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Investigação

CNJ comunicará à PF que Moro desviou recursos da Lava Jato para instituição privada

Além de Moro, o relatório detalha participação da juíza Gabriela Hardt, do ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e de gerentes da Petrobras.

A Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) irá recomendar à Polícia Federal (PF) que investigue o ex-juiz suspeito e atual senador, Sergio Moro (União Brasil-PR), por suspeita de peculato, envolvendo o desvio de recursos da Lava Jato para uma entidade privada, conforme divulgado pelo blog da jornalista Andréia Sadi, do G1. A sugestão consta em um relatório da auditoria realizada na 13ª Vara Federal de Curitiba, que será encaminhado pelo CNJ à PF para análise criminal.

Além de Moro, o relatório também detalha uma possível participação da juíza federal Gabriela Hardt, do ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e dos gerentes da Petrobras Taísa Oliveira Maciel e Carlos Rafael Lima Macedo, na suposta tentativa de desviar recursos destinados ao Estado para uma fundação voltada a interesses privados.

De acordo com o documento assinado pelo delegado da PF Élzio Vicente da Silva, Sergio Moro, à época juiz da Lava Jato, teria aberto um processo sigiloso para desviar recursos provenientes de delações e acordos de leniência para uma conta da Petrobras.

Como o CNJ possui apenas atribuições administrativas, não tem competência para julgar Moro, que atualmente ocupa o cargo de senador. Entretanto, se o caso for encaminhado à PF, o parlamentar poderá ser alvo de investigações criminais. A pena para o crime de peculato varia de 2 a 12 anos de prisão, além de multa.

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Política

Apontado como funcionário fantasma, PF deve indiciar médico de Bolsonaro

PF deve indiciar Ricardo Camarinha, médico de Jair Bolsonaro, após as denúncias de que ele era funcionário fantasma da Apex.

A coluna apurou que a Polícia Federal (PF) deve indiciar Ricardo Camarinha, médico do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), após as denúncias de que ele era um funcionário fantasma da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Ele foi médico da Presidência da República durante o governo de Jair Bolsonaro.

Em abril deste ano, funcionários da Apex prestaram depoimentos denunciando que Camarinha recebia um salário de R$ 36,8 mil sem trabalhar efetivamente na agência. Ele ficou lotado na Apex, de Miami, de abril de 2022 até 2 de janeiro de 2023.

Um dado é claro: a distância do local em que o médico de Bolsonaro vivia e o escritório físico da Apex que fica em Miami. Camarinha vivia em Orlando. A distância entre Orlando e Miami é de cerca de 380 quilômetros com um tempo de viagem de três horas e meia.

Nas investigações que a PF fez nos EUA, em maio, os policiais ouviram Camarinha em sua casa que fica em Orlando, na Flórida, nos Estados Unidos.

Nos depoimentos, revelados pela jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, os funcionários da Apex disseram que a nomeação de Camarinha ocorreu por ordem de Bolsonaro ao general da reserva Mauro Lorena Cid, que era o chefe da Apex em Miami e é pai do ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid.

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Mundo

PF quer foragidos do 8/1 incluídos na rede de capturas da Ameripol

Dezenas de foragidos dos processos fruto dos ataques de 8 de janeiro de 2023 foram para Argentina e outros países.

A adidância da Polícia Federal em Buenos Aires articula, no âmbito policial, para que os nomes dos foragidos investigados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro sejam incluídos na Rede Anfast de capturas da Comunidade de Polícias das Américas (Ameripol).

A estimativa é de que pelo menos 65 pessoas envolvidas nos atos estejam na Argentina. O Brasil pedirá ao governo local a extradição, no âmbito da Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal. A adidância trabalha dentro da embaixada brasileira e tem o compromisso de representar a Polícia Federal em determinado país, como é o caso da Argentina.

Nesta quinta-feira (6/6), a PF cumpriu, no âmbito da operação, pelo menos 208 medidas judiciais expedidas pelo STF, como prisões e recolocação de tornozeleiras eletrônicas, em 18 estados e no Distrito Federal.

Até o momento, 50 pessoas foram presas e 159 estão foragidas.

A PF enviará ao Supremo Tribunal Federal (STF) os dados dos foragidos que estão na Argentina. O STF é responsável por emitir a ordem de extradição, enquanto o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça, fará o pedido.

A Polícia Federal impediu que alguns foragidos passassem pelas barreiras migratórias nos últimos meses, mas outros conseguiram driblar os controles. Parte dos investigados solicitou refúgio ao governo de Javier Milei.

Cooperação
De acordo com um assessor do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ocasião será um teste para a cooperação entre os dois países e possibilitará avaliar se a Argentina irá seguir, ou não, as vias jurídicas internacionais.

“A Polícia Federal vai listar todos os condenados que possivelmente estejam na Argentina e encaminhar, via Ministério da Justiça e Segurança Pública, os pedidos de extradição. Tudo será feito em articulação com o Ministério das Relações Exteriores e o Supremo Tribunal Federal”, disse a PF.

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Política

PF já tem provas de que Bolsonaro sabia da venda ilegal de joias nos EUA

Segundo as investigações, ex-presidente foi comunicado da operação comercial e deu aval para parte dela.

A Polícia Federal vai incluir no relatório final do inquérito das joias provas que demonstram que Jair Bolsonaro tinha conhecimento das operação ilegal de venda e recompra nos Estados Unidos de joias que ele recebeu quando era presidente, informa a colunista Bela Megale, do jornal O GLOBO.

O material mostrará que Bolsonaro foi comunicado da operação comercial e deu o aval para parte dela. O caso será encerrado nos próximos dias e o ex-presidente será indiciado. Além dele, integrantes do núcleo duro do ex-presidente devem ser indiciados, incluindo assistentes e advogados.

Após esse passo, a Procuradoria-Geral da República vai avaliar o material e decidir se apresenta denúncia contra Bolsonaro e os demais acusados.

As últimas diligências desta investigação foram realizadas em maio, nos Estado Unidos. Na ocasião, os investigadores conseguiram imagens inéditas e entrevistas que confirmam detalhes sobre a venda e recompra ilegais das joias que compunham o chamado “kit ouro branco”. O “kit ouro branco“, conjunto de joias recebido por Bolsonaro durante sua visita oficial à Arábia Saudita, em outubro de 2019, contém anel, caneta, abotoaduras e um rosário islâmico (“masbaha”), todas peças cravejadas de diamantes.

O Tribunal de Contas da União decidiu que as joias comercializadas pela assessores de Bolsonaro com seu aval pertenciam ao acervo da Presidência e não ao capitão reformado. Com isso, a operação foi ilegal. Em meio às investigações do caso, assistentes do ex-presidente retornaram aos EUA para recomprar os itens vendidos.

O inquérito do golpe também está em fase final. A investigação, que é considerada a mais grave contra Bolsonaro, deve ter o relatório final apresentado em julho ao Supremo Tribunal Federal (STF).

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Investigação

PF conclui nos próximos dias dois inquéritos que investigam Bolsonaro e vai indiciá-lo em ambos

Os casos serão enviados à PGR até esta sexta ou, no máximo, até a próxima semana.

Os próximos dias serão de péssimas notícias para Jair Bolsonaro. A PF conclui e envia à PGR até sexta-feira ou, no máximo, na semana que vem, os inquéritos que investigam o ex-presidente em dois casos: o das joias da Arábia Saudita vendidas ilegalmente nos EUA e o das fraudes nos cartões de vacinação.

Segundo informa o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Bolsonaro será indiciado nos dois inquéritos.

No caso dos cartões de vacinação, a PF concluiu o inquérito em março. Indiciou 16 pessoas, incluindo Bolsonaro e o ex-faz-tudo Mauro Cid. Mas o PGR Paulo Gonet pediu o aprofundamento de algumas investigações — é esta parte agora está a dias de ser concluída.

A temporada de tempestade sobre a cabeça de Bolsonaro continuará em julho: é o mês em que a PF prevê a conclusão das investigações sobre a tentativa de golpe de estado. Novamente, neste caso, nada sugere uma boa notícia para o ex-presidente.

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Política

Investigadores da PF e FBI ouvem médico de Bolsonaro nos EUA

Um dos focos é apurar a atuação de Ricardo Camarinha como funcionário fantasma da Apex em Miami.

A Polícia Federal ouviu, na quinta-feira passada (2), o médico da Presidência da República na gestão de Jair Bolsonaro, Ricardo Camarinha. A entrevista com o cardiologista ocorreu na casa dele, em Orlando, nos Estados Unidos, e foi realizada por investigadores que estão no país para apurar o caso das joias apropriadas e vendidas ilegalmente pelo ex-presidente.

Segundo informa a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, os policiais do FBI que estão auxiliando os brasileiros também participaram da entrevista. Um dos focos da PF é apurar a atuação de Camarinha como funcionário fantasma da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) no escritório de Miami, quando Bolsonaro foi presidente.

Em depoimentos à PF prestados mês passado, funcionários da Apex afirmaram que o médico recebia o salário de R$ 36,8 mil sem aparecer para trabalhar na agência.

Os depoentes contaram que a nomeação de Camarinha se deu por ordem expressa de Bolsonaro ao general da reserva Mauro Lourena Cid, que era o chefe da Apex em Miami e é pai do ex-ajudante de ordens da Presidência.

Segundo os funcionários da agência, o militar relatou à área de recursos humanos que o médico precisava ser contratado a pedido do então presidente.

Camarinha ficou lotado na Apex de Miami entre abril de 2022, após ser exonerado da função de médico da Presidência, e 2 de janeiro de 2023, quando Jorge Viana assumiu o posto.

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Política

Cid vai à Polícia Federal e colabora com investigação nos EUA sobre joias de Bolsonaro

Cid participou de uma videoconferência com investigadores que estão nos Estados Unidos.

Nesta sexta-feira (26), Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi conduzido à sede da Polícia Federal para contribuir com as diligências realizadas nos Estados Unidos. Na qualidade de colaborador, o tenente-coronel está fornecendo esclarecimentos fundamentais para os trabalhos dos policiais no inquérito que investiga joias e presentes recebidos e ilegalmente comercializados por Bolsonaro, informa Bela Megale, em O Globo.

Cid participou, inclusive, de uma videoconferência com investigadores que estão nos EUA, conduzindo novos depoimentos sobre o caso. Na quarta-feira, um agente e um delegado partiram para o país, onde estão sendo realizadas novas oitivas. Entre os interrogados estão pessoas envolvidas na operação de compra ou venda dos itens.

As diligências estão programadas para ocorrerem em Miami (Flórida), Wilson Grove (Pensilvânia) e Nova Iorque (NY).

De acordo com a investigação da PF, Cid, que ex- braço-direito de Bolsonaro, foi o principal articulador da comercialização ilegal dos presentes recebidos pelo ex-presidente. Em junho de 2022, o tenente-coronel esteve pessoalmente na loja Precision Watches, em Willow Grove, para vender um relógio Rolex, presente do regime da Arábia Saudita, além de um modelo Patek Philippe.

O montante total da venda foi de US$ 68 mil, equivalente a aproximadamente R$ 348 mil na cotação da época. Um comprovante de depósito foi armazenado no celular de Cid como evidência do negócio.

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Política

Em relatório enviado ao STF, PF afirma que Twitter está permitindo “reorganização da Milícia Digital”

Corporação também afirmou que a rede mentiu ao dizer que manteve bloqueadas as contas de pessoas investigadas.

Em relatório enviado a Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito que investiga o empresário Elon Musk, a Polícia Federal (PF) afirmou que o X [ex-Twitter] está viabilizando a “reorganização da Milícia Digital” ao permitir que brasileiros possam acessar links para acompanhar lives transmitidas, de fora do país, por políticos e militantes investigados, informa o colunista Paulo Cappelli, do portal Metrópoles.

“Nesse momento, vislumbra-se uma reorganização da Milícia Digital dentro dos limites da jurisdição brasileira, com a reativação dos perfis na plataforma X, por meio da disponibilização aos usuários brasileiros de links para acompanharem lives transmitidas fora do país pelos investigados”, diz trecho do documento produzido pelo delegado da PF que toca o inquérito sob relatoria de Moraes.

A PF também afirmou que o X faltou com a verdade ao dizer que manteve bloqueadas as contas de políticos e militantes investigados.

“Ao contrário da resposta encaminhada pela empresa X, [a polícia] identificou várias contas objeto de constrição judicial, que estão ativas no Brasil, permitindo que os usuários brasileiros da plataforma sigam os perfis bloqueados.

Além disso, apesar de não disponibilizar o tweets publicados, o provedor da rede social X está viabilizando que as referidas contas disponibilizem link para que os usuários da rede social no Brasil acessem o recurso de transmissão ao vivo ‘live’, para acompanharem o conteúdo publicado pelas pessoas investigadas que tiveram suas contas bloqueadas.

A análise identificou que o acesso à plataforma ocorria de forma diversa a depender do hardware/sistema operacional utilizado
para acessá-la. Ou seja, caso um perfil específico como o do blogueiro Allan Lopes dos Santos – que mora nos EUA e é considerado foragido pela Justiça brasileira– fosse acessado a partir de um computador pessoal a mensagem que surgia na tela do operador indicava que a conta se encontrava retida

Todavia, se o acesso fosse feito por meio do aplicativo Twitter instalado em smartphone, sem o uso de VPN, era possível em 08 de abril de 2024, às 09h16, acessar informações do perfil @allanldsantos, inclusive podendo segui-lo”, anotou a Polícia Federal.

O relatório da Polícia Federal prosseguiu: “O perfil @tercalivre, também com ordem judicial de bloqueio, ficou acessível pelo aplicativo X (Twitter) em 10 de abril de 2024, conforme captura de tela abaixo. No momento em que o print do perfil foi capturado é possível observar que havia uma transmissão ao vivo”.

A PF afirmou que usuários do X estariam usando um recurso chamado “Spaces”, uma espécie de audioconferência, para viabilizar que perfis bloqueados participem das transmissões ao vivo e possam ser ouvidos no Brasil.

“Nesse ponto, cabe trazer os elementos de prova formalizados no Relatório de Análise nº 001/2022, juntado aos autos do inquérito que evidenciou o modo de agir do autointitulado GDO (“gabinete do ódio”) que, assim como nos eventos ora investigados, utilizou a plataforma Twitter (atual X) para colocar em prática suas ações criminosas, com a criação e a repercussão de notícias não lastreadas ou conhecidamente falsas a respeito de pessoas ou temas de interesse.”

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Investigação

Investigação da PF indica que Moro abriu processo sigiloso para repasses da Petrobras à fundação de Dallagnol

O parecer de 77 páginas será apresentado no julgamento iniciado nesta terça-feira (16) no CNJ.

A Polícia Federal (PF) constatou que o ex-juiz Sergio Moro, atual senador pelo União Brasil, juntamente com Gabriela Hardt e Deltan Dallagnol, teriam orquestrado um plano para desviar R$ 2,5 bilhões do Estado brasileiro, visando criar uma fundação com objetivos voltados para interesses privados. Os dados constam de relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Trechos do relatório foram revelados por Camila Bomfim, do g1.

De acordo com relatório da PF que apoia a investigação conduzida pelo ministro Luis Felipe Salomão, do CNJ, Moro teria aberto um processo sigiloso durante sua atuação na 13ª Vara Federal de Curitiba, com o intuito de facilitar o repasse bilionário pago pela Petrobras em um acordo nos Estados Unidos para uma fundação que seria gerida pelos procuradores da Operação Lava Jato, liderados por Deltan Dallagnol, diz o g1.

Trechos do relatório destacam que “a instauração voluntária pelo então juiz Sergio Moro de um processo sigiloso foi feita especificamente para permitir o repasse não questionado de valores oriundos de acordos de colaboração e de leniência para a conta da Petrobras, alimentando a empresa com dinheiro dos acordos”.

O parecer de 77 páginas, que será apresentado no julgamento iniciado nesta terça-feira (16) no CNJ, acusa Moro, Gabriela Hardt e Deltan Dallagnol de se unirem para “promover o desvio” dos R$ 2,5 bilhões do Estado brasileiro, visando criar uma fundação com interesses privados. Segundo informações da coluna Radar, da revista Veja, Salomão deve expor que “o desvio do dinheiro só não se consumou em razão de decisão do Supremo Tribunal Federal”.

A investigação ressalta a gravidade das acusações, apontando para possíveis conluios entre autoridades judiciais e procuradores visando interesses particulares, em detrimento do interesse público.

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Política

PF vai indiciar consultor argentino como parte do núcleo golpista de Bolsonaro

PF acusa Cerimedo de atuar em coordenação com alguns dos principais assessores do ex-presidente Jair Bolsonaro e com militares para atacar o sistema eleitoral.

Por Juliana Dal Piva (CLIP/ICL), Igor Mello (ICL), Karla Gamba (ICL), Iván Ruiz (CLIP)

Inquérito da Polícia Federal, ao qual o CLIP (Centro Latino-americano de Investigação Jornalística) e o ICL Notícias tiveram acesso, mostra que o consultor político argentino Fernando Cerimedo atuou em coordenação com alguns dos principais assessores do ex-presidente Jair Bolsonaro e com militares brasileiros para atacar o sistema eleitoral e fazer falsas imputações de fraude na eleição presidencial de 2022. Os investigadores confirmaram à reportagem, sob anonimato, que vão incluir Cerimedo na lista de responsáveis pela tentativa de golpe de estado. Cerimedo será apontado pela PF como um dos integrantes da organização criminosa que tentou abolir o estado democrático do Brasil.

Os mesmos arquivos usados por Cerimedo para embasar as acusações feitas por ele em uma live após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram utilizados como fundamento em outras contestações feitas por aliados de Bolsonaro, como um relatório apresentado por seu partido ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

As evidências constam no relatório da PF, de mais de mil páginas, produzido para a Operação Tempus Veritatis, deflagrada em 8 de fevereiro deste ano. A reportagem obteve a íntegra do documento, além de termos de depoimento dos envolvidos à PF. A partir da documentação foi possível verificar uma série de descobertas sobre como Cerimedo e os aliados de Bolsonaro cooperaram. A PF chegou a escrever um tópico inteiro sobre o argentino no capítulo “Disseminação de Conteúdo Falso por Fernando Cerimedo e outros investigados”.

Em entrevista, Cerimedo e os demais envolvidos negam ter cometido quaisquer irregularidades ou mantido contato. (Veja ao final)

No relatório, o nome de Cerimedo já está listado entre os núcleos da organização criminosa que tentou dar um golpe de estado. O nome dele aparece no “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral”. O grupo é descrito pelos policiais como responsável por “produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto a lisura das eleições presidenciais de 2022 com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o golpe de estado”.

Além de Cerimedo nesse núcleo, estão outras nove pessoas como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o ex-assessor especial da presidência da República Tércio Arnaud Thomaz, e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.

Os investigadores afirmam que a live de Cerimedo fez parte de um esforço articulado pelo núcleo duro de Bolsonaro para atacar o sistema eleitoral. Nesse sentido, a escolha de um estrangeiro teve como objetivo fugir da jurisdição da Justiça Eleitoral brasileira. Elementos colhidos mostram que Cerimedo atuou em conjunto com brasileiros ligados a outras frentes de ataque às urnas, como o relatório formulado a pedido do PL, partido de Bolsonaro, pelo Instituto Voto Legal, onde acusações de manipulação dos resultados similares às de Cerimedo foram elencadas.

A investigação da PF descobriu que uma pasta de compartilhamento de arquivos na nuvem no Google Drive foi criada e divulgada por Cerimedo. No mesmo local, outras pessoas ligadas ao esquema de disseminação de fake news de Bolsonaro criaram e editaram arquivos. É o caso de Eder Balbino, dono da empresa Gaia.io, que foi um dos formuladores de um relatório apresentado pelo PL, partido de Bolsonaro, ao TSE. Um militar brasileiro que ocupou cargos de destaque no governo Bolsonaro também disponibilizou arquivos na mesma pasta.

Os investigadores chamam o grupo golpista de “milícia digital” e argumentam que, após a derrota de Jair Bolsonaro, em 2022, a organização criminosa investigada “amplificou por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais foram fraudadas, estimulando seus seguidores a ‘resistirem’ na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para uma intervenção federal comandada pelas forças militares, sob o pretexto de aturarem como uma espécie de Poder Moderador”.

Além das manifestações públicas de Bolsonaro, os policiais reuniram uma série de dados apreendidos em celulares e descobriram como os investigados “utilizaram especialistas na área de tecnologia” para tentar obter elementos que pudessem desacreditar as urnas eletrônicas.

Segundo o que foi apurado pela PF, o conteúdo com informações falsas ου não lastreadas foi direcionado para influenciadores nas redes sociais e na mídia tradicional, com grande poder de influência e penetração nos públicos de interesse, inclusive, para pessoas no exterior, para burlarem as ordens judiciais de bloqueio. “Nesse sentido, identificou-se a ação coordenada dos investigados Fernando Cerimedo (…) na produção e difusão de “estudos” que teriam identificado inconsistências nas urnas eletrônicas produzidas antes de 2020, fato que, inclusive, embasou representação do Partido Liberal (PL) para anular os votos computados nas referidas urnas”, apontam os investigadores.

Como Cerimedo foi utilizado
Cerimedo se apresenta como consultor político e especialista em marketing digital. Em uma transmissão ao vivo (live) realizada em seu canal no YouTube, em 4 de novembro de 2022, ele disseminou uma série de dados falsos e notícias fraudulentas sobre o sistema eleitoral brasileiro. A live foi vista por mais de 415 mil pessoas.

Os investigadores brasileiros descrevem que a transmissão ocorreu de modo premeditado porque a “milícia digital” queria “difundir a desinformação” sobre o sistema eleitoral para alimentar teorias e fortalecer as manifestações dos seguidores do então presidente Jair Bolsonaro frente a instalações militares e, assim, “criar um falso ambiente de apoio da população a um golpe de estado, que estava sendo arquitetado”. O Brasil enfrentou mais de 230 bloqueios em estradas por cerca de dez dias após o fim do segundo turno eleitoral. Já os acampamentos golpistas em frente a quarteis se estenderam por dois meses. O que estava em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, só foi desfeito após os atos de vandalismo e violência de 8 de janeiro de 2023.

A PF reuniu provas de que Jair Bolsonaro e seus assessores tinham consciência da inexistência de fraudes nas eleições após a derrota dele em 2022. Mensagens de Mauro Cid com outros militares mostram que eles tentavam a todo custo encontrar algum dado que permitisse discutir o resultado eleitoral, mas não tiveram sucesso. Mesmo assim, um núcleo de militares e assessores dele promoveu ações para seguir desacreditando o sistema eleitoral.

Nessa linha, os policiais identificaram alguns oficiais do Exército que disseminaram “estudos” que diziam ter identificado fraudes, mas sem nenhum lastro. “Dando seguimento à execução do plano, o mesmo conteúdo falso foi utilizado pelo argentino Fernando Cerimedo”, apontam os policiais. O material também foi publicado em ‘https://derechadiario.com.ar”

Em seguida, a live foi disponibilizada no serviço nuvem Google Drive. De acordo com registros obtidos pela PF, no mesmo dia Tercio Arnaud Tomaz, ex-assessor especial de Bolsonaro e apontado como chefe do chamado Gabinete do Ódio, enviou dois arquivos de vídeo para Mauro Cid: a íntegra da transmissão ao vivo e uma versão editada, com apenas 8 minutos e 59 segundos. Na visão dos investigadores, o corte tinha como objetivo facilitar a circulação das falsas alegações por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram.

Questionado pela PF sobre suas relações com Cerimedo, Arnaud respondeu que não o conhecia. No entanto, os policiais fizeram registrar no depoimento que tinha provas documentais de que Arnaud estava no Palácio da Alvorada no momento em que ocorreu a live e ele enviou os arquivos a Mauro Cid. Ao falar disso, o ex-assessor de Bolsonaro afirmou que não se lembrava se alguém pediu que ele fizesse o download, mas que o fez porque podia “cair a qualquer momento” e que era um “tema acompanhado pelo pessoal”. O “pessoal”, segundo Arnaud, era a internet em geral. Ele, porém, enviou o arquivo a Mauro Cid por mensagem no WhatsApp.

Procurado, o advogado de Arnaud, Luiz Eduardo Kuntz, afirmou que tudo que “era de objeto da investigação foi devidamente respondido. Estamos aguardando que, em breve, ele fique absolutamente de fora desta história toda”.