram responsáveis pelo sustento da família, a conta bancária fica congelada, deixando as viúvas sem acesso a fundos, enquanto os direitos de herança também são negados. Esta prisão post mortem de corpos foi entendida pelos palestinos como sendo uma criminalização para além da morte. Os palestinos se referem a estes cadáveres detidos por Israel como “mártires detidos” ou “prisioneiros mártires”.

Colhendo órgãos

Há relatos antigos de corpos palestinos serem devolvidos faltando órgãos das vítimas. Em 2015, numa carta ao embaixador britânico Matthew Rycroft, Ex-representante permanente do Reino Unido na ONU, o principal delegado palestino nas Nações Unidas, Riyad Mansour, descreveu o que disse ser a colheita de partes de corpos de palestinos mortos pelas forças israelenses.

No cemitério dos números, há algo de obscuro, visto que muitos dos corpos que deveriam estar lá, não estão. Em outras covas há partes misturadas de diferentes indivíduos. A ausência destes corpos é mais uma evidência que dá suporte aos relatos de longa data de que os cadáveres palestinos podem ter sido usados para tráfico de órgãos ou doados a universidades de medicina israelenses para que os estudantes treinassem nos corpos.

O ex-chefe do Instituto Forense Abu Kabir, chegou a admitir que o exército havia retirado pele, córneas, válvulas cardíacas e ossos dos corpos de palestinos e trabalhadores estrangeiros durante a década de 1990. A prática muitas vezes ocorria sem o consentimento dos familiares do falecido. Muitos palestinos também alegaram que os corpos de jovens que foram apreendidos na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza foram devolvidos às suas famílias com órgãos desaparecidos.

O EuroMed Human Rights Monitor disse no dia 26 de novembro que tinha “preocupações” sobre o possível roubo de órgãos de cadáveres palestinos, na sequência de relatos de profissionais da saúde em Gaza que examinaram alguns corpos depois de terem sido liberados por Israel. Os médicos teriam encontrado falta de órgãos vitais, como fígado, rins e coração, além de córneas, o que o EuroMed Monitor chamou de evidência de possível roubo de órgãos. Eles também alegaram que Israel exumou e confiscou cadáveres de uma vala comum que foi cavada há mais de 10 dias num pátio em al-Shifa.

No livro Over Their Dead Bodies, da médica israelense Meir Weiss, diz que órgãos foram retirados de palestinos mortos entre 1996 e 2002 e utilizados em investigação médica em universidades israelenses e transplantados para corpos de pacientes israelenses.

Uma polêmica investigação de uma emissora de televisão israelense em 2014 incluiu confissões de autoridades de que a pele foi retirada dos corpos de palestinos e trabalhadores africanos mortos para tratar israelenses, como soldados com queimaduras.

Israel é considerado o maior centro de tráfico global de órgãos humanos, de acordo com uma investigação de 2008 da rede norte-americana CNN. A Quarta Convenção de Genebra de 1949, que Israel não ratificou, exige que os militares respeitem a dignidade dos mortos, incluindo a prevenção da destruição, mutilação ou qualquer tratamento desrespeitoso dos seus corpos. Para os palestinos, os cemitérios são espaços sagrados que não são apenas um lugar para lamentar os mortos, mas também um registro da história e pertencimento geracional e geográfico.

*Gerciane Oliveira/Opera Mundi

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“Extermínio de crianças por Israel é nazista. Repito, NAZISTA”, diz presidente colombiano

Gustavo Petro se referia a um ataque israelense em Deir el-Balah, na Faixa de Gaza.

O presidente colombiano, Gustavo Petro, voltou a fazer duras críticas a Israel por conta do bombardeio indiscriminado contra a Faixa de Gaza, qalificando as ações do regime como nazistas.

“Eles dizem que isso não é nazista. Mesmo que a consciência ocidental não goste destes fatos, o extermínio de 5.300 meninos e meninas palestinos é nazista, repito NAZISTA”, escreveu Petro na rede social X.

A postagem faz menção a um ataque israelense em Deir el-Balah, no centro de Gaza. Quase 200 pessoas foram mortas em menos de dois dias desde o reinício dos ataques de Israel a Gaza, segundo a emissora Al Jazeera.