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Mauro Cid afirma em delação à PF que Bolsonaro atuou diretamente na elaboração de minuta golpista

A Polícia Federal está aprofundando as investigações sobre as afirmações feitas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, que aponta que Jair Bolsonaro (PL) teria atuado diretamente na discussão e alteração da minuta de um decreto golpista visando impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

De acordo com o jornal O Globo, em sua delação premiada à PF, Cid sustenta que “o ex-presidente pediu alteração em uma minuta de documento que determinava a prisão de autoridades e a realização de novas votações no país”.

Segundo Cid, Bolsonaro teria recebido uma minuta do decreto golpista do então assessor Filipe Martins, que delineava “supostas interferências do Poder Judiciário no Executivo” e propunha a adoção de medidas de exceção. “O esboço desse documento, de acordo com o militar, terminava com a determinação de realização de novas eleições e a prisão de autoridades, sem especificar quem executaria a ação.

Após ler a minuta, de acordo com o relato de Cid, Bolsonaro pediu para alterar parte da estrutura do texto, mantendo a convocação de novas eleições e apenas a prisão de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As demais autoridades relacionadas no decreto foram excluídas”, destaca a reportagem.

”O próprio Martins, segundo relato de Cid à PF, retornou dias depois com uma nova versão do texto com a alteração solicitada por Bolsonaro.

Ainda de acordo com o ex-ajudante de ordens, “o ex-presidente concordou com a mudança feita na minuta e mandou chamar os comandantes das Forças Armadas para discutir a medida antidemocrática”, destaca o periódico.

O plano golpista, porém, não foi adiante devido à falta de apoio de alguns comandantes das Forças Armadas, conforme relatos do ex-ajudante de ordens. O então comandante da marinha, almirante de esquadra Almir Garnier, teria sido o único dos comandantes militares a demonstrar apoio à intentona golpista.

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Novas reuniões delatadas por Mauro Cid geram apreensão em Bolsonaro e seu entorno

Antigos membros do governo Bolsonaro e o ex-presidente já foram alertados que outros encontros para debater temas nada republicanos fazem parte do acordo do ex-ajudante de ordens. Entre os assuntos tratados nessas conversas com máximo sigilo estão acusações de fraudes nas urnas e ações para explorar o tema.

A Polícia Federal passou a fazer diligências para comprovar os relatos de Mauro Cid. Uma delas é a solicitação de todas as pessoas que entraram no Palácio do Alvorada nos últimos quatro meses do governo Bolsonaro. Em depressão e com uma ferida na perna, o ex-presidente deixou o Alvorada poucas vezes após sua derrota para Lula.

Foi nesse período que aconteceu o encontro de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas para debater um golpe, conforme revelado pela coluna de Bela Megale, O Globo.

Outra frente que vem sendo usada pelos investigadores para corroborar a delação de Mauro Cid são mensagens de celulares. A PF faz um pente-fino não só no aparelho do tenente coronel, mas em telefones como o de seu pai, o general Mauro Lourena Cid, e os quatro celulares do advogado Frederick Wassef.

Se as conversas dos aparelhos irem contra os relatos de Cid, ele corre risco de perder os benefícios de seu acordo.

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Se Mauro Cid não tivesse delatado, o comando militar guardaria para sempre o segredo da reunião da proposta de golpe de Bolsonaro?

Bolsonaro não teve sucesso na tentativa de golpe que já tinha uma minuta que permitiria a prisão de muita gente, inclusive do presidente do TSE, ou seja, Alexandre de Moraes, que é ministro do STF e do TSE, onde outros ações típicas de um golpe militar se daria, permitindo que os golpistas cuspissem na constituição.

A resposta dos militares foi um sonoro NÃO, à exceção do comandante da Marinha, consequentemente, o golpe foi para o brejo.

Até aí as ações golpistas estão bem claras, o que se lê em cobranças de muitos colunistas da mídia, é que o tratamento dado pelos militares a Bolsonaro foi, no mínimo, equivocado.

Diante de tamanha gravidade, os militares deveriam dar voz de prisão ao golpista ou denunciá-lo imediatamente aos órgãos competentes, já que é inconstitucional um presidente da República propor a derrubada de um governo eleito e a tomada do poder.

Esse deveria ser o primeiro ato. Tudo indica que a decisão foi a de manter a reunião em segredo, ao menos provisoriamente e, mais tarde, com as condições ideais, abasteceriam os militares que resolvessem abrir o segredo para a sociedade.

O problema é que isso só veio a tona desastrosamente por conta da delação de Mauro Cid que, por sua vez, assinou um acordo de delação premiada para sair da prisão.

A questão é, se nada disso tivesse ocorrido, a prisão e delação de Cid, o encontro extraoficial de Bolsonaro com o comando das Forças Armadas seria guardado a 7 chaves para o túmulo de cada um.

Aqui se fala de um crime grave contra um povo, contra a democracia, tanto quanto as tais quatro linhas da constituição. É essa a pergunta que vem imediatamente acompanhada de um dilema, por que os comandantes militares se mantiveram em silêncio diante desse capítulo sombrio a que foram, na medida do possível, confidenciado, quando a solução natural e honesta seria reduzir Bolsonaro a pó e levá-lo imediatamente à prisão.

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Cid recebeu estudo sobre ‘poder moderador’ de militares dois dias após reunião de Bolsonaro com chefes das Forças Armadas

Encontro não aparece na agenda oficial; documento foi encontrado pela PF no celular do tenente-coronel.

E-mail da equipe de ajudantes de ordens da Presidência aponta um encontro do ex-presidente Jair Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e o general Braga Netto no dia 14 de novembro de 2022, quinze dias após o segundo turno da eleição. A reunião, que não constou na agenda oficial do ex-presidente, teria ocorrido no Palácio da Alvorada. Dois dias depois, o ex-auxiliar de Bolsonaro Mauro Cid recebeu um estudo sobre o “poder moderador” de militares, tese adotada por bolsonaristas para justificar uma intervenção, segundo O Globo.

Segundo a delação de Cid, revelada pela colunista Bela Megale, Bolsonaro se encontrou com a cúpula das Forças Armadas e os integrantes do governo da ala militar após as eleições para discutir detalhes de uma minuta golpista. Não é possível dizer, contudo, se o documento tratado na reunião tenha alguma relação com o encontrado no celular do tenente-coronel. Também não há informações se o relato de Cid diz respeito a esse encontro específico.

Na ocasião, o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria dito a Bolsonaro que sua tropa estava pronta para aderir a um chamamento do então presidente. Nos e-mails trocados que tratam da agenda do dia 14, não há menção nominal aos comandantes, mas as três Forças eram chefiadas na ocasião pelo almirante Garnier (Marinha), pelo general Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e pelo tenente-brigadeiro do ar Baptista Junior (Aeronáutica).

Os e-mails também registram um outro encontro fora da agenda oficial de Bolsonaro com Garnier, o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, o ministro Paulo Sérgio Nogueira e o então assessor especial para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, no dia 18 de dezembro de 2022. As agendas estão sendo analisadas pelos integrantes da CPMI do 8 de janeiro.

Em um depoimento que consta na sua delação, Cid relatou que Martins entregou a Bolsonaro uma minuta de decreto que previa a convocação de novas eleições e a prisão de adversários. A informação foi revelada pelo UOL. Segundo a reportagem, Bolsonaro recebeu em mãos o texto, mas não manifestou a sua opinião sobre a trama golpista.

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Em delação, Mauro Cid coloca Bolsonaro na porta da cadeia

A cada dia que passa, a estrela de Lula brilha mais e Bolsonaro empalidece, perde unicidade até na parcela mais extremada do seu próprio curral, o que mostra que Bolsonaro jamais teve brilho próprio.

Com o advento da delação de Mauro Cid, dois dias depois da impecável fala de Lula na Tribuna da ONU, os critérios políticos para a prisão de Bolsonaro floriram contra o criminoso de maneira inapelável.

Mauro Cid, que foi praticamente o tutor de Bolsonaro, desprezou totalmente qualquer critério republicano para Bolsonaro governar na base da “especionalidade”.

Agora, em fim de carreira e com a missão dada pelo STF de delatar todos os crimes de Bolsonaro, a revelação feita por ele, nesta quinta-feira, de que Bolsonaro arquitetou, operou, convocou as Forças Armadas para um golpe de Estado, transformou-se numa espécie natural de cadeado para a sela do meliante.

Todo o alvoroço que tal delação provocou, pinta, por todos os ângulos, a trajetória desse cretino, mas não turva a paisagem escancarada que Cid revelou com uma naturalidade e, certamente, com provas de que Bolsonaro só não deu um golpe porque o comando das Forças Armadas lhe virou as costas, menos o represente da Marinha à época, o Almirante Almir Garnier Santos.

Ou seja, Bolsonaro não deixa dúvidas, especialmente para aqueles que tagarelam que Bolsonaro não quis dar golpe.

Bolsonaro não só propôs o golpe, com também denunciou Cid, apresentou uma minuta ao alto comando militar que propunha transformar seus inimigos da esquerda numa tripa, prendendo e sabe-se lá mais o quê constava numa extensa gama de ações programadas para servir como abuso de poder contra qualquer palavra que se opusesse a esse sonhado golpe seguido de uma ditadura.

Vamos nos fixar aqui não nos detalhes e nem nas entrelinhas, mas naquilo que pode e certamente vai levar essa criatura, que fede a enxofre, para a cadeia, sem dar qualquer coreto artificial para aqueles pouquíssimos que ainda defendem o delinquente.

Não há mais o que esperar, Bolsonaro não só pode, como deve, ser preso imediatamente.

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Em delação, Mauro Cid revela que Bolsonaro fez reunião com cúpula militar para avaliar golpe no país

O ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniu, no ano passado, com a cúpula das Forças Armadas e ministros da ala militar de seu governo para discutir detalhes de uma minuta que abriria possibilidade para uma intervenção militar. Se tivesse sido colocado em prática, o plano de golpe impediria a troca de governo no Brasil. A informação chegou à atual chefia das Forças Armadas, como um dos fatos narrados em delação premiada pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, diz Bela Megale, O Globo.

O relato caiu como uma bomba entre os militares. Segundo informações apuradas pela coluna, Cid relatou que ele próprio foi um dos participantes de uma reunião onde uma minuta de golpe foi debatida entre os presentes.

O dado que mais criou tensão na cúpula das Forças é o de que Cid revelou que o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria dito a Bolsonaro que sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento do então presidente. Já o comando do Exército afirmou, naquela ocasião, que não embarcaria no plano golpista.

A delação premiada de Mauro Cid é considerada um ponto de partida das investigações. A Polícia Federal tem tratado o tema com cautela e sigilo. Para os fatos serem validados e as pessoas citadas pelo tenente-coronel serem eventualmente responsabilizadas, é preciso que haja provas que corroborem as informações repassadas pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

É grande a preocupação entre os militares sobre os efeitos que o relato de Mauro Cid pode ter, principalmente por envolver membros da cúpula das Forças e ministros que, apesar de estarem na reserva, foram generais de alta patente.

Veja a opinião de colunistas do Uol:

 

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O longo caminho até a prisão de Jair Bolsonaro

A delação do Mauro Cid é uma bomba ou meia bomba?

Engana-se quem aposta que Jair Bolsonaro esteja próximo de ser preso depois da delação de Mauro Cid.

O único jeito do ex-presidente parar no xilindró neste momento seria por meio de uma prisão preventiva ou se reiterar em crimes.

Porém, ele tem comparecido aos depoimentos na polícia e não há nenhuma indicação de que esteja atrapalhando as investigações ou coagindo testemunhas.

Ainda há duvidas quanto ao teor da delação do ex-braço direito do Bolsonaro. Pelo que saiu na Veja, o depoimento de Cid talvez até ajude o ex-presidente a se livrar da cadeia ou atrasar ainda mais sua chegada.

É o que pensa Bruno Salles, advogado criminalista do grupo Prerrogativas. “Nunca esteve tão longe a prisão de Bolsonaro”, diz em tom de lamento. Para Bruno, o “Mauro Cid aparentemente está entregando o Bolsonaro, mas na verdade o está salvando de tudo”. Espera-se que a delação ajude a elucidar a venda ilegal de joias que Bolsonaro recebeu enquanto era presidente, em especial se a grana parou nas mãos dele. Também é aguardado que Cid entregue o roteiro do golpe de estado, além de mais detalhes sobre o mandante da falsificação do cartão de vacina. Mas não foi o que se viu pelo que vazou da delação até agora. Palavras do Bruno ao blog:

“A acusação das joias, ela é fraca. Você tem uma discussão jurídica sobre se podia vender aquilo ou não, se as joias eram bem personalíssimos ou não. Tem um conflito ai de legislação e o advogado do Bolsonaro está explorando isso muito bem. A única coisa que o Cid põe no Bolsonaro é isso. Ele diz que achou que poderia vender, o Bolsonaro mandou que vendesse, o Cid diz que vendeu e entregou o dinheiro para ele. Todo resto: vacina, golpe de estado, tudo isso ele tira, ele fala que um monte de louco mandava plano de golpe no celular, mas que nunca falou com nenhum dos generais, nem Braga Netto, nem General Heleno ou Luiz Eduardo Ramos. Ele está passando pano para o Bolsonaro. Em relação à vacina, ele chama tudo para ele também.” (Bruno Salles)

Advogado de 3 ex-presidentes, mas jamais do Jair Bolsonaro, o experiente Antônio Carlos de Almeida, o Kakay, acredita em “abundância de provas” no caso das joias, mas num longo período até uma possível prisão.

“Bolsonaro até onde sei responde a cinco inquéritos, todos eles com crimes que podem levar à prisão após o julgamento. Neste momento, ele levando uma vida normal, não estando interferindo e nem reiterando em crimes, não vejo nenhum motivo técnico para a prisão. O caso das joias me parece ter uma abundância de provas, mas tem que ser feita uma denúncia e ter o devido processo legal. Não enxergo nada neste momento que possa ser favorável a uma prisão dele.” (Kakay)

Um pouco mais otimista quanto a ver Bolsonaro em cana já que o que não falta é crime imputado a ele, o jurista autor de mais de 70 livros Lenio Streck acha que o “cerco vai se fechando na ligação de Bolsonaro com o golpe de estado”. Ele diz que “já não se duvida de que houve tentativa de golpe – isso já está provado; o que falta é uma ligação objetiva da ligação de Bolsonaro como líder da conspiração”.

*Blog do Noblat

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Mauro Cid diz à PF que entregou dinheiro das joias a Bolsonaro ‘em mãos’

Em depoimentos, ex-ajudante de ordens confirma que organizou a venda de dois relógios do acervo público nos EUA e repassou o valor ao ex-presidente.

Há muito Brasília não vivia um clima de suspense parecido com o que se viu nos últimos dias — mais precisamente desde sábado 9, quando o tenente-coronel Mauro Cid foi libertado após assinar um acordo de colaboração premiada. Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, ele foi braço direito do ex-presidente durante os quatro anos de mandato. Nada — ou quase nada — acontecia no terceiro andar do Palácio do Planalto sem o conhecimento do militar, que acompanhava reuniões, viagens, atendia as ligações do presidente, agendava encontros e cuidava das contas pessoais da família.

Com essa miríade de atribuições sensíveis, Cid viu, ouviu e compartilhou das mais íntimas situações. O coronel estava preso preventivamente havia quatro meses. Dias antes de ser solto, ele prestou depoimentos à Polícia Federal e confessou sua participação em dois casos investigados pelo Supremo Tribunal Federal — a falsificação de cartões de vacinação e a tentativa de vender joias, relógios, canetas e outros presentes recebidos por Bolsonaro durante o governo.

No primeiro caso, o dos cartões de vacina, Cid assumiu a responsabilidade por tentar fraudar os registros do Ministério da Saúde ao emitir documentos que atestavam que ele, a mulher e as filhas haviam recebido os imunizantes contra a Covid-19. Segundo o militar, o objetivo seria apenas o de ter em mãos uma espécie de salvo-conduto para ser usado caso a família fosse alvo de eventuais perseguições depois de terminado o governo. Cid temia que a esposa e as filhas pudessem sofrer algum tipo de retaliação futura por não terem se vacinado. “Eu estava com medo de perseguição, a gente não sabia o que ia acontecer. Estava com medo de a minha filha não poder ir para a escola, a minha esposa não poder entrar no mercado”, explicou, contrariando uma das linhas de investigação da polícia, que viu na iniciativa do coronel uma forma de driblar a fiscalização sanitária em viagens ao exterior depois de deixar o governo.

No segundo caso, o da venda de joias, a confissão do coronel embute revelações que comprometem e certamente vão agravar a situação jurídica de Jair Bolsonaro. Cid admitiu ter participado da venda de dois relógios de luxo recebidos pelo mandatário — um Patek Philippe e um Rolex. E, no ponto mais sensível do depoimento, confirmou ter repassado o dinheiro obtido no negócio ao ex-presidente. Foi a Polícia Federal quem descobriu a transação, realizada na surdina nos Estados Unidos, para onde Bolsonaro viajou no fim do ano passado acompanhado do ajudante de ordens e levando na bagagem dois kits de joias.

Ao ser confrontado com a informação, o ex-presidente disse que desconhecia o negócio e não havia recebido nenhum dinheiro proveniente de venda dos presentes. O depoimento de Cid desmonta essa versão. “O presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado a pagar várias multas”, contou. A ideia de vender as peças, portanto, surgiu de uma necessidade de levantar recursos para bancar suas despesas.

SUSPEITA - Manifestantes acampados em frente ao QG do Exército e minuta encontrada no celular do coronel: roteiro do que seria um golpe de Estado.

SUSPEITA - Manifestantes acampados em frente ao QG do Exército e minuta encontrada no celular do coronel: roteiro do que seria um golpe de Estado

Na última segunda-feira, já em liberdade e usando tornozeleira eletrônica, Cid visitou um colega. Os boatos sobre o conteúdo de sua colaboração, mantida em sigilo, ganhavam dimensão, especialmente em relação à venda das joias. Ele então explicou que, apesar de tudo, não houve intenção de nenhum deles em fazer nada errado. Antes de terminar o governo, o presidente pediu ao coronel que avaliasse alguns presentes — itens, segundo ele, classificados como “personalíssimos”, ou seja, faziam parte do acervo pessoal do presidente e, por essa razão, podiam ser comercializados. “A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal”, contou o ex-ajudante de ordens.

A polícia já havia rastreado praticamente tudo sobre a transação, mas ainda faltavam peças importantes para completar o quebra-­cabeça. O relógio Patek Philippe, por exemplo, nem sequer chegou a ser registrado no setor responsável pelo recebimento de presentes — ou seja, oficialmente, o regalo nunca existiu para o Estado brasileiro.

Para os investigadores, Bolsonaro criou uma estrutura para desviar bens públicos de alto valor para fins de enriquecimento ilícito. Faltava, porém, uma informação fundamental para fechar a investigação: a prova de que o ex-presidente recebeu o dinheiro proveniente do negócio. Cid elucidou o caso. Segundo ele, o dinheiro da venda dos relógios foi depositado na conta do pai dele, o general Mauro Lourena Cid, sacado em espécie e repassado em mãos a Bolsonaro — “Em mãos. Para ele”. A entrega dos valores— 68 000 dólares, segundo os federais — se deu de maneira parcelada, parte do pagamento ainda em solo americano.

Apesar da colaboração, Cid tem de cumprir algumas exigências impostas pelo ministro Alexandre de Moraes. Além da tornozeleira, é obrigado a permanecer em casa durante a noite e nos fins de semana e comparecer semanalmente à Justiça de Brasília. Ele não pode deixar o país ou se comunicar com os outros investigados nos processos, como o próprio presidente Bolsonaro ou seus advogados. Não há, porém, restrições para ele conversar com amigos e familiares. O coronel tem se dedicado a tentar retomar a rotina, visitar pessoas próximas e ficar com a esposa e a filha de 6 anos. Nessas conversas, ele faz questão de contar sua versão dos fatos, deixando claro que “cumpria ordens” e sempre ressaltando a admiração que ainda cultiva pelo antigo chefe.

FRAUDE - Cartão falso: o coronel se responsabilizou pela adulteração dos certificados de vacinação contra a Covid

O ex-ajudante de ordens também precisou dar explicações sobre um roteiro de teor golpista encontrado em seu celular que discorria sobre a anulação das eleições do ano passado, que se somaria a uma intervenção no Supremo Tribunal Federal (STF) e à convocação de um novo pleito. Cid afirmou que, pelas funções que exercia, seu telefone canalizava incontáveis mensagens sobre diversos assuntos, e mais de uma pessoa lhe encaminhou planos mirabolantes com conotação golpista — mas garante que não passou de um choro livre e que não deu prosseguimento ao material. “Eu recebia um monte de besteira nesse sentido, de gente que defendia intervenção, mas não repassava para o presidente. Qual o valor daquele texto encontrado no meu celular?”, disse.

A blindagem é estendida à trinca de generais que compuseram o alto escalão do governo Bolsonaro. Tidos pela PF como incitadores de um movimento golpista, os ex-ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto (Casa Civil) foram poupados por Cid em suas tratativas. Por essa versão, não há nada que macule os ex-auxiliares. “Nunca vi o general Braga Netto levando nada ao presidente, nenhuma proposta.

O general Ramos desapareceu naquele período. O general Heleno estava mais preocupado com a saúde do presidente do que com os manifestantes”, afirmou ele. Nos últimos dias, o pai do ex-ajudante de ordens se empenhou pessoalmente em disparar telefonemas para negar as notícias divulgadas de que o filho teria incluído os generais no seu cardápio de colaboração.

COLABORAÇÃO - Braga Netto, Ramos e Augusto Heleno: rumores de que os generais teriam sido citados em trama golpista

*Reportagem exclusiva da Veja

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Mauro Cid vai citar generais que atuaram no governo Bolsonaro em delação

Generais Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos estão na lista.

O tenente-coronel Mauro Cid vai citar militares que participaram do núcleo do governo de Jair Bolsonaro (PL) em seu acordo de delação premiada, homologado no fim de semana pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), diz Mônica Bergamo, Folha.

Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, deve citar, entre outros, o general Augusto Heleno, que foi chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo passado, e também o general Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

Heleno já negou, em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF, que tivesse ajudado a articular uma tentativa de golpe.

Ramos afirmou, quando estava no cargo, que seria “ultrajante e ofensivo” afirmar que os militares estariam envolvidos em algum plano de golpe. Mas fez um alerta para “o outro lado”: “Não estica a corda”.

De acordo com pessoas familiarizadas com as tratativas de colaboração de Cid, ele deve citar também os generais Eduardo Pazuello e Braga Netto, e um outro general da reserva.

De acordo com pessoas familiarizadas com as tratativas de colaboração de Cid, ele deve citar também os generais Eduardo Pazuello e Braga Netto, e um outro general da reserva.

O Exército, no entanto, pode respirar aliviado: o ex-ajudante de ordens não deve citar militares da ativa em seu depoimento, mesmo diante do fato de golpistas do 8/1 terem permanecido por longo tempo acampados no QG da força por um longo tempo.

Heleno já negou, em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF, que tivesse ajudado a articular uma tentativa de golpe.

Pelo contrário: ele vem afirmando que o Exército barrou qualquer tentativa de estímulo a uma intervenção militar no processo político.

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Como Bolsonaro recebeu a delação de Mauro Cid

Ex-presidente mostrou ceticismo e surpresa sobre o acordo.

Jair Bolsonaro ainda apresenta dificuldades em acreditar que o ex-aliado de primeira hora, o tenente-coronel Mauro Cid, fez uma delação premiada com a Polícia Federal que o implica diretamente, diz Bela Megale, O Globo.

Após a notícia da homologação do acordo pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes vir à tona, no sábado, o ex-presidente ainda mostrou a aliados ceticismo e surpresa, mas pediu que auxiliares entrassem em campo para levantar informações sobre o que Cid já relatou à Polícia Federal.

Interlocutores de Bolsonaro vinham se comunicando com interlocutores da família e da defesa de Cid. Até o fim de semana, eles asseguravam ao grupo do ex-presidente que não havia acordo em andamento. Bolsonaro acreditava nesta versão até sábado, quando o clima mudou após a liberdade provisória concedida ao seu ex-ajudante de ordens devido à delação.

— É a maior tragédia. O fim do mundo para Bolsonaro — resumiu um aliado que atuou por anos na sua banca de advogados.

No PL, a estratégia, por hora, é tentar minimizar publicamente a potência explosiva da delação de Mauro Cid.

— Não tem verba pública que envolva Bolsonaro em nada. Não tenho nenhuma preocupação — disse o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

A maior preocupação da delação de Cid no PL são os relatos detalhados e possíveis provas sobre investidas golpistas. Há o receio que o militar implique não somente o ex-presidente com dados sobre encontros fora da agenda que trataram desse tema, mas que atinja outros filiados da sigla, como o ex-ministro e general Walter Braga Netto.

Braga Neto se destaca como quadro favorito da legenda para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro em 2024.

Correligionários do partido e assessores de Bolsonaro relataram à coluna que não existe uma estratégia focada para o cenário da delação e que, até então, a legenda só trabalhava com o horizonte de o acordo não atingir o ex-presidente frontalmente.

Atualmente, os planos estão sendo revistos. O que está certo, por ora, é que o PL seguirá apelando para a narrativa de que Bolsonaro seria um “perseguido político” e atuará para empoderar ainda mais a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro para assumir o capital político do marido. Com cirurgia marcada para esta semana, Bolsonaro deve submergir nos próximos dias.

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