Imóvel vira ponto de peregrinação de eleitores, mas ex-presidente não tem se encontrado com partidários, segundo a Folha de S. Paulo.
Hospedado nos Estados Unidos há quase um mês, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem se isolado e é evitado por apoiadores famosos ou partidários de expressão.
Bolsonaro viajou para os EUA em 30 de dezembro de 2022, um dia antes de deixar a Presidência, e, rompendo uma tradição democrática, não passou a faixa presidencial para seu sucessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ele tomou um avião presidencial e seguiu para Kissimmee, cidade na região de Orlando a poucos minutos dos parques da Disney, onde levou a família para uma casa de férias que pertence ao ex-lutador de MMA José Aldo, em um condomínio fechado.
No imóvel, de oito quartos, tem vivido uma situação contraditória.
O local virou ponto de peregrinação de eleitores, que viajam de diferentes partes do país para tirar uma foto com o ex-presidente. Ao mesmo tempo, no entanto, o ex-presidente não tem se encontrado com partidários ou famosos que apoiaram sua eleição.
Quando o ex-presidente viajou aos Estados Unidos, havia a expectativa de que se encontraria com o ex-mandatário americano Donald Trump, que também levantou suspeitas sem provas contra o resultado das eleições e viajou para Flórida para não participar da posse do sucessor, o democrata Joe Biden.
Esperava-se inclusive que Bolsonaro fosse à tradicional festa de fim de ano no resort do republicano, Mar-a-Lago, em Palm Beach, a menos de três horas de carro de onde está o brasileiro.
Mas, até agora, nem Bolsonaro nem seus filhos se encontraram com Trump ou com sua equipe, segundo um aliado próximo do republicano que tem contato com os Bolsonaro.
Outro assessor de Trump disse que não soube que Bolsonaro foi convidado para o Réveillon em Mar-a-Lago —na ocasião, Bolsonaro afirmou a aliados que desistiu de participar porque sua esposa, Michelle, estava cansada da viagem.
Os dois ex-presidentes tiveram boa relação no período em que conviveram no governo (2019 e 2020), e Trump gravou vídeos pedindo votos para Bolsonaro nas eleições do ano passado.
Duas das mais prolíficas apoiadoras do ex-presidente na Câmara, as deputadas Bia Kicis e Carla Zambelli, viajaram a Miami na última semana e também não se encontraram com Bolsonaro, segundo afirmaram à Folha.
“Eu fiquei só três dias em Miami, mais encontrando amigos”, disse Kicis, afirmando que viajou aos Estados Unidos para participar de uma marcha antiaborto em Washington.
Zambelli, que fez o mesmo roteiro entre Miami e Washington, afirmou à reportagem que não procurou o ex-presidente no período em que esteve na Flórida. Com relações estremecidas com Bolsonaro desde a eleição, ela afirmou que não foi a Orlando porque estava no país de férias, com o marido e filhos.
Bolsonaro nos EU
Outro apoiador passou todo o mês de janeiro em uma casa no mesmo condomínio do ex-presidente sem encontrá-lo. O apresentador do SBT Ratinho tem um imóvel a menos de dez minutos a pé da casa onde Bolsonaro está hospedado.
Ratinho fez campanha para Bolsonaro em 2022, mas disse à Folha que não visitou nem tinha interesse em visitar o ex-presidente.
“Eu passei pela casa dele várias vezes, e toda vez que eu passei ali ou era na minha saída ou na minha entrada. E coincidia com aquele horário mais ou menos que ele sai para a rua. E daí tem muita gente, eu não cheguei nenhuma vez perto dele”, afirmou.
“Acho que ele está aqui descansando, acho que veio para se afastar das pessoas, por que eu iria lá incomodar? Tem [muita gente lá na porta], mas são os fanáticos, aqueles que não têm oportunidade de falar com ele. Eu tenho a oportunidade de falar com ele a hora que eu quiser.”
Orlando é destino certo de famosos no verão brasileiro, que vão à cidade sobretudo para visitar os parques da Disney. Nesta semana, por exemplo, estavam na cidade desde artistas como Juliana Paes e Claudia Leitte até o padre Fábio de Melo.
Um brasileiro que convive com essas celebridades na cidade afirmou à Folha que mesmo artistas simpáticos ao ex-presidente têm fugido de encontrá-lo desde que ele perdeu a eleição, mas sobretudo após os ataques em Brasília em 8 de janeiro.
A avaliação é a de que sua figura agora tem sido considerada “tóxica” e que não é um momento positivo para ter uma foto ao lado de Bolsonaro.
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