Possibilidade deve ser discutida durante a conversa que presidente terá com o senador nos próximos dias.
O presidente Jair Bolsonaro passou a avaliar, nos últimos dias, nomear o senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Secretaria-Geral da Presidência – e não para a Casa Civil, como acertado inicialmente.
Segundo auxiliares presidenciais, o argumento seria de que o trabalho mais intenso da Casa Civil, que coordena os demais ministérios do governo, poderia atrapalhar a articulação política de Ciro junto ao Congresso.
A avaliação é que, na Secretaria-Geral, o senador continuaria tendo assento no Palácio do Planalto, mas contaria com mais tempo para focar na articulação política, pois não ficaria preso às atividades mais complexas da Casa Civil.
Além disso, o presidente nacional do Progressistas teria mais tempo para articular e preparar sua possível candidatura ao governo do Piauí, nas eleições de outubro de 2022.
“O principal motivo é não drenar totalmente as energias do Ciro com atividades internas do governo e dar mais liberdade para ele articular e preparar o terreno para candidatura dele”, explicou à coluna um auxiliar presidencial.
Integrantes do Planalto dizem que o chefe do Executivo federal deve discutir a possibilidade durante a reunião presencial que terá com o senador, após Ciro chegar ao Brasil da viagem ao México, nesta segunda-feira (26/7).
Destino de Ramos
Se Ciro for para a Secretaria-Geral, Bolsonaro terá de decidir se manterá, ou não, o general Luiz Eduardo Ramos na Casa Civil. Até então, o acerto era para Ramos ir para Secretaria-Geral, cedendo a Casa Civil para Ciro.
O general já disse ao presidente que gostaria de permanecer na Casa Civil, mas Bolsonaro ainda avalia se haveria clima, diante das reclamações de caciques do Centrão sobre a atuação de Ramos na pasta.
Qualquer que seja o destino de Ciro, está certo que Onyx Lorenzoni deixará a Secretaria-Geral, pasta que comanda hoje, e será realocado no Ministério do Trabalho e Emprego, que será recriado.
“Há cerca de 6.000 militares em cargos de confiança no governo, e o Centrão vai querer ocupar esses espaços”, escreve a jornalista Helena Chagas.
O avião que trazia o senador Ciro Nogueira (PP-PI) do México ao Brasil para assumir a chefia da Casa Civil, depois de uma conversa com Jair Bolsonaro, deu defeito e o encontro teve que ser remarcado para amanhã. Um anticlímax para o presidente, que queria resolver a questão nesta segunda. Mais um dia de Casa Civil para o general Luiz Eduardo Ramos, que ficou em estado de choque ao ser ejetado de surpresa da cadeira.
Ninguém imagina que o senador, prócer do Centrão, possa estar hesitante diante da joia maior da coroa política que é o controle da Casa Civil, responsável por todas as nomeações do governo, sem falar das ações em que comanda os ministérios. Pela primeira vez, o Centrão vai ter um governo para efetivamente chamar de seu. Mas Ciro Nogueira, que há uma semana foi convidado e continuou no exterior, não parece estar com pressa.
Acima de tudo, o novo negociador político do governo parece estar negociando sua própria situação. Não voltou correndo para assumir, não deu entrevistas de lá falando na honra que será assumir o cargo, etc. Aceitou o convite telefônico, mas ficou de conversar depois. Segundo interlocutores, é provável que, nessa conversa, ele estabeleça seus limites – que, no caso, são limites para Bolsonaro e o resto do governo.
Ciro Nogueira e adjacências querem ter carta branca no governo, comandando nomeações e a destinação de verbas ministeriais, um passo além do que já comanda hoje o Centrão – as emendas orçamentárias, via Arthur Lira. Quer o controle da máquina, pois é aí que está o poder, que até há pouco estava com os militares.
Vai haver trombada? É muito provável. Há cerca de 6.000 militares em cargos de confiança no governo, e o Centrão vai querer ocupar esses espaços. Ao tirar Ramos da Casa Civil, Bolsonaro fez sua opção política preferencial, mas não se sabe ainda como vai operar isso na prática, quando os indicados do Centrão resolverem se sentar nas cadeiras dos fardados.
É exatamente isso. Ciro Nogueira é contra o voto impresso, e essa tem sido a obsessão de Bolsonaro que já afirmou algumas vezes que, sem ele, não haverá eleição em 2022.
Ciro Nogueira é um político habilidoso, e está sempre disposto a apoiar os dois lados da política, de acordo com a conveniência. Quando assumir a Casa Civil de Jair Bolsonaro nos próximos dias, terá que demonstrar essa característica novamente. Além disso, Bolsonaro terá que engolir a seco a sua posição contrária à dele.
Sua posse se dará justamente na semana em que Bolsonaro promete trazer a público um sujeito que demonstrará, sabe-se lá como, que houve fraude nas urnas eletrônicas em 2014.
Só que faz exatamente um mês que presidentes de 11 partidos decidiram se unir contra o voto impresso obsessivamente pregado por Bolsonaro. Num encontro virtual disseram confiar no voto eletrônico e contrários à qualquer mudança nas regras do jogo, inclusive pela falta de tempo hábil para promovê-las. Entre os 11, estava Ciro Nogueira. Aos mais próximos, Ciro confirma que não vê como implementar qualquer alteração a quinze meses do pleito. Embora pondere que, ao contrário dos presidentes dos outros partidos, não tenha tomado qualquer atitude hostil em relação ao voto impresso
Em resumo, que discurso Ciro adotará agora que passa a ser titular de um dos ministérios mais importantes desse governo?
A resposta será dada a partir de hoje, quando Ciro desembarca no Brasil, oriundo do México. Ciro e Bolsonaro, aliás, tem uma reunião marcada para hoje a fim de acertarem os ponteiros.
Escalado pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar a Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) responde a cinco investigações derivadas da Lava Jato. Duas delas são sigilosas e ainda não tinham vindo à tona, conforme revela neste domingo (25) o jornal O Globo.
Em um dos casos até então desconhecidos, o senador é investigado pela suspeita de ter recebido pagamentos da OAS em troca de apoio a uma medida provisória no Senado. No outro, os investigadores apuram se Ciro exerceu influência na liberação de um financiamento para a Engevix na Caixa Econômica Federal.
De acordo com a reportagem de Aguirre Talento e Mariana Muniz, Ciro Nogueira já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República duas vezes: em um caso é acusado de receber propina de R$ 7,3 milhões da Odebrecht em troca de apoio no Congresso; em outro, é suspeito de obstruir investigações ao atuar para mudar depoimento de um ex-assessor do PP que colaborava com a Justiça.
As duas denúncias ainda não foram analisadas pelos ministros do Supremo. Ainda há um quinto inquérito contra o senador piauiense, no qual ele é investigado pelo recebimento de propina do grupo J&F para comprar apoio do PP à reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff.
Presidente do PP e um dos principais líderes do Centrão, Ciro assumirá a Casa Civil com a responsabilidade de manter o apoio da base governista no Congresso, formada por partidos de direita e centro-direita.
O advogado Antonio Carlos de Castro, o Kakay, que defende Ciro, afirma que as investigações são fruto de um processo de “criminalização da política” patrocinada pela Operação Lava Jato. “Esta operação se notabilizou pela criminalização da política, numa tentativa- felizmente hoje desmascarada- do Ministério Público capturar a pauta do Legislativo. Hoje está evidenciado que o juiz/político da Lava Jato e os seus comandados do Ministério Público corromperam o sistema de justiça em prol de um projeto político”, afirmou o advogado por meio de nota à imprensa.
O jornal O Globo teve acesso a detalhes dos dois inquéritos até agora inéditos, que estão sob sigilo da Polícia Federal. Um deles, aberto em outubro e relatado pelo ministro Edson Fachin, apura se o então presidente da OAS Léo Pinheiro acertou com Ciro Nogueira o pagamento de R$ 1 milhão em 2014 por meio de doações oficiais em contrapartida ao apoio dado pelo parlamentar em uma medida provisória de 2013 que alterou a legislação tributária em relação a cobranças sobre empresas.
Em delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal, Léo Pinheiro confirmou que a cúpula da OAS mantinha uma relação próxima com Ciro Nogueira. A PF tomou um novo depoimento do colaborador em abril para saber mais detalhes do caso. Segundo o empreiteiro, quem intermediou as tratativas foi Eduardo Cunha, que estava à frente da negociação da medida provisória no Congresso.
“Houve o café da manhã na casa de Ciro Nogueira, no qual foi acertado o pagamento de R$ 1.000.000,00, que foram em duas parcelas de R$ 500.00,00 ao partido”, afirmou Pinheiro, em seu depoimento, para depois completar. “O depoente esclarece que a ordem era doar para o partido, porque ele havia proibido o caixa dois na empresa, pois já estava em curso a Lava Jato”, acrescentou.
O outro inquérito sigiloso envolvendo Ciro Nogueira foi aberto em abril de 2019 com base no acordo de delação premiada do dono da Engevix, José Antunes Sobrinho. De acordo com o relato de José Antunes, a Engevix tinha um financiamento de R$ 270 milhões para receber da Caixa, referente a obras no aeroporto de Brasília. Mas, mesmo após a inauguração do empreendimento, a empresa ainda não havia conseguido receber os valores do banco estatal.
A reportagem ressalta que, naquela época, a Caixa era comandada por Gilberto Occhi, aliado de Ciro Nogueira. Em seu relato, José Antunes conta que foi procurado por dois lobistas que se ofereceram para ajudar na liberação dos recursos em troca do pagamento de propina. Para destravar a operação, a empresa pagou R$ 500 mil para um escritório.
O empresário afirma que os lobistas “deixavam a entender que essa cobrança era do conhecimento do senador Ciro Nogueira e que este teria uma influência política sobre Gilberto Occhi”. “Os elementos colhidos revelam possível prática de crime por parte do senador Ciro Nogueira, que teria agido por intermédio de operadores conhecidos para receber vantagem indevida em troca de liberação de empréstimo junto à Caixa Econômica Federal”, afirma a PF ao pedir a prorrogação das investigações.
Em depoimento prestado à Polícia Federal, Occhi afirmou que manteve apenas contato “institucional” com Ciro Nogueira e disse não se recordar de sua atuação no financiamento da obra no aeroporto de Brasília.
É fundamental a leitura do artigo abaixo de Luis Costa Pinto publicado no Plataforma Brasília
Vicejam em Brasília, nesse breve interstício legislativo de duas semanas, as flores do recesso. Esquisitas, cônicas, de coloração arroxeada, constituídas por camadas rugosas que se sobrepõem, são flores de bananeira. Nada surpreendente. Afinal, estamos a viver a recidiva do câncer institucional que é a presença dos toscos, rudes e despreparados militares brasileiros na vida política nacional. Eles agem, como sempre, para não nos deixar esquecer: o Brasil é uma República de Bananas.
Um cacho frondoso e promissor do bananal brasiliense surgiu na palmeira do Senado e projeta sua sombra na direção da Praça dos Três Poderes com o bico – ou “umbigo de banana” – apontando para o Palácio do Planalto. A nomeação do senador piauiense Ciro Nogueira, presidente do PP, constitui-se num ardil de inteligência política do qual a balbúrdia que é o governo Jair Bolsonaro já não parecia capaz de executar. Nogueira é um dos mais hábeis parlamentares em atividade, mestre na arte de ouvir a todos e só falar o estritamente necessário – e, sempre, alinhando o tema com seus interesses pragmáticos.
De quando em vez, a consistência gelatinosa da conversa de Ciro Nogueira irrita quem vê a política como a arte de defender ideias e lutar por um projeto de País. Contudo, não se pode negar que ela seja eficaz para aqueles que usam os frutos já passados para mexê-los em tachos de cobre sobre fogo brando a pingar o limão das ameaças de retrocesso e misturar o açúcar das verbas orçamentárias manipuladas com escassa transparência e dali produzir uma geleia destinada a conservar por mais tempo a ilusão de que no pote há frutas.
Instalado na Casa Civil, o senador piauiense seguirá dando a Bolsonaro a ilusão de que há um governo dele no Palácio do Planalto. Mitômano, dado a crer nas mentiras e boçalidades que cria em escala industrial, o cretino patológico instalado no Palácio do Planalto acreditará nisso até o momento em que lhe for confortável dizer-se tragado e derrotado pela “velha política”. Quando isso acontecer – e não é uma questão de “se”, mas de “quando”, como diria o idiotizante rebento presidencial apelidado de 03 – Bolsonaro cumprirá sua sina de Jânio Quadro redivivo e alegará que forças ocultas o levam à renúncia.
Posto que a História tende a se repetir como farsa depois da tragédia, e porque o calendário já estará avançado, a renúncia poderá ser limitada ao anúncio da decisão de não concorrer à reeleição e negociar com o trade institucional – Congresso, Judiciário, o novo governo que virá – punições brandas para o rol de crimes que cometeu com a cumplicidade coatora dos filhos e dos comparsas fardados. Evidentemente, tendo chegado a tal ponto o cenário, só haverá uma biografia capaz de restaurar o eixo que conectam o Brasil às engrenagens funcionais de um Estado-Nação: a do ex-presidente Lula.
Tendo considerado, já, o petista como “o melhor presidente da História”, como registra gravação de 2017 feita ao jornal Meio Norte, de Teresina; e sendo considerado por ele “um grande amigo”; eis que emergirá o papel reservado pelo acaso a Ciro Nogueira: o de fiador de alguma tranquilidade institucional na transição do desastre da aventura bolsonarista para a única saída que honrosa que a Democracia e a esperança brasileiras têm hoje – o terceiro mandato de Lula, desta feita convertido no construtor da pacificação e da reconciliação nacionais.
Mas, se a nomeação de Ciro Nogueira para a Casa Civil é flor promissora do recesso no bananal da Capital da República, a inacreditável revelação pelo jornal O Estado de S Paulo das ameaças golpistas feitas pelo ministro da Defesa Braga Netto ao presidente da Câmara, Arthur Lira, assemelha-se àquelas pencas de frutos que apodrecem no cacho. E fedem. Chamei de inacreditável a reportagem publicada pelas repórteres Vera Rosa e Andreza Matais porque todo o enredo é pouco crível e isso não tem nada a ver com elas. Há, nesse caso, orelha de porco, rabo de porco, nariz de porco. Ou seja, foi uma operação porca. No comando da pocilga que só completa a paisagem do bananal brasileiro, dois porcos: o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o general-de-pijama Braga Netto.
A “Operação Porcaria” usou a larga reputação, experiência e correção profissional das jornalistas do Estadão para disseminar um roteiro falso. Uma “fonte confiável” procura uma dupla de profissionais ilibada e conta em off um arreganho antidemocrático de um leitão bochechudo que se crê javali: o ministro da Defesa teria mandado um recado ao presidente da Câmara advertindo-o que a ausência de voto impresso (e manipulável, corruptível, comprável, como acontecia no Brasil antes das urnas eletrônicas) inviabilizaria a eleição em 2022. Não há um único comandante militar de alta patente que não enxergue Braga Netto como um pulha metido em coturnos. Logo, ele não tem força para tal ameaça.
fações com o suposto chefe do ministro da Defesa, o boçal Bolsonaro, e contra advertir de que o Parlamento não toleraria uma ameaça daquele calibre à Democracia e ao instituto sagrado das eleições.
O figurino de defensor da Democracia e das instituições não combina com o perfil tosco, grosseiro, arrivista e voluntarioso de Arthur Lira – e é dessa forma que ele exerce o poder, manipulando o Orçamento da União e os cargos de livre provimento da administração pública, a partir da cadeira de presidente da Câmara.
Por outra, se há um grupelho golpista nas Forças Armadas liderado pelo ministro da Defesa que teria tido a ousadia de passar o recado acanalhado a Lira, de acordo com a versão plantada em O Estado de S Paulo, haveria uma ala “democrática” entre as lideranças militares para conter Braga Netto. Criar essa impressão – a de que há democratas dentre os comandantes militares que servem a Bolsonaro – e objetivo secundário, mas, não acessório, do semeador de flores de recesso na Esplanada dos Ministérios.
As jornalistas, posto serem profissionais decentes e corretas, confirmaram as ameaças com alguns dos emissários e receptores da advertência despropositada de Braga Netto e publicaram a história que tinham. Publicado na madrugada desta quinta-feira, 22 de julho, o veneno saiu do controle dos alquimistas tresloucados que urdiram a “Operação Porcaria” e não houve saída a não ser assistir aos patéticos desmentidos de Lira, Braga Netto, Bolsonaro… e à confirmação da autoridade democrática e republicana do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, para quem, acoelhados e acadelados, o ministro da Defesa e o presidente da Câmara apressaram-se em telefonar logo cedo a fim de desmentir a história que criaram, disseminaram e criam ser capaz de dar a eles maior amplitude e espectro de poder. Foram humilhados.
Se bananeira que deu cacho – mesmo podre – não serve mais para nada, que seja extirpada do bananal. É esse o fim que deve ser dado a Braga Netto a seus roncos rotos na pocilga do Planalto. Já a nomeação de Ciro Nogueira para a Casa Civil ainda é flor do recesso a ser observada com cautela. De suas bananas podem fazem marmelada.
Reinaldo Azevedo – Jair Bolsonaro arrendou o governo para o PP na esperança de continuar ao menos como síndico incompetente do edifício. Em vez de apostar no “esquema militar” de Braga Netto, vociferando ameaças golpistas, preferiu o esquema de Arthur Lira e Ciro Nogueira, numa costura feita por Fábio Faria, o crescentemente ambicioso ministro das Comunicações. Bolsonaro está de olho na reeleição? O presidente, por ora, fez um seguro para não cair. O governo acabou. Começou a gestão Ciro Nogueira-Arthur Lira. Ah, sim: como se nota, não vai mesmo ter golpe. Diria até que o centrão golpeou os generais…
A trapalhada do Fundo Eleitoral ameaçou trincar o condomínio. O governo participou de cada etapa da negociação que resultou nos estimados R$ 5,7 bilhões, logo tomados como escândalo por setores consideráveis da opinião pública. E, ora vejam!, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) saiu atirando para fazer embaixadinha para seus fanáticos. O próprio presidente veio em seguida, colocando na mira o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara, que reagiu com dureza.
Bolsonaro tonitruou: “Vou vetar”. E vai. Para negociar depois, quando o assunto der uma esfriada. Mas muita gente passou a se ver como bucha de canhão de um governo hoje moribundo. Na Presidência da Câmara, Lira mata no peito os pedidos de impeachment. O prêmio ainda compensa o desgaste. Até porque é o senhor do orçamento secreto. Mas é preciso ter mais a distribuir para uma base que tem de sustentar um governo impopular.
E então Faria — que está se mudando de mala, cuia e grandes ambições para o PP — costurou a união com o partido. Silvio Santos, seu sogro, tinha um quadro em seu programa dominical chamado “Em Nome do Amor”. O ponto alto se dava quando o apresentador perguntava aos casais que se formavam ao longo da atração: “É namoro ou amizade?”. No caso do PP, estamos assistindo a um casamento. Que será eterno enquanto durar.
Ao assumir a Casa Civil — com o general Luiz Eduardo Ramos sendo escanteado para a Secretaria-Geral —, o senador Ciro Nogueira (PI), que preside a sigla, leva bem mais do que a chave do cofre e uma lista imensa de cargos. Há uma boa possibilidade de o próprio Bolsonaro migrar para legenda. Ainda que não aconteça, é certo que o partido se torna o principal polo de negociação da candidatura à reeleição. Até porque Faria cuida hoje da sua postulação ao posto de vice na chapa. Bolsonaro até pode escolher uma outra sigla para facilitar composições, mas é certo que a agremiação comandada por Nogueira e Lira se torna o eixo do governo e do projeto reeleitoral.
VAI DAR CERTO? Quem sabe, nas suas noites insones, decida o presidente passear pela biblioteca do Alvorada. Levado pelo acaso, topa com um volume de poemas de Fernando Pessoa. Abrindo-o ao acaso, dá de cara com o poema “O das Quinas”. E lê então: “Os deuses vendem quando dão/ Compra-se a glória com desgraça”. Matutando um pouco, acaba por concluir: “O centrão é como os deuses disso daí: vende quando dá”. E um desassossego inútil vai lhe tomar a alma porque não há o que fazer. Afinal, nada assegura que terá a glória. Quanto ao resto…
Por óbvio, nunca caí na conversa de um Bolsonaro liberal, reformador, moralizador ou qualquer outra característica que possa, sob certo ponto de vista, ser considerada virtuosa. Mas muita gente acreditou. Mesmo os fanáticos que ficariam a seu lado ainda que o vissem roubando pirulito de criança — e se fez um pouco mais do que isso no Ministério da Saúde — apelam à estridência moral para arrotar a superioridade do governo que apoiam.
O ataque ao centrão e à tal velha política foi um dos motes da campanha bolsonarista. Como esquecer o general Augusto Heleno a cantar na convenção do PSL: “Se gritar pega centrão, não fica um…” Pois é. Ele e outros generais passam agora a dividir o governo com aqueles que tanto demonizavam. O bolsonarismo mais extremado — aquelas parcelas que se deixam seduzir pelas milícias digitais — arrumará, é certo, uma desculpa. Mas Bolsonaro perde a aura de líder alheio aos arranjos de Brasília. Sempre foi uma bobagem. Mas o discurso mobilizava uma parcela considerável da opinião pública.
O centrão vende apoio, não dá. E Bolsonaro terá de pagar. O PP passa a ter o controle político do governo. Nogueira é uma pessoal hábil, com trânsito no Parlamento. Há pouco mais de três anos, dizia que Bolsonaro era um fascista desocupado e sem projeto. E Lula, então, era, a seu juízo, o maior presidente da história. Agora, terá de comandar, em parceria com Lira e Faria, a nau da insensatez e de tentar tornar viável o projeto da reeleição. E se não ser? Bem, lembrem-se de que ele achava Lula etc…
Sobrando um tantinho de bom senso a Bolsonaro, ele diminui a exposição, para de criar crispações inúteis, põe fim aos discursos golpistas, abandona o negacionismo ensandecido e se fixa na aposta de que a retomada da economia será percebida pelos mais pobres não apenas na forma de inflação de alimentos, como acontece hoje. Há ainda a reformulação do Bolsa Família. Os atuais R$ 35 bilhões se transformarão em R$ 53 bilhões no ano que vem. Há quem aposte que isso muda o humor de parte do eleitorado. A ver.
De todo modo, há algo a saudar, não é? Como sabem, eu nunca temi a possibilidade de um golpe — temo a degeneração permanente, esta sim. Creio que, agora, os receios se dissipem de vez. Já imaginaram uma quartelada para garantir o poder ao centrão? Em certa medida, é preciso admitir, o centrão é que deu um golpe nos generais.
Vai cantar o quê, agora, general Heleno?
PS – E que se note: o centrão é um aglomerado. Há particularidades por ali. O PP terá todos os instrumentos para sossegar a turma. Mas dará trabalho.
Bolsonaro, não satisfeito em usar Mourão para resolver uma pendenga da Universal em Angola, viagem que foi absolutamente inútil, antes usou Braga Neto para animar seu gado e dizer que, se não houver voto impresso e auditável, não haverá eleição em 2022.
Esse ato mostra o desespero de Bolsonaro, afinal, mesmo arrotando valentia contra as pesquisas, ele sabe que a pior das notícias é que 47% dos que votaram nele não pretendem repetir a escolha em 2022, segundo o PoderData, o que é trágico para Bolsonaro.
Para piorar, o mesmo PoderData mostrou ontem que a farsa do cocô que quis requentar a facada comédia de Adélio não só não surtiu o menor efeito em benefício de Bolsonaro, como fez crescer ainda mais a sua rejeição, batendo recorde sobre recorde de repulsa da sociedade.
Enquanto isso, o centrão mete um 7 a 1 no lombo do genocida, mostrando que o general Heleno (o que cantou “se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”) é um tremendo de um frangueiro.
Agora, vem a notícia de que no último dia 8, Bolsonaro usou Braga Neto para soltar um pombo para Arthur Lira e animar o pasto, que se a eleição não for como ele quer, ela não acontecerá.
Depois disso, no desfecho final de sua fragilidade, Bolsonaro chuta a bunda de um general que estava na Casa Civil para entregá-la ao presidente do PP, Ciro Nogueira, deixando claro que quem manda na coisa toda é o centrão.
Seus generais são meros soldadinhos de chumbo do clã. Isso significa que Bolsonaro não sonha com o golpe? É óbvio que não, mas um presidente que deixa o centrão fazer barba, cabelo e bigode no seu governo, não tem musculatura política sequer para segurar um estilingue, que fará uma baioneta.
A tendência, com essa descarada entrega da rapadura para o centrão, é ele perder ainda mais gordura dentro do seu próprio pasto.
Bolsonaro, ao entregar a Casa Civil a Ciro Nogueira (PP), mais propriamente ao centrão, promove uma espécie de autodestituição.
É certo que Bolsonaro, quando se candidatou à presidência da República, cumpria seu mandato de deputado federal eleito pelo PP. Como o PP foi o partido mais denunciado pela Lava Jato, a estratégia foi fazer de conta que Bolsonaro ficou no partido durante dez anos, chegando ao ponto de ser atacado por uma paródia feita pelo general Augusto Heleno, “se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”, fazendo alusão a uma quadrilha, tentando construir uma cortina de fumaça para não associar Bolsonaro a sua eterna casa política.
Afinal, Bolsonaro se vendia, podem rir, como o único candidato capaz de varrer a corrupção do país.
Agora, o mesmo Bolsonaro entrega ao PP o ministério mais estratégico do governo, a Casa Civil, deixando claro que teve que engolir o que vomitou contra o PP, porque não tem escolha, já que, para ao menos permanecer na cadeira da presidência como uma múmia, uma espécie de rainha da Inglaterra, terá que se submeter ao real dono da moradia, o centrão.
Isso também não deixa de ser uma pá de cal em Moro e numa boa parcela da mídia que, frequentemente, dizem que a Lava Jato foi um divisor de águas no Brasil no combate à corrupção. Então, pensa-se, grande divisor de águas! Um partido com a maior quantidade de políticos denunciados pela Lava Jato assume os assentos centrais do governo do mesmo Bolsonaro que, na fraude montada com Moro, colocou o ex-justiceiro de Curitiba nas pastas da Justiça e Segurança Pública como recompensa por ter tirado Lula da disputa eleitoral, condenando-o sem provas à prisão.
Não há mais nada a acrescentar, essa imagem é autoexplicativa e representa com fidedigna precisão o autoimpeachment de Bolsonaro, justamente porque o Congresso, que é dominado pelo centrão, tem literalmente Bolsonaro nas mãos, tal o acúmulo de crimes e, consequentemente, a pilha de pedidos de impeachment em função de sua folha corrida.
A CPI deu um mata-leão em Bolsonaro, este é o ponto central, revelando seus crimes, e certamente revelará muito mais. Sabendo disso, ele está se armando para se manter na presidência e não ser preso.
“Ele tem um caráter fascista, preconceituoso”, afirmou Ciro sobre Bolsonaro. “É muito fácil você ir para a televisão dizer que vai matar bandido”,
Ao fazer referência a Lula, o senador afirmou que o petista foi “o melhor presidente da história desse país, principalmente, para o Piauí e para o Nordeste”. “Não me vejo votando contra o Lula por tudo o que ele fez, tudo o que ele tirou de miséria do povo”.
“O laço do Centrão se aperta no pescoço presidencial. Com a ida do PP para a Casa Civil, o grupo finalmente vai ter um governo todinho para chamar de seu”, escreve a jornalista Helena Chagas. Jair Bolsonaro, diz ela, quer “evitar uma debandada do PP”, pois está “em desespero provocado pela queda nas pesquisas”
Jair Bolsonaro disse ontem a seus ministros que pretende, sim, substituir o general Luiz Eduardo Ramos na Casa Civil pelo presidente do PP, senador Ciro Nogueira. Há tempos a cabeça de Ramos vem sido pedida pelo Centrão de Arthur Lira, em função de trombadas no governo e no Congresso. Mas a razão principal de Bolsonaro é, em desespero provocado pela queda nas pesquisas, evitar uma debandada do PP de Ciro e de Lira do governo e assegurar seu apoio na eleição do ano que vem.
Nas últimas semanas, bons observadores do governo e do Congresso notaram a ausência sistemática de Ciro na linha de defesa de Bolsonaro na CPI da Covid. Coincidindo com a rodada de pesquisas que mostrou a queda na popularidade do presidente e uma vitória do ex-presidente Lula se a eleição fosse hoje, o senador também expressou a interlocutores comuns suas insatisfações com a articulação política do Planalto, comandada por Ramos.
Ciro Nogueira não gosta, por exemplo, das boas relações administrativas entre o governo e seu principal adversário político, o governador do Piauí, Wellington Dias, cuja vaga ambiciona disputas em 2022. Seu companheiro Lira vem reclamando há tempos da atuação de Ramos. Com a água da CPI perto do pescoço, o crescimento de Lula na disputa e o risco de o PP — com suas lideranças majoritariamente nordestinas — ir procurar a turma petista, Bolsonaro decidiu fazer a dança das cadeiras – que ele mesmo previu nesta manhã para a próxima segunda-feira.
A nova reforma ministerial, com seu viés eleitoral, levará o atual chefe da Secretaria de Governo, Onyx Lorenzoni, à sua quarta pasta em dois anos e meio, um Ministério do Trabalho turbinado, com a promessa de gerir os novos programas que o governo está lançando para treinamento e geração de empregos para o mercado informal. O general Ramos volta uma casa e vai de novo para a Secretaria.
Tudo isso, e mais alguma coisa, se Bolsonaro não mudar de ideia nos próximos dias. O espaço para recuos, porém, é pequeno. O laço do Centrão se aperta no pescoço presidencial. Com a ida do PP para a Casa Civil, o grupo finalmente vai ter um governo todinho para chamar de seu.