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Movimentos populares terão espaço inédito com líderes do BRICS; ‘Momento histórico’, diz Stedile, que representa o Brasil

Pela primeira vez na história do Brics, movimentos populares, organizados no Conselho Popular do BRICS, terão um espaço oficial para apresentar suas pautas diretamente a chefes de Estado do bloco. A iniciativa inédita acontece neste domingo (6), no Rio de Janeiro (RJ), durante plenária da cúpula promovida sob a presidência brasileira do grupo em 2025.

Representantes da sociedade civil terão três minutos para intervir diretamente diante dos presidentes dos países-membros. O brasileiro João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), será o responsável por falar em nome do Conselho Popular do BRICS. Ele estará acompanhado de Raymond Matala, conselheiro pela África do Sul, e Victoria Panova, conselheira pela Rússia.

Além do conselho popular, a presidência brasileira também abriu espaço para a participação da Aliança Empresarial de Mulheres do Brics e do Conselho Empresarial do Brics, que igualmente terão três minutos cada para falas na plenária.

Participação social ganha força sob presidência brasileira
A abertura à participação social na cúpula é parte de um esforço da presidência brasileira do Brics em 2024 para ampliar o diálogo com setores da sociedade civil. Em abril, a presidência já havia promovido um encontro entre representantes populares e os chamados sherpas – diplomatas e negociadores de alto nível que atuam na formulação da agenda política do bloco. Agora, o gesto se repete de forma ainda mais visível, com a inserção das demandas populares diretamente na sessão com os chefes de Estado.

“O encontro é histórico porque consolida um método”, afirmou Stedile ao Brasil de Fato. “Todos estão de acordo que os problemas que os povos enfrentam, sobretudo no Sul Global, não serão resolvidos apenas por iniciativas governamentais. Ou a gente envolve o povo, ou não vamos superar a pobreza e a desigualdade.”

Entre os temas que devem ser levados aos presidentes estão a soberania alimentar, a industrialização dos países do Sul, a taxação de grandes fortunas, o controle dos paraísos fiscais, a desdolarização da economia mundial e o enfrentamento da crise climática por meio de propostas concretas como desmatamento zero e controle da mineração.

A seguir, confira a entrevista concedida por Stedile na véspera do encontro.

BdF: João Pedro, qual a importância do Conselho Popular do Brics? Fazer eventos paralelos com viés popular aos encontros de chefes de Estado está se tornando uma tradição. Foi assim na Cúpula da Amazônia, no G20…

Nós estamos aqui reunidos na primeira reunião, por isso que é histórico, aqui no Rio de Janeiro, do que é o Conselho Popular dos Brics.

Essa possibilidade foi confirmada como regra na última reunião dos presidentes, lá em Kazan. Por iniciativa da delegação russa, eles incluíram no documento essa proposta de que deveria ter um espaço formal constituído por representantes da sociedade civil – no que seria, então, um Conselho Popular dos Brics – que deveria se reunir também com esse mesmo espírito.

Então, aqui no Rio, é agora a primeira reunião que nós podemos realizar. E ela é histórica porque consolida um método. Porque todo mundo está de acordo que os problemas que os povos enfrentam, sobretudo no Sul Global, não serão resolvidos apenas por iniciativas governamentais.

Ou a gente envolve o povo, as organizações populares, as entidades da sociedade civil, ou dificilmente nós conseguiremos resolver os problemas que estão resumidos nos objetivos principais do BRICS como um todo, que são o combate à pobreza, o combate à desigualdade social e o desenvolvimento dos nossos povos.

Como vai ser esse espaço com os chefes de estado no domingo?

Bem, foi escolhido pelo conselho que fossem para a reunião dos presidentes o Brasil, a África do Sul e a Rússia. Acho que, de certa forma, é também uma deferência ao primeiro núcleo inicial dos BRICS.

E nós teremos oportunidade de falar, transmitir as opiniões do conselho aos presidentes, durante três minutos. Parece pouco, mas para defender ideias fundamentais já será suficiente. Lá nós vamos dizer a eles mais ou menos as ideias consolidadas no conselho, que estamos nos reunindo já há muito tempo de forma virtual, e aqui foi de forma presencial.

Primeiro, que nós nos somamos nessa ideia de que o objetivo principal do Brics é o combate à desigualdade social e à pobreza. Mas, para isso, nós temos que criar mecanismos de cooperação científica e tecnológica para industrializar os nossos países. Sem a industrialização, não é possível desenvolver.

Segundo, nós temos que desenvolver políticas de soberania alimentar para combater a fome. Não basta ficar distribuindo alimentos por aí. Cada país, cada povo, tem que ter as condições de produzir todos os alimentos que necessita.

E também diremos a eles que é importante seguir a luta pela desdolarização da economia mundial. Porque os Estados Unidos sempre usaram sua moeda – já que eles têm a maquininha de fazer moeda – como instrumento de exploração.

Eles emitem sem nenhum controle e vêm pelo Sul Global comprando o que quiserem. Então, é um mecanismo de concentração de renda, de espoliação dos nossos bens da natureza e de exploração do trabalho dos trabalhadores de todo o Sul Global.

Também vamos manifestar o nosso apoio à ideia de que tem que aumentar a taxação, tributar os milionários em todo o mundo.

Se houvesse a tributação sobre as 3 mil pessoas mais ricas do mundo, com apenas 2% sobre o seu patrimônio, sobre a sua riqueza, nós recolheríamos mais de 1 trilhão de dólares. Isso seria mais do que suficiente para eliminar a pobreza, eliminar a fome e desenvolver os países.

Nós defendemos o controle dos paraísos fiscais e do sistema financeiro mundial. Não é possível continuar com essa política de juros, como aqui no Brasil e em todo o mundo, que faz com que todo o trabalho das pessoas acabe sendo carregado num funil que vai para o capital financeiro. O grande espoliador do mundo hoje é o capital financeiro.

Vamos dizer que somos contra as guerras. Não é possível continuar essas agressões militares que têm como único objetivo manter o mercado das armas dos Estados Unidos e da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte].

E vamos terminar nossa manifestação dizendo que nós queremos que o conselho tenha uma vida perene, tenha uma formalidade, com secretaria, com recursos.

Pretendemos nos reunir no mês de outubro, na Bahia. Então, realizar uma conferência mais ampla, com 10, 15 delegados de cada país – de todos os países, dos 21 países – e outros que querem entrar, como a Venezuela, como a Colômbia e mesmo a Argentina. O Milei saiu do Brics, mas o povo argentino, não. Então, nós vamos trazer a Argentina também.

E, finalmente, nós vamos pedir apoio para eles. Só os Brics podem parar o genocídio na Palestina. Só os Brics podem ajudar o povo do Haiti, o povo do Sudão, o povo do Congo, o povo do Saara Ocidental, que são os povos que estão sofrendo mais agressões imperialistas nesse momento.

Diante da crise de representatividade dos mecanismos de governança do Norte Global, o Brics adquire ainda mais importância?

Nós estamos vivendo uma crise do capitalismo mundial. E isso trouxe como consequência a decadência do império dos Estados Unidos e a decadência daquele sistema de governança internacional que surgiu da Segunda Guerra Mundial.

Então, ninguém mais respeita a ONU [Organização das Nações Unidas], ninguém mais respeita o FMI [Fundo Monetário Internacional], ninguém mais respeita a FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura]. Nem sequer a agência de controle de armas atômicas, porque Israel tem a bomba atômica e não respeita.

Então, aquela arquitetura de governança mundial que existia no pós-guerra – que foi construída pelas forças que ganharam a guerra – agora está desmoralizada.

O Brics, apesar de ter muitas diferenças entre si, pode ser o espaço para se construir uma nova articulação baseada no Sul Global, que é o único que tem moral e condições políticas de fazer frente a essa crise geral que está aí.

É claro que os países entre si têm muitas diferenças, tanto pela economia, pela cultura, pela tradição diplomática deles. Mas eu acho que é mais do que necessário que se fortaleça o Brics como o único espaço hoje, que poderia ter um papel relevante para superar a crise e propor medidas concretas.

E sobre a crise climática? Vai ser mencionada?

O tema da crise ambiental, que é resultante da crise capitalista, é um grande tema. Nós vamos citar na intervenção. Porém, por ser tão grave e tão urgente, eu acho que nós teríamos que apelar para outras formas.

A COP 30 vai ser uma farsa. Lá vão se reunir os governos. Todas as COPs sempre foram controladas pelos poluidores, que são o Norte, Estados Unidos, a Europa, né? Eles não têm moral nenhuma de falar em meio ambiente. E estão pagando caro — vocês viram, nesse verão lá no Norte, está morrendo gente de calor, mas eles não se conscientizam.

E o Brics, eu acho que ainda não tem um acúmulo de entendimento. Por isso que eu acho que, como movimentos populares, nós teríamos que pensar e propor, quem sabe, outro tipo de iniciativa em nível internacional, que possa sensibilizar os governos, a opinião pública, sobre como fazer um grande mutirão internacional para tentar enfrentar essa crise ambiental.

Como MST, nós temos defendido, com outros movimentos aqui do Brasil, algumas iniciativas bem práticas e objetivas que podem fazer frente.

O primeiro é desmatamento zero. Você, imagine se nós estabelecêssemos no mundo que ninguém mais vai derrubar árvores. Já seria uma grande revolução.

Segundo, o reflorestamento. Temos que reflorestar. O Brasil tem 50 milhões de hectares degradados pela pecuária, pelo agronegócio, e mesmo nas cidades.

Em todas as cidades seria possível plantarmos muito mais árvores, sobretudo nas grandes cidades.

E, terceiro, tem que ter um controle da mineração. Não é possível mais aceitar esse tipo de agressão. A mineração é uma das que mais provocam agressões ambientais, né? Seja pelo garimpo, o mercúrio que é usado, seja pelas grandes mineradoras, as grandes empresas, como aqui no Brasil, a Vale.

Os principais crimes cometidos foram pela Vale, que não pagou nada. Continua, ninguém foi preso. Mataram 272 trabalhadores deles mesmos, e ninguém vai preso. Se alguém assalta aqui e rouba o celular de alguém, vai preso. Agora, matar 272 pessoas, ninguém vai preso.

Então, é preciso controlar as atividades da mineração. Se nós começássemos a difundir esse programa mínimo em todo o mundo — controle da mineração, desmatamento zero e reflorestar o nosso planeta — eu acho que já teríamos um alívio, para não chegarmos ao ponto de retorno zero.

*BdF


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Mundo

Vídeo – Brics: Lula critica insignificância da ONU no primeiro dia de cúpula

Começou nesta sexta (4), no Rio de Janeiro, a Cúpula do Brics 2025, reunião que reúne chefes de Estado, ministros, representantes de bancos centrais e empresários de 37 países, incluindo os 11 membros do bloco, dez países parceiros e convidados internacionais.

Sediado principalmente no Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo, o encontro deve reunir cerca de 4 mil participantes até o próximo domingo (7).

Sob a presidência rotativa do Brasil, o Brics busca, nesta edição se consolidar como um polo alternativo de governança global, com destaque para a defesa do multilateralismo, o uso de moedas nacionais no comércio internacional e o lançamento de um fundo multilateral de garantias, o BMG (Brics Multilateral Guarantee).

Lula e governança global
Na manhã desta sexta-feira (4), durante a cerimônia de abertura da 10ª reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a atual ordem internacional.

Segundo ele, o multilateralismo vive seu pior momento desde a Segunda Guerra Mundial, e a ONU tornou-se irrelevante diante dos principais conflitos do planeta.

“O problema nosso não é nem econômico, é político. Há muito tempo eu não via o mundo carente de lideranças políticas como nós temos hoje. Há muito tempo, não via nossa ONU tão insignificante como ela está hoje”, afirmou o presidente.

ONU e o genocídio em Gaza
Lula também criticou diretamente a atuação do órgão diante do genocídio promovido pelo regime sionista de Israel contra palestinos em Gaza: “Uma ONU que criou o Estado de Israel e não tem capacidade de criar o Estado Palestino. Não é capaz de fazer um acordo de paz para que o genocídio do exército israelense continue matando mulheres e crianças inocentes em Gaza.”

A fala de Lula ocorreu logo após a presidente do NDB, Dilma Rousseff, afirmar que tarifas, sanções e restrições financeiras são utilizadas como “ferramenta de subordinação política”. Também participaram do evento o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e conselheiros do banco.

A reforma das instituições de governança global, como a própria ONU, o FMI e o Banco Mundial, é uma das principais prioridades da presidência brasileira à frente do BRICS neste ano. O tema deverá constar com destaque na declaração final da cúpula, marcada para os dias 6 e 7 de julho.

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*TVTNews


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Economia Mundo

BRICS dominam: bloco já controla 30% da economia mundial e 20% do comércio global

O bloco conta ainda com um banco próprio de financiamento de projetos

O BRICS reúne as maiores economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em 2024, se associaram ao grupo o Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã. Neste ano, houve a adesão da Indonésia. Há ainda os países parceiros, como Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Nigéria.

Ao contrário da União Europeia e do Mercosul, o BRICS não é um bloco comercial. Ele surgiu como uma aliança voltada para o desenvolvimento econômico e a cooperação política entre os países do chamado sul global. Juntos, esses países representam cerca de 40% da população do planeta, mais de 29% da economia mundial e de 20% de todo o comércio do globo, com destaque para combustíveis, minérios e grãos.

O bloco atua em diversas áreas: política e segurança, economia e finanças, além de promover o intercâmbio cultural entre as nações. Os acordos firmados pelos chefes de estado são submetidos aos parlamentos de cada país.

O senador Humberto Costa (PT-PE) avalia que o próximo encontro vai facilitar o trabalho de definição de quais são as políticas prioritárias para cada um dos países membros. “Essa integração entre os parlamentares desses países favorece esse processo de entendimento geral.”

Banco

Em resposta às dificuldades de acesso a recursos do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, o BRICS criou em 2014 o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) com um capital inicial de US$ 50 bilhões para o financiamento de projetos sustentáveis e de infraestrutura nos países membros e nas nações em desenvolvimento.

O NDB, com sede em Xangai, já liberou recursos para financiar 31 iniciativas no Brasil, como usinas solares e eólicas. O Rio Grande do Sul conseguiu uma linha de quase R$ 6 bilhões para a reconstrução do estado após as enchentes no ano passado.

Moeda

Os países do bloco também discutem o uso de moedas locais nas trocas comerciais. E em meio ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos, a aposta é de que essas negociações dentro do BRICS se intensifiquem, como ponderou o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senador Nelsinho Trad (PSD-MS).

“Um debate de alto nível onde vão ser discutidas as questões relativas a esse conflito comercial global, as oportunidades de negócios que vão se abrir para nós. A partir do momento que você fecha uma porta, pode ter certeza que uma janela vai abrir. Abrindo janela é hora de você pegar essa oportunidade e fazer valer as questões principalmente do comércio brasileiro.”

Os países do BRICS também defendem mudanças em organismos internacionais, como as Nações Unidas, e o próprio FMI.

No campo da ciência e tecnologia, eles discutem o uso da Inteligência Artificial, segurança digital, desigualdade no acesso às tecnologias, inovação industrial e até a exploração do espaço, como destacou o senador Astronauta Marcos Pontes, do PL de São Paulo.

“Temos inúmeras possibilidades de cooperação internacional no setor de ciência e tecnologia, agora com o desenvolvimento de tecnologias como Inteligência Artificial e todos os problemas que vêm também, como a segurança cibernética, computação quântica e etc. É um momento ideal para o Brasil poder participar, apresentar suas empresas, verificar o que os outros países estão fazendo e estreitar esses laços.”

Outra área de cooperação do BRICS é a de desenvolvimento sustentável e mudança do clima. O Brasil, que também vai sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30, quer o apoio do bloco no financiamento de projetos que reduzam o aquecimento global.

*Agência Câmara de Notícias

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Economia Mundo

BRICS preparam resposta ao pacote tarifário de Trump

Chanceleres negociam declaração conjunta contra restrições unilaterais ao comércio mundial.

Os chanceleres do BRICS se reunirão no Rio de Janeiro nos dias 28 e 29 para discutir uma resposta conjunta ao pacote tarifário dos EUA, implementado durante o governo de Donald Trump. Além da crise comercial, as discussões incluirão o financiamento para ações contra as mudanças climáticas.

O pacote tarifário, que havia sido suspenso temporariamente, impõe tarifas sobre produtos de quase todos os países, visando proteger a indústria norte-americana, causando quedas nas bolsas e aumentando o risco de recessão. A China, como maior economia do bloco, continua sujeita a essas tarifas.

O embaixador brasileiro, Mauricio Carvalho Lyrio, destacou que o grupo pretende reafirmar seu apoio ao comércio multilateral e criticar as medidas unilaterais. Ele também mencionou a necessidade de fortalecer a Organização Mundial do Comércio (OMC), cujas funções de mediação estão comprometidas desde as ações de Trump em 2019, segundo o Congresso em Foco..

Essa reunião serve como preparação para a cúpula de chefes de Estado do BRICS, agendada para julho no Rio, onde o ministro Mauro Vieira liderará os debates. A reunião busca transformar-se em uma plataforma contra práticas protecionistas, também abordando financiamento climático, o papel do Sul Global no comércio e a reforma da governança internacional, além de apoiar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).

 

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Brasil Mundo

BRICS firmam aliança para enfrentar a fome no mundo

Declaração Conjunta reforça união global por segurança alimentar, com foco em pequenos produtores, sustentabilidade e inclusão social

A Reunião Ministerial realizada na última quinta-feira (17), em Brasília, teve como tema “Promovendo uma Agricultura Inclusiva e Sustentável por meio da Cooperação, Inovação e Comércio Equitativo entre os BRICS”. Ministros e líderes de Agricultura dos 11 países membros aprovaram e assinaram uma Declaração Conjunta, reforçando o compromisso com desenvolvimento agrícola sustentável, segurança alimentar e redução das desigualdades no campo.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, os BRICS representam 54,5% da população mundial, um terço das terras agrícolas e mais de um terço dos recursos de água doce do planeta. O bloco responde por 75% da produção agrícola global e abriga metade das 550 milhões de propriedades familiares existentes.

“Esses dados mostram o papel decisivo dos BRICS na agricultura e na segurança alimentar mundial. Reuniões como esta são espaços privilegiados para diálogo e cooperação”, destacou o ministro Carlos Fávaro.

Segurança alimentar e cooperação emergencial

Inovação e solidariedade movem pacto agrícola do BRICS

O primeiro eixo da Declaração trata da segurança alimentar, com ênfase no acesso equitativo a alimentos de qualidade, especialmente em crises globais. O documento reconhece a importância da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e incentiva o envolvimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e do FIDA em políticas relacionadas, segundo o Cafeziho.

Entre as medidas acordadas estão o fortalecimento de estoques reguladores, investimentos em infraestrutura de armazenamento e políticas de preços mínimos para estabilizar o acesso a alimentos. Em situações excepcionais, como escassez ou alta de preços, os BRICS se comprometem a agir com solidariedade.

Agricultura Familiar e Inclusão Tecnológica
A secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Fernanda Machiaveli, destacou a necessidade de políticas para agricultura familiar. “A tecnologia deve facilitar o trabalho no campo, gerar renda e garantir alimentos saudáveis”, afirmou.

A Declaração propõe parcerias para produção de máquinas adaptadas à agricultura familiar, visando atrair jovens e promover uma transição justa. “Esses produtores sofrem com as mudanças climáticas, mas também podem mitigá-las com práticas sustentáveis”, explicou Machiaveli.

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Brasil

Comércio do Brasil com BRICS atinge US$ 235 bilhões, recorde histórico

O comércio exterior do Brasil nos últimos 12 meses até março totalizou US$ 608 bilhões, o segundo maior valor da história, superado apenas pelo mesmo período até março de 2023, quando havia atingido US$ 610 bilhões.

Foram US$ 337 bilhões de exportação, mais US$ 271 bilhões de importação, perfazendo também um saldo comercial de US$ 66 bilhões.

Apenas para os países dos BRICS ampliado, hoje formado por 22 países (10 membros plenos, mais 12 não plenos), o comércio do Brasil totalizou US$ 235 bilhões nos últimos 12 meses até março, um recorde histórico.

Já o comércio com os EUA, que era superior a 20% no início dos anos 2000, passou a oscilar entre 13% e 14% nos últimos 20 anos.

*Com Cafezinho

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Política

Nove anos após o golpe, onde está Dilma e onde está Bolsonaro

Nove anos após o golpe em Dilma, a presidenta, foi reeleita nesta segunda (24) para o comando do Banco dos BRICS.

Bolsonaro, que em seu voto pelo golpe exaltou o carrasco de Dilma, Brilhante Ustra, estava hoje ali, como um trapo humano no banco dos réus prestes a ser condenado à prisão por tentativa de golpe.

Esse mundo tem mesmo seus caprichos e ironias

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Economia Mundo

Brasil quer propor criptomoeda para facilitar comércio entre países do BRICS sem provocar Trump

Tecnologia blockchain pode tornar transações mais eficazes sem pautar desdolarização.

O Brasil quer aproveitar a presidência rotativa do Brics, que ocupa neste ano, para tentar destravar uma pauta histórica de países em desenvolvimento: a facilitação de transações financeiras internacionais para incrementar o comércio exterior.

A ideia não passa pela criação de uma moeda comum — como chegou a ser aventado pela ex-presidente Dilma Rousseff, que dirige o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), chamado de Banco do Brics — nem tem como objetivo buscar uma alternativa ao dólar nos pagamentos transfronteiriços, apesar de declarações do presidente Lula nesse sentido, dizem integrantes do governo.

A aposta é usar a tecnologia blockchain, base das criptomoedas, para aumentar a eficiência dos contratos de importação e exportação e reduzir os custos dos pagamentos entre os países do bloco, que recentemente ganhou novos membros além dos cinco originais, que são Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul. O bloco atualmente conta também com Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia.

Essa discussão se insere no eixo de facilitação do comércio e investimentos entre os países do Brics, um dos seis temas prioritários da presidência brasileira. Autoridades envolvidas nas discussões afirmam que não é interesse do Brasil ou dos outros integrantes do grupo prejudicar um sistema de trocas internacionais que funciona hoje, ainda que de forma ineficiente e cara.

Garantem também que a proposta não tem ninguém como alvo, tampouco mira antagonizar o presidente dos EUA, Donald Trump.

No seu retorno à Casa Branca, Trump demonstrou irritação com a ideia de o Brics buscar alternativas ao dólar em suas trocas comerciais. E ameaçou com tarifas caso o grupo deixe de lado o dólar, cuja posição como reserva global dá enorme vantagem aos estadunidenses em relação a outros países, inclusive na capacidade de impor sanções financeiras a alguns integrantes do Brics, como Rússia e Irã.

“Vamos exigir um compromisso desses países aparentemente hostis de que eles não criarão uma nova moeda nem apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar americano, caso contrário eles enfrentarão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia dos EUA”, escreveu Trump no fim de janeiro na rede Truth Social, declaração parecida à que deu no Salão Oval em resposta a perguntas de jornalistas.

Uma autoridade brasileira envolvida com o tema diz que o foco do Brasil não é enfraquecer o dólar — muito menos provocar Trump a escalar sua já iniciada guerra comercial — e sim a criação de um sistema seguro e eficiente que permita facilitar o comércio e o fluxo de capital no mundo.

O tema se insere em um contexto mais amplo de reforma da governança global para tornar o sistema financeiro mais propício aos países em desenvolvimento. Ainda não há definição se esse modelo ficaria restrito ao Brics, ou limitado a alguns membros do grupo, ou se seria aberto a outros países.

Só se for “palatável”
O governo brasileiro tem consciência de que essa é uma agenda de longo prazo, mas autoridades dizem que nada impede chegar a um consenso sobre o tema na reunião dos chefes de Estado do Brics deste ano, que acontecerá em julho, no Rio de Janeiro. Vai depender, sobretudo, de se encontrar uma via “palatável” e segura em relação aos EUA.

Nesse sentido, a ideia é aproveitar a experiência das criptomoedas e construir uma estrutura com base na tecnologia blockchain que permita reduzir os custos de transação e aumentar a eficiência nas trocas financeiras entre países.

O assunto é tocado pelo Banco Central (BC), mas também tem participação do Ministério da Fazenda. Segundo O Globo, o BC vem testando tecnologias para colocar de pé o Drex, uma versão digital do real que rodaria em uma rede blockchain. Um dos casos de uso é justamente a facilitação de pagamentos internacionais.

O problema é que o BC está enfrentando mais dificuldades do que o previsto para encontrar uma solução tecnológica que atenda a todos os requisitos de segurança e privacidade. “Conclui-se que é necessário maior aprofundamento para garantir a adequação da plataforma aos requisitos de privacidade, proteção de dados e segurança”, informou o BC sobre a primeira fase dos testes do Drex.

Lula defende alternativa
Outra possibilidade discutida no BC para a facilitação de pagamentos transfronteiriços é por meio de integração de sistemas similares ao Pix. Há dificuldades também em relação à governança de cada país e temores sobre aspectos soberanos.

O tema das transações financeiras já fez parte das últimas reuniões do Brics. Em 2023, após a cúpula realizada na África do Sul, Lula disse que o grupo discutia a criação de uma moeda que possibilitasse trocas comerciais entre os países sem precisar passar pelo dólar.

No ano passado, em participação por videoconferência na cúpula do Brics que ocorreu em Kazan, na Rússia, o petista voltou ao tema. Na ocasião, ainda antes da eleição de Trump, Lula afirmou que a escalada protecionista no mundo reforça a importância de medidas para reduzir os entraves à integração econômica do bloco de países emergentes.

Não se trata de substituir nossas moedas, mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional — disse o presidente, defendendo também que os bancos de desenvolvimento do bloco estabeleçam linhas de crédito entre si em moedas locais para cortar custos de transação para pequenas e médias empresas.

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Política

Guerra comercial: Lula abre duas frentes de batalha contra Donald Trump

Em discurso na reunião de Sherpas dos Brics, Lula afirmou que bloco vai trabalhar “em prol de um mundo multipolar e de relações menos assimétricas” assumindo posição de enfrentamento a Donald Trump no cenário mundial.

Presidente dos Brics, grupo econômico fundado por Brasil, China, Rússia e África do Sul – e que conta atualmente com outros 7 membros -, Lula abrirá duas novas frentes de batalha contra o presidente dos EUA, Donald Trump, que desencadeou uma guerra econômica mundial, com taxação desenfreada de parceiros comerciais desde sua posse, em 20 de janeiro.

Em discurso na abertura da Primeira Reunião de Sherpas (enviados dos países membros) da presidência brasileira do BRICS, nesta quarta-feira (26), Lula afirmou que “neste momento de crise, nossa responsabilidade histórica é buscar soluções construtivas e equilibradas”, em recado a diplomacia unilateral de Trump.

“O BRICS continuará a ser peça-chave para que os ideais da Agenda 2030, do Acordo de Paris e do Pacto para o Futuro possam ser cumpridos. A presidência brasileira vai reforçar a vocação do bloco como espaço de diversidade e diálogo em prol de um mundo multipolar e de relações menos assimétricas. Esses objetivos guiarão nossos trabalhos ao longo deste ano”, disse Lula, que listou os seis eixos principais em que o Brasil atuará na presidência do bloco.

  1. A Reforma da Arquitetura Multilateral de Paz e Segurança
  2. A Cooperação em Saúde como maiores urgências do Sul Global
  3. Contribuir para o aprimoramento do sistema monetário e financeiro internacional
  4. A urgência da crise climática
  5. Os desafios éticos, sociais e econômicos da Inteligência Artificial
  6. O aumento da institucionalidade do BRICS

Na prática, à frente dos Brics, segundo Plínio Teodoro, Forum, Lula vai comandar uma das principais frentes de batalha contra Trump: a desdolarização das transações comerciais entre os países.

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Política

Transações em moeda local e cooperação em saúde: conheça as prioridades do Brasil na presidência dos Brics

Na próxima semana, será realizada a primeira reunião de sherpas dos países membros do bloco, em Brasília (DF).

Transações em moeda local e cooperação em saúde: conheça as prioridades do Brasil na presidência dos Brics
Cúpula do Brics na África do Sul, em 2023 – Ricardo Stuckert/PR

A cooperação Sul-Sul, o fortalecimento do multilateralismo e a reforma do sistema de governança global, além da definição de um calendário de prioridades para a presidência brasileira, farão parte dos debates da primeira reunião de representantes, os chamados “sherpas”, dos países que fazem parte dos Brics, e que ocorrerá em Brasília (DF) entre os dias 25 e 26 de fevereiro.

Na manhã desta sexta-feira (21), o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério de Relações Exteriores (MRE), o embaixador Maurício Lyrio, apresentou os principais temas que farão parte das mesas de diálogo. Desde janeiro, o Brasil assumiu a presidência rotativa do bloco, composto também por Rússia, Índia, China e África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos.

“E uma reunião inicial, dos sherpas, portanto, é a reunião de apresentação das prioridades, de mapear um pouco como será a presidência até a cúpula prevista para 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, mas também depois, porque haverá algumas poucas reuniões no calendário depois. Portanto, essa primeira reunião tem o objetivo de traçar o panorama de como será a cúpula”, declarou o embaixador.

Serão sete sessões, começando pela abertura do encontro, no dia 25 de fevereiro, que terá a participação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e uma segunda sessão especial, com a participação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda a ser confirmada. As cinco reuniões seguintes serão temáticas, listadas a seguir:

Cooperação em saúde

O embaixador Lyrio disse que o principal tema da presidência brasileira à frente do bloco é a cooperação em saúde. Da mesma forma, como o Brasil priorizou o tema do combate à fome na presidência rotativa do G20, no Brics, o país vai propor ações multilaterais para a erradicação das doenças para as quais já existe profilaxia. O tema foi destaque do programa Repórter SUS do Brasil de Fato neste mês.

“O Brasil quer lançar uma parceria global para a erradicação de doenças socialmente determinadas e doenças tropicais negligenciadas, que incidem mais sobre os países em desenvolvimento. Não são a prioridade mais altas da indústria farmacêutica internacionais”, disse Lyrio.

Segundo o embaixador, o Ministério da Saúde brasileiro deverá apresentar aos sherpas estudos sobre a incidências dessas doenças e propostas de ações para o cumprimento da meta. A iniciativa acontece no momento que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a retirada do país da Organização Mundial da Saúde (OMS), um dos principais órgãos multilaterais do mundo, vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU).

Mudanças no clima

Segundo o embaixador Maurício Lyrio, o foco das discussões sobre as mudanças climáticas será o aumento do financiamento dos países ricos voltado a ações de mitigação dos efeitos do aquecimento global nos países em desenvolvimento.

As necessidades globais não são de centenas de bilhões de dólares, são de trilhões. E as necessidades avaliadas hoje são de US$ 1,3 trilhão para o enfrentamento à mudança do clima”, declarou. “O valor de Baku ficou muito aquém disso”, completou o sherpas brasileiro, mencionando o acordo fechado durante a COP 29, na capital do Azerbaijão, em 2024, que estabeleceu a meta de “pelo menos US$ 300 bilhões por ano” até 2035.

Lyrio lembrou que o Brasil sediará a próxima Cúpula do Clima, a COP 30, no segundo semestre deste ano, e nesse sentido, os países do Brics pretendem discutir uma posição conjunta para fortalecer a necessidade de ampliação do financiamento. “Países em desenvolvimento e emergentes não ficaram satisfeitos com o acordo de Baku. Em relação ao financiamento dos países para o enfrentamento à mudança do clima, os resultados foram modestos, então há um interesse dos países do Brics de reforçar a coordenação durante a presidência do Brasil para levar uma posição conjunta sobre a questão de financiamento do combate à mudança do clima.”

*BdF