Mário Scheffer: Programa de Bolsonaro registrado no TSE mente sobre as mortes pela covid e até erra o nome do SUS

Programa de Bolsonaro registrado no TSE erra o nome do SUS e diz ter evitado um milhão de mortes por COVID.

Por Mário Scheffer, no Estadão – Blog Política & Saúde

Diferentemente de 2018, quando a imagem de Bolsonaro em uma cama de hospital passava a ideia da condição frágil do candidato vítima de atentado, a ordem agora é mostrar o vigor físico, o “histórico de atleta” que o livrou da covid, a disposição em participar de motociatas e pilotar jet sky.

Doente é o outro, motivo de zombaria, quando o presidente imita paciente de covid com falta de ar ou insinua que o cidadão que pretende se vacinar contra monkeypox (a varíola dos macacos) é homossexual.

A saúde do presidente vai bem mas a saúde da população ficou pior.

Nos últimos três anos e meio, a rede pública do SUS encolheu, a cobertura vacinal diminuiu, a mortalidade materna aumentou, e a combinação do trio desigualdade, pobreza e fome determinou mais adoecimentos e mortes.

A realidade contrasta com o capítulo da saúde das diretrizes de governo registradas no TSE pela chapa Bolsonaro/Braga Netto.

O documento mistura autocongratulações com respostas aos ataques que virão de adversários nas próximas semanas.

Antes de desfiar uma lista de glórias do governo federal, a plataforma da coligação “Pelo Bem do Brasil” adverte: “a problemática da saúde é extremamente complexa e com inúmeras variáveis intervenientes”.

O estilo empolado pouco lembra o deboche rasgado do power point depositado no TSE na eleição de 2018.

Quem lê o texto, dessa vez um programa eleitoral tradicional, se depara com linguagem que esconde rarefação de conteúdo e mentiras.

A desastrosa condução do combate à covid, que resultou na perda de mais de 680 mil vidas, virou “marcas invejáveis durante a pandemia”.

Houve de fato a distribuição de 519 milhões de doses de vacinas, conforme destacado no documento.

Já a afirmativa de que “a vacinação evitou cerca de um milhão de mortes no Brasil” é um falso axioma.

O programa se refere a um estudo internacional sobre 185 países, Brasil entre eles, que considerou as mortes evitadas em cada país no período de um ano após o início da imunização.

Existem fartas evidências de que dezenas de milhares de mortes evitáveis já haviam ocorrido no Brasil antes da primeira dose da Coronavac ser aplicada em 17 de janeiro de 2021 em São Paulo.

Ao propor indiciamentos, a CPI da Covid registrou que o governo federal demorou a comprar vacinas, minimizou a pandemia, desacreditou orientações científicas e jogou contra medidas para conter a transmissão do vírus.

No rol de realizações, o programa exalta a “eficiência e ampliação de serviços de saúde às comunidades indígenas”.

Durante a pandemia ocorreu o contrário, os povos indígenas tiveram menor chance de ter diagnóstico precoce, tratamento no tempo certo, um leito de UTI, um respirador.

O indigenista Bruno Araújo e o jornalista Dom Philips, assassinados, dedicaram parte de suas vidas justamente demonstrando que as aldeias têm precárias redes de comunicação, transporte, serviços de saúde e poucas oportunidades de geração de renda.

E que a presença de invasores e a violência associada à ocupação predatória da Amazônia amplificam as doenças transmissíveis na região.

Foram recicladas propostas de 2018, não implantadas até hoje. É o caso do Cartão Nacional de Saúde e da inclusão de profissionais de educação física nas equipes de saúde da família.

Não se toca mais no assunto do “credenciamento universal” e da “carreira de Estado” de médicos. Curioso notar que esses pontos do programa de 2018, largados para lá durante o governo, não prejudicaram a fidelização canina de entidades médicas, que fecham com Bolsonaro em 2022.

Está mantido o silêncio, não há uma linha sequer sobre o subfinanciamento do SUS ou o aumento das mensalidades de planos de saúde, que bateu recorde na atual gestão federal.

Passagens chutadas entregam o desleixo: “os serviços de saúde de qualidade aumentam as possibilidades de desfrutar (sic) de uma vida saudável”, “a boa alimentação inibe o aparecimento de doenças”, “15% do total de internações pelo SUS é atribuído à falta de exercícios físicos”.

Em ato falho, em dado momento do texto, o SUS, batizado há 38 anos na Constituição Federal, muda de nome, é apresentado como “ Sistema Nacional Único de Saúde”, algo “coordenado e dirigido pelo Ministério da Saúde”.

Ora, por lei, a direção do SUS é única, exercida em cada esfera de governo. Nos Estados e municípios quem coordena e dirige o SUS são as secretarias de saúde, tantas vezes desprezadas pelo Ministério da Saúde nos últimos tempos.

Consta na plataforma de Bolsonaro um desenho para o “Caminho da Prosperidade”, baseado na família coesa e empreendedora.

No esquema linear, que liga emprego à riqueza, instituições públicas ficaram de fora.

Ciência, problemas de saúde, pessoas com deficiências, diversidade étnica e cultural, identidades de gênero, não cabem no diagrama.

Antes ilegível, a expressão do que pretende Bolsonaro se eleito por mais quatro anos é apavorante.

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Os bolsonaristas que não conseguem dizer o que Bolsonaro fez em 4 anos, também não sabem por que votarão nele novamente

No Brasil, todos sabem, se você quiser calar um bolsonarista, é só pedir pra mostrar algum feito de Bolsonaro que tenha melhorado o Brasil ou a vida dos brasileiros.

Ninguém mais faz essa pergunta porque sabe que não terá resposta. No entanto, outra pergunta sem resposta que expressa o drama atual dos bolsonaristas é, por que Bolsonaro merecerá novamente o voto do seu fiel eleitor? O branco que dá no bolsonarista é ainda mais constrangedor, já que nem Bolsonaro tem programa de governo e, muito menos  seu eleitor tem como responder.

Então, a coisa funciona como esparadrapo na boca do coitado, o que não deixa de ser uma situação estapafúrdia, cômica e curiosa, porque o bolsonarismo não tem como discutir o passado, o presente e o futuro de Bolsonaro, simplesmente porque é da natureza de um sujeito que não trabalha sequer rabiscar uma promessa qualquer.

Assim, não tem como o bolsonarista justificar o seu segundo voto em Bolsonaro. Talvez esse seja daqueles casos únicos na história da humanidade, porque nunca se ouviu falar de alguém que votou num presidente sem saber dizer o que ele fez de bom e, pior, novamente votar nele, sem saber o que pretende fazer num segundo mandato.

E o fiel eleitor de Bolsonaro ainda fica enfezado se você sugerir que ele é gado.

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Globo censura o prêmio de Lula porque sabe que ele é muito maior que ela

A Globonews, nesta segunda-feira (2), nem tocou no assunto do prêmio recebido por Lula em Paris.

Até aí, normal. Afinal, Lula derrotou a Globo quatro vezes seguidas e derrotaria a quinta se não fosse o TSE obedecer à Globo e tirar o nome de Lula da urna eletrônica.

Então, os Marinho não dariam mesmo sequer nota de rodapé, afinal, eles levaram Lula à prisão através da ordem que deram a Moro.

Falar sobre o prêmio recebido por Lula de “Cidadão Honorário de Paris” e ainda, de lambuja, mostrar Dilma fazendo um brilhante discurso sobre as mulheres no mesmo evento, seria demais para os eternos golpistas desse país. Tiveram então uma ideia brilhante, fizeram um programa de 30 minutos com Miriam Leitão entrevistando Cármen Lúcia, duas mulheres, possivelmente, que mais trabalharam para o golpe contra Dilma e, em seguida, uma entrevista de Roberto D’Ávila com FHC.

Duas entrevistas inúteis, justamente porque nenhum desses quatro citados tem envergadura moral para debater o que tentaram, ao contrário de Dilma que, com propriedade, falou sobre a questão das mulheres na política. Cármen Lúcia e Miriam Leitão, sem qualquer autoridade sobre o tema, rodearam questões epidérmicas por não poderem avançar no tema mulheres no poder, já que também foram protagonistas no golpe contra a primeira mulher brasileira a ocupar a cadeira da Presidência da República.

FHC com D’Ávila, foi aquela conversa de salão, como os dois gostam. Tudo absolutamente raso como algumas confissões dos bastidores do governo FHC, completamente desinteressantes, porque FHC não tem combustível para aprofundar o debate sobre política no país, porque é imoral, golpista, covarde e, acima de tudo sempre foi antipovo. Por isso quebrou o país três vezes em oito anos e o povo não esquece.

O interessante é que FHC é uma espécie de bezerro de ouro para a Globo, mas não é para o PSDB, pois nenhum candidato à presidência da República teve coragem de colocá-lo em seu programa de governo, já que significaria perda de votos, somente a Globo, não tendo como lançar mão de outra porcaria, requenta entrevista com um sujeito como FHC que, ao contrário de Lula, não tem qualquer expressão na política internacional.

A Globo segue com a sua fúria, tentando criar obstáculos contra a imagem e a fala de Lula, porque ela é medíocre, miúda e tão inexpressiva e nula fora do país quanto FHC.

Assim, a Globo quer tudo, menos enfrentar um concorrência com Lula, porque sabe que, com uma frase e capacidade de comunicação que ele tem, somado a um governo que teve a maior aprovação da história do Brasil, Lula faz barba, cabelo e bigode na cara dos Marinho.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas