Previsão é de mais chuvas no Rio Grande do Sul, onde houve pelo menos 31 mortes. Até agora, são 74 pessoas estão desaparecidas.
As chuvas que mataram ao menos 31 pessoas, romperam uma barragem e colocaram várias outras em risco de colapso, além de danificaram estradas no Rio Grande do Sul, vão se prolongar, indica o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O balanço divulgado pelo Governo do Rio Grande do Sul no início da manhã desta sexta-feira (2/5) contabiliza que 235 municípios foram afetados de alguma forma pelas chuvas, resultando em 351.639 mil indivíduos impactados. Há 7.165 pessoas em abrigos, e o número de desalojados chega a 17.087.
Até então, há 56 pessoas feridas, 74 desaparecidas e 31 mortes. A localidade com mais óbitos é Gramado, com quatro registros. Os 18 demais municípios têm duas ou uma morte.
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), esteve entre a manhã e o início da tarde de quinta-feira (2/5) no RS. No município de Santa Maria, Lula disse que o apoio financeiro à população afetada será garantido.
“A gente não vai permitir, como não permitimos no Vale do Taquari, como não permitimos quando houve a seca aqui no Rio Grande do Sul, que faltem recursos para que a gente possa reparar os danos causados”, disse Lula.
A cabeça de direita é binária. A economia, entregue por FHC, não era diferente.
A leitura profética de que Lula não governará, como aposta Mônica Bergamo não é novidade.
Há muitos registros na mídia dos dois mandatos anteriores de Lula.
A incumbência desse tipo de “leitura” da direita é criar pânico na classe média. Aliás, uma direita, que se encontra hoje aos cacos tem que viver de fábulas futuras e mapeamento de uma torcida pelo caos. Economia não é a arte do imediato, portanto a leitura, mesmo que especulativa esta carregada de desejos.
Não que eu ache que a Mônica torce contra Lula, mas seus informantes, sim. Para fabricar vertigens nesse meio dos amargurados, basta cruzar os dedos e dizer, tá amarrado que o selo da derrota está colado para sempre.
Essa gente do “é verdade esse bilhete”, trata a vida nacional como uma novela escrita para o público dela. Nesse meio, o Jornalismo está totalmente contaminado por um sentimento de revanche. Nada se baseia em estudos, muito menos em visão de país. Tudo é jogado na praça pelas línguas de trapo sediados nas catedrais da Faria Lima, espalhadas pelo país.
Não se trata de um conselho para a direita não fazer apostas trágicas, pois essa gente sabe que nunca deu certo contra Lula.
E não me venham com essas narrativas de que Lula, nos seus dois primeiros mandatos, pegou ventos a favor.
Isso é de um primarismo inacreditável, mas que, em parte, explica a tragédia política que a direita vive, a pior de sua história no Brasil.
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“Desde que entrei na vida pública, nunca vi nada parecido”.
“A impressão que se tinha é de que não havia gestão e que tudo era decidido aleatoriamente”.
“Há documentos desaparecidos, há apagões de dados que sempre existiram em governos anteriores e há rombos financeiros inexplicáveis”.
“Nem isso dá para saber, simplesmente não existe registro de nada”.
Questionado se a questão deve ser tratada como corrupção.
“Os dados dão a entender que o governo Bolsonaro aconteceu na Idade da Pedra em que não havia palavras ou números”.
“Há sistemas governamentais que não são abastecidos desde 2020 e ninguém tem explicação”.
“A verdade é que o governo Lula não tem como saber o que precisa ser feito com base nos indicadores porque eles não existem. A política pública terá que ser criada do zero”.
“Tudo terá que ser feito no feeling e, possivelmente, haverá muitos erros por culpa da falta de dados”.
“O desempenho do governo Bolsonaro foi tão ruim que qualquer trabalho mais ou menos será melhor. Não é difícil superá-lo”.
*IG – Último Segundo
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As sanções de grande envergadura impostas por Washington contra a Rússia no contexto dos acontecimentos na Ucrânia afetarão a economia dos EUA e causarão nela o “caos absoluto”, disse à Sputnik Richard Black, representante do Instituto Schiller em Nova York.
Respondendo à questão se as sanções afetariam a economia dos EUA, ele disse que “sim, é exatamente isso. Os cidadãos americanos têm lutado nestes últimos anos contra o empobrecimento, o declínio dos padrões de vida, desaparecimento da classe média e, nos últimos meses, a hiperinflação e os preços das matérias-primas e dos combustíveis têm apenas aumentado”.
“A cessação do comércio mundial normal, desencadeada pelas sanções impostas por indicação dos EUA, provocará o caos absoluto na economia dos Estados Unidos”, sublinhou Black.
Segundo ele, tendo em conta a conexão entre os bancos ocidentais e a economia russa, será possível enxergar “um colapso, uma explosão do sistema financeiro ocidental como um todo, o que será bastante monstruoso”.
“A alternativa à qual nós [o Instituto Schiller] apelamos são negociações sobre um novo paradigma econômico de cooperação produtiva entre o Oriente e o Ocidente, entre os EUA e a Europa por um lado e a China, Rússia e as economias asiáticas em crescimento por outro”, observou especialista.
Na semana passada, o presidente dos EUA Joe Biden anunciou que o seu país proíbe importações de petróleo russo e de outras fontes de energia provenientes da Rússia.
Esta decisão agravou ainda mais a atual situação dos preços de petróleo, que têm vindo a aumentar ao longo das últimas semanas e ultrapassaram os US$ 100 (cerca de R$ 513) por barril.
Enquanto Washigton tenta mudar com implementação de sanções econômicas o rumo da política russa, as pessoas nos EUA têm estado a sentir consequências na pele, já que o preço de varejo da gasolina em 8 de março atingiu um máximo histórico superior a US$ 4,17 (R$ 21,4) por galão.
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Bolsonaro, aquele que tem medo de ser preso, promove o caos no país.
IPCA de agosto superou todas as estimativas e bateu em 0,87% em agosto e 9,78% em 12 meses. Preços vão subir mais com o desabastecimento causado pelo locaute de caminhoneiros.
(Reuters) – Caminhoneiros mantinham paralisações em 15 Estados na manhã desta quinta-feira, mesmo após a divulgação na noite da véspera de um áudio do presidente Jair Bolsonaro pedindo a desmobilização do movimento e a liberação dos locais onde há bloqueio.
A autenticidade da fala de Bolsonaro, que tem nos caminhoneiros importante base de apoio, foi confirmada pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
De acordo com boletim divulgado pelo Ministério da Infraestrutura às 8h30 no Twitter, havia registro de concentração em 15 Estados e, segundo a pasta, não havia interdição de pista na malha rodoviária federal, exceto pelo causado por um protesto pela causa indígena na BR-174, em Roraima.
Na rodovia Régis Bittencourt, na altura de Embu das Artes (SP), caminhoneiros bloquearam completamente a pista por volta das 3h, mas o tráfego foi liberado às 7h30.
De acordo com o ministério, as concentrações de caminhoneiros aconteciam em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Rio de Janeiro, Rondônia. Maranhão, Roraima, Pernambuco e Pará.
Na noite de quarta, Bolsonaro enviou áudio pedindo que seus apoiadores desmobilizassem os protestos, alegando que a manifestação poderia agravar a alta da inflação e a situação econômica já frágil do país –a crise tem se refletido nos índices de popularidade do presidente apontados em pesquisas de opinião.
“Fala para os caminhoneiros aí, são nossos aliados, mas esses bloqueios aí atrapalham a nossa economia, isso provoca desabastecimento, inflação. Prejudica todo mundo, especialmente os mais pobres. Então dá um toque aí nos caras, se for possível, para liberar, tá ok, para a gente seguir a normalidade”, disse o presidente em um áudio enviado por mensagem a interlocutores da categoria.
Pouco depois, em vídeo divulgado nas redes sociais, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, confirmou a autenticidade do áudio de Bolsonaro.
“O áudio é real, é de hoje, e mostra a preocupação do presidente com a paralisação. Essa paralisação ia agravar efeitos na economia de inflação que ia impactar os mais pobres, os mais vulneráveis”, disse Tarcísio.
Motoristas que não fazem parte do movimento foram coagidos a parar na estrada sob ameaças.
“Na verdade me obrigaram a parar aqui. Aí furaram o meu pneu e estou aqui esperando chegar o socorro”, disse Bruno Rodrigo dos Santos, na Régis Bittencourt.
“Eu estou revoltado, se fosse uma paralisação que tivesse algum benefício, mas não, estão prejudicando os próprios irmãos de estrada. Estão deixando a gente no prejuízo, isso não é uma coisa certa de se fazer, se fosse para fazer, que fosse pacífico.”
“Deixa com a gente aqui em Brasília agora. Não é fácil negociar, conversar por aqui com outras autoridades, mas a gente vai fazer a nossa parte, vamos buscar uma solução para isso, tá ok? E aproveita aí e da um abraço em meu nome em todos os caminhoneiros, tá ok?”, disse o presidente.
Antes de se tornar mais um risco para o governo, o movimento dos caminhoneiros foi usado por bolsonaristas como o cantor Sérgio Reis como uma ameaça de parar o país para que reivindicações do grupo fossem atendidas. Em um vídeo, Reis foi filmado dizendo que os caminhoneiros iriam parar o país até que o Senado aceitasse o impeachment de Alexandre de Moraes.
*Com informações do 247
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O caos no aeroporto de Cabul que fez pelo menos 20 mortos desde o domingo passado ameaça agora deixar o Afeganistão sem o abastecimento de remédios e alimentos, aprofundando uma crise humanitária de proporções inéditas nos 40 anos de guerras no país e, de fato, isolando milhões de pessoas sob o regime do Talibã.
Diante desse cenário, a OMS e a Unicef fizeram um apelo para que um acesso imediato seja assegurado para fornecer medicamentos, alimentos e outros materiais que salvam vidas a milhões de pessoas, incluindo para 300 mil pessoas deslocadas somente nos últimos dois meses.
O aeroporto se transformou numa espécie de espelho do caos vivido pelo Afeganistão, depois que o grupo fundamentalista avançou sobre a capital e levou milhares de pessoas a tentar fugir. O uso de jatos comerciais foi suspenso e, agora, os estoques de remédios e alimentos dão sinais de esgotamento.
“Embora o foco principal nos últimos dias tenha sido as grandes operações aéreas para a evacuação de afegãos, as enormes necessidades humanitárias enfrentadas pela maioria da população não devem – e não podem – ser negligenciadas”, declararam as entidades.
Mesmo antes dos eventos das últimas semanas, o Afeganistão representava a terceira maior operação humanitária do mundo, com mais de 18 milhões de pessoas necessitando de assistência. Metade das crianças está desnutrida e o número de pessoas que depende de ajuda para sobreviver quadruplicou em cinco anos.
Tanto a OMS como a Unicef insiste que estão comprometidas a permanecer e a entregar ajuda ao povo do Afeganistão. “Entretanto, sem aviões comerciais atualmente autorizados a aterrissar em Cabul, não temos como conseguir suprimentos para o país”, indicaram as organizações.
Ponte aérea humanitária
O sistema da ONU negocia neste momento a criação de uma ponte aérea humanitária para a entrega de ajuda ao Afeganistão.
“Conflito, deslocamento, seca e a pandemia da COVID-19 estão todos contribuindo para uma situação complexa e desesperada no Afeganistão”, alertaram.
“As agências humanitárias precisam ser apoiadas e facilitadas para atender às enormes e crescentes necessidades do Afeganistão, e garantir que ninguém morra desnecessariamente devido à falta de acesso à ajuda”, completaram.
Antes da tomada de Cabul pelo Talibã, a ONU havia recebido das grandes potências apenas um terço dos recursos que solicitou para atender aos 18 milhões de afegãos em crise humanitária.
*Jamil Chade/Uol
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Como Bolsonaro sabe perfeitamente o tamanho do fracasso do seu governo para a imensa maior parte do povo brasileiro, que sente que a vida piorou muito nesses últimos dois anos, e que ocupa um bom lugar na fileira dos fracassados, pior do que Temer, ele não faz outra coisa, senão passar o tempo todo usando a mídia com assuntos delirantes de diferentes moldes. Tudo para desviar a atenção de uma mídia que já não tem qualquer talento para discutir a realidade nacional e, assim, viver de retóricas absolutamente viciadas.
Bolsonaro, todos sabem, não tem rigorosamente nada para apresentar como resultado positivo em dois anos e meio de governo. O desemprego bate recorde sobre recorde, a inflação, sobretudo dos alimentos, já é escandalosa. Assombra cada vez mais a quantidade de tetas que ele criou em seu governo para hospedar mais de 7 mil militares, com uma série de regalias e privilégios, além do caos econômico e social em que enfiou o Brasil sem que se tenha qualquer perspectiva de melhora.
Na realidade, essa mídia pode até ser contra Bolsonaro, mas é a favor de Guedes.
Bolsonaro cria a teoria da conspiração com personagens místicos, ameaça golpes de cinco em cinco minutos, blefa sem parar e, além do genocídio que provocou no país, tenta esconder o mar de corrupção do seu governo enlameado com o que existe de pior. Ele tenta se agarrar a qualquer coisa para não piorar uma situação que já está pra lá de insustentável.
A paisagem brasileira hoje é de supermercados, lojas, indústrias quebrados, falidos. Famílias inteiras jogadas ao relento por culpa da política nefasta de Paulo Guedes que deu continuidade ao projeto do nefasto, golpista, Michel Temer, o homem escolhido para fazer o serviço sujo da oligarquia para Bolsonaro dar prosseguimento.
Do lado da sociedade, ninguém mais aguenta assistir na TV comentaristas e muito menos ler colunistas dos jornalões que vivem dando uma no cravo, outra na ferradura, justamente porque Bolsonaro foi eleito por essa mesma mídia e cumpre uma agenda neoliberal de quem ela patrocinou quando promoveu uma campanha não simplesmente contra os governos do PT, mas contra o próprio povo brasileiro.
O resultado é isso que vemos, o diversionismo de Bolsonaro a todo minuto e uma mídia que não para de reproduzir e discutir as bobagens disparadas pelo insano que levou o país a essa situação absolutamente trágica.
Não é pouca coisa. O resultado dessa pesquisa é somente o prenúncio do que está por vir, e não vai demorar muito, até porque ninguém suporta mais o caos que se instalou no Brasil com Bolsonaro sentado na cadeira da presidência. Isso acontece em todos os setores, mas a saúde vem em primeiríssimo lugar com o morticínio promovido por esse governo sem classificação. Sua queda não vai demorar. Que governo pode prevalecer quando 70% da população o consideram corrupto?
As cenas na televisão estavam tão impressionantes que a enfermeira Márcia Alexandrina Carvalho Kumar, moradora de Lucknow, na Índia, precisou ver com os próprios olhos para acreditar.
“Passamos de carro na área do crematório e a visão é indescritível. São piras e mais piras [de corpos]. É uma coisa surreal. Se me contassem, eu não acreditaria”, descreve a brasileira, que vive há mais de 20 anos no país, novo epicentro da pandemia de covid-19.
O aparecimento de variantes mais contagiosas no território indiano fez o número de vítimas disparar de maneira descontrolada. Dia após dia novos recordes de mortes são batidos, chegando a 3.689 no último sábado (1°). Os crematórios das grandes cidades não conseguem dar conta da alta da demanda.
“Os governantes tentam esconder o número de pessoas cremadas. Mas como você faz para encobrir uma pira enorme que está queimando? São centenas por dia. As pessoas fazem filas com os seus mortos na rua, sentadas no chão, debaixo de um calor de 40 graus”, conta Marcia, de 52 anos.
“Os mortos não poderiam estar expostos ao calor porque estão apodrecendo. Eu não tenho nem palavras para descrever.
A situação está fora de controle”, declarou. A situação mais crítica encontra-se em Nova Délhi e Mumbai, onde faltam leitos, medicamentos e os cilindros de oxigênio são vendidos a preço de ouro nos hospitais.
“A pandemia é uma lente de aumento para problemas que sempre existiram aqui, só que agora, a coisa explodiu.” Márcia interrompe o depoimento para conter a emoção. “O sistema de saúde indiano entrou em colapso total. As pessoas estão desesperadas. Quando elas conseguem oxigênio, ouvem um ‘boa sorte’ porque quando acabar aquele cilindro, não terá mais – e não tem mais para onde correr para conseguir.”
Distanciamento social na Índia “é impossível”
Do outro lado do país, a tradutora Layla Correa Mishra, de 43 anos, percebe que a segunda onda avassaladora de covid-19 está se aproximando de Kota, na região do Rajastão, noroeste da Índia. Os hospitais ainda têm vagas e o governo regional adotou um lockdown parcial, partir das 11h, para tentar evitar o pior.
“Tudo fecha e você só encontra vendedores de legumes ou de leite nas ruas. Isso gera aglomerações. O distanciamento aqui na Índia é impossível: é muito populoso, tudo tem muita gente”, afirma a carioca, que trocou o Rio de Janeiro pelo país asiático há cinco anos.
“Os trens, metrôs e templos estão sempre lotados, com muita gente sem máscara. É um caos. No Brasil, os meus pais nem querem ver televisão porque estão apavorados com a situação aqui. Mas se você parar para pensar na proporção de pessoas que tem aqui e no Brasil, a situação das mortes lá está muito pior”, compara Layla.
A explosão de internações e mortes em Manaus por covid-19 nos últimos dias fez os brasileiros assistirem novamente o caos causado pelo novo coronavírus. Apesar de a pandemia ter começado, lá no começo de 2020, por Rio de Janeiro e São Paulo, foi o Amazonas, com seu frágil serviço de saúde, a enfrentar colapso de saúde e funerário.
A pergunta inevitável para o restante do país é: isso indica que teremos uma repetição do comportamento da epidemia nos demais estados do país onde o vírus demorou mais a chegar na primeira onda?
Especialistas ouvidos por VivaBem afirmam que há, sim, semelhanças com o cenário de fevereiro do ano passado, mas com alguns agravantes como a falta de medidas de isolamento social e a nova variante circulando no país.
“A sensação que eu tenho é que está se repetindo, sim, só que com uma velocidade maior. Manaus colapsou mais rápido agora do que da primeira vez”, diz Miguel Nicolelis, cientista e presidente do Comitê Científico do Consórcio Nordeste.
Manaus e a repetição do caos No caso de Manaus, o crescimento no número de internações e mortes chama a atenção quando comparados com a primeira onda. Na quarta-feira (6), foram 110 sepultamentos nos cemitérios da capital. Dez dias antes, esse número não era nem metade: foram 52 enterros em 28 de dezembro.
O número de pessoas que precisaram de internação seguiu o mesmo padrão: saltaram de 76 para 221 (maior número já registrado até aqui). A alta nos dois casos não encontra precedentes com o primeiro momento da pandemia.
Manaus foi a primeira cidade do país a registrar um colapso na saúde pública pela covid-19. Em 5 de abril, o então prefeito Arthur Virgílio reconheceu a calamidade e fez um apelo por ajuda em todos os níveis. “Não podemos ver mais pessoas diariamente sacrificadas por falta de capacidade de atendimento”, disse à época.
Mas se seguir o ritmo atual, o número de mortes pode superar aqueles enfrentados no pico da primeira onda. “Se por um lado ainda não tem tantos casos confirmados, como no final de abril e início de maio, claramente temos um excesso de internações, com vários hospitais lotados, inclusive na rede privada, e também um aumento de óbitos”, afirma Felipe Naveca, virologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia. “Tudo indica que vamos viver aquele cenário catastrófico novamente.”
Os hospitais de Manaus, por sinal, estão completamente lotados e há relatos de pacientes na espera por atendimento. Na rede pública, 271 dos 289 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) tinham pacientes na quarta-feira. Na rede privada, 194 dos 205 leitos também estavam ocupados.
Naveca está à frente de pesquisas sobre o novo coronavírus no estado e diz que ainda é impossível responder se as reinfecções ajudaram a ampliar o número de pessoas pegando —novamente— o vírus . “Junto com a FVS [Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas] estamos investigando possíveis casos suspeitos. Mas certamente esse novo aumento de casos nos mostra que a indicação que Manaus havia chegado a um estado de imunidade de rebanho era uma afirmação desprovida de sustentação científica e que, aparentemente, fez mais mal do que bem”, pontua, citando a campanha eleitoral nas ruas como a maior culpada pela alta.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde do Amazonas informou que o estado ainda não confirmou nenhum caso de reinfecção de covid-19.
Ana Brito, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco e professora da UPE (Universidade de Pernambuco) na área de epidemiologia, admite que a situação do Brasil é preocupante principalmente pela falta de coordenação nas medidas de controle da circulação do vírus no país —o que fez o país nunca encerrar uma primeira onda.
“O cenário que assistimos no nosso país é extremamente dramático. Desde o início da pandemia, em nenhum momento tivemos qualquer ação ou política de estado coordenada nacionalmente e articulada nos três níveis de governo. Com ações fragmentadas, sem uma ampla campanha de saúde pública, o Brasil assiste a disseminação progressiva da transmissão do vírus em todo o seu território, resultando numa permanência de casos e óbitos em patamares elevados”, avalia.
Ela ainda lembra que a confirmação da chegada da nova variante do coronavírus no país pode agravar o cenário de forma ainda mais rápida. “Sem uma política de enfrentamento; sem sequer apontar para um esforço de vacinação; com o esgotamento das medidas de isolamento social; e ainda sob a ameaça real de uma nova variante do Sars-CoV-2, a situação que estamos assistindo em Manaus e no Rio neste momento é apenas uma antecipação do que devemos assistir no restante dos grandes centros urbanos do Brasil, caso não se mude nada nos próximos dias”, pontua.
Nicolelis analisou também o cenário recente das demais capitais do país e viu números críticos em muitas delas. “São Paulo, Rio, Campo Grande, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis estão, por exemplo, com alta muito maior que na primeira onda. No Nordeste, tirando São Luís, oito estão com tendência de crescimento, e três delas em ritmo maior que na primeira onda”, completa.
Uma diferença que ele cita da primeira onda é que os casos estão crescendo em todas regiões ao mesmo tempo. “Essa questão é o diferencial da primeira onda. Antes você teve um escalonamento, demorou um tempão para chegar no Sul, no Centro-Oeste, no interior de Minas. Agora a transmissão comunitária está no país inteiro, é um crescimento síncrono. Por isso precisamos pensar em um lockdown nacional, como a Inglaterra fez”, diz.