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Lula pode demitir Campos Neto se Conselho Monetário Nacional pedir

Luís Costa Pinto – O presidente Lula tem uma carta para pôr sobre a mesa do debate econômico e obrigar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a ter juízo e a parar de açular os amigos e parceiros que mantém no mercado financeiro a tentarem impor cabrestos ao Palácio do Planalto na tentativa de sabotar uma linha de administração macroeconômica mais voltada para o social e para a distribuição de riquezas e geração de empregos: o dispositivo da Lei Complementar 179/2019 que prevê as possibilidades de exoneração do presidente do BC.

A LC 179/19 foi justamente a lei que deu independência ao Banco Central. Em seu artigo 5º, item IV, ela prevê que o presidente da instituição monetária pode ser exonerado “quando apresentarem comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil”. Parágrafo 1º do mesmo artigo 5º da Lei Complementar 179/19 diz que “compete ao Conselho Monetário Nacional submeter ao presidente da República a proposta de exoneração, cujo aperfeiçoamento fica condicionado a prévia aprovação, por maioria absoluta, do Senado Federal”.

Ou seja, se o Conselho Monetário Nacional assim desejar, denuncia a sabotagem de Campos Neto ao presidente da República. O presidente Lula, por sua vez, tem reclamado da postura hostil de Campos Neto. Nomeado para o BC por Jair Bolsonaro, o presidente da autoridade monetária nacional jamais escondeu o orgulho de dizer “de direita”. Durante a campanha eleitoral, fazia reuniões quinzenais de avaliação de pesquisas e de cenários eleitorais (no segundo turno, semanais) e torcia abertamente por Bolsonaro. Campos Neto chegou a participar de eventos de arrecadação de fundos eleitorais para o então chefe.

No próximo dia 16 de fevereiro o CMN se reúne pela primeira vez sob a vigência do terceiro mandato do presidente Lula e já com a configuração adquirida depois da recriação dos ministérios da Fazenda e do Planejamento. Integrado pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, além do próprio presidente do Banco Central, o Conselho tem três votos.

Por 2 a 1, se Haddad e Tebet assim decidirem, ao constatarem postura antirrepublicana e sabotagem e manipulações de dados e do Conselho de Política Monetária (Copom), órgão que define a taxa de juros e dá a linha teórica a partir da qual se pode calcular as metas de inflação que orientam os índices macroeconômicos, o CMN pode denunciar formalmente Roberto Campos Neto ao presidente da República. Lula, caso acate a denúncia, informa ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, o desejo de trocar o presidente do BC por prática de sabotagem (e também por incompetência). Pacheco, que deve a reeleição em larga medida ao Palácio do Planalto, não decide se acata ou rejeita a denúncia: tem de pô-la em votação. São necessários 41 votos (quórum qualificado) para que a demissão do presidente do BC seja aprovada.

Roberto Campos Neto tem se portado como inimigo do governo e personagem hostil às abordagens de Fernando Haddad, do presidente Lula e mesmo da ministra Simone Tebet que desejam debater mais a fundo com ele as razões que indicam uma necessária e gradual redução de juros a fim de reaquecer a economia brasileira. Também não encontraram disposição no BC de Campos Neto para estabelecer metas reais, críveis e atingíveis de inflação. Aos inimigos, a Lei, devem lembrar Haddad e Tebet ao presidente do Banco Central durante a reunião do dia 16 de fevereiro.

Em abril de 2003, antes do início do quinto mês de seu primeiro mandato, sob a liderança do então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, do PT, o governo Lula viu ser aprovada com seu patrocínio uma emenda constitucional que mudou o artigo 192 da Constituição e passou a permitir que o Sistema Financeiro Nacional pudesse ser regulado e regulamentado por leis complementares (quóruns menores) e não por uma Proposta de emenda Constitucional.

Por 442 votos contra apenas 13, a Câmara aprovou a PEC do artigo 192 em dois turnos e remeteu-a ao Senado, onde o então presidente da Casa, José Sarney, esforçou-se pessoalmente pela aprovação. Em razão daquele esforço legislativo, sob inspiração do Executivo liderado por Lula, pôde-se arquiva o esdrúxulo dispositivo constitucional que “tabelava” os juros em 12% ao ano e abriu-se caminho para a modernização e regulamentação do Sistema Financeiro Nacional – inclusive para a instituição dessa independência do Banco Central ser feita por Lei Complementar, e não por Emenda Constitucional (uma PEC com o tema dificilmente passaria dada a necessidade de quórum elevado para tal).

PORTA-VOZES DE CAMPOS NETO NA MÍDIA TRADICIONAL INCOMODAM PALÁCIO

No domingo 6 de fevereiro o presidente Lula registrou, para alguns interlocutores, a edição nada sutil do jornal Folha de S.Paulo, publicação que pertence ao banqueiro Luiz Frias (dono do PagBank e de uma empresa de administração de máquinas e métodos de pagamento). Frias está especialmente incomodado com o anúncio, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de quem ainda no primeiro semestre deste ano será possível usar a ferramenta “pix” para pagamento a crédito – isso representará uma queda de faturamento ainda não calculada naquele que, hoje, é o principal negócio de Frias: o banco.

A Folha de S.Paulo do último domingo levou a seus leitores um editorial e dois artigos de opinião tomando o partido (e as dores) de Roberto Campos Neto nas divergências (e sabotagens) que ele vem promovendo contra o Palácio do Planalto. Além disso, uma reportagem técnica assinada por um jornalista considerado do núcleo de elite da casa, Fernando Canzian, expõe eventuais dificuldades que o Brasil terá para se alinhar com “o resto do mundo” caso siga a trajetória macroeconômica desejada por Lula. Um outro texto, dessa vez assinado pela jornalista Mônica Bergamo, que dispõe de independência interna em relação aos desígnios do dono da publicação, expôs a insatisfação presidencial com a forma como Campos Neto açula o mercado financeiro contra o governo federal.

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Em Lisboa, as feridas abertas de um Brasil abalado

Jamil Chade*

Intervalo entre debates em um hotel de luxo de Lisboa nesta semana. Na mesa do café, um empresário pergunta a outro: “qual é a distância entre Lisboa e o Brasil?”

O interlocutor fez algumas estimativas, detalhou as rotas aéreas entre os dois continentes e, depois de uma pausa, respondeu com um tom filosófico: a ex-metrópole e a ex-colônia nunca estiveram tão próximas.

Será?

Organizado pelo Lide nos dias 3 e 4 de fevereiro, o encontro entre empresários, ministros de diferentes tribunais, banqueiros e políticos em Lisboa debateu os rumos do país, sua democracia e até novas formas de governos.

Mas entre discursos com um otimismo ensaiado, a promessa de que uma nova era estava começando e convites para que estrangeiros desembarquem no Brasil, não houve como esconder a existência do mal-estar de uma nação traumatizada por anos de destruição.

Um país que ainda lida com suas feridas abertas e com as ruínas escancaradas dos ataques contra o estado de direito ou da explosão da fome. Um país que se depara com supostos planos de golpes – na forma de minutas encontradas na casa de um ex-ministro ou na denúncia surreal de um senador.

Ao tomar o microfone, Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho do Magazine Luiza, insistia que não aguentava mais ouvir diagnóstico. “Todos sabemos o que fazer”, disse, em um tom de indignação.

E apresentou à audiência dados reveladores da situação social do Brasil:

  • 79% das casas não tem aspirador de pó;
  • 79% das casas não tem aspirador de pó; 83% das famílias não tem cafeteira; Só
  • 15% das residências têm máquina de lavar roupa automática.

Instantes depois, foi a vez do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, admitir que sua gestão descobriu que não havia sinal de internet para 120 mil alunos em bairros de um dos maiores polos de riqueza do continente.

Instantes depois, foi a vez do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, admitir que sua gestão descobriu que não havia sinal de internet para 120 mil alunos em bairros de um dos maiores polos de riqueza do continente.

Por videoconferência, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, alertou que 125 milhões brasileiros vivem algum tipo de insegurança alimentar, um escárnio para um país que se gaba em dizer que alimenta 1 bilhão de pessoas pelo mundo.

Claudio Castro, governador do Rio, ainda citou ações para tentar impedir que o crime organizado se transformasse em fonte de empréstimos para uma parcela das comunidades mais pobres da capital carioca. Uma nova versão de “shadow-bankin.

Bancos que cobraram dos administradores da Americanas uma nova postura e que permitam que a Justiça elucide o rombo bilionário em suas contas.

Não faltou sequer o ex-presidente Michel Temer dizendo que o impeachment era um “trauma”. Sim, ele mesmo.

O contraste entre a realidade apresentada e a cidade onde a conferência estava sendo realizada ecoava em silêncio pelos salões sofisticados. Bastava abrir as janelas para se deparar com uma uma sociedade que apostou na coesão e distribuição de renda como armas para a paz social.

Para se deslocar de um local da cidade a outro, o grupo contou com batedores abrindo caminho pelas ruas de Lisboa, enquanto atiradores também foram chamados para que fossem colocados em pontos estratégicos. No total, mais de cem agentes de segurança foram mobilizados.

Um excesso de zelo dos portugueses depois dos acontecimento em Nova York contra ministros do Supremo Tribunal Federal ou simplesmente mais um sintoma do que se transformou o Brasil onde o ódio se instalou como estratégia política legítima?.

Ao longo de dois dias, ficou evidenciado que a distância entre Lisboa e Rio não pode ser medida em quilômetros ou em quantidade de voos que ligam dois países. Mas em direitos.

E, por essa régua, há uma verdadeira fossa tectônica entre Brasil e Portugal.

*Uol

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Para quem não lembra, Marcos do Val é aquele gaiato que empregou a namorada no senado com salário de R$ 18 mil

Esse mais recente personagem da vida brasileira parece ter sido extraído de um romance policial.

E não pense que isso, para ele, é desvantagem, ao contrário, jorram jocosidades na vida do Odorico Paraguaçu capixaba, porque, para o sujeito, não existe fronteira para chegar ao ridículo, contanto que o negócio político traga resultados maravilhosos para ele e os seus.

É natural que, depois de produzir um barulho com o seu buraco n’água, que pode lhe custar a cassação e a cadeia, as pessoas acabam por redescobrir o que a história já registrou sobre essa peça.

Para Marcos do Val, o Senado é um poço de petróleo onde jorram oportunidades para qualquer mortal, a começar pelo histórico do senador capixaba que, além de empregar no Senado a namorada com um salário de R$ 18 mil, levou-a para dar um rolé nos EUA, gastando a bagatela de R$ 50 mil de dinheiro público.

O que é isso diante de alguém que abocanhou, via orçamento secreto, segundo o próprio, a bolada de R$ 50 milhões? Mesmo se tratando de um clássico, digamos, pouco nobre senador, para quem foi para o Senado apoiando Sergio Moro para “combater a corrupção”, os derivados de sua empreitada estão longe de serem republicanos.

O fato é que essa cavalgadura que, a serviço de Bolsonaro, pregou uma mentira nacional, é o mesmo que confessa o emprego da namorada, sua viagem com ela aos EUA e o negócio do orçamento secreto em que recebeu essa montanha de dinheiro.

Mas na raiz do seu calcanhar existem outras entidades do mesmo ser, que se diz instrutor da Swat, com direito a desenho rasgando a camisa para mostra logomarca da sigla norte-americana e self mostrando que, de gorducho, virou um senador marombado. Tudo isso em troca de benefícios do governo Bolsonaro. O sujeito ainda, no auge da pandemia, fez parte da criminosa comissão da cloroquina, liderada pelo apatetado e risonho, Carlos Wizard, atualmente dono da rede de lojas Mundo Verde.

Como, ao contrário de do Val que, num único dia, contou mais de seis versões de sua xaropada golpista, falamos, mas provamos.

Confira

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O papo de que o Golpe Tabajara causaria a suspeição de Moraes ignora a lei

Reinaldo Azevedo*

Que Jair Bolsonaro, Daniel Silveira e o senador Marcos do Val andaram tendo conversas perigosas, isso parece, convenham, inequívoco. A tramoia golpista buscaria atingir Alexandre de Moraes para impedir a posse de Lula. Até Flávio Bolsonaro admite que o encontro aconteceu — ele só não viu crime no que foi relatado por Do Val. Pois é… Vê-se que o cara é um advogado não praticante do direito. Ou não diria essa bobagem. Antes que volte ao Plano Tabajara — o “Mito” consegue desmoralizar até golpe de estado, e com isso não nego que seja perigoso —, quero de pronto contestar um troço que andou circulando nesta quinta: o Golpe Tabajara poderia levar à alegação de suspeição de Moraes. Besteira. Será que a defesa de Bolsonaro é assim tão ruim?

Embora negue, Do Val é um bolsonarista militante. Se ele não se sente assim, como disse numa “live”, aí se trata de mero conflito de identidade. Deve procurar um especialista em comportamento. Afinal, ele pensa como bolsonarista, age como bolsonarista, vota como bolsonarista. Nesse caso, o que o senador pensa sobre si mesmo não tem a menor importância. O relevante é o que pensa para os outros. Com esse perfil, todos se perguntam: “Mas que diabo deu na cabeça do rapaz?” Por que fez aquelas revelações? Tem mesmo a sua estranheza, e a justificativa não convence.

Entusiasta da candidatura filogolpista de Rogério Marinho (PL-RN) para a Presidência do Senado, passou a ser tratado como traidor em círculos da direita e da extrema-direita porque teria votado em Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Descontente, afirmou na quarta à noite que já havia concedido entrevista à “Veja”, que viria à luz na sexta, em que relatava a conspiração de Bolsonaro para impedir a posse de Lula e prender o presidente do TSE. O site da revista publicou a matéria na quinta. Como é? Uma corrente de cancelamento nas redes sociais o faria dizer coisa tão perigosa? Chegou até a anunciar a renúncia — e depois renunciou de renunciar…

Como os motivos de Do Val são um tanto obscuros — restaria a fraca suposição de que teria resolvido, abraçar, finalmente, uma boa causa —, logo se levantou a hipótese de o conjunto da obra fazer parte de uma grande tramoia para que a defesa de Bolsonaro viesse a alegar a suspeição de Moraes para atuar em processos que digam respeito a Bolsonaro. Olhem aqui: desconheço os motivos profundos de Do Val e não tenho interesse nenhum em mergulhar em sua psique, mas essa história de suspeição provocada é uma rematada bobagem, que encontra antídoto na lei.

O Artigo 256 do Código de Processo Penal é de uma clareza solar a respeito. Transcrevo:
“Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la.”

Só para lembrar, também o Novo Código de Processo Civil traz a mesma vedação no Inciso I do Parágrafo 2º do Artigo 145, a saber:
§ 2º Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I – houver sido provocada por quem a alega;

Logo, não há a menor hipótese, nem longínqua, de que o imbróglio pudesse resultar numa bem-sucedida alegação de suspeição. De outro modo, imaginem: bastaria a um investigado ou réu provocar, sei lá, uma briga de rua com o juiz e pronto: seria ele a decidir quem conduziria seu processo ou o julgaria.

O ABSURDO

Do Val já mudou a versão sobre o encontro, admitido por Flávio, que manteve com Bolsonaro e Daniel Silveira. No depoimento oficial, disse à PF que o convite partiu do então presidente, mas que este se manteve calado durante o encontro, ouvindo o plano de Silveira: o senador gravaria de forma clandestina uma conversa com Moraes em que este admitiria (?) ter ido além de sua competência no comando do TSE, o que daria motivos para impedir a posse de Lula e para prender o magistrado. “Teria um carro com os equipamentos para fazer a captação do áudio e gravação” — o tal veículo aparece também em seu depoimento à “Veja”.

Mesmo nessa versão mais amena para o fujão, será mesmo que diminui o peso sobre as suas costas? A resposta é “não”. À PF, o senador repetiu o que dissera à GloboNews, mas não na entrevista coletiva: ao pedir um tempo para pensar, depois de supostamente ter alertado para a ilegalidade da operação, o “Mito” lhe teria dito que aguardaria a sua resposta. Ora, isso evidencia, então, concordância com o plano, não desconhecimento.

Mais: ainda que a verdade estivesse com o que o parlamentar afirmou na coletiva — Bolsonaro teria entrado mudo e saído calado —, a obrigação do então chefe do Executivo era chamar a Polícia Federal para dar voz de prisão a Silveira. O encontro aconteceu, confirma Flávio. À diferença do que diz o filho do ex-presidente, a conversa revelava uma tramoia criminosa.

O homiziado de Orlando se manteve em silêncio nesta quinta.

RELATO À VEJA
Nas duas entrevistas que Do Val concedeu à “Veja”, o papel de Bolsonaro na articulação do golpe é muito mais ativo — embora seu silêncio também fosse criminoso se verdadeiro. A revista publica o áudio. Reproduzo parte:

VEJA: De que forma o Bolsonaro falava?
DO VAL: Naturalmente. Igual tava falando comigo. Naturalmente. Ele não entende? Ele é sem noção das consequências.
VEJA: Ele chegou a usar para o para o senhor, falar para o senhor gravar?
DO VAL: Disse, sim. Que o GSI ia me dar o equipamento para poder montar para gravar. Aí eu falei assim, quando eu falei que ‘mas não vai ser aceito’. ‘Não, o GSI já tá avisado’. Quer dizer, já tinha validado a fala comigo. ‘Eles vão te equipar, botar o equipamento de escuta, de gravação e a sua missão é marcar com o Alexandre e conduzir o assunto até a hora que ele falar que ele, que ele avançou, extrapolou a Constituição, alguma coisa nesse sentido.’ Aí ele falou ‘ó, eu derrubo, eu anulo a eleição, o Lula não toma posse, eu continuo na Presidência e prendo o Alexandre de Moraes por conta da fala dele, que ele teria’.”

Não havia um repórter com uma arma apontada para a cabeça de Do Val para que fizesse tal relato.

A conversa por aplicativo entre Silveira e Do Val e a mensagem enviada pelo senador ao próprio Moraes abonam a versão mais gravosa da conspirata golpista. Vamos ver. Caso a investigação aponte que as coisas se deram mesmo da maneira como o parlamentar relatou à Veja, Bolsonaro fica ainda mais perto da Papuda do que antes. O encontro com a cadeia é certo. A marcha parece estar passando por um processo de aceleração. Ah, sim: não há como ignorar que, segundo disse à revista, o GSI era parte da tramoia, o que o general Augusto Heleno nega. Pergunto: teria como fazer o contrário?

“Suspeição de Alexandre?” Não mesmo! A possibilidade já era zero. Agora é negativa ao infinito.

*Uol

*Arte em destaque: O Globo

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Florestan Fernandes Júnior: Profissão Amor

A essência de um ser humano se sobrepõe a sua profissão. Foi isso o que aconteceu com a veterana jornalista Sônia Bridi, que cobria o drama de famílias ianomâmis, vítimas de desnutrição, fome, malária e pneumonia.

Emocionada com a cena desoladora, Bridi abandonou o microfone da emissora para a qual trabalha e acolheu em seus braços uma criança enferma, assustada. Naquele momento, a despeito das câmeras, da matéria jornalística que conduzia, quem estava ali era a Sônia.

Um ser humano diante do apelo irresistível da dor do outro, do outro vulnerável. Era a mulher que oferece o colo, o calor, o aconchego, o afeto que naquele momento tinha a capacidade de salvar.

A potência da imagem seguirá nos impactando, como símbolo de tudo o que pretendemos ser como indivíduos e como nação.

“Ali (reserva Ianomâmi), você sente uma tristeza tremenda, mas também uma revolta, uma indignação, de ver que se permitiu que fosse feito isso no nosso tempo. Pareciam cenas de holocausto” desabafou a repórter em uma entrevista.

Mas a essência do ser humano muitas vezes nos decepciona pela ausência de empatia, pelo preconceito latente, pelo ódio “ao que não lhe é espelho”.

Em 2015 uma outra repórter de televisão se celebrizou pela perversidade. Ficou famosa por chutar e passar rasteiras em refugiados sírios que tentavam atravessar a fronteira da Servia, em direção a Hungria. Entre as vítimas da fúria da jornalista húngara, Petra László, estavam Osama Abdul Mohsen e seu filho Zaid. Os dois foram derrubados e presos pela polícia. O que essa jornalista ganhou ao impedir que pai e filho conseguissem asilo na Hungria? Qual o perigo que um pai e seu filho representavam para a mulher branca e loira? A cor da pele? A religião? A pobreza? O idioma? A cultura? Ou a origem das vítimas, imigrantes sírios?

Petra foi condenada a três anos de prisão, em liberdade condicional. A sentença foi anulada em 2018 pela Suprema corte da Hungria, que considerou a pena já prescrita e que os chutes e rasteiras não caracterizavam crime.

Entre colo e pontapés, entre o amor e a barbárie, nossa civilização segue, cada dia mais polarizada.

Sorte nossa que entre esses dois polos, o exemplo que nos coube foi o de Sônia Bridi e sua manifestação epidérmica de amor. Que após tão longas trevas, seja esse gesto luminoso a nos inspirar na reconstrução de nosso país.

*Florestan Fernandes Jr./247

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Depois de uma frase fascista com ameaça a Lula, Wallace diz que não é fascista

Os fascistas do futuro chamarão a si mesmos de antifascistas.

Essa frase de um desconhecido é a própria cara do bolsonarismo, que vende uma ingenuidade caricatural quando confrontado com uma reação contrária de muita repercussão.

Foi exatamente assim que agiu o jogador de vôlei, Wallace de Souza, que quis sublinhar que era contra a sua própria frase, enquete, publicada um dia antes.

Na verdade, a fuga pela tangente de Wallace o aproxima ainda mais de sua matriz filosófica, que é a de Bolsonaro, de Olavo de Carvalho e, consequentemente, da milícia.

O jogador disse que a frase foi infeliz, mas que jamais colocaria algo assim em prática, quando sugere dar um tiro na cara do presidente Lula, dizendo que nunca faria isso com ninguém, muito menos contra o presidente. Segundo ele, foi isso que o esporte lhe ensinou, pena que ele aprendeu.

Esse fato ocorreu no mesmo dia em que Regina Duarte tratou as crianças yanomamis,  como “essa gente”, frase que certamente assombraria até Hitler e Mussolini.

Mas é nessa paisagem e nesse ambiente que vive o bolsonarismo, que pode ser chamado de fascismo tropical.

No caso de Regina Duarte, sequer se deu ao trabalho de buscar um malabarismo engenhoso para tentar se redimir da perversidade diante de um  ódio armazenado nas figuras sem alma que não aceitam a democracia a partir de uma  simples derrota eleitoral.

Nisso, não há nada de novo, pois é da natureza do fascismo que expoentes dessa doutrina demoníaca adquiram formas monstruosas para impor sua amargura como numa incontinência verborrágica. Porque a ideia central do fascismo é essa mesmo, o ódio ao invés do argumento; a praga no lugar do esclarecimento; e a fuga covarde da própria luz.

Wallace e Regina Duarte têm no ódio ativo a resultante da materialização do que existe de pior nos instintos selvagens de alguns seres humanos.

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Rogerio Marinho não existe, o que existe é o gabinete do ódio tentando sequestrar o Senado para manter acesa a chama do fascismo

É muita inocência achar que Rogério Marinho representa a rivalidade entre direita e esquerda. Não.

Senador que faz campanha ou vota em Rogério Marinho para a presidência do Senado, sabe que está votando em Bolsonaro. Pior, sabe que está votando a favor do genocídio Yanomami.

Não é sem motivos que os deputados e senadores bolsonaristas estão gastando todas as suas energias nesse que seria o monumento do neofascismo em pleno Senado Federal.

Na verdade, Bolsonaro, lá do seu autoexílio, em fuga para não ser preso, tenta fazer brotar aqui em terras brasileiras os mais apodrecidos valores humanos através do seu cão de guarda na presidência do Senado.

Ou seja, Marinho é a materialização de Bolsonaro que promove uma ofensiva contra Pacheco com armamento pesado. E assim o faz em busca por solução para que o fascismo brasileiro não morra de inanição e, consequentemente, Bolsonaro ou qualquer um dos seus perdem completamente a condição fundamental para manter em riste a chama do fascismo.

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De tanto conviver com Bolsonaro, Regina Duarte virou uma pessoa tão monstruosa quanto ele

A megera, ex-secretária de cultura de Bolsonaro, afirmou que as crianças indígenas estão desamparadas por viverem na forma como vivem.

Sua provocação, logo depois que Lula prometeu barrar o tráfego aéreo e fluvial do garimpo ilegal em Roraima, foi a de partir para cima das crianças Yanomamis, ironizando a desnutrição com um desenho cruel, revelando assim a figura maligna que se tornou.

A maldade de Regina Duarte é de gente doente, incurável. Sua perversidade deve ser implacavelmente combatida, jamais ignorada.

O que Regina Duarte ganha insultando às crianças Yanomamis, a liberação dos seus demônios ou a busca pela destruição de sua aldeia?

E pensar que Regina Duarte já gravou vídeo se dizendo com medo do nazismo.

Que o governo Lula proteja mesmo os indígenas de gente má, cruel, invejosa, como a ex-namoradinha do Brasil.

Que nojo! Que asco! Que ojeriza Regina Duarte provoca quando solta seu veneno contra crianças indígenas em estado de absoluta miséria! O fato é que ela ficou tão imunda de alma quanto o porco que chama de Mito.

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Joaquim de Carvalho: Por que Carlos Bolsonaro não prestou depoimento no inquérito sobre o evento de Juiz de Fora?

Os dois estiveram próximos duas vezes. Em Florianópolis, quando Adélio fez curso de tiro. E em Juiz de Fora, quando Carlos se tranca no carro ao ver Adélio.

Uma das lacunas da investigação sobre a facada ou suposta facada em Juiz de Fora é a presença de Carlos Bolsonaro em Florianópolis no mesmo dia em que Adélio Bispo de Oliveira fazia o curso de tiro no .38, em 5 de julho de 2018.

O inquérito não faz referência se Carlos frequentou o .38 naquele dia, mas sua ida à cidade tinha o objetivo de ir ao local, de que era associado fazia três anos e ao qual prestou homenagem, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, conforme mostra o diploma afixado na parede da recepção.

Quando fiz o documentário “Bolsonaro e Adélio – Uma fakeada no coração do Brasil”, perguntei ao .38 se Carlos Bolsonaro esteve no local naquele dia e se havia imagens das câmeras de segurança. Um relações públicas do clube me atendeu, pediu que formalizasse a solicitação por e-mail, o que fiz e não recebi resposta.

Dois representantes do .38 prestaram depoimento no inquérito, o instrutor de tiro e um proprietário, mas não foram questionados sobre a presença de Carlos Bolsonaro. Um deles disse que, nesse dia, Adélio, à certa altura, ficou sentado na poltrona, mexia no celular e olhava sempre para a porta de entrada.

Adélio estava fazendo o curso, pelo qual receberia certificado, e pelas aulas recebidas teria pago três vezes o valor do aluguel do quarto onde vivia. Adélio não tinha arma. Em 7 de setembro, um dia depois do evento em Juiz de Fora, o Jornal Nacional publicou reportagem com entrevista da porta-voz do clube.

“Ele chegou aqui, fez um cadastro, foi acompanhado, após fazer um cadastro e dar a identidade dele, como todo e qualquer cidadão que vem aqui, por um instrutor para a prática de tiro. Esse instrutor fica junto no momento em que a arma é escolhida. Fica junto a todo instante”, disse Júlia Zanata, que, mais tarde, seria nomeada por Jair Bolsonaro para um cargo regional da Embratur em Santa Catarina.

Nas redes sociais, Júlia Zanata se destacou como militante bolsonarista e recorreu à Justiça para tentar tirar o documentário do YouTube, mas não conseguiu. A censura viria por iniciativa do próprio YouTube, alguns meses antes da eleição no ano passado.

O delegado da Polícia Federal Rodrigo Morais, que investigou o caso, disse a membros de sua equipe que havia dificuldade para investigar o entorno de Bolsonaro, mas, em junho de 2021, quando apurávamos o evento de Juiz de Fora, considerava a hipótese do auto atentado “plausível”.

Na época, o Tribunal Regional Federal da 1a. Região analisava a possibilidade de reabertura do inquérito para, em princípio, analisar o celular e o computador apreendido no escritório de Zanone Júnior, que foi o advogado de Adélio.

Ele dizia que, se o caso fosse reaberto, avançaria na investigação, não apenas analisar os arquivos de Zanone. O delegado cogitava pedir autorização do Supremo Tribunal Federal para uma perícia médica em Bolsonaro.

“Ninguém é obrigado a produzir prova contra si, mas eu pediria, para saber se o que provocou o ferimento”, disse a dois agentes da Polícia Federal.

Quando o caso foi reaberto, Rodrigo Morais acabou promovido para um cargo nos Estados Unidos, e quem assumiu a investigação foi o delegado Martin Bottaro Purper, que tinha investigado a facção criminosa PCC.

Algumas semanas depois, o jornal Metrópoles publicou reportagem sobre a linha de investigação: Purper estaria buscando verificar se havia ligação de Adélio com a facção criminosa.

Nunca mais a Polícia Federal tocou no assunto publicamente, mas a notícia gerou barulho na internet. A militância bolsonarista tentava ligar Adélio ao PCC e o PCC a Lula. Puro delírio, mas em época de campanha o barulho poderia ter efeito junto aos eleitores.

Carlos Bolsonaro é chave para eliminar as lacunas do inquérito sobre o evento de Juiz de Fora. Um vídeo publicado no documentário “Bolsonaro e Adélio – Uma fakeada no coração do Brasil” mostra que Adélio tenta se aproximar de Carlos na tarde de 6 de setembro de 2018, logo após a chegada de Bolsonaro ao Parque Halfeld, início da caminhada pelo calçadão.

Ao vê-lo, Carlos Bolsonaro entrou no carro e se trancou. Em entrevista a Leda Nagle, Carlos falou sobre essa aproximação, que ele não poderia negar, já que as imagens tinham se tornado públicas.

“Tem um determinado momento da gravação do meu pai em Juiz de Fora em que eu saio do carro e o Adélio vem na minha direção, e eu, por um acaso, volto no carro e, quando eu entro no carro novamente, ele recua porque viu que não conseguiria chegar até mim. Tem essa gravação. É público, todo mundo consegue ver. Então, eu voltei para o carro e dez minutos depois aconteceu o que aconteceu”, afirmou.

Se, ao se trancar no carro, desconfiou do homem que usava jaqueta preta apesar do calor na cidade, deveria ter alertado os seguranças.

Sobre a presença em Florianópolis no mesmo dia em que Adélio fazia o curso, contou que, naquele dia, não esteve no clube de tiro.

“Esse cidadão chamado Adélio esteve no clube de tiro .38 no mesmo dia em que eu estava em Florianópolis. Por um acaso, naquele dia, eu não fui ao clube de tiro. (…) Aloprei com um amigo meu que temos mais ou menos a mesma personalidade. ‘Não vou praí, vou pro hotel e dane-se. Não fui'”, disse, na mesma entrevista a Leda Nagle.

Se o clube de tiro tivesse atendido à minha solicitação para ver imagens daquele dia, seria eliminada a dúvida sobre o que diz Carlos Bolsonaro: se não esteve mesmo no clube de tiro naquele dia.

Se a Polícia Federal tivesse examinado o deslocamento de Carlos Bolsonaro a partir de seu celular, também se saberia por onde andou em Florianópolis.

Mas, como não investigava a hipótese de auto atentado, o delegado Morais não requisitou as imagens do clube nem examinou o celular de Carlos Bolsonaro.

A Leda Nagle, Carlos Bolsonaro sugere que poderia ser alvo de Adélio, o que não faz sentido. Examinando a rede social dele, é possível verificar que Adélio só começou a atacar Bolsonaro alguns dias depois do curso no .38.

Entrou na própria página de Jair Bolsonaro no Facebook e o ameaçou. Foi a partir daí que também passou a criticar as propostas de Bolsonaro, e reproduziu entrevista antiga, em que Bolsonaro defende guerra civil no Brasil, com a morte de 30 mil pessoas.

São postagens muito diferentes daquelas que vinha fazendo antes de realizar o curso de tiro, em que defende um projeto de lei apresentado por alguns deputados, entre eles Bolsonaro, para a redução da maioridade penal.

Também era favorável ao serviço de militares em projetos de lazer e educação para jovens. Atacou o projeto de lei que criminaliza a homofobia, apoiado por Jean Wyllys, então deputado pelo PSOL, que os bolsonaristas tentariam ligar a ele.

Esse comportamento, sobretudo as contradições, devem ser investigadas, se o que se busca, no caso de Juiz de Fora, é a verdade factual.

*Joaquim de Carvalho/247

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Opinião

Lula: uma mão pesada contra o golpismo; e outra estendida à esperança. Por Boaventura de Sousa Santos

Confiemos no gênio político de Lula, para com uma mão pesada punir os golpistas presentes e futuros, e com outra, solidária, amparar e devolver a esperança ao seu povo.

Dificilmente se encontrará na política internacional um começo tão turbulento de um mandato democrático como o que caracterizou o do presidente Lula.

A democracia esteve por um fio e está salva (por agora), devido a uma combinação contingente de fatores excepcionais: o talento de estadista do presidente, a atuação certa no momento certo de um ministro no lugar certo, Flávio Dino, logo secundado pelo apoio ativo do STF.

As instituições especificamente encarregadas de defender a paz e a ordem pública estiveram ausentes, e algumas delas foram mesmo coniventes com a arruaça depredadora de bens públicos.

Quando uma democracia prevalece nestas condições, dá simultaneamente uma afirmação de força e de fraqueza. Mostra que tem mais ânimo para sobreviver do que para florescer. A verdade é que, a prazo, só sobreviverá se florescer e para isso são necessárias políticas com lógicas diferentes, suscetíveis de criarem conflitos entre si. E tudo tem de ser feito sob pressão. Ou seja, o futuro chegou depressa e com pressa.

O Brasil não volta a ser o que era antes de Jair Bolsonaro, pelo menos durante alguns anos. O Brasil tinha duas feridas históricas mal curadas: o colonialismo português e a ditadura. A ferida do colonialismo estava mal curada, porque nem a questão da terra, nem a do racismo antinegro, anti-indígena e anticigano (as duas heranças malditas) estavam solucionadas. A última só o primeiro governo de Lula começou a enfrentar (ações afirmativas etc.).

A ferida da ditadura estava mal curada devido ao pacto com os militares antidemocráticos na transição democrática de que resultou a não punição dos crimes cometidos pelos militares. Estas duas feridas explodiram com toda a purulência na figura de Jair Bolsonaro.
O pus misturou-se no sangue das relações sociais por via das redes sociais e aí vai ficar por muito tempo por ação de um lúmpen-capitalismo legal e ilegal, racial e sexista, que persiste na base da economia, uma base ressentida em relação ao topo da pirâmide, o capital financeiro, devido à usura deste.

Esta ferida mal curada e agora mais exposta vai envenenar toda política democrática nos próximos anos. A convivência democrática vai ter de viver em paralelo com uma pulsão antidemocrática sob a forma de um golpe de Estado continuado, ora dormente ora ativo. Assim será até 2024, data das eleições norte-americanas, devido ao pacto de sangue entre a extrema direita brasileira e a norte-americana.

A tentativa de golpe de 8 de janeiro alterou profundamente as prioridades do presidente Lula. Dado o agravamento da crise social, a agenda de Lula estava destinada a privilegiar a área social. De repente, a política de segurança impôs-se com total urgência. Prevejo que ela vá continuar a ocupar a atenção do Presidente durante todo o tempo em que o subterrâneo golpista mostrar ter aliados nas Forças Armadas, nas forças de segurança e no capital antiamazônico.

Este capital está apostado na destruição da Amazônia e na solução final dos povos indígenas. A fotos dos Yanomami que circularam no mundo só têm paralelo com as fotos das vítimas do holocausto nazista dos anos de 1940.

Como poderia eu imaginar que, oito anos depois de dar as boas-vindas na Universidade de Coimbra aos líderes indígenas de Roraima (comitiva em que se integrava a agora ministra Sônia Guajajara) e de receber deles o cocar e o bastão da chuva – uma grande honra para mim – assistiria à conversão do seu território, por cuja demarcação lutamos, num campo de concentração, um Auschwitz tropical?

O Brasil precisa da cooperação internacional para obter a condenação internacional por genocídio do ex-presidente e alguns dos seus ex-ministros, nomeadamente Sergio Moro e Damares Alves.

Quando o futuro chega depressa, faz exigências que frequentemente se atropelam.

O drama midiático causado pela tentativa de golpe exige muita atenção e vigilância por parte dos dirigentes. Contudo, visto das populações marginalizadas a viver nas imensas periferias, o drama golpista é muito menor do que:

  • Não poder dar comida aos filhos
  • Ser assassinado pela polícia ou pelas milícias
  • Ser estuprada pelo patrão ou assassinada pelo companheiro
  • Ver a casa ser levada pela próxima enxurrada
  • Sentir os tumores a crescer no corpo por excessiva exposição a inseticidas e pesticidas, mundialmente proibidos mas usados livremente no Brasil
  • Ver a água do rio onde sempre se buscou o alimento contaminada ao ponto de os peixes serem veneno vivo
  • Saber que o seu jovem filho negro ficará preso por tempo indefinido apesar de nunca ter sido condenado
  • Temer que o seu assentamento seja amanhã vandalizado por criminosos escoltados pela polícia.

Estes são alguns dos dramas das populações que no futuro próximo, responderão às sondagens sobre a taxa de aprovação do presidente Lula e seu governo. Quanto mais baixa for essa taxa, mais champanhe consumirão os golpistas e lideranças fascistas nacionais e estrangeiras.

Confiemos no gênio político do presidente Lula, que sempre viveu intensamente estes dramas da população vulnerabilizada, para governar com uma mão pesada para conter e punir os golpistas presentes e futuros e para com uma mão solidária, amparar e devolver a esperança ao seu povo de sempre.
Reprodução/TVT

Boaventura de Sousa Santos é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Autor, entre outros livros, de O fim do império cognitivo (Autêntica) e do recém-lançado Descolonizar – Abrindo a História do Presente (Boitempo).

*RBA

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