A CPI da Covid ouve Raimundo Nonato Brasil, sócio da empresa de logística VTCLog, que presta serviços ao Ministério da Saúde e está envolta em suspeitas de irregularidades apuradas pelos senadores do colegiado.
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O Comitê da ONU (Organização das Nações Unidas) dos Direitos da Criança quer o fim imediato do uso de crianças vestidas como militares ou portando armas de eventos políticos realizados pelo presidente Jair Bolsonaro.
Numa declaração feita nesta terça-feira em Genebra em resposta a um questionamento enviado pela reportagem do UOL ainda na semana passada, o mecanismo especial da ONU condenou o comportamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e alertou que tal uso viola os compromissos internacionais assumidos pelo país e deve ser criminalizado.
O Comitê “condena com veemência o uso de crianças pelo presidente Bolsonaro, vestidas com trajes militares e com o que parece ser uma arma de fogo, para promover sua agenda política, mais recentemente em 30 de setembro de 2021”.
A reação do Comitê ocorreu depois que Bolsonaro, na semana passada, usou uma criança fardada com o uniforme da Polícia Militar em um evento público em Belo Horizonte. Uma arma de brinquedo também foi usada.
Essa, porém, não havia sido a primeira vez que o presidente recorreu a crianças para fazer ou ensinar gestos de armas. No final de semana, 80 entidades brasileiras indicaram que iriam levar o caso para as instâncias internacionais.
A declaração não implica a imposição de medidas contra o Brasil, algo que o Comitê e nem a ONU tem qualquer condição e nem mandato para aplicar. Mas amplia o constrangimento internacional do presidente, já com sua reputação amplamente corroída no cenário mundial.
“O Brasil é um Estado parte tanto da Convenção sobre o Direito das Crianças quanto de seu Protocolo Opcional sobre o envolvimento de crianças em conflitos armados, e tem a obrigação de garantir que as crianças não participem de hostilidades ou de qualquer atividade relacionada a conflitos”, disse.
“A circulação de imagens de tais crianças perpetua ainda mais os danos a elas causados e corre o risco de contribuir para a falsa percepção de que o uso de crianças em hostilidades é aceitável”, alertou.
No comunicado, o Comitê ainda sugere que tais práticas precisam ser processadas e sancionadas, sempre a partir das leis locais e do sistema judiciário nacional.
“A participação de crianças em hostilidades é explicitamente proibida pela Convenção sobre os Direitos da Criança (Artigo 38) e seu Protocolo Opcional sobre o envolvimento de crianças em conflitos armados (Artigos 1 e 4)”, explicou.
“Isso inclui o uso de crianças em quaisquer atividades relacionadas com conflitos e a produção e disseminação de imagens de crianças envolvidas em hostilidades reais ou simuladas”, disse.
“Tais práticas devem ser proibidas e criminalizadas e aquelas que envolvem crianças em hostilidades devem ser investigadas, processadas e sancionadas”, completou.
O Comitê, portanto, pede ao governo a “suspensão imediata e urgentemente o uso de crianças vestidas com trajes militares para qualquer finalidade, remover tais imagens de todos os meios de comunicação e impedir sua posterior distribuição”.
O Comitê ainda “solicita ao Brasil que se abstenha de cometer no futuro tais práticas que violam os direitos da criança e que divulgue amplamente informações sobre a Convenção e seus Protocolos Opcionais aos profissionais relevantes, bem como ao público em geral”.
*Jamil Chade/Uol
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Gráfico mostra que declarações polêmicas de ministro da Economia antecederam alta do dólar; variação beneficiou offshore,
Desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em janeiro de 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ganhou, no mínimo, R$ 14 milhões apenas com a variação cambial em sua empresa offshore aberta em um paraíso fiscal, revelada pelo Pandora Papers.
Um levantamento do cientista de dados e jornalista Marcelo Soares, da Lagom Data, mostra que declarações do ministro coincidiram com a alta do dólar, o que beneficiou seu patrimônio no exterior. As falas não guardam relação direta com a variação cambial, mas apontam um possível conflito de interesse.
“As frases na linha do tempo apenas coletam declarações em que ele menciona o nível de câmbio, não implicando relação direta com os aumentos”, pondera Soares. O jornalista, no entanto, aponta que, “como o mercado financeiro trabalha com expectativas de futuro, declaração de autoridades econômicas costumam ser levadas em conta no cálculo dos investidores”.
O pesquisador escolheu três declarações feitas pelo ministro sobre a alta do dólar e cruzou a data das frases com as oscilações cambiais. Leia o infográfico:
gundo os documentos, Guedes criou a Dreadnoughts International Group em 2014, nas Ilhas Virgens Britânicas. Naquele ano possuía pelo menos 8 milhões de dólares investidos na companhia, registrada em seu nome e nos de sua mulher, Maria Cristina Bolívar Drumond Guedes, e filha, Paula Drumond Guedes. Esse número subiu para 9,5 milhões de dólares no ano seguinte, segundo os documentos.
O cálculo do valor que lucrou com as oscilações do câmbio desconsidera a possibilidade de o ministro ter enviado dinheiro à empresa no exterior depois do início do mandato de Bolsonaro. Caso isso não tenha ocorrido, a alta dólar garantiu ao ministro cerca de R$ 14 mil por dia desde que assumiu o cargo.
O nome de Guedes veio à tona em reportagem publicada no domingo (3), projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), formado por mais de 600 repórteres de 151 veículos em 117 países e territórios.
O Pandora Papers investigou milhões de documentos de paraísos fiscais em todo o mundo. No Brasil, participaram da apuração a Agência Pública, revista Piauí e os sites do Poder360 e Metrópoles.
Normas do serviço público indicam que o ministro teria desrespeitado os procedimentos demandados de altos funcionários do governo federal –o que ele nega.
Oposição protesta
Para o líder da oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), trata-se de um “escândalo gravíssimo”.
“Viola frontalmente o artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal e, portanto, deveria levar à demissão do Ministro. Nós, da oposição, vamos propor a convocação do Ministro e do presidente do Banco Central para prestar esclarecimentos à Câmara dos Deputados e entrar com representação no Ministério Público Federal (primeira instância) por improbidade administrativa contra ambos.”
O líder da bancada do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (PT-RS), também se manifestou. Por meio de sua conta no Twitter, disse que “não é coincidência”.
“Paulo Guedes, ministro da Economia, Campos Neto, presidente do Banco Central, têm off shores em paraíso fiscal do Caribe”, postou.
E chamou atenção para o fato de empresários apoiadores de Jair Bolsonaro, Otávio Fakhoury e Marcos Bellizia, investigados por financiar a propagação de notícias falsas, também lucrarem com essas empresas abertas em outros países sem pagar impostos.
*Com informações do Brasil de Fato
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Investidores batem em retirada das ações do Facebook, nos EUA, devido à queda inédita do sistema que já dura 5 horas.
O tempo recorde fora ar de todos os sistemas da empresa, incluindo, o Whatsapp e o Instagram, provocam uma queda de 5% nas ações da empresa, na Nasdaq.
Quanto mais tempo o Face permanecer fora do ar, maior será a desconfiança em empresas de tecnologia.
No Brasil, Bolsa tem queda de 2,22% e dólar chega a R$ 5,45.
Papéis do Facebook negociados nos EUA fecharam o pregão com queda da ordem de 5%, na maior baixa diária desde 20 de outubro de 2020.
Em um dia de forte instabilidade nas redes sociais de Mark Zuckerberg, como Instagram, Facebook e WhatsApp, as ações do Facebook negociadas na bolsa de Nova York (Nasdaq), fecharam o pregão desta segunda-feira (4) em queda de 4,89%, a US$ 326,23, na maior baixa diária desde 20 de outubro de 2020, quando os papéis tiveram baixa de 6,3%.
A baixa acontece após alegações de uma ex-cientista de dados do Facebook, Frances Haugen, de que a rede de mídia social tem colocado o lucro antes da segurança dos usuários.
Durante programa na rede americana CNBC, Haugen alegou que a gigante da mídia social tem enganado os investidores sobre como tem lidado com o discurso de ódio e desinformação em sua plataforma.
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Baker McKenzie, pioneiro na evasão fiscal de empresas, trabalha para magnatas, fabricantes de armas e regimes autoritários.
Metrópoles – Quando bilionários, multinacionais e pessoas ligadas à política querem esconder bens ou evadir impostos, é comum que procurem o Baker McKenzie, um grande e poderoso escritório sediado em Chicago que se tornou o maior dos Estados Unidos. Com 4.700 advogados em 46 países e receita de US$ 2,9 bilhões, o Baker McKenzie se autodescreve como “o verdadeiro escritório global de advocacia”. Ele está entre uma dúzia de escritórios dos EUA e do Reino Unido que estabeleceram grandes redes internacionais e transformaram a advocacia.
Os documentos do Pandora Papers, investigação global conduzida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e que o Metrópoles integra e publica desde domingo (3/10), o Baker McKenzie é arquiteto e pilar de uma economia clandestina, frequentemente chamada de “offshore”, que beneficia os ricos à custa de tesouros nacionais e do bolso dos cidadãos comuns.
Os papéis mostram que o Baker McKenzie ajudou multinacionais e ricos a evitar impostos e o escrutínio público pelo uso de empresas de fachada, fundos fiduciários e estruturas complexas em paraísos fiscais. Esses meios, cobertos de sigilo, escondem vastas riquezas — imóveis, iates, ações e dinheiro, às vezes de origem obscura.
Entre seus clientes: pessoas e companhias ligadas à corrupção política, práticas comerciais fraudulentas e regimes autoritários.
Jho Low, um assessor de Najib Razak, então primeiro-ministro da Malásia, fez uso extensivo de filiais do Baker McKenzie. Low atualmente está foragido, acusado de ser o cérebro de um esquema de desvio de bilhões de dólares de um fundo de investimento público. Ele é procurado na Malásia, nos Estados Unidos e em Cingapura.
A Rostec, a fabricante russa de armas que vendeu suas ações de uma mina na Mongólia, está entre uma dúzia de empresas controladas pelo Estado russo que fez contratos com o Baker McKenzie enquanto enfrentava sanções internacionais.
Já a Apple, que buscou ajuda do Baker McKenzie para encontrar um paraíso fiscal, se tornou o retrato internacional da evasão fiscal offshore por empresas.
O ICIJ descobriu que o Baker McKenzie participou do registro de mais de 440 companhias offshore em paraísos fiscais, conectando clientes com provedores de serviços offshore. Ele aconselhou dezenas de gigantes corporativos em manobras fiscais e offshore. O escritório faz lobby por eles em Washington e outras capitais e os defende se questionados pelas autoridades. Os documentos vazados revelam que o escritório de advocacia ajudou a organizar empresas de fachada no Chipre para a gigante de alimentos e tabaco RJR Nabisco. Para a Nike, ajudou a criar um abrigo fiscal holandês. De acordo com uma ação judicial do governo dos Estados Unidos, seus advogados ajudaram o Facebook a levar bilhões de dólares em lucros para a Irlanda, onde a tributação é baixa.
Em uma série de declarações escritas ao ICIJ, o Baker McKenzie afirmou que procura oferecer os melhores conselhos legais e fiscais para ajudar seus clientes a navegar um conjunto de regras globais “altamente complexas, em constante evolução e frequentemente conflitantes”.
“Transparência e prestação de contas são elementos essenciais nesse assessoramento”, afirma o porta-voz do escritório, John McGuinness. “Nós nos esforçamos para garantir que nossos clientes sigam tanto a lei quanto as melhores práticas.”
O Baker McKenzie não respondeu diretamente a diversas perguntas sobre seu papel na economia offshore ou por que seu nome aparece com tanta frequência em documentos de prestadores de serviços offshore. O porta-voz McGuiness disse que o escritório costuma encaminhar clientes ou questões legais para outros escritórios de advocacia e prestadores de serviço em jurisdições onde não possuem escritórios.
Pouco tempo depois da abertura do escritório de Hong Kong, em 1974, diversos advogados seniores do Baker McKenzie criaram duas subsidiárias que alimentaram o então recente mercado de evasão fiscal e ocultação de bens na ilha. Os sócios John Connor e Robert Pick formaram a B. & McK. Custodians Ltd., cuja missão era ajudar a criar e administrar empresas dentro e fora de Hong Kong. Dois anos e meio depois, George Forrai, um colega, ajudou a criar a B. & McK. Nominees Ltd., instalada na sede do escritório de advocacia em Hong Kong. Os afiliados providenciaram substitutos, conhecidos em inglês como nominees, o equivalente em português a testa de ferro, para atuar como diretores e acionistas da empresa.
A B. & McK. Nominees forneceu diretores, acionistas e secretários para centenas de companhias e empresários em Hong Kong, incluindo o sócio de Zeman na indústria do vestuário, Bruce Rockowitz, e gigantes do mundo corporativo como Nike e Apple.
Nem a Nike nem a Apple responderam às perguntas sobre o porquê de terem usado os serviços os serviços de “nominees” do Baker McKenzie em Hong Kong. A Nike disse em um pronunciamento que segue todas as regras locais. A Apple declarou ser “a maior pagadora de impostos do mundo”. Rockowitz não respondeu aos pedidos de comentário.
O Baker McKenzie afirmou que “às vezes” fornece acionistas indicados para multinacionais que não têm equipe jurídica local.
Como chefe da divisão norte-americana de gestão de fortunas do Baker McKenzie, Simon P. Beck é um palestrante muito procurado.
Advogado, consultor tributário e especialista em trusts, Beck costuma dar palestras em conferências e eventos de treinamento, alguns em hotéis cinco estrelas. Entre os assuntos que aborda, estão o uso de trustes e instrumentos offshore para proteger clientes de credores e maneiras de manter ativos fora do alcance de familiares e ex-cônjuges “perdulários ou hostis”.
Embora viva em Nova York, Beck também integra a equipe de especialistas em impostos e trustes do Baker Mckenzie, que orienta algumas das pessoas mais ricas do mundo sobre como proteger suas fortunas. Conforme revelam os Pandora Papers, frequentemente a solução é escondê-los em uma empresa de fachada ou truste estabelecido em um paraíso fiscal.
De suas salas no 17º andar, a uma quadra da baía de Biscayne, o escritório de Miami administrou dezenas de empresas anônimas e fundos para clientes estrangeiros. Os clientes usavam entidades offshore para manter artigos de luxo, imóveis e investimentos, apontam os documentos vazados. O Baker McKenzie apresentou clientes a provedores de serviços offshore, aconselhou-os sobre questões fiscais, manteve registros no exterior, forneceu atendimento em due diligence, escreveu cartas de referência e muito mais, de acordo com a análise dos documentos confidenciais feita pelo ICIJ.
Frequentemente, eles delegavam trabalho a prestadores de serviços especializados em criar empresas de fachada, como a Trident Trust.
O coproprietário do Ottawa Redblacks, time da Liga Canadense de Futebol, foi um dos clientes – ele buscava “proteção” dos impostos imobiliários dos EUA. Outro foi um executivo peruano investigado por corrupção no escândalo da Odebrecht. Há ainda a mãe de 100 anos de um sonegador de impostos condenado por fraude fiscal e lavagem de dinheiro.
próprio Beck cuidou do caso de Thais Neves Birmann, ex-esposa de Daniel Birmann, um ex-investidor, banqueiro e acionista de uma das maiores empresas de munição da América Latina.
Em 2005, as autoridades brasileiras multaram Daniel Birmann em cerca de US$ 90 milhões por lucrar indevidamente com a reestruturação da fabricante de eletrônicos SAM Indústrias S.A. À época, havia sido a maior multa já aplicada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do Brasil. Birmann declarou falência e supostamente ocultou bens ao transferi-los para familiares, entre eles Thais.
Uma década depois, com o processo de falência ainda em andamento, as autoridades brasileiras apreenderam um iate de US$ 20 milhões que, de acordo com elas, Birmann possuía secretamente por meio de uma empresa de fachada constituída na Ilha de Man. A CVM pediu à Justiça permissão para penhorar o iate e receber a multa de US$ 90 milhões. Em abril de 2016, solicitou autorização para confiscar outros ativos não revelados, incluindo quase US$ 4,6 milhões em empréstimos não pagos que Birmann tomou para sua ex-mulher e outros parentes.
Meses depois, em julho de 2017, o Baker McKenzie e a Trident Trust criaram uma empresa chamada Waymoore Partners, que tinha Thais Neves Birmann como proprietária. A companhia era dona de uma casa de cinco quartos em Miami Beach, avaliada em US$ 1,87 milhão.
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Metrópoles – Os acionistas de 20 das 500 empresas que mais empregam no Brasil têm offshores em paraísos fiscais. Ao todo, 25 acionistas ou donos de companhias como Prevent Senior, MRV Engenharia, Grendene e Riachuelo, entre outras, inauguraram esses negócios com objetivos que foram desde a compra de imóveis e iates até a economia de impostos e a proteção de suas fortunas contra crises políticas e econômicas do Brasil. Uma colaboração jornalística organizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), do qual o Metrópoles faz parte, investigou, nos últimos meses, milhares dessas offshores, abertas principalmente nas Ilhas Virgens Britânicas, e cujos documentos foram entregues ao ICIJ por uma fonte anônima há cerca de um ano.
O resultado dessa investigação deu origem à série de reportagens Pandora Papers, que começa a ser publicada a partir deste domingo (3/10) por veículos como Washington Post, Le Monde, El País, The Guardian e BBC, entre outros. No Brasil, além do Metrópoles, também participaram da investigação o site Agência Pública, a revista Piauí e o site Poder 360.
Offshores são empresas em paraísos fiscais e constituem populares instrumentos entre as pessoas mais ricas do mundo. Elas são criadas por motivos que vão desde economizar no pagamento de impostos — um drible fiscal eufemisticamente chamado de eficiência tributária — até a proteção de ativos contra o risco político ou confiscos, como o que ocorreu no Brasil em 1990. Por estarem localizadas em países com pouca transparência e fiscalização, as offshores também são usadas por quem quer ocultar patrimônio ou por corruptos ou integrantes de organizações criminosas que desejam esconder dinheiro sujo. No Brasil, é permitido ter offshores, desde que declaradas à Receita Federal e, quando seus ativos ultrapassam US$ 1 milhão, ao Banco Central.
O ICIJ entende que revelar a existência de offshores de ricos e poderosos, mesmo quando não há crime envolvendo a sua criação, é prestar um serviço de interesse público, porque esse é um mecanismo de economizar impostos e proteger patrimônio exclusivo da elite econômica mundial. Em outras palavras, a maioria da população não tem dinheiro nem meios para abrir uma offshore.
Os brasileiros estão em destaque dentro desse clube exclusivo. Com 1.897 nomes, o país é o quinto com a maior quantidade de pessoas citadas na base do Pandora Papers, que conta com pelo menos 27,1 mil offshores. Constam, nesse grupo, os donos das maiores empresas do Brasil, como os irmãos Andrea, Eduardo e Fernando Parrillo, donos do plano de saúde Prevent Senior; o dono do grupo Guararapes (Riachuelo) e quase candidato à Presidência da República em 2018, Flávio Rocha; os donos da Grendene, Pedro e Alexandre Grendene; o patriarca da família Menin, Rubens Menin, e seus filhos, donos da MRV, do Banco Inter e da CNN Brasil, entre outras empresas; e o dono da Rede D’Or, Paulo Junqueira Moll. Todos eles afirmaram ter declarado às autoridades brasileiras que são proprietários de offshores.
Para chegar aos nomes, o Metrópoles solicitou ao Ministério da Economia a lista das 500 empresas brasileiras com a maior quantidade de funcionários. Depois, uma pesquisa desses CNPJs nas informações societárias públicas da Receita Federal elencou quem são os donos, diretores e conselheiros dessas empresas. Por fim, um último cruzamento identificou quais desses nomes tinham offshores com documentos no acervo do Pandora Papers.
As empresas dos brasileiros citados no Pandora Papers foram abertas por razões diversas, desde a compra de um barco e imóveis até a diversificação de portfólios de investimentos em contas em países como a Suíça e os Estados Unidos. Também houve quem abrisse a offshore para usar o cartão de débito de uma conta no exterior. Todos os 70 executivos e empresários foram contatados, seja por meio da assessoria de imprensa, seja por outros canais, para que informassem se declararam à Receita Federal e ao Banco Central a abertura da offshore e explicassem a razão de terem criado as empresas. Veja a seguir os detalhes sobre os casos envolvendo os dez primeiros nomes desta lista e na sequência a relação completa, dos 70 executivos.
Irmãos Parrillo (Prevent Senior)
A Prevent Senior, plano de saúde que tem rede própria de hospitais, entrou no foco da CPI da Pandemia devido a supostos estudos realizados pela empresa para, sem a autorização dos pacientes, avaliar a efetividade da cloroquina e de outros medicamentos contra a Covid-19. Os irmãos que controlam a Prevent Senior — Andrea, Eduardo e Fernando Fagundes Parrillo — figuram no banco de dados do Pandora Papers como detentores de quatro offshores: a Shiny Developments Limited, a Luna Management Limited, a Hummingbyrd Ventures Limited e a Grande Developments Limited. Juntas, totalizam quase US$ 9 milhões em ativos.
Em todos os casos, o dono da empresa é uma offshore localizada em São Cristóvão e Nevis, país que é um movimentado paraíso fiscal no Caribe, e que não informa quem são os donos de suas offshores. Os irmãos aparecem sempre como beneficiários, ou seja, as pessoas que efetivamente controlam a companhia. A manobra é comum, e muitas vezes seu objetivo é deixar mais opaca a propriedade de offshores. Beneficiários de offshores costumam alegar que não são donos, já que não detêm nominalmente as ações da empresa.
A Shiny e a Luna são ligadas a Andrea. Em formulário de atualização dos dados da companhia de 2018, a empresária informou que a Shiny foi criada para manter portfólio de investimentos e conta-corrente, ambos no banco Raymond James da cidade de Coral Gables, na Flórida. A offshore detém US$ 3,7 milhões em ações, títulos de dívida pública e participações em fundos mútuos, que são fundos de investimento que detêm uma série de ativos cujo rendimento é dividido entre seus cotistas. Os valores viriam, segundo o formulário preenchido dela, de rendimentos da Prevent Senior. De acordo com a descrição detalhada do objetivo da Shiny, ela receberia recursos “dos clientes no Brasil e transferiria os recursos para a conta pessoal de investimentos no Raymond James (Shiny Development)”.
Documento da offshore de Andrea Parrillo, da família controladora da Prevent Senior
Já a Luna Management detinha US$ 50 mil e serviria para movimentar dinheiro no Brasil e para uso de cartão de débito. A conta também é do Raymond James em Coral Gables.
A Hummingbyrd é ligada a Fernando e mantém, segundo os documentos do acervo do Pandora Papers, US$ 3 milhões em investimentos diversos, também em contas no Raymond James. O formulário da companhia, atualizado em janeiro de 2018, diz que ela serviria exclusivamente para investimentos.
Documento da offshore de Fernando Parrillo, um dos controladores da Prevent Senior
A Grande Developments é de Eduardo e, segundo o formulário de atualização da companhia, de janeiro de 2018, também tem foco em investimentos, mantendo US$ 2 milhões em aplicações diversas no mesmo Raymond James. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Prevent Senior respondeu que “todas as movimentações são declaradas” às autoridades brasileiras.
Documento da offshore de Eduardo Parrillo, um dos donos da Prevent Senior
Família Menin (MRV, Banco Inter, CNN Brasil)
Apesar do perfil discreto, a família Menin e principalmente seu patriarca, o bilionário Rubens Menin, têm aparecido mais, nos últimos anos, devido a operações empresariais com ampla repercussão, como a criação da CNN Brasil e os investimentos no time de futebol de coração de Menin, o Atlético Mineiro. As duas principais empresas da família são a construtora MRV e o Banco Inter.
A família Menin tem quatro offshores citadas nos documentos do Pandora Papers, que detêm pelo menos US$ 82,2 milhões em ativos. A primeira se chama Costelis International Limited e tem jurisdição nas Ilhas Virgens Britânicas, um dos principais paraísos fiscais do mundo. A empresa existe pelo menos desde 2016, quando suas informações foram atualizadas.
De acordo com o formulário enviado na ocasião à Trident Trust, a Costelis International detinha, em 2016, US$ 75 milhões em ativos. Esse valor corresponde ao barco de luxo Dokinha V e outros bens não especificados. O Dokinha, ancorada na Flórida, entre as cidades de Aventura e Fort Lauardale, tem 33 metros de comprimento — o tamanho de um prédio de dez andares. A embarcação, que está entre as 5 mil maiores do mundo, tem quartos capazes de acomodar até 10 passageiros.
Uma das offshores de Menin detém a propriedade de um barco
Em 2016, quando as informações da companhia foram atualizadas, a Costelis estava exclusivamente no nome de Rubens Menin. Em 2018, as ações de parte da empresa foram distribuídas igualmente entre seus três filhos, João Vitor, Maria Fernanda e Rafael. Depois disso, não houve mais registros de mudanças na participação societária da Costelis.
Os documentos mostram ainda outra incongruência. A Conedi Participações, family office dos Menin — ou seja, a empresa criada para gerir os investimentos da família —, afirma, em seu site, que faz “toda a gestão financeira onshore e offshore da família, bem como a administração de seus principais ativos com foco na eficiência fiscal e tributária”. O site, entretanto, não cita a Costellis. Ela também não lista outras offshores de Rubens Menin, também citadas no Pandora Papers: a Remo Invest Limited e a Sherkhoya Enterprises Limited. A Remo Invest, também com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, detinha em 2017 US$ 10,225 milhões em ativos não especificados. Em 2014, uma outra offshore da propriedade de Rubens Menin, a Stormrider Investments, fundiu-se à Remo Invest. Não há informações sobre os ativos detidos pela Sherkhoya.
Irmãos Grendene (Grendene e Vulcabras Azaleia)Os irmãos gêmeos Pedro e Alexandre Grendene Bartelle, donos das gigantes de calçados Grendene e Vulcabras Azaleia, são figuras frequentes nas investigações coordenadas pelo ICIJ. Offshores dos irmãos foram mencionadas no Bahamas Leaks, de 2016, e no Paradise Papers, de 2017. Desta vez, os dois aparecem no quadro societário de três offshores citadas em documentos do acervo do Pandora Papers. A primeira, AGB, traz as iniciais de Alexandre e tem jurisdição nas Ilhas Virgens Britânicas. Foi criada em 2005, um ano depois da abertura de capital da Grendene. Alexandre figura como proprietário e presidente, e Pedro, como vice-presidente da AGB. Não há documentos informando a razão de sua criação. O certificado que indica o dono da companhia também indica que, quando foi criada, a companhia recebeu US$ 20 milhões de Alexandre.
Flávio Gurgel Rocha (Riachuelo)
Flávio Rocha é o dono do grupo Guararapes, que controla a varejista Riachuelo, entre outros negócios de menor porte. Rocha chegou a ser pré-candidato à Presidência da República em 2018 pelo PRB, atual Republicanos. Depois de desistir da campanha, apoiou o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O empresário aparece como diretor reserva da offshore Cruzcity Holdings desde a sua criação, em 19 de setembro de 2016. A diretora titular é a sua mulher, Anna Claudia Klein Rocha.
De acordo com o formulário de criação da companhia, a Cruzcity detinha, na sua origem, US$ 1 milhão destinados para investimentos. Os recursos estavam em uma conta e em um portfólio de investimento, mantidos pelo banco J. Safra Sarasin de Genebra, na Suíça. O montante viria da renda pessoal de Anna, que se apresenta como proprietária do escritório de design de joias Ana Rocha e Apolinario e proprietária de uma herança de origem não identificada.
Flavio é diretor reserva em uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas
A assessoria de imprensa de Rocha informou que “os investimentos de Flávio Rocha e sua esposa seguem as normas das autoridades competentes e estão devidamente declarados ao Banco Central à Receita Federal”. “A offshore é parte de uma carteira diversificada de ativos e investimentos do empresário”, disse a nota.
Família Moll (Rede D’Or)Dois integrantes da família controladora da Rede D’Or, maior grupo de hospitais privados do país, são citados em documentos do Pandora Papers como proprietários de duas offshores. Ambas foram criadas em maio de 2016, meses antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff, um dos momentos de maior turbulência no histórico recente da política brasileira.
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A retomada pós-coronavírus no mundo pode ser muito menos sólida do que parecia. E no Brasil, os problemas vêm em dobro.
Nada está tão ruim que não possa piorar. O ditado popular foi usado pelo presidente Jair Bolsonaro na semana passada, ao falar sobre os preços do dólar e da gasolina. Pois um grupo grande de economistas já começa a apostar que o que está ruim pode mesmo piorar: o Brasil corre o risco de ingressar em um cenário de estagflação, a combinação perversa entre estagnação do crescimento econômico, desemprego e inflação alta.
Por ora, é apenas um risco. O cenário atual é ruim, mas não chega perto dos anos 1970, que tiveram a última crise oficial de estagflação globalmente — abrindo caminho para a “década perdida” e a hiperinflação nos anos 1980 no Brasil. Mas a deterioração das expectativas é uma realidade.
“Os sinais correntes ainda são de recuperação, mas só porque o tombo de 2020 foi muito grande. Todas as projeções já estão caminhando para baixo”, diz o economista André Biancarelli, diretor do Instituto de Economia da Unicamp.
Além da inflação na casa dos 10%, já se projeta que o Produto Interno Bruto (PIB), após cair 0,1% no segundo trimestre, pode ficar novamente perto de zero no terceiro. No ano, a mediana dos analistas do boletim Focus estima alta do PIB em cerca de 5%, após queda de 4,1% em 2020. Para 2022, a projeção caiu para 2%, mas uma série de bancos e casas de análise já apostam em crescimento em menos de 1%.
O termo estagflação foi cunhado em 1965, citado primeiro pelo ex-ministro britânico Iain Macleod, do Partido Conservador. Em um discurso no Parlamento, Mcleod estreou a palavra em inglês stagflation. “Temos agora o pior dos dois mundos: não só inflação de um lado ou estagnação do outro, mas os dois juntos”, disse.
Consolidava-se ali um dos primeiros questionamentos a uma posição até então tradicional da teoria econômica, a de que não haveria inflação alta em cenário de atividade fraca. Se ninguém está comprando tanto por falta de renda, como podem os preços estar subindo?
Mesmo hoje, manuais de economia ainda reforçam a existência de um chamado tradeoff, uma escolha, entre emprego e inflação: quando o desemprego está baixo, pode haver uma alta indesejada da inflação.
O problema, para o Reino Unido de Macleod ou para o Brasil de 2021, é que a inflação começou a aparecer mesmo com a atividade econômica não tão aquecida quanto se gostaria.
No Brasil, com fatores como a crise hídrica e o dólar alto, a inflação voltou oficialmente a dois dígitos e o país teve o pior mês de setembro desde 1994, ano de lançamento do Plano Real.
Grupos com maiores altas até setembro no IPCA-15, prévia da inflação medida pelo IBGE (Arte/via Flourish/Exame)
A expectativa para 2022 é que a inflação volte a cair diante da combinação entre atividade econômica fraca e alta dos juros promovida pelo Banco Central — com a taxa Selic podendo fechar o ano em mais de 8%, após ter começado 2021 em 2,25%. Mas um cenário nebuloso, e não impossível, seria de crescimento perto de zero no ano que vem e a inflação não caindo na velocidade esperada.
Um desafio é o câmbio, um dos principais responsáveis pela inflação brasileira. O dólar deve seguir acima de 5 reais (ou mais) em 2022, elevando os custos de produção em quase todos os setores e o preço para o consumidor.
A cereja do bolo para um potencial risco de estagflação é o desemprego, que chegou a recorde de 15% durante a pandemia. Embora a taxa tenha começado a cair com alguma retomada nas vagas informais e possa ficar abaixo de 13% no ano que vem, não há sinais de que irá além disso tão cedo.
A crise atual é diferente da de 2015, quando a inflação também chegou aos dois dígitos, mas com desemprego menor. Nos anos seguintes, quando o desemprego subiu e a economia desacelerou, a inflação também caiu, seguindo uma trajetória mais natural, ao contrário do que ocorre agora.
“A expectativa é que a inflação arrefeça no ano que vem. Mas o desemprego não deve sair dos dois dígitos antes de 2023 ou 2024”, afirma João Leal, da gestora de investimentos Rio Bravo. O economista não acredita, no entanto, que o Brasil e o mundo já estejam perto de estagflação. “Ainda estamos em um cenário um pouco distante dos dois termos que a palavra diz.” Estagflação global?
O Brasil tem características particulares e uma inflação que muitas vezes foge às regras tradicionais. Mas parte desse debate acontece também no resto do mundo pós-pandemia. Em meio ao choque de oferta com a covid-19 e os pacotes de estímulo governamentais, a estagflação voltou ao vocabulário dos economistas lá fora.
A inflação nos EUA superou 5% neste ano, em vez dos 2% de antes da pandemia. Na Europa, preços avançam em setores como alimentos e energia, ao mesmo tempo em que os problemas de oferta ficam escancarados nas imagens de prateleiras vazias que viraram rotina no Reino Unido.
*Com informações da Exame
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Três médicos que ajudaram na construção do dossiê entregue à CPI da Covid foram ouvidos pelo Fantástico e narraram rotina de medo, apreensão e insegurança após denúncias se tornarem públicas. Operadora diz que “investigações técnicas esclarecerão os fatos”.
Três médicos que trabalhavam na operadora de saúde Prevent Senior e ajudaram na construção do dossiê investigado pela CPI da Covid mostraram o rosto pela 1ª vez, em entrevista ao Fantástico, neste domingo (3). Eles narraram pressão da operadora de saúde para a alta precoce de pacientes, a fim de diminuir custos e liberar leitos de UTI nos hospitais da empresa.
George Joppert, Walter Correa e Andressa Joppert dizem que vivem atualmente uma rotina de medo, apreensão e insegurança, após as denúncias contra a operadora se tornarem públicas.
Na entrevista, reafirmam a pressão para prescrição de ‘kit Covid’ nos hospitais da empresa e confirmam a meta para que os médicos atendessem 60 pacientes por cada plantão de 12 horas nos hospitais.
“A intenção de denunciar também é expor a fraude. Expor a fraude do tratamento precoce, a fraude de suposto sucesso de gestão”, disse Walter Correa ao Fantástico.
“Nós estamos fazendo a coisa certa. Nós não somos criminosos. O bem social acho que tem que prevalecer acima de qualquer outra definição, ou de dinheiro ou de lucro”, afirmou George Joppert.
“São vidas que eles estão cuidando, e não estão cuidando como deveriam cuidar”, declarou Andressa Joppert. Os três fazem parte do grupo de 12 médicos que escreveram o dossiê contra a operadora e devem ser ouvidos pela CPI da Covid nos próximos dias.
‘Kit Covid’
Os três médicos contam que, no ano passado, houve muita pressão da Prevent Senior para que eles receitassem o chamado “kit Covid”, que é o pacote com os remédios ineficazes contra a Covid-19, que era distribuído para os clientes do plano de saúde no momento das consultas.
Segundo os profissionais, não havia autonomia dos médicos para decidir ou não pela prescrição desses remédios durante a pandemia.
“Eles estavam de olho em quem prescrevia ou não. Foi uma coisa que eles tinham um controle, então não havia essa autonomia”, afirmou Walter Correa.
“Entregava a receita, entregava o kit que já ficava no consultório. Era tudo controlado. Ficava um balde com um monte de saquinho com os kits, era meio constrangedor às vezes, entregava para os pacientes a receita com kit e orientava ‘olha, a gente tem que prescrever mas melhor usa só as vitaminas, não usa medicação’. E era assim que funcionava”, completou.
Andressa diz que um diretor chegou a obrigá-la a receitar hidroxicloquina a uma paciente com problemas cardíacos, sob ameaça velada de demissão.
“É uma contraindicação para o uso de hidroxicloroquina. Até no próprio protocolo da Prevent é uma contraindicação. Então, mesmo com aquela contraindicação, eu fui orientada. Teria que prescrever, mas eu não prescrevi. E fui chamada atenção”, afirmou a médica.
Questionada sobre o que poderia acontecer com o médico que não receitasse os remédios ineficazes, a médica foi taxativa: “Ele teria um castigo. Ficaria sem os plantões uma semana, duas semanas, dependendo do que ele fez. O castigo dele seria isso: não teria o dinheiro dele planejado no fim do mês”, disse Andressa.
“Não era necessário que fosse feito uma ameaça aos médicos. O ambiente hostil já fazia isso por si só. A gente já sabia que existe uma sugestão de um protocolo, se você não segui-lo, você vai sofrer sanções. O máximo que acontecia era alguém prescrever e orientar a não usar”, declarou Walter Correa, que trabalhou oito anos como plantonista do Pronto Socorro da Prevent Senior.
Ele foi demitido em fevereiro deste ano e acha que o motivo do desligamento foi justamente por ter deixado de prescrever o “kit Covid” por algum tempo.
“Apesar de ter ficado muito tempo lá, eu acho que nunca me adequei muito bem às práticas da Prevent Senior. É curioso até eu ter ficado tanto tempo, mas acho que a gota d’água foi no final, a questão de eu ter ficado sem prescrever o kit”.
*Com informações do G1
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Dados são da série Pandora Papers e revelam opção de profissionais do mercado financeiro.
Poder 360 – Luiz Carlos Trabuco Cappi, hoje presidente do Conselho de Administração do Bradesco, foi presidente por 9 anos do 2º maior banco brasileiro. Na hora de organizar as suas próprias finanças, porém, ele é um banqueiro globalizado: guarda parte das suas economias em uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe. Não há qualquer ilegalidade com a offshore de Trabuco. Ela foi declarada à Receita Federal, como manda a lei brasileira.
Na cúpula do sistema bancário brasileiro, o uso de offshores para investimentos e pagar menos impostos é comum. É uma prática que vai das instituições tradicionais –como Bradesco ou Santander– aos novos bancos, caso do Inter ou Agibank. E passa pelas instituições públicas, como o BRB (do governo do Distrito Federal).
Trabuco Cappi, que presidiu o Bradesco por 9 anos, é dono da Capvel Overseas Investments Limited. Junto com os filhos, ele tem ao menos US$ 5 milhões na conta dessa offshore, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas.
A herdeira do Bradesco e presidente da fundação do banco, Denise Aguiar, também tem 3 offshores nesse mesmo paraíso fiscal. Outros 4 executivos ou ex-dirigentes do banco são donos de empresas nas Ilhas Virgens Britânicas. São eles:
Cassiano Ricardo Scarpelli, vice-presidente do banco, criou a Monte Gennaro International para investir em títulos internacionais, como “time deposit”, “bonds” e “bills”, como declarou na ficha que enviou para as autoridades das Ilhas Virgens Britânicas;
Eurico Ramos Fabri, diretor de Crédito do Bradesco, abriu no Caribe a Vincenza Inc. com a mulher e uma filha;
Samuel Monteiro dos Santos Junior, foi vice-presidente da holding Bradesco Seguro e Previdência e hoje integra o Conselho de Administração do banco e o do grupo Fleury. É dono da Idaho Holding Company com a mulher e 2 filhos;
Antonio Bornia, que presidiu o Bradesco na Argentina e integrou o Conselho de Administração até 2015, tem a Anfamar & Sons Limited com 2 filhos.
Todas as offshores dos executivos do Bradesco foram declaradas às autoridades brasileiras, segundo a assessoria do banco.
Do Santander, 3º banco privado no ranking brasileiro, Sérgio Rial, diretor-executivo, também é usuário antigo de offshores. Ele trabalhou no exterior por mais de 20 anos. É dessa época a abertura da Celtic Associates Ltd nas Ilhas Virgens Britânicas. O patrimônio da empresa é de pelo menos US$ 10 milhões. Rial diz que a sua offshore foi declarada à Receita Federal.
O Brasil só cobra impostos de offshore em situações pontuais: quando há distribuição de lucros, empréstimos ou a repatriação dos recursos. As alíquotas nesses casos variam de 15% a 27,5%.
Nenhum dos banqueiros aqui citados respondeu a uma pergunta enviada pelo Poder360: por que eles preferem investir fora do Brasil se são donos de bancos ou dirigentes no país.
Os documentos desta reportagem foram obtidos pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, na sigla em inglês), uma entidade sem fins lucrativos com base em Washington D.C., nos Estados Unidos.
Participaram da investigação 615 jornalistas de 149 veículos em 117 países. O material está sendo analisado há cerca de 1 ano para a preparação da série. No Brasil, fazem parte da apuração jornalistas do Poder360, da revista Piauí, da Agência Pública e do site Metrópoles.
O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos realizou algumas das maiores investigações de impacto dos últimos anos, como Panama Papers e Swiss Leaks, revelando o lado mais sombrio das finanças e da corrupção.
Esses banqueiros fazem parte de um dos clubes mais fechados do Brasil: o daqueles que usam empresas offshore para pagar menos impostos e fugir da montanha-russa da economia brasileira.
Novos bancos
Na hora de investir fora do Brasil, ou evitar o pagamento de impostos, os sócios e fundadores dos novos bancos seguem a receita dos banqueiros tradicionais.
Rubens Menin, dono do banco Inter, da MRV e da CNN Brasil, teve ao menos 4 offshores nas Ilhas Virgens Britânicas: Costellis International, Remo Invest, Stormrider Investments e Sherkhoya Enterprises Ltd.
A Costellis foi criada com uma finalidade comum entre milionários: ela é dona de uma embarcação, no valor de até US$ 75 milhões, como consta de sua ficha de constituição, de setembro de 2016. Menin diz que todas elas foram registradas e as duas últimas, encerradas.
Marciano Testa, dono do Agibank, foi um jovem prodígio. Em 1999, aos 23 anos, fundou a Agiplan, startup que daria origem ao grupo.
Em 2018, a empresa adotou o nome atual. Seu banco inovou ao usar o número de celular de uma pessoa como número da conta. O discurso era a simplicidade: qualquer um com um smartphone pode se bancarizar.
Com seus investimentos, ele não é nem inovador nem simples. Foi até as Ilhas Virgens Britânicas abrir a Yepidale International Ventures Limited….
Segundo a sua assessoria de imprensa, a empresa está declarada à Receita Federal.
Nos seus investimentos, o presidente do Conselho de Administração do Banco Original, Marcio Antonio Teixeira Linares, foi até as Ilhas Virgens Britânicas abrir a Bravar Developments Limited.
O objetivo da empresa, segundo informou na ficha de abertura, era investir em imóveis nos Estados Unidos. O valor estimado era de US$ 1 milhão. As movimentações que ocorreram depois de 2018 não constam da base de dados.
Teixeira Linares disse que a sua empresa foi declarada a todas as autoridades.
Banco público
Paulo Henrique Costa, presidente do BRB, um banco do Distrito Federal, também é dono de empresas nas Ilhas Virgens Britânicas.
Há duas offshores ligadas ao executivo: Oakwood Investments Ltd e a Equinox Investments LLC. Ele não informou se elas foram declaradas ao Fisco.
Em 2009, a Oakwood tinha 100.000 ações no valor de US$ 1 cada uma. De acordo com Paulo Henrique Costa, as empresas foram abertas quando ele era estudante no exterior e pretendia seguir carreira internacional, o que não aconteceu.
Ele diz que não houve movimentação nas empresas e que teria interrompido o pagamento das taxas anuais. “Nenhuma transação financeira foi realizada por meio das empresas, que se encontram inativas”, disse.
Documentos da Equinox mostram que, em 2015, ele estava há 4 anos sem pagar as taxas de manutenção.
Interesse Público
Como está registrado em diversos textos da série Pandora Papers, ter uma empresa offshore ou conta bancária no exterior não é crime para brasileiros que declaram essas atividades à Receita Federal e ao Banco Central, conforme o caso.
Se não é crime, por que divulgar informações de pessoas cujo empreendimento no exterior está em conformidade com a regras brasileiras? A resposta a essa pergunta é simples: o Poder360 e o ICIJ se guiam pelo princípio da relevância jornalística e do interesse público.
Como se sabe, há uma diferença sobre como brasileiros devem registrar suas empresas.
Para a imensa maioria dos cidadãos com negócios registrados dentro do Brasil, os dados são públicos. Basta ir a um cartório ou a uma Junta Comercial para saber quem são os donos de uma determinada empresa. Já no caso de quem tem uma offshore, ainda que declarada, a informação não é pública.
Existem, portanto, 2 tipos de brasileiros empreendedores: 1) os que têm suas empresas no país e que ficam expostos ao escrutínio de qualquer outro cidadão; 2) os que têm condições de abrir o negócio fora do país e cujos dados estarão protegidos por sigilo.
Essas são as regras. Neste espaço não será analisado se são iníquas ou não. A lei é essa. Deve ser cumprida. Cabe ao Congresso, se desejar, aperfeiçoar as normas. Ao jornalismo resta a missão de relatar os fatos.
É função, portanto, do jornalismo profissional descrever à sociedade o que se passa no país. Há cidadãos que ocupam posição de destaque e que devem sempre ser submetidos a um escrutínio maior. Encaixam-se nessa categoria, entre outras, as celebridades (que vivem de sua exposição pública e muitas vezes recebem subsídio estatal); as empresas de mídia jornalística e os jornalistas (pois uma de suas funções é justamente a de investigar o que está certo ou errado no cotidiano do país); grandes empresários; quem faz doações para campanhas políticas; funcionários públicos; políticos em geral. E há os casos ainda mais explícitos: empreiteiros citados em grandes escândalos, doleiros, bicheiros e traficantes.
Todas as apurações devem ser criteriosas e jamais expor alguém de maneira indevida. Um grande empresário que opta por abrir uma offshore, declarada devidamente, tem todo o direito de proceder dessa forma. Mas a obrigação do jornalismo profissional é averiguar também os grandes negócios e dizer como determinada empresa cuida de seus recursos –sempre ressalvando, quando for o caso, que tudo está em conformidade com a leis vigentes.
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Provavelmente, a explicação para o dólar alto esteja nas empresas offshore em paraísos fiscais do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos.
“Dolarizaram a R$3,70 e agora está R$5,40. Se não investiram em nada, o que eu duvido, já ganharam 46% de lucro. Um investimento que nada oferece isso em tão pouco tempo. E sem riscos”. Os dois podem ter obtido vantagens em operações cambiais e terão de explicar se movimentaram as contas, disse o deputado Luis Miranda.
Guedes e Campos, já em seus cargos, mantiveram as offshores nas Ilhas Virgens Britânicas. Roberto Campos fechou em agosto de 2020 e Guedes mantém a sua aberta o que desrespeita normas do serviço público e da Lei de Conflito de Interesses.
Assim, sobrou para o povo brasileiro amargar o dólar alto, hiperinflação, principalmente dos alimentos e o preço absurdamente do combustível.
De acordo com a reportagem publicada na Revista Piauí, é “legítimo ter uma offshore no Brasil, desde que ela seja declarada à Receita Federal e ao Banco Central, e o dinheiro tenha origem lícita”. “Quem tem cargo público, no entanto, está sujeito a regras para impedir o autofavorecimento.”.
Segundo o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello, contas em paraísos fiscais não são compatíveis com o serviço público porque os paraísos fiscais oferecem um grau de sigilo muito mais elevado do que outros países. Na visão de Mello, isso seria “uma afronta ao cargo público, que exige publicidade”.
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