Em evento institucional, Pedro Guimarães teria constrangido os trabalhadores da estatal a fazer flexões “ao estilo militar”.
Conjur – Justiça do Trabalho condenou, a título de danos morais e coletivos, a Caixa Econômica Federal a pagar R$ 3,5 milhões em indenização por conta de seu ex-presidente, Pedro Guimarães, ter humilhado e constrangido funcionários durante um evento institucional do banco público em 2021.
A decisão foi assinada pela juíza do Trabalho Viviany Aparecida Carreira Moreira Rodrigues. O processo corria sob segredo de Justiça, que acabou levantado na mesma sentença.
A ação foi ajuizada pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo. No evento institucional chamado “Nação Caixa”, que ocorreu nos dias 14 e 15 de dezembro de 2021, Guimarães, então presidente, teria constrangido os trabalhadores da estatal a fazer flexões “ao estilo militar”.
A Caixa argumentou afirmando que o momento foi de “descontração”, como forma de “quebrar o gelo” durante a abertura do evento. Ainda disse que se tratou de uma “atividade desenvolvida num contexto de comemoração pelos excelentes resultados alcançados por esta Empresa Pública em 2021”.
A juíza, no entanto, não acatou os argumentos da estatal. “É incontroverso que o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Sr. Pedro Guimaraes, em evento institucional realizado na cidade de Atibaia, obrigou os participantes a realizarem flexões de braço em nítida alusão a treinamento físico militar. Ainda que alguns possam entender que isso se deu maneira ‘descontraída’ e como forma de ‘quebrar o gelo’, a conduta em si mesmo considerada se mostra reprovável, constrangedora e humilhante”, escreveu a juíza.
“Os vídeos juntados em plataforma eletrônica própria demonstram que o ex-gestor abusou de seu poder hierárquico e submeteu os participantes do evento a constrangimento e exposição desnecessários, com utilização de ‘brincadeira’ de mau gosto, incompatível com a finalidade do evento”, afirmou Rodrigues.
Na decisão, a magistrada afirma que o valor de R$ 3,5 milhões deve ser revertido à Fundação Projeto Travessia, conforme pleiteado pelo próprio Sindicato na ação.
No pedido, o sindicato também citava questões como a não adoção, por parte do banco público, de medidas restritivas para combater a Covid-19 durante a pandemia, além de fechamento de postos de trabalho que teriam prejudicado o funcionamento e a qualidade laboral do banco. O objeto de análise da juíza, no entanto, se restringiu ao evento institucional.
Para o advogado Eduardo Antonio Bossolan, integrante da área jurídica do Sindicato dos Bancários de São Paulo e sócio de Crivelli Advogados, o processo tramitava sob segredo de justiça a pedido da Caixa Econômica Federal para não contaminar a campanha de Bolsonaro à reeleição.
“Contudo, o sigilo foi levantado pela Justiça do Trabalho por entender que os fatos apreciados são públicos, pois divulgados por vários meios de comunicação”, explica.
Apoie o Antropofagista com qualquer valor
Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação e reflexão de qualidade e independência.
O então presidente da Caixa xinga e esbraveja com subordinados por terem deixado passar uma decisão que limitou seus jetons.
Na semana passada, a coluna revelou depoimentos e áudios que expuseram os acessos de fúria de Pedro Guimarães, agora ex-presidente da Caixa Econômica Federal, em reuniões com funcionários do banco.
Junto com as gravações, relatos de assédio moral se somaram aos de assédio sexual publicados aqui dois dias antes, em reportagem que levou à queda de Guimarães.
Agora, a coluna teve acesso a novos áudios de uma reunião realizada no final do ano passado na qual o então presidente da Caixa esbravejou contra uma decisão que, na prática, o faria perder mais de R$ 100 mil reais por mês.
A mudança no regimento interno, que tinha acabado de ser aprovada, estabelecia um limite à participação do próprio Pedro Guimarães e de outros executivos em conselhos de subsidiárias da Caixa e de empresas privadas das quais o banco é sócio.
Ele se irritou porque seus subordinados diretos não atentaram para os reflexos da decisão antes de ela ser aprovada.
Como já publicamos aqui, Guimarães chegou a integrar pelo menos 18 conselhos, os quais lhe renderam mais de R$ 130 mil em jetons — uma espécie de gratificação pelo trabalho extra.
O valor era acrescentado ao salário de R$ 56 mil que ele recebia como presidente do banco estatal. Na soma de salário com jetons, os rendimentos de Guimarães giravam em torno de R$ 200 mil mensais.
A certa altura da reunião, o então presidente da Caixa diz: “P* que pariu, isso é tão ridículo, cara… Me mato de trabalhar que nem um filho da p* do c* elevado à décima quinta para nego só me f*”.
A seguir, os principais trechos. “Me mato de trabalhar para nego só me f*”
Após cobrar os subordinados, Pedro Guimarães reclama porque a decisão o faria perder dinheiro. Prevendo que a situação um dia poderia se tornar pública e deixá-lo exposto, ele ordena ao então vice-presidente Celso Leonardo Barbosa, de quem é amigo pessoal, que fizesse os cálculos para efetuar a devolução dos valores que, até ali, havia recebido em desacordo com a nova regra.
Guimarães também manda sua chefe de gabinete, Rozana Alves, acionar a Corregedoria da Caixa para punir os participantes da reunião caso o teor da discussão vazasse. E, sem meias palavras, ameaça os participantes de demissão.
Celso Leonardo Barbosa e Rozana Alves foram afastados dos cargos que ocupavam após a saída de Pedro Guimarães da Caixa.
Disse Guimarães, irritado:
“Isso vai vazar, para me desgastar. Isso é para me desgastar. P* que pariu, eu vou devolver o dinheiro. Faz a conta, entendeu, Celso? Tem que fazer a conta, e tem que fazer a conta que doa mais no meu bolso. Ou seja: assumir os CAs (conselhos de administração) que eu ganho menos. Puta que pariu, isso é tão ridículo, cara… Me mato de trabalhar que nem um filho da p* do c* elevado à décima quinta para nego só me f*.”
Ouça o áudio:
“Não tem essa de querer ficar comigo e com o Lula”
Para Pedro Guimarães, os subordinados que deixaram passar a mudança que o prejudicava estariam fazendo gestos para a oposição, já pensando em uma possível vitória de Lula nas eleições de outubro. Mais uma vez, ele faz ameaças. Dirigindo-se a Celso Leonardo, diz: “Faça uma reunião amanhã com todo mundo e, p*, entende essa maluquice maluca de grau 27. De novo, é o que já falei”.
“Vreco (apelido de Álvaro Pires, outro amigo pessoal que Guimarães levou para a Caixa como assessor especial do gabinete da presidência, com salário de R$ 30 mil), você aja, e eu também. Eu já falei com você ontem, e com o Celso. Estão querendo me f*. Eu não acredito que isso daí é incompetência. Eu acredito no que eu já falei para vocês dois: está chegando a eleição e nego está querendo fazer hedge (se proteger), e eu vou tirar todo mundo que eu achar que está fazendo hedge. Porque, deixa eu falar para todos vocês (dirigindo-se aos demais subordinados): ou vocês estão comigo ou vão buscar Haddad e o Lula. Não tem essa de querer ficar comigo e com o Lula. Bem claro isso. Porque isso eu não acho que é um erro. Nego não pode ser tão ruim assim, a ponto de querer me expor dessa maneira. E ninguém viu?”, prossegue.
“Ô, Celso veja isso no detalhe. Eu vou devolver o dinheiro, não tem condição. Como é que eu não vou devolver o dinheiro? Vai estourar essa merda daqui a seis meses, dizer que estou roubando a Caixa. Eu não estou, eu não sei, eu era contra, nunca ninguém falou isso para mim. O Mauro (Mauro Cunha, ex-presidente do Conselho de Administração da Caixa) nunca nem chegou a comentar isso comigo, porque ele sabia que era inaceitável. Então, isso é traição. Porque isso passou sem nunca ninguém passar para mim. Agora, Rozana, Celso e Vreco, vai ter que ler tudo o que foi feito nos últimos três anos porque nego está me f*, nego vai me f*. Como é que eu vou saber? Como é que eu vou ter tempo, eu não posso confiar nas pessoas de dentro do banco? Porque isso para mim é falta de lealdade. É querer, p*, fazer hedge para se o presidente (Jair Bolsonaro) não ganhar (a eleição). Só que eu vou tirar. Ô, Celso, você olha isso no detalhe?”, diz ainda.
Celso Leonardo responde afirmativamente: “No detalhe”. E Guimarães continua. “E eu já te digo: isso é ‘filhadaputagem’. Eu não acredito em erro aí. Eu acredito que tem nego querendo me f*.” Celso concorda: “Mas é claro, claro que tem coisa aqui, pô”.
Eis o áudio:
Uma mudança fora dos planos
Em outro trecho, também misturando lamento e raiva, Guimarães afirma que a limitação no número de conselhos é um “absurdo total”.
Diz ele: “O que que acontece, né? Tudo vaza. E isso é um absurdo total. Absurdo máximo, e um erro. Porque nunca eu cogitei aceitar ficar só restrito a dois conselhos, isso nunca foi trazido a mim nem pelo Mauro. Então, teve um erro aí, que não sei se foi de má-fé ou porque as pessoas não fizeram o dever de casa. Porque nunca esteve sob discussão… Imagina, quer dizer que eu só poderia estar na Caixa? E aí vou estar na Caixapar, na Caixa Seguridade, na Caixa Asset, na Caixa Cartões, e não vou estar nas cagadas e não vou estar nas subsidiárias? Não existe”.
“Como a gente vai resolver isso?”
Pedro Guimarães diz que a mudança nas normas internas foram aprovadas para prejudicá-lo, e admite que assinou a decisão sem ler.
“Foi feita uma mudança que não era para ter sido feita. Isso para mim é óbvio. Porque se a gente chegar e assumir que, durante seis meses, era para eu ter estado só em dois conselhos, como a gente vai resolver isso? Se eu nunca fui avisado disso… Ah, mas aí eu assinei uma coisa que eu tinha que saber. Como é que sai dessa sinuca de bico?”, afirma o então presidente da Caixa.
Ouça este outro trecho:
“Isso, para mim, é traição”
Em outro momento da reunião, Guimarães afirma que estava se sentindo traído pelos subordinados, que não o alertaram sobre a mudança, nem fizeram nada para evitar que ela fosse aprovada.
Ele pede a Rozana Alves, sua chefe de gabinete, que anote os CPFs de todos os executivos da Caixa que tiveram conhecimento da proposta antes de ela ser aprovada. E afirma que devolveria o valor dos jetons recebidos após a mudança na regra para não ouvir que ganhou “dinheiro em cima do banco”.
“Todas as pessoas que leram isso vão explicar por que aprovaram isso. Porque isso aí não existe. Se não, fico eu sozinho, e o pessoal falando que eu quero ganhar dinheiro em cima do banco. Então, assim… Eu quero avaliação do Gryecos (Gryecos Loureiro, diretor jurídico da Caixa). Eu vou devolver, claro que vou devolver. Já que eu vou ficar um ou dois meses ganhando mais, eu vou devolver, R$ 100, R$ 200 mil reais… É a vida como ela é. Não tem a menor possibilidade de eu tomar esse risco, não vou tomar esse risco. Está me custando dinheiro. É a vida como ela é. Incompetência. Ou quererem me f*. A cada dia que passa, eu acho que nego quer me f*. Eu vou perdendo confiança. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo agora que está próximo da eleição, que o PT parece que está crescendo e nego, na minha opinião, querendo fazer hedge. Só que isso, para mim, é traição. Então, isso daí… Eu não consigo entender uma incompetência tão grande. Eu não consigo entender ter passado (no Conselho de Administração da Caixa) que para todas as pessoas só valem dois conselhos, quando todo mundo no banco sabe que eu (inaudível). P*, a Caixa Seguridade era capital aberto. A Caixa Econômica Federal, isso aí, o CD (Conselho Diretor) é um conselho também, ou não?”.
Confira:
Ele devolveu o dinheiro, afinal?
A coluna procurou Pedro Guimarães por meio de seu advogado, José Luis de Oliveira Lima, para ouvi-lo sobre o teor da reunião.
Oliveira Lima respondeu o seguinte, por escrito: “Pedro Guimarães não extrapolou em nenhum momento os limites legais e estatutários no que se refere à participação em conselhos de administração. Até novembro de 2021, a Caixa aplicava vedação prevista na Lei das Estatais (Lei 13.303/2016) apenas à participação remunerada em até dois conselhos de empresas públicas, sociedade de economia mista e suas subsidiárias. Tal vedação não incluía empresas privadas”.
A nota prossegue: “Em novembro de 2021, o Estatuto Social da Caixa foi alterado, passando a incluir o limite de participação remunerada a dois conselhos, independentemente da natureza pública ou privada. A partir de então, Pedro Guimarães restringiu sua presença remunerada em conselhos ao novo critério estabelecido no estatuto”.
Perguntamos se Guimarães devolveu à Caixa os valores que, na gravação, ele diz que teria que ressarcir. O advogado respondeu que não havia o que devolver porque o ex-presidente da Caixa cumpriu o que estava previsto no estatuto. “Ele não tinha que devolver nada, pois tudo estava dentro da lei”, diz Oliveira Lima.
Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.
Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00
O caso Caixa Econômica Federal levou à demissão do presidente Pedro Guimarães e do vice-presidente Celso Leonardo Barbosa, mas o escândalo “é muito maior e muito mais profundo do que a gente imagina”, diz a analista e ex-jornalista Helena Chagas.
Ao GGN, Helena diz que “parece que tem quase 50 mulheres que foram assediadas e fizeram queixas internas à corregedoria, e a corregedoria abafou”.
Na última sexta-feira, já circulava a informação de um VP do banco estaria perigando – porém, em conversa com uma fonte que transita na Caixa, Helena diz que “mais dois estão perigando por causa de assédio”.
Mas isso não é necessariamente o mais grave. Segundo Helena Chagas, “esses casos estão envolvidos em ações de executivos da CEF não só para abafar os casos mas como para eliminar, tirar, transferir as mulheres que se queixavam do assédio e premiar algumas poucas que cederam aos assédios e que ascenderam a casos muito altos dentro da estrutura da Caixa”.
De acordo com Helena Chagas, as mulheres assediadas estão contando essas histórias, o que faz da Caixa Econômica Federal “uma caixa preta” tanto por conta dos executivos assediadores como das mulheres assediadas que ascenderam no comando do banco.
E Helena explica que mais coisas devem vir à público. “Eu acho que as mulheres que foram assediadas, oprimidas esse tempo todo e que sofreram perseguição profissional dentro da Caixa, elas resolveram nesse momento se unir, se juntar e sair todo mundo tocando o pau”.
A jornalista e ex-ministra afirma que circula a informação de que “o Fantástico (TV Globo) deste domingo está fazendo uma matéria de 15 minutos com depoimento das mulheres”.
Pedro Guimarães, o homem-bomba
A revelação de mais casos de assédio dentro da Caixa Econômica Federal é arrasador tanto para Pedro Guimarães – ou Pedro Maluco, como é conhecido – e para o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Guimarães era uma das pessoas que fazia figuração nas lives semanais de Bolsonaro, saía para pescar com o presidente e, quando o ministro Paulo Guedes esteve próximo de ser demitido, tentou ser ministro da Economia.
Ele até mesmo tentou ser vice na chapa de Bolsonaro para a reeleição.
“Ele (Guimarães) era unha e carne (com Bolsonaro), e agora pelo que houve essa semana ele, Pedro, está grudado nos filhos do Bolsonaro, que estão protegendo ele”, diz Helena.
“O Pedro é um homem-bomba, o Pedro ficou ao lado do Bolsonaro esses três anos, ele sabe tudo. Então, se ele resolver detonar a bomba, eu acho que até pior que o Milton Ribeiro no MEC”, ressalta a analista política.
“Eu acho que, se esse sujeito perceber que vai se ferrar e levar a pior nesses inquéritos, nessas acusações de assédio, eu acho que ele tem condições de tocar fogo no circo”, diz Helena Chagas.
Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.
Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00
Toda forma de assédio faz mal à saúde e precisa ser denunciada. Os constrangimentos relatados por funcionárias da Caixa dão nojo maior em mulheres. Porque sentimos, como se fosse em nós, o bafo, o braço, a mão, o pênis. Mas há o assédio moral, que transcende gênero e vitima também os homens. Tem a ver com poder. Era o que acontecia com funcionários da Caixa, diz Ruth de Aquino, O Globo.
Gravações, obtidas com exclusividade por Rodrigo Rangel, do portal de notícias Metrópoles, revelam os acessos de fúria e os termos de baixo calão do agora ex-presidente Pedro Guimarães, em reuniões de diretoria ou com subordinados. “Porra, eu acho que quem está torcendo pro Lula tem que se foder. Tem que voltar a Caixa ser estuprada por aqueles ladrões e vocês se foderem”.
Ameaças a quem vazasse o conteúdo da reunião. “Quem for responsável vai deixar de ser. O (fulaninho) é pau mole. Quero o CPF de todo mundo”. Revoltado com uma decisão do banco não submetida a ele, grita. “Não é aceitável! E de novo: caguei para a opinião de vocês. Porque eu é que mando! Isso aqui não é uma democracia”. “Ah, mas o vice-presidente (aprovou)… Foda-se. Manda todo mundo tomar no c*”.
Pedro Guimarães promovia acareações quando alguém divergia de suas ordens, segundo funcionários. Ameaçava demitir, rebaixar. Isso explicaria a alta rotatividade nas chefias. Uma subordinada disse ao Metrópoles: “A gente tem 37 cargos de dirigentes e mais de 100 pessoas passaram por esses cargos desde que ele (Guimarães) chegou”. Esse deveria ser um sinal amarelo para as empresas. Quando diretores não são demitidos por discordar, não aguentam a pressão, adoecem. Ou são perseguidos e asfixiados. “Você chega no nível máximo e de repente despenca. Vira um técnico bancário”, disse a funcionária ao portal de notícias.
Murros na mesa ou em aparelho de TV com som ruim. Irritação com problemas técnicos numa apresentação dele no YouTube. Ameaças de “mandar todo mundo embora”. Exortação aos chefes para “arregaçar”. Porque gostar do chefe depõe contra, significa que é péssimo gestor. Não basta ser respeitado, precisa inspirar medo.
Engana-se quem acha que esse comportamento é só de maluco ou do Pedro Guimarães. Não é só dele. Alguns chefes se tornam assediadores quando acumulam poder. Humilham entre quatro paredes e em público. Acham todos incompetentes. Costumam ser extremamente inseguros e por isso enxergam conspirações por todo lado.
Chefes, diretores, presidentes como Pedro Guimarães promovem ambiente tóxico. Uma competição pouco saudável. Quem quer se dar bem e ser promovido se alia ao comando, torna-se informante. Quem enfrenta e não suporta ver colegas humilhados vira alvo. Muitos decidem, portanto, silenciar e tornar-se invisíveis.
Quem é assediado sente vergonha. Por isso as vítimas, mulheres e homens, pedem para não ser identificadas. O nome é fictício, com asterisco, o depoimento se faz na sombra, com silhuetas e vozes distorcidas. A vergonha é o primeiro sentimento a combater.
O assédio sexual dá mais audiência, por ser picante. A reação é mais estridente. Normal. Com mulheres, é duplo e dói mais. O assédio moral é mais difícil de provar e, por isso, mais insidioso. Atinge a todos abaixo na hierarquia. É uma relação de poder que pode amputar a vida e a carreira de um profissional, se ele ou ela não tiver uma carreira prévia consolidada. Ou se não tiver voz, equilíbrio, autoestima e autoconfiança.
É preciso mudar a cultura empresarial, não só na teoria. Se não for em nome da ética, que seja em nome da reputação e da saúde da empresa. Se assédio sexual é crime, assédio moral também é. E os homens também são vítimas.
Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.
Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00
O agora ex-presidente da Caixa tinha acessos de fúria e usava termos de baixo calão em reuniões com subordinados, revelados com exclusividade pelo Metrópoles.
Os depoimentos revelados com exclusividade pela coluna nos quais funcionárias da Caixa denunciam episódios de assédio sexual envolvendo Pedro Guimarães, que até esta quarta-feira comandava o banco público, trazem também uma série de relatos de assédio moral.
Os testemunhos incluem situações em que Guimarães, a partir do cargo de presidente da Caixa, submeteu subordinados a constrangimentos diversos.
Ao longo da apuração, a coluna falou ainda com outros empregados da Caixa e reuniu elementos que corroboram os relatos.
Tivemos acesso, também com exclusividade, a registros em áudio que dão a dimensão dos arroubos, que ocorriam inclusive em reuniões de diretoria.
Guimarães, que deixou o cargo nesta quarta em razão das denúncias, detestava ser contrariado.
Com frequência, ele elevava a voz e usava palavreado grosseiro e até chulo para reagir a decisões tomadas pelos subordinados que o desagradavam.
Eis algumas dessas situações:
A fúria por perder remuneração de conselhos
Em uma reunião no fim do ano passado, Pedro Guimarães estrilou com executivos da Caixa em razão de uma decisão que havia sido tomada pelo conselho do banco sem que ele tivesse sido informado.
A coluna apurou com fontes ligadas ao Ministério da Economia que a fúria tinha a ver com dinheiro: o conselho havia aprovado uma mudança nas normas internas que passou a estabelecer um limite à nomeação de Guimarães para conselhos da própria Caixa e de empresas nas quais o banco tem participação.
Após a decisão, ele só poderia ser remunerado pela atuação em, no máximo, dois conselhos. Na prática, a mudança representava menos dinheiro no bolso do então presidente.
A partir de um levantamento em documentos oficiais da Caixa, a coluna apurou que, desde que assumiu o comando do banco, no primeiro dia do governo Jair Bolsonaro, Guimarães integrou pelo menos 18 conselhos. Pela participação na maioria deles, recebia remuneração.
A soma dos jetons a que ele tinha direito nesses conselhos alcança a cifra de R$ 130 mil. Além desses valores, Pedro Guimarães recebia ainda o salário mensal de presidente da Caixa, de R$ 56 mil.
A partir da alteração nas normas internas, a remuneração “extra” diminuiu sensivelmente. Pedro Guimarães atribuiu a aprovação da nova regra a uma suposta sabotagem de seus subordinados, que teriam deixado passar a mudança para prejudicá-lo financeiramente.
A certa altura da teleconferência, claramente irritado, Guimarães diz que os executivos do banco estariam trabalhando contra ele e contra o governo, e que eles mereciam “se f.” com um eventual retorno do ex-presidente Lula ao poder. Ouça:
Na mesma reunião, Pedro Guimarães pede a Celso Leonardo Derziê Barbosa, um amigo pessoal que ele alçou à posição de vice-presidente da Caixa, para anotar o CPF de todos os subordinados que estavam na conferência, para que fossem punidos com a perda dos cargos que ocupavam caso o teor da reunião vazasse.
Celso Leonardo, que chegou a ser cotado para suceder Guimarães na presidência da Caixa, é apontado como o diretor encarregado de promover a perseguição interna contra os funcionários que desagradavam ao amigo.
Neste momento da reunião, Guimarães diz que a tarefa tinha que ficar a cargo de Celso Leonardo porque Álvaro Pires, outro amigo dele levado para o banco e nomeado como assessor do gabinete da presidência, é “pau mole” e não teria coragem de adotar as providências. Pires é conhecido pelo apelido de Vreco. Ouça esse trecho da reunião:
Um presidente autoritário
O jeito grosseiro fica explícito em outros trechos das gravações às quais a coluna teve acesso.
Em uma das oportunidades, ao se queixar de decisões que haviam sido tomadas no banco sem passar pelo seu crivo, Guimarães diz não se importar com a opinião dos subordinados.
“Caguei para a opinião de vocês, porque eu que mando. Não estou perguntando. Isso aqui não é uma democracia, é a minha decisão”, afirma. Ouça:
O tom é semelhante neste outro áudio, em que ele claramente ameaça de demissão os funcionários que tomarem decisões sem consultá-lo:
Todos os poderes ao gabinete
Eram comuns as situações em que o caráter centralizador de Pedro Guimarães derivava para ataques e ameaças aos funcionários.
Nesta outra gravação, ele reclama de mais uma decisão dos executivos do banco que não havia passado pela aprovação da presidência.
E diz que, ainda que algum dos vice-presidentes da Caixa tivesse avalizado a decisão, o assunto deveria ter passado pelo crivo da chefe de gabinete da presidência, Rozana Alves Guimarães. “Manda todo mundo tomar no c.”, afirma.
Acareações entre funcionários
Os funcionários ouvidos pela coluna afirmam que era comum Pedro Guimarães fazer acareações entre eles quando percebia alguma divergência em respostas a seus questionamentos. Além disso, a ameaça de demitir muitas vezes era cumprida, o que explicaria a alta rotatividade nos cargos de chefia da Caixa.
“A gente tem 37 cargos de dirigentes e mais de 100 pessoas já passaram por esses cargos desde que ele (Guimarães) chegou”, afirma uma subordinada do gabinete.
Perder um cargo de confiança pode significar muito. Executivos do banco recebem salários a partir de R$ 30 mil. Quando são demitidos das funções de chefia, eles voltam a receber o salário original, até dez vezes menor. Por isso, dizem os funcionários, muitos cediam aos caprichos de Guimarães.
“Você chega no nível máximo e de repente despenca. Vira um técnico bancário”, diz a funcionária de carreira, que relata ter sido vítima de assédio moral do então presidente do banco.
“Faixa branca” e “Long Dong”
No dia a dia, dizem os funcionários, a relação de Guimarães com seus subordinados mais próximos era repleta de palavrões, termos pornográficos e expressões ácidas que mexiam com a autoestima deles.
“‘Pau mole’, ‘júnior’, ‘faixa branca’… É assim que ele chama todo mundo”, afirma um dos empregados da Caixa ouvido pela coluna.
As expressões eram usadas quando Guimarães queria dizer que os subordinados estavam desempenhando suas tarefas como se fossem profissionais iniciantes, inexperientes.
Quando não estava satisfeito com o resultado do trabalho de algum empregado, ele reagia irado. “Ele dizia: ‘Até meu filho faria isso melhor do que você’.”
Não eram incomuns as situações em que o assédio moral vinha acompanhado das expressões de cunho sexual, segundo o relato de uma funcionária que, assim como os demais colegas, pediu para não ser identificada nesta reportagem.
“Tem uma coisa que ele sempre fala que é assim: ‘Vai vir o Long Dong, vai entrar pelo c. e sair pela boca’. Fui até pesquisar por qual motivo ele falava tanto desse Long Dong. É um ator pornô. É muito assustador”, diz ela.
A neura com celulares
Segundo os depoimentos, por vezes Guimarães cismava que estava sendo gravado e, de repente, pegava os telefones dos subordinados para se certificar de que aplicativos de gravação não estavam acionados.
“Ele implantou na Caixa um ambiente de medo e de submissão, com o clima sempre tenso”, afirma uma funcionária.
A cultura do medo, diz ela, era um instrumento que ele entendia como necessário para uma gestão eficiente. “E ele fala que, se a sua equipe gosta de você, é porque você é um péssimo gestor. Funcionários, na visão dele, têm que te odiar o chefe. Diz que você tem que arregaçar todo mundo “, prossegue. Surto ao vivo
Uma funcionária relata que Guimarães chegou a dar um murro na TV instalada em uma das salas usadas pela diretoria da Caixa por causa de um problema no som. Depois, mandou tirar o aparelho do local. A cena foi assistida por executivos do banco que, sob reserva, concordaram em falar à coluna.
Ainda de acordo com os relatos, Guimarães já danificou um computador da Caixa e arremessou um celular funcional contra a parede durante um dos acessos de raiva, na frente de funcionários.
Em uma live feita no canal da Caixa no YouTube para explicar o pagamento do auxílio emergencial durante a pandemia, ele ficou revoltado com um problema ocorrido na transmissão. “Ele estourou e falou no ar que era para mandar todo mundo embora”, conta uma funcionária. Pimenta na comida
Um episódio relatado pelos funcionários que aceitaram falar para esta reportagem tem pitadas de sadismo, embora envolva uma prática à qual Pedro Guimarães procurava dar contornos de brincadeira.
Em jantares, especialmente durante viagens de trabalho, ele despejava pimenta nos pratos dos subordinados e os exortava a comer tudo até o fim, ainda que a contragosto.
A prática era entendida como mais uma das várias técnicas polêmicas usadas por Guimarães a pretexto de motivar as equipes sob seu comando – ele chegou a ser processado por obrigar empregados a fazer flexões em eventos públicos do banco e, quando decidia descer de escada os 21 andares do edifício-sede da Caixa, saía colhendo os funcionários que encontrava pelo caminho e os constrangia a acompanhá-lo.
No caso da pimenta, uma funcionária diz: “Quanto mais você chora e passa mal, mais ele ri. Ele é bem sádico. Em toda refeição de trabalho com ele tinha pimenta no prato de alguém”.
Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.
Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00
Em um encontro nesta tarde com o presidente Bolsonaro, Pedro Guimarães oficializou seu pedido de demissão da presidência da Caixa Econômica Federal, que foi aceito. Em carta entregue ao presidente e dirigida aos brasileiros e aos colaboradores do banco, Guimarães afirma que não teve tempo para se defender é que é alvo de uma “situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade”, segundo Bela Megale, O Globo.
O agora ex-presidente fala de prêmios que recebeu durante sua gestão no banco que, em sua atuação como presidente, “sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações”. Guimarães diz ainda que deixa o cargo para se “defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram”.
Leia a íntegra da carta de demissão de Pedro Guimarães:
“À população brasileira e, em especial, aos colaboradores e clientes da CAIXA:
A partir de uma avalanche de notícias e informações equivocadas, minha esposa, meus dois filhos, meu casamento de 18 anos e eu fomos atingidos por diversas acusações feitas antes que se possa contrapor um mínimo de argumentos de defesa. É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade.
Foi indicada a existência de um inquérito sigiloso instaurado no Ministério Público Federal, objetivando apurar denúncias de casos de assédio sexual, no qual eu seria supostamente investigado. Diante do conteúdo das acusações pessoais, graves e que atingem diretamente a minha imagem, além da de minha família, venho a público me manifestar.
Ao longo dos últimos anos, desde a assunção da Presidência da CAIXA, tenho me dedicado ao desenvolvimento de um trabalho de gestão que prima pela garantia da igualdade de gêneros, tendo como um de seus principais pilares o reconhecimento da relevância da liderança feminina em todos os níveis da empresa, buscando o desenvolvimento de relações respeitosas no ambiente de trabalho e por meio de meritocracia.
Como resultados diretos, além das muitas premiações recebidas, a CAIXA foi certificada na 6ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), além também de ter recebido o selo de Melhor Empresa para Trabalhar em 2021 – Great Place To Work®️, por exigir de seus agentes e colaboradores, em todos os níveis, a observância dos pilares Credibilidade, Respeito, Imparcialidade e Orgulho.
Essas são apenas algumas das importantes conquistas realizadas nesse trabalho, sempre pautado pela visão do respeito, da igualdade, da regularidade e da meritocracia, buscando oferecer o melhor resultado para a sociedade brasileira em todas as nossas atividades.
Na atuação como Presidente da CAIXA, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações. A ascensão profissional sempre decorre, em minha forma de ver, da capacidade e do merecimento, e nunca como qualquer possibilidade de troca de favores ou de pagamento por qualquer vantagem que possa ser oferecida.
As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta.
Todavia, não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral. Se foi o propósito de colaborar que me fez aceitar o honroso desafio de presidir com integridade absoluta a CAIXA, é com o mesmo propósito de colaboração que tenho de me afastar neste momento para não esmorecer o acervo de realizações que não pertence a mim pessoalmente, pertence a toda a equipe que valorosamente pertence à CAIXA e também ao apoio de todos as horas que sempre recebi do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro.
Junto-me à minha família para me defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram.
Por fim, registro a minha confiança de que a verdade prevalecerá.
Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.
Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00
Quem é o presidente do banco, que, no cargo, se dedicou a promover atual governo.
Em três anos de gestão, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, transformou o banco em uma máquina de promoção de “boas notícias” para o governo na mesma velocidade com que colecionou acusações de assédio sexual e desavenças no comando da instituição.
Desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2019, Guimarães implementou uma agenda reformista e não se cansava de criticar a gestão petista que, segundo ele, conduziu o banco a negócios duvidosos marcados por corrupção e prejuízos, segundo a Folha.
Chegou a colecionar desafetos junto à Funcef, o bilionário fundo de pensão dos funcionários do banco, por mexer na governança da instituição para promover “uma limpeza”, como dizia internamente, sem temer o risco de sofrer ações judiciais e processos juntos a órgãos de controle.
No primeiro ano, vendeu R$ 15,5 bilhões em ativos da Caixa, melhorando o balanço que saltou para um lucro de R$ 14,7 bilhões. No ano passado, ele apresentou um resultado ainda maior (R$ 17,3 bilhões).
Boa parte desse desempenho se deve à venda de ativos considerados por Guimarães como “tóxicos”, que nada tinham a ver com a “natureza do banco”. Desde então, ele passou a enquadrar as medidas adotadas como “matemáticas”.
“Se fizerem sentido para o banco, se derem lucro, serão consideradas”, dizia Guimarães. “A Caixa é o banco do Excel [programa de computador usado para planilhar dados].”
Tornou-se próximo de Bolsonaro e da família do presidente ainda antes da eleição, segundo relatos de quem coordenou a campanha à época.
Amigos relatam que, ainda como sócio do banco Plural, última instituição por onde passou antes de ingressar no governo, Guimarães agendou conversas com empresários e financistas no Brasil e nos EUA para apresentar Bolsonaro, então presidenciável.
Ainda segundo relatos, inicialmente, Guimarães chegou a ser cogitado para coordenar a Economia, então sob os cuidados do hoje ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida.
No primeiro ano, vendeu R$ 15,5 bilhões em ativos da Caixa, melhorando o balanço que saltou para um lucro de R$ 14,7 bilhões. No ano passado, ele apresentou um resultado ainda maior (R$ 17,3 bilhões).
Boa parte desse desempenho se deve à venda de ativos considerados por Guimarães como “tóxicos”, que nada tinham a ver com a “natureza do banco”. Desde então, ele passou a enquadrar as medidas adotadas como “matemáticas”.
Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.
Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00
O presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, pedirá para deixar o cargo, com o objetivo de cuidar de sua defesa após ser alvo de denúncias de assédio feitas por funcionárias.
O presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Pedro Guimarães, deve deixar o cargo nesta quarta-feira (28), de acordo com assessores de Jair Bolsonaro (PL). A informação foi publicada nesta terça-feira (28) pela coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo.
O governo decidiu pela demissão nesta terça. Guimarães pedirá para deixar o cargo, com o objetivo de cuidar de sua defesa.
O Ministério Público Federal (MPF) investiga de forma sigilosa denúncias de assédio sexual feitas por funcionárias da Caixa contra o presidente da instituição.
Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.
Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00
A Procuradoria da República no Distrito Federal irá investigar suposta ação de Michelle Bolsonaro junto à Caixa Econômica Federal, de que a primeira-dama teria agido para favorecer empresas de amigos na busca por créditos de programas emergenciais da Caixa durante a pandemia do novo coronavírus.
A informação sobre a investigação foi confirmada pela assessoria de imprensa ao UOL. O MPF, no entanto, explicou que o tema será investigado dentro do inquérito que já apura as irregularidades na Caixa.
A reportagem da revista “Crusoé” publicada na edição de hoje diz que documentos indicam que Michelle tratou do tema pessoalmente com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Um e-mail divulgado pela publicação mostra uma assessora da primeira-dama avisando sobre o envio de “documentos dos microempresários de Brasília que têm buscado créditos a juros baixos”. A mensagem ainda faz referência a uma conversa telefônica entre Michelle e Pedro Guimarães sobre o assunto.
A reportagem diz que a Caixa chegou a abrir uma apuração interna depois que o sistema de controle detectou um “fato estranho”. A auditoria, ao analisar processos de concessão de empréstimo, identificou a sigla PEP (acrônimo para ‘pessoa exposta politicamente”) e chegou a uma lista de indicações feitas pela primeira-dama, que incluía pessoas próximas a ela como a dona de uma rede de confeitarias de Brasília.
Segundo a matéria, os integrantes da lista aprovados foram enquadrados no Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) e não há indícios de que os valores liberados extrapolassem os limites previstos pela lei.
Porém, diz a publicação, o processo para obtenção de crédito contrariou o fluxo normal, recebendo uma espécie de “tratamento vip”. A maioria das operações de crédito se deu em uma mesma agência, em Taguatinga, que segundo a reportagem foi visitada por auditores que descobriram uma pasta “Indicações” no sistema de computadores. Ela concentraria os pedidos enviados por superiores do banco a respeito destas demandas.
Além da confeiteira, a lista tinha uma empresa com duas lojas em Brasília que já teria sido promovida pela primeira-dama e outras marcas que fazem parte do que a revista chama de um “círculo pequeno de gente bem relacionada” e de indicados por eles.
O Pronampe foi instituído em 2020 como medida emergencial de enfrentamento ao impacto econômico da pandemia da covid-19. Segundo a Caixa, foram concedidos R$ 22 bilhões em empréstimos a mais de 240 mil micro e pequenas empresas. Em contato com o UOL, a Caixa disse que “submete as empresas ao seu rigoroso processo de governança, compliance e análise de riscos”, que é feito mediante processo totalmente automatizado, independente e sem interação humana”.
*Com informações do Uol
Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00
A equipe econômica do governo está preocupada com o entusiasmo demonstrado pelo presidente Jair Bolsonaro com os bancos estatais, sobretudo a Caixa Econômica Federal.
Nos planos iniciais do ministro Paulo Guedes, a CEF e o Banco do Brasil, entre outros bancos estatais, já estariam em processo de privatização.
Em setembro do ano passado, Guedes chegou a declarar ao jornal Valor Econômico: “Eu quero privatizar todas as empresas estatais. Essa é a proposta. A decisão final é do Congresso. A minha obrigação é fazer o diagnóstico e entregar a prescrição. O Congresso vai decidir.”
Mas o presidente Bolsonaro o obrigou a recuar. Em dezembro, o ministro teve que soltar nota afirmando que não pretende privatizar nem o Banco do Brasil, nem a Caixa.
A expectativa da equipe econômica era esfriar o assunto para, mais adiante, tentar novamente convencer o presidente da República.
Agora Bolsonaro abraçou uma causa que, quando a então presidente Dilma Rousseff encampou, a partir de abril de 2012, foi fartamente criticada pelos economistas liberais como Paulo Guedes: forçar os bancos públicos a baixarem antecipadamente suas taxas de juros para puxar as taxas dos bancos privados.
Em sua live no Facebook, ontem, Bolsonaro aplaudiu o presidente da CEF: “Por que [a taxa de juros do cheque especial] baixou de 13% para 8%? Porque a Caixa Econômica botou a 5%. Então o Pedro Guimarães, presidente da Caixa, está de parabéns. Se não é o Pedro ter essa iniciativa, continuaria a 13%, a 14%, ia até aumentar.”
A Caixa tem reduzido a taxa de juros para a modalidade de crédito, hoje em 4,99%. Por conta disso, segundo Bolsonaro, tem atraído 500 mil novos clientes por mês. Na segunda-feira, 6, entrou em vigor resolução do Conselho Monetário Nacional que que limitou os juros do cheque especial a 8% em todos os bancos no país.
Quando o CMN tomou a decisão, no ano passado, já foi em meio a críticas do presidente quanto às taxas de juros. Na época, Bolsonaro chegou a dizer que reduções anteriores da taxa básica de juros eram feitas “na canetada”, em referência à ex-presidente.
A equipe econômica tem sentido cada vez mais as pressões do Palácio em torno da questão dos juros. No início de dezembro, ele deixou escapar que a taxa básica de juros chegaria 4,5% até o final de 2018. Depois, ao notar que estava antecipando uma decisão que cabe ao Banco Central, consertou: “Eu torço, né?”.
Na live de ontem ele se soltou:
“Vai para a Caixa todo mundo aí, tá legal? Sai desses bancos outros aí, e vem para a Caixa. A não ser que os bancos sigam o exemplo da Caixa Econômica. Caso contrário, o Pedro vai matar os outros bancos, o Pedro é um exterminador de bancos com esses números que está apresentando do cheque especial e de outros empréstimos aí e também para casa própria, etc.”, disse Bolsonaro.