O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou nesta terça-feira (24), por maioria, a validade dos decretos assinados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro dia de seu mandato que restringiram o acesso a armas no país.
A norma anula a flexibilização no monitoramento e acesso a armas feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os decretos foram assinados também pelo atual ministro do STF Flávio Dino, que era ministro da Justiça de Lula na época.
O julgamento foi motivado por uma Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) da Advocacia-Geral da União (AGU) em fevereiro de 2023, que pedia a validação da norma devido a ações na Justiça que passaram a questioná-la.
Com isso, serão suspensos os registros para compra e transferência de armas e munições de uso restrito por colecionadores, atiradores desportivos e caçadores (CACs) e a concessão de novos registros de CAC e de clubes e escolas de tiro. Também será restringido o número de armas e munições compradas de uso permitido.
Os decretos também centralizaram na Polícia Federal (PF) a competência para gerir o cadastro de armas no país. No julgamento, o ministro e relator da ação, Gilmar Mendes, destacou que de 2018 e 2022, quando houve a facilitação do porte de armas, o número de armas nas mãos de CACs passou de 350 mil para mais de 1 milhão.
*Sputnik
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O economista Jeffrey Sachs acusou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de seguir ordens do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em uma entrevista ao programa “Judging Freedom” conduzido por Andrew Napolitano. Sachs afirmou que a decisão de Trump de bombardear instalações nucleares iranianas foi tomada para atender às exigências de Netanyahu, ignorando a análise técnica das agências de inteligência americanas. Principais pontos da entrevista:
Subordinação dos EUA a interesses israelenses: Sachs criticou a subordinação dos Estados Unidos a interesses israelenses, afirmando que isso se tornou evidente e perigoso.
Inteligência ignorada: A diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, declarou que o Irã não possui nem está desenvolvendo armas nucleares desde 2002, mas Trump ignorou essa análise. Papel do presidente: Sachs defendeu que o papel de um presidente dos EUA deveria ser conter o impulso bélico da máquina de guerra americana.
ONU silenciada: A aliança entre EUA e Israel silencia a ONU, que reflete a opinião da maioria dos países do mundo, mas é vetada sistematicamente pelo Conselho de Segurança.
Risco de guerra nuclear: Sachs advertiu que a atual política externa dos EUA está empurrando o planeta para um risco concreto de guerra nuclear.
Acordos de não proliferação: Ele defendeu a retomada dos acordos de não proliferação, lembrando que o Irã firmou um acordo com os EUA e outras potências em 2015, abandonado por Trump sob pressão do lobby pró-Israel.
Essa não é a primeira vez que Sachs critica a influência de Netanyahu na política externa dos EUA. Em janeiro de 2025, Trump compartilhou um vídeo de Sachs criticando Netanyahu e a política externa dos EUA no Oriente Médio.
Sob Bolsonaro, ‘Abin paralela’ espionou sindicalistas contrários à privatização da Eletrobras
A Polícia Federal (PF) apurou que, durante o governo de Jair Bolsonaro, a chamada “Abin paralela”, um esquema de espionagem ilegal dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorou sindicalistas contrários à privatização da Eletrobras.
Segundo o relatório da PF, tornado público em 18 de junho de 2025 após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o esquema utilizava o software israelense First Mile para rastrear celulares, explorando vulnerabilidades nas redes de telefonia.
O monitoramento, que atingiu cerca de 1,8 mil telefones entre 2019 e 2021, tinha como alvos opositores políticos, jornalistas, autoridades do Judiciário, Legislativo e até aliados, como o presidente da Câmara, Arthur Lira.
A PF aponta que Bolsonaro e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, integravam o núcleo estratégico da organização criminosa, definindo alvos e estratégias para atender a interesses políticos e pessoais. No caso dos sindicalistas, a espionagem visava aqueles que se opunham à privatização da Eletrobras, conforme reportado pela mídia em geral.
A investigação indica que o esquema também buscava desacreditar adversários e instituições, como o sistema eleitoral, com picos de atividade durante as eleições municipais de 2020.
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Cerimônia será nesta quinta-feira (26), no centro de SP; moradores enfrentaram violência da PM.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa nesta quinta-feira (26), em São Paulo (SP), do anúncio oficial de uma solução habitacional para as cerca de 900 famílias da Favela do Moinho. O evento está previsto para as 10h30, no Galpão Elza Soares, região central da capital paulista.
O acordo entre os governos federal e estadual é resultado de um intenso processo de luta da comunidade, que resistiu à tentativa de remoção forçada liderada pela gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A proposta que será oficializada foi detalhada em um encontro entre representantes do governo federal e do Moinho, em 10 de junho. O acordo prevê o repasse de R$ 250 mil por família para a aquisição de uma nova moradia. Desse valor, R$ 180 mil serão viabilizados pelo programa Minha Casa, Minha Vida, e R$ 70 mil pelo programa estadual Casa Paulista. Também será garantido um auxílio-aluguel de R$ 1.200 para quem precisar aguardar a entrega do imóvel definitivo.
Acordo limitado Embora o anúncio represente conquista histórica, moradores criticam limitações, como o valor ser insuficiente para garantir moradia no centro da cidade, onde muitas famílias desejam permanecer para manter seus vínculos sociais, escolares e de trabalho. “Com R$ 250 mil, o que se compra no centro é uma kitnet. Queremos condições reais de permanecer no território”, afirmou Yasmim Flores, da associação de moradores, ao Brasil de Fato.
A comunidade também reivindica que o terreno seja destinado à criação de um memorial da favela, em homenagem à história de resistência local. “Derrubar o silo seria um apagamento histórico imenso. A gente quer deixar o nosso pedacinho para dizer: eu vim dali”, declarou Yasmim.
A gestão Tarcísio pretende construir um parque no local da Favela do Moinho, existente há 30 anos entre os trilhos do trem, mas a associação de moradores quer que o governo federal condicione a cessão da área à construção de um memorial da favela. Os moradores desejam que os silos pixados, herança do antigo moinho industrial, permaneçam intactos como forma de preservar a história e identidade da comunidade.
*BdF
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Projeto foi aprovado pelo Congresso, mas presidente não sancionou nem vetou. Promulgação foi feita após prazo constitucional..
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se manifestou sobre o projeto que institui o Dia da Amizade Brasil-Israel e deixou que a promulgação ficasse a cargo do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). O prazo legal para sanção ou veto da lei terminou no dia 18 de junho.
A ideia original foi enviada ao Congresso ainda em 2013, no primeiro mandato de Dilma Rousseff, após ela vetar uma versão anterior por conflito com o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. A nova data escolhida, 12 de abril, marca a criação da representação brasileira em Israel em 1951, de acordo com o Congresso em Foco.
Com o silêncio de Lula, e passadas as 48 horas previstas pela Constituição, a promulgação coube a Alcolumbre, que é judeu. A promulgação foi comunicada oficialmente pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa.
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Autoridades da Rússia e dos EUA trocam ameaças, com sugestões de um envolvimento de armas nucleares. Nas redes sociais, um dos principais aliados de Vladimir Putin e ex-presidente da Rússia, Dimitri Medvedev, afirmou que “vários países” estariam dispostos a fornecer ogivas para que o Irã possa se defender dos ataques dos EUA e de Israel. Em resposta, o presidente Donald Trump alertou que são os americanos quem dispõe de arsenais modernos e fez uma ameaça.
Medvedev, que é hoje o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, publicou uma série de postagens no X ainda na noite de domingo sobre os ataques do governo Trump às instalações nucleares do Irã. “O enriquecimento de material nuclear e, agora podemos dizer sem rodeios, a futura produção de armas nucleares continuarão”, disse Medvedev.
“Vários países estão prontos para fornecer diretamente ao Irã suas próprias ogivas nucleares”, insistiu. Historicamente, Moscou tem apoiado o programa nuclear daquele país.
A entrega de uma ogiva desse tipo a outro país violaria o Tratado de Não Proliferação Nuclear da ONU, assinado pela Rússia. Na Europa, onde os EUA mantêm parte de suas armas nucleares, as ogivas estão sob custódia americana. O mesmo pode ser dito sobre as armas nucleares da Rússia em Belarus.
O tom de críticas por parte dos russos contra os americanos tem ganhado a atenção da diplomacia internacional, principalmente por significar uma ruptura à noção de que poderia existir uma aproximação entre Putin e Trump. No domingo, no Conselho de Segurança da ONU, o governo russos chamou o mandatário na Casa Branca de “irresponsável” e de estar “jogando com a segurança da humanidade”.
resposta de Trump não demorou para ser publicada nesta segunda-feira nas redes sociais. “Será que ouvi o ex-presidente Medvedev, da Rússia, falando casualmente a ‘palavra N’ (Nuclear!) e dizendo que ele e outros países forneceriam ogivas nucleares ao Irã?”, questionou.
“Ele realmente disse isso ou é apenas fruto da minha imaginação? Se ele realmente disse isso, e se for confirmado, por favor, me informe IMEDIATAMENTE”, insistiu.
“A ‘palavra com N’ não deve ser tratada de forma tão casual. Acho que é por isso que Putin é ‘O CHEFE’. A propósito, se alguém acha que nosso “hardware” foi ótimo no fim de semana, de longe o melhor e mais forte equipamento que temos, 20 anos mais avançado do que os demais, são nossos submarinos nucleares”, alertou.
“Eles são as armas mais poderosas e letais já construídas e acabaram de lançar 30 Tomahawks – todos os 30 atingiram seus alvos com perfeição. Portanto, além de nossos excelentes pilotos de caça, obrigado ao capitão e à tripulação!”, completou.
*Jamil Chade/Uol
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O Irã efetivou uma ofensiva ao lançar mísseis contra instalações militares dos Estados Unidos no Oriente Médio nesta segunda-feira, 23 de junho, em resposta a ataques americanos que atingiram três instalações nucleares iranianas durante o fim de semana.
Esta ação militar ocorre em um contexto de tensão elevada, especialmente após a identificação de uma ameaça à base de Al-Udaid, no Catar, que é considerada um ponto estratégico para as operações americanas na região.
A agência de notícias estatal iraniana, Tasnim, confirmou que a Guarda Revolucionária do Irã (IRGC) realizou os ataques, detalhando que a resposta de Teerã é uma medida “poderosa e vitoriosa” contra os EUA.
O IRGC, em seu comunicado, enfatizou que não permitirá que nenhum ataque à sua integridade territorial, soberania ou segurança nacional passe sem uma resposta, não importando as circunstâncias.
O portal Axios, citando autoridades israelenses e árabes, reportou que seis mísseis foram disparados em direção ao Catar, enquanto outro teria como alvo uma base no Iraque.
Embora o Irã não tenha divulgado oficialmente os alvos específicos da ofensiva, um porta-voz militar declarou que os Estados Unidos enfrentarão “pesadas consequências” em resposta às suas ações anteriores.
Precedendo o ataque, informações da BBC indicavam uma “ameaça concreta” ao Centro de Operações Aéreas da Coalizão, que fica em Al-Udaid, a principal base aérea dos EUA na região e centro das operações do Comando Central dos Estados Unidos (Centcom) no Oriente Médio. Em virtude dessa ameaça, o Catar decidiu temporariamente fechar seu espaço aéreo e elevar o estado de alerta na base.
A base de Al-Udaid, situada nas proximidades de Doha, é vital para as operações militares dos EUA no Oriente Médio, e relatos sugerem que detonações de mísseis foram ouvidas na capital do Catar. O governo dos Estados Unidos, através da Casa Branca e do Departamento de Defesa, confirmou que está ciente da situação e monitorando as possíveis ameaças à base.
O presidente Donald Trump, que estava na Ala Oeste da Casa Branca, convocou uma reunião do Conselho Nacional de Segurança para discutir as implicações dos recentes eventos.Trump já havia advertido previamente que qualquer retaliação do Irã seria respondida com “força muito maior” do que as ações já tomadas. Até o momento, o número de possíveis vítimas resultantes dos ataques iranianos não foi divulgado oficialmente.
Adicionalmente, o governo do Catar informou que conseguiu interceptar mísseis balísticos lançados pelo Irã visando a base militar americana no seu território, reservando-se o direito de responder de forma apropriada e de acordo com o direito internacional.
Tendo em vista a gravidade da situação e as implicações potenciais para a segurança regional, é evidente que a dinâmica de poder entre os EUA e o Irã está se intensificando, com repercussões não apenas para os países diretamente envolvidos, mas também para a estabilidade no Oriente Médio como um todo.
A escalada do conflito pode levar a uma resposta militar mais abrangente e a um envolvimento ainda maior de outras nações na região, dado o valor estratégico das instalações e a possibilidade de novas hostilidades.
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O Irã respondeu de forma contundente aos ataques dos Estados Unidos que atingiram seu complexo nuclear subterrâneo de Fordow, próximo a Qom.
O porta-voz das forças armadas iranianas, Ebrahim Zolfaqari, alertou o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmando que, embora Trump possa iniciar a guerra, o Irã a encerrará. A escalada atual foi desencadeada pelo bombardeio de três instalações nucleares iranianas, incluindo Fordow, com características de precisão.
Imagens de satélite mostraram danos significativos à estrutura subterrânea da usina, mas a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou que não pode determinar o impacto nos níveis de radiação fora da área atingida.
Trump elogiou os resultados do ataque em suas redes sociais, afirmando que provocaram danos monumentais e sugerindo que o Irã deveria evitar retaliações.Teerã, por sua vez, retaliou disparando mísseis contra Israel, causando feridos e destruição em Tel Aviv, embora ainda não tenha atacado bases militares dos EUA ou bloqueado o Estreito de Hormuz, que é vital para o comércio de petróleo.
Uma ação no estreito teria implicações significativas para a economia global e poderia resultar em um confronto direto com a Marinha dos EUA.A situação despertou preocupações internacionais sobre um possível conflito mais amplo no Oriente Médio.
O presidente iraniano enviou seu ministro das Relações Exteriores para consultas com o presidente russo, Vladimir Putin. Os preços do petróleo começaram a subir em resposta ao conflito, com o barril do Brent alcançando US$ 78,12. Embora o Irã afirme que seu programa nuclear não é militar, a ofensiva dos EUA reacende temores de uma guerra prolongada.
Trump insinuou que os ataques poderiam levar à queda do regime iraniano, intensificando ainda mais as tensões. A troca de mísseis entre Irã e Israel e as ameaças mútuas agora marcam um dos momentos mais tensos da geopolítica internacional, com o Irã alertando que a retórica pode se transformar em ações concretas a qualquer momento.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou a denúncia do Brasil aos ataques militares de Israel e, mais recentemente, dos Estados Unidos contra instalações nucleares do Irã, expressando “grave preocupação” com a escalada militar no Oriente Médio. Em comunicado oficial, o governo brasileiro destacou que tais ações violam a soberania iraniana e o direito internacional, alertando para o risco de transformar uma região em um “campo único de batalha” com consequências globais imprevisíveis. Lula também criticou a comunidade internacional por sua inação diante de conflitos como o no Haiti.
A postura de Lula gerou reações polarizadas. Críticos, incluindo vozes da direita no Congresso brasileiro e em cartas no X, acusaram o governo de alinhamento com o Irã, enquanto outros elogiaram a defesa da soberania e as observações da escalada militar. A posição do Brasil reflete uma tradição de equidistância em conflitos internacionais, mas contrasta com a visão de países ocidentais que condenaram as ações iranianas.
Leia a íntegra da nota do governo brasileiro:
“O governo brasileiro expressa grave preocupação com a escalada militar no Oriente Médio e condena com veemência, nesse contexto, ataques militares de Israel e, mais recentemente, dos Estados Unidos, contra instalações nucleares, em violação da soberania do Irã e do direito internacional. Qualquer ataque armado a instalações nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e de normas da Agência Internacional de Energia Atômica. Ações armadas contra instalações nucleares representam uma grave ameaça à vida e à saúde de populações civis, ao expô-las ao risco de contaminação radioativa e a desastres ambientais de larga escala.
O Governo brasileiro reitera sua posição histórica em favor do uso exclusivo da energia nuclear para fins pacíficos e rejeita com firmeza qualquer forma de proliferação nuclear, especialmente em regiões marcadas por instabilidade geopolítica, como o Oriente Médio.
O Brasil também repudia ataques recíprocos contra áreas densamente povoadas, os quais têm provocado crescente número de vítimas e danos a infraestrutura civis, incluindo instalações hospitalares, as quais são especialmente protegidas pelo direito internacional humanitário.
Ao reiterar sua exortação ao exercício de máxima contenção por todas as partes envolvidas no conflito, o Brasil ressalta a urgente necessidade de solução diplomática que interrompa esse ciclo de violência e abra uma oportunidade para negociações de paz. As consequências negativas da atual escalada militar podem gerar danos irreversíveis para a paz e a estabilidade na região e no mundo e para o regime de não proliferação e desarmamento nuclear.”
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O representante de Israel divulgou várias informações questionáveis aos representantes brasileiros.
Teve destaque no noticiário da última semana o drama de dezenas de políticos brasileiros que estavam em Israel justamente quando o governo de Benjamin Netatnyahu lançou os primeiros ataques sobre o Irã. Os iranianos responderam disparando mísseis sobre território israelense, e os brasileiros tiveram que se abrigar em bunkers e pedir resgate ao Itamaraty.
Após o susto, todos acabaram retornando ao Brasil, mas não ficou claro o que levou um governador (Marcos José Rocha dos Santos, de Rondônia); prefeitos de diferentes regiões; vereadores; secretários municipais e estaduais; deputados e integrantes de empresas públicas a viajar para Israel, a maioria usando recursos públicos. O número total de integrantes do grupo não foi divulgado. Algumas vagas explicações sobre intercâmbio na área de segurança pública e parcerias de negócios não ajudaram a responder a esta questão.
Um vídeo obtido pelo site O Potiguar e cedido ao ICL Notícias ajuda a identificar pelo menos um dos compromissos cumpridos na viagem. Houve uma palestra ministrada aos políticos brasileiros feita por um porta-voz do exército de Israel para tentar justificar o massacre que o governo Netanyahu empreende em Gaza. A palestra não foi dvulgada na programação oficial.
Enquanto acusava a mídia internacional, e em especial a brasileira, de noticiar mentiras sobre o genocídio na Palestina, o representante de Israel divulgou várias informações questionáveis aos representantes brasileiros. O objetivo da palestra era que os integrantes do grupo se tornassem “embaixadores da verdade” no Brasil.
O porta-voz brasileiro do governo de Israel se apresentou com o nome de Rafael, e disse que sua meta era repor a verdade sobre o conflito no qual Israel está envolvido.
Afirmou que a desinformação no Brasil é grande, que há narrativas enganosas e por isso Israel tem necessidade de “passar as informações de uma forma direta para o público brasileiro sem a intermediação da mídia”, porque a “notícia chega totalmente equivocada”. Ele atacou a Globo, SBT e outras emissoras brasileiras por divulgar informações falsas sobre o conflito em Gaza.
Na verdade, acontece justamente o inverso: a linha editorial da Globo e dos principais veículos do país privilegia as versões de Israel para o massacre dos palestinos. (Veja aqui e aqui).
Na palestra, Rafael reclamou das informações baseadas em “autoridades de Gaza” ou no “Ministério da Saúde de Gaza”. Citou como mentirosas as notícias de fuzilamento de inocentes, explosão de hospitais e de que Israel está “esfomeando” a população de Gaza. “Na guerra midiática, quem mente já ganhou a guerra”, disse ele. “E as pessoas publicam essas mentiras”.
A verdade é que inúmeros casos de ataques a inocentes, destruição de hospitais e bloqueio de ajuda humanitária aos palestinos foram confirmados por representantes da ONU, Crescente Vermelho, veículos da imprensa internacional com correspondentes em Gaza e outras entidades.
Em outro trecho do vídeo, ele rebate a acusação de que Israel esteja promovendo um massacre em Gaza, com reação desproporcional à investida terrorista do Hamas, ocorrida em outubro de 2023. O porta-voz israelense contesta o conceito de proporcionalidade divulgado.
“As pessoas pensam da seguinte forma: proporcionalidade é simetria. Ou seja, se o exército israelense entrar na faixa de Gaza, eliminar até mil, mil e duzentos terroristas, que foi o que fizeram aqui em outubro, e prender cerca de trezentos, quatrocentos e deixar até cinco mil feridos vai ser proporcional, porque os números são simétricos. Mas isso é um erro muito grande”, afirmouele aos políticos brasileiros.
Segundo o militar, o direito internacional teria estabelecido em 1977 que o dano colateral (morte de civis inocentes) não pode ser exageradamente maior do que a vantagem militar do ataque. Deu como exemplo um hipotético ataque a um cozinheiro do Hamas que está em uma creche com 50 crianças. Para o porta-voz, esse seria um ataque desporporcional, porque o integrante do grupo palestino teria pouca importância. Mas ele cita outro exemplo, em que um chefe importante do comando do Hamas estivesse cercado por dez civis.
“A vantagem militar está bem pesada. O dano colateral existe, são dez civis, mas com certeza não é exageradamente maior do que essa enorme vantagem militar”, explicou. Ou seja: nesse caso, para Israel, o ataque seria proporcional.
O ICL Notícias consultou um dos maiores especialistas brasileiros na área, o jurista Tarciso Dal Maso Jardim, que atuou como consultor da Cruz Vermelha internacional. Ele desmentiu a tese.
“Não há a menor base no DIH para esse raciocínio”, respondeu o especialista.
DIH é o Direito Internacional Humanitário, conjunto de normas que busca limitar os efeitos dos conflitos armados, protegendo pessoas que não participam das hostilidades e estabelecendo limites aos meios e métodos de guerra. Também é conhecido como “direito da guerra” ou “direito dos conflitos armados”.
Ainda sobre a quantidade de vítimas de Gaza, o militar disse que das 55 mil pessoas mortas na região, 25 mil seriam terroristas. Outras 10 mil terriam morrido de causas naturais. Rafael conclui, então, que o número de civis mortos por Israel nos ataques iniciados em outubro de 2023 é de 20 mil.
O porta-voz do governo israelense disse que, de acordo com a União Europeia, o número médio de civis mortos em uma guerra urbana é o seguinte: para cada militar abatido, morrem 9 civis. Com isso, diz que o número de mortes de civis em Gaza estaria bem abaixo dos parâmetro aceitável.
Ouvido pelo ICL Notícias, o jurista Tarciso Dal Maso mais uma vez rebateu a afirmação. “Não existe cálculo e nem é aceito esse argumento”, afirmou
Além disso, o militar israelense não deu dados que comprovassem que das 55 mil pessoas mortas em Gaza, 25 mil eram terroristas. E nem elementos para comprovar que ocorreram nesse período 10 mil mortes naturais.
Segundo a Unicef, mais de 50 mil crianças foram mortas ou feridas em Gaza desde outubro de 2023.
Veja um trecho da palestra
No final do vídeo, o portavoz de Israel fala de uma pesquisa em 24 países o Brasil é o que apresenta menor rejeição a Israel. Mas para ele a grande preocupação é que os brasileiros estão entre os de maior percentual na faixa dos que nem rejeitam e nem apoiam Israel: mais de 70%.
“O que isso mostra para os senhores e para as senhoras? Que no Brasil as pessoas querem e precisam escutar o que acontece aqui”, disse Rafael. “São pessoas como vocês que vão voltar para o Brasil… e vocês são lideranças nas cidades de vocês, têm o privilégio de poder duzer: eu estive lá e posso explicar o que eu vi, o que eu escutei. Vocês têm também argumentos pra poder explicar o que acontece”. Foi aplaudido pelos ouvintes.
Veja nesse trecho:
Ao final da palestra, o porta-voz do governo israelnse foi aplaudido novamente.
Abaixo, parte da lista de políticos brasileiros que participou do tour a Israel:
Marcos José Rocha dos Santos – governador de Rondônia
Cícero Lucena – prefeito de João Pessoa,
Álvaro Damião – prefeito de Belo Horizonte
Mersinho Lucena (PP-PB) – deputado federal
João Cardoso – deputado distrital (Avante)
Claudia da Silva, vice-prefeita de Goiânia (GO)
Francisco Nélio, tesoureiro da CNM
Francisco Vagner, secretário de Planejamento de Natal (RN)
Janete Aparecida, vice-prefeita de Divinópolis (MG)
Johnny Maycon, prefeito de Nova Friburgo (RJ)
Márcio Lobato, secretário municipal de Segurança Pública de Belo Horizonte (MG)
Welberth Porto, prefeito de Macaé (RJ)
Davi de Matos, chefe executivo do Centro de Inteligência, Vigilância e Tecnologia de Segurança Pública do Rio de Janeiro (Civitas)
Flávio Guimarães, vereador do Rio de Janeiro (RJ)
Gilson Chagas, secretário de Segurança Pública de Niterói (RJ)
Vagner Araújo , e o secretário de planejamento de Natal,
Ana Paula Soares Marra – secretária de Desenvolvimento Social do Distrito Federal
Thiago Frederico de Souza Costa – secretário-executivo Institucional e de Políticas de Segurança Pública do Distrito Federal
Rafael Borges Bueno – secretário de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal
Pedro Leonardo de Paula Rezende – secretário estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás
Ricardo José Senna – secretário-executivo de Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul Christinne Cavalheiro Maymone Gonçalves – secretária-adjunta da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul
Marcos Espíndola de Freitas – coordenador de Tecnologia da Informação da Secretaria de Saúde de Mato Grosso do Sul
Augusto Leonel de Souza Marques – secretário de Integração de Rondônia
Valdemir Carlos de Góes – secretário-chefe da Casa Militar de Rondônia
Maricleide Lima da Fonseca – chefe de Agenda do Governador de Rondônia
Rute Carvalho Silva Pedrosa – chefe de Gabinete do Governador de Rondônia
Renan Fernandes Barreto – chefe de Mídias do Governador de Rondônia
Marco Antônio Costa Júnior – secretário de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal
Rasível dos Reis Santos Júnior – secretário estadual de Saúde de Goiás
Keila Edna Pereira Santos – esposa do secretário Rasível
José Eduardo Pereira Filho – secretário-executivo do Consórcio Brasil Central
Renata Helena Cese Caram Zuquim – diretora de Relações Internacionais e Parcerias do Consórcio Brasil Central
Bruno De Oliveira Watanabe – diretor de Projetos do Consórcio Brasil Central
Fabrício Oliveira dos Santos – assessor de comunicação do Consórcio Brasil Central
Ana Luisa Farias Barros Coêlho – analista internacional do Consórcio Brasil Central
Maryanne Terezinha Mattos – vice-prefeita e secretária de Segurança Pública de Florianópolis (SC) Vanderlei Pelizer Pereira – vice-prefeito de Uberlândia (MG)
Dilermando Garcia Ribeiro Júnior – secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Aracaju (SE)
Paulo Rogério Rigo – secretário de Proteção Civil de Joinville (SC)
Alexandre Augusto Aragon – secretário municipal de Segurança Pública de Porto Alegre (RS)
Verônica Pereira Pires – secretária de Inovação, Sustentabilidade e Projetos Especiais de São Luís (MA)
*Reportagem de Chico Alves publicada no ICL
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