Instituto diz que não há favorecimento e que nem todos os dados estatísticos precisam ser registrados no TSE.
O comitê de campanha de Guilherme Boulos (PSOL) ingressou com uma representação na Justiça Eleitoral pedindo esclarecimentos ao Datafolha. O questionamento é sobre a primeira pesquisa divulgada pelo instituto no segundo turno, no dia 10 de outubro, que indicou uma diferença de mais de 22% entre o psolista e Ricardo Nunes (MDB) na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Além da enorme distância na intenção de voto (33% x 55%), o Datafolha também apontou uma larga rejeição do eleitorado contra Boulos, de 58%. Nunes aparece com 37% neste mesmo quesito.
Os números do Datafolha foram os que apresentaram maior índice, tanto em diferença de voto quanto em rejeição, em comparação com os demais institutos de pesquisa.
A campanha de Boulos questiona a metodologia utilizada pelo Datafolha, pontuando que o instituto “não foi transparente” e que há dúvidas sobre “possíveis ajustes”, que favoreceriam o atual prefeito.
A principal crítica é que os resultados brutos da pesquisa indicam um cenário que não se confirma quando os números foram consolidados, o que configuraria uma “fraude estatística”.
Vale explicar que toda pesquisa de intenção de voto faz uso de um expediente chamado de “ponderação”, usado para calibrar as amostras finais. Estes são índices usados para corrigir eventuais distorções que a pesquisa de campo apresenta ao fim da coleta de dados — como, por exemplo, ter uma amostra com mais mulheres que homens, muito diferente do universo retratado.
O ponto é que o critério de uso da ponderação precisa ser detalhado no ato de registro da pesquisa. Geralmente, são de gênero, idade e escolaridade.
A campanha de Boulos mostrou que o Datafolha aplicou uma ponderação que não havia sido registrada na Justiça Eleitoral. O critério escolhido foi perguntar ao eleitor em qual candidato ele havia votado no primeiro turno.
Os dados brutos do Datafolha indicam que, quando os entrevistadores foram às ruas, 15% dos entrevistados afirmaram ter votado em Pablo Marçal. Como nas urnas, o candidato do PRTB teve 23% dos votos, a ponderação corrigiu este índice para cima, modificando a amostra final.
Internamente, o comitê de Boulos interpreta o ato como “uma gambiarra eleitoral”, e atribui a ela a mudança dos dados da pesquisa, incluindo o índice de rejeição do deputado federal do PSOL.
“Ao ponderar os dados para aproximar os resultados da declaração de voto no primeiro turno dos resultados das urnas, todas as demais respostas foram ponderadas também, gerando grandes mudanças nos resultados ponderados divulgados em relação aos que seriam obtidos pela aplicação das ponderações dos dados demográficos”, diz trecho do pedido do comitê de Boulos ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).
Pelos dados brutos da pesquisa, a diferença entre Nunes e Boulos era de 10,5% pelos dados de campo. Com o uso da ponderação, esse dado saltou para 22,1 pontos percentuais de diferença. Isso no cenário estimulado, quando o pesquisador indica ao eleitor os nomes dos candidatos em disputa.
Na pesquisa espontânea, quando os eleitores informam em quem vão votar, sem que o pesquisador indique os nomes, outra distorção aparece. A diferença salta de dois pontos percentuais na coleta para 12 pontos no resultado final.
A operação é a mesma em que a advogada e influenciadora digital Deolane Bezerra foi presa.
A Justiça de Pernambuco determinou a prisão preventiva do cantor Gusttavo Lima no âmbito da Operação Integration. As informações foram divulgadas inicialmente pelo jornal Folha de S.Paulo.
A Justiça pernambucana também determinou o bloqueio de todos os imóveis registrados nos CPFs e CNPJs ligados ao cantor, além do bloqueio de contas bancárias e aplicações financeiras.
A decisão foi proferida pela juíza Andrea Calado da Cruz, do TJ-PE. A magistrada aceitou o pedido da Polícia Civil pernambucana, rejeitando os argumentos do Ministério Público, que solicitou a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares.
Segundo a juíza, uma aeronave que transportou Gusttavo Lima na volta de uma viagem para a Grécia pode ter deixado no exterior dois investigados no caso, José André da Rocha Neto, dono da casa de apostas VaideBet e sua mulher, Aislla Rocha.
A juíza destacou que Nivaldo Batista Lima, nome verdadeiro de Gusttavo Lima, demonstra uma “alarmante falta de consideração pela Justiça. Sua intensa relação financeira com esses indivíduos, que inclui movimentações suspeitas, levanta sérias questões sobre sua própria participação em atividades criminosas”.
Segundo a juíza, não existe, “no momento, nenhuma outra medida cautelar menos gravosa capaz de garantir a ordem pública”.
A defesa do cantor ainda não se manifestou.
A operação é a mesma em que a advogada e influenciadora digital Deolane Bezerra foi presa. Na ação, a Polícia Civil pernambucana investiga uma organização criminosa que praticava lavagem de dinheiro e exploração de jogos ilegais.
No dia em que a operação foi deflagrada, a Polícia Civil de São Paulo apreendeu um avião que pertencia à Balada Eventos e Produções, empresa de Gusttavo Lima.
O advogado da empresa afirmou que a aeronave, com o prefixo PR-TEN, havia sido vendida para a empresa J.M.J. Participações, de José André da Rocha Neto, dono da VaideBet, mas a ANAC informou que Gusttavo Lima ainda era o proprietário do avião.
“Demonstra-se aqui mais um ato de ocultação dos valores obtidos pela empresa dos jogos ilegais na lavagem de capitais, a adquirente paga milhões de reais pela aeronave, prova é que o casal viajou para os EUA nela, após sua aquisição, mas não a transferiu para seus nomes ou de empresas de sua propriedade”, diz o relatório assinado pelo delegado Paulo Gondim, da Polícia Civil de Pernambuco.
Em entrevista de pouco mais de uma hora ao canal da Rádio Brasil no Youtube, o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, voltou a criticar o Supremo Tribunal Federal, embora sem citá-lo diretamente, e só faltou pedir para ser preso.
Bolsonarista de raiz, financiador do comício realizado pelo ex-presidente no dia 25 de fevereiro último, na Avenida Paulista, o que Malafaia disse de mais explosivo resume-se a um minuto:
“Eu não tenho medo de ser preso, nenhum. Eu estou preparado psicologicamente, emocionalmente, fisicamente, e ainda vou dizer mais uma pra vocês: tem um vídeo meu gravado nas mãos de algumas pessoas; se me prenderem, amigo, hahaha, a coisa vai ficar bonita ao contrário”.
Ao contrário de quem? Ele não disse de quem, só insinuou:
“Sabe? Até isso eu estou preparado. Sabe? E até Bolsonaro, tá, estou dando aqui pra você… Até Bolsonaro tem vídeos gravados, tá? Se for preso, vai ser solto. E aí os caras vão ver o problema que vão arrumar. Só isso, mais nada. Então eu não tenho medo”.
Magistrados ordenaram a retirada dos passaportes e distância de 1 km da vítima.
O ex-jogador brasileiro Daniel Alves, condenado a quatro anos e meio de prisão pelo estupro de uma jovem de 23 anos em uma boate em Barcelona, poderá ser libertado provisoriamente se pagar fiança de € 1 milhão, equivalente a R$ 5,5 milhões.
Por dois votos a um, o Tribunal de Barcelona concordou parcialmente com o pedido da defesa de Alves para libertá-lo, enquanto se aguarda a sentença final. A notificação foi dada pouco antes das 12h (8h no Brasil) desta quarta (20).
Segundo informação da agência France Presse, a advogada da vítima, Ester García, criticou a decisão do tribunal, dizendo que se tratava de “justiça para ricos”
A decisão impôs diversas condições e medidas cautelares. Além da fiança, os magistrados ordenaram a retirada dos dois passaportes de Alves (espanhol e brasileiro). Desta forma, após verificação do pagamento, será acordada a sua libertação provisória, segundo a Folha
Caso saia, o jogador estará proibido de se aproximar da denunciante a uma distância inferior a um quilômetro da sua casa, de seu local de trabalho e de qualquer outro local que frequente. Também não poderá se comunicar com ela por qualquer meio.
O tribunal proibiu Alves de sair do território nacional e, além disso, impôs a obrigação de comparecer perante o Tribunal Provincial de Barcelona semanalmente e em todos os momentos que for convocado e exigido pelas autoridades judiciárias.
A notificação esclarece que a atual prisão de Alves, enquanto aguarda a sentença final, “não pode em caso algum ser a de antecipar os efeitos de uma hipotética pena que possa ser imposta”. Este ponto, enunciado no despacho, exige, após um período de prisão preventiva, a avaliação das circunstâncias pessoais e da eventual necessidade de manutenção da medida.
A decisão surge um dia depois de ter sido realizada a audiência em que a defesa de Alves pediu a sua liberdade provisória, alegando que já cumpriu um quarto da pena.
“Acredito na justiça, não vou fugir”, disse Alves, em sua defesa, na terça. O Ministério Público e a acusação opuseram-se à medida com o argumento de que o jogador de futebol tem condições financeiras para fugir. A advogada de defesa, Inés Guardiola, argumentou, porém, que ele tem domicílio e raízes em Barcelona.
folhajus A newsletter sobre o mundo jurídico exclusiva para assinantes da Folha
Digite seu e-mail
Carregando… Segundo Guardiola expôs na terça, Alves já cumpriu um quarto da pena que o tribunal impôs no final de fevereiro —o que, em caso de sentença definitiva, o habilitaria a começar a receber benefícios penitenciários— e afirmou que o brasileiro não fugiria.
A defesa havia proposto uma fiança de 50 mil euros (R$ 273 mil) e a entrega dos passaportes. Alves, que estava na prisão, participou da audiência por videoconferência.
Mas o estabelecimento da fiança de € 1 milhão pode causar dificuldades ao ex-jogador. Basta lembrar que, no ano passado, para pagar € 150 mil (R$ 818 mil) como “atenuante de reparação de dano”, Daniel Alves contou com a ajuda de Neymar.
O atleta não tem acesso a seus bens devido a processos no Brasil. O atenuante foi utilizado como forma da defesa para diminuir a pena. Segundo artigos do Código Penal espanhol, o mecanismo pode reduzir a sentença em até a metade.
Os bolsonaro saíram pra pescar, em plena segunda-feira, às seis e pouco da matina.
Veja você.
E foram em cardume, num comboio naval que incluiu um barco e duas motos aquáticas.
Por que tão cedo?, perguntavam uns desconfiados curiosos.
Ora, todos sabemos, desde os bíblicos tempos, que a madruga é o melhor horário para a pescaria.
Os peixinhos, vulneráveis porque ainda insones, espreguiçam-se, bocejam e, depois de escovarem os dentes, saem em busca do café da manhã.
É espetar uma minhoca na ponta do anzol, botar um cigarrim de palha no canto da boca e esperar a fisgada.
Nesse meio tempo, aprecia-se o silêncio marulhento daquela imensidão azul,
Ouve-se o alarido das gaivotas a esfregar as asas no vento,
Avista-se uma gigante jubarte a passear com um filhote,
Fotografa-se um golfinho rotador dando acrobáticos giros no ar.
É silêncio, solidão e cerveja.
Mas veja como é ilusória a paz do pescador de segundas-feiras.
Enquanto carluxo se distraía com uma vara na mão, os federa baculejavam o seu cafofo.
Reviravam gavetas, levantavam colchões e espremiam creme dental em busca de vestígios criminosos.
Chegaram mesmo a encontrar uma estranhíssima sacola de lingeries no quarto do cabeçorra.
Só a sacola, nada dentro.
Suspeita-se de que ali estava a farda de pescaria de carluxo.
A vara ele pode ter comprado numa sexy shop.
Pois bem, o horário, como vimos, era propício para a pescaria.
As embarcações, como se deduz, estavam equipadas com os mais modernos equipamentos para a prática de uma fashion fishing.
E o mar, como sempre, estava tranquilo e majestosamente piscoso.
Qualquer caiçara com uma humilde vara de bambu e um anzol remendado, diante de um cenário desses, não voltaria pra casa de mãos abanando.
Pois num é que os nossos diligentes pescadores chegaram à praia sem trazer um único peixe.
Uma escama, uma espinha, nada.
O que nos remete a joão 21, onde lemos que pedro e seus amiguinhos saíram para uma pescaria, “todos subiram no barco, mas naquela noite não pescaram nada”.
Há controvérsias.
As imagens sugerem que jair trazia no ventre a mesma baleia que engolira o jonas bíblico.
Há quem diga que isso é história de pescador.
Mas há, ainda, algo mais mais curioso;
Carluxo, que parece um mero, voltou da pescaria a nado, deixando o jet na casa de um bróder.
Ora, esse bracejar mar a fora levantou suspeita.
Acredita-se que a rede que os pescadores lançaram ao mar já estava cheia de peixes graúdos.
Tratou-se, portanto, de uma pescaria reversa.
O fundo do mar de angra, nesse momento, pode estar repleto de equipamentos eletrônicos.
Espera-se que um bom escafandrista, escarafunchando o pélago marinho, encontre a lan house de carluxo nas obscuras profundezas abissais.
E que Xandão, fantasiado de poseidon, com uma barba rélvica e um tridente afiado, espete o rabo desses mitômanos vigaristas.
É chegada a hora da justiça sair pra pescar, e que não retorne mais com os bagrinhos de sempre, queremos os peixes grandes.
Palavra da salvação.
Lelê Teles é jornalista, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Hang teria ameaçado fechar lojas e demitir funcionários caso o adversário de Bolsonaro, Fernando Haddad (PT), vencesse a disputa.
A Justiça do Trabalho de Florianópolis condenou as lojas Havan e seu dono, Luciano Hang, a pagarem uma indenização de R$ 85 milhões por coagirem seus funcionários a votarem no candidato Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais de 2018. A decisão, que ainda cabe recurso, foi proferida pelo juiz Carlos Alberto Pereira de Castro, da 7ª Vara do Trabalho.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) ajuizou uma ação civil pública contra os réus, alegando que eles promoveram campanhas políticas favoráveis a Bolsonaro, com a participação obrigatória dos empregados em “atos cívicos” na empresa. Além disso, Hang teria ameaçado fechar lojas e demitir funcionários caso o adversário de Bolsonaro, Fernando Haddad (PT), vencesse a disputa. Os trabalhadores também foram obrigados a responder enquetes internas sobre suas intenções de voto, sendo que a preferência do empresário já era conhecida.
Para o MPT, os réus abusaram de sua condição de empregadores para impor sua opinião política sobre os candidatos à Presidência e para condicionar a manutenção dos empregos dos colaboradores, usando métodos humilhantes, vexatórios e ilegais.
Em nota, Luciano Hang criticou a decisão como “descabida e ideológica” e disse que não houve irregularidades comprovadas. Ele afirmou que o juiz não seguiu as provas e agiu por ideologia. Ele se disse vítima de perseguição e de tentativa de criminalização do empresariado.
Oposição protocolou ação contra “megadecreto” de Milei para desregulamentar a economia da Argentina e Judiciário vai analisar legalidade.
O judiciário argentino vai analisar a legalidade da medida do presidente recém-empossado Javier Milei que derrubou mais de 300 leis com o objetivo de desregulamentar a economia do país.
A Justiça abriu uma ação após ser provocada pelo Observatório do Direito a Cidade, que argumenta que o “megadecreto” de Milei é antidemocrático e vai contra o direito coletivo, por impedir a participação popular na decisão.
Milei anunciou o chamado Decreto de Necessidade de Emergência (DNU) na terça-feira (20/12). O documento derruba 366 leis, como as que regulam setores imobiliários, abastecimento e controle de preços. Também foram criadas regras que facilitam a privatização de estatais.
O processo para analisar a legalidade da medida foi autorizado pelo Tribunal Nacional. Milei prepara ainda uma série de projetos de Lei que serão enviados ao Congresso.
Milei se pronunciou pelas redes sociais repostando a mensagem de um apoiador dizendo que “aqueles que se opõem a um decreto tão bom e necessário mostram a sua relutância em resolver as questões urgentes do país”. Veja:
Quienes se oponen a un decreto tan bueno y necesario muestran su poca voluntad de arreglar las cuestiones urgentes del país. https://t.co/HOtfiOsNcb
Desembargadores destacaram a necessidade de obter a “documentação completa do empréstimo, com ênfase para os documentos de comprovação de renda”.
– A 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal decidiu cassar a decisão favorável ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na ação que questiona o empréstimo de R$ 3,1 milhões realizado pelo BRB para aquisição de uma mansão em Brasília, diz o 247.
Segundo a coluna do jornalista Ancelmo Gois, de O Globo, os desembargadores, ao votarem o acórdão, determinaram que a primeira instância conduza novamente a instrução do caso, destacando a necessidade de obter a “documentação completa do empréstimo, com ênfase para os documentos de comprovação de renda”.
Segundo a reportagem, a ação, que está em debate desde 2021, foi apresentada pela deputada federal Erika Kokay (PT-DF), aponta “suposta violação à impessoalidade e à moralidade administrativa, com a ausência de documentos necessários para a justa validação do empréstimo.
A Meta – proprietária do Facebook – pagou R$ 6,1 milhões de multa imposta pela Justiça do Rio por descumprimento de decisões judiciais no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
As ordens judiciais datam de 2018, e obrigavam a Meta a fornecer aos investigadores do caso Marielle dados telemáticos de pessoas que visitaram, no Facebook, alguns perfis ou páginas relacionadas à vereadora.
Em 10 de dezembro de 2020, a empresa foi multada em R$ 5 milhões por não cumprir as determinações judiciais. O montante ainda não havia sido pago devido a uma série de recursos e tentativas de acordo.
Em setembro deste ano, a Força Tarefa Marielle Frando-Anderson Gomes, do Ministério Público do Rio, pediu à Justiça a cobrança da multa, sob pena de bloqueio do valor nas contas bancárias da empresa. Corrigido pela inflação desde dezembro de 2020, o valor chegou aos R$ 6.094.092,83 – que foi pago pela Meta, diz o g1.
Segundo o MP, a gigante da internet só respondeu a três ofícios em março 2021, com três anos de atraso e, mesmo assim, a resposta foi “impossibilidade técnica para fornecer os dados.”
Os promotores dizem que ao receber um quarto ofício, inicialmente a Meta afirmou que não armazenava dados dos usuários. Depois, afirmou que só armazenava por 90 dias.
Na decisão que determinou o pagamento da multa em 48 horas, o juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal da Justiça do Rio, ressaltou que “a insistência em não fornecer os dados ou demorar anos a fazê-lo prejudicou, ao ver do MP, a investigação de dois homicídios consumados, circunstância que era do conhecimento da empresa que, mesmo assim, não colaborou a contento”.
“A empresa detém informações sobre visualizações, consultas, anúncios clicados, dentre outros. Nesse contexto, não é crível que a empresa não tivesse como fornecer dados requisitados por autoridade judicial competente, a pedido do MP, para fins de persecução penal. As ordens têm por base regra constitucional expressa […]. E mais, nunca foram revogadas nem invalidadas, apesar das inúmeras impugnações processuais manejadas pela defesa de Facebook”, acrescentou.
Em nota, a Meta declarou que colabora com as autoridades e cumpre ordens judiciais em conformidade com as leis aplicáveis e capacidade técnica.
Alexandre Ferreira Dias Santini circula desenvolto por Brasília há pouco mais de três anos sem que ninguém — ou quase ninguém — o reconheça como protagonista de um dos escândalos mais ruidosos dos anos em que Jair Bolsonaro esteve no poder.
Bombado, com jeitão de playboy e super falante, ele se mudou da Barra da Tijuca para um flat à beira do Lago Paranoá depois da eclosão da trama que pôs o clã Bolsonaro em apuros.
Santini foi sócio do senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do ex-presidente, em uma loja de chocolates da Kopenhagen que, segundo o Ministério Público do Rio, foi aberta para lavar dinheiro.
Para os promotores que investigaram as chamadas “rachadinhas”, ele entrou na sociedade como uma espécie de laranja de luxo.
Não faz muito tempo, a amizade de quase duas décadas que fez Flávio escolher Santini como sócio na chocolateria virou pó. Desde o primeiro turno da campanha eleitoral do ano passado, os dois estão rompidos.
Nem um nem outro explica os motivos da briga. Pessoas próximas a ambos dão versões diferentes.
Umas dizem que o motivo é de ordem estritamente pessoal — íntima, até (Santini promoveu animadas festas privês que teriam deixado Flávio, seu convidado especial, em apuros). Outras sustentam que o rompimento se deu por diferenças irreconciliáveis na condução dos negócios conjuntos.
No primeiro semestre deste ano, Alexandre Santini mandou para Flávio alguns recados cifrados pelas redes sociais. “Não adianta tentar escapar, tudo é questão de tempo, pois provas não faltam para seus inúmeros ‘crimes na política’ que vão te levar para a PRISÃO”, chegou a escrever o ex-sócio em um dos posts, sem citar o senador nominalmente.
De lá para cá, muita coisa aconteceu e a crise entre os dois escalou. Hoje, Santini trava sua guerra particular contra Flávio Bolsonaro em duas frentes.
Em uma delas, ele mostra a cara, cobra do ex-sócio um valor milionário a título de “acerto de contas” e não diz abertamente tudo o que sabe. Em outra, longe de holofotes, se coloca como um homem-bomba, detentor de segredos que, assegura, podem explodir a carreira do primogênito de Jair Bolsonaro.
A parte mais visível da contenda ganhou forma nas últimas semanas, com uma notificação extrajudicial que os advogados de Santini enviaram para Flávio Bolsonaro.
No documento de três páginas, ao qual a coluna teve acesso, Santini afirma que ficou no prejuízo ao abrir com Flávio Bolsonaro a Bolsotini Chocolates e Café Ltda, razão social da loja de chocolates instalada no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca.
Na peça, primeiro passo de um processo judicial de cobrança, ele dá os números e cutuca Flávio dizendo que, ao fazer os aportes iniciais para a abertura do negócio, o senador pagou sua parte em dinheiro vivo.
Santini diz que, do investimento inicial de R$ 1 milhão, pôs R$ 450 mil do próprio bolso, enquanto Flávio deu R$ 200 mil em espécie e a dentista Fernanda Bolsonaro, mulher do senador, aportou R$ 350 mil por meio de uma transferência bancária.
Também sustenta que, embora a sociedade fosse dividida meio a meio, Flávio sempre ficou com a maior parte dos lucros: R$ 1,7 milhão (dos quais R$ 700 mil foram retirados em dinheiro), contra R$ 644 mil.
O ex-sócio argumenta ainda que pagava contas da Bolsotini sem ser reembolsado e que, quando foi preciso vender a loja, depois de o estouro das rachadinhas inviabilizar o negócio, ficou só com R$ 529 mil, enquanto Flávio recebeu R$ 875 mil.
Por essas diferenças, o ex-sócio agora cobra do filho 01 de Jair Bolsonaro exatos R$ 1.473.344,46.
Na primeira semana de novembro, os advogados de Santini ajuizaram em Brasília uma reclamação pré-processual cobrando o valor
Depois de enviar a notificação extrajudicial, que Flávio não respondeu, Santini fez mais um movimento rumo à judicialização da cobrança. No último dia 1º de novembro, protocolou na Justiça de Brasília uma reclamação pré-processual com os mesmos argumentos e listando os mesmos números. Até agora, não houve resultado.
Na notificação há uma planilha do contador da Bolsotini que, segundo Santini, prova que Flávio levou mais dinheiro
À luz do dia, mostrando a cara, o ex-sócio da loja de chocolates afirma que o que tem para cobrar de Flávio Bolsonaro é o que está detalhado na notificação extrajudicial e na reclamação pré-processual – e nega, com certa veemência, que tenha conhecimento de transações escusas do filho do ex-presidente da República.
“Nunca soube de onde vem o dinheiro em espécie. Meu negócio com o Flávio era apenas a loja. Nunca participei de nada do que ele participa, nem sei se ele participou”, disse em entrevista à coluna na semana passada (ouça abaixo os principais trechos).
Há, porém, um outro lado da guerra, bem mais sujo e pesado.
A coluna teve acesso a uma série de elementos, incluindo documentos e registros de conversas de Santini com pessoas próximas, que mostram que, por trás da cobrança oficial, ele se move para pressionar Flávio a acertar o que deve, sob pena de revelar segredos capazes não apenas de abreviar a carreira política do filho 01 de Jair Bolsonaro, mas também de levá-lo para a prisão.
Sim, se de um lado, publicamente, o ex-sócio de Flávio diz que não sabe dos supostos malfeitos do senador, de outro, na calada do submundo de Brasília, ele fala sem freios do que sabe e do que tem em mãos graças aos anos de intimidade. “Se eu quiser, eu ponho o Flávio na cadeia. Com o que eu tenho na mão, ele vai preso. Sei tudo da vida dele”, afirmou dias atrás.
Em um sinal do quão pesado está o clima entre os dois, o próprio Flávio Bolsonaro, procurado, admitiu estar recebendo “recados”. “Ele tem mandado recados esquisitos para mim. Já me pediu dinheiro e eu não dei. Não quero dar linha para maluco. É um ex-sócio e ex-amigo”, disse o senador.
Os segredos que Alexandre Santini diz ter envolvem transações em dinheiro vivo que incluem aquisições milionárias de imóveis feitas por Flávio, pagamentos de despesas pessoais com recursos de origem suspeita supostamente obtidos graças à influência do senador no governo federal durante o período em que o pai foi presidente e bastidores de como ele, emparedado pelo escândalo das rachadinhas, administrou o silêncio do notório Fabrício Queiroz.
O ex-sócio de Flávio tem repetido que está disposto a relatar tudo às autoridades e conta que tem se aproximado de advogados ligados ao PT que estariam dispostos a auxiliá-lo na empreitada, garantindo a proteção necessária para que ele fale o que sabe.
Encontro tenso no Senado O rompimento definitivo com Flávio se deu, diz Santini, pouco antes do primeiro turno das eleições presidenciais do ano passado. O ex-sócio afirma que procurou o senador em seu gabinete, no Congresso Nacional, e lá os dois tiveram um tête-à-tête reservado – e tenso, bastante tenso. Chegou para apresentar a cobrança e saiu com a certeza de que a amizade de outrora havia mesmo acabado.
“Eu falei: olha, Flávio, está aqui a planilha que você me deve. Sempre trazendo para o valor presente… Todo o valor, sem ser ajustado, aqui você me deve 1,7 milhão. Tá aqui, olha. Ele sabe que é isso. Ele olhou e falou: ‘Tá bom’. ‘Eu falei: Tá, quando você pode pagar?’ ‘Agora eu não posso.’ ‘Tá bom.’ ‘Quando você vai me pagar?’ ‘Pensando bem, eu não vou te pagar, porque eu não te devo nada. Se quiser, procura a Justiça e você vai perder porque eu tenho poder’”, conta. “Olha quem você é e olha quem eu sou… Você vai perder tempo e dinheiro. Você vai se f.”, teria dito Flávio, ainda de acordo com os relatos de seu ex-sócio.
Foi depois dessa conversa que Santini começou a considerar a possibilidade de falar. Não demorou para que ele fizesse o senador saber de sua disposição, na tentativa de fazê-lo acertar as contas.
Tão perto, tão longe Curiosamente, entre os portadores dos recados para Flávio está a própria mulher do senador, cujo consultório odontológico, em um centro clínico do Plano Piloto de Brasília, tem sido visitado com frequência por Santini – ele diz que, apesar de ter rompido com o marido de Fernanda Bolsonaro, segue como paciente dela. “Vou lá de tempos em tempos porque tenho que trocar meu aparelho.”
O filho de Jair Bolsonaro, claro, passou a interpretar as mensagens como ameaça.
Ao falar à coluna, na semana passada, Santini negou peremptoriamente que a loja de chocolates da qual foi sócio com Flávio tenha servido para lavar dinheiro, como sustentaram os promotores do Rio na investigação das rachadinhas. Talvez seja um cuidado para evitar mais embaraços. Afinal, admitir, de viva voz, envolvimento em uma trama criminosa poderia lhe render problemas.
Em sua outra versão, porém, esse cuidado não existe.
Chocolate indigesto Quando desfia em privado as histórias dos tempos em que esteve junto com o senador, ele fala sem reservas que o fluxo financeiro da loja realmente fugia dos padrões de um negócio normal.
Diz, por exemplo, que no primeiro ano já foi possível recuperar, na contabilidade oficial, todo o dinheiro investido no negócio, o que não é normal em se tratando de um estabelecimento que funcionava em um shopping que nem está entre os maiores do Rio.
Lobby com parceiros Nas conversas reservadas, Santini tem mencionado, ainda, negócios escusos que outros amigos muito próximos de Flávio teriam feito em Brasília graças à relação com o senador. Esses negócios envolveriam a oferta de influência junto a órgãos federais durante o governo de Jair Bolsonaro.
Parceiros de Flávio que o conheciam de longa data do Rio chegaram a montar escritórios na capital com essa finalidade. Alguns deles, supostamente com recursos obtidos nessas transações escusas, teriam dividido os ganhos com Flávio de diversas formas – uma delas, pagando despesas do 01.
A mansão que Flávio comprou em 2021 no Lago Sul de Brasília pelo valor declarado de pouco menos de R$ 6 milhões, por exemplo, teria sido mobiliada e equipada com “presentes” pagos por esses amigos.
Entre os mimos estariam aparelhos de academia de primeira linha que foram comprados pela turma e entregues diretamente na mansão. Santini guarda consigo as cópias das notas fiscais. A coluna teve acesso a parte delas e, de fato, o nome do comprador registrado nos documentos é o de um advogado que, durante o governo passado, se apresentava em Brasília como uma espécie de atalho para quem quisesse se aproximar de Flávio Bolsonaro.
Na notificação há uma planilha do contador da Bolsotini que, segundo Santini, prova que Flávio levou mais dinheiro
Relógios de luxo Ainda na lista dos segredos guardados pelo ex-sócio há um capítulo que lança o senador para dentro da trama dos relógios e jóias de luxo recebidos pelo ex-clã presidencial durante o governo passado – assunto que levou Jair Bolsonaro a virar alvo de mais uma investigação no Supremo Tribunal Federal.
Ao listar o que tem sobre Flávio Bolsonaro, Santini tem exibido, a partir do rolo da câmara de seu celular, fotos de uma extensa coleção de relógios de luxo que, diz, o senador ganhou durante viagens oficiais e, também, de empresários interessados em tê-lo como amigo.
mobiliário Santini diz saber, ainda, como Flávio Bolsonaro virou um ás do ramo imobiliário a partir do período em que ocupou uma cadeira de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio.
Várias das transações do hoje senador da República, como a aquisição de apartamentos em bairros nobres da zona sul carioca e de um andar inteiro de um prédio de salas comerciais na Barra da Tijuca, chegaram a ser alvo da apuração do MP fluminense, sob suspeita de lavagem de dinheiro.
Os relatos do ex-sócio, se comprovados, podem dar força à linha de investigação iniciada pelos promotores, que acabou porque a Justiça arquivou a acusação formal apresentada em 2020.
O elo com Queiroz A loja de chocolates não é o único elo entre Alexandre Santini e Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas.
Por um tempo, depois da eclosão do escândalo, o ex-sócio do filho 01 de Jair Bolsonaro funcionou como um ponto de contato com Fabrício Queiroz, o ex-policial militar que trabalhou como assessor dele na Alerj e foi acusado de ser o operador do esquema.
Queiroz e Santini se falavam com frequência. Alguns dos registros dessas conversas estão preservados até hoje.
É o caso de um lote de áudios nos quais Queiroz, dizendo estar em apuros financeiros (“estou pulando uma fogueira”), pede dinheiro ao ex-sócio de Flávio.
Em pelo menos uma das gravações, Queiroz se refere a Alexandre Santini como um dos aliados da família que, assim como ele, se mantiveram fiéis, mas acabaram escanteados, diferentemente de outros que se deram bem durante o governo Bolsonaro (“Não tem um da nossa época que não está bem”).
Queiroz afirma no áudio que, se Santini pudesse socorrê-lo, depois “nosso amigo”, referindo-se a Flávio, faria o acerto de contas.
A relação entre os dois é estreita. Santini e Fabrício Queiroz se conheceram quando o ex-policial era o principal homem de confiança de Flávio no gabinete na Alerj. Em uma evidência de que integravam, juntos, o círculo mais próximo do hoje senador, quando Jair Bolsonaro foi esfaqueado na campanha presidencial de 2018 em Juiz de Fora, foram os dois — Santini e Queiroz — que viajaram com Flávio, de carro, para a cidade mineira logo após receberem a notícia.
Indagado sobre sua relação com Queiroz, Santini elogia o ex-faz-tudo de seu ex-amigo. “Muito boa pessoa. Infelizmente, foi abandonado pela família. É um cara bacana”, afirma.
Amigo íntimo do clã Paulista, Alexandre Santini mudou-se para o Rio ainda na juventude, enquanto cursava administração de empresas. De família rica – o pai trabalhava para a Odebrecht e a mãe é dona de um hospital -, já na capital fluminense ele abriu uma empresa de importação na qual tinha como sócio Carlos Alberto Parreira, ex-técnico da Seleção.
Foi nessa época que conheceu Flávio Bolsonaro. A amizade se estreitou de tal maneira que, em pouco tempo, ele se transformou em um dos melhores amigos do senador e criou laços com todo o clã, incluindo o próprio Jair Bolsonaro. Costumava participar de comemorações nas quais havia apenas integrantes da família.
Com Flávio, Santini dividiu festas de arromba — de balada na casa do jogador Neymar a réveillon em Angra dos Reis. Após mudar-se para Brasília, ele chegou a abrir uma empresa de tecnologia que não tinha nem sede física – o endereço declarado era um terreno baldio na Asa Sul.
A ideia, que surgiu de conversas com um lobista ligado a Frederick Wassef, era aproveitar a boa relação que tinha com a então primeira-família da República para ganhar dinheiro. Com capital social de R$ 105 mil, a Santitech Suporte em Tecnologia da Informação ficou aberta por dez meses.
Riquinho, namorador e homem-bomba Hoje Santini se gaba de andar por Brasília incógnito, sem ser reconhecido como o homem que o Ministério Público acusou de ser laranja de Flávio Bolsonaro. Ele diz, orgulhoso, que sua fama na cidade é de “riquinho” e namorador.
Quando é indagado se acredita que ainda receberá o valor que cobra, o ex-sócio do 01 responde que sim e, com a mesma naturalidade, nega que esteja chantageando Flávio Bolsonaro ou que, por debaixo dos panos, esteja apresentando uma conta maior do que aquela de 1,4 milhão que admite publicamente.