O ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniu, no ano passado, com a cúpula das Forças Armadas e ministros da ala militar de seu governo para discutir detalhes de uma minuta que abriria possibilidade para uma intervenção militar. Se tivesse sido colocado em prática, o plano de golpe impediria a troca de governo no Brasil. A informação chegou à atual chefia das Forças Armadas, como um dos fatos narrados em delação premiada pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, diz Bela Megale, O Globo.
O relato caiu como uma bomba entre os militares. Segundo informações apuradas pela coluna, Cid relatou que ele próprio foi um dos participantes de uma reunião onde uma minuta de golpe foi debatida entre os presentes.
O dado que mais criou tensão na cúpula das Forças é o de que Cid revelou que o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria dito a Bolsonaro que sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento do então presidente. Já o comando do Exército afirmou, naquela ocasião, que não embarcaria no plano golpista.
A delação premiada de Mauro Cid é considerada um ponto de partida das investigações. A Polícia Federal tem tratado o tema com cautela e sigilo. Para os fatos serem validados e as pessoas citadas pelo tenente-coronel serem eventualmente responsabilizadas, é preciso que haja provas que corroborem as informações repassadas pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
É grande a preocupação entre os militares sobre os efeitos que o relato de Mauro Cid pode ter, principalmente por envolver membros da cúpula das Forças e ministros que, apesar de estarem na reserva, foram generais de alta patente.
Engana-se quem aposta que Jair Bolsonaro esteja próximo de ser preso depois da delação de Mauro Cid.
O único jeito do ex-presidente parar no xilindró neste momento seria por meio de uma prisão preventiva ou se reiterar em crimes.
Porém, ele tem comparecido aos depoimentos na polícia e não há nenhuma indicação de que esteja atrapalhando as investigações ou coagindo testemunhas.
Ainda há duvidas quanto ao teor da delação do ex-braço direito do Bolsonaro. Pelo que saiu na Veja, o depoimento de Cid talvez até ajude o ex-presidente a se livrar da cadeia ou atrasar ainda mais sua chegada.
É o que pensa Bruno Salles, advogado criminalista do grupo Prerrogativas. “Nunca esteve tão longe a prisão de Bolsonaro”, diz em tom de lamento. Para Bruno, o “Mauro Cid aparentemente está entregando o Bolsonaro, mas na verdade o está salvando de tudo”. Espera-se que a delação ajude a elucidar a venda ilegal de joias que Bolsonaro recebeu enquanto era presidente, em especial se a grana parou nas mãos dele. Também é aguardado que Cid entregue o roteiro do golpe de estado, além de mais detalhes sobre o mandante da falsificação do cartão de vacina. Mas não foi o que se viu pelo que vazou da delação até agora. Palavras do Bruno ao blog:
“A acusação das joias, ela é fraca. Você tem uma discussão jurídica sobre se podia vender aquilo ou não, se as joias eram bem personalíssimos ou não. Tem um conflito ai de legislação e o advogado do Bolsonaro está explorando isso muito bem. A única coisa que o Cid põe no Bolsonaro é isso. Ele diz que achou que poderia vender, o Bolsonaro mandou que vendesse, o Cid diz que vendeu e entregou o dinheiro para ele. Todo resto: vacina, golpe de estado, tudo isso ele tira, ele fala que um monte de louco mandava plano de golpe no celular, mas que nunca falou com nenhum dos generais, nem Braga Netto, nem General Heleno ou Luiz Eduardo Ramos. Ele está passando pano para o Bolsonaro. Em relação à vacina, ele chama tudo para ele também.” (Bruno Salles)
Advogado de 3 ex-presidentes, mas jamais do Jair Bolsonaro, o experiente Antônio Carlos de Almeida, o Kakay, acredita em “abundância de provas” no caso das joias, mas num longo período até uma possível prisão.
“Bolsonaro até onde sei responde a cinco inquéritos, todos eles com crimes que podem levar à prisão após o julgamento. Neste momento, ele levando uma vida normal, não estando interferindo e nem reiterando em crimes, não vejo nenhum motivo técnico para a prisão. O caso das joias me parece ter uma abundância de provas, mas tem que ser feita uma denúncia e ter o devido processo legal. Não enxergo nada neste momento que possa ser favorável a uma prisão dele.” (Kakay)
Um pouco mais otimista quanto a ver Bolsonaro em cana já que o que não falta é crime imputado a ele, o jurista autor de mais de 70 livros Lenio Streck acha que o “cerco vai se fechando na ligação de Bolsonaro com o golpe de estado”. Ele diz que “já não se duvida de que houve tentativa de golpe – isso já está provado; o que falta é uma ligação objetiva da ligação de Bolsonaro como líder da conspiração”.
Em depoimentos, ex-ajudante de ordens confirma que organizou a venda de dois relógios do acervo público nos EUA e repassou o valor ao ex-presidente.
Há muito Brasília não vivia um clima de suspense parecido com o que se viu nos últimos dias — mais precisamente desde sábado 9, quando o tenente-coronel Mauro Cid foi libertado após assinar um acordo de colaboração premiada. Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, ele foi braço direito do ex-presidente durante os quatro anos de mandato. Nada — ou quase nada — acontecia no terceiro andar do Palácio do Planalto sem o conhecimento do militar, que acompanhava reuniões, viagens, atendia as ligações do presidente, agendava encontros e cuidava das contas pessoais da família.
Com essa miríade de atribuições sensíveis, Cid viu, ouviu e compartilhou das mais íntimas situações. O coronel estava preso preventivamente havia quatro meses. Dias antes de ser solto, ele prestou depoimentos à Polícia Federal e confessou sua participação em dois casos investigados pelo Supremo Tribunal Federal — a falsificação de cartões de vacinação e a tentativa de vender joias, relógios, canetas e outros presentes recebidos por Bolsonaro durante o governo.
No primeiro caso, o dos cartões de vacina, Cid assumiu a responsabilidade por tentar fraudar os registros do Ministério da Saúde ao emitir documentos que atestavam que ele, a mulher e as filhas haviam recebido os imunizantes contra a Covid-19. Segundo o militar, o objetivo seria apenas o de ter em mãos uma espécie de salvo-conduto para ser usado caso a família fosse alvo de eventuais perseguições depois de terminado o governo. Cid temia que a esposa e as filhas pudessem sofrer algum tipo de retaliação futura por não terem se vacinado. “Eu estava com medo de perseguição, a gente não sabia o que ia acontecer. Estava com medo de a minha filha não poder ir para a escola, a minha esposa não poder entrar no mercado”, explicou, contrariando uma das linhas de investigação da polícia, que viu na iniciativa do coronel uma forma de driblar a fiscalização sanitária em viagens ao exterior depois de deixar o governo.
No segundo caso, o da venda de joias, a confissão do coronel embute revelações que comprometem e certamente vão agravar a situação jurídica de Jair Bolsonaro. Cid admitiu ter participado da venda de dois relógios de luxo recebidos pelo mandatário — um Patek Philippe e um Rolex. E, no ponto mais sensível do depoimento, confirmou ter repassado o dinheiro obtido no negócio ao ex-presidente. Foi a Polícia Federal quem descobriu a transação, realizada na surdina nos Estados Unidos, para onde Bolsonaro viajou no fim do ano passado acompanhado do ajudante de ordens e levando na bagagem dois kits de joias.
Ao ser confrontado com a informação, o ex-presidente disse que desconhecia o negócio e não havia recebido nenhum dinheiro proveniente de venda dos presentes. O depoimento de Cid desmonta essa versão. “O presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado a pagar várias multas”, contou. A ideia de vender as peças, portanto, surgiu de uma necessidade de levantar recursos para bancar suas despesas.
SUSPEITA - Manifestantes acampados em frente ao QG do Exército e minuta encontrada no celular do coronel: roteiro do que seria um golpe de Estado.
Na última segunda-feira, já em liberdade e usando tornozeleira eletrônica, Cid visitou um colega. Os boatos sobre o conteúdo de sua colaboração, mantida em sigilo, ganhavam dimensão, especialmente em relação à venda das joias. Ele então explicou que, apesar de tudo, não houve intenção de nenhum deles em fazer nada errado. Antes de terminar o governo, o presidente pediu ao coronel que avaliasse alguns presentes — itens, segundo ele, classificados como “personalíssimos”, ou seja, faziam parte do acervo pessoal do presidente e, por essa razão, podiam ser comercializados. “A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal”, contou o ex-ajudante de ordens.
A polícia já havia rastreado praticamente tudo sobre a transação, mas ainda faltavam peças importantes para completar o quebra-cabeça. O relógio Patek Philippe, por exemplo, nem sequer chegou a ser registrado no setor responsável pelo recebimento de presentes — ou seja, oficialmente, o regalo nunca existiu para o Estado brasileiro.
Para os investigadores, Bolsonaro criou uma estrutura para desviar bens públicos de alto valor para fins de enriquecimento ilícito. Faltava, porém, uma informação fundamental para fechar a investigação: a prova de que o ex-presidente recebeu o dinheiro proveniente do negócio. Cid elucidou o caso. Segundo ele, o dinheiro da venda dos relógios foi depositado na conta do pai dele, o general Mauro Lourena Cid, sacado em espécie e repassado em mãos a Bolsonaro — “Em mãos. Para ele”. A entrega dos valores— 68 000 dólares, segundo os federais — se deu de maneira parcelada, parte do pagamento ainda em solo americano.
Apesar da colaboração, Cid tem de cumprir algumas exigências impostas pelo ministro Alexandre de Moraes. Além da tornozeleira, é obrigado a permanecer em casa durante a noite e nos fins de semana e comparecer semanalmente à Justiça de Brasília. Ele não pode deixar o país ou se comunicar com os outros investigados nos processos, como o próprio presidente Bolsonaro ou seus advogados. Não há, porém, restrições para ele conversar com amigos e familiares. O coronel tem se dedicado a tentar retomar a rotina, visitar pessoas próximas e ficar com a esposa e a filha de 6 anos. Nessas conversas, ele faz questão de contar sua versão dos fatos, deixando claro que “cumpria ordens” e sempre ressaltando a admiração que ainda cultiva pelo antigo chefe.
O ex-ajudante de ordens também precisou dar explicações sobre um roteiro de teor golpista encontrado em seu celular que discorria sobre a anulação das eleições do ano passado, que se somaria a uma intervenção no Supremo Tribunal Federal (STF) e à convocação de um novo pleito. Cid afirmou que, pelas funções que exercia, seu telefone canalizava incontáveis mensagens sobre diversos assuntos, e mais de uma pessoa lhe encaminhou planos mirabolantes com conotação golpista — mas garante que não passou de um choro livre e que não deu prosseguimento ao material. “Eu recebia um monte de besteira nesse sentido, de gente que defendia intervenção, mas não repassava para o presidente. Qual o valor daquele texto encontrado no meu celular?”, disse.
A blindagem é estendida à trinca de generais que compuseram o alto escalão do governo Bolsonaro. Tidos pela PF como incitadores de um movimento golpista, os ex-ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto (Casa Civil) foram poupados por Cid em suas tratativas. Por essa versão, não há nada que macule os ex-auxiliares. “Nunca vi o general Braga Netto levando nada ao presidente, nenhuma proposta.
O general Ramos desapareceu naquele período. O general Heleno estava mais preocupado com a saúde do presidente do que com os manifestantes”, afirmou ele. Nos últimos dias, o pai do ex-ajudante de ordens se empenhou pessoalmente em disparar telefonemas para negar as notícias divulgadas de que o filho teria incluído os generais no seu cardápio de colaboração.
Generais Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos estão na lista.
O tenente-coronel Mauro Cid vai citar militares que participaram do núcleo do governo de Jair Bolsonaro (PL) em seu acordo de delação premiada, homologado no fim de semana pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), diz Mônica Bergamo, Folha.
Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, deve citar, entre outros, o general Augusto Heleno, que foi chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo passado, e também o general Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
Heleno já negou, em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF, que tivesse ajudado a articular uma tentativa de golpe.
Ramos afirmou, quando estava no cargo, que seria “ultrajante e ofensivo” afirmar que os militares estariam envolvidos em algum plano de golpe. Mas fez um alerta para “o outro lado”: “Não estica a corda”.
De acordo com pessoas familiarizadas com as tratativas de colaboração de Cid, ele deve citar também os generais Eduardo Pazuello e Braga Netto, e um outro general da reserva.
De acordo com pessoas familiarizadas com as tratativas de colaboração de Cid, ele deve citar também os generais Eduardo Pazuello e Braga Netto, e um outro general da reserva.
O Exército, no entanto, pode respirar aliviado: o ex-ajudante de ordens não deve citar militares da ativa em seu depoimento, mesmo diante do fato de golpistas do 8/1 terem permanecido por longo tempo acampados no QG da força por um longo tempo.
Heleno já negou, em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF, que tivesse ajudado a articular uma tentativa de golpe.
Pelo contrário: ele vem afirmando que o Exército barrou qualquer tentativa de estímulo a uma intervenção militar no processo político.
Ex-presidente mostrou ceticismo e surpresa sobre o acordo.
Jair Bolsonaro ainda apresenta dificuldades em acreditar que o ex-aliado de primeira hora, o tenente-coronel Mauro Cid, fez uma delação premiada com a Polícia Federal que o implica diretamente, diz Bela Megale, O Globo.
Após a notícia da homologação do acordo pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes vir à tona, no sábado, o ex-presidente ainda mostrou a aliados ceticismo e surpresa, mas pediu que auxiliares entrassem em campo para levantar informações sobre o que Cid já relatou à Polícia Federal.
Interlocutores de Bolsonaro vinham se comunicando com interlocutores da família e da defesa de Cid. Até o fim de semana, eles asseguravam ao grupo do ex-presidente que não havia acordo em andamento. Bolsonaro acreditava nesta versão até sábado, quando o clima mudou após a liberdade provisória concedida ao seu ex-ajudante de ordens devido à delação.
— É a maior tragédia. O fim do mundo para Bolsonaro — resumiu um aliado que atuou por anos na sua banca de advogados.
No PL, a estratégia, por hora, é tentar minimizar publicamente a potência explosiva da delação de Mauro Cid.
— Não tem verba pública que envolva Bolsonaro em nada. Não tenho nenhuma preocupação — disse o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
A maior preocupação da delação de Cid no PL são os relatos detalhados e possíveis provas sobre investidas golpistas. Há o receio que o militar implique não somente o ex-presidente com dados sobre encontros fora da agenda que trataram desse tema, mas que atinja outros filiados da sigla, como o ex-ministro e general Walter Braga Netto.
Braga Neto se destaca como quadro favorito da legenda para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro em 2024.
Correligionários do partido e assessores de Bolsonaro relataram à coluna que não existe uma estratégia focada para o cenário da delação e que, até então, a legenda só trabalhava com o horizonte de o acordo não atingir o ex-presidente frontalmente.
Atualmente, os planos estão sendo revistos. O que está certo, por ora, é que o PL seguirá apelando para a narrativa de que Bolsonaro seria um “perseguido político” e atuará para empoderar ainda mais a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro para assumir o capital político do marido. Com cirurgia marcada para esta semana, Bolsonaro deve submergir nos próximos dias.
Tudo indica que as labaredas de fogo, que saíram da boca de Mauro Cid, na delação, têm um poder incendiário de ferocidade canibalesca contra Bolsonaro.
Vincado até aqui à imagem de Bolsonaro, o que se diz é que, um sorriso de canto de boca de Cid, depois da frase proferida por Bolsonaro em entrevista, “cada um siga a sua vida”, fez Mauro Cid tirar da sacola sua trombeta e, numa delação preliminar, estampar com cores vivas, crimes capazes de azedar o fígado de qualquer civilização.
Bolsonaro, todos sabem, tem como especialidade jogar nos ombros dos outros os escombros de suas armações. Mudam-se os moldes, mas não o padrão que Bolsonaro usou em suas ações, de forma interminável, durante toda a sua vida política. Fez isso, inclusive, com os filhos em seu mercado de rachadinhas, formação de quadrilha e peculato.
Com o primogênito Flávio, só para dar um exemplo, assumiu para si a paternidade de Queiroz e de todo o esquema montado por Bolsonaro.
Flávio age o tempo todo como um político figurativo, uma espécie de espelho do próprio pai, e não se sente ofendido quando alguém aponta isso.
Na verdade, todos os filhos de Bolsonaro usaram essa etiqueta panfletária para se elegerem com grande margem de votos. Ou seja, é uma prática absolutamente amadurecida que Bolsonaro opera com seus pares.
Mas parece que, com Mauro Cid a coisa fedeu e a mentira, que é outro produto de Bolsonaro, enfrentará um coeficiente pessoal do ex-ajudante de ordens, que se chocou frontalmente com Bolsonaro, ao estilo do velho patrão.
Trocando em miúdos, os próprios, Cid e Bolsonaro se transformaram em adversários.
Enquanto Mauro Cid sai da cadeia, Bolsonaro entra.
Novas evidências motivariam atropelo de Moraes a Aras; promotores se dizem aborrecidos.
A Polícia Federal e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, aceitaram e homologaram o acordo de delação, libertando o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, em menos de 48 horas. Essa rapidez, segundo procuradores da República, deve significar que o tenente-coronel tem mais do que palavras a oferecer.
A aposta é que Cid tem provas materiais contra Bolsonaro no desvio e recompra dos relógios presenteados por autoridades estrangeiras. O militar teria apresentado uma amostra do que pode vir a Moraes, que aceitou a evidência. A avaliação é que só a palavra de Cid não bastaria.
Essas potenciais provas justificariam o atropelo do ministro do STF à Procuradoria-Geral da República. A falta de comunicação com os promotores, sobretudo com o procurador-geral Augusto Aras, não pegou bem nos prédios do Ministério Público.
Aras usou o Twitter para afirmar que a PGR não aceita delações conduzidas pela PF, como foi o caso do acordo de Cid. O PGR ainda comparou o caso a delações feitas pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e pelo ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que depois sofreram questionamentos e não renderam condenações.
Aborrecidos, promotores disseram em reserva ao blog que a ação de Moraes “desprestigia” a PGR. Prestigio este que cada vez se torna menor desde o auge da Lava Jato, em 2015.
Moraes homologou no sábado (09/09) o acordo de delação premiada proposto pela defesa de Mauro Cid e concedeu liberdade provisória ao tenente-coronel. Ele deve usar tornozeleira eletrônica e está proibido de sair de casa depois das 20h.
Desconhecimento do conteúdo de eventuais revelações do ex-ajudante de ordens deixa o ex-presidente e seus filhos em silêncio.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, sua mulher Michelle e os filhos Flávio, Eduardo e Carlos se calaram diante da proposta de delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que por quatro anos serviu o casal na Presidência da República e teria muito segredos a revelar, segundo Hugo Marques, Veja.
Bolsonaro postou hoje mensagem religiosa nas redes sociais, proferidas durante um discurso. “E três pequenas frases que mais ouço quando estou no meio do povo: ‘não desista, Deus te abençoe, estamos orando por você’. Muito obrigado a todos”, diz Bolsonaro no discurso reproduzido nas redes, que teria relação com sua internação. Amanhã o presidente deve passar por nova cirurgia na barriga.
O senador Flavio Bolsonaro preferiu divulgar mensagens com críticas ao presidente Lula. Na sexta-feira, Flavio publicou foto junto com o pai e o jogador Neymar, fazendo referência aos períodos de dificuldades. “Contra tudo e contra todos!!! Fazendo história mais uma vez! Parabéns, super campeão!”, escreveu Flávio.
O deputado Eduardo Bolsonaro também tem dado prioridade a mensagens com críticas ao governo Lula. O vereador Carlos Bolsonaro também divulgou mensagens com críticas à viagem de Lula à Índia e outras sobre a disputa eleitoral em São Paulo.
O silêncio da família está relacionado à falta de conhecimento do teor da proposta de delação de Mauro Cid, que deixou a prisão neste sábado, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Um dos interlocutores da família Bolsonaro disse a VEJA que todos estão “totalmente no escuro” sobre o conteúdo da delação de Cid.
Em pedido aceito por Moraes, advogado afirma que deslocamentos, como para depoimentos, poderiam desencadear ‘uma série de especulações’.
Na decisão em que concedeu liberdade ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, destacou um trecho do pedido apresentado pela defesa do militar em que cita o risco de mantê-lo preso por mais tempo no Batalhão da Polícia do Exército, em Brasília. A soltura de Cid foi determinada neste sábado, quando também homologou um acordo de delação premiada do ex-auxiliar de Bolsonaro, segundo O Globo.
Segundo o defensor Cezar Bitencourt, todos os deslocamentos de Cid enquanto estivesse na prisão, como por exemplo para prestar depoimentos à Polícia Federal, precisaria ser requisitado ao Comando do Exérito, o que poderia desencadear uma “série de especulações”.
“Preso, é necessário requisitá-lo ao Comando do Exército, acionar todo o aparato estatal para deslocá-lo, desencadeando uma série de especulações que lhe colocam em risco, o que também é estendido a sua família”, diz trecho da petição da defesa.
Cid, que é tenente-coronel da ativa do Exército, estava preso desde o dia 3 de maio e é alvo de suspeitas que envolvem fraude em cartões de vacinação, venda irregular de presentes dados ao governo brasileiro e tramas para um possível golpe de estado no país.
No pedido de liberdade aceito por Moraes, a defesa de Cid destacou que o tenente-coronel não tem antecedentes criminais, possui endereço fixo e é militar. Além disso, destacou que, mesmo em liberdade, poderá continuar contribuindo com a investigação sem ser monitorado e com “menor complexidade”.
A defesa de Cid afirmou ainda que, afastado qualquer risco de comprometimento da investigação, os fundamentos que justificavam sua prisão não existiam mais após quatro meses de prisão.
Moraes acatou o pedido da defesa e concedeu liberdade ao tenente-coronel, mas com algumas condições, como utilizar tornozeleira eletrônica, a proibição de sair de casa à noite e se comunicar com outros investigados nos casos dos quais é alvo.
Um contato de telefone na agenda do tenente-coronel Mauro Cid reforçou a suspeita de investigadores da Polícia Federal (PF) de que ele tenha feito uso de uma viagem oficial aos Estados Unidos para negociar a venda de relógios e joias presenteados a Jair Bolsonaro (PL) por autoridades estrangeiras e que deveriam ser incorporadas ao patrimônio da União, mas que o ex-mandatário tentou se apropriar. Arquivos armazenados na nuvem do celular do ex-ajudante de ordens da Presidência mostram que no dia 14 de junho de 2022 ele registrou em seu aparelho um número associado ao Mark Miami Diamond Club, joalheria especializada na venda de joias e relógios localizada em Miami, na Flórida, segundo o 247.
Segundo o jornal O Globo, a data em que o registro do contato da loja foi incluído na agenda do celular coincide com o período em que Cid estava nos Estados Unidos, após acompanhar Bolsonaro para a reunião da Cúpula das Américas, em Los Angeles, na Califórnia. Bolsonaro viajou para os EUA no dia 8 de junho e, após participar do evento, liderou uma motociata com apoiadores em Orlando, na Flórida, no dia 11 daquele mês. “Bolsonaro voltou ao Brasil naquele mesmo dia. Cid, entretanto, ficou”, ressalta a reportagem.
De acordo com a PF, o militar passou os dias seguintes indo a diversas joalherias na tentativa de vender os presentes de luxo recebidos por Bolsonaro. A investigação aponta, por exemplo, que no dia 13 de junho, ele esteve em um shopping da Pensilvânia, onde vendeu dois relógios – um Rolex e um Patek Philippe – recebidos por Bolsonaro por mais de R$ 300 mil.
Ainda conforme a reportagem, a investigação apontou também que Cid enviou o endereço da mesma loja ao segundo-tenente Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro, em março deste ano, quando tentavam reaver os relógios e devolvê-los, como determinado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Nos registros do aparelho celular de Mauro Cid também aparecem imagens de malas, objetos empacotados e presentes recebidos pela Presidência em viagens oficiais, alguns dos quais foram solicitados de volta pelo Ministério Público junto ao TCU, como uma réplica do Palácio Taj Mahal, uma escultura de cavalo prateada e um sol esculpido em um quadro de ossos de camelo. Apenas estes itens foram avaliados em cerca de R$ 75,6 mil.