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Privatização sem concorrência: por que apenas uma empresa quer comprar a Sabesp?

Equatorial, de Daniel Dantas e BlackRock, foi única a apresentar proposta por estatal paulista de saneamento.

A venda da lucrativa e maior empresa de saneamento do país por um preço 44% abaixo do seu valor real deveria atrair o interesse de diversos investidores. Mas, no caso da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), prestes a ser privatizada pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), não foi assim.

A Equatorial, do Banco Opportunity, de Daniel Dantas, e da gestora Blackrock, dos Estados Unidos, foi a única a apresentar proposta para se tornar acionista de referência da empresa. Segundo especialistas, a falta de concorrência tem a ver com excesso de exigências feitas pelo governo paulista no processo de licitação e também com a insegurança jurídica envolvida no negócio atualmente contestado na Justiça.

“O governo sempre disse que essa privatização é um processo inovador, que era o melhor processo do mundo, mas, na verdade, ele está cheio de falhas. Ao longo do tempo, foram inventadas regras que afastaram possíveis competidores”, explicou Amauri Pollachi, conselheiro do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas) e especialista em saneamento e recursos hídricos.

Pollachi acompanha e critica a privatização da Sabesp desde que ela foi anunciada. Para ele, a venda da empresa estatal deve tirar do estado o controle de um serviço essencial, que é o fornecimento de água, e transferi-lo a quem só pensa no lucro. A falta de concorrência torna a venda ainda pior porque o retorno que o governo tende a ter com ela será menor do que o possível.

Pollachi listou ao Brasil de Fato uma série de medidas que reduziram a competição na privatização. Segundo ele, foram solicitados documentos traduzidos de interessados na Sabesp com pouco prazo para apresentação e foi determinado que os compradores da estatal não podem vir a concorrer contra a empresa em outros certames.

Isso, na avaliação de Polacchi, praticamente inviabilizou a participação de estrangeiros na privatização. Também inibiu propostas de empresas interessadas em expandir negócios para além de São Paulo.

Ele ressaltou ainda que o governo paulista estabeleceu um investimento mínimo que a empresa compradora da Sabesp terá de realizar no serviço de saneamento do estado, o que exige capital do comprador. Pollachi lembrou que cálculos do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) apontam que esse investimento será menor do que o divulgado. Ou seja, uma empresa com um capital menor do que o estimado também poderia concorrer pela Sabesp, o que de fato não aconteceu.

Por último, Polacchi disse que as regras da privatização definiram que, mesmo que uma concorrente apresentasse uma proposta mais vantajosa pela Sabesp, existia a possibilidade de ela não levar a empresa. Isso porque, em última instância, a empresa perdedora poderia cobrir a oferta vencedora, se fosse do interesse de investidores que comprarão de forma pulverizada ações da estatal, que também serão vendidas.

“Isso criou a última condição que afastou os competidores, afunilando na Equatorial”, disse.

Insegurança jurídica
Ronaldo Coppa, ex-membro do Conselho de Administração da Sabesp, ressaltou que toda a contestação pendente de julgamento definitivo sobre a privatização da estatal também afugentou investidores interessados.

O Sintaema e outros movimentos populares já protocolaram na Justiça ações reclamando que a privatização fere a Constituição paulista, a qual prevê que o saneamento básico deve ser gerido sob a tutela estatal.

O próprio Sintaema já levou ao Tribunal de Contas do Estados (TCE) estudos que demonstram como a Sabesp foi posta à venda por um preço 44% mais baixo do que o de mercado e sob exigências de investimentos que não terão de ser cumpridas. O sindicato espera que o TCE atue para anular a privatização.

Tudo isso, disse Coppa, eleva o risco envolvido no negócio, o que diminui o interesse de investidores.

E a empresa Equatorial?
A Equatorial conseguiu cumprir as exigências e aceitou tal risco. Fundada em 1999, a companhia, na verdade, cresceu comprando empresas públicas em dificuldades financeiras. Começou com empresas de energia. Entrou no ramo do saneamento em 2022, após adquirir a concessão do serviço no Amapá em 2021.

Naquela época, a empresa tinha no conselho a executiva Karla Bertocco. Ela deixou o posto no órgão máximo de administração da companhia em dezembro.

Naquela época, Bertocco já era presidente do conselho de administração da Sabesp. Ela continua no cargo até agora, o que levantou suspeitas de um eventual favorecimento à Equatorial no processo de privatização.

O fato de Bertocco ter trabalhado na Equatorial antes da Sabesp foi revelado em reportagem da Folha de S.Paulo. Governo de São Paulo, Sabesp e Equatorial negaram qualquer irregularidade e favorecimento a uma determina empresa na privatização.

*BdF

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“Processo suspeito do começo ao fim”: Oposição questiona compra da Sabesp pela Equatorial

Vencedora do leilão teve como gestora uma conselheira que atuou também na Sabesp, o que abre margem para ações.

A oposição ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo levanta suspeitas sobre a oferta da Equatorial para comprar 15% das ações da Sabesp por R$ 6,9 bilhões para tornar-se acionista de referência.

Nesta semana, a Folha de S. Paulo divulgou que o conselho de administração da Sabesp foi presidido por uma gestora que tem passagem pela empresa que venceu o leilão.

A Equatorial, aliás, foi a única empresa que permaneceu até o fim da disputa, com proposta de compra dos 15% das ações da Sabesp por um preço abaixo do valor de mercado, segundo levantamento divulgado pelos parlamentares do Psol.

“Todas as empresas que demonstraram interesse em ser acionistas de referência da Sabesp, como Votorantim, Cosan, J&F, e IG4 Capital, por exemplo, desistiram ao longo do processo pelas imposições contratuais [feitas pela gestão Tarcísio]. Com isso, a Equatorial ofereceu R$ 67 por ação e arrematou 15% da Sabesp, e vai pagar cerca de R$ 10 a menos por ação do que o atual valor de mercado. Para executivos da empresa esse foi o ‘melhor negócio da história’”, comentou no X o deputado federal e pré-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL).

A Equatorial é uma holding que atua no setor de energia, água e gás, com 20 anos de história e atuação sobretudo em Alagoas, Amapá, Goiás, Maranhão, Pará, Piauí, e Rio Grande do Sul, sendo o terceiro maior grupo de distribuição do país em número de clientes, com 13 milhões de pessoas nas regiões atendidas.

Boulos salientou que “a presidente do conselho de administração da Sabesp era, até 7 meses atrás, integrante do conselho… da Equatorial.”

Karla Bertocco ocupava um cargo no conselho administrativo da Equatorial até dezembro de 2023, faturando cerca de R$ 1,02 milhão ao ano. Ela chegou, segundo a Folha de S. Paulo, a acumular o cargo de conselheira da Sabesp, onde recebe em torno de R$ 160 mil por ano. “Mas o que é interessante é que ela só renunciou ao cargo na Equatorial em 29 de dezembro, 23 dias após a privatização ter sido aprovada na ALESP.”

Para a deputada Sâmia Bomfim, a renúncia pode ter ocorrido para “esconder” eventual conflito de interesses. Folha publicou que não há ilegalidade no fato de Karla Bertocco ter sido conselheira da Sabesp e da Equatorial, mas sua presença em ambos os conselhos “é inadequada e abre margem para que o processo seja questionado.”

“Nós viemos denunciando todos os absurdos da privatização desde o início. Um processo tão suspeito do começo ao fim não tem nenhuma condição de ser benéfico para a população de São Paulo”, avaliou Boulos. Sâmia Bomfim chamou o leilão de “mutreta” patrocinada pelo governo Tarcísio em São Paulo. Ela destacou que houve opressão aos opositores da privatização da Sabesp e também que há muitas críticas em relação aos serviços prestados pelas empresas de saneamento que têm a Equatorial entre seus acionistas.

À Folha de S. Paulo, a Sabesp disse que a passagem de Karla Bertocco pelo conselho administrativo é “anterior ao início da modelagem da privatização” e que sua indicação para o conselho da Sabesp não teve impedimento legal.

*GGN

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Privatização da Sabesp em Guarulhos é suspensa pela Justiça; SP amanhece com faixas do MTST

Por falta de audiências e apresentação de laudos, segunda maior cidade de SP tem votação da privatização interrompida.

Nesta quinta-feira (16), menos de 24 horas depois de o Tribunal de Justiça de São Paulo suspender a votação do projeto de lei que privatiza a Sabesp na Câmara Municipal de Guarulhos (PL 85/2024), cinco viadutos da capital paulista amanheceram com faixas contra a venda da estatal à iniciativa privada.

As intervenções em todas as regiões da cidade e também em Santo André (SP) – com faixas como “Não deixe a Sabesp se tornar a Enel da água” – foram feitas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

Na quarta-feira (15), a Justiça decidiu que os vereadores de Guarulhos não podem votar o tema, pois não foram feitas audiências públicas, nem apresentados os laudos de impacto orçamentário e ambiental obrigatórios.

A nova barreira à privatização da companhia, que é encampada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) desde a sua campanha, acontece agora no segundo maior município do estado paulista.

*Brasil de Fato

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PGR aponta ilegalidade em decreto de privatização da Sabesp por Tarcísio

Parecer da PGR destaca que trechos do decreto são inconstitucionais ao infringir a autonomia dos municípios que compõem as Unidades Regionais de Abastecimento de Água e Esgotamento.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) se pronunciou sobre um decreto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), emitiu um parecer que considera parte do decreto que facilitou o processo de privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) inconstitucional.

Segundo a Folha de S. Paulo, a procuradora-geral interina, Elizeta Maria de Paiva Ramos, emitiu o parecer em resposta a uma ação direta de inconstitucionalidade protocolada pelo PSOL e PT. A ação questiona diversas atribuições das Unidades Regionais de Abastecimento de Água e Esgotamento (Uraes), que agrupam municípios em um conselho deliberativo. As Uraes são consideradas cruciais para o governo de Tarcísio, pois possibilitam a renegociação e prorrogação coletiva de contratos com a Sabesp, agilizando o processo de privatização.

O parecer da PGR acata parcialmente a ação, destacando que trechos do decreto são inconstitucionais ao infringir a autonomia dos municípios que compõem as Uraes. Um ponto de destaque é a forma de cálculo que atribui mais votos ao estado e para a capital, concentrando o poder decisório nas mãos de poucos entes federativos.

“Com efeito, concentrar poder decisório ao alvedrio de apenas um ou dois entes federativos no âmbito das unidades regionais de saneamento básico resulta tanto em afronta abstrata à autonomia dos outros municípios dela integrantes, quanto pode ensejar que sejam proferidos atos concretos dentro da mesma unidade amplamente favoráveis aos entes com maior poder de decisão”, destaca um trecho do parecer da PGR, segundo a reportagem.

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Tarcísio é um criminoso que está vendendo São Paulo a preço de banana e a população é quem vai pagar

Tarcísio entrega a água para os abutres da Sabesp que custará um absurdo para o povo de São Paulo, e virá logo na primeira conta de água.

Alguém pode mostrar uma única privatização no Brasil que beneficiou o país e a população, umazinha?

FHC, com sua privataria, promoveu o desmonte do Brasil, jurando que o país se modernizaria, a economia bombaria, nossas reservas internacionais nos blindariam de ataques especulativos externos. Aconteceu o oposto. País foi à bancarrota, com apagão de 2 anos e insolvência do real.

Só os donos da empresas privatizadas ganharam com a privataria de FHC. O povo perdeu, e perdeu muito. A moeda brasileira (real), que FHC disse que “valia o mesmo que o dólar”, apodreceu e o dinheiro da privataria, que nos blindaria contra ataques especulativos, transformou-se em pó, merda, zero, nada!

Sobre a privataria de Tarcísio, nós já conhecemos esse filme e sabemos no que vai dar. Como sempre, o rico vai ganhar e o pobre, perder. No final, ninguém vai querer mais lembrar das promessas feitas pelos privateiros para nos enganar.

A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em Volta Redonda, foi privatizada a preço de banana e paga ao BNDES com moeda pobre. Promessas: modernização e geração de emprego. Realidade: 30 depois, zero investimento do próprio lucro e desemprego como meta de lucro. Ou seja, a CSN foi sucateada e enfumaçada pelo atual dono. Ferro velho!

Trocando em miúdos, a privatização da Sabesp por Tarcísio: Vai dar merda! Não vai melhorar nada o saneamento, vai aumentar e muito o preço e ainda vai faltar água em São Paulo. A conferir.

Privatização é tática de ladrão, roubo sobre roubo. Roubam o patrimônio do povo e, depois, roubam na prestação de serviços, que piora infinitamente a qualidade, para dar mais lucros a acionistas. Quem não sabe disso no Brasil?

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Sabesp é apenas a primeira das privatizações do governo paulista

CPTM, Metrô, ginásios de esportes e loterias estaduais estão no escopo do governo Tarcísio para desestatização.

A autorização para os estudos da privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) é apenas o primeiro dos passos de desestatização do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O anúncio para o início desse processo foi feito pelo governo paulista nesta terça-feira (28/02) após uma reunião conjunta do Conselho Gestor do Programa de Parcerias Público-Privadas (CGPPP) e do Conselho Diretor do Programa de Desestatização (CDPED), que é presidido pelo vice-governador Felicio Ramuth.

Atualmente, o governo paulista possui 50,3% do capital social da Sabesp, e o restante das ações é negociada na Bolsa de São Paulo e na Bolsa de Nova Iorque (EUA).

“Esperamos ter grandes investimentos, que vão permitir que o prazo para o cumprimento das metas de universalização dos serviços de água e esgoto, que são para 2033, sejam comprimidos. Também teremos um bônus de assinatura elevado, que vai ajudar a melhorar o atendimento. Além disso, também esperamos a redução de tarifas”, disse Tarcísio, em nota oficial.

Vale lembrar que a Sabesp responde por 30% de todos os investimentos em saneamento no Brasil, e é considerada uma das maiores do mundo no segmento. Sua privatização irá atingir mais de 27 milhões de pessoas no Estado de São Paulo (cerca de 70% da população urbana) em 375 municípios (58% do total de cidades paulistas).

O governo paulista também autorizou a análise para a privatização da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), que atua no setor de geração de energia hidrelétrica, além da operação do Canal Pinheiros e de reservatórios localizados na Grande São Paulo.

Privatização de loterias e ferrovias

Contudo, a Sabesp não é a única empresa que está na lista de privatizações do governo Tarcísio. A intenção é colocar nas mãos da iniciativa privada de ginásios esportivos até mesmo a manutenção e adequação das escolas da rede pública estadual.

A começar pelas linhas de mobilidade urbana, mesmo com todos os problemas em torno do funcionamento das linhas já privatizadas (em especial na CPTM): o governo paulista pretende reconfigurar a modelagem do projeto de concessão dos serviços, incluindo a revisão do Plano Diretor de Transporte.

A onda de privatização paulista também pretende englobar a concessão das Linhas 10, 11, 12, 13 e 14 da CPTM, do TIC Sorocaba e das linhas atualmente operadas e em estudo para implantação e/ou expansão pelo Metrô – o governo paulista projeta R$ 69 bilhões em investimentos.

A implantação do TIC Eixo Norte também será avaliada no âmbito do PPI. Os estudos vão avaliar a aplicabilidade da construção de linhas de trens que vão ligar São Paulo, Jundiaí e Campinas, além de Francisco Morato. Parte do projeto integrará a Linha 7-Rubi da CPTM, até Francisco Morato. O projeto está orçado em R$ 12,7 bilhões.

Segundo o governo paulista, trechos de rodovias que cortam o estado também passarão por estudos nos próximos meses para averiguar a viabilidade de concessão.

Parte dos lotes que serão avaliados é referente às estradas que cortam o Litoral Paulista, com investimentos estimados em R$ 3 bilhões, como a Rodovia Rio-Santos (SP-055) – onde o trecho a ser concedido contemplará do entroncamento com a Mogi-Bertioga até o Porto de São Sebastião e da Praia de Martin de Sá até a Rodovia Oswaldo Cruz, com um total de cerca de 135 quilômetros de extensão.

*Com GGN

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Presidida pelo tucano Dalmo Nogueira Filho, a estatal Sabesp no governo Alckmin doou 500 mil ao instituto de FHC

O Instituto Fernando Henrique Cardoso, ONG criada pelo ex-presidente tucano com a ajuda de grandes empresários, foi contemplado no ano de 2006 com uma doação de R$ 500 mil de uma empresa estatal do governo paulista, que no período 2003-2006 foi comandado por Geraldo Alckmin (PSDB)

O dinheiro saiu da Sabesp – então presidida por outro tucano, Dalmo Nogueira Filho – e foi direcionado para um projeto de conservação e digitalização do acervo do instituto, conhecido pela sigla iFHC.

O acervo é formado por livros, fotos e obras de arte de FHC e também de sua mulher, Ruth Cardoso. Reúne não apenas itens coletados durante a passagem do tucano pela Presidência, mas também da época em que era professor e um dos líderes da oposição ao regime militar. Entre os objetos em processo de catalogação estão os presentes que FHC recebeu durante seu governo – vasos, quadros, tapetes e até capacetes de pilotos de Fórmula 1.

O projeto de preservação e digitalização do acervo está orçado em mais de R$ 8 milhões – valor que equivale a cinco vezes o orçamento anual da Biblioteca Mário de Andrade, a maior de São Paulo, com mais de 3,2 milhões de itens.

Na época o Instituto Fernando Henrique Cardoso era uma espécie de “organização ex-governamental” – reunia em seu conselho deliberativo diversas estrelas dos dois mandatos presidenciais tucanos, entre eles ex-ministros como Pedro Malan (Fazenda), Luiz Carlos Bresser-Pereira (Administração) e Celso Lafer (Relações Exteriores e Desenvolvimento).

O iFHC afirma ter dois objetivos básicos: o primeiro é a preservação do próprio acervo do ex-presidente e de sua mulher; o segundo é a promoção de debates e seminários – que são restritos a convidados. O site do instituto na internet destaca que “o iFHC, entidade privada, não está aberto à visitação pública”.

O auxílio estatal ao instituto, via Sabesp, fugiu à regra: o iFHC nasceu e é mantido graças a contribuições privadas. Quando inaugurado, em 2004, tinha R$ 10 milhões em caixa. O tucano começou a pedir doações a empresários quando ainda era presidente.

Em um jantar no Palácio da Alvorada, em 2002, FHC expôs os planos de sua futura ONG a convidados como Emílio Odebrecht (grupo Odebrecht), Lázaro Brandão (Bradesco), Olavo Setubal (Itaú), Benjamin Steinbruch (CSN), Pedro Piva (Klabin) e David Feffer (Suzano). Na época, o colunista Elio Gaspari criticou o fato de a coleta de fundos ser feita entre representantes de empresas financiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ou contempladas no processo de privatização.

Já as relações da Sabesp com políticos do PSDB não constituem propriamente uma novidade. em 2006, reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que a estatal patrocinou uma edição da revista Ch’an Tao, do acupunturista do então candidato à Presidência Geraldo Alckmin – o tucano foi assunto de capa e apareceu em 9 das 48 páginas da publicação.

A estatal também destinou R$ 1 milhão de sua verba publicitária para uma editora e um programa de TV do deputado estadual Wagner Salustiano (PSDB). O Ministério Público abriu uma investigação sobre o eventual uso de empresas do Estado para beneficiar aliados de Alckmin na Assembléia Legislativa.

A Terra Magazine procurou a Sabesp e FHC, em busca de esclarecimentos sobre a doação de R$ 500 mil. Não houve resposta da estatal. A assessoria do iFHC informou apenas que o ex-presidente não se encontrava no local.

Além da Sabesp, da Sun e da IBM, os outros patrocinadores do projeto de digitalização do iFHC são as empresas Philco Participações (R$ 600 mil), Arosuco Aromas e Sucos (do grupo Ambev, R$ 600 mil), Mineração Serra Grande (do grupo Anglo-American, R$ 200 mil), Norsa Refrigerantes (representante da Coca-Cola no Nordeste, R$ 140 mil), Rio Bravo Investimentos (R$ 30 mil) e BES Investimentos do Brasil (R$ 25 mil).

O fato é que a Lava Jato nunca investigou isso.

 

*Com informações do Terra Magazine