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Domínio da fé e da política: o projeto de poder dos líderes evangélicos no Brasil

Sucesso de candidatos ligados à Igreja não se deve somente ao aumento do número de fiéis na sociedade brasileira.

São quase sete e meia da noite em uma das unidades da Igreja Pentecostal Deus é Amor, na região central de São Paulo. Depois de uma chuva intensa, os fiéis demoram a chegar. Enquanto o culto não começa e os irmãos não chegam, Serafina Ribeiro, de 36 anos, anda de um lado para o outro, colocando as coisas nos lugares, passando um pano úmido no chão, limpando os ventiladores e sorrindo para quem adentra ao espaço.

Empregada doméstica, ela está ali há quatro anos, desde que passou por um processo de depressão depois da morte da mãe, na Bahia, enquanto Serafina vivia em São Paulo – chegou na capital paulista acompanhada de sua patroa, com quem sempre morou. Na Igreja, sentiu o “amor de Deus”, parou de sentir angústia e se sente “curada”.

Serafina é o rosto evangélico brasileiro: mulher, negra e de baixa renda. Na Igreja relativamente pequena, se comparada ao Templo Salomão da Igreja Universal, a maioria ali presente confirmou o que levantaram os dados de uma pesquisa de janeiro de 2020, do Instituto Datafolha: um rosto feminino, negro, que ganha até dois salários mínimos por mês e tem apenas o ensino médio completo é rosto da religião evangélica hoje.

Bem diferente, no entanto, é o perfil dos líderes evangélicos que decidem atuar na esfera política, seja nos bastidores ou sob os holofotes.

Um exemplo é o pastor Edir Macedo. Líder da Igreja Universal do Reino de Deus, fundada no terreno de uma antiga funerária, em 1977, no Rio de Janeiro, ele tem uma fortuna declarada de aproximadamente R$ 2 bilhões, segundo a Revista Forbes. Ele foi um dos apoiadores da campanha de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018. Resultado: cerca de 70% dos evangélicos declararam voto no candidato abençoado da extrema-direita.

A presença de evangélicos na política não é de hoje, mas cresce de forma exponencial. De 1982 para cá, o número de parlamentares declaradamente evangélicos passou de 12 para 90, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). A mudança se explica parcialmente pelo aumento vultoso da população evangélica no Brasil, que, no mesmo período, passou de 7,8 milhões para 26,2 milhões. Mas não é só isso.

Um projeto de poder

Especialistas e evangélicos ouvidos pelo Brasil de Fato explicam que o avanço dos evangélicos sobre na política responde a um projeto de poder, instigado pelos líderes religiosos e em aliança com a direita brasileira.

“Com o crescimento dos evangélicos, muitos mais se apresentarão para a política partidária. Isso é natural e esperado. Com a Universal, no entanto, isso mudou”, afirma o pastor Ariovaldo Ramos, de 64 anos, líder da Comunidade Cristã Renovada e um dos coordenadores nacionais da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, formada em 2016. Para ele, a igreja de Edir Macedo se transformou em uma “agência política”, com uma lógica de lógica de ascensão ao poder.

Em 2008, o pastor Edir Macedo publicou o livro “Plano de Poder”, citando Maquiavel, apresentando Deus como um estadista e Adão e Eva como elementos de um estado de natureza ou de selvageria. “Os cristãos precisam despertar ao toque da alvorada. (…) A emancipação começa com o amadurecimento individual, o inconformismo com certas situações, o consenso em um ideal e a mobilização geral.”

Dez anos depois, nas eleições de 2018, o plano de poder estava em pleno andamento: foram os pastores, apoiados por candidatos da direita, que levaram parte da população brasileira para as ruas, defende o pastor Ariovaldo Ramos. Aqueles que melhor souberam surfar a onda do crescimento dos evangélicos foram as siglas de direita e extrema direita.

“É a religião que mais cresce no Brasil e na América Latina e que se cola muito bem a esse projeto de direita que passa pela questão moral e pelo conservadorismo”, afirma Andrea Dip, jornalista e autora do livro “Em nome de quem?: A bancada evangélica e seu projeto de poder”.

Como parte da apuração para o livro, em 2015, Dip foi assistir a um culto evangélico no Congresso Nacional, quando Dilma Rousseff (PT) ainda era presidente. “Até então não sabia que ocorriam cultos evangélicos nesse espaço. O Eduardo Cunha estava lá orando, com a Bíblia na mão. Ali eu percebi que havia um projeto de poder se desenvolvendo.” Entre os valores evangélicos e os da direita, nasceu a esteira necessária para o desenvolvimento desse projeto de poder.

O pastor Ariovaldo Ramos relata a participação de evangélicos na política partidária desde o fim da ditadura militar. As Igrejas Evangélicas, no entanto, tendiam a se manter distantes da lógica partidária. “Nunca passou pela lógica evangélica assumir o poder, influenciar na política. Até porque a fé protestante é a que mais atuou na construção do Estado laico, justamente porque é um cristianismo tardio, que vai ser perseguido, na Cortina de Ferro e, depois, no mundo islâmico”, afirma.

A lógica, entretanto, passou a entender que “era preciso estar no poder para garantir o avanço da fé, principalmente por causa das perseguições”. Com a chegada da Teologia da Prosperidade, explica Ramos, a mudança seria inevitável. Agora, “se você foi eleito por Deus, você tem prosperidade econômica. Aí virou a coluna que você vê na mensagem da Universal e de todas as neopentecostais. Isso é o ovo da serpente, criou um ambiente que nós temos hoje”.

Por que o número de evangélicos cresce tanto?

De acordo com Marcos Fernandes, doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, para entender o que levou o número de evangélicos a aumentar tanto, é necessário estudar as mudanças ocorridas na sociedade brasileira nas três últimas décadas ligadas à precarização da vida da classe trabalhadora.

“Diante disso, o que as igrejas oferecem para as pessoas? Primeiro, a possibilidade de pertencer a uma comunidade. As Igrejas funcionam como um centro cultural nas periferias. Se um jovem quer aprender a tocar algum instrumento, por exemplo, vai para a Igreja Universal do Reino de Deus”, que, atualmente, têm cerca de 15 programas sociais destinados aos fiéis. De acordo com dados oficiais da Igreja, de 2018, cerca de 10,8 milhões de pessoas foram alcançadas por esses programas.

Outra constatação listada pelo pesquisador é o acolhimento emocional que esses espaços promovem. De acordo com um estudo feito pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), em 2017, os transtornos mentais estão entre as maiores causas de afastamento do trabalho.

“Onde esses trabalhadores vão procurar alívio? Na Igreja. E, de fato, elas melhoram de depressão, ansiedade. Quem cura o alcoolismo hoje nas classes populares são as Igrejas”, afirma Fernandes. Da mesma maneira, “é onde vão achar também um alívio material, mesmo que seja uma cesta básica alimentar no fim do mês”.

Para Fernandes, as instituições religiosas evangélicas acabam, desse modo, por organizar a vida em sociedade, principalmente em espaços onde o Estado não chega, como nas periferias.

“A mulher negra que está na periferia não tem acesso à cultura, saúde e educação. Aí a Igreja traz saúde, cultura e educação.

Ao passo que a religião evangélica se expande pelo país, o catolicismo perde espaço.

Ainda de acordo com o Datafolha, os católicos ainda são 50% da população, mas em 1980 eram 90%. A diferença, segundo Fernandes, se explica pela melhor penetração das igrejas evangélicas entre a classe trabalhadora, com um discurso e um formato mais próximo da realidade do que a Igreja Católica.

Para se ter uma ideia, apenas na década de 1960 a Igreja Católica deixou de pregar a missa em latim e de costas para os fiéis. Do outro lado, os evangélicos espalham a narrativa por meio da música, dos canais de rádio e TV e nas pequenas casas que transformam em templo, em todas as periferias.

A educadora social evangélica Rachel Daniel, de 24 anos, diz que a Igreja Evangélica acolhe as pessoas “de uma forma perfeita”. “Você é abraçado, se sente acolhido, as pessoas estão preocupadas se você tem o que comer em casa, sobre a sua saúde, te ligam no seu aniversário”, afirma.

“A mulher negra que está na periferia não tem acesso à cultura, saúde e educação. Aí a Igreja traz saúde, cultura e educação. O filho aprende a tocar um instrumento, faz teatro. Ela consegue ir ao médico, consegue os remédios. A Igreja tem um pré-vestibular comunitário. Tudo o que o Estado não traz, a Igreja traz.”

Esquerda não fez a lição de casa

“A esquerda não ouviu Paulo Freire, não foi ensinar o sujeito a escrever a partir do tijolo, da argamassa, que é o que Paulo Freire ensinava sobre a educação libertadora. A base ficou solta e foi virando religiosa”, argumenta Ariovaldo Ramos.

Para o pastor, o erro da esquerda é esquecer que “abaixo da linha do Equador nós todos somos religiosos”. “Todo mundo fala ‘Graças a Deus’. Pensar que todo mundo, à medida que for ganhando a sua de dignidade econômica vai deixar a religião é imaginário. A fé é uma coisa mais profunda do que isso, é um jeito de se enxergar na vida.”

“Política é afeto, é relação, e a religião também. A esquerda deixou de fazer isso e a direita usou esses pastores.

Ramos alerta que, enquanto a esquerda não tratar da dignificação da mulher e do homem negro, seguirá perdendo votos para qualquer movimento que “empreste aos pobres, aos negros e aos miseráveis senso de dignidade, que não tem a ver com a grana que ele tem no bolso, porque ele vai colocar água no feijão de qualquer jeito. O que ele não vai aceitar é ser tratado como escravo”.

“Não dá para chegar na senhora de 90 anos que vai na minha Igreja e falar assim: eu sei que o pastor te levou no médico quando você precisou, conversou com você quando você precisava, visitou o seu filho na prisão, mas ele está errado, vota na outra pessoa. Porque é construção de afeto. Política é afeto, é relação, e a religião também. A esquerda deixou de fazer isso e a direita usou esses pastores”, sentencia a educadora evangélica Rachel Daniel.

 

 

*Caroline Oliveira/Brasil de Fato

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Não existe fundamentalismo religioso no Brasil, o que existe é fundamentalismo da ganância e do charlatanismo religiosos

Por que os tais fundamentalistas evangélicos do Congresso, que têm uma bancada poderosa, não criam um projeto que proíba a publicidade da bebida alcoólica presente no cotidiano dos brasileiros e que traz resultados nefastos ao conjunto da sociedade? Simplesmente porque a bebida alcoólica consagrou, por exemplo, um milionário como Jorge Paulo Lemann como o brasileiro mais rico do país.

Então, quem manda nesse processo não é o fundamentalismo religioso e nem o julgamento de valor da vida dos fieis, a grande virtude dessa gente está na expansão dos lucros que as igrejas neopentecostais impõem como uma dinâmica de mercado religioso.

Por isso o atual governo brasileiro adotou o mesmo discurso da bancada evangélica aceitando participar dos ganhos dessa gente, estruturando o preconceito para carregar de tinta o discurso da purificação privatizada.

Não são poucos os desempregados que buscam respaldo na ideia de que um sacrifício a mais facilitaria sua vida, ou seja, fortalecer o mercado da fé com doações inconsequentes abriria as portas dos templos e o caminho direto do homem com Deus, sem casar um qualquer, o tratamento de Deus para as suas aflições seria negado através das lideranças religiosas.

Isso, numa democracia de mercado, é perfeitamente cabível, principalmente num quadro de degradação institucional em que o país vive. É bom não esquecer que o grande bum dos templos evangélicos se deu no governo FHC, que quebrou o Brasil três vezes em oito anos, gerando uma nação de desempregados, o que reflete hoje numa bancada extremamente poderosa no Congresso. Os interesses dos líderes neopentecostais neste momento são dois , não deixar que a juventude, através da educação, afaste-se das igrejas evangélicas, como ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, com a igreja católica, subordinando a política a um projeto de cerceamento do pensamento para que a natural dispersão não ocorra e a expansão de seus negócios nas camadas mais pobres da população.

Esse é um dos grandes problemas que precisam ser acrescentados a esse debate. Quanto mais a juventude avança na educação, mais distância mantém das religiões.

Logicamente que, como nas periferias e favelas a educação ainda é muito precária, somada à dificuldade de sobrevivência de negros e pobres nesse mesmo ambiente, que já é por si só segregacionista, os espertões, picaretas, vigaristas da fé encontram suas presas mais facilmente. É só observar que os evangélicos caminharam muito pouco ou quase nada nas classes média e alta.

Então, qualquer pensamento que leve a uma educação universalizada, o elemento religioso, do ponto de vista comercial, vai tentar interferir para respaldar a busca por um campo que está sendo perdido pelos templos do dinheiro.

Desconsiderar esse fato, é um erro, sobretudo num país com uma desigualdade tão gritante e com figuras como Edir Macedo, Malafaia, RR Soares, entre outros, que acabam sendo hoje muito mais líderes políticos do que religiosos no atual processo da política nacional.

Por isso, se o assunto não for examinado com a devida precisão, a violência do dinheiro, somado à violência da informação que por si só já dificulta a condução de um esclarecimento maior da sociedade, tornarão, junto com os picaretas da fé, um obstáculo não só para a floração do pensamento, mas também uma contribuição para a manutenção do cativeiro religioso que os fundamentalistas da ganância religiosa impõem ao país.

Não é à toa que as religiões de matrizes africanas têm cada vez mais sido alvo dos picaretas evangélicos localizados, na imensa maioria dos casos, em lugares mais pobres, elas acabam sendo uma barreira de contenção da expansão política e financeira desses vigaristas da fé, já que perdem a cada dia fieis jovens e não conseguem avançar sobre as classes economicamente dominantes.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Pastores vigaristas de Trump chegam à Brasília

O pastor americano, Ralph Drollinger, líder dessa seita de vigaristas, faz Olavo de Carvalho parecer um trombadinha. O Cristo dele é feito de uma massa de modelar e aí o pastor define o que é ou não pecado. É das coisas mais vigaristas que surgiram no mundo nos últimos anos que, aliás, representa bem o que é a chamada nova extrema direita que nada mais é do que uma ressignificação do vigarista mais cínico ou do picareta mais imoral. Não importa, o que importa é que esse sujeito representa bem um tipo de religioso que atende aos fieis tão vagabundos quanto ele, assim como é o caso de Olavão e seus seguidores que já chegam em seu templo convertidos em busca das desculpas mais charlatães para reproduzi-las em suas desculpas toscas por apoiar racistas, milicianos, torturadores e toda a escória de uma sociedade. E Olavão não se faz de rogado, chuta pra onde o seu nariz aponta.

Esse pastor americano que chega à Brasília para se unir à milícia de Bolsonaro faz Olavão parecer um boboca, tal o cinismo do farsante.

A matéria que segue é do El País que, aliás, cumpre um papel extraordinário de revelar as “transnacionais da fé”, um negócio da China que tem feito gente com zero escrúpulo como Malafaia, Edir Macedo e outros que se proclamam pastores e ficam milionários da noite para o dia.

“Esse estudo não é sobre se Deus aceita ou não uma guerra. Ele aceita”, anuncia o pastor americano Ralph Drollinger, em um dos seus estudos bíblicos semanais, com uma voz emotiva porém pausada, calculada para que os visitantes de seu site acompanhem o raciocínio. Em seguida, explica que a frase bíblica “Bem-aventurados são os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9) diz respeito apenas a “como os fiéis devem conduzir suas vidas pessoais”. Ou seja: não vale para os governos, que podem, sim, ir à guerra.

Publicado em maio de 2018, aquele “estudo bíblico” tinha razão de ser, segundo o próprio pastor: ajudar os membros do Governo americano a refletir sobre “a ameaça de guerra com a Síria, o Irã e a Coreia do Norte” —movimentos iniciados pelo presidente americano Donald Trump. E convencê-los de que ir à guerra é abençoado pela própria Bíblia. Dias depois, Drollinger seria ainda mais explícito na sua pregação, ao pedir que “você, como servidor público, ajude a reduzir a tendência antibíblica secular em direção ao pacifismo e não intervencionismo! Isso vai levar a um crescente caos global!”.

Não foi a primeira vez nem seria a última que o fundador do ministério evangélico Capitol Ministries encontraria na Bíblia uma justificativa para as ações mais radicais do governo Trump. Afinal, o objetivo da igreja fundada por Drollinger é basicamente “converter” políticos e servidores públicos a uma visão cristã evangélica da política que se casa perfeitamente com a visão da ultradireita americana. “Sem essa orientação, é bem mais difícil chegar a políticas públicas que satisfaçam a Deus e sejam benéficas ao progresso da nação”, resume Drollinger em um dos estudos em seu site.

Enquanto o presidente americano nega os acordos sobre o aquecimento global —e questiona abertamente se ele de fato existe—, Drollinger rechaça em outro estudo bíblico que o homem possa impactar o meio ambiente. “Todos devem ficar seguros sobre a habilidade e vontade d’Ele de sustentar o ecossistema do nosso mundo”, diz, concluindo, com voz exaltada: “Que verdades gloriosas Deus nos deu! São um tapa na cara dos teóricos de moda que tentam nos assustar com o aquecimento global”.

E se alguém questiona se a maior promessa de Trump —construir um muro na fronteira com o México para evitar a entrada de imigrantes e refugiados— pode conviver com o princípio cristão da compaixão, ele tem a resposta pronta: “Compreende-se do Gênesis 11 que as nações, pelos desígnios de Deus, devem ter diferentes línguas, culturas, e fronteiras”, raciocina. “As leis imigratórias de cada nação devem ser baseadas na Bíblia e estritamente aplicadas— com a absoluta confiança e a garantia de que Deus aprova tais ações.” Quem garante é o pastor.

A Capitol Ministries —nome que significa “Ministério do Capitólio”, símbolo do Congresso americano— foi fundada pelo ex-jogador de basquete Ralph Drollinger na Califórnia, em 1996, para “criar discípulos de Jesus Cristo na arena política pelo mundo todo”. A ideia do pastor era levar para a política seu trabalho anterior, focado em evangelizar atletas.

Até o ano 2010, seu público eram deputados estaduais; naquele ano, o primeiro ciclo de estudos foi fundado em Washington, no Congresso americano. Mas foi em 2017 que Drollinger deu seu salto para o primeiro plano da política mundial, quando fundou o primeiro grupo de estudos dedicado apenas a membros do Governo de Donald Trump. O encontro semanal, em um local não revelado, reúne dez membros do alto escalão do Governo, incluindo o vice-presidente, Mike Pence, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, que dirige a política externa. O ex-diretor da Agência de Proteção Ambiental Scott Pruitt, que articulou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, sobre aquecimento global, e já questionou o efeito de emissões de carbono sobre o clima, também chegou a participar.

Muito além de um simples falatório, as pregações de Drollinger têm efeito prático em um Governo que mais de uma vez reconheceu ter sido eleito graças ao voto evangélico. Em junho do ano passado, um de seus sermões foi usado pelo ex-procurador-geral Jeff Sessions para apaziguar os corações dos eleitores quanto à detenção de milhares de crianças imigrantes em péssimas condições na fronteira com o México. “Eu citaria a vocês o apóstolo Paulo e seu comando claro e sábio em Romanos 13, para obedecer às leis do Governo porque Deus ordenou o Governo para seus desígnios”, disse Sessions, invocando a Bíblia, e não a legislação americana, como justificativa. Enquanto a imprensa americana reagia chocada, Drollinger fez questão de expor suas digitais por trás da declaração.

“Eu tive a distinta honra de ensinar a ele sobre esse assunto e muitos outros”, disse. “Não há nada mais animador, quando você é um professor da Bíblia, do que ver um dos caras com quem você está trabalhando articulando algumas coisa que você ensinou.” A frase, de fato, é uma repetição do manual básico de Drollinger, e Sessions, quando estava no Governo, realmente frequentava seus estudos bíblicos.

Separar pais dos seus filhos seria aprovado pela palavra de Deus, diz o pastor. “Quando alguém viola a lei de um país, deve antecipar que uma das consequências do seu comportamento ilegal será a separação dos seus filhos. É esse o caso de ladrões ou assassinos que são presos”, justifica.
Em busca de Bolsonaro, Capitol chega ao Brasil

Financiada pelo vice-presidente Mike Pence e pelo secretário de Estado Mike Pompeo, segundo afirmou o próprio Drollinger em seu site, a Capitol Ministries também se vale da influência do Governo americano para cumprir sua missão, entre aspas, divina: dominar o mundo. Desde o ano passado, abriu capítulos em cinco países latino-americanos —México, Honduras, Paraguai, Costa Rica e Uruguai—, anunciou que abrirá em outros dois —Nicarágua e Panamá— e acaba de aportar no Brasil, com lançamento oficial programado para a segunda quinzena de agosto no Senado Federal, “sem muita badalação, voltado apenas para autoridades” e “com a presença de Drollinger e sua esposa”, como explicou à Pública o pastor da Igreja Batista Vida Nova, Raul José Ferreira Jr., que será o responsável por conduzir os estudos bíblicos no Senado, na Câmara.

Ele diz ainda que, “se Deus permitir”, vai conduzir também estudos bíblicos na Casa Civil junto ao presidente Jair Bolsonaro e seus ministros, traduzindo as palavras do pastor americano para o presidente brasileiro. “Nós estamos realmente trabalhando firme para que possa haver ao menos um encontro do pastor Drollinger com o presidente Bolsonaro agora em agosto, para que a partir daí a gente possa desenvolver um trabalho. Mas, mesmo que o presidente não esteja entre eles, nós vamos tentar construir um trabalho dentro da Casa Civil, junto dos ministros diretamente ligados ao palácio”, diz.

O objetivo dos estudos bíblicos, que são traduzidos para o espanhol e em breve para o português, é disseminar a visão de Drollinger sobre o cristianismo aplicado à política. “Nossa ideia é chegar a nível de Presidência da República e ministros, primeiro escalão. A gente tem um slogan que é ‘first the firsts’, ou seja, primeiro os primeiros. Através dessas pessoas com relevância a gente pode mudar o destino da nossa nação”, diz o pastor Ferreira Jr., que, indicado pelo diretor regional no Brasil, pastor Giovaldo de Freitas, passou por uma semana de treinamento em Seattle com Ralph Drollinger e sua equipe.

As aspirações da Capitol Ministries no Brasil são ambiciosas, embora o pastor Ferreira Jr. chame de “trabalho de formiguinha”: conduzir, a portas fechadas nos gabinetes, reuniões bíblicas individuais com parlamentares, especialmente os não convertidos, além de reuniões coletivas semanais —e ainda garantir que cada parlamentar do Congresso Nacional receba os estudos impressos, por e-mail e por mensagem no celular. “Nosso objetivo é reconstruir a nação a partir de valores cristãos que são forjados através do estudo da palavra”, define o pastor.

Para tanto, ele diz que o ministério de Drollinger já conta com o apoio de alguns parlamentares que são membros atuantes da Frente Parlamentar Evangélica, como o senador e pastor Zequinha Marinho (PSC-PA), o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e o deputado e também pastor Roberto de Lucena (Podemos-SP).
Giovaldo Freitas, o homem da Capitol Ministries no Brasil

As negociações para a chegada da Capitol Ministries ao Brasil começaram ainda no Governo Temer, em 2017, como explicou à Pública o diretor do ministério no Brasil e pastor da Igreja Batista de Moema, Giovaldo Freitas, em seu escritório em São Paulo. Naquele ano, Giovaldo era parte do Global Leadership Summit, uma organização evangélica americana que realiza grandes eventos de capacitação para lideranças empresariais no mundo todo. Em um dos eventos do grupo em Chicago, o pastor foi convidado pelo hoje coordenador da Capitol Ministries na América Latina, o peruano Oscar Zamora, a participar de um almoço que acertaria os detalhes da vinda do ministério para o Brasil.

Giovaldo passou então pelo treinamento de Drollinger em Washington com pessoas do mundo todo: “Tinha várias pessoas da América Latina, alguns do Caribe, da Europa, gente da Ásia… Gente da Argentina, Paraguai, Uruguai, Equador, Colômbia, Bermudas, Bahamas, Guatemala, Honduras, Costa Rica, México, Holanda, Romênia, Rússia…”, lembra. E acrescenta: “Foi muito interessante porque de repente eu me vejo ali conversando com um senador americano superempolgado porque estava vindo para o Brasil. Nessa reunião tinha oito senadores e dois deputados [americanos]”. O pastor não quis revelar os nomes dos políticos americanos presentes, mas disse que também houve, na ocasião, um painel com a presença de três secretários de Trump: a secretária de Educação, Betsy DeVos, o secretário de Energia, Rick Perry. e o da Agricultura, Sonny Perdue.

Segundo ele, os laços religiosos têm dado frutos políticos: “Inclusive, esse secretário de Energia tem mantido conversa com nosso ministro de Minas e Energia exatamente por causa da chegada da Capitol Ministries”, revela.

Desde então, o pastor descreve que várias negociações aconteceram no Congresso brasileiro, além de reuniões com embaixadores do Itamaraty e com o chefe de gabinete de Temer, em maio de 2018, “para decidir algumas coisas” sobre o lançamento no Brasil, segundo Giovaldo. Questionado pela reportagem, ele não quis entrar em detalhes. A Pública encontrou registros de uma reunião com o então ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Ronaldo Fonseca, em julho do ano passado, na qual estavam Giovaldo e outro ex-membro da Capitol Ministries, o pastor Evandro Beserra.

Embora diga que a intenção do ministério não é “levantar bandeiras”, o pastor admite que existe uma aproximação natural com os partidos mais à direita. O novo Governo é, para ele, o cenário ideal para a chegada: “Na primeira semana de abril, nos reunimos com o Onyx Lorenzoni [ministro-chefe da Casa Civil], que foi muito receptivo, evangélico do Rio Grande do Sul, foi um tempo muito gostoso. O presidente Bolsonaro estava em Israel, então não pudemos ter contato, mas fomos muito bem recebidos”, comentou.

Segundo a professora de direito e diretora do Centro Jurídico sobre Gênero e Sexualidade na Universidade de Columbia, Katherine Franke, a exportação de missões fundamentalistas dos EUA para a América Latina, com a bênção do Governo federal, viola os princípios de separação de Estado e Igreja determinada pela Constituição dos Estados Unidos. “O Governo está promovendo a religião como um projeto oficial do Governo e isso claramente viola uma das cláusulas. Mais ainda, o Governo está promovendo uma visão particular da religião, sem fazê-lo imparcialmente. E esse é um segundo tipo de violação ”, disse a especialista à coalizão de veículos que faz parte do projeto “Transnacionais da Fé”, que publica esta reportagem.

Batistas à frente

Para Christina Vital da Cunha, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião, alguns elementos se destacam nessa chegada do ministério de Drollinger ao Brasil: um deles seria o novo protagonismo político da Igreja Batista, antes vista como mais progressista e também mais afastada da política —ministra Damares Alves é pastora batista, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também, além de outros integrantes do Governo. É o caso da Igreja Batista Vida Nova, de Raul José Ferreira Jr., que liderará os estudos dentro do governo.

“A gente pode observar um elemento diferente do que vinha acontecendo no Brasil desde então, que é uma afinação orgânica entre Estados Unidos e outros países da América Latina a partir desse elemento religioso e que tem na política institucional um lugar importante de atuação. Se vê um alinhamento conservador no Brasil, na América Latina e em outros países no mundo, que nos países da América Latina tem nesses religiosos evangélicos e católicos seus principais atores”, aponta. E chama atenção para a legitimação de um discurso à direita por meio da Bíblia, algo que já tem sido feito em certa medida no Brasil desde a campanha de Bolsonaro. “Outra coisa a se observar é se haverá disputas de poder com instituições já estabelecidas, como a Igreja Universal e a Assembleia de Deus.”

À Pública, o pastor Giovaldo adianta que existe distinção entre o trabalho da Capitol Ministries e o da Frente Parlamentar Evangélica: “São coisas diferentes. Nosso objetivo lá dentro não são os evangélicos. Os estudos bíblicos são pra quem não tem uma relação com a igreja, com Deus. É de evangelização, caminhar junto, orar. Aí, se porventura alguns reconhecerem Cristo como seu Senhor e salvador, eles poderão vir a fazer parte da FPE [Frente Parlamentar Evangélica]”, diz, apesar de reconhecer que a parceria com parlamentares evangélicos —como os citados pelo pastor Ferreira Jr.— é fundamental e que os primeiros estudos bíblicos serão conduzidos no gabinete do senador Zequinha Marinho e no do deputado Silas Câmara (PRB-AM), pastor da Assembleia de Deus e presidente da Frente Parlamentar Evangélica.
Na América Latina

Drollinger nega que sua organização faça lobby, reconhecendo apenas que seu objetivo é converter políticos para Cristo. Mas a Capitol Ministries chegou a Honduras, país centro-americano, pelas mãos do próprio vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. Em junho de 2018, quando o presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, fazia uma visita oficial a Washington, Mike Pence e o secretário de Estado, Mike Pompeo,sugeriram a ele que iniciasse um capítulo da Capitol Ministries na presidência e em seu Congresso.

“Também é bom saber que o vice-presidente Pence e o secretário de Estado Pompeo influenciaram de maneira tão efetiva o presidente Hernández para lançar o Capitol Ministries entre os membros do gabinete”, escreveu Ralph Drollinger no comunicado de inauguração dos estudos bíblicos em Honduras, em 8 de novembro de 2018.

Em 2017, Drollinger recrutou Oscar Zamora, um pastor peruano que estudou teologia no West Coast Christian College, na Califórnia. Desde então, Zamora viaja pelo continente negociando a abertura de ministérios nos parlamentos da região, mantendo um perfil discreto e evitando dar entrevistas. Os pastores, como aconteceu com Giovaldo, são recrutados no Global Leadership Summit, programa que ele lidera na América do Sul. Três dos pastores de Drollinger afirmaram à reportagem que as reuniões são financiadas com recursos americanos.

Na Costa Rica, a Capitol Ministries ficará a cargo do presidente da igreja Assembleia de Deus, Ricardo Castillo Medina. O religioso vai dirigir os estudos da Bíblia entre os membros do Congresso, “para que possam tomar decisões baseadas em uma consciência pura e limpa”, diz. Em março deste ano, Ralph Drollinger e sua esposa, Danielle, foram até o país se reunir com um grupo de congressistas em um café da manhã convocado sob o lema “Reconstruindo uma Nação” —nome do livro de sua autoria— no hotel Radisson, em um elegante bairro da capital.

“Quero dizer a vocês que o vice-presidente Mike Pence e o secretário de Estado Mike Pompeo me pediram que eu os saúde. Esses dois homens amam a Jesus Cristo com todo o seu coração e eles estão impactando, literalmente, o mundo inteiro. Eles estão tomando esses princípios e com sua personalidade os projetam”, disse Drollinger. E previu: “Se você conquista líderes políticos para Cristo, vai ter conquistas residuais para seu país; vai ter efeitos enormes, muito positivos sobre a direção que tomará a Costa Rica”.

Mas não é só de governos orgulhosamente de direita que a Capitol Ministries tem se aproximado. No último dia 19, durante as comemorações dos 40 anos da Revolução Sandinista na Nicarágua, lideradas com pompa por Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo, em meio a uma crise política que matou mais de 300 pessoas, levou mais de 500 manifestantes à cadeia e a milhares de exilados, Ralph Drollinger estava lá. Segundo uma nota à imprensa, foi o próprio Ortega quem convidou a Capitol Ministries a abrir o ministério no país. No convite, Ortega declarou: “Sabemos que, se as pessoas a quem Deus confiou o destino da nação nascerem de novo, nossos deputados legislarão de acordo com a Bíblia”. E foi assim que, diante de milhares de pessoas, Drollinger ressaltou os valores cristãos do país e agradeceu a oportunidade oferecida pelo Governo de Ortega. “Eu oro pela sua nação, oro por você, oro pelos líderes do Governo para que todos possamos refletir os atributos de Cristo todos os dias”, disse Drollinger, segundo o jornal oficial La Voz del Sandinismo.

A guerra contra a Igreja Católica liderada pelo Governo de Ortega certamente entra nessa conta. Em entrevista à Pública em julho de 2018, o escritor e ex-vice-presidente do país Sergio Ramírez disse que um dos pontos mais sensíveis à possível reeleição em 2021 era justamente este: “Ortega também tem a Igreja Católica contra ele. O governo começou a atacar igrejas católicas, como no caso do tiroteio de 15 horas na Igreja da Divina Misericórdia, em Manágua [em 13 de julho, estudantes refugiados na igreja sofreram 15 horas de tiros da polícia]. Estão atacando padres, quebrando templos católicos. Parece-me que se meter contra a Igreja Católica em um país eminentemente católico como o nosso é uma guerra perdida”.

Os estudos bíblicos no gabinete presidencial e no Congresso nicaraguense ficarão a cargo de Arsenio Herrera, pastor da maior igreja evangélica de Manágua, Hosanna Church. Herrera foi discípulo do criador da Hosanna, o americano David Spencer, a quem se atribui o feito de ter convertido mais de 500 almas por semana nos primeiros anos da igreja e que, pouco antes de sua morte, recebeu de Ortega e Rosario Murillo a cidadania nicaraguense em honra aos serviços prestados ao povo da Nicarágua.

 

Reportagem: Andrea Dip e Natália Viana (Agência Pública)

*Do El País

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O dia em que Barroso, o pavão, sapateou na dança dos famosos do Jornal Nacional.

O Jornal Nacional desta quinta-feira (26), foi épico.

Barroso saiu do programa de auditório do STF/Globo e ganhou a pista de dança principal da Globo.

Foi um espetáculo de contorcionismo e pirracinha  de Barroso no STF que ganhou quase a metade do tempo do Jornal Nacional.

Enquanto os votos dos outros ministros, sobretudo os que votaram contra os interesses dos Marinho, tiveram poucos segundos de holofote, Barroso saiu do tubo de vidro e bailou, sapateando durante 10 minutos.

Firulas, saltinhos, rodopios e muito paetê. Estava lá Barroso, fazendo caras e bocas, com um time em cada final de fala para dizer aquelas coisas importantes que não têm importância nenhuma para a constituição.

Mistificador, Barroso tentava fazer alguém acreditar que, em matéria de direito, quem manda é a manada e não a constituição.

Barroso parecia um pastor tipo Malafaia misturado com Edir Macedo explorando a fé ou o credo dos fieis para ludibriar, enganar, tentando fazer o público do JN acreditar em algo que é ridiculamente falso.

O significado daquele espetáculo retórico, é apenas um. Atropelar a constituição para tentar encobrir os crimes de Dallagnol deixando cada vez mais escancarada a sua relação extra republicana com o chefe da força-tarefa da Lava Jato.

 

Por Carlos Henrique Machado Freitas