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Livro de general Villas Bôas é um histórico lixo golpista

Justificativa para tuítes que ameaçaram o Supremo está assentada numa mentira factual.

O general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, militar mais poderoso da Terra, enfrentou as delinquências de Donald Trump recorrendo à Constituição americana. Por aqui, um general da reserva resolve narrar, em tom que aspira ao pudoroso, a ameaça golpista que fez para intimidar o Supremo.

No dia 3 de abril de 2018, véspera do julgamento de um habeas corpus impetrado pela defesa de Lula, o então comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, escreveu no Twitter: “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem d e repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”.

Os que dele discordavam não eram “homens de bem”. Comandar tanques corresponderia a ter razão. O general ainda distinguiu os que pensavam “no bem do País” dos que estariam preocupados “com interesses pessoais”. Adivinhem em que lado ele se via. A propósito: quantas divisões tinha o adversário?
Lembro: cinco dos seis ministros que votaram contra a concessão do habeas corpus foram indicados por Lula ou por Dilma. Três dos cinco favoráveis, por outros presidentes.

Villas Bôas concedeu um depoimento a Celso Castro, diretor do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da FGV. A fala está condensada no livro “General Villas Bôas: Conversa com o Comandante”.

Não é exatamente novidade. O próprio militar já havia tratado do assunto em entrevista, mas fica ainda mais claro desta feita que seus tuítes ameaçadores reproduziam o pensamento do Alto Comando do Exército —ao menos é isso o que diz. Não havendo contestação, assim é. Querem passar um paninho na biografia do general e nas tentações golpistas?

Então fiquem com a versão de que, ao mandar um ultimato ao Supremo, Villas Bôas evitou coisa pior —quem sabe uma tentativa de quartelada, à revelia do Alto Comando, estimulada por pijamas inflamados. Conhecemos, desde Castello Branco, a cascata do militar honrado, que resiste à quebra da hierarquia, mas acaba cedendo a contragosto… A versão vale uma dose de cloroquina contra o coronavírus, ministrada por Eduardo Pazuello, general da ativa.

Uma mentira essencial constitui o pano de fundo do relato de Villas Bôas: a de que Lula poderia concorrer à Presidência se deixasse, então, a cadeia. Falso. Tivesse acontecido, tratar-se-ia apenas de cumprir o que dispõe o inciso LVII do artigo 5º da Constituição.

O petista continuaria inelegível segundo a Lei da Ficha Limpa. Ainda que elegível fosse, a suposta legitimidade da intervenção, à qual o militar pretende emprestar dimensão constitucional, emana de que título legal?

Estou enganado, ou ele pretende legitimar com as baionetas a leitura do artigo 142 da Constituição no esforço de impedir o cumprimento de disposição do artigo 5º, que é cláusula pétrea?

Os militares teriam seus motivos para tanto rancor: estavam revoltados com as conclusões da Comissão da Verdade —jamais um golpista sofreu qualquer prejuízo pessoal–; viam a Amazônia submetida à cobiça de organizações estrangeiras, consideravam a demarcação de terras indígenas um risco à soberania…

Pouco me importam os fantasmas que povoam a imaginação criativa do golpismo. Fato: Lula foi o presidente que mais investiu no reaparelhamento das Forças Armadas desde a redemocratização. E desafio que se evidencie o contrário. A ideia de que se forjou um espírito antipetista num ambiente de penúria e de política entreguista (ao onguismo internacional) vale uma dose do vermífugo do astronauta.
Não tenho apreço por quem me ameaça. Os tuítes de Villas Bôas marcaram o engajamento explícito das Forças Armadas na candidatura de Bolsonaro. Um dos generais do poder organizou uma lista de compra de votos para eleger o presidente da Câmara. Outro, da ativa, poderá, no fim de fevereiro, discursar sobre 250 mil cadáveres.

Seriam esses os “anseios dos cidadãos de bem?” O depoimento de Villas Bôas tem óbvio interesse histórico. Merece um lugar na prateleira do lixo golpista.

*Reinaldo Azevedo/Folha

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Vídeo – Poste mija no cachorro: Mainardi é citado em delação da Odebrecht

Diogo Mainardi é citado por executivo da Odebrecht em delação envolvendo Aécio Neves.

Em seu depoimento, ex-vice presidente da Odebrecht Henrique Valladares revelou jantar suspeito entre o jornalista e o senador tucano.

Em seu depoimento, ex-vice presidente da Odebrecht Henrique Valladares revelou jantar suspeito entre o jornalista e o senador tucano

Diogo Mainardi, responsável pelo site O Antagonista, foi citado pelo ex-vice presidente da Odebrecht Henrique Valladares em delação premiada envolvendo o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Segundo o executivo, Mainardi foi visto jantando com o tucano no restaurante Gero, no Rio de Janeiro, junto também com o empresário Alexandre Accioly, em um encontro em que teriam sido negociadas propinas da empreiteira.

O jornalista negou o fato. “Isso é mentira. O jantar nunca ocorreu. Cruzei com os dois no Gero – mais de uma vez – e sempre os cumprimentei. É evidente que eu não teria o menor problema em admitir um jantar com Aécio Neves e Alexandre Accioly. Mas, como se trata de uma mentira, serve de alerta para a Lava Jato. Esse delator inventa coisas”, escreveu em seu site.

Segundo Valladares, o senador recebeu R$ 50 milhões da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, com a maior parte de repasses feitos no exterior, em acordo no qual as empreiteiras buscavam defender interesses em hidrelétricas. Ele afirma que os pagamentos dos R$ 30 milhões que couberam à Odebrecht foram feitos em várias transferências mensais, entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões, em contas de outras pessoas, empresas e trusts fora do país.

*Com informações da Forum

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Aparece outra empresa da família de Aécio Neves em paraíso fiscal que a Lava Jato não viu

Em matéria da revista Piauí, documentos inéditos revelam outra empresa da família de Aécio Neves em paraíso fiscal.

A beneficiária é a própria mãe de Aécio, numa holding em Luxemburgo, desde 2018.

Além do elo com duas offshores já conhecidas da Lava Jato, sua mãe é beneficiária, no exterior, de uma terceira empresa, cujos ativos chegam perto de R$ 4 milhões, em Luxemburgo, paraíso fiscal europeu.

Ao contrário das outras duas offshores, sediadas em Liechtenstein e no Panamá, a empresa em Luxemburgo nunca apareceu nas apurações do Ministério Público Federal sobre Aécio, que vem sendo investigado por corrupção em um inquérito e responde a uma ação penal, também por corrupção.

Detalhe, não foi a Lava Jato de Moro, mesmo com seus braços fora do país, que descobriu isso. Os dados foram obtidos pelo jornal francês Le Monde e pelo do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), consórcio internacional de jornalismo investigativo.

O motivo da Lava Jato não descobrir nada de Aécio fora do país, a foto em destaque explica.

*Da redação

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Mesmo de forma clandestina, mantendo relação com a CIA e com a Suíça, mensagens mostram que Moro nunca teve prova contra Lula

Mesmo trabalhando de forma clandestina com procuradores da Suíça, CIA, e Departamento de Justiça Americano, a Lava Jato não conseguiu encontrar um tostão furado de Lula em lugar nenhum do planeta. Teve que apelar pra muquifo, horta, pedalinho, cuecas e meia sola em sítio. Isso é o que está escancarado nas mensagens dessa corriola de Curitiba.

Segundo matéria de Jamil Chade, no Uol, procuradores da Lava Jato pediram e receberam informações da Suíça sobre a estrutura de offshores mantidas pela Odebrecht naquele país, antes de fazer reuniões com suspeitos de corrupção que eram investigados. O repasse dos dados —realizado por meio de aplicativo de mensagens— consta em material apreendido na Operação Spoofing sob a guarda do STF (Supremo Tribunal Federal).

Nesta quarta-feira (10), baseado na acusação de Moro, Mainardi, em seu ataque de cólera contra Lula, vomita que Lula estava numa suposta planilha da Odebrecht como destinatário de 40 milhões. Por que isso não aparece em lugar nenhum, nem de maneira clandestina nas relações escusas entre Lava Jato, MP suíço, CIA e etc.?

Esses caras se uniram até ao Curupira e ao Saci-pererê para arrumar uma única provinha contra Lula, mas não conseguiram rigorosamente nada, mesmo mantendo escuta de Lula e de seus advogados.

Então, o que sobrou? Uma nota muxoxa de Moro depois de tomar de 4 x 1 do STF na tentativa de barrar as mensagens que estão liquidando a Lava Jato, além de uma cusparada em seu caixão político dada por Gilmar Mendes.

Na nota, duas coisas chamam atenção: Moro acusa o hacker de roubar e adulterar as mensagens. Depois, diz que as mensagens não retratam fraude processual. Então, ele quis dizer que o hacker roubou as mensagens e adulterou em favor da Lava Jato?

Se nenhuma mensagem de Moro com os procuradores retrata fraude processual, como afirma em nota o próprio Moro, por que ele queria que as mensagens fossem cassadas pelo STF?

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Vídeo: Vivi para ver Haddad tratorar Mainardi em pleno Manhattan Connection

Haddad deu sorte, com royal straight flush na mão, pegou Mainardi num dos seus piores dias, pois estava ainda realmente destrambelhado com o enterro da Lava Jato, promovido ontem pelo STF, quando Gilmar Mendes não esqueceu nenhum detalhe da ardilosa arquitetura criminosa montada por Moro na hora de dar o seu voto. Na verdade, ele sapateou em cima do caixão de Moro.

E foi sob esse impacto que Mainardi, o novo cachorrinho de Moro, quis fazer gracejos com a cara de Haddad, bancando o cachorro estridente sem conseguir trazer nada minimamente inteligente para tentar encurralar Haddad.

Haddad, calmamente, esperou aquele monumento de idiotices seguir com suas agressões e quando, por fim, ele pôde falar, realçou na cara de Mainardi o sabor amargo de quem tinha sido atropelado, de quem tinha sentido, ao vivo e a cores, uma sucuri engolindo um rato.

Acho que ele não imaginava tamanha surra, pelo menos não foi o que suas sobrancelhas expressaram, arrearam, mesmo tentando erguê-las com os músculos da face.

Lucas Mendes, que é outro da mesma cepa de Mainardi, teve que intervir, com uma gongada para ver se salvava o idiota do Antagonista da lona.

Vale a pena assistir ao vídeo abaixo a coça que Haddad dá em Mainardi:

*Da redação

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General Villas Bôas, um Bolsonaro que sabe falar Português

O livro recém-lançado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) a partir de depoimento concedido em 2019 pelo general reformado e ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas deve ser recebido como um relato unilateral, sem espaço para o contraditório.

Como em outros livros produzidos pela FGV a partir de depoimentos de oficiais militares relevantes no país, a obra recorre à história oral, metodologia usada pelo seu CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) desde os anos 70.

Entrevistas assim não costumam trazer contestações e perguntas mais duras. Estão mais para um bate-papo amistoso, como indica o próprio título de “Villas Bôas: conversa com o comandante” (Editora FGV, 2021, 244 págs).

É importante ressaltar que o depoimento, concedido ao longo de cinco dias entre agosto e setembro de 2019, num total de 13 horas, enfrentou séria limitação. O general é portador da ELA, doença degenerativa do sistema nervoso, e na época se expressava e respirava com dificuldade, embora a capacidade intelectual estivesse totalmente preservada, como frisa o entrevistador, o professor e pesquisador Celso de Castro, autor de diversos livros sobre a temática militar, que atua há mais de três décadas no CPDOC da FGV.

Não era o objetivo do livro. Mas a ausência de contrapontos à narrativa do general deixa no ar ideias que ele apenas apresenta mas não desenvolve nem esclarece.

Dito isso, é um livro que agrega ao menos duas informações. Primeiro, temos um alto militar às voltas com suas grandes contradições. Em segundo lugar, mesmo que não reconheça e mesmo negue, Villas Bôas acaba por revelar como a democracia vive no país em um arranjo extremamente frágil, enquadrada pelas posições de um grupo de oficiais militares que acredita numa agenda política ultrapassada, quando não bizarra, banhada em teorias conspiratórias e uma compreensão distorcida da realidade.

Conversas com candidatos sobre “projeto nacional”

As contradições são muitas. O general defende, por exemplo, que os quartéis fiquem longe da política, mas em seguida relata uma conversa que manteve com o então vice-presidente Michel Temer antes do impeachment de Dilma Rousseff – na qual Temer teria indagado como o Exército reagiria em caso de impeachment – e como, depois, uma indicação sua levou à nomeação do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) no governo Temer. Incoerências como essas aparecem e morrem no livro sem maiores debates. Para percebê-las, o leitor precisa ir e voltar na obra a fim de colocar a fotografia dentro do filme inteiro.

Em outro trecho, o general reitera que sua “preocupação era grande, talvez excessiva, de que a política pudesse voltar a entrar nos quartéis”. Diz enxergar na caserna, aliviado, “uma postura apolítica e totalmente profissional”.

Logo em seguida, contudo, o general narra: “Com vistas nas eleições, convidei os candidatos para conversar. Essa rodada de entrevistas aconteceu antes que as candidaturas fossem oficializadas. Nelas eu expunha temas relativos à importância de reconstrução de um projeto nacional. Discorria sobre a Amazônia, os problemas e as soluções cabíveis e, por fim, tratava de defesa, das Forças Armadas e de questões importantes que lhes dizem respeito. Minha expectativa de que esses assuntos fossem discutidos por ocasião dos debates eleitorais acabaram frustradas [acabou frustrada]. Nos poucos que ocorreram, esses temas não foram provocados pelas emissoras.”

Em outro trecho, afirma que “Bolsonaro deu ênfase ao combate ao politicamente correto, do qual a população estava cansada. A Globo, o reino do politicamente correto, foi o mais importante cabo eleitoral do presidente eleito”.

Em uma frase é o comandante técnico avesso à política, na outra se reúne com vários políticos dentro da instituição e debate supostos projetos nacionais. Afirma uma “postura apolítica”, mas na sequência engole idiotices contra a mídia disseminadas por propagandistas incendiários de extrema-direita.

Villas Bôas não vê problema em um político populista que mente sobre um falso problema no seu país com o objetivo de ser eleito; errada está a Rede Globo. É uma abordagem primária sobre a sociedade brasileira, que elege um meio de comunicação como foco dos problemas nacionais, recurso frequentemente usado por bolsonaristas e pelo próprio Bolsonaro.

Tuíte que pressionou STF foi discutido previamente na alta cúpula do Exército

As perguntas são muitas: cabe ao comandante do Exército exercer o papel de articulador de programas de candidatos a cargos eletivos? Está autorizado, por algum trecho da Constituição, a ajudar na elaboração de planos de governo alheio ou cobrar que certo candidato debata determinado assunto em algum lugar? Quem lhe concedeu esse poder?

Chegamos ao episódio do seu tuíte de abril de 2018, pelo qual praticamente exigiu dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que dessem uma decisão contrária a um habeas corpus em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O general revela, no livro, que o conteúdo do tuíte foi previamente discutido nos altos escalões do Exército. Um rascunho passou por várias mãos, dos integrantes do Alto Comando aos “comandantes militares de área”. O general repetiu o que já havia dito, com outras palavras em entrevista anterior, que “tínhamos a consciência de estarmos realmente tangenciando o limite da responsabilidade institucional do Exército”.

Para um brasileiro preocupado com o futuro da democracia, seria preferível que o tuíte tivesse partido da cabeça apenas do comandante, num gesto tresloucado. Nada disso. Agora sabemos que foi fruto de uma autêntica conspiração nos altos escalões dos quartéis, que calcularam todos os termos, efeitos e consequências da mensagem.

É estarrecedor que militares conscientemente afrontem, com propósitos políticos, ministros da mais alta corte do Judiciário. Podemos agora afirmar que há um amplo grupo na oficialidade mais alta que não fica constrangido com o risco de atuar no “limite da responsabilidade institucional”. Uma pergunta: quando voltarão a agir assim de novo?

General reclama de demarcação de terras indígenas em Roraima

Não há nenhuma garantia de que não volte a acontecer, e com desdobramentos ainda mais sérios.

É sob esse prisma que o livro de Villas Bôas pode ser visto como a confirmação de que a democracia no país corre, sim, risco real. É a conclusão inversa do que pretendia o general com seu depoimento aparentemente cândido. Porque às vezes um pedaço da verdade se esconde, mas pode ser achado, exatamente onde não é dito.

Temos que juntar a denúncia do “politicamente correto” da TV Globo, o apoio a Bolsonaro, o tuíte, as conversas políticas de Villas Bôas com as razões de fundo que ele também pontua ao longo do livro. Razões que apontam para dois temas caros aos militares: a teoria conspiratória da “internacionalização” da Amazônia e a ditadura militar.

Por duas vezes Villas Bôas reclama de demarcações de duas terras indígenas em Roraima, diz que supostamente os militares não foram “ouvidos” antes da decisão. Aqui ele fabula, a reclamação é enganosa e infelizmente não foi contraditada na conversa.

No primeiro caso, a Terra Indígena Yanomâmi teve sua portaria de reconhecimento do Ministério da Justiça assinada em 1991 por ninguém menos que o coronel da reserva do Exército Jarbas Passarinho, então ministro da Justiça, um expressivo representante das Forças Armadas, um dos conspiradores do golpe militar de 1964 e um dos políticos e militares mais ouvidos e considerados pelos quartéis ao longo de décadas. A homologação ocorreu pelas mãos do presidente Fernando Collor, em 1992, um expoente da direita brasileira e hoje aliado de Bolsonaro.

É verdade que parte dos oficiais não concordava que a demarcação incluísse faixas de fronteira (ou seja, eram contra um pedaço da demarcação, não toda ela), mas Villas Bôas convenientemente pulou o papel de Passarinho e Collor, que podem ser tudo, menos de esquerda. Para a teoria conspiratória de Villas Bôas que envolve ONGs e países estrangeiros, é importante deixar de lado a elite da direita brasileira.

Demarcação foi debatida durante 16 anos e aprovada pelo Supremo

A segunda demarcação, da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, ocorreu já sob o rito estabelecido pelo decreto 1775/1996, que envolve um amplo direito ao contraditório dentro de um processo administrativo que inclui diferentes instituições e esferas públicas. O parágrafo 8° prevê que “desde o início do procedimento demarcatório até noventa dias após a publicação” do relatório de identificação do território, os Estados e municípios em que se localize a área sob demarcação “e demais interessados” podem se manifestar. Ou seja, o Exército a qualquer momento poderia protocolar manifestações no processo administrativo se entendesse que havia algum problema na demarcação.

A realidade é que poucas demarcações de uma terra indígena foram tão debatidas e analisadas por tantas esferas na história do Brasil do que a da Raposa/Serra do Sol. Ela foi delimitada em 1993 e somente 12 anos depois, em 2005, foi homologada pela Presidência. Mesmo assim, o caso foi parar no STF, que chegou ao requinte de mandar à região um grupo de ministros antes de decidir, em plenário, sobre a ação. A decisão final ocorreu em 2009, 16 anos depois da identificação.

De um lado: onde estavam as Forças Armadas nesse tempo todo? Se queriam ser ouvidas sobre a demarcação, como diz Villas Bôas, o que fizeram a respeito? De outro lado: o general diz que a caserna é “totalmente profissional”, mas não aceita até hoje uma decisão do Supremo Tribunal Federal, pilar do estado democrático de direito? É de novo preocupante, pois demonstra a rejeição de um alto oficial, que mesmo na reserva tem muita influência sobre o seu público, ao controle da constitucionalidade pelo Judiciário.

O fato incontornável e que realmente importa – igualmente não abordado pelo general – é que essas duas terras indígenas jamais trouxeram qualquer problema de soberania nacional ao país. Militares contrários à Terra Indígena Yanomami – um deles, aliás, se chamava Jair Messias Bolsonaro, que chegou a ir à Justiça para barrar a demarcação – diziam que havia risco de uma espécie de insurreição dos Yanomami, momento em que indígenas, ONGs e interesses estrangeiros se juntariam para criar uma “Nação Yanomami”, declarando independência do Brasil.

Essa besteira foi totalmente desmentida pela passagem do tempo. Depois de quase 30 anos da demarcação, nada do que foi previsto aconteceu. Jamais se ouviu da boca do líder yanomami Davi Kopenawa qualquer insinuação nesse sentido. Hoje chamaríamos de fake news, na época era pura mentira mesmo.

General atribui ao governo Bolsonaro um fundo que existe desde 2008

As coisas se complicam mais quando Villas Bôas desenvolve, no livro, seu raciocínio sobre a Amazônia. Ele atribui ao governo Bolsonaro a criação do Fundo Amazônia, que na verdade existe há quase 13 anos. Primeiro ele critica a política ambiental adotada pelo país nas últimas décadas – a mesma que levou o Brasil a ser reconhecido em todos os fóruns internacionais. Depois diz que “vemos o governo Bolsonaro caminhar em sentido contrário, ao criar o Fundo Amazônia, entregando a responsabilidade para um profundo conhecedor daquela região, o general Mourão, vice-presidente”.

O Fundo Amazônia, ao contrário do que diz Villas Boas, foi criado em 2008, durante o governo Lula, e justamente em 2019 todas as novas contratações foram paralisadas em consequência de ações do governo Bolsonaro, que implodiu a governança do Fundo. Mais de R$ 2,9 bilhões deixaram de entrar na Amazônia na forma de projetos apoiados pelo Fundo durante o governo Bolsonaro. É um dinheiro já depositado e não utilizado.

Villas Bôas diz genericamente que “há muita desinformação, até de caráter intencional, principalmente sobre os temas meio ambiente e questão indígena”. Haveria um “filtro” que impediria que “a realidade” chegasse “aos centros econômicos culturais e políticos”. Critica a imprensa, de novo a Rede Globo, que teria “alguns setores dominados pelo politicamente correto”, o “jornalismo investigativo”, ao qual teriam faltado “vontade ou competência”. Ataca a memória de Chico Mendes (1944-1988), líder ambientalista covardemente assassinado numa emboscada, a quem ele qualifica como “um mito” que teria sido “construído”.

Aqui o general é basicamente um Bolsonaro que sabe falar português.

Infelizmente o general não explica sobre qual desinformação está falando. A Amazônia não está sendo desmatada, destruída por garimpos ilegais, não tem sua madeira roubada por quadrilhas? Acha que não há muitos incêndios? Os indígenas isolados não correm risco de morte? Tudo é invenção da mídia?

Sobre o desmatamento, não é. Porque Villas Bôas reconhece também que “há inúmeras razões pelas quais devemos impedir que o desmatamento avance”. Mas não é exatamente isso que a TV Globo, os ambientalistas, os indígenas, os especialistas, afinal de contas, cobram? É mais uma contradição acumulada por Villas Bôas nas páginas de suas memórias.

Villas Bôas revela por que militares não pediram desculpas por crimes na ditadura

O tema da ditadura é obviamente caro ao general. Ele deixa bem claro que a instalação da Comissão Nacional da Verdade, determinada pela então presidente Dilma Rousseff em 2012, foi um ingrediente na panela de ódio e pressão dos militares contra ela e seu governo. Nesse ponto ele faz uma das revelações mais interessantes do seu livro, ao apresentar um dos motivos pelos quais os militares não produziram, até hoje, um pedido de desculpas pelos crimes cometidos durante a ditadura militar.

Ele conta que, ao observarem os casos do Chile e da Argentina, os militares brasileiros perceberam que alguns pedidos de desculpa nesses países “foram considerados confissão de culpa, motivando a intensificação dos procedimentos de investigação”.

Em suma, a falta do pedido de desculpas dos militares brasileiros foi por medo mesmo. Medo de que os crimes viessem à tona e militares fossem enfim punidos.

Quando a então presidente Dilma Rousseff (2011-2016) o nomeou comandante do Exército, em janeiro de 2015, Villas Bôas foi saudado como um conciliador que poderia conduzir a Força de forma menos “solitária” – foi o termo usado na época – do que seu antecessor Enzo Peri.

Em sua primeira ordem do dia, em abril daquele ano, Villas Bôas disse que o Exército era uma instituição que continuava “democrática e apartidária”. Menos de dois anos depois, ele se converteu em um ativo ator político, que confabulou com políticos em momentos de crise e se posicionou publicamente sobre assuntos afetos a outros Poderes, como o Judiciário.

A principal marca deixada por Villas Bôas na sua gestão de quatro anos (2015-2019) no Comando do Exército é justamente a que ele procura negar no seu livro de memórias. Ele foi, sim, o responsável por reintroduzir a prática, frequente até a década de 80, de militares tomarem partido em disputas políticas, opinarem e intervirem nos rumos do país. Pelo menos desde o governo Sarney, encerrado em 1990, não se via uma atividade política tão intensa em um chefe militar. É de certa forma surpreendente que, em seu livro, ele não compreenda ou não enfrente esse dado da realidade.

*Rubens Valente/Uol

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Varejo, que apoiou maciçamente o golpe em Dilma e a eleição de Bolsonaro, tem a maior queda em 20 anos

Patrocinou o banquete e ficou do lado de fora. Esta é a mais pura realidade que os comerciantes brasileiros vivem sob o governo de Bolsonaro.

Provavelmente, agora, os comerciantes entendam que não mandam absolutamente em nada e que são meros garçons dos gafanhotos do sistema financeiro.

Eles que, de forma maciça, apoiaram o golpe em Dilma e a eleição de Bolsonaro, sentem a derrocada bater em suas portas, muitas já fechadas.

A grande maioria dos comerciantes do varejo acreditou que o problema deles era o salário dos trabalhadores que, na verdade, são os seus consumidores. Agora, eles estão aí consumidos pelas cabeças neoliberais que comandam o Brasil e o levam ao caos.

É o preço que estão pagando pela mentalidade tacanha do neoliberalismo voraz representado por FHC, Collor, Temer e, agora, por Bolsonaro, com Paulo Guedes, que sempre tiveram o apoio do comércio em geral. Hoje, esses comerciantes veem secar o leite de suas vaquinhas.

Mas o preconceito e a total falta de preparo intelectual e, consequentemente, de discernimento político e, portanto, incapazes de pensar um metro à frente, tomam uma bofetada na cara. Quem sabe assim não acordam do sonho de que fazem parte da elite.

*Da redação

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Entregar o Banco Central aos rentistas é o mesmo que entregar os presídios ao PCC

Que fique evidente que o retorno a condição neocolonial a que o golpe de 2016 impôs ao Brasil, esvaziando com Temer e Bolsonaro a soberania nacional, tem apoio no parlamento. A votação que autoriza o banco central ser transformado no sindicato dos rentistas é a comprovação disso. (Marcio Pochmann)

Se for mesmo aprovada a independência do Banco Central, quem governará o Brasil, independente de quem seja o presidente da República, serão os banqueiros.

E se já mandam no país para saquear a população, produzindo miséria e fome, podem multiplicar isso por dez.

Outro fato que precisa ficar registrado, é que a entrega do Banco Central ao sistema financeiro num governo militar, acaba de vez com a balela de que os militares são patriotas.

A entrega do BC à agiotagem é, como bem disse Pochmann, a coroação do golpe em Dilma e a condenação e prisão de Lula pelas forças que estavam por trás dessa trama macabra contra o povo brasileiro.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Gilmar usa uma espingarda de dois canos para, num tiro só, acertar as farsas do triplex e do sítio, montadas pela Lava Jato

Em seu voto, Gilmar Mendes foi curto e grosso.

Cortou as asinhas de quem quer dividir a mesma farsa em duas ao dizer que a do triplex, Lula ganha, e a do sítio, Lula perde e, assim, continua inelegível.

Foi mais longe quando disse que nada disso estaria ocorrendo se a imprensa brasileira não se associasse aos bandidos.

Daí que Gilmar aproveita e azeda o leite da própria mídia que vinha tentando separar falsamente o joio do trigo, como se os procuradores do caso do triplex não fossem os mesmos imundos que operaram a farsa-2, a do sítio, inclusive, com a participação definitiva de Moro com a sua vigarice jurídica.

Gilmar, num tiro só, acertou os dois alvos, porque simplesmente mirou no todo, no que ele, por inúmeras vezes disse, “naquilo que importa”.

E o que importa, ele deixou bem claro, é que a Lava Jato como um todo é uma grande farsa, a maior farsa jurídica da história da humanidade.

Assim, não há espaço especulativo para separar o triplex do sítio, é tudo uma coisa só, é tudo um podre só.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Com um voto extremamente duro de Gilmar Mendes, STF joga uma pá de cal em Moro e Lava Jato

Toda a tentativa feita nos últimos dias de se produzir fumaça retórica em torno das mensagens trocadas entre Moro e procuradores, que estarreceram até o New York Times, a maldição da Lava Jato se volta contra os procuradores.

Quase todos os ministros da Segunda Turma do STF votaram pela manutenção da liberação das conversas pornográficas entre Moro, Dallagnol e demais procuradores da Força-tarefa de Curitiba, somente Fachin, que parece ter mesmo um pacto de sangue paranaense com os lavajatistas, votou no sentido oposto.

Lewandowski, Kassio Nunes, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes votaram pelo prosseguimento da revelação das conversas indecorosas entre os procuradores da República e Moro para caçar Lula custasse o que custasse, mas não sem antes Gilmar Mendes mostrar a dupla natureza da Lava Jato que, de um lado, vendia para a sociedade a ideia de que era uma operação de combate à corrupção e, por outro, na sua forma clandestina, era uma operação absolutamente corrupta que Gilmar compara com o fundo do poço jurídico chamando-os de nazistas, a ponto de dizer que só faltou eles enfiarem agulha na unha de vítimas de torturas psicológicas para que arrancassem a delação queriam contra Lula.

Gilmar Mendes fez uma belíssima exposição passando um filme de horror para que fosse apreciado pela Corte, mas também para quem assistiu ao julgamento.

Detalhe, Gilmar trouxe à baila o ponto principal, nada disso teria acontecido, como ele bem disse, sem o apoio incondicional da imprensa. Todas as ilegalidades, toda a perversão de Moro, Dallagnol e cia., tiveram aval estratégico da imprensa brasileira em total e irrestrito apoio aos crimes cometidos pela república de Curitiba, o que dá à fala de Gilmar em seu voto, um sentido de documento histórico para que, num futuro próximo, o direito brasileiro use a sua fala para mostrar o risco que é para a democracia, para a constituição essa relação promíscua entre o sistema de justiça e a grande mídia.

*Da redação

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