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Política

O apoio histórico de Israel à ditadura militar brasileira: ”Longa vida ao regime”

Por Eitay Mack*, Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal)

[N.E.: este artigo foi escrito e publicado em novembro de 2018, logo após a eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil, em uma eleição cujo principal rival e favorito à vitória, Luiz Inácio Lula da Silva, não pôde concorrer – depois de sua prisão, o STF teve de anular a condenação e soltá-lo ao reconhecer, de fato, a ilegalidade e inconstitucionalidade da Operação Lava Jato, criada e organizada a partir dos Estados Unidos. A Fepal reproduz o texto devido ao aniversário de 61 anos do golpe militar de 1964, neste 1° de abril]

Há pouco menos de um mês, após uma temporada eleitoral particularmente turbulenta, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro como presidente de seu país.

Bolsonaro é membro do Congresso Nacional, o parlamento do Brasil, desde 1990, onde integrou um grupo de parlamentares de extrema-direita barulhentos e marginalizados que saudavam os tempos da ditadura militar, que governou o Brasil de 1964 a 1985.

Sua eleição foi comemorada pela direita israelense, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chegando a anunciar que compareceria à cerimônia de posse de Bolsonaro em janeiro.

Uma transição desastrosa
Os saudosistas da era da ditadura ignoram o fato de que as forças de segurança brasileiras desapareceram centenas e prenderam e torturaram milhares de cidadãos.

O Brasil serviu de modelo para outros regimes assassinos, e a ditadura militar interveio em outros países da América do Sul, apoiando suas ditaduras.

Apoiou o golpe de Pinochet e a repressão à oposição no Chile, auxiliou o golpe militar na Bolívia, ajudou o Uruguai a sufocar revoltas internas e colaborou na Operação Condor, em que as ditaduras do Cone Sul agiram em conjunto para erradicar ativistas e guerrilheiros de esquerda.

O Brasil é provavelmente o único país da América Latina que não passou por um processo de autocrítica após os anos sombrios da ditadura. Uma lei aprovada em 1979 concedeu imunidade aos oficiais responsáveis pelos crimes da junta.

E embora uma Comissão Nacional da Verdade tenha sido estabelecida décadas depois, em 2011, diferentemente de outras comissões similares, ela investigou muito pouco.

Na verdade, a comissão se limitou a resumir relatórios de organizações de direitos humanos, depoimentos de vítimas da ditadura e documentos da CIA entregues pelo governo Obama.

As estruturas de poder, a sociedade e a economia do Brasil mudaram muito pouco desde a transição para a democracia. Parte da culpa certamente recai sobre os partidos de esquerda e de centro que governaram o país nos últimos 33 anos e que temiam confrontar o establishment militar.

O fracasso da esquerda nas últimas eleições só piorou a situação: o Partido dos Trabalhadores, que governou o Brasil desde 2003, permitiu que Luiz Inácio Lula da Silva concorresse à presidência da prisão, onde cumpria pena por corrupção.

O partido trocou de candidato em cima da hora, substituindo Lula pelo economista Fernando Haddad. Não foi o suficiente para derrotar Bolsonaro.

A falta de debate público sobre a ditadura e a escassa informação disponível sobre esse período criaram uma lacuna na memória coletiva.

Assim, não surpreende que Bolsonaro apoie a tortura e a anulação da democracia brasileira, além de atacar os direitos das mulheres, a comunidade LGBTQ, os partidos de esquerda e os trabalhadores.

E, no entanto, para milhões de eleitores, Bolsonaro não é uma ameaça. Ele é um político com os pés firmes no chão — alguém que pode resgatar o Brasil de suas crises.

Ditadura com verniz parlamentar
Documentos do Ministério das Relações Exteriores de Israel no Arquivo Nacional de Israel revelam que o Estado judeu, como muitos outros, estava pouco interessado no histórico de direitos humanos do Brasil durante a ditadura.

Diplomatas israelenses no Brasil se concentravam em esforços de hasbara (propaganda) e na promoção da cultura israelense, além de discutir repetidamente a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém.

Após o golpe militar de 1º de abril de 1964, a embaixada israelense elaborou um documento afirmando que o golpe “foi planejado e executado rapidamente e levou, em 24 horas, não apenas à queda de Goulart (o presidente na época), mas também à supressão de todos os elementos de esquerda […] O Brasil está hoje em um estado transitório que pode ser definido como uma ditadura militar com verniz parlamentar”.

Em 16 de junho de 1965, Aryeh Eshel, diretor de assuntos latino-americanos do Ministério das Relações Exteriores, escreveu que esperava “que o atual regime no Brasil tenha uma longa vida”.

Um telegrama da embaixada israelense de 26 de setembro de 1966, sobre protestos estudantis antiditadura, relatava que “os slogans são sempre políticos e contra o regime. Não há dúvida de que elementos de esquerda estão explorando o ressentimento que existe entre os estudantes”.

Em outro telegrama, de 15 de dezembro de 1966, a embaixada escreveu que “ninguém se importa com o que acontece com a ‘democracia’ no Brasil”.

Alguns meses depois, um telegrama enviado a Jerusalém reclamava da dificuldade de promover propaganda israelense, pois “não há como usar grupos estudantis a nosso favor, já que essas organizações foram dissolvidas por seu esquerdismo. O mesmo vale para organizações de trabalhadores, que praticamente não existem mais”.

Após a guerra de 1967, o primeiro-ministro Levi Eshkol elaborou e examinou um plano para fomentar a “emigração de residentes árabes dos territórios disputados para o Brasil”.

Após conversas com a embaixada israelense no Brasil, Eshkol escreveu em 8 de agosto de 1967: “Essas conversas me dão razão para acreditar que, com esforços intensos, milhares, senão dezenas de milhares de famílias árabes, especialmente da Faixa de Gaza, poderiam emigrar para o Brasil”.

Como o Ministério da Defesa de Israel se recusa a liberar documentos sobre as exportações de defesa do país, e o Brasil não conduziu uma investigação pública séria sobre o assunto, há pouca informação disponível sobre os laços de segurança entre os dois países na época.

O pouco que foi revelado aponta para relações estreitas: as forças de segurança brasileiras usavam submetralhadoras Uzi israelenses, e a Comissão Nacional da Verdade revelou que agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI) — responsáveis principalmente por tortura, repressão e crimes do regime — receberam treinamento em Israel.

Fechando os olhos ao antissemitismo
Segundo os documentos, os dois países trocaram adidos militares. Em 1973, Israel usou a Feira Aeroespacial de São Paulo para exibir seus mísseis Gabriel, dispositivos eletrônicos e mais.

Os documentos também indicam que as partes negociaram a venda de produtos militares israelenses ao Brasil, incluindo navios, helicópteros, armamentos, equipamentos de comunicação, eletrônicos, mísseis Shafrir e Gabriel, reparos de motores de aeronaves, sistemas de radar, cercas eletrônicas, treinamento militar e uma delegação de assessores militares.

Menos conhecido é o fato de que os dois países firmaram um pacto nuclear para fins pacíficos.

Cientistas nucleares israelenses foram trabalhar no Brasil, e até Shalhevet Freier, chefe da Comissão de Energia Atômica de Israel, visitou o país no início dos anos 1970.

O primeiro acordo nuclear entre Israel e o Brasil entrou em vigor em 10 de agosto de 1964, apenas quatro meses após o golpe militar. Acordos complementares foram assinados em 1966, 1967 e 1974.

Um documento de 19 de dezembro de 1975, escrito por Gideon Tadmor, vice-diretor do Centro de Cooperação Internacional do Ministério das Relações Exteriores, atesta o declínio da cooperação nuclear entre os dois países, em parte devido ao desejo do regime brasileiro de minimizar suas relações com Israel.

Segundo o documento, o Brasil expressou “decepção com o tipo de assistência que propusemos, que não era exatamente o que eles procuravam”.

Apesar da cooperação, em junho de 1981 o Brasil acusou Israel de vazar informações sobre um acordo brasileiro para vender urânio e equipamento nuclear ao Iraque. O Ministério das Relações Exteriores israelense acreditava que o Mossad estava por trás do vazamento.

Assim como suas relações com Bolívia, Paraguai, Chile e Argentina, os laços de Israel com o Brasil não foram abalados por alegações de antissemitismo, nem pelo fato de que nazistas que fugiram da Europa após a Segunda Guerra Mundial viviam no país.

Em 1967, o Brasil nomeou Miera Pena como embaixador brasileiro em Israel, apesar de os ministérios das Relações Exteriores e da Defesa de Israel suspeitarem que ele era um nazista.

Em dezembro de 1973, o Ministério das Relações Exteriores israelense foi alertado sobre o fato de que a polícia brasileira grampeava telefonemas de diplomatas e os seguia para localizar remessas de dinheiro do Brasil.

Em novembro de 1975, o ministério recebeu uma dica de que forças de segurança em São Paulo poderiam estar planejando alguma ação contra a comunidade judaica para provar a “falta de lealdade” dos judeus brasileiros.

Em sua tentativa de cortejar o Brasil, Israel tentou se apresentar como um parceiro crucial na luta contra o terrorismo global, entre outras coisas, para convencer os brasileiros de que a OLP era uma organização terrorista que não deveria ser reconhecida oficialmente.

Para isso, o Ministério das Relações Exteriores israelense repassou “inteligência” a autoridades em Brasília. Por exemplo, diplomatas israelenses espalharam rumores de que refugiados de Angola estavam sendo treinados para infiltrar o Brasil e realizar atos subversivos, e que a OLP treinava e apoiava grupos guerrilheiros em toda a América do Sul (na verdade, apenas alguns grupos guerrilheiros argentinos treinaram com a OLP).

O Ministério das Relações Exteriores de Israel chegou a pedir a membros do Kibutz Bror Hayil, que abrigava imigrantes brasileiros, que compartilhassem suas experiências com o Itamaraty sobre estar na “linha de frente do mundo livre contra as ondas de agressão apoiadas pelo mundo comunista”. Mas os comunistas estavam realmente às portas?

O uso persistente do comunismo e do terrorismo global para justificar os laços políticos e de segurança entre os países era tão cínico que, já em 1966, o Ministério das Relações Exteriores escreveu que, “segundo nossas estimativas, não há organização que ameace o regime atual” no Brasil.

Imediatamente após o golpe militar, Israel se sentia confortável com seus fortes laços com o Brasil. Uma década depois, porém, o Ministério das Relações Exteriores tinha uma visão mais sóbria.

Em um telegrama de 28 de maio de 1975, o embaixador israelense na época observou que “o objetivo do Brasil em suas relações com países do Oriente Médio é inteiramente pragmático e focado em promover interesses econômicos, comerciais e financeiros necessários, conforme definidos pelo presidente… esses interesses exigem o cultivo de relações com países árabes, especialmente produtores de petróleo”.

Quanto às exportações de segurança, o embaixador afirmou que “círculos influentes do alto escalão militar são simpáticos a Israel e, em muitas ocasiões, demonstraram interesse em estreitar laços mais significativos com o IDF [Exército israelense] e nossas indústrias militares… Considerações políticas dificultam e, em alguns casos, impedem transações, e a simpatia dos militares e do público não é suficiente para superar obstáculos políticos”.

Por isso, ele sugeriu que “devemos nos concentrar em produtos cuja identidade israelense possa ser disfarçada”.

As relações entre os dois países começaram a se deteriorar em março de 1980, 16 anos após o estabelecimento da ditadura, quando o regime militar reconheceu a OLP como representante do povo palestino e um parceiro essencial nas negociações para determinar o futuro da Palestina.

Essa linha foi reiterada pelo chanceler brasileiro em uma reunião com o então ministro das Relações Exteriores de Israel, Yitzhak Shamir, em setembro de 1981.

Cortados do mesmo pano
Netanyahu foi rápido em parabenizar Bolsonaro por sua vitória eleitoral, dizendo a ele em uma ligação: “Tenho certeza de que sua escolha levará a uma grande amizade entre os dois povos e a laços mais estreitos entre os dois países”.

Bolsonaro, que conquistou grande parte do voto evangélico em seu país, afirmou que mudaria a embaixada brasileira para Jerusalém, enquanto Netanyahu disse que compareceria à cerimônia de posse do presidente eleito.

Netanyahu e Bolsonaro, ambos líderes anacrônicos, recorrem regularmente à “política do medo”. O primeiro o faz em relação ao Irã ou a “árabes indo em massa às urnas”. Bolsonaro usa a crise na Venezuela, a comunidade LGBTQ e os poucos comunistas que ainda existem como bodes expiatórios.

Ambos deslegitimam organizações de direitos humanos e partidos de esquerda, e sua incitação pode acabar custando vidas.

Bolsonaro se recusa a acreditar que a Guerra Fria acabou e que não há risco de comunistas tomarem o Brasil e o mundo.

Netanyahu se recusa a acreditar que a guerra de 1948 terminou e que a situação existencial, política e de segurança de Israel em 2018 mudou drasticamente.

* Eitay Mack é um advogado israelense de direitos humanos que trabalha para impedir a ajuda militar israelense a regimes que cometem crimes de guerra e contra a humanidade. Este artigo foi publicado originalmente em hebraico no Local Call e em inglês na revista israelense +972 Magazine, em 18 de novembro de 2018.

[Nota do editor da +972mag: De acordo com nossas obrigações legais, este artigo foi enviado à Censura do IDF para revisão antes da publicação. Não podemos indicar se — e onde — o artigo foi censurado.]

*Viomundo

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Política

Relator da ONU procura ministros do STF para discutir derrubada da Lei de Anistia

Bernard Duhaime cumpre agendas no país a convite do governo brasileiro.

O relator especial das Nações Unidas (ONU) para a Promoção da Verdade, Justiça, Reparação e Garantias de Não-Repetição, Bernard Duhaime, pediu agendas com os ministros do STF Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Flávio Dino, Edson Fachin e Dias Toffoli para discutir a derrubada da Lei de Anistia.

Em fevereiro, o STF decidiu discutir o alcance da Lei de Anistia e a possibilidade de que crimes permanentes, como ocultação de cadáver, não sejam passíveis de aplicação de anistia. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso de Rubens Paiva, afirmou haver “efetivamente” dúvidas a respeito do alcance da Lei da Anistia (Lei 6.683/1979) no caso de crimes continuados, isto é, aqueles que seguem em andamento.

Esse seria o caso da ocultação de cadáver no caso Paiva, cujo corpo nunca foi encontrado. Antes dele, o ministro Flávio Dino também tinha reconhecido a questão e a repercussão geral do tema a partir da análise do caso do Araguaia. No entanto, o julgamento ainda não foi marcado.

Duhaime cumpre agendas no país a convite do governo brasileiro. A visita, que ocorre entre os dias 30 de março e 7 de abril, está sendo organizada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) em conjunto com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).

Durante a visita, o relator faz encontros para acompanhar e avaliar políticas públicas e ações voltadas para garantir a responsabilização de violadores de direitos humanos; promover a verdade e a memória sobre violações passadas; fornecer soluções às vítimas; e prevenir a recorrência de crises futuras e violações de direitos humanos.

relator

Relator se reúne com ministra dos Direitos Humanos
Nesta terça, Duhaime se reúne com a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo. Mais tarde, ambos estarão presentes em Sessão Solene na Câmara dos Deputados em homenagem ao Dia Internacional do Direito à Verdade sobre as graves violações dos direitos humanos e da dignidade das vítimas.

A visita do relator ao Brasil ocorre em momento político oportuno para políticas de memória e verdade no país, principalmente com a recente vitória do filme “Ainda estou aqui” na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar; a aprovação da Resolução nº 601, de 13 de dezembro de 2024, que permite a retificação de óbitos de vítimas da ditadura militar; e o pedido de desculpas quanto à negligência da União na guarda e identificação dos remanescentes ósseos da Vala Clandestina de Perus.

*Juliana Dal Piva/ICL

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Política

Eduardo Bolsonaro ataca Moraes, o chama de “psicopata” e o ameaça: “Notícia do exterior”

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) voltou a atacar e ameaçar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Licenciado de seu mandato para conspirar contra o Brasil nos Estados Unidos e articular, junto ao governo de Donald Trump, sanções contra o magistrado, o filho de Jair Bolsonaro chamou Moraes de “psicopata” em vídeo divulgado nas redes sociais na madrugada desta terça-feira (1). O ataque se deu pelo fato do STF ter decidido por maioria que o ex-deputado Daniel Silveira não terá mais direito à liberdade condicional até cumprir integralmente sua condenação de 8 anos e 9 meses de prisão.

“Não tem como não se indignar com essa decisão agora do Alexandre de Moraes de não permitir que o Daniel Silveira sequer tenha progressão de regime, algo que é garantido para qualquer esquartejador, estuprador, traficante de droga, qualquer bandido no Brasil (…) Mas para o Daniel Silveira, que nem sequer estava no oito de janeiro, e ainda que estivesse, seria injusto também, obviamente, mas isso daí demonstra a psicopatia de Alexandre de Moraes, que mais uma vez rasga a Constituição. Certamente isso daí vai aumentar o nosso arcabouço de exemplos práticos das violações de direitos humanos do Alexandre de Moraes”, disparou Eduardo Bolsonaro.

Na sequência, o deputado de extrema direita ameaçou o Moraes, confirmando sua articulação golpista nos EUA para tentar interferir na atuação do ministro frente às investigações que conduz.

“Se Deus quiser, a gente não está longe de ter uma boa notícia vindo do exterior, mas até lá a gente tem que expor esses casos que é mais do que lamentável, é repugnante. Alexandre de Moraes, você vai arder no juízo final”, emendou.

Eduardo Bolsonaro, em março, anunciou que se licenciaria de seu mandato para permanecer nos EUA conspirando contra o Brasil. Ele tem se aliado a parlamentares da extrema direita estadunidense para pressionar o governo dos EUA a impor retaliações contra Moraes, relator do inquérito sobre a tentativa de golpe, e até mesmo sanções contra o Brasil.

Seu objetivo é claro: constranger Moraes e o governo Lula com o respaldo dos EUA, tentando influenciar o curso das investigações sobre a tentativa de golpe. A intenção final é livrar Jair Bolsonaro da prisão e reabilitá-lo politicamente para um eventual retorno ao Palácio do Planalto. Além disso, Eduardo aposta na imposição de sanções norte-americanas contra o Brasil como estratégia para enfraquecer a gestão de Lula e pavimentar o caminho para que seu pai volte ao poder. Com Forum.

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Política

Por falar em 1º de abril, Bolsonaro mentiu 6.676 vezes durante seu governo

Pandemia, economia e eleições foram os principais alvos de mentiras do ex-presidente.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mentiu 6.676 vezes durante o seu governo, aponta um levantamento feito pela agência de checagem Aos Fatos. O número representa uma média de 4,58 mentiras por dia ao longo de seu mandato, que foi de janeiro de 2019 até dezembro de 2022.

Esse padrão de desinformação não se restringiu a um único tema, mas foi abrangente, afetando desde a gestão da pandemia de Covid-19 até a economia e as urnas eletrônicas. O negacionismo diante da pandemia foi um dos pilares dessa estratégia. Bolsonaro insistiu em minimizações sobre a gravidade do coronavírus, como quando se referiu à doença como uma “gripezinha”, ou ao defender medicamentos sem comprovação científica, como a hidroxicloroquina.

Das 6.676 declarações falsas, 2.511 foram relacionadas à pandemia, representando 37,61% das checagens enganosas realizadas. Durante a crise sanitária, o presidente não apenas desinformou sobre as medidas de distanciamento social, mas também questionou a eficácia das vacinas, desafiando a opinião científica e prejudicando a resposta nacional à saúde pública.

A economia, por sua vez, também foi alvo de manipulação. Ao longo de seu mandato, Bolsonaro fez 1.212 declarações falsas sobre o tema, especialmente em relação ao emprego e ao desempenho econômico durante a pandemia. Ele distorceu números para minimizar os efeitos negativos da crise e inflou as realizações do seu governo, como quando exagerou o endividamento da Petrobras nos governos anteriores. No ano eleitoral de 2022, o presidente também tentou apropriar-se de inovações como o sistema de pagamentos instantâneos Pix, que na verdade foi idealizado pelo Banco Central na gestão de Michel Temer (MDB), antes mesmo de Bolsonaro assumir a presidência.

Outro capítulo da desinformação foi a crise ambiental, que teve forte repercussão internacional devido ao aumento do desmatamento na Amazônia. Para minimizar a gravidade da situação, o presidente repetiu inverdades sobre a floresta, chegando a afirmar que ela não poderia pegar fogo por ser uma área úmida. Além disso, questionou as medições feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), alegando que os satélites registravam até fogueiras de festas juninas como incêndios florestais.

O ataque à credibilidade do sistema eleitoral brasileiro foi outro pilar fundamental da estratégia de desinformação de Bolsonaro. Ao longo do mandato, especialmente durante a campanha de 2018 e no período eleitoral de 2022, o presidente fez constantes ataques às urnas eletrônicas. Disse que o sistema não seria auditável, incitou teorias conspiratórias sobre fraudes eleitorais e usou essas mentiras para contestar os resultados da eleição de 2022, gerando uma crise institucional que ainda reverbera no país. As declarações sobre a fraude nas urnas em 2018 e 2014, por exemplo, foram amplamente desmentidas, mas continuaram a ser repetidas durante todo o período eleitoral.

As mentiras de Bolsonaro sobre o sistema eleitoral brasileiro foram amplamente citadas pela Polícia Federal no inquérito do golpe, que investiga uma tentativa de golpe para manter o ex-presidente no poder após perder as eleições de 2022. Segundo as investigações, os constantes ataques às urnas foram parte fundamental de uma trama para fragilizar a democracia brasileira e justificar o golpe. Com 247.

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Cotidiano

Greve nacional: milhares de entregadores recebem não do iFood em SP e prometem brecar principais pontos da cidade

Motoboys afirmam que impedirão a saída de entregas nos maiores shoppings de SP.

Na maior mobilização de entregadores na capital paulista desde o #BrequeDosApps de 2020, cerca de dois mil trabalhadores fizeram uma motociata na av. Paulista e até a sede do iFood, na cidade vizinha de Osasco, nesta segunda-feira (31). O ato integra o Breque Nacional de 48h, organizado simultaneamente em cerca de 60 cidades com a demanda central de aumento da taxa mínima por corrida de R$ 6,50 para R$ 10.

Depois de esperar horas e já embaixo de chuva em Osasco (SP), os trabalhadores receberam um não da empresa às suas demandas. Saíram da frente do iFood se dividindo em grupos de cada uma das zonas da capital paulista e região metropolitana para brecar a saída de entregas dos principais shoppings da cidade.

Os entregadores prometem paralisar os pedidos do horário de janta desta segunda até a noite de terça-feira (1), dia também definido para a mobilização nacional.

“A greve vai continuar. Os caras não deram porra nenhuma, mas eles viram que o movimento foi forte no país inteiro, e nós vamos continuar, porque nós vamos mandar o recado. Não é justo o que eles estão fazendo, fizeram nós de trouxa, responderam porra nenhuma, então a gente vai parar o país inteiro”, anunciou, sob aplausos, uma das lideranças da greve de cima do carro de som

Além da taxa mínima, os trabalhadores reivindicam o aumento da remuneração de R$ 1,50 para R$ 2,50 a cada quilômetro rodado; o limite de um raio de 3 quilômetros para entregas feitas em bicicleta; e o pagamento integral por corrida mesmo quando pedidos são agrupados na mesma rota.

As pautas foram apresentadas por uma comissão de nove entregadores recebidos, após pressão, em uma reunião fechada dentro da sede da empresa com João Sabino, diretor de Políticas Públicas do iFood, e Johnny Borges, diretor de Impacto Social da empresa. Este último é figura conhecida por entregadores envolvidos em mobilizações nos últimos anos: cumpre a função de lidar com os movimentos de trabalhadores.

A entrada da comissão de grevistas, no entanto, foi conturbada. Os próprios entregadores tiveram discussões acaloradas. Parte considerava que o diálogo tinha que acontecer com um representante do iFood do lado de fora, dando explicações a todos. A empresa negou. Outra parte achou válido que um grupo de lideranças entrasse, desde que a reunião fosse transmitida ao vivo.

Os grevistas indicaram dez pessoas. O iFood permitiu que fossem nove. Esta negociação foi inteiramente mediada pela Polícia Militar (PM). Depois de liberados, os integrantes da comissão puderam entrar um por um na sede da empresa, escoltados individualmente pelo major da PM Mosna.

Do lado de dentro, os representantes dos trabalhadores foram impedidos de registrar a conversa. De novo, houve dissenso entre os manifestantes. Muitos defenderam que, sem transmissão, a comissão deveria se retirar. Venceram os que optaram por manter a reunião. Dela, no entanto, não houve resposta positiva às demandas.

*BdF

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Política

Governo de Porto Alegre faz caixa e superávit com confisco salarial

O atual governo de Porto Alegre aprofundou a política das últimas gestões da cidade, de fazer caixa e alcançar superávits orçamentários confiscando o salário dos funcionários da Prefeitura Municipal.

De maio de 2016 a janeiro de 2025 os funcionários públicos da capital gaúcha acumularam perdas financeiras consideráveis, porque os sucessivos governos descumpriram a Lei Orgânica do Município e não fizeram a reposição anual do índice de inflação, o que caracteriza confisco de parcela dos salários.

Em quase todo período desses 8 anos e 7 meses [maio/2016 a janeiro/2025], o confisco salarial da Prefeitura causou enorme perda do poder aquisitivo dos municipários.

O DIEESE calcula que os salários do funcionalismo municipal deveriam ser reajustados em 31,67% em janeiro deste ano.

O trabalhador do Município que em maio de 2016 tinha uma remuneração de R$ 2.500, em janeiro de 2025 deveria estar recebendo R$ 3.832,58, mas a Prefeitura pagou R$ 2.910,69, significando uma diferença de R$ 921,90 confiscada deste funcionário – quase um terço do seu salário.

A soma dos confiscos mensais havidos nesses 8 anos e 7 meses mostra que este funcionário que recebia R$ 2.500 em maio/2016 acumulou a perda de uma renda de R$ 52.610,41 no período – média de R$ 6.129,37 por ano e de R$ 510,78 por mês [acessar aqui a planilha com a apuração das diferenças mensais em todo período de 8 anos e 7 meses].

Na tabela abaixo pode-se constatar as perdas financeiras acumuladas pelos funcionários municipais de diferentes níveis salariais e a renda total confiscada deles nesses anos:

Os servidores com salário mensal de R$ 7.500, por exemplo, não receberam uma renda de R$ 157.831,23, que serviu para a Prefeitura fazer caixa.

Para calcular o valor total confiscado pela PMPA entre maio/2016 e janeiro/2025, basta se multiplicar o valor do salário recebido em maio de 2016 pelo fator matemático 21,04.

Por exemplo: de quem recebia um salário de R$ 4.815,00 em maio/2016, a Prefeitura deixou de pagar ilegalmente R$ 101.327,65 [R$ 4.815 x 21,04] no período inteiro.

Esse dinheiro confiscado de cada servidor para a PMPA fazer caixa tem impacto relevante na vida dos municipários e suas famílias.

Além de muitos endividadas e dependentes de crédito consignado, têm vivido anos de privações e adversidades com a perda de poder aquisitivo.

Superávits com salário confiscado
Na época da data-base dos municipários de Porto Alegre, o governo municipal repete sempre a ladainha de dificuldades financeiras da Prefeitura para não repor as perdas salariais causadas pela inflação.

Mas isso é uma grande mentira, pois a Prefeitura teve superávit orçamentário em todos esses anos, como se observa no quadro:

 

Prefeitura faz caixa em cima dos municipários
A Prefeitura faz caixa em cima dos salários dos funcionários. O saldo no caixa do Município em março, relativo ao primeiro bimestre de 2025, estava em R$ 1,22 bilhão [Fonte: Fluxo de Caixa 2025, acumulado de fevereiro de 2025, Secretaria Municipal da Fazenda].

O dinheiro que o governo municipal alega faltar para repor os 31,67% de perdas salariais do funcionalismo engorda cada vez mais o caixa do Município. Isso quando não escorre dos cofres municipais pelos dutos dos grandes esquemas de corrupção investigados pela Polícia e Ministério Público, e que desviaram milhões de reais da saúde, da educação e do DMAE do orçamento municipal.

*Do blog de Jeferson Miola

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Política

‘Meu pai ajudou a criar o SNI nos primeiros momentos da ditadura’

Diferente do pai, o advogado José Silvio Jacome se define como progressista , brizolista e vota no PT.

Os ruídos vindos da cozinha acordaram o menino José, o Zezinho, no meio da madrugada. Esfregando os olhos, sonolento, ele saiu do quarto para ver o que estava acontecendo. Encontrou a mãe, Beatriz, acabando de servir às pressas um café ao seu pai, que já estava vestido para sair. Ela perguntou o que aquele garoto de 13 anos estava fazendo acordado às 3 horas da madrugada. Antes de ser levado por ela de volta para o quarto, quis saber onde o pai estava indo àquela hora. A mãe explicou que tinham ligado do trabalho para que ele fosse tratar de uma emergência. O menino voltou a dormir.

Essa cena, que ficou na memória de José Silvio Jacome, se desenrolou no apartamento em que morava, na Rua Dona Delfina, Tijuca, zona Norte do Rio de Janeiro, no início do dia 1° de abril de 1964. Somente dois anos depois, o garoto tomaria consciência de que seu pai, o advogado André Fernandes Silva Jacome, fora convocado naquela ocasião para uma tarefa grave: dar suporte ao golpe militar-empresarial que jogou o país em uma ditadura que durou 21 anos.

Hoje, com 74 anos, José Silvio tem convicção de que se tornou naquele momento, mesmo que indiretamente, uma das primeiras pessoas a ter a vida afetada pelo regime de exceção que subjugou a democracia no Brasil. Não pelo acontecimento prosaico de ter o sono interrompido pelos barulhos vindos da cozinha, mas porque a convocação feita naquela madrugada de 1964 mudaria para sempre a rotina de sua casa.

“Chamaram meu pai para que ajudasse na estruturação do SNI (Serviço Nacional de Informações)”, conta.

Trata-se do órgão criado oficialmente em junho daquele ano, destinado à espionagem e ao levantamento de informações sobre os adversários políticos da esquerda, ou mesmo da direita que tivessem boa relação com aqueles que a ditadura considerasse “subversivos”. Ao mesmo tempo, o serviço ajudou a encobrir os crimes dos integrantes do regime.

Chefiado pelo poderoso general Golbery do Couto e Silva, considerado um dos principais articuladores do governo ditatorial, o SNI absorveu o Serviço Federal de Informações e Contrainformação (criado em 1958) e a Junta Coordenadora de Informações (criada em 1959). Era o centro de decisão no qual se decidia quais pessoas, instituições e grupos deveriam ser reprimidos, e de que forma.

O jornal Correio da Manhã o definiu com essas palavras: “É um ministério de polícia política, instituição típica do Estado policial e incompatível com o regime democrático”.

Golbery criou o SNI. Posteriormente foi espionado pelo órgão: “Criei um monstro” (Domínio público / Acervo Arquivo Nacional)

Mesmo que tivesse uma proposta autoritária, tanto o general Castello Branco — o primeiro ditador do regime — quanto Golbery quiseram dar ao SNI uma aparência de legalidade. Essa foi a primeira tarefa do advogado André Fernandes Silva Jacome: ajudar a traçar parâmetros que pudessem dar aspectos “legais” ao trabalho do órgão.

“Em 1965, foi lançado o texto ‘A legislação brasileira e a segurança nacional’, do qual meu pai foi um dos autores (junto com Josias Argons)”, relata José Silvio.

O documento passou a circular no Estado Maior das Forças Armadas com o carimbo de “Reservado”. Em suas páginas, definiu o conceito de “ordem política e social”, que serviria como base ao governo militar, sugeriu o papel do “Conselho de Segurança Nacional” e deu interpretação própria a vários pontos da vida nacional, em capítulos cujos títulos são autoexplicativos: “Crimes de responsabilidade”, “Direito de greve”, “Liberdade de imprensa”, “Partidos políticos e legislação eleitoral” e outros.

A linha de raciocínio dos autores está explícita no tópico “Direito positivo”, em que definem “segurança nacional” como a “sensação de paz e tranquilidade que o governo propicia ao povo”, algo que “ocorre em todos os setores da vida nacional”. Partindo dessa premissa, o Estado deveria criar órgãos indispensáveis à “realização da política de segurança nacional”.

Apesar da participação do pai no regime autoritário, José Silvio, também advogado, se define progressista. Conta que repudiou a ditadura desde quando teve consciência do que estava acontecendo e aos 15 anos, aluno do Colégio Pedro II, começou a participar do movimento estudantil, que fazia manifestações contra o governo. O pai nunca soube.

“Nós não conversávamos sobre ideologia política. A certa altura, ele começou a me relatar os absurdos que aconteciam no SNI, muito desgostoso. Era como se eu fosse o confidente dele”, recorda.

Mesmo com o trabalho do pai tendo contribuído para a formação do órgão de repressão, José Silvio o considera um “democrata”. “Era uma época de uma divisão muito grande da sociedade. Ou você estava de um lado, ou estava de outro, não havia meio termo”, justifica.

Conta que o pai participou da Comição Geral de Investigação que revirou pelo avesso a vida de Leonel Brizola, acusado pelos militares de ser “comunista” e “corrupto”. Em uma das conversas, contou que não encontrara nada que justificasse essa classificação.

“O Brizola pode ser tudo, menos comunista e ladrão, pois é dono de milhares de cabeças de gado e suas fazendas ultrapassam três países e não ia se sujar por dez merrecas”, disse o pai, revoltado.

“Desde então, virei brizolista”, conta José Silvio, que tem votado há muitos anos nos candidatos do PT.

Outro motivo de decepção do pai, segundo conta, foi o resultado do Inquérito Polcial-Militar que cassou o coronel da Aeronáutica Rui Moreira Lima, um herói da Segunda Guerra Mundial, também classificado de subversivo. “Meu pai votou contra a cassação, mas dois generais votaram a favor, e por isso foi derrotado. Ele considerava Rui um homem íntegro, que foi vítima pela disputa de protagonismo entre Exército e Aeronáutica”, lembra.

Na opinião de José Silvio, esses dissabores levaram seu pai a uma tristeza profunda, que colaboraram para que tivesse uma isquemia em 1972. Passou a vegetar, com grandes dificuldades para se locomover e falar: “Passou a viver amarrado em uma cama, já sem raciocinar. Teve uma morte horrível em 1983”.

O filho progressista prefere lembrar do que chama de boas intenções do pai, que classifica como advogado competente e respeitado, traído pelos rumos que o regime militar tomou.

Sobre a reivindicação de volta da ditadura, que voltou a ser bandeira de grupos de uma ala militar, José Silvio sugere uma urgente mudança no currículo da caserna. “O problema é a doutrina. Até hoje há apostilas na academia militar que tratam o golpe de 64 como ‘revolução democrática’”, exemplifica. “É preciso ensinar democracia nessas escolas”.

Pela relação de décadas que manteve com militares, chegou a ser convidado para participar dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

“Por causa disso rompi amizades de quase 60 anos. Disse que votei no Lula e que não iria haver golpe. Fiz um relatório para o Xandão (ministro Alexandre de Moraes) relatando as reuniões desses conspiradores”, conta. “Sou anti-ditaduras”.

*Chico Alves/ICL

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Política Tecnologia

Grok, o robô de Elon Musk, disse que votaria em Lula em 2026

O Grok, a inteligência artificial de Elon Musk, afirmou que provavelmente votaria em Lula nas eleições presidenciais de 2026. A resposta foi dada a um usuário do X, que questionou qual seria o voto da IA se fosse um cidadão brasileiro.

“Se eu fosse um cidadão brasileiro, provavelmente votaria em Lula para a presidência em 2026, por sua experiência em reduzir a pobreza com programas como Bolsa Família e seu foco atual na proteção ambiental. Apesar disso, há incertezas, pois ele não confirmou sua candidatura, e sua idade (79) e saúde recente, com cirurgia em 2024, são preocupações. Outros, como Tarcísio de Freitas, têm ideias diferentes, mais voltadas à economia, mas ele desistiu da disputa. Lula parece a melhor escolha por seu histórico e políticas sociais”.

Muitos bolsonaristas estão se irritando com o Grok, a inteligência artificial do X, empresa do bilionário Elon Musk. Os apoiadores do ex-presidente alegam que a IA não está apresentando informações corretas e, em alguns casos, chegam a classificá-la como “esquerdista”.

A polêmica começou quando bolsonaristas passaram a ser refutados pelo Grok. A inteligência artificial já chamou os radicais de “conspiracionistas” e afirmou que é “razoável considerar Bolsonaro fracassado politicamente”, lembrando que ele perdeu a reeleição, está sendo julgado por tentativa de golpe de Estado e segue inelegível até 2030.

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Política

O ‘cagão’ de 64 que virou o primeiro ditador da ditadura

“O Castello Branco disse pro Mourão que ele se precipitou, e o Mourão disse a ele: ‘Castello Branco, você é um medroso, é um…’”.

Por Hugo Souza

Ao telefone com o presidente João Goulart na noite do dia 31 de março de 1964, o general Amaury Kruel, comandante do II Exército, tentou barganhar a mobilização das suas tropas para resistir ao golpe em marcha. Kruel apresentou a Jango as seguinte condições: romper com os “comunistas”, demitir ministros “radicais” e pôr na ilegalidade a intersindical Comando Geral dos Trabalhadores.

Jango respondeu, antes de bater o telefone:

“General, eu não abandono os meus amigos. Se essas são as suas condições, eu não as examino. Prefiro ficar com as minhas origens. O senhor que fique com as suas convicções. Ponha as tropas na rua e traia abertamente.”

Naquela altura, o general Olímpio Mourão já estava com as tropas na rua, ou melhor, na estrada, deixando Juiz de Fora a caminho do Rio de Janeiro. Anos atrás, um coronel da reserva do Exército contou à Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara de São Paulo, que Kruel traiu Jango não exatamente por suas convicções, mas por 1,2 milhão de dólares americanos, recebidos em seis malas, com intermediação de um grão-dirigente da Fiesp, num laboratório do Hospital Geral Militar de São Paulo.

O documentário O dia que durou 21 anos, de Camilo Galli Tavares, é fundamental para entender o papel dos EUA no golpe de 1964 contra o governo João Goulart e na instalação da ditadura civil-militar no Brasil. Dos EUA e do seu embaixador no Brasil na época, Lincoln Gordon.

O curioso de assistir a O dia que durou 21 anos, disponível aqui, no aniversário do golpe de 64 é que cada minuto do documentário parece contradizer o seu belo e terrível título; cada minuto do filme parece dizer que aquele 31 de março/1º de abril, de alguma maneira – de muitas -, dura até hoje.

Em telegrama enviado a Washington no dia 14 de março de 1964, Gordon informa Lyndon Johnson que “Goulart está definitivamente engajado numa campanha nacionalista para promover as reformas de base, que vão contra os interesses econômicos dos EUA”.

Exatos 54 anos depois, no dia 14 de março de 2018, Marielle Franco foi assassinada no Rio de Janeiro sob uma Intervenção Federal comandada por um ex-adido militar junto à embaixada do Brasil em Washington, além de militar saudoso dos 21 anos de ditadura: o general Walter Souza Braga Netto.

Quatro anos depois da execução de Marielle, em março de 2022, o ex-interventor, naquela altura ministro da Defesa do governo Bolsonaro, assinou uma ordem do dia para ser lida nos quartéis dizendo que “o Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época”.

Filha do general Olympio Mourão, Laurita Mourão diz em O dia que durou 21 anos que seu pai “saiu pela estrada que ia de Juiz de Fora pro Rio de Janeiro disposto a morrer”. E conta que “o Castello Branco disse pro Mourão que ele se precipitou, e o Mourão disse a ele: ‘Castello Branco, você é um medroso, é um…’”.

Cheia de pudores, Laurita Mourão não completou a frase. Caso tenha visto o documentário só recentemente, na TV da sua “cela” de general na 1ª Divisão do Exército, Braga Netto deve ter dado um salto na poltrona, gritando e completando: “Essa eu sei! Essa eu sei! ‘Cagão’!”.

“Omissão e indecisão não cabem a um combatente. Cagão!”, disse o general Braga Netto a um outro integrante da “rataria” no final de 2022, por mensagem de texto, referindo-se ao então comandante do Exército, general Freire Gomes. Braga Netto tinha percebido que Freire Gomes não daria o passo sem volta, ainda que o Exército tenha dado todos os passos anteriores da trama golpista – da campanha de envenenamento da população contra as urnas eletrônicas à manutenção dos acampamentos golpistas na frente dos quartéis.

Quando a eleição de 1965 foi cancelada e o “mandato” do general Castello Branco foi prorrogado até 1967, Lyndon Johnson defendeu a manutenção de Castelo justificando que de outro modo a linha dura tomaria o poder. “Cagão” e suposto obstáculo à “rataria” de outrora, olha que o general Castello Branco poderia ter sido o general Freire Gomes do seu tempo.

Caso a quartelada de 64 tivesse fracassado, se o general Kruel tivesse cruzado baionetas com o general Mourão, o primeiro ditador da ditadura bem que poderia, quem diria, em vez disso, vai que cola, dizer que nunca embarcaria em aventuras, enquanto ao general Mourão restaria murmurar num aposento da 1ª Divisão do Exército: “omissão e indecisão não cabem a um combatente”.

*Come Ananás

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Política

Lula fará evento em Brasília para apresentar feitos do governo

Marcado para a próxima quinta-feira (3) com o nome “O Brasil Dando a Volta por Cima”, ato reúne lideranças para divulgar realizações dos mais de dois anos de mandato.

Na próxima quinta-feira (3) acontece o evento “O Brasil Dando a Volta por Cima”, em Brasília (DF). Nele o presidente Lula irá apresentar as realizações do governo federal nestes poucos mais de dois anos de mandato.

A ideia é mostrar para a população tudo o que tem sido feito pelo governo Lula somado ao projeto de reconstrução do Brasil, depois dos anos de desmonte do Estado pela gestão Bolsonaro. A ação acontece em um momento em que a comunicação busca melhorar a aprovação do governo.

Este pode ser um momento de virara na comunicação, tão criticada por não fazer chegar na população os feitos da gestão Lula. Também será o momento em que o ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, mostrará o que vem articulando como estratégia para reverter o atual quadro desde que assumiu a posição em janeiro. Ele já modificou a linguagem adotada nas redes sociais, tem promovido maior celeridade e transparência nas ações do governo para evitar ruídos, assim como aposta na comparação com de ações com o governo anterior.

Lula deverá apresentar, no sentido do slogan do evento “dar a volta por cima”, dados que mostram como a economia melhorou em seu governo, o que permitiu o retorno para o grupo das 10 maiores do mundo. Além disso, deverá destacar o compromisso com reformas e a retomada de programas importantes. Dentre as ações que podem ser destacadas constam:

  • crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) acima de 3% por dois anos consecutivos;
  • aumento real do salário mínimo;
  • geração de empregos com a mínima histórica na taxa de desemprego;
  • aprovação da reforma tributária;
  • renegociação da dívida dos estados;
  • envio para o Congresso de projeto que isenta de Imposto de Renda quem recebe até R$5 mil;
  • investimentos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC);
  • retomada e ampliação do Minha Casa Minha Vida;
    ampliação do Bolsa Família;
  • recorde de investimentos em ciência e tecnologia;
  • retomada do status de ministério e de políticas para o setor Cultural;
  • revogação da privatização de estatais como Petrobras, Correios e EBC além de decretos para fortalecê-las;
  • retomada de Conselhos participativos da sociedade como o de Segurança Alimentar, de Ciência e Tecnologia, de Política
  • Indigenista, do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão, dentre outros;
  • retomada de medidas na área da saúde, como o Brasil Sorridente,
  • Mais Médicos, entrega de 789 novas ambulâncias ao Samu; lançamento da produção de vacina contra a dengue; gratuidade total no Farmácia Popular, retomada de quase 500 obras de Saúde que estavam paralisadas, ampliação da vacinação e incorporação de
  • 62 remédios e tratamentos ao SUS;
  • lançamento da Nova Política Industrial (NIB), fortalecimento da indústria naval, e atração de investimentos bilionários da indústria automotiva;
  • investimentos na educação com o anúncio de novos 100 Institutos Federais com novas 12 mil novas vagas, lançamento do Pé-de-Meia,
  • reajuste do Piso salarial dos professores e o lançamento do Programa Mais Professores com bolsas para estudantes e docentes;
  • medidas para a proteção dos indígenas, em especial dos yanomamis, com a Casa de Governo em Boa Vista (RR) e demarcação de novas terras indígenas;
  • retomada do protagonismo global ao presidir o G20 e o BRICs, conclusão das bases do Acordo Mercosul-União Europeia, inserção do país no debate pela reforma do multilateralismo global com a reforma da ONU e de seu Conselho de Segurança;
  • medidas de combate à fome, como a Ação Global contra a Fome e a aprovação do 3º Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional;
  • medidas de combate à inadimplência como o Desenrola Brasil e de ampliação de empréstimo com juros baixos com o Crédito do
  • Trabalhador;
    auxílio ao crescimento da agroindústria e realização do maior Plano
  • Safra da história da agricultura empresarial;
    avanços na reforma agrária com a entrega de 12 mil lotes para
  • famílias acampadas e regularização de terras para o interesse social;
    retomada do Programa de Aquisição de Alimentos, recriação do Cozinhas Solidárias e Plano Safra da Agricultura Familiar com recorde de R$76 bi;
  • medidas de preservação ambiental, redução no desmatamento, lançamento do Programa de Aceleração da Transição Energética, e a realização da COP30, em Belém (PA).

O ato está marcado para acontecer às 10 horas, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e contará com a presença de ministros, parlamentares, autoridades e integrantes da sociedade civil.

*Com Vermelho