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Volkswagen manteve por 12 anos fazenda com trabalho escravo financiada pela ditadura

Trabalhadores denunciam mortes e ameaças. Volkswagen rejeitou acordo, e indenização chegaria a R$ 165 milhões.

Por Marcelo Oliveira — Agência Pública

Pela primeira vez, a cumplicidade entre empresas e a ditadura civil-militar de 1964 será objeto de análise da Justiça. O Ministério Público do Trabalho (MPT) ajuizou em dezembro de 2024 uma ação civil pública contra a Volkswagen do Brasil por trabalho escravo e tráfico de pessoas, após ter tentado, por mais de um ano, um acordo com a montadora. O pedido é para que a empresa seja condenada a assumir a responsabilidade pelos fatos e a pagar uma indenização de R$ 165 milhões.

O caso tramita na Vara do Trabalho de Redenção, no sul do Pará, a 190 km de Santana do Araguaia (PA), onde era localizada a fazenda Vale do Rio Cristalino, conhecida como Fazenda Volkswagen. O imóvel ostentava em suas porteiras a logomarca da companhia, que manteve o empreendimento entre 1974 e 1986. A aventura da montadora no mercado madeireiro e agropecuário foi bancada com subsídios da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e financiada pelo Banco da Amazônia S.A. (Basa).

Até o momento, além da Volks, 14 empresas são investigadas pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo MPT por cumplicidade com a ditadura. Apenas um caso, que trata das violações de direitos humanos na fábrica da montadora, em São Bernardo do Campo (SP), resultou em um acordo que prevê o pagamento de R$ 36 milhões em indenizações pela multinacional alemã. Parte desse dinheiro financiou pesquisas coordenadas pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Caaf/Unifesp) sobre dez empresas.

Dos casos em andamento, os ministérios públicos já se reuniram com parte das companhias investigadas, caso do porto de Santos, mas ainda não houve anúncio de novos acordos. A Agência Pública contou o que foi apurado pelos pesquisadores na série Empresas Cúmplices da Ditadura.

A Fazenda Volkswagen tinha 139 mil hectares, uma área que corresponde a 90% do município de São Paulo e 15% maior que toda a cidade do Rio de Janeiro. Oficialmente, tinha 300 empregados, entre área administrativa e vaqueiros, que contavam com posto de saúde e até um clube. A lida muito mais pesada, porém, que incluía a derrubada da vegetação nativa para a transformação em pastagens, era realizada por trabalhadores sem vínculo com a Companhia Vale do Rio Cristalino (CVRC), subsidiária criada pela montadora para administrar seu braço madeireiro-agropecuário, cujo diretor-presidente era o alemão Wolfgang Sauer, que presidiu a Volks do Brasil entre 1973 e 1989.

Segundo a ação do MPT, esses trabalhadores sem vínculo, muitos deles menores de 18 anos, eram traficados por “gatos” (recrutadores de mão de obra, que trabalhavam diretamente para a montadora) em vários estados, com promessas de ganhos acima do mercado, e eram levados na caçamba de caminhonetes ou caminhões paus de arara até a fazenda, onde eram vendidos.

Os procuradores concluíram que a Volkswagen “praticou condutas que configuram exploração de trabalho escravo e tráfico de pessoas” e que a multinacional, que controlava a “subsidiária extinta, é responsável pelas violações generalizadas e sistemáticas aos direitos humanos de centenas de trabalhadores rurais que prestaram serviços de roçagem e derrubada na Fazenda Vale do Rio Cristalino”.

Escravidão, comunismo e igreja na floresta
A investigação que gerou a ação foi aberta em 2019 e baseia-se em depoimentos de pelo menos 42 vítimas e 11 testemunhas, a maioria colhida na época dos fatos pelo professor doutor Ricardo Rezende Figueira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que foi padre durante 20 anos na Diocese de Conceição do Araguaia (PA) e integrava a Comissão Pastoral da Terra (CPT). O MPT entrevistou parte dessas pessoas e um “gato”, que admitiu o tráfico de pessoas e a escravidão por dívida.

Esses intermediários mantinham “cantinas”, empórios dentro das fazendas, onde os trabalhadores compravam comida, ferramentas, calçados e lonas para montar as barracas nas frentes de trabalho. Os valores dos produtos seriam maiores que os praticados no mercado. Os trabalhadores relatam também que peões doentes eram tratados no local. Em geral, recebiam injeções ou “azulão” (soro com azul de metileno) na veia e depois eram cobrados pelo serviço.

Após o início das tarefas, além de dormirem em barracas sem vedação, junto a animais selvagens e peçonhentos, sem atendimento médico adequado, e lidando com o risco de malária, endêmica, os trabalhadores recebiam remuneração abaixo do combinado no recrutamento. A situação impedia que deixassem o local, pois, ao pedirem para ir embora, eram informados de que deviam na cantina mais do que o saldo a receber.

Apesar do forte esquema de vigilância com capatazes armados contratados e a vigilância institucional da companhia, alguns trabalhadores conseguiam fugir. Enfrentavam quilômetros de floresta e pediam caronas nas poucas estradas que havia na época. Algumas das vítimas encontraram o padre Ricardo, que ouvia seus relatos, anotava tudo e depois levava as vítimas ao cartório ou à polícia para oficializar os depoimentos.

“Nós éramos vistos pelo governo como comunistas, terroristas, a Igreja era malvista. Como não gozávamos de crédito por parte do Estado, algumas vezes nós levávamos os trabalhadores para prestar depoimento em cartório ou na própria polícia”, afirmou Figueira.

“Eu tinha muita vontade de chorar”
Os depoimentos apontam quatro casos de morte por omissão de socorro (dois trabalhadores por malária sem tratamento adequado e dois bebês), quatro casos de trabalhadores executados para dar exemplo aos demais, sete casos de agressões, um estupro e um desaparecimento.

Raimundo Batista de Souza conta que foi traficado para a Fazenda Volkswagen aos 14 anos, em 1984, junto com os irmãos Raul e Juldemar e outros jovens de Porto Nacional (TO). “Fomos de pau de arara num caminhão para Santana do Araguaia. Depois de uns dias de trabalho, o gato deu a informação que eu e meus irmãos iríamos ser separados. Entendo que eles queriam evitar que os trabalhadores que se conheciam se unissem para reclamar das más condições”, lembra.

“Eu tinha muita vontade de chorar; lembrava de casa, com saudade dos pais, as notícias de Raul zeraram, e eu pensava coisa ruim. No trabalho, adoeci e consegui chegar na sede da fazenda e me deram o tal azulão na veia, aplicado pelo cantineiro. Ficamos [Raimundo e Juldemar] quase um mês doentes, comendo comida ruim da cantina. Comia pouco e fiquei tão fraco que desmaiei várias vezes. Eu tremia muito”, contou Souza em depoimento ao MPT.

“Juldemar nunca se recuperou plenamente. Ele voltou a trabalhar um tempo, mas piorou muito e foi aposentado e tomava remédios psiquiátricos”, finalizou o homem sobre o irmão, que morreu em junho de 2021.

História de poucos e com pouco espaço na imprensa
Aos poucos, os relatos dos trabalhadores que fugiam chegavam à imprensa local, depois, com o tempo, começaram a chegar à imprensa nacional. Quando o caso estourou na imprensa alemã é que algumas investigações começaram a avançar no Brasil, tocadas por parlamentares de oposição à ditadura.

Em 1983, uma comissão mista de parlamentares, jornalistas, sindicalistas e o padre estiveram na fazenda a convite do presidente da Volks, Wolfgang Sauer, que fez uma visita ao governador do Pará na época, Jader Barbalho, que havia mandado a Polícia Civil do Pará investigar o caso.

Apesar da visita a convite e do evidente medo dos trabalhadores de contarem algo mais comprometedor, os integrantes da comitiva entrevistaram dois gatos que atuavam na fazenda. Um deles, Francisco Andrade Chagas, o Chicô, admitiu que ele e seu irmão, que administrava uma cantina, andavam armados e que os peões que tentavam fugir eram amarrados e entregues à polícia, onde recebiam “sermões”.

Os gatos ouvidos pela comitiva se referiam aos trabalhadores como “vagabundos”. Questionado sobre a violência utilizada para impedir que trabalhadores deixassem a fazenda, a comitiva registrou que o então diretor da fazenda Friedrich Brügger, designado por Sauer para acompanhar as oitivas, disse: “Não é problema meu”. Um relatório com sugestões para coibir a violência foi elaborado, mas não há registro de que tenham sido colocadas em prática.

Entre os mais de 50 depoimentos, há apenas dois casos de trabalhadores que conseguiram sair pela porta da frente. Um é o de um grupo de cinco trabalhadores, recrutados ainda adolescentes, de Luciara (MT), que inventaram ter se comprometido com um coronel para se alistar no serviço militar. “O gato ficou assustado, pois não queria ter um problema com o Exército”, Figueira contou à Pública.

O segundo caso é contado pelo trabalhador João Aires da Silva, traficado para a Fazenda Volkswagen aos 17 anos. Segundo ele, um colega, Divino Ferreira Matos, conseguiu licença para buscar tratamento para o filho recém-nascido. A mulher, cujo nome não é mencionado, deu à luz sem ajuda médica em um brejo. A criança, conta Aires, estava doente. O bebê acabou não resistindo. Diante da oportunidade de deixar a fazenda, o casal acabou deixando tudo para trás, inclusive um filho de 6 anos. A ação não conta se Divino, a esposa e o filho se reencontraram.

Ditadura é deixada de lado, mas acordo segue longe de concretizado
Apesar da intrínseca relação entre a Volks e a ditadura e o fato de que a fazenda só existiu graças ao apoio do governo militar, o MPT optou por não abordar diretamente o relacionamento da montadora com a ditadura nessa ação.

“Nesse caso, como não teve uma participação direta da ditadura em episódios de repressão e perseguição de trabalhadores, a gente fez uma opção de não tratar sob o enfoque da ditadura”, afirmou o procurador do trabalho Rafael Garcia Rodrigues, um dos autores da ação.

A Pública consultou tanto o TAC assinado em 2020 quanto o relatório final da investigação sobre a Volks. Nenhum dos documentos versa sobre qualquer atividade da companhia ou subsidiárias da montadora na Amazônia.

A ação do MPT foi ajuizada em 5 de dezembro de 2024, e o juiz Otavio Bruno da Silva Ferreira, da Vara do Trabalho de Redenção, designou audiência de tentativa de conciliação online para o dia 24 de janeiro e atendeu a pedido do órgão para tramitação prioritária do processo. A Volkswagen pediu o adiamento da audiência de conciliação, o que foi negado pelo juiz. Em 16 de dezembro, a Volks solicitou que a Justiça do Trabalho do Pará seja declarada incompetente para atuar no caso. O juiz cancelou a audiência de conciliação e pediu a manifestação do MPT.

O MPT afirma ter se reunido cinco vezes com a montadora entre 2022 e 2023 em busca de uma conciliação. Em março de 2023, a Volks anunciou sua saída das negociações. Segundo a ação, a montadora nega responsabilidade no que foi apurado pelo MPT e sustenta que, ainda que os fatos fossem verdadeiros, não estariam abrangidos pelo TAC celebrado em 2020 com MPF, Ministério Público de São Paulo (MPSP) e MPT. “O acordo diz respeito às perseguições políticas e ideológicas a ex-trabalhadores da empresa durante a ditadura militar, o que não se confunde com o objeto da presente demanda”, afirma o MPT.

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Mundo

Gustavo Petro eleva o tom contra os EUA em carta a Donald Trump: ‘Resisti à tortura e resisto a você’

Presidente da Colômbia disse que os EUA podem tentar um golpe ‘como fizeram com Allende’, mas que o governo vai resistir.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, se posicionou neste domingo (26) contra as ameaças do chefe do Executivo dos Estados Unidos, Donald Trump, de aumentar as tarifas contra produtos colombianos. Em carta publicada nas redes sociais, o mandatário afirmou que os EUA “não dominarão” os colombianos e que o “bloqueio não assusta” Bogotá.

No texto, Petro afirma também que “não gosta do petróleo dos EUA” e que Trump vai acabar com o mundo com a sua “ganância”. Ele ainda conclui afirmando que a Casa Branca pode tentar dar “um golpe de Estado” e repetir o que foi feito com o ex-presidente chileno Salvador Allende, mas que fracassará ao tentar enfrentar o povo latinoamericano.

“Com a sua força econômica e arrogância, pode tentar um golpe de Estado como fizeram com Allende. Mas eu morro na minha lei, resisti à tortura e resisto a você. Não quero traficantes de escravos perto da Colômbia, já tivemos muitos e nos libertamos. O que quero ao lado da Colômbia são os amantes da liberdade. Se você não puder me acompanhar, irei para outro lugar. A Colômbia é o coração do mundo e você não entendeu”, disse no texto.

As falas vem na esteira de uma troca de declarações entre os dois mandatários, depois que o colombiano rejeitou receber dois aviões militares com colombianos deportados dos EUA. Segundo o mandatário, os colombianos não podiam ser tratados como criminosos, já que o direito à migração está previsto no direito internacional. Em resposta, o governo estadunidense ameaçou impor tarifas de 25% aos produtos colombianos, caso as deportações não fossem aceitas.

Os dois governos negociaram e chegaram a um acordo ainda no domingo (26). Segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, as tarifas e sanções financeiras impostas pelos EUA serão suspensas temporariamente. No entanto, as sanções de visto contra autoridades colombianas, bem como as inspeções alfandegárias mais rigorosas de cidadãos colombianos e navios de carga continuarão em vigor até que o primeiro avião com deportados chegue à Colômbia.

Petro também disse na nota que os EUA não gostam da liberdade dos colombianos e que o seu governo não vai se “ajoelhar” frente à política da Casa Branca. Ele afirmou também que, se o governo estadunidense coloca tarifas de 50% ao “fruto do trabalho humano”, Bogotá também iria fazer o mesmo com os produtos dos Estados Unidos.

“A Colômbia agora deixa de olhar para o Norte, olha para o mundo. O nosso sangue vem do sangue do Califado de Córdoba, da civilização daquela época, dos romanos latinos do Mediterrâneo, da civilização daquela época, que fundou a república, democracia em Atenas. Nosso sangue tem os negros resistentes transformados em escravos por você. Na Colômbia é o primeiro território livre da América, antes de Washington, em toda a América, lá me refugio nas suas canções africanas”, disse.

Em seu texto, o presidente também fez referências a lideranças históricas tanto latinoamericanas, como o liberador Simón Bolívar, quanto intelectuais estadunidenses como Noam Chomsky. Segundo Petro, esses são exemplos de figuras que ajudaram e ajudam a pensar possibilidades para os povos americanos.

Ele afirmou também que o “bloqueio não assusta” o governo colombiano e que o país está “aberto ao mundo” para construir a liberdade.

“Seu bloqueio não me assusta; porque a Colômbia, além de ser o país da beleza, é o coração do mundo. Eu sei que você ama a beleza como eu, não a desrespeite e ela lhe dará sua doçura. A Colômbia está aberta ao mundo todo a partir de hoje, de braços abertos, somos construtores de liberdade, vida e humanidade”, concluiu.

*BdF

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Política

Os mesmos “democratas” que foguetearam a queda do muro de Berlim, comemoram o muro da cracolândia

Ainda guardo na memória uma cena macabra que tive o desprazer de ver em frente a escola pública que estudava.

Eu, com meus 14 anos, fique traumatizado vendo 9 corpos amarrados um ao outro com arame farpado e um cartaz do grupo de extermínio da ditadura “esquadrão da morte”

Naquele dia, nem consegui dormir direito.

Os detalhes da cena bárbara tinham os itens básicos dos muitos outros grupos de extermínio espalhados pelo país. Um troço horrendo.

Mas a curiosidade sobre o motivo daquela chacina era grande.

Então a notícia que corria era que todos estavam de alguma forma envolvidos com uso ou tráfico de drogas.

De lá para cá, o consumo e venda explodiram e a repressão também, mostrando que esse tipo de política, mais que enxugar, virou uma gigantesca fábrica de gelo

Nessa última semana chega a notícia que Nunes, prefeito de São Paulo, erguer uma muralha para isolar a cracolandia do resto da cidade, anunciando uma tragédia ainda maior sobre a relação do Estado com a questão complexa das drogas.

O que se pretende com isso?

40 metros de muro vão dar conta de que nesse gigantesco universo que envolve o uso e o tráfico de drogas?

A realidade nua e crua mostra que o caminho para lidar com isso, é diametralmente oposto.

Mas o discurso fácil para questões complexas sempre foi a escolha dessa direita fascista.

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Opinião

Quem apoiou golpes, ditadura e fraude eleitoral, foi a Globo, não Boulos

Como era hábito na ditadura no Brasil, Lula, então como líder sindical e frontalmente contra a ditadura, foi parar nos porões, na época comandada por João Batista Figueiredo, esse que, na foto em destaque, aparece de braços dados com Roberto Marinho.

Como Roberto fez com todos os ditadores militares com seu apoio irrestrito àquela barbárie imposta no Brasil por 21 anos.

Essa história dos Camarotti e das Natuzas da Globonews, não conta, porque funcionam como garçons que seguem o script dos poderosos filhos de Roberto Marinho, que hoje tocam no mesmo diapasão que o pai, o império Globo.

Na verdade, a Globo quer dar cabo dessa  história, como não consegue, faz recortes, transformando, na telinha dos Marinho, a história do Brasil em picadinhos como um petisco bem temperado para manipular a sociedade brasileira, fingindo que não lembra dos 21 anos de apoio ao golpe e à ditadura militar, o golpe em Dilma, a prisão sem provas de Lula, em plena democracia, por um juiz corrupto e ladrão, que montou com Bolsonaro a maior fraude eleitoral da história do Brasil que a Globo fingiu não ver.

Então, quando esse povo do jornalismo da Globo abrir a boca para falar em democracia como se fosse a prova suprema do que é ou não democrático, dirija o indicador para o próprio fundilho da emissora para saber quem são, historicamente, os lacaios do Brasil, ao invés de dizer que Lula ou qualquer político por ele apoiado, como é o caso de Boulos, apoia uma suposta ditadura de Maduro na Venezuela.

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Política

O resgate de um diário: Mércia Albuquerque e a resistência à ditadura

Nos 60 anos do golpe militar, anotações de advogada viram livro e inspiram monólogo de Andrea Beltrão.

Em 2 de abril de 1964, militares amarraram Gregório Bezerra à traseira de um jipe e o arrastaram seminu pelas ruas do Recife. Preso nas primeiras horas do golpe, o ex-deputado foi espancado e exibido como um troféu do novo regime. A brutalidade chocou a jovem advogada Mércia Albuquerque, que presenciou a covardia contra o velho comunista.

“Gregório, apenas com um calção preto e uma corda de três pontas amarrada no pescoço, era arrastado por soldados, seguidos de perto por um carro de combate, com pés que haviam sido banhados em soda cáustica, sangrando”, registrou Mércia. Naquele dia, ela tomou uma decisão: abandonaria o emprego para defender presos políticos.

A advogada virou referência para vítimas do arbítrio em todo o Nordeste. Denunciou torturas, peitou coronéis, ajudou a localizar desaparecidos vivos e mortos. Para aguentar o tranco, despejou suas angústias e num diário secreto, recém-publicado pela Editora Potiguariana. O livro inspira “Lady Tempestade”, monólogo de Andrea Beltrão que tem lotado todas as sessões no Teatro Poeira.

“As prisões continuam indiscriminadamente, revestidas de imensa violência”, escreve Mércia, em outubro de 1973. “O pânico domina o Recife, um terror envolve as universidades. As famílias intranquilas, sem segurança”, prossegue, dias depois. “Não sei até quando vai durar essa chacina”, desespera-se, no mês seguinte.

O leitor acompanha a advogada em peregrinação por cadeias, hospitais e necrotérios. Testemunha sua revolta com os maus-tratos aos presos, que recebiam comida podre e tinham pertences roubados pelos carcereiros. “O DOI é um lugar horrível”, anota. “Os percevejos infestam as celas, o mau cheiro é terrível, restos de fezes, sangue, vômitos dentro da cela”.

Mércia narra o calvário de “homens transformados em bagaços” em ambientes que compara a campos de concentração. “Presos submetidos a tortura medieval, cortes provocados com tesoura e ponta de faca, queimaduras com cigarros, pau de arara, cadeira do dragão”, enumera.

Ela descreve os torturadores como seres necrófilos, que “vibram com a morte” e “explicam os atos anormais como amor à pátria”. Num momento de alívio cômico, reproduz diálogo com o diretor da cadeia de Itamaracá. “Dr. Ednaldo me disse que mais lhe dói a morte de um cavalo do que a de um preso político. Ao que repliquei: ‘Faz muito bem em defender sua espécie. Eu defendo a minha, os homens’”.

A altivez lhe traria problemas com a repressão. Mesmo sem se envolver com a política, ela foi presa 12 vezes. Numa, foi ameaçada com revólver na cabeça. Em outra, arremessada para fora de uma viatura. “Não me arrependo de nada”, escreve a advogada, que morreria em 2003.

Entre testemunhos de coragem, o diário também revela passagens de fraqueza e desespero. “Desejo ficar só para chorar, sinto uma tristeza imensa e me perco no escuro da minha amargura, da minha descrença em tudo”, anota. Com a saúde fragilizada, ela ouve do médico que só conseguirá engravidar se parar de trabalhar. “Luto pelos filhos dos outros, entram em minha vida, amarguram-me a existência e ainda me privam de ter filhos”, ironiza.

Às vésperas dos 60 anos do golpe, o resgate de Mércia joga nova luz sobre a atuação de advogados que resistiram à ditadura. “Nunca deixei de ajudar quem me procura”, orgulha-se a pernambucana, em novembro de 1973. “Levei a paz, devolvi filhos a pais, dei a alegria antes do Natal a cinco lares”, festeja, ao registrar a libertação de cinco clientes no mês seguinte.

*Bernardo Mello Franco/O Globo

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Candidato de extrema direita na eleição presidencial argentina, Milei é alvo de protesto em teatro: “lixo, você é ditadura” (assista ao vídeo)

O candidato de extrema direita na eleição presidencial na Argentina, que ocorrerá neste domingo (19), foi alvo de manifestações nessa sexta (17) no Teatro Cólon, em Buenos Aires. A plateia, ao perceber sua presença, começou a gritar palavras de ordem como “Nunca mais”, e “Milei, lixo você é ditadura”. Milei, que disputará a Presidência contra o peronista Sérgio Massa, já negou em declarações o número de mortos durante a ditadura argentina. E sua candidato a vice, nesta semana, afirmou que o país precisa passar por uma “tirania”.

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Instituto Vladimir Herzog diz que delação de Cid inspira punição para que passado autoritário da ditadura ‘não mais nos assombre’

O Instituto Vladimir Herzog afirma que a delação feita à Polícia Federal (PF) pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, dá ao Estado brasileiro a oportunidade de adotar medidas nunca antes tomadas para responsabilizar militares por ações contra a democracia. A informação é da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.

A organização, que leva em seu nome uma homenagem ao jornalista assassinado pela ditadura militar (1964-1985), afirma que os ataques ocorridos em 8 de janeiro são fruto da inexistência de políticas para condenar “agentes que há muito e livremente” atentam contra o Estado democrático de Direito.

Em sua delação, Cid afirmou à PF que, logo após a disputa do segundo turno do ano passado, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu de um assessor uma minuta de decreto para convocar novas eleições, que incluía a prisão de adversários.

Segundo o relato, Bolsonaro submeteu o teor do documento em conversa com militares de alta patente.

“O trecho da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid que relata reunião do ex-presidente Jair Bolsonaro com oficiais das Forças Armadas para discutir o planejamento de um golpe de Estado no país após o resultado das eleições de 2022 é um indício evidente de que a democracia brasileira, conquistada duramente após 21 anos de regime ditatorial, permanece ameaçada”, afirma o Instituto Vladimir Herzog.

“Conclamamos a sociedade civil para que se mobilize amplamente em defesa da democracia e reivindique medidas firmes contra os atos e intentos golpistas e seus responsáveis. Para que o passado não mais nos assombre e a memória nos sirva de lição para a defesa da democracia e a construção de um futuro de justiça”, segue a organização, sem citar nominalmente a caserna.

Não há informações se Cid entregou algum tipo de prova que confirme ou reforce o seu relato à PF. De acordo com a reportagem do UOL, o assessor responsável pela entrega da minuta seria Filipe Martins.

O delator, segue o UOL em sua reportagem, disse ainda que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, manifestou-se favoravelmente ao plano golpista durante as conversas de bastidores, mas não houve adesão do Alto Comando das Forças Armadas.

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O leviano

Ciro nunca desceu na minha goela.

Sempre achei seu discurso oportunista, tanto que ninguém sabe exatamente o que de fato pretende fazer, caso seja eleito a alguma coisa.

É muito palavrório e pouca ou nenhuma clareza.

Ciro é um político profissional, daqueles que julgam ou procedem de maneira irrefletida e precipitada, porque, em última análise, age sem seriedade, e assim faz porque é exatamente assim que aprendeu a fazer política desde a Arena, seu berço na ditadura.

Por isso, mesmo que esteja na política desde garoto, tem pouca importância para o povo, porque é inconsistente, inútil, superficial.

Ciro é incoerente, oco e volúvel, não tem compromisso algum com nada que não seja a sua ambição desmedida e uma inveja de Lula que ele não consegue disfarçar .

Lógico que é daqueles vaidosos que se acham mais inteligentes que eles mesmos, mas que não produzem nada além vento, para não dizer flatulência.

Por isso Ciro, em campanha eleitoral, beija, elogia e xinga políticos.

Seu beija-mão de Bolsonaro, na Jovem Pan, foi um dos atos políticos mais deprimentes que já assisti na vida. Nada que me espanta, afinal, para quem efetivamente beijou a mão de ACM na disputa à presidência em 2002.

De lá pra cá, Ciro não mudou nada. Não tem nada a ver com Brizola e muito menos com Darcy Ribeiro, figuras lendárias do PDT.

O imodesto Ciro é só Ciro, começa e termina nele. Anda em círculos com profundidade de um pires. Vazio, fútil e vão.

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Quem chocou o ovo da serpente do fascismo que pariu Bolsonaro, foi a Globo e afins

Numa memorável entrevista de Brizola no programa de Jô Soares, ainda no SBT, Brizola indaga, por que o Sr. Roberto Marinho não disputa uma eleição presidencial e governa o país da forma dele? Numa alusão a um sórdido jogo de manipulação, historicamente conhecido, que as Organizações Globo apoiaram não só a ditadura, mas toda a violência que ela gerou, tudo de ruim que ela estimulou e aplaudiu para e educação e cultura, sobretudo a ampliação do fosso econômico entre pobres e ricos.

O que hoje aí está, no sentido amplo da questão, é uma pasta integral do lixo da ditadura, um extrato de militares e civis bolsonaristas que foram forjados nas escolas militares e civis, com essa violência do Estado, típica das ditaduras militares, que foi incentivada a sair de suas tubas, não simplesmente para atacar um partido, um governo, no caso, o PT.

Os Marinho sempre odiaram a educação, por isso atacaram tanto Brizola, Darcy Ribeiro e, principalmente os Cieps, de maneira doentia.

Qualquer pessoa ligada à cultura nesse país, sabe que a Globo é o maior câncer cultural, e que fez o que pôde para massacrar as manifestações culturais brasileiras no mesmo momento em que importava o que existia de lixo mais tóxico da indústria de cultura de massa dos EUA.

Ora, o bolsonarista foi forjado com esse tipo de cultura anti nacional, contra ele próprio. A autonegação sempre foi a linha pedagógica que existia nas escolas, tutelada pelos militares, mas sobretudo na programação da primeira rede de televisão brasileira, a Globo, por apoiar a ditadura.

A imagem clássica de Roberto Marinho de braços dados com Figueiredo, deveria ser esfregada na cara de Merval Pereira, o sabujo mais original dos Marinho e, por isso, tenta nutrir o bolsonarismo de cabeça branca que, além de sustentar um ódio contra a esquerda, já foi adestrado para isso, odeia o PT, os movimentos negros, as feministas, os movimentos jovens, o LGBTQIA+ e tudo o que se opõe integralmente à expressão do que existe de mais reacionário nesse país.

Merval, espertamente, dá peso e medida iguais a Bolsonaro e Lula no caso do assassinato do líder do PT, Marcelo Arruda, justamente porque, na verdade, Merval, mais do que ninguém, sabe que, do outro lado, Bolsonaro não está sozinho, e pelo o que opera contra a população, principalmente contra os pobres para favorecer os ricos, incluindo os Marinho, a Globo sempre esteve do lado de Bolsonaro e Merval sempre apareceu em resumo desse senso comum entre o império da comunicação e o universo bolsonarista, tratando Bolsonaro como um fenômeno político para parecer que não foi eleito por uma fraude eleitoral armada por ele e Moro, o justiceiro criado nos porões editoriais da Globo, com capacidade, a partir dos holofotes da emissora, de destruir milhões de empregos, empresas, entre outras coisas, para levar o país a esse estado em que a cidadania foi totalmente mutilada.

A coisa se agravou muito nesses quase quatro anos de regime Bolsonaro.

Ou seja, a Globo sempre fez e sempre fará de qualquer episódio político o cálculo econômico e vai tentar utilizar os recursos midiáticos que tem para organizar o país a modo e gosto dos Marinho que, junto, repetem a Faria Lima.

Não há outra forma de encarar o problema sério porque passa o Brasil se não tiver no mesmo balaio as personalidades de uma gama de bandidos ligados à milícia, a torturadores e assassinos da ditadura, a partir da própria territorialização corporativa da mídia industrial.

A Globo sempre foi a alavanca de  tudo isso, os Marinho e o bolsonarismo formam uma única pasta integral que se formou no país no período da ditadura, mas não como uma integração casual, e sim, como resultado de uma campanha de ódio garantida pela Globo.

O resultado é essa tendência perversa a qual parte da sociedade brasileira chegou, incluindo o preconceito a tudo que não está conformado com essa goma característica do fascismo, assim como toda forma de racismo que há dentro da sociedade brasileira na sua formação moderna herdada, par e passo, da escravidão.

Merval quer fazer uma confusão calculada para que se crie artificialmente contradições do discurso de quem defende a vítima, propondo uma visão em que não existe culpados ou todos são culpados.

Originalidade nisso, não há, pois essas sempre foram as ideias de valores que o império dos Marinho utilizou para fazer parte do clube seleto da oligarquia nacional.

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Política

Governo convoca encerramento de comissão de mortos pela ditadura

Em entrevista, procuradora e conselheiras falam de decisão que pode acabar com único grupo que busca corpos não entregues às famílias, segundo o GGN.

O governo de Jair Bolsonaro está próximo de encerrar os trabalhos da Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, o único grupo em atividade no Brasil dedicado a investigar e a devolver os corpos dos desaparecidos políticos que ainda não foram entregues às famílias.

A medida vai de encontro com a proposta do presidente, que criticava a busca pelos desaparecidos políticos desde deputado – inclusive, uma declaração conhecida de Bolsonaro sobre o tema é “quem procura osso é cachorro”.

“A comissão sobre mortos foi criada em 95, e na época se imaginava que ela fosse chegar a um ponto que ela tivesse resolvido a questão dos desaparecidos políticos do Brasil, que tivesse entregue os corpos, pago indenização”, diz Eugênia Gonzaga, que chefiava a comissão até ser afastada por Damares Alves, então ministra da Família, em entrevista à TV GGN 20 horas.

“Só que muita coisa aconteceu e a gente viu que ela deixou muito a desejar, ela ficou anos desmobilizada, não teve orçamento para fazer busca de corpos principalmente”, ressalta a procuradora federal. “Depois surgiram outras leis mais recentes que a comissão sobre mortos, que foram ratificando as funções dessa comissão”.

Eugênia destaca que o artigo 13 da Lei que criou a comissão estabelecia a composição de um relatório de encerramento quando os trabalhos fossem finalizados – mas que, com o tempo, o trabalho foi sendo cada vez mais ratificado ao ponto de o Brasil ser condenado a intensificar as atividades de buscas pelos desaparecidos.

“A gente já sabe desde que o presidente Bolsonaro assumiu que ele não dava o menor valor para essa atividade (…) Acho que a nova presidência da comissão assumiu com essa incumbência, e é o que eles estão agora planejando”, ressalta a procuradora.

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