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Brasil e China, uma aliança estratégica no colapso da ordem neoliberal

A escalada protecionista de Donald Trump, com suas tarifas caóticas e retaliações, representa o fim de uma era, marcando o declínio do neoliberalismo enquanto dogma inquestionável, criando uma oportunidade única para o Brasil redefinir sua inserção internacional. Em um cenário de contradições e medidas autodestrutivas nos EUA, a China se destaca como o parceiro mais lógico para o desenvolvimento soberano do Brasil.

O ex-chanceler Celso Amorim adverte sobre os perigos do ataque ao multilateralismo, lembrando os anos 1930, quando a guerra tarifária contribuiu para a Grande Depressão e para o início da Segunda Guerra Mundial. O “tarifaço” de Trump não é uma política econômica racional, mas uma manifestação de desespero de uma potência em declínio, que nega as regras que impôs globalmente por décadas.

O historiador Francisco Teixeira destaca a hipocrisia do liberalismo econômico dos EUA, que prosperou no século 19 a partir de altas tarifas e subsídios, mas hoje critica práticas semelhantes em outros países. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, agora reconhece que tarifas geram inflação e desemprego, uma ironia dada a prosperidade americana adquirida ao romper com essas normas. Teixeira aponta que o neoliberalismo pós-1991, assim como o protecionismo fascista, serviu a interesses imperiais, sem beneficiar as populações do Sul Global.

Diante desse contexto, a aproximação com a China e com os BRICS é vista como uma necessidade estratégica, não ideológica. Enquanto os EUA restringem seus mercados, a China se estabelece como o maior comprador de commodities brasileiras, como soja, minério de ferro e petróleo, além de demonstrar interesse em diversificar as exportações do Brasil e em transferir tecnologias.

Ao contrário das ofertas do FMI, que impõem condicionalidades, a China sugere investimentos em infraestrutura, como portos e ferrovias, essenciais para a reindustrialização do Brasil. Alinhar-se com a China e os BRICS pode permitir ao Brasil libertar-se da tutela de Washington, que historicamente tem sabota­do projetos nacionais, como os da Petrobras e da Embraer.

A China se destaca como líder na revolução tecnológica e energética do século 21, dominando setores essenciais como energias renováveis, veículos elétricos e inteligência artificial. Uma colaboração estreita com Pequim pode colocar o Brasil na linha de frente da transição ecológica, uma vez que a China controla 80% do mercado global de painéis solares e 60% das turbinas eólicas.

Parcerias com gigantes como a BYD poderiam impulsionar a indústria automotiva verde brasileira, enquanto empresas como Huawei e ZTE oferecem soluções em 5G e infraestrutura digital a preços competitivos, sem os entraves geopolíticos associados a empresas ocidentais.

A dependência dos EUA tem se revelado um projeto derrotado. Desde os desdobramentos da Operação Lava Jato até as pressões contra o 5G chinês, os EUA demonstraram ser um parceiro pouco confiável. Com uma dívida elevada de 130% do PIB e um cenário de polarização política, não oferecem a estabilidade necessária para investimentos de longo prazo.

A atualidade do mundo reflete uma transição histórica, onde a ordem neoliberal se esgota e o unilateralismo dos EUA acelera seu declínio. Tanto Amorim quanto Teixeira evidenciam que este é o momento oportuno para o Brasil aprofundar suas relações com a China, o que poderia ser um pilar na política externa nacional, aproveitando o vasto mercado consumidor chinês de 1,4 bilhão de pessoas e seus investimentos em setores estratégicos. Fortalecer os BRICS como uma alternativa ao G7 proporcionaria ao Brasil um papel ativo na reformulação da arquitetura financeira global. O país deve adotar uma postura pragmática e soberana, rejeitando tanto o fundamentalismo de mercado quanto as alianças automáticas.

A escolha é inequívoca: o Brasil pode optar por ser mero espectador do colapso da antiga ordem ou atuar como protagonista na construção de uma nova. A China oferece um trajeto viável para um Brasil industrializado, tecnológico e verdadeiramente soberano. Como advertiu Celso Amorim, a história é implacável com aqueles que, por razões ideológicas ou submissão, deixarem passar essa oportunidade singular. O futuro é reservado àqueles que têm a audácia de moldá-lo em momentos decisivos. As informações são do 247.

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Da Nakba a Gaza: ‘Exterminem todos os selvagens!’

Pais segurando os corpos dilacerados de seus filhos são cenas comuns em Gaza. Antes, uma única imagem assim viraria manchete mundial. Hoje, são tantas que nem sequer são notícia. É o quão baixo o Ocidente afundou.

A guerra de Israel contra Gaza é um genocídio em plena vista — massacres, fome e deslocamento forçado enquanto o Ocidente desvia o olhar.

Nos anos 1960, Bernard Lewis cunhou a frase “choque de civilizações”. Tempos depois, Samuel Huntington a adotou. Era um argumento furado. Governos “colidem” por interesses concretos — dinheiro, território, poder, dominação —, não por algo vago como “civilização”. Mas era uma desculpa conveniente para potências imperialistas predatórias empenhadas em controlar o mundo.

Afinal, o que era a “civilização ocidental” senão uma besta esquizofrênica de duas faces, que ouvia Bach e Mozart enquanto escravizava milhões, massacrava povos, roubava suas terras e saqueava seus recursos?

É essa face hedionda que vemos novamente hoje. O Ocidente cruza os braços e fala de tudo — menos do genocídio em Gaza.

A semente que as potências europeias plantaram na Palestina cresceu e se tornou a maior ameaça à paz mundial desde os nazistas. E isso não é coincidência, dada a afinidade ideológica entre nazismo e sionismo: o racismo, a supremacia, o desprezo pelo direito internacional e pela vida humana, agora expostos em Gaza e no Líbano.

Sem esquecer o equivalente ao lebensraum — expansionismo e maximalismo territorial para abrir caminho a colonos judeus em substituição aos “animais humanos” palestinos. Apenas um degrau acima dos nazistas, que chamavam suas vítimas judias e outras de “sub-humanos”.

Que ironia grotesca: nos anos 1930, nazistas buscavam formas de eliminar judeus; em 2025, judeus buscam formas de eliminar palestinos. E sim, são judeus — não apenas sionistas, mas judeus cruéis, assim como há muçulmanos, cristãos e ateus cruéis. Eles são uma mancha na história judaica que nunca será apagada.

Os campos de extermínio nazistas e a política israelense diferem apenas no eufemismo: enquanto os nazistas falavam em “emigração” antes da morte, Israel nem disfarça. O número real de palestinos massacrados é incerto, mas ultrapassa em muito os 200 mil sugeridos pela revista The Lancet.

Durante o breve cessar-fogo, palestinos desenterraram corpos dos escombros. Mas agora Netanyahu o rompeu. No momento em que escrevo (18 de março, 9h38), Israel já matou 235 palestinos em ataques aéreos. Muitos, é claro, eram crianças — porque milhares já foram assassinadas.

Pais segurando os corpos dilacerados de seus filhos são cenas comuns em Gaza. Antes, uma única imagem assim viraria manchete mundial. Hoje, são tantas que nem sequer são notícia. É o quão baixo o Ocidente afundou.

Sem conseguir convencer ninguém a aceitar a “transferência” populacional que Trump também defende, Israel opta pelo extermínio. Aos palestinos, resta “escolher”: fugir ou ficar e morrer. Fugir para onde? Não há saída. Gaza é uma armadilha, e seus algozes não têm piedade.

“Ainda que a fome e a sede não os matem, nós mataremos.” Essa é a mensagem. Velhos, jovens, deficientes, professores, agricultores, jornalistas — não importa. O “exército mais moral do mundo” os assassinará.

Não em suas casas (já destruídas), mas em campos, tendas, praias ou ruínas urbanas — por bombas, drones, mísseis ou tiros de sniper. Ou pela privação de comida, água, remédios e eletricidade.

Isso acontece agora. “Exterminem todos os selvagens!”, clamou Kurtz em O Coração das Trevas. E é o que se vê no campo de extermínio de Gaza — desta vez, administrado por judeus. Uma verdade repugnante, mas ainda assim verdade. Claro, no livro, era Kurtz, o agente da “civilização”, o verdadeiro selvagem.

Israel nunca deveria ter sido criado em terras alheias. É um Estado usurpador, como tantos na história — mas estamos no século XXI, não no XVII. Israel nunca demonstrou remorso, e o mundo nunca aprendeu a evitar a repetição de horrores passados. Poucos horrores foram tão brutais quanto Gaza.

Israel é a contradição de um Estado colonial surgido no crepúsculo da era colonial. Foi parido pela ONU, a “mãe” que hoje odeia porque esta tenta frear seu comportamento vil.

Seu ódio transborda nas redes sociais, no governo, no parlamento, na mídia e nas instituições religiosas. Ódio aos palestinos, árabes, ONU, críticos do genocídio — e até entre si. Talvez seja isso que, um dia, destruirá Israel: ele acabará devorando a si mesmo.

Seus chiliques e fúria teatral são históricos, mas sempre indulgenciados. Políticos dos EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá e UE agem com medo. Não chamam o genocídio pelo nome — Israel e seus lobistas não gostariam.

Criticam, mas com códigos: “Compartilhamos seus valores democráticos e estamos do seu lado, mesmo quando reclamamos.” Falam em “solução de dois Estados” sabendo que nunca acontecerá. Israel sabe que sabem. Tudo sob controle.

Expressam “preocupação”, nunca raiva. Afinal, há séculos pessoas de pele branca exterminam as de pele escura. É triste, mas “normal”. Seria anormal só se as vítimas fossem brancas. Alguém imagina 2 milhões de europeus presos em um enclave, esfomeados e massacrados, sem que o Ocidente interviesse?

Isso expõe não só o racismo de Israel, mas o do Ocidente — que assiste passivamente a 18 meses de genocídio.

Israel é apoiado incondicionalmente pelos EUA, cujas instituições infiltrou. Recebe tudo o que quer. Juntos, são uma ameaça à paz global.

Israel não obedece leis, só seus interesses. Suga seus “aliados” e os trai — como fez com a Grã-Bretanha nos anos 1940, matando policiais e diplomatas britânicos.

Lembrem-se do USS Liberty (1967), do plutônio roubado dos EUA, dos ativistas Rachel Corrie, James Miller e Tom Hurndall — todos mortos em Gaza. Lembrem-se do turco-americano Furkan Doğan, assassinado no Mavi Marmara. Israel não respeita nem seus aliados, mas estes insistem em um masoquismo destrutivo.

Netanyahu deixa claro: Israel não mudará. Para sobreviver, deve continuar matando — palestinos, libaneses, sírios, iranianos, quem quer que ouse enfrentá-lo.

Se (ou melhor, quando) Israel for encurralado sem saída, sua mensagem é clara: “Levaremos o mundo conosco.” E quem lhe deu as armas e tecnologia para isso? A resposta é óbvia.

São 11h59. O The Guardian reporta mais de 320 mortos em Gaza. Assassinados em massa. Às 14h08, já eram mais de 400.

*Jeremy Salt*, site da Fepal

* Jeremy Salt lecionou na Universidade de Melbourne, na Universidade Boğaziçi (Istambul) e na Universidade Bilkent (Ankara), especializando-se na história moderna do Oriente Médio. Entre suas publicações estão The Unmaking of the Middle East (2008) e The Last Ottoman Wars (2019). Artigo publicado em 19/03/2025 no The Palestine Chronicle.

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Israel considera atacar instalações nucleares do Irã

Trump não tem pressa em apoiar ação militar, mas Israel mantém planos e pressiona por destruir programa nuclear iraniano.

Israel ainda considera a possibilidade de um ataque pontual às instalações nucleares do Irã, mesmo após o presidente dos EUA, Donald Trump, sinalizar que Washington não está disposto a apoiar uma ação militar nesse momento. A informação foi divulgada pela agência Reuters.

Segundo a reportagem, autoridades israelenses insistem que Teerã não pode adquirir uma arma nuclear e pressionam para que qualquer negociação diplomática tenha como resultado o desmantelamento completo do programa atômico iraniano. Nos bastidores, Israel tem apresentado ao governo Trump diferentes opções de ataque, com cronogramas que variam entre o final da primavera e o verão. Os planos incluem desde bombardeios aéreos até operações de comando e visam atrasar a capacidade do Irã em desenvolver armas nucleares por meses ou, no máximo, alguns anos.

De acordo com o nornal The New York Times, Trump teria informado ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante um encontro na Casa Branca no início de abril, que sua prioridade seria a retomada das negociações com Teerã. Ainda assim, o presidente dos EUA manteve aberta a possibilidade de uma ofensiva militar em caso de ruptura no processo diplomático. “Acho que o Irã tem a chance de ter um grande país e viver feliz sem morte”, disse Trump a jornalistas. “Essa é a minha primeira opção. Se houver uma segunda opção, acho que seria muito ruim para o Irã, e acho que o Irã está querendo dialogar.”

Apesar do posicionamento da Casa Branca, uma autoridade israelense de alto escalão revelou à Reuters que o país ainda não tomou uma decisão definitiva sobre um ataque, mas acredita que poderia agir com um escopo mais limitado, o que exigiria menos apoio logístico e militar dos Estados Unidos. Mesmo assim, a movimentação israelense gera preocupação: um ataque unilateral poderia desgastar a relação com Washington e comprometer o apoio militar norte-americano em caso de retaliação iraniana, segundo José Reinaldo, 247.

Teerã, por sua vez, já reagiu à possibilidade. Um alto funcionário de segurança iraniano, sob condição de anonimato, declarou à Reuters que “um ataque provocaria uma resposta dura e inabalável do Irã”. O mesmo oficial afirmou que Israel estaria tentando sabotar as negociações em curso e que Netanyahu teria motivações políticas internas: “Temos informações de fontes confiáveis de que Israel está planejando um grande ataque. Isso decorre da insatisfação com os esforços diplomáticos e da necessidade de Netanyahu de conflito como meio de Enquanto as negociações diplomáticas entre EUA e Irã estão prestes a iniciar uma nova rodada em Roma, o impasse sobre o programa nuclear iraniano permanece como um dos principais focos de tensão no Oriente Médio.

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Programa militar dos EUA depende de minerais raros da China Uma admissão surpreendente de um senador republicano: “Estamos todos com medo”

Certamente, não é só a guerra tarifária de Trump que faz até os republicanos se sentirem sem chão.

A decisão da China de retaliar o aumento de tarifas de Trump, ordenando restrições às exportações de uma ampla gama de minerais críticos e ímãs, é um aviso à segurança nacional americana, afirmaram especialistas da indústria e de defesa.

Em caças da Força Aérea Americana, ímãs feitos de minerais raros, que são extraídos ou processados na China, são necessários para ligar os motores e fornecer energia de emergência.

Em mísseis balísticos, guiados de precisão, preferidos pelo Exército americano, ímãs contendo materiais raros da China fazem as aletas traseiras girarem, permitindo que os mísseis se dirijam a alvos pequenos ou em movimento.

Em novos drones elétricos e movidos a bateria que estão sendo adaptados pelos fuzileiros navais, ímãs de terras raras são insubstituíveis nos motores elétricos compactos.

Ao anunciar que agora exigirá licenças especiais de exportação para seis metais pesados de terras raras, que são refinados inteiramente na China, assim como ímãs de terras raras, 90% dos quais são produzidos na China, Pequim lembrou ao Pentágono — se, de fato, precisava ser lembrado — que uma ampla gama de armamentos americanos depende da China.

As terras raras são um grupo de 17 elementos, incluindo neodímio, ítrio, escândio e disprósio, que são difíceis de separar em formas utilizáveis.

Elas estão presentes em quase todas as formas de tecnologia de defesa americana. Podem formar ímãs muito poderosos, para uso em caças, navios de guerra, mísseis, tanques e lasers.

O ítrio é necessário para revestimentos de motores a jato de alta temperatura; ele permite que os revestimentos de barreira térmica nas lâminas das turbinas evitem que os motores de aeronaves derretam durante o voo.

“A China minera e refina a maior parte das terras raras do mundo e domina a cadeia de suprimentos”, disse Aaron Jerome, um comerciante da Lipmann Walton and Co., uma empresa de comércio de metais com sede na Grã-Bretanha.

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Trump deporta imigrante por engano; Justiça cobra grave erro

Um tribunal federal de apelações dos Estados Unidos criticou severamente o governo do presidente Donald Trump por sua inércia no caso do imigrante Kilmar Abrego Garcia, deportado por engano para El Salvador. Em decisão unânime, os juízes do 4º Circuito classificaram como “chocante” a alegação de que não há mais nada a ser feito para trazê-lo de volta ao país e exigiram que o Executivo tome medidas imediatas.

A Corte rejeitou o pedido do governo para suspender a ordem da juíza federal Paula Xinis, de Maryland, que determinou o depoimento, sob juramento, de ao menos quatro autoridades dos departamentos de Imigração, Segurança Interna e Estado. A exigência visa esclarecer o que foi feito — ou negligenciado — para reverter a deportação indevida.

Os juízes afirmaram que o governo Trump estaria “reivindicando o direito de esconder residentes deste país em prisões estrangeiras, sem qualquer aparência de devido processo legal”. Para o tribunal, a justificativa de que Garcia já foi deportado e, por isso, nada mais pode ser feito, é inaceitável.

“Isso deveria chocar não apenas juízes, mas qualquer cidadão que valorize a liberdade”, destacou a decisão.

A corte também advertiu para um risco institucional maior: o agravamento da tensão entre os poderes. “Estamos perigosamente próximos de um atrito irreversível que ameaça enfraquecer tanto o Executivo quanto o Judiciário”, afirmaram os magistrados.

Crise diplomática e resistência do governo
Garcia foi deportado em 15 de março, e desde então, a juíza Xinis tem cobrado do governo documentos e explicações sobre as tentativas de corrigir o erro. Em 4 de abril, ela ordenou que o Executivo “facilitasse e efetivasse” o retorno do imigrante, atualmente preso no CECOT, presídio de segurança máxima em El Salvador.

Apesar de a Suprema Corte dos EUA ter mantido a decisão, apontou que o termo “efetivar” poderia ser ambíguo e exceder a autoridade do tribunal. Diante disso, Xinis exigiu um cronograma claro para a repatriação de Garcia. Como a ordem foi ignorada, ela passou a cobrar relatórios diários sobre as medidas adotadas.

Em resposta, no último domingo (13), o governo afirmou que “facilitar” significava apenas remover obstáculos domésticos, sem envolver negociações diplomáticas com El Salvador. Trump, por sua vez, disse que só agiria mediante ordem direta da Suprema Corte.

Reações na Casa Branca e em El Salvador
Na segunda-feira (14), Trump se reuniu com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, na Casa Branca. Durante o encontro, o ex-presidente chamou de “gente doente” os jornalistas que o questionaram sobre o retorno de Garcia. Bukele negou envolvimento e afirmou que não tem poder para devolver o imigrante aos EUA.

“Essa pergunta é absurda. Como eu poderia contrabandear um terrorista para os Estados Unidos?”, disse o presidente salvadorenho.

Pressão do Congresso
O senador democrata Chris Van Hollen, de Maryland, manifestou indignação com a postura do governo. Em nota, afirmou que, caso Garcia não esteja de volta até o meio da semana, ele próprio viajará a El Salvador para negociar sua libertação.

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China convoca ONU para denunciar tarifas de Trump e isolar EUA

Pequim reúne países no Conselho de Segurança para acusar os EUA de desestabilizar a economia global com tarifas; países do Sul Global aderem ao protesto.

Em meio à escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China, o governo chinês convocou para o dia 23 de abril uma reunião informal do Conselho de Segurança da ONU com o objetivo de denunciar o que classifica como “atos de intimidação e unilateralismo” por parte de Washington.

A iniciativa marca mais um passo da estratégia diplomática de Pequim para isolar internacionalmente a política tarifária da Casa Branca e projetar-se como defensora do multilateralismo e da estabilidade econômica global.

A reunião, aberta a todos os 193 Estados-membros das Nações Unidas, terá como tema “o impacto do unilateralismo e das práticas de intimidação nas relações internacionais”. No conceito divulgado pela delegação chinesa, os Estados Unidos são acusados de usar tarifas como “instrumento de pressão extrema”, em flagrante violação das regras do comércio internacional.

Segundo o documento, a prática estaria “lançando uma sombra sobre os esforços globais pela paz e o desenvolvimento”.

A ofensiva diplomática chinesa ocorre após a imposição, por parte do presidente Donald Trump, de tarifas que somam até 145% sobre importações da China – número que sobe para 245% se incluídas as taxas anteriores à atual gestão.

Em retaliação, Pequim anunciou tarifas de 125% sobre bens norte-americanos e passou a fortalecer sua articulação com países do Sul Global, que também vêm sendo afetados pelas barreiras tarifárias unilaterais de Washington.

O porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, declarou em entrevista coletiva que o abuso das tarifas norte-americanas “causa sérios danos aos interesses e ao bem-estar de todos os países”.

Ele acusou os EUA de ignorarem os resultados de negociações multilaterais ao recorrerem à retórica de “reciprocidade e justiça” para justificar medidas protecionistas que ameaçam o sistema multilateral. “Tais ações unilaterais criam desafios sem precedentes à ONU e ao próprio multilateralismo”, disse.

Na avaliação de Lin, é fundamental que a comunidade internacional utilize espaços como o Conselho de Segurança para aprofundar o debate sobre as consequências do unilateralismo econômico, fortalecer o papel da ONU e proteger os direitos ao desenvolvimento legítimo de todos os países.

Ele acrescentou que a reunião de 23 de abril será uma oportunidade para “construir consenso contra o protecionismo e reafirmar os princípios da Carta das Nações Unidas”.

O contexto também inclui o fortalecimento do Grupo de Amigos em Defesa da Carta da ONU, que reúne países como China, Rússia, Venezuela, Irã e Laos. Em nota conjunta divulgada nesta semana, o grupo condenou o uso de tarifas como instrumento político e acusou os EUA de promover ações “unilaterais e coercitivas para subjugar outros países”. Para o governo chinês, esse tipo de articulação reflete a crescente disposição do Sul Global de resistir coletivamente a pressões externas consideradas injustas.

Embora os Estados Unidos ainda não tenham se pronunciado oficialmente sobre a reunião convocada por Pequim, fontes diplomáticas ouvidas pela imprensa norte-americana indicam preocupação com a perda de apoio de países intermediários.

Cerca de 70 nações já teriam iniciado negociações com Washington para escapar das tarifas, mas a estratégia norte-americana de isolar a China enfrenta resistência em países que também são alvos das medidas protecionistas, de acordo com o Vermelho.

Em paralelo, o impacto das tensões comerciais já preocupa organismos internacionais. A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) alertou que o crescimento econômico global pode cair para 2,3% em 2025.

A diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, foi ainda mais enfática, prevendo uma possível contração de até 7% do PIB global caso a economia mundial se fragmente em blocos rivais. Para Pequim, o cenário atual exige uma resposta coordenada da comunidade internacional em defesa do livre comércio, da cooperação multilateral e do desenvolvimento comum.

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Bloqueio de ajuda humanitária é ‘principal ferramenta’ de Israel em Gaza

Todas as passagens de fronteira para Gaza permaneceram fechadas enquanto piora uma grave crise humanitária

O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, disse que Tel Aviv não permitirá a entrada de nenhuma ajuda humanitária na Faixa de Gaza, enfatizando que a prevenção de ajuda é uma “ferramenta principal” usada para pressionar o Hamas.

“Como mencionei na minha declaração, a política de Israel é clara e nenhuma ajuda humanitária está prestes a entrar em Gaza”, disse ele, acrescentando que a prevenção de ajuda é “uma das principais ferramentas” que Israel está usando para pressionar o Hamas, “além das outras medidas que Israel está tomando”.

“É uma pena que haja quem tente enganar. Na realidade atual, ninguém vai levar ajuda humanitária para Gaza, e ninguém está se preparando para trazer tal ajuda. Enfatizei que, em relação ao futuro, um mecanismo para o uso de empresas civis deve ser construído, para não permitir que o Hamas tenha acesso [à ajuda] no futuro”, continuou o ministro da Defesa.

Katz havia anunciado em uma declaração anterior na quarta-feira que Israel eventualmente retomaria as entregas de ajuda a Gaza, mas apenas por meio de “empresas civis”.

A declaração de Katz enfatizou “antes de mais nada, fazer todos os esforços para conseguir a libertação de todos os reféns dentro da estrutura do [enviado dos EUA Steve] Witkoff e construir uma ponte para a derrota do Hamas no futuro”.

Ele enfatizou “interromper a ajuda humanitária, que mina o controle do Hamas sobre a população, e criar uma infraestrutura para a distribuição [de ajuda] por meio de empresas civis no futuro”.

“Até agora, centenas de milhares de moradores foram evacuados e dezenas por cento do território foi adicionado às zonas de segurança”, referindo-se à recente tomada de território em Gaza. “A pressão sobre o Hamas para executar o acordo é pesada e a tensão entre ele e a população local está aumentando”, continuou.

Ele acrescentou que o Egito, pela primeira vez, estabeleceu “o desarmamento do Hamas e a desmilitarização de Gaza” como condição “para um acordo abrangente e para o fim da guerra”.

Katz enfrentou críticas significativas de membros da coalizão e das famílias dos prisioneiros israelenses mantidos na faixa.

O Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, disse que fará tudo o que estiver ao seu alcance para impedir o “erro histórico” de permitir a entrada de ajuda em Gaza.

“É uma pena que não aprendamos com nossos erros. Enquanto nossos reféns estiverem morrendo nos túneis, não há razão para que um grama de comida ou ajuda entre em Gaza”, afirmou.

O Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas chamou as declarações de Katz de “fantasia”, criticando especificamente a insistência do governo em priorizar a tomada de território em Gaza em detrimento das vidas dos reféns.

“Chegou a hora de acabar com as falsas promessas e slogans. É impossível continuar a guerra e, ao mesmo tempo, libertar todos os reféns”, afirmou o fórum.

Todas as passagens de fronteira para Gaza permaneceram fechadas, com o fluxo de ajuda para a faixa interrompido. Hospitais em Gaza estão à beira do colapso total devido à falta de suprimentos médicos desesperadamente necessários, tornando quase impossível tratar as dezenas de palestinos feridos que chegam aos centros médicos diariamente.

Desde a recente retomada e expansão das operações terrestres em Gaza, Israel assumiu o controle de pelo menos 50% do território da faixa. Katz anunciou no sábado a captura pelo exército israelense do recém-criado Corredor Morag, que isola a cidade de Rafah, no extremo sul, da cidade de Khan Yunis.

Katz também disse que o exército em breve ampliará “vigorosamente” sua ofensiva em Gaza.

Mais de 1.630 palestinos foram mortos e mais de 4.300 feridos por Israel em toda a Faixa de Gaza desde que a guerra em Gaza recomeçou em 18 de março.

Enquanto isso, os EUA aprovaram um novo carregamento de milhares de bombas para a Força Aérea Israelense.

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Militares israelenses exigem fim da guerra e expõem crise no governo

Cartas de militares da reserva, ex-chefes do Mossad e do Shin Bet denunciam uso político da guerra e cobram libertação dos reféns

Israel enfrenta um movimento crescente de oposição interna à continuidade da guerra em Gaza. Reservistas e veteranos de elite, incluindo ex-chefes de inteligência e unidades especiais, denunciam o uso político do conflito e exigem uma saída negociada com o Hamas. A reação do governo Netanyahu aprofunda o racha interno e expõe a crise de legitimidade da ofensiva militar.

Uma carta aberta publicada no dia 11 de abril e assinada por 970 reservistas da ativa e veteranos da Força Aérea Israelense teve forte repercussão nacional ao denunciar o prolongamento da guerra como uma decisão guiada por interesses pessoais e não por objetivos de segurança.

“Continuar a guerra não serve a nenhum dos seus objetivos declarados”, afirmaram os signatários na carta. “A santidade da vida é mais sagrada que o deus da vingança”, escreveram.

A iniciativa desencadeou uma mobilização em diversas frentes do aparato militar e de segurança. Cartas semelhantes foram divulgadas por 150 oficiais da Marinha, 1.525 membros do Corpo Blindado, 250 integrantes da unidade de inteligência cibernética 8200, mais de 1.500 veteranos das Forças Especiais e da Infantaria, e cerca de 500 representantes do setor de alta tecnologia israelense, segundo o Vermelho.

Também subscreveram o protesto cerca de 250 veteranos do Mossad, incluindo três ex-diretores, e 100 ex-alunos do Colégio Nacional de Segurança.

Todas as declarações convergem no apelo pelo fim da guerra, pela devolução dos reféns e pela abertura de negociações que coloquem a vida dos civis acima dos cálculos políticos de Netanyahu e da sua coalizão.

Reação do governo: repressão e ataque político

A resposta do governo foi imediata. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu classificou os signatários como um “grupo anarquista, barulhento e desconectado de aposentados” e afirmou que a mobilização é financiada por organizações estrangeiras com o objetivo de derrubar o governo de direita.

O ministro da Defesa, Israel Katz, e o comandante da Força Aérea, Tomer Bar, ordenaram a demissão dos reservistas da ativa que assinaram a carta. Ao menos 25 recuaram e retiraram suas assinaturas após reuniões com o alto comando militar. Segundo os comandantes, as cartas abalam a coesão das unidades e comprometem a eficiência da operação militar.

A repressão não conteve o movimento, no entanto. Cartas de apoio seguiram circulando e ampliando o clamor pelo fim dos combates. O Shin Bet, serviço de segurança interna, divulgou uma nota assinada por centenas de veteranos, com apoio explícito às cartas militares e exigência de uma comissão de inquérito sobre os eventos de 7 de outubro.

“Trazer todos os reféns de volta é um mandamento ético supremo, mesmo ao custo de interromper temporariamente os combates”, afirmaram.

O racha social e político em Israel

A crise de legitimidade também se reflete nas ruas. Manifestações em Tel Aviv e Jerusalém reúnem familiares de reféns, reservistas e militantes pela paz, que exigem um cessar-fogo imediato. As manifestações incorporaram a agenda das cartas: devolução dos reféns, investigação dos erros de 7 de outubro e fim da guerra.

A isenção concedida às comunidades ultraortodoxas — que não cumprem serviço militar — também é alvo de crescente revolta entre soldados da reserva e familiares. As cartas acusam o governo de permitir uma guerra desigual, onde apenas parte da população é chamada a se sacrificar.

Guerra contestada por dentro

A dissidência militar, a pressão da sociedade civil e as divisões dentro dos aparatos de segurança indicam que a guerra em Gaza não tem mais o consenso institucional que sustentou as primeiras fases da ofensiva.

A insistência do governo Netanyahu em manter a linha dura, sem apresentar alternativas realistas para a devolução dos reféns, amplia o isolamento interno e internacional de Israel. A continuidade da guerra, longe de garantir segurança, expõe um país em ruptura com suas próprias forças armadas.

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Moraes cobra explicação da Espanha após veto à extradição de Eustáquio

A atitude contraria, segundo o magistrado, o princípio da reciprocidade previsto no tratado firmado entre Brasil e Espanha.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), intimou a Embaixada da Espanha no Brasil, que tem à frente a diplomata Mar Fernández-Palacios, a explicar a decisão do governo espanhol de se recusar a extraditar o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, foragido naquele país. A atitude contraria, segundo o magistrado, o princípio da reciprocidade previsto em tratado firmado entre Brasil e Espanha.

A reação de Moraes se soma a outra: ele decidiu suspender, nessa terça-feira (15/4), o processo de extradição do cidadão búlgaro Vasil Georgiev Vasilev, que foi solicitado pela Espanha.

A suspensão foi fundamentada no entendimento de que, em casos de extradição, é necessário que os países envolvidos respeitem o princípio da reciprocidade. Isso significa que um Estado só está obrigado a atender um pedido de extradição de outro país se este também cumpre pedidos semelhantes.

Como a Espanha recusou o envio de Eustáquio, como antecipou o Metrópoles, na coluna de Paulo Cappelli, Moraes entendeu que o Brasil não está obrigado a seguir com o pedido espanhol.

Moraes ainda determinou aos ministérios da Justiça e das Relações Exteriores para que notifiquem a representação diplomática do governo espanhol no Brasil.

O processo contra Vasilev envolve um caso de tráfico de drogas. De acordo com informações da Interpol, em outubro de 2022 ele teria transportado 52 quilos de cocaína em malas por Barcelona. A droga deveria ser entregue a outro suspeito, que foi preso no dia seguinte. Vasilev foi detido no Brasil, em fevereiro de 2025, e interrogado no mês seguinte.

Na decisão, Moraes cita o artigo I do Tratado de Extradição entre Brasil e Espanha, que determina que ambos os países se comprometem, de forma mútua, a entregar pessoas acusadas ou condenadas por crimes, desde que respeitadas as regras do tratado e as legislações locais, segundo Giovanna Estrela e Manoela Alcântara, Metrópoles.

A negativa da extradição de Eustáquio por parte da Espanha foi comunicada recentemente ao governo brasileiro. Em resposta, a Advocacia-Geral da União (AGU), o Ministério da Justiça e o Itamaraty informaram que pretendem recorrer da decisão.

Oswaldo Eustáquio é investigado por crimes como ameaça, perseguição, incitação ao crime, associação criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Segundo a Polícia Federal, ele divulgou dados de autoridades envolvidas nas investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, espalhou desinformação sobre as eleições e participou de atos antidemocráticos. Atualmente, Eustáquio está na Espanha.

Prazo de 5 dias
Com a suspensão do processo de extradição de Vasilev, o ministro do STF determinou que o governo espanhol se manifeste em até cinco dias e comprove que segue o princípio da reciprocidade em matéria de extradição. Caso contrário, o pedido poderá ser rejeitado definitivamente.

Enquanto isso, Vasilev terá a prisão preventiva convertida em prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica. Ele só poderá sair de casa com autorização judicial, exceto em emergências médicas, e será monitorado continuamente. O descumprimento dessas condições poderá levá-lo de volta à prisão comum.

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Deus fez o céu e a terra, o resto é feito na China

O comerciante brasileiro tem um comportamento padrão que serve de parâmetro para sabermos o tamanho da encrenca que Trump está enfiado na sua guerra comercial perdida para a China Comunista.

Os sábios da economia mundial dizem que os EUA seguem sendo a maior economia do planeta.

Mas uma coisa é inegável. A China, naquilo que interessa aos EUA e, consequentemente, a Trump, é o domínio quase que total do comércio mundial.

Para tanto, basta fazer um teste na vida como ela é, seja no mundo dos negócios miúdos, seja nos graúdos.

Ofereça um produto chinês e um norte-americano a um comerciante e veja o que ele vai escolher para vender e quanto vai lucrar e não lacrar.

Nem vou citar o “anticomunista” Veio da Havan, o rei da buginganga chinesa.

Isso seria jogo baixo de minha parte. Aquele não dá um passo sem beijar a bandeira vermelha da China, ou quebra no dia seguinte.

Isso seria fatal.

A margem de lucros que a mercadoria chinesa deixa para os nossos capitalistas é 10 vezes maior e mais digestiva para o consumidor, por conta do preço que não tem graça comparar com o dos EUA.

Para piorar e muito para Trump, não tem nada no mundo que a China não fabrique. Dizem que até queijo minas hoje é feito lá na terra de Xi Jinping.

Ou seja, a encrenca para os EUA nunca vai ser resolvida com as tarifas maiores, até porque, em última análise, quem vai pagar o bumerangue tarifário serão os consumidores norte-americanos.