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Política

Um general chora pelos cantos. Outro, cala-se e se esconde

O tenente-coronel Mauro Cid irá depor outra vez. Fardado?

Você ouviria calado mentiras que manchassem sua honra? Ou as repeliria na hora, indignado, e processaria quem as fez?

Comandante do Exército do governo Bolsonaro, depois ministro da Defesa, o general Paulo César Nogueira está calado.

Finge desconhecer que a mando de Bolsonaro, em agosto do ano passado, o hacker Walter Delgatti foi ao Ministério da Defesa.

Delgatti disse à CPI do Golpe que esteve no ministério pelo menos cinco vezes para reuniões com técnicos militares.

À Polícia Federal descreveu a sala onde ocorreram as reuniões e contou que sempre entrava no ministério pela porta dos fundos.

Em pauta, a segurança ou vulnerabilidade das urnas eletrônicas. A Bolsonaro Delgatti disse que as urnas não eram vulneráveis.

Mas Bolsonaro chegou a propor-lhe que montasse uma urna onde, digitado o número 22, do PL, apareceria o 13, do PT.

A falsa urna seria exibida durante os festejos do dia 7 de setembro, em Brasília, e mais tarde no Rio de Janeiro.

Delgatti não topou. E agora que está preso e condenado a 20 anos e 1 mês de cadeia, resolveu contar o que sabe ou diz saber.

Por que o general Paulo Cesar Nogueira não fala? Por que não o desmente, e com toda razão, o achincalha?

Se não quer ele mesmo fazer isso para não se rebaixar a Delgatti, por que não se vale de uma nota ou de um advogado?

O ministro José Múcio Monteiro Filho, que sucedeu a Nogueira no cargo, quer saber quais militares estão sendo investigados.

A Polícia Federal se recusa a dizer porque a investigação corre em segredo de justiça. O ministro Alexandre de Moraes, não diz.

Monteiro Filho alega que assim fica difícil colaborar com as investigações. Tem razão, mas é melhor para ele.

Os militares são uma corporação. Entre eles, predomina o espírito de corpo. Todos se protegem. Ninguém entrega ninguém.

O Exército impediu várias vezes a entrada da Polícia no acampamento dos golpistas porque entre eles havia militares.

A mulher do general Villas Boas, ex-comandante do Exército a quem Bolsonaro deve tantos favores, esteve no acampamento.

E como ela, muitas outras mulheres, filhos de militares da ativa e da reserva, sobrinhos e amigos. A família militar em peso.

O general Mauro Cesar Lourena Cid chora pelos cantos, arrependido de ter-se metido com a venda das joias roubadas.

Seu filho, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, chora pelo pai desde que foi preso em maio.

Autorizado pelo Exército, Mauro Cid apresentou-se fardado para depor à CPI do Golpe. Hoje irá depor a outra CPI. Fardado? A ver.

*Blog do Noblat

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Política

Lula e general Villas Bôas se encontram pela 1º vez após tuíte que pressionou STF

Presidente e militar da reserva participaram de cerimônia de comemoração ao Dia do Exército, em Brasília.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou nesta terça-feira (19) pela primeira vez com o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas após o general ter publicado no Twitter texto em que pressionava o STF (Supremo Tribunal Federal) na véspera do julgamento de um habeas corpus do petista, em 2018.

Os dois estavam na primeira fileira do palco montado em frente ao Quartel-General, em Brasília, para a comemoração do Dia do Exército. Villas Bôas ficou sentado na ponta esquerda do palco e Lula, ao centro. Os dois não interagiram.

O ex-comandante tem ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), doença neuromotora degenerativa. Pessoas próximas afirmam que, apesar da situação, o general mantém-se consciente e se comunica pelo piscar dos olhos.

Fora do Exército desde o fim de 2018, Villas Bôas não falta a eventos da Força, apesar da doença. Nas cerimônias, costuma ser cumprimentado e tira fotos com militares.

“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”, perguntou o então comandante do Exército, em 2018, no famoso tuíte na véspera do julgamento de Lula.

“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”, completou.

O tom incendiário da publicação, que repudiava a “impunidade” em referência a Lula, foi o principal movimento público do Exército contra o petista.

A presença de Villas Bôas no evento desta terça-feira, ao lado de Lula, foi descrita por generais à Folha como um sinal de que o tuíte não foi uma ameaça. Numa tentativa de amenizar as críticas, dois deles disseram que a postagem do general foi somente a expressão da indignação da população.

*Com Folha

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Bolsonarismo

Presença da esposa do general Villas Bôas em atos comprova ativismo golpista da “família militar”

Em vídeo divulgado por um bolsonarista amotinado presumivelmente em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, a senhora Villas Bôas é chamada de “celebridade” e tratada como a “esposa de uma celebridade”.

Uniformizada de patriota, ela demonstrava se sentir em casa, bem à vontade. Depreende-se, pela apresentação do locutor, que no momento ela estava acompanhada de um primo e respectiva esposa, mas não fica claro se é primo dela ou do general.

O locutor se refere ao tal primo, também devidamente paramentado de patriota, como alguém que “tá aqui orientando a gente, guiando a gente”. No trecho final do breve vídeo, a senhora Villas Bôas se despede com o tradicional brado “Selva!”.

A presença da esposa do general-conspirador Villas Bôas em atos considerados ilegais e criminosos, porque atentam contra o resultado eleitoral, as instituições e a democracia, é um indício muito significativo do ativismo golpista orgânico e central da “família militar”.

Villas Bôas é uma das vozes mais ensandecidas e, talvez, justamente por isso mesmo, uma das vozes mais respeitadas dentre os defensores das “pessoas identificadas com o verde e o amarelo” que se aboletam em frente aos quartéis “pedindo socorro às Forças Armadas”, como o próprio postou no twitter em 15 de novembro.

A conivência dos comandos militares com atos ilegais promovidos em áreas militares decorre, por um lado, do interesse e do empenho direto deles em instalar o caos para pretextarem a intervenção das Forças Armadas. É amplamente conhecido hoje que as cúpulas militares são a principal fonte de alimentação do clima de caos e baderna, como reforça a mensagem dos comandantes das três Forças “Às Instituições e ao Povo brasileiro” [11/11].

Por outro lado, a cumplicidade dos comandos militares com os baderneiros amotinados em frente aos quartéis deriva do fato de que grande contingente desses amotinados pertence à “família militar” – são filhos, pais, sobrinhos, primos, tios, parentes, amigos de militares.

É até compreensível que se rebelem. Afinal, tinham planos de um poder eterno, e agora estão seriamente preocupados em como pagar a fatura do cartão de crédito, as prestações de dívidas, de consórcio etc, pois perderam as quase 10 mil boquinhas de cargos comissionados e salários-duplex e extra-teto, além de outras facilidades, mordomias e prestígio.

Não se pode esperar, por isso, que os comandantes autorizarem a Polícia do Exército a proceder como corresponderia proceder no caso, ou seja, desocupando as áreas militares que estão ocupadas ilegalmente e, além disso, para propósitos ilícitos e em associação criminosa.

Se depender das cúpulas fardadas, aliás, esses atos deverão continuar acontecendo livremente, pois faz parte do plano para instalar tumulto, caos e conflito no país. É o que garantiu o general André Campos Allão, comandante da 10ª Região Militar/CE.

Em vídeo no qual se dirige às tropas, este general defende os baderneiros e desafia o judiciário. Ele promete proteger os manifestantes “ainda que existam ordens de outros poderes no caminho contrário”.

Fosse o Exército Brasileiro uma instituição comandada por oficiais legalistas, profissionais, sérios e confiáveis, o general André Allão teria sido imediatamente afastado do posto de comando, seria submetido a procedimento disciplinar e, finalmente, expulso do Exército.

No entanto, o general Allão deverá gozar da mesma impunidade assegurada ao Pazuello, que mesmo sendo general da ativa, participou de motociata e comício partidário com Bolsonaro.

A Câmara dos Deputados precisa convocar o Comandante do Exército urgentemente. Em primeiro lugar, os deputados têm de cobrar dele as providências adotadas em relação a este perigoso ataque ao Estado de Direito.

*Com DCM

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Política

Garimpeiro acusado de crimes ambientais vai dar palestra sobre Amazônia em instituto bolsonarista

O Instituto General Villas Bôas, que se tornou um think tank informal do bolsonarismo, convidou dois representantes de garimpeiros para palestrar sobre mineração e “extrativismo sustentável” num simpósio virtual sobre “saúde e tecnologia como ferramentas de desenvolvimento na Amazônia”, informa a coluna de Malu Gaspar, O Globo.

Os palestrantes são o ex-deputado Antonio da Justa Feijão, que responde a processos por dez crimes, entre eles organização criminosa, usurpação de bens da União, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva, em decorrência de uma operação da Polícia Federal chamada Garimpeiros da Propina, e Marcelo Norkey, que se apresenta como “garimpeiro e conselheiro de unidades de conservação no Pará”.

as redes sociais, Norkey costuma ironizar movimentos como o dos sem-terra e replicar publicações do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e do presidente Bolsonaro.

Os dois discutirão no próximo dia 5 de julho a mineração na floresta em webinar com a presença de Villas Bôas, que já foi comandante do Exército e assessor especial do presidente da República.

A palestra de Feijão é intitulada “Mineração na Amazônia e os inimigos invisíveis”. A de Norkey, “A Amazônia que os satélites não conseguem ver: o extrativismo mineral sustentável, um sonho possível”. A sessão será mediada pelo jornalista Alexandre Garcia.

O evento ocorre em meio à comoção pelo assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na Amazônia.

Pereira foi exonerado do cargo de coordenador da área de índios isolados e de recente contato da Funai após coordenar uma operação bem-sucedida contra o garimpo no Javari, em 2019, e desde então trabalhava para a Unijava, organização de defesa dos povos indígenas.

Ex-deputado federal pelo Amapá, Feijão foi chefe do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), atual Agência Nacional de Mineração (ANM) do governo federal. Segundo a acusação do MPF, Feijão chefiava uma organização criminosa que recebia propinas de mineradores em troca de anuência a atividades ilegais de garimpos no Amapá entre 2012 e 2018, nas gestões Dilma Rousseff e Michel Temer.

Os valores variavam de R$ 10 mil a R$ 100 mil, sem contar a fatia de 30% sobre a produção bruta do garimpo ilícito, cujas cifras eram milionárias. Ironicamente, ele está escalado para discutir a “mineração na Amazônia e seus inimigos invisíveis”.

Sua prisão preventiva foi revogada em primeira instância em julho de 2018, mas o ex-deputado continua respondendo pelos dez crimes apontados pelo MPF, que juntos ultrapassam 70 anos de detenção e multa.

Já Marcelo Norkey, que discutirá o “sonho possível” de um “extrativismo mineral sustentável” na “Amazônia que os satélites não conseguem ver”, foi condenado duas vezes pelo Ministério do Meio Ambiente a pagar multas por infrações ambientais em Altamira (PA). As infrações contra a flora e o controle ambiental somam quase R$ 800 mil.

A Finama, entidade fundada por Feijão em 1993 e a qual o ex-deputado e Norkey estão ligados, funciona como uma entidade de fachada em defesa dos interesses de garimpeiros em Brasília. Com sede em Macapá, mas sem site oficial, a fundação já foi representada por ambos em audiências públicas sobre mineração na Amazônia na Câmara dos Deputados.

As palestras de Feijão e Norkey farão parte de uma série de painéis que começam a partir do dia 28 com expoentes da base de Jair Bolsonaro, incluindo o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP) e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que presidiu a Comissão de Meio Ambiente da Casa.

Segundo o site do instituto, os eventos fazem parte da celebração do bicentenário da independência do Brasil.

A equipe do blog questionou a entidade a respeito dos crimes e infrações atribuídos pelo Ministério do Meio Ambiente e o MPF aos convidados para o webinar, mas não recebeu retorno até o fechamento da reportagem.

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Projeto de militares prevê manter poder até 2035 e fim da gratuidade no SUS em 2025

Caro leitor,

Houve um tempo em que os militares mandavam no País e celebravam seus feitos com a música Eu Te Amo Meu Brasil. O velho hit dos Incríveis soou novamente em uma solenidade em Brasília, executado pela fanfarra do Regimento de Cavalaria de Guardas. Era dia 19 de maio. Os Institutos Villas Bôas, Sagres e Federalista apresentaram o seu Projeto de Nação, O Brasil em 2035 em evento que contou com a presença do vice-presidente Hamilton Mourão.

Sob a ideia de “entregar um Brasil melhor aos nossos filhos e netos”, os militares e civis envolvidos no trabalho desenvolveram um documento com 93 páginas. O projeto foi coordenado pelo general Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-presidente do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), a ONG do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Rocha Paiva disse que o estudo é “apartidário, aberto e flexível”. Ele traça um cenário no qual se projeta o domínio do bolsonarismo no Brasil até 2035.

O general diz que o estudo está à disposição de todos – Mourão e um representante do governo estiveram na solenidade e receberam um exemplar. “Mesmo que haja mudança de governo. Claro que se for de direita para esquerda, vai jogar fora.” O documento aborda 37 temas estratégicos. Trata de geopolítica, governança nacional, desenvolvimento, ciência, tecnologia, educação, saúde, defesa nacional e segurança. A Amazônia é citada dentro do tema Defesa Nacional, no capítulo Integração da Amazônia no Brasil.

O projeto diz que a Nação está ameaçada pelo “globalismo”. Diz o documento: “O chamado globalismo, movimento internacionalista cujo objetivo é determinar, dirigir e controlar as relações entre as nações e entre os próprios cidadãos, por meio de posições, atitudes, intervenções e imposições de caráter autoritário, porém disfarçados como socialmente corretos e necessários. No centro desse movimento está a elite financeira mundial, ator não estatal constituído por megainvestidores, bancos, conglomerados transnacionais e outros representantes do ultracapitalismo, com extraordinários recursos financeiros e econômicos”.

Para Eduardo Villas Bôas, Mourão, Rocha Paiva e associados, o globalismo tem aliados poderosos no Brasil. Afirma o documento: “O globalismo tem outra face, mais sofisticada, que pode ser caracterizada como ‘o ativismo judicial político-partidário’, onde parcela do Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública atuam sob um prisma exclusivamente ideológico, reinterpretando e agredindo o arcabouço legal vigente, a começar pela Constituição brasileira.” A ideologia da extrema direita está em outros trechos do projeto.

O presidente Jair Bolsonaro conversa com o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, no dia do Exército (19 de abril), em Brasília.

O documento prevê que a classe média deve pagar mensalidades nas universidades públicas e pelo atendimento no SUS. A cobrança deve começar em 2025. “Além disso, a partir de 2025, o Poder Público passa a cobrar indenizações pelos serviços prestados, exclusivamente das pessoas cuja renda familiar fosse maior do que três salários mínimos.” Mourão e os seus amigos para sempre – outra música da cerimônia – pretendem acabar com a Saúde gratuita e universal num segundo mandato de Bolsonaro.

Na Educação, o grupo demonstra ainda o desejo de limitar o debate acadêmico e a liberdade de cátedra, garantidos pela Constituição, impondo sua visão de mundo a estudantes e professores. O projeto traça o seguinte cenário para 2035: “Os currículos foram ‘desideologizados’ e hoje são constituídos por avançados conteúdos teóricos e práticos, inclusive no campo social, reforçando valores morais, éticos e cívicos e contribuindo para o progressivo surgimento de lideranças positivas e transformadoras”.

Aos militares cabe nos contar o que é “desideologização”. O dono da melhor explicação ganhará um cargo vitalício no futuro Ministério da Verdade. O documento prossegue. Os generais acreditam que as salas de aula estão dominadas por esquerdistas. “Há tempos uma parcela de nossas crianças e adolescentes sofria com a ideologização do sistema educacional, com a doutrinação facciosa efetuada por professores militantes de correntes ideológicas utópicas e radicais, com prejuízo da qualidade do ensino”.

Ou se desconhece o que se passa nas escolas do Brasil ou o que se quer é impor a própria ideologia, controlar a história e a memória nacionais como normalmente fazem os regimes totalitários de direita ou de esquerda. O documento faz esse diagnóstico sobre o ensino superior: “Quanto à Educação Superior, o quadro não era muito diferente. Amplos setores das Instituições de Ensino Superior (IES) — principalmente as públicas — transformaram-se em centros de luta ideológica e de doutrinação político-partidária”.

Ele continua afirmando: “Em sala de aula, pouco era feito no sentido de transmitir os conteúdos, ensinar o aluno a pensar, orientar as pesquisas sobre as diversas correntes de pensamento e elucidar sobre como realizar as melhores análises, buscando as opções de vida mais favoráveis, segundo as crenças e convicções de cada aluno. Tudo era feito para que o aluno fosse obrigado a pensar exatamente como pensava o professor, caso contrário não conseguiria se formar e tampouco seria aceito pelo grupo”.

O general Luiz Eduardo Rocha Paiva, coordenador do Projeto de Naçãogeneral Luiz Eduardo Rocha Paiva

Projeto de militares prevê manter poder até 2035 e fim da gratuidade no SUS em 2025

Documento do Instituto Villas Bôas teve apoio de Hamilton Mourão; ele prega combate ao ‘globalismo’ identificado com as finanças internacionais, cobrança de mensalidades nas universidades federais e ‘neutralização’ de ideologias no ensino.

O documento prevê que a classe média deve pagar mensalidades nas universidades públicas e pelo atendimento no SUS. A cobrança deve começar em 2025. “Além disso, a partir de 2025, o Poder Público passa a cobrar indenizações pelos serviços prestados, exclusivamente das pessoas cuja renda familiar fosse maior do que três salários mínimos.” Mourão e os seus amigos para sempre – outra música da cerimônia – pretendem acabar com a Saúde gratuita e universal num segundo mandato de Bolsonaro.

Na Educação, o grupo demonstra ainda o desejo de limitar o debate acadêmico e a liberdade de cátedra, garantidos pela Constituição, impondo sua visão de mundo a estudantes e professores. O projeto traça o seguinte cenário para 2035: “Os currículos foram ‘desideologizados’ e hoje são constituídos por avançados conteúdos teóricos e práticos, inclusive no campo social, reforçando valores morais, éticos e cívicos e contribuindo para o progressivo surgimento de lideranças positivas e transformadoras”.

Aos militares cabe nos contar o que é “desideologização”. O dono da melhor explicação ganhará um cargo vitalício no futuro Ministério da Verdade. O documento prossegue. Os generais acreditam que as salas de aula estão dominadas por esquerdistas. “Há tempos uma parcela de nossas crianças e adolescentes sofria com a ideologização do sistema educacional, com a doutrinação facciosa efetuada por professores militantes de correntes ideológicas utópicas e radicais, com prejuízo da qualidade do ensino

Luiz Eduardo Rocha Paiva, coordenador do Projeto de Nação
O general Luiz Eduardo Rocha Paiva, coordenador do Projeto de Nação

Para Mourão e Villas Bôas, tudo estará mudado em 2035. Diz o documento: “No ensino universitário, inclusive no Superior Tecnológico, os debates políticos e ideológicos se tornaram equilibrados, com abertura para diferentes correntes de pensamento”. Como fazer isso sem violar a autonomia universitária, a liberdade de cátedra e a liberdade de pensamento é o que mais uma vez não se esclarece. E quem pedir explicações corre o risco de ser acusado de comunista ou de ofender as Forças Armadas.

Toda vez que confrontados com seus atos, os militares que embarcaram no governo de Jair Bolsonaro reagem se escondendo atrás do biombo das Forças Armadas. Tentam fazer com que o suposto agravo individual se torne ofensa coletiva. E, assim, deixam de prestar contas pelo que fazem como se agissem em nome de seus pares. Sem serem julgados, fazem avançar uma amnésia moral. Hannah Arendt tratou dessa falácia em Responsabilidade e Julgamento com a fórmula hoje clássica: “Quando todos são culpados, ninguém o é”.

É que a culpa é estritamente pessoal ao passo que a responsabilidade não. A primeira refere-se a um ato e não a intenções e potencialidades. Quem diz “somos todos culpados” declara solidariedade aos malfeitores ou pretende ser protegido, apesar de sua falha, por quem se sente responsável pelos atos de seu grupo, família ou Nação. Enfim, quem usa o biombo da instituição ou do governo quer mobilizar a responsabilidade coletiva, que só é afastada quando individualmente deixamos um grupo.

Mas em uma República são as pessoas que são julgadas e respondem por seus atos. Assim, o governo Bolsonaro é também responsável pelo projeto de Villas Bôas e de Rocha Paiva, mas só os seus autores podem ser culpados pelo barulho que o documento causar na campanha eleitoral do presidente. Afinal, será difícil explicar à classe média empobrecida pela inflação que ela terá de arcar com os custos do SUS e da universidade pública quando conseguir ser atendida por um médico ou seu filho obtiver uma vaga após muito estudar.

Hannah Arendt em seu apartamento, em Nova York, em 1972.

Hannah Arendt em seu apartamento, em Nova York, em 1972.

Será Mourão que terá de dizer ao mercado financeiro internacional o que significa tomá-lo como inimigo. Ou como pacificar a Nação quando o retrato do Brasil que se pretende criar é o de uma democracia sem alternância de poder, impondo um modelo de desenvolvimento à Amazônia que a trata segundo o conceito de ocupar e integrar, dos anos 1970 – o documento diz que se deve acabar com “restrições da legislação indígena e ambiental, que se conclua serem radicais nas áreas atrativas do agronegócio e da mineração”.

Rocha Paiva pensa que “vontade é poder”. Precisava ler Arendt para saber o quanto a liberdade depende da ação coletiva e não da vontade. Normalmente, só políticos autoritários acreditam na força da vontade. Falar em neutralizar – uma linguagem militar – ideologias para impor a própria, nomeada como “conservadora evolucionista”, faz lembrar a pergunta que o jornalista Rolf Kuntz lançou no Estadão sobre o governo: “Haverá alguma diferença entre seu suposto liberalismo econômico e um efetivo darwinismo social?”

Michel Temer teve o Ponte para o Futuro, o plano que o guiou no governo. Bolsonaro e seus militares têm agora – palavras do antropólogo Piero Leirner – o seu “Ponte para o Passado”. Tudo ao som de Eu Te Amo Meu Brasil.

Da coluna Marcelo Godoy/Estadão

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Política

Brasil tem 100 generais nomeados marechais; Augusto Heleno, Villas Bôas e Etchegoyen entre eles

Dados públicos disponibilizados no Portal da Transparência informam que 100 generais de exército (último posto da escala hierárquica do Exército Brasileiro) receberam a patente de marechal, extinta desde 1967 após uma reforma no regramento da força terrestre que pôs fim ao título, normalmente atribuído a oficiais de alto escalão considerados heróis nacionais por comandarem tropas em conflitos bélicos. A partir da promulgação da Lei Federal 6.880, de 1980, chamada de Estatuto dos Militares, a possibilidade de um general passar ao posto de marechal voltou, mas em condições restritíssimas: somente em tempos de guerra.

Entre os generais elevados a tal posto, que não existe mais, exceto em casos de campanha, estão Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete Institucional da Presidência da República (GSI) do governo Bolsonaro, os ex-comandantes do Exército Edson Leal Pujol e Eduardo Villas Bôas, além de Sérgio Etchegoyen, que ocupou também o GSI, mas na gestão de Michel Temer. Enzo Peri e Francisco Roberto de Albuquerque, ex-chefes máximos da maior organização militar brasileira durante os governos Lula e Dilma Rousseff, são outros que engrossam a lista de marechais. (Confira as listas das três Forças Armadas ao final da matéria)

Na Marinha e na Aeronáutica, os postos equivalentes ao de marechal são, respectivamente, o de almirante e de marechal do ar, igualmente extintos. Nessas outras duas organizações militares a nomeação para a posição inexistente também corre solta. Na listagem disponível no Portal da Transparência é possível perceber que vários almirantes de esquadra e tenentes-brigadeiros (postos compatíveis com o de general de exército no Exército) receberam a “promoção” que deixou de existir há 54 anos. Eles somam 115 nesses dois ramos militares.

Os ex-comandantes da Aeronáutica Luiz Carlos Bueno, Juniti Saito e Nivaldo Rossato, que chegaram ao topo da hierarquia da FAB como tenentes-brigadeiros, figuram no site que divulga os gastos do governo federal como marechais do ar, da mesma forma que os almirantes de esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, Julio Soares de Moura Neto e Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que chefiaram a Marinha no passado, e que hoje são classificados como almirantes.

Foi a partir de uma Lei Federal que entrou em vigor em 2019, de número 13.954, que dispõem sobre questões previdenciárias dos militares e que não revogou o ordenamento jurídico anterior, que aparentemente esses generais passaram a figurar como marechais. Não se sabe qual foi a interpretação dada pelo governo federal para proceder com tais promoções, até porque o Ministério da Defesa não esclarece as circunstâncias dessas mudanças na hierarquia, tampouco a data em que elas ocorreram.

A reportagem da Fórum entrou em contato três vezes com a assessoria da pasta chefiada pelo general Walter Braga Netto, desde a última sexta-feira (30/07), por e-mail e via plantão do Centro de Comunicação, por WhatsApp, mas diferentemente da área de imprensa de outros ministérios, que respondem prontamente, o Ministério da Defesa ignorou os questionamentos sobre o assunto.

Viúvas e filhas de “marechais imaginários”

Recebendo proventos de marechal há também 3.867 pensionistas de generais de exército (viúvas ou filhas), que automaticamente passaram a garantir os vencimentos deste posto. Entre as beneficiadas está uma personagem conhecida quando o assunto é a regalia de filhas solteiras de oficiais militares que têm direito a polpudas pensões: a neta do ex-presidente brasileiro do período da Ditadura Militar (1964-1985) Emílio Garrastazu Médici, que numa manobra judicial, momentos antes de sua morte, adotou legalmente Claúdia Candal Médici como filha, para assegurar a ela volumosos pagamentos mensais que atualmente são de R$ 32.213,10.

Das 226 mil pessoas que recebem esse tipo de benefício militar no Brasil atualmente, 137.916 são filhas solteiras de integrantes das Forças Armadas, ou seja, 60% do total. A média dos vencimentos é de R$ 5.897, mas há pagamentos de valores muito maiores.

É o caso de Gecy Brilhante da Fontoura Rangel, filha de um almirante da Marinha (cargo também extinto, equivalente ao de marechal, no Exército, e marechal do ar, na Aeronáutica) falecido em 1996, data em que tiveram início os pagamentos a ela.

Gecy recebe R$ 60,5 mil mensais, já com os descontos feitos no demonstrativo, mas esse valor varia conforme o mês. Em setembro de 2020, a filha do oficial general dos mares que misteriosamente virou almirante recebeu R$ 117.012,43 de pensão.

Regalias não param por aí

Uma nota técnica do Ministério da Economia de julho de 2020 mostrava que um reajuste de 73% numa bonificação chamada “adicional de habilitação” (que incorpora aumentos nos vencimentos dos militares que fazem cursos) acarretaria num prejuízo aos cofres públicos de R$ 8,14 bilhões até o final de 2024. Isso sem falar nos casos de militares como Augusto Heleno e Walter Braga Netto, que além de garantirem robustos soldos ainda recebem salários de ministros de Estado, com direito a penduricalhos que renderam só no mês de junho passado mais de R$ 100 mil de vencimentos para cada um.

Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), divulgado em 27 de junho, por meio do mesmo Portal da Transparência, mostrou que o governo federal desembolsou R$ 19,3 bilhões só com o pagamento de pensões a dependentes de militares em 2020. No entanto, o que causa mais estranheza, para além da vergonhosa mordomia que custa mais de R$ 4 bilhões por ano ao erário público só com o pagamento de oficiais generais vivos, é o Exército Brasileiro, a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira promoverem centenas de seus quadros a uma patente que foi extinta numa reforma estrutural há mais de cinco décadas. Ainda que, em tese, um general de exército (chamado de ‘quatro estrelas’) possa ser promovido a marechal apenas em caso de comandar tropas em campanha, ou seja, no campo de batalha, em guerra, nenhum dos beneficiados com o “título” tem algo do tipo em seu currículo.

Em resumo, os marechais de gabinete foram criados por uma caneta e usufruem do elevado grau militar, que em muitos casos foram passados às suas viúvas e filhas.

Oposição quer explicações

O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) foi informado pela reportagem da Fórum sobre as promoções inadvertidas a oficiais generais das três Forças Armadas a postos que não existiriam mais e disse que o caso, ao que tudo indica, à margem da lei, causa estranhamento, e que exigirá, junto a outras lideranças parlamentares, uma explicação do Ministério da Defesa.

“É muito estranho. Na verdade, é esdrúxulo. Vamos propor um requerimento de informação ao Ministério da Defesa. Acho válido que seja assinado por vários líderes da oposição.”

Graduação destinada a heróis nacionais, no Brasil e no Mundo

O último Marechal brasileiro na ativa foi Mascarenhas de Moraes, que após a reserva teve o título mantido pelo Congresso, ostentando-o até a morte, em 1968. Ele comandou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), o contingente aeroterrestre que ajudou a aplacar o nazifascismo durante a 2ª Guerra Mundial, libertando a Itália do jugo terrífico de Mussolini e Hitler. Foi elevado ao posto em 1.946, pelo Congresso Nacional.

Já Waldemar Levy Cardoso, que morreu aos 108 anos, em maio de 2009, foi o último marechal vivo brasileiro. Ele foi comandante do 1° Grupo de Artilharia Expedicionário, que travou batalhas sangrentas em Monte Castelo, no território italiano, também na 2ª Guerra Mundial.

A França, por exemplo, nomeou seu último marechal em 1984, e o agraciado recebeu o título 14 anos após sua morte. O general Marie-Pierre Koenig foi considerado um herói da 2ª Guerra Mundial, depois de vencer tropas alemães e italianas, que estavam em vantagem numérica de 10 para 1 em relação aos franceses na Batalha de Bir Hakeim, na Líbia, em 1942, quando comandou a 1ª Brigada Francesa Livre na Guerra do Deserto, um feito bem mais glorioso que os monótonos despachos de folhas carimbadas de nossos marechais de repartição.

O ditador fascista espanhol Francisco Franco Bahamonde, ocupante do último posto na hierarquia do exército republicano de seu país, também tinha sua tara por títulos militares. Mas no seu caso, a obsessão beirava o ridículo.

Insatisfeito com o posto de general, a ambição de Franco foi além do cargo de marechal. As leis gerais que foram implantadas após a vitória das tropas sublevadas comandadas por ele que derrubaram o sistema republicano democrático e constitucional, após o fim da Guerra Civil (1936-1939), deram-lhe o título de “Jefe de Estado, Caudillo de España y de la Cruzada, Generalísimo de los Ejércitos con la Gracia de Dios”.

O exagero embaraçoso, especialmente no que diz respeito à concordância do Todo-Poderoso com o título, levou até mesmo a uma rusga com o influente arcebispo de Sevilha, Pedro Segura y Sáenz, que gostava de afirmar em seus sermões, durante a ditadura Franquista, que “caudilhos era chefes de quadrilhas de foragidos” e que, segundo Santo Ignacio de Loyola, caudilho era sinônimo de diabo. A falta de noção do Generalíssimo espanhol chegou ao ponto de exigir que carregassem sobre ele, ao entrar numa igreja, um dossel, espécie de cobertura de tecido, decorada e luxuosa, preso por quatro hastes, que cobre um santo ou divindade durante uma procissão.

Lista de promovidos ao posto de marechal e equivalente:

*Originalmente publicada na Forum

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Os militares são sócios de Bolsonaro nesse genocídio

Os militares são sócios de Bolsonaro nessa devassidão promovida pela covid.

Os que não participam do governo, mas se calam, são cúmplices.

A relação “indefinida” entre Bolsonaro e as Forças Armadas em que Bolsonaro rói e os militares sopram, é parte de um teatro com vários significados, inclusive nenhum.

Mas Bolsonaro usa a instituição (meu exército) e as Forças Armadas se calam.

O novo e o ex-comandante do Exército, juntos, visitando Villas Bôas, no mínimo, revela a camaradagem entre as Forças Armadas e o governo genocida de Bolsonaro que dizimou por Covid, até então, 330 mil mortes de brasileiros, número que, infelizmente, a cada dia, aumenta significativamente.

Qual interpretação as Forças Armadas esperam da sociedade?

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Villas Bôas tenta apagar história ao negar sequestro de crianças na ditadura

Jornalista rebate críticas de ex-chefe do Exército ao livro ‘Cativeiro sem Fim’.

Autor do livro “Cativeiro sem Fim” contesta crítica do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, de que falta isenção e verossimilhança ao trabalho. Para o jornalista, tentativa de refutar a pesquisa, a respeito de sequestros de crianças e adolescentes por militares nos anos 1960 e 1970 no Brasil, explicita o medo da verdade e a intenção de escrever uma narrativa idealizada sobre o período militar.

Pela primeira vez desde que lancei “Cativeiro sem Fim” (ed. Alameda), em 2019, um integrante do Exército comenta a denúncia feita no livro-reportagem, que conta a história de 19 brasileiros e brasileiras, filhos de militantes políticos ou simpatizantes da oposição, que foram sequestrados pelos militares nas décadas de 1960 e 1970 no Brasil.

O general da reserva Eduardo Villas Bôas, em entrevista ao professor Celso Castro publicada no recém-lançado livro “General Villas Bôas – Conversa com o Comandante”, dispara contra a reportagem e expõe claramente todo o esforço das forças militares em direcionar a construção da história do Brasil.

A máquina da repressão

Ele ataca as iniciativas que contribuem para o esclarecimento de episódios escondidos durante décadas, como o sequestro de bebês e crianças pelos militares. Deixa às claras uma prática negacionista e obscura do pensamento de parte dos militares que outrora participaram dos movimentos da ditadura e hoje estão ligados ao poder.

No capítulo 10, o general, que comandou o Exército de 2014 a 2019, critica as políticas de memória, verdade e justiça que ganharam corpo nos últimos anos. No parágrafo que tece comentários sobre o livro “Cativeiro sem Fim”, também revela seu preconceito quanto ao trabalho de jornalistas, pesquisadores, historiadores, antropólogos e de entidades que trazem à tona as crueldades praticadas pelos militares durante a ditadura, fatos que dormiam em sono profundo provocado pela ação e construção de narrativas pelas Forças Armadas.

Esse direcionamento possibilitou a elaboração da história sob o prisma militar, sem diversificar as fontes de informações.

“Recentemente, alguém ligado aos direitos humanos trouxe à tona um tópico sobre o qual nunca ouvi falar, de que cento e tantas crianças teriam sido sequestradas e afastadas dos pais. Essa e outras narrativas, a exemplo de um suposto massacre de índios, na abertura da BR-174, que liga Manaus a Boa Vista, carecem de verossimilhança e contribuem para a falta de isenção na conclusão das apurações. Como você disse, adquirem um caráter de ajuste histórico”, afirmou.

Crimes da ditadura

Villas Bôas quer estimular a dúvida nos brasileiros a respeito da verossimilhança das denúncias, apontando suposta “falta de isenção” do livro. Ele se esquece, contudo, de que todo trabalho de pesquisa segue metodologias científicas, e o mesmo se deu na apuração dos fatos denunciados em “Cativeiro sem Fim”.

Gostaria de obter uma explicação de Villas Bôas sobre o que chama de “falta de isenção na conclusão das apurações”. Estão relatadas no livro histórias de 19 pessoas que tiveram suas vidas totalmente transformadas pelo crime de sequestro. Foram retiradas do meio de suas famílias biológicas, levadas para longe dos locais de nascimento e convívio familiar.

Tiveram suas identidades adulteradas. Ganharam documentos falsos obtidos junto a repartições públicas. Tudo isso ocorreu com anuência de uma cadeia de comando militar, seguida pela complacência de funcionários públicos, de cartórios, de hospitais, empresários e outros cidadãos.

No livro agrupei depoimentos em primeira pessoa dessas vítimas da ditadura que ficaram invisibilizadas por meio século. O sequestro foi uma decisão de Estado. Não há discurso que possa justificar a barbárie cometida contra esses brasileiros, que hoje procuram por seus pais biológicos.

Das 19 vítimas, 11 eram ligadas à Guerrilha do Araguaia. São filhos de guerrilheiros com camponesas locais, filhos de agricultores que cooperaram com a guerrilha e até crianças sequestradas por engano pelos militares durante o conflito. Além disso, novos casos surgiram a partir do lançamento da obra, objetos agora de novas apurações.

Villas Bôas comenta também que a divulgação desses casos “adquire um caráter de ajuste histórico”.
Garanto que a exposição dessas duras histórias de vida nada tem de revanchismo ou se precipita ao sensacionalismo histórico. Todos os relatos seguem os mais qualificados preceitos de pesquisa científica.

Passaram por duros crivos de apuração. Todos os depoimentos, fatos e documentos obtidos —vejam bem, documentos— foram checados e rechecados. A busca de mais de uma fonte de informação garantiu isenção à narrativa que caracteriza o caráter histórico-científico da reportagem investigativa.

Sequelas da tortura

O livro não faz apologia à ditadura, narrativa que as Forças Armadas tentam construir desde 1964. Possui, contudo, a devida isenção para mostrar histórias de brasileiros e brasileiras invisibilizados à força. Não tenta impor uma versão sobre o passado. Utiliza várias fontes de informação para expor esse crime.

Foram ouvidos vários lados envolvidos, inclusive as Forças Armadas, que preferiram tergiversar e não responder diretamente aos questionamentos deste repórter.

Todos os relatos estão recheados de verdade, de dor. Mostram a violência por que passaram essas vítimas de sequestro quando bebês e crianças. Expõem uma face cruel e sanguinária dos militares que participaram do golpe de 1964 no Brasil. Ajudam a construir a memória brasileira em todos matizes, sem preconceito ou direcionamento. Isso sim é verossimilhança.

O general Villas Bôas vai além na sua análise de informações que diz desconhecer. Antes de falar sobre “Cativeiro sem Fim”, ele é bem claro. Quer que as histórias que por ventura ainda careçam de ser narradas sejam retomadas nas próximas gerações. “Temos esperança de que essas questões fiquem para serem retomadas com maior isenção quando as gerações que os viveram já tenham passado”, afirmou.

Protestos contra o golpe de 64 pelo Brasil

Isso sim leva ao registro inverossímil dos fatos da ditadura. É como matar as vítimas pela segunda vez. Pergunto: qual a dificuldade em aceitar hoje o relato de vítimas vivas da ditadura?

Esperar que essas vítimas não estejam mais entre nós para só então divulgar suas histórias revela muito medo de que a verdade apareça. Explicita que o projeto de construção de narrativas sobre a ditadura desencadeado pelas forças militares é manco, baseado somente em fontes que não podem mais contar sua parte na história. Isso sim é direcionamento, falta de isenção.

“Cativeiro sem Fim” mostra uma visão mais complexa da ditadura. Obscura e suja. E dá a partida para que novos fatos e personagens, outrora escondidos, ganhem vida e revelem suas histórias. Está totalmente baseado em fatos reais, em personagens de carne e osso. Um trabalho científico.

A verdade sempre aparece. E incomoda os que têm culpa e cometeram crimes. Contar a verdade é qualificar a democracia.

*Eduardo Reina/Folha

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Política

Traindo interesses do povo, governo militar de Bolsonaro trabalha nos bastidores para manter o lucro das farmacêuticas internacionais

Por uma daquelas ironias brasileiras, um dia depois de se saber do combinado entre o general Villas Bôas e o ministro do STF, Dias Toffoli, de manter Lula preso até as eleições para não atrapalhar a vitória de Bolsonaro, sabe-se agora que o governo militar de Bolsonaro trabalha nos bastidores contra o povo para manter intacta a blindagem dos lucros das farmacêuticas internacionais.

Conseguiram realizar o objetivo e, junto com outros que se associaram ao genocida que já matou mais de 275 mil brasileiros, num desses jogos sombrios de bastidores entre militares e STF, sabe-se que o governo militar de Bolsonaro é mais lacaio dos interesses internacionais do que se imagina.

Lembremos sempre que crianças e adolescentes estão sendo vítimas desse genocida preparado pelas Forças Armadas para servir como traidor da pátria que, segundo cientistas, é culpado por pelo menos 95% das mortes que ocorrem no país por conta da covid.

Pior, não se tem ideia de quantas vítimas Bolsonaro e seus generais produzirão no Brasil, ainda mais agora com crianças e adolescentes também vitimados pela política de morticínio do governo Bolsonaro que, muitas vezes se associou a alguns lacaios do STF, como Toffoli, para entregar a cabeça do povo brasileiro aos interesses do grande capital e de uma parcela da sociedade brasileira.

Essa excelente matéria de Jamil Chade revela como esse governo militar sabota o Brasil fazendo continência aos interesses das farmacêuticas multinacionais, enquanto o Brasil é tragado pela covi-19.

Nesta semana, em Genebra, a posição brasileira ficou clara nas negociações para uma resolução que será votada no Conselho de Direitos Humanos da ONU no final de março. Em reuniões fechadas, o Itamaraty fez questão de fazer acenos tanto aos demais países em desenvolvimento como aos interesses das grandes multinacionais.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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A promessa de Toffoli ao general Villas Bôas de que manteria Lula preso até as eleições

Na segunda-feira, 8 de março, quando o ministro Edson Fachin anulou todas as sentenças que condenavam o ex-presidente Lula nas investigações da Lava Jato, o general Eduardo Villas Bôas, 69 anos, viu sua obra desmoronar subitamente.

Com paciência e método, o general havia construído uma notável influência junto ao Supremo Tribunal Federal no decorrer de 2018, o ano decisivo em que Jair Bolsonaro foi eleito para o Palácio do Planalto. A estratégia de Villas Bôas ganhou a arena pública em 3 de abril daquele ano, quando o STF se preparava para votar um habeas corpus que poderia livrar Lula da prisão. O general, então no cargo de comandante do Exército, disparou uma nota de 239 caracteres em sua conta pessoal no Twitter.

Dizia o seguinte: “Asseguro à nação que o Exército brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões constitucionais.” No dia seguinte, depois de quase onze horas de discussão, os ministros rejeitaram o habeas corpus do petista por uma margem apertada: 6 votos a 5. Lula seria preso logo depois e estava definitivamente fora da eleição presidencial de 2018.

Há poucas semanas, o tuíte de quase três anos atrás voltou ao debate. O pesquisador Celso Castro, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lançou o livro-depoimento Villas Bôas: conversa com o comandante, no qual o general explica a gênese do tuíte e diz que sua intenção não foi fazer uma “ameaça” ao STF, mas apenas um “alerta”. O que o general não contou é que seu tuíte ajudou a consolidar sua influência junto ao Supremo ainda antes da eleição presidencial.

A prova lhe chegou no final de agosto, quase cinco meses depois da publicação do “tuíte de alerta”. Em seu gabinete, decorado com retratos de família e uma pintura de Duque de Caxias, patrono do Exército, o general recebeu o ministro Dias Toffoli, que assumiria a presidência da corte dali a poucos dias, em 13 de setembro. Toffoli sentou-se em um dos sofás, enquanto Villas Bôas estava em uma cadeira de rodas, pois já sentia os primeiros efeitos da doença degenerativa que o acomete. Na época, divulgou-se apenas que, durante o encontro, Toffoli pediu ao general que lhe indicasse um militar para compor sua assessoria na presidência do STF.

O encontro, no entanto, foi bem mais do que isso. A um interlocutor, o general disse o seguinte, na época: “Ele [Toffoli] nos procurou e aí nos afirmou, nos garantiu: ‘Vocês fiquem tranquilos. Enquanto eu estiver na presidência [do STF] não haverá alteração da lei de anistia e tampouco outras coisas de caráter ideológico.’” Segundo o general, Toffoli também prometeu que Lula – a essa altura, já preso em Curitiba – não ganharia nenhum benefício jurídico até a eleição presidencial, que ocorreria dentro de algumas semanas. “Nos afirmou que até a eleição ele não ia pautar nada que alterasse a situação do presidente Lula, tanto do ponto de vista de punição de segunda instância, quanto da questão da lei da ficha limpa eleitoral.”

A promessa de Toffoli era música para os ouvidos do general. Naquele momento, Villas Bôas já enterrara outros nomes e se convencera de que a candidatura de Bolsonaro era a alternativa que havia sobrado. Mas, apesar de bem-vinda, a conversa com Toffoli não deixava de ser um enigma. Afinal, o ministro fizera carreira dentro do PT, fora nomeado para a corte por Lula e, para completar, era um dos cinco ministros que haviam votado a favor do petista no exame do habeas corpus em abril.

Por tudo isso, o pedido de Toffoli para que lhe indicasse um nome para assessorá-lo deixou o general desconfiado, como ele próprio admitiu para o mesmo interlocutor. “Nós ficamos inicialmente tentando interpretar qual era a intenção do Toffoli, se ele [estava] querendo buscar credibilidade, será que é alguma possibilidade de ele nos usar, ou se realmente é uma intenção, é um gesto, [para] marcar a presidência dele com uma gestão eficiente ancorada, não descolada, na realidade do país.”

À época, em diversas ocasiões, Villas Bôas manifestara seu estranhamento com a aproximação de Toffoli. O ministro passara a frequentar eventos no salão do quartel na Esplanada dos Ministérios, conhecido como Forte Apache, um conjunto de edifícios numa área de mais de 100 mil metros quadrados deserta de árvores e coberta por concreto. O general desconfiava do súbito interesse de Toffoli por causa de sua biografia política e, também, das credenciais do magistrado: “As ligações que ele teve nos davam uma certa reticência em relação a esses dois aspectos: primeiro, a falta de saber jurídico; e, segundo, essa ligação com o PT.”

*Com informações da Revista Piauí

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