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Bolsonaro repete os ditadores Melgarejo e Galtieri e ameaça enfrentar a França e o G7. É guerra?

Bolsonaro, o filho Eduardo e o general Villas Boas, ex-comandante do Exército, resolveram falar grosso com o presidente francês e com os líderes do G7 em nome da “soberania” brasileira. Parece um decalque dos ditadores Mariano Melgarejo, boliviano, e Leopoldo Galtieri, argentino – este o grande comandante da Guerra das Malvinas.

Quando li as fanfarronices de Bolsonaro, insultando o presidente da França, Emmanuel Macron, e desafiando o G7 – ou seja, peitando as sete nações mais poderosas do mundo – lembrei-me de um inesquecível, patético personagem da história boliviana.

Mariano Melgarejo

Refiro-me ao general Mariano Melgarejo, ditador da Bolívia em meados do século dezenove, que costumava decapitar pessoalmente seus adversários políticos. Com o país mergulhado em profunda crise econômica e social, Melgarejo decidiu distrair a atenção dos bolivianos declarando guerra à Inglaterra. Como primeiro – e único – ato do estado de guerra, Melgarejo expulsou o embaixador inglês, obrigando-o a deixar a Bolívia montado de costas sobre o lombo de um burro. Indignada com a ousadia, a rainha Vitória rompeu relações com a Bolívia e mandou apagar o país de todos os mapas-múndi impressos na Inglaterra – peças que se tornaram objeto da cobiça de colecionadores de raridades.

Ao contar a um amigo, historiador de mão cheia, a comparação entre Bolsonaro e Melgarejo, ele me corrigiu:

– Nada disso. Ao desafiar a França e o G7, Bolsonaro lembra mais o general argentino Leopoldo Galtieri, ditador que no começo doa anos 80 declarou guerra à mesma Inglaterra, desta vez para recuperar as Ilhas Malvinas.

Bingo! Em abril de 1982 o general Galtieri (que dera um golpe no general Eduardo Viola, que dera um golpe no general Jorge Videla, que dera um golpe em Isabelita Perón) governava uma Argentina quebrada e com as ruas tomadas por massas de trabalhadores famintos que destruíam ônibus, incendiavam veículos oficiais e saqueavam supermercados.

Acuado, Galtieri teve um verdadeiro estalo de padre Vieira. Decidiu dirigir o ódio popular para um sentimento muito caro aos argentinos: o nacionalismo. Foi então que em abril de 1982 Leopoldo Galtieri – que além de fascista era, como Melgarejo, dado a porres oceânicos – declarou guerra à Inglaterra, a pretexto de recuperar o arquipélago das Malvinas, território argentino ocupado pelo Reino Unido desde 1833.

Deu no que deu. Apoiada por Ronald Reagan, a premiê britânica Margareth Tatcher pulverizou as tropas argentinas que haviam ocupado as Malvinas (ou Falklands, para os ingleses). Em menos de dois meses as Malvinas foram retomadas pela Inglaterra, deixando para trás cerca de 700 soldados argentinos mortos e milhares de prisioneiros. Em junho a guerra acabou e o general Leopoldo Galtieri foi derrubado.

As últimas reações de Bolsonaro, de seus filhos e do general Villas Boas, ex-comandante do Exército, indicam que eles podem estar querendo atiçar o sentimento nacionalista dos brasileiros para esquecermos dos gravíssimos problemas que assaltam o Brasil.

Como declarou muito apropriadamente o ex-chanceler Celso Amorim, colunista do Nocaute, “a preservação da Amazônia é um objetivo global e uma responsabilidade nacional. Não há incompatibilidade entre a preservação do meio ambiente e a defesa da soberania.”

Espera-se que Bolsonaro e o general Villas Boas – nacionalistas de araque, que estão entregando as riquezas brasileiras ao capital privado – conheçam um pouco da história da Bolívia e da Argentina e não cometam a asneira de inventar uma guerra contra França. O destino deles será, fatalmente, o mesmo de Melgarejo e Galtieri.

 

*Com informações do Nocaute

 

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Parlamento brasileiro reage às loucuras de Bolsonaro na questão ambiental

Por conta da grave crise no país com aumento do desmatamento e queimadas na região amazônica, o tema ambiental ocupou a centralidade nos debates no Congresso Nacional. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), peticionou no STF um pedido para que parte dos R$ 2,5 bilhões depositados pela Petrobrás em conta vinculada à Justiça Federal seja destinado para combater queimadas na região. Ele também anunciou que a Casa vai criar uma comissão externa para acompanhar as queimadas.

Enquanto isso, Bolsonaro faz chacota da situação. Num tom irônico, perguntou a jornalistas, nesta sexta-feira (23), se é verdade que o presidente da Câmara vai dar R$ 2 bilhões do fundo público de campanha para ajudar a combater incêndios na Amazônia.

O mesmo fez após a Noruega anunciar, depois da Alemanha, a suspensão dos recursos doados ao Fundo Amazônia: “A Noruega não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte, não? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a dar exemplo para nós. Pega a grana e ajude a Angela Merkel a reflorestar a Alemanha”.

Esse tipo de comportamento de Bolsonaro abriu uma crise de proporções mundiais. O governo francês acusa o presidente brasileiro de mentir ao assumir compromissos em defesa do ambiente na cúpula do G20.

A Irlanda também afirmou que vai bloquear a implantação do pacto caso o governo brasileiro não atue para combater os incêndios em curso na Amazônia.

Os países mais ricos do mundo terão uma reunião de urgência do G7 para tratar das chamas que consomem a região.

Na Finlândia, o ministro da Economia, Mika Lintila, sugeriu que a União Europeia considerasse urgentemente a possibilidade de banir importações de carne bovina do Brasil.

Nesta sexta-feira (23), Bolsonaro será alvo de manifestações a favor da Amazônia em nove cidade da Europa e Ásia. No Brasil, vários estados já marcaram atos no mesmo sentido.

Parlamentares avaliam situação

A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) lembrou que os líderes do G7 estão tratando o problema como “crise internacional”. “É isso que mais dói! Vê aqueles que defendem a internacionalização da Amazônia, preocupados com o patrimônio dos brasileiros que Brasil não cuida”, diz.

Com base no levantamento Ibope/Avaaz apontando que 96% dos mil entrevistados defendem mais medidas de fiscalização contra desmate ilegal, a líder da Minoria na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), afirmou que chegou a hora de Bolsonaro “tomar vergonha na cara” e escutar a população.

“Pronto, BolsoNero conseguiu chamar atenção: Vai terminar de destruir a imagem do país no exterior e acabar com nossas exportações. Pelo menos vai te sobrar pasto, presidente”, ironizou o deputado Orlando Silva (PCdoB-RJ).

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) afirmou que o governo não tem compromisso com o meio ambiente. “Enfraquece órgãos de fiscalização, flexibiliza leis que permitem a exploração de reservas naturais e ainda despreza o Fundo Amazônia, com mais de 288 milhões que eram destinados pela Alemanha e Noruega para preservação da Amazônia”, lembrou.

O líder da oposição na Câmara, o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) começou a coletar assinaturas para instaurar uma CPI que investigue as causas das queimadas e exponha o diagnóstico de devastação da floresta.

“96% da população brasileira quer que o governo aumente a fiscalização para evitar o desmatamento. É o que queremos também! Vamos às ruas em todo o Brasil! A Amazônia é de todos nós!”, disse o líder.

A deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) lembrou que a Amazônia corre perigo com Bolsonaro no poder. “Vamos às ruas defender a Amazônia! Basta de crimes ambientais de Bolsonaro e Ricardo Salles”, convocou.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) mandou um recado aos apoiadores de Bolsonaro: “Espero que o agronegócio, que apoiou Bolsonaro, acorde para o fato de que deu um tiro no pé ao cair no seu discurso odioso contra o meio ambiente. Nenhum país do mundo vai querer comprar soja e gado tisnados pela fuligem e sangue de milhares de árvores e animais queimados aqui”.

 

*Com informações do Vermelho