Categorias
Matéria

Bancado por advogado, ministro do STF foi de jatinho a Paris para final da Champions

Advogado que pagou viagem de Kassio Marques tem processos no STF. Tour incluiu Roland Garros e GP de Mônaco e custou ao menos R$ 250 mil, segundo o Metrópoles.

Com despesas pagas por um advogado, o ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, fez uma viagem bate-e-volta de Brasília a Paris no fim do mês passado para assistir à final da Champions League e a jogos do torneio de tênis de Roland Garros.

O tour incluiu, ainda, o GP de Mônaco de Fórmula 1, disputado naquele mesmo fim de semana.

Kassio fez a viagem na companhia de pelo menos um de seus filhos.

O jatinho usado pelo ministro é um luxuoso Citation X. O custo da viagem foi de, pelo menos, R$ 250 mil.

A aeronave, de prefixo PR-XXI, tem como sócio o advogado Vinícius Peixoto Gonçalves, dono de um escritório no Rio de Janeiro.

Foi o advogado quem pôs o avião à disposição do ministro para a viagem. Vinícius Gonçalves atua em processos em curso no STF e já foi denunciado pelo Ministério Público Federal como operador financeiro do ex-ministro das Minas e Energia Edison Lobão. O nome dele apareceu nas investigações sobre pagamentos de propina relacionados às obras da usina nuclear de Angra 3.

Nunes Marques embarcou no setor de aviação executiva do aeroporto de Brasília no fim da tarde de 26 de maio, uma quinta-feira.

Depois de uma escala rápida em Cabo Verde, na costa africana, o jatinho particular seguiu direto para o aeroporto de Le Bourget, nas proximidades de Paris.

A viagem de volta a Brasília teve início na segunda-feira, dia 30. O ministro pousou na cidade no início da madrugada de terça.

Procurado pela coluna, inicialmente Kassio Nunes Marques preferiu não se manifestar. Já no início da madrugada deste sábado, ele enviou uma nota em que diz lamentar a publicação do que classifica como “informações falsas”, mas não esclarece por que embarcou em um avião pertencente a um advogado que tem causas no STF.

Ele não nega ter viajado a Paris no jatinho de Vinícius Gonçalves. Sustenta que o advogado não pagou qualquer despesa sua. E dá a entender que o conheceu naquele fim de semana. Novamente, o ministro não explica quem custeou a excursão.

“Vinícius Gonçalves, citado pela reportagem, não pagou qualquer despesa do ministro. O advogado também nunca pôs avião à disposição do ministro. Nunca tiveram contato anterior à viagem, nem pessoal, nem telefônico”, afirma a nota.

O texto, em seguida, recorre a um tempo verbal incomum, o pretérito mais-que-perfeito, para negar que Kassio Marques tenha aproveitado a oportunidade para ver jogos do torneiro de Roland Garros e o GP de Mônaco.

“O jornalista também erra ao afirmar ter ocorrido um tour, pois o ministro jamais fora (sic) a Mônaco ou a Roland Garros. A matéria, portanto, baseia-se em informações erradas para criar um contexto que não existe”, prossegue.

A coluna mantém as informações publicadas. Na parte relativa à extensão do tour ao torneio de Roland Garros e ao GP de Mônaco, a programação da viagem incluía, sim, esses dois eventos, para além da final da Champions League.

Espera-se que o ministro, em vez de fazer ginástica com as palavras para tentar desmentir um fato escandaloso, explique o que estava fazendo a bordo de um jatinho privado de propriedade, repita-se, de um advogado que tem causas na Corte da qual Kassio faz parte.

Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica Agência: 0197

Operação: 1288

Poupança: 772850953-6

PIX: 45013993768 – CPF

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Matéria

Indigenista, que deixou o país para não morrer revela, ‘A Abin foi na Funai atrás de mim’,

Após denunciar crimes cometidos contra povos indígenas no Maranhão, Ricardo Henrique Rao pediu asilo diplomático na Noruega, em 2019.

No dia 25 de novembro de 2019, Ricardo Henrique Rao, indigenista especializado da Fundação Nacional do Índio (Funai), entregou à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, um documento intitulado “Atuação miliciana conectada ao crime organizado madeireiro, ao narcotráfico e a homicídios cometidos contra os povos indígenas do Maranhão – Um breve dossiê”. O dossiê denunciou o envolvimento de policiais militares e civis em crimes praticados contra a população indígena da Amazônia Oriental, no estado do Maranhão. Após entregar o dossiê, avaliando estar marcado para morrer, Ricardo Rao solicitou asilo diplomático a Noruega, a partir de contatos que havia estabelecido com povos originários daquele país.

Começava para Ricardo um exílio involuntário que ainda não terminou. Após dois anos com asilo temporário, o indigenista foi para Roma, onde está ajudando a articular uma campanha para responsabilizar o presidente Jair Bolsonaro pela morte de cidadãos brasileiros que também têm cidadania italiana, durante a pandemia de covid-19, inspirado em uma jurisprudência construída em processos contra militares acusados de crimes cometidos nos marcos da Operação Condor, durante a ditadura. Em entrevista ao Sul21, Ricardo Rao fala sobre seu trabalho como indigenista na Funai, sobre os crimes que denunciou e sobre o ambiente instaurado no trabalho da Fundação a partir do governo Bolsonaro. “Para quem tem perfil combativo e idealista, é uma situação de acosso permanente”, resume.

No dia 25 de novembro de 2019, Ricardo Henrique Rao, indigenista especializado da Fundação Nacional do Índio (Funai), entregou à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, um documento intitulado “Atuação miliciana conectada ao crime organizado madeireiro, ao narcotráfico e a homicídios cometidos contra os povos indígenas do Maranhão – Um breve dossiê”. O dossiê denunciou o envolvimento de policiais militares e civis em crimes praticados contra a população indígena da Amazônia Oriental, no estado do Maranhão. Após entregar o dossiê, avaliando estar marcado para morrer, Ricardo Rao solicitou asilo diplomático a Noruega, a partir de contatos que havia estabelecido com povos originários daquele país.

Começava para Ricardo um exílio involuntário que ainda não terminou. Após dois anos com asilo temporário, o indigenista foi para Roma, onde está ajudando a articular uma campanha para responsabilizar o presidente Jair Bolsonaro pela morte de cidadãos brasileiros que também têm cidadania italiana, durante a pandemia de covid-19, inspirado em uma jurisprudência construída em processos contra militares acusados de crimes cometidos nos marcos da Operação Condor, durante a ditadura. Em entrevista ao Sul21, Ricardo Rao fala sobre seu trabalho como indigenista na Funai, sobre os crimes que denunciou e sobre o ambiente instaurado no trabalho da Fundação a partir do governo Bolsonaro. “Para quem tem perfil combativo e idealista, é uma situação de acosso permanente”, resume.

Ele também lembra do trabalho do indigenista Bruno Pereira, com quem chegou a trabalhar: “Era um modelo para todos nós indigenistas idealistas. O Bruno é um exemplo disso que estou te falando. Era 24 horas dedicado ao indigenismo. O Bruno pediu essa licença para se preservar do assédio laboral que iam arrumar pra cima dele. Ele ia acabar sendo demitido e por isso pediu a licença. Eu também tentei pedir essa licença, mas ela me foi negada porque queriam que eu ficasse lá perto dos milicianos que eu tinha denunciado para me ver morto”.

Sul21: Como começaram os problemas em seu trabalho como indigenista no Maranhão que acabaram culminando com um pedido de asilo diplomático para o governo da Noruega e sua saída forçada do Brasil?

Ricardo Rao: As coisas começaram a piorar desde o início do governo Temer. Com o governo Bolsonaro, tudo só foi se agravando. No meu caso, a situação começou a se agravar com a apreensão de uma moto. Na logística dos acampamentos de madeireiras sempre tem que ter uma moto que faz deslocamentos de pequena distância para pegar munição, água e alimentos para os madeireiros que estão lá cometendo crime ambiental. E eu apreendi uma moto dessas. Essa moto pertencia a um sujeito chamado Lauro Mineiro, envolvido com crimes ambientais. Dois ou três dias depois, o subcomandante do batalhão da PM de Imperatriz, a segunda maior cidade do Maranhão, com cerca de 300 mil habitantes, invadiu a minha sala querendo a moto de volta. A partir daí eu vi que a situação tinha mudado. Antes não acontecia isso. Na verdade, a PM sempre nos prestou um apoio relutante, mas apoiava. A gente não confiava muito. Era só pela presença deles.

Essa tentativa de extorsão não deu resultado. Assim que ele saiu da minha sala, eu fui para a aldeia e destruí a moto, dentro da lei. A gente pode fazer a apreensão ou a destruição. A lei permite ambos. O protocolo do Ibama e de outros companheiros da Funai mesmo é sempre a destruição imediata porque aí a gente já se livra do risco de os criminosos nos atacarem para recuperar o bem. Neste caso, eu tive o entendimento que o estado de direito e o império da lei já não vigoravam no Brasil.

Esse mesmo oficial da Polícia Militar tinha um contato muito estreito com um Procurador da República que fiscalizava a nossa atuação lá. A Funai, como um órgão federal, está sujeita a um grau de controle externo por parte do Ministério Público Federal. Esse procurador, por ingenuidade ou por opção ideológica, também passou a praticar assédio contra nossa atuação.

Outro evento da maior gravidade que me convenceu de que a situação estava especialmente perigosa foi o envio de um destacamento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na Funai, em 2019. Quando a gente viu isso? A Abin foi na Funai atrás de mim. Na hora pensei, isso aí virou a Gestapo agora? Um dia depois da Abin ter ido na Fundação Nacional do Índio, na rua Simplício Moreira, no centro de Imperatriz, a Funai abriu um processo administrativo-disciplinar contra mim, com uma acusação absurda. Eu percebi que a situação estava ficando muito complicada.

Sul21: Qual foi a acusação?

Ricardo Rao: Salvo engano, foi por conta de uma discussão que eu tive com um servidor, que sabotou uma missão na qual eu estava envolvido. Eu tive uma altercação com ele, mas foi tudo documentado e não foi cometido nenhum delito. Eles aproveitaram essa altercação para abrir esse procedimento. Teriam aproveitado qualquer outra coisa para abrir um procedimento punitivo contra mim. É somar dois e dois. Num dia veio a Abin, no dia seguinte tem um processo deste tipo. Para mim há um nexo muito claro.

Sul21: E aí você foi punido…

Ricardo Rao: Não, não fui punido porque depois da morte do Paulino eu preparei um dossiê e decidi sair do país. Eu sabia, depois de cinco anos lá, que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal do Maranhão estavam completamente contaminados. Eu sempre preparei denúncias muito substanciosas. Nunca vi nenhuma prosperar.

Sul21: Como foi esse episódio da morte do Paulino?

Ricardo Rao: O Paulo Paulino Guajajara, apelidado de Lobo Mau, foi morto em missão de vigilância dentro da Terra Indígena Arariboia. Era um guardião da floresta muito efetivo e eficaz e um bom amigo meu. Ele era vítima de um lawfare muito grande. Como advogado, eu acompanhei vários processos falsos contra ele. Fui advogado dele e acompanhei um desses procedimentos. O Paulino foi morto num confronto lá no interior da terra indígena. Segundo a Polícia Federal, o caso já está esclarecido. Eu não acredito. Dias antes, o Paulino tinha me falado sobre uma plantação de maconha muito grande que estava sendo financiada com a participação de um “polícia lá do Rio de Janeiro”, como ele me disse. Na hora, já pensei que tinha milícia no meio. Poucos dias depois, eu fui levar uns indígenas para serem ouvidos numa delegacia de polícia da região, quando conheci um investigador chamado de Carioca. Eu associei as coisas. Pouco depois disso, o Paulino foi morto e o Laércio, primo dele, foi baleado. O Laércio sobreviveu.

Depois da morte do Paulino eu sabia que seria o próximo. Esse Carioca já tinha me dito (usou um termo obsceno que não vou repetir) que “aqui namoradinho de índio morre cedo”. Então eu preparei um dossiê relatando todos esses atos criminosos e encaminhei para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, na época presidida por um deputado do PT que era padre (não lembro o nome agora). Até onde eu sei, não fizeram nada. Tentei protocolar no gabinete do Tulio Gadelha, mas não tive sucesso. Eu sabia que ia vazar porque sempre vaza e que, a partir daquele momento, a minha vida ia valer muito pouco. Por conta disso, eu me desloquei até a Noruega onde eu tinha contatos com os povos tribais de lá. Eu havia feito contato com alguns líderes deles durante a Olimpíada Universal dos Povos Indígenas, que ocorreu em Palmas, durante o governo Dilma. Quando a gente olha para o passado vê que dias legais já tivemos. Eu fiz contato e eles me disseram que iriam me ajudar a conseguir asilo na Noruega, o que acabou acontecendo.

Sul21: Houve um pedido formal, então, de asilo diplomático na Noruega?

Ricardo Rao: Sim, houve. E aqui quero agradecer ao deputado Orlando Silva, que intercedeu por mim junto às autoridades norueguesas, a Sonia Guajajara, que também intercedeu por mim, e à doutora Diana Franco, uma promotora de Justiça. Se não tivesse havido um pedido formal eu não teria contado com tanta proteção por parte do governo norueguês.

O indigenista denunciou, entre outras coisas, a exploração ilegal de madeira em terras indígenas (Arquivo pessoal).

Sul21: Então, você saiu do Brasil em 2019 e não conseguiu voltar mais…

Ricardo Rao: Sim. agora eu estou em Roma. Em 2019, eu consegui asilo provisório na Noruega, onde fiquei até março deste ano. O meu advogado me advertiu que, como eu tenho cidadania italiana, era certo que o governo norueguês não iria me conceder o asilo definitivo. Ele me disse que, se eu quisesse, podia ir empurrando essa situação e ficando na Noruega. Eu venho de uma faculdade de Direito que é uma espécie de “Khmer Vermelho” dos cursos jurídicos do país, a Unesp Franca. Estou sempre em contato com meus companheiros de lá, colegas, professores, juízes e promotores. Nós quebramos a cabeça para arrumar uma maneira de tentar buscar justiça e dar uma resposta jurídica aos crimes reiterados de Jair Bolsonaro. Uma das ideias que nos ocorreu é o que eu vim fazer aqui em Roma.

No genocídio da covid, patrocinado e executado pelo Bolsonaro, pelo Pazuello, pelas Forças Armadas que ficaram fabricando cloroquina, entre as vítimas fatais há um número, que estimamos na casa das centenas, de brasileiros e brasileiras que também tinham cidadania italiana. Esses mortos estão sujeitos à proteção das leis italianas. Já existe jurisprudência neste sentido, como é o caso do coronel Áttila Rohrsetzer, que matou um cidadão italiano na Operação Condor. Nós vamos utilizar essa jurisprudência, que serviu para condenar esse coronel, para condenar Jair Bolsonaro, Pazuello, coronel Elcio, Eduardo Ramos e outros. Assim, considerando que eu não poderia adquirir o status de asilado definitivo na Noruega, vim para Roma para tocar essa iniciativa. E faço aqui um apelo aos gaúchos que lerem essa entrevista. Sei que tem muitos italianos aí. Estamos precisando de pessoas que perderam familiares ou amigos, com cidadania italiana, que se disponham a participar dessa ação identificando essas pessoas para nós. Quem perdeu um nonno ou uma nonna e não se conforma com essa morte evitável, nos ajude a identificar vítimas para que a gente possa tomar as medidas necessárias aqui na Itália.

Estamos aqui lutando com a maior dificuldade. Estou morando numa ocupação aqui em Roma graças a uma articulação feita por companheiros sem teto. Na Noruega, eu tinha um apoio estatal muito forte, tinha casa, comida, internet e um salário. Eles não me permitiam trabalhar. Aqui eu não tenho nada disso. A Nadir Paulino, enfermeira da Funai, minha mãe, que tem uma pensãozinha desse tamanho, está convertendo metade dela em euro e mandando pra mim. Não estou reclamando, não. Mesmo com toda essa dificuldade, nós já conseguimos identificar uma vítima. Mas só uma vítima não vai comover o procurador da Vara Penal daqui. Eu tenho informação de que toda a família Bolsonaro está tirando passaporte. Eles acham que depois disso tudo eles vão pegar um sacão de dinheiro e vir pra cá viver “la dolce vita”. Não vão. E, no que depender da nossa ação, “la dolce vita” com a qual estão delirando vai ser “molto amara”.

Sul21: Pelo que você vem conseguindo acompanhar, qual a situação vivida hoje pelos servidores da Funai, sob o governo Bolsonaro?

Ricardo Rao: Para quem tem perfil combativo e idealista, é uma situação de acosso permanente. A Funai sempre foi dividida. Quem escreveu sobre isso com muita propriedade foi o Marcio Meira, responsável pela reestruturação da Funai e presidente da Fundação durante cinco anos, o que é uma raridade. Ele conseguiu dar uma continuidade administrativa e disse que não conseguiu fazer mais porque a Funai é um órgão faccionado. Há grupos internos que se digladiam constantemente. Sempre tivemos, desde os tempos do Rondon. Temos, por exemplo, aqueles que entram no serviço público não para servir ao público, mas para servir a si mesmo. Eles representam um perfil tremendamente maléfico. Esse pessoal está soltando rojão no atual governo. Eu vi com os meus olhos servidor da Funai falando que “índio não presta” e coisas do tipo. Esse tipo de servidor e aqueles ainda do tempo da ditadura estão muito bem. Estão recebendo sem precisar trabalhar.

Essa banda podre está aproveitando para abrir um monte de procedimentos administrativos disciplinares contra nós, que somos da banda rondoniana. Olha o trabalho do Bruno, que coisa linda. Morrer, se preciso for. Nada mais Rondon que isso.

Sul21: Você conheceu o Bruno Pereira?

Ricardo Rao: Sim, eu conheci o Bruno. Entramos juntos no mesmo concurso, fiz o treinamento com ele e estivemos juntos em uma ou duas missões. Tinha o perfil rondoniano clássico. Era um modelo para todos nós indigenistas idealistas. O Bruno é um exemplo disso que estou te falando. Ele não saiu da Funai porque foi exonerado a mando desse Sergio Moro, que deu a ordem para destituí-lo da sua função de coordenador geral de índios isolados. Ele foi destituído da função, mas seguiu com o cargo do concurso dele que era agente em indigenismo. Eu ficava pensando como é que um cara tão capacitado como o Bruno não era indigenista especializado, como um cara burro como eu acabei me tornando. Depois me dei conta que isso foi pela dedicação dele. Ele não tinha tempo nenhum. Era 24 horas dedicado ao indigenismo. O Bruno pediu essa licença para se preservar do assédio laboral que iam arrumar pra cima dele. Ele ia acabar sendo demitido e por isso pediu a licença. Eu também tentei pedir essa licença, mas ela me foi negada porque queriam que eu ficasse lá perto dos milicianos que eu tinha denunciado para me ver morto.

Sul21: O desaparecimento dele e de Dom Phillips está repercutindo muito aí na Itália também?

Ricardo Rao: Sim, muito. Daqui a pouco, inclusive, vou dar uma entrevista para uma televisão italiana sobre isso. Não sejamos ingênuos, né, aqui o nome do Bruno sempre vem em segundo lugar. Em primeiro vem o do Dom. Mas esse é um mal que vem para o bem. Isso serviu para mostrar ao mundo quem é Jair Bolsonaro e quem é o Exército brasileiro. Achei uma grande indignidade uma declaração do Mourão que ouvi ontem. O homem é general do Exército, a origem dele é o Batalhão de Infantaria da Selva e ele vem dizer que “lá é perigoso mesmo”. Mas pra que esse senhor recebe seu salário? Se é perigoso, faça o seu trabalho e torne aquela região segura. Esse governo serviu para que enxergássemos o grau de decomposição das Forças Armadas. É o império da mamata e da inépcia.

Sul21: Como está a tua situação legal hoje dentro da Funai?

Ricardo Rao: Eu fui criminosamente exonerado. Cabe destacar aqui um detalhe do direito administrativo. Você só pode exonerar um servidor público da função dele, não pode exonerar do cargo. Eu sou indigenista especializado. Para a Funai se livrar de mim, só tem um jeito: me demitindo. E eles só podem me demitir se eu fizer alguma coisa muito grave e depois de um processo disciplinar. Assim que me concederam o asilo diplomático, a Funai cortou meus vencimentos. Era para eu ter continuado não recebendo tudo, mas o básico sim. Foi até bom

que tenham cortado. Acho antiético isso. Como ia ser muito trabalhoso pra eles encontrar uma razão para me demitir, eles retornaram ao meu estágio probatório. Como disse, eles podem exonerar um servidor de sua função ou durante o estágio probatório, que são os três primeiros anos em que você trabalha. Quando eu saí do Brasil, eu já tinha dez anos de Funai. Eles arrumaram um erro formal no meu estágio probatório, lá em 2015, e a partir daí eu fui exonerado e condenado a devolver todos os meus salários e diárias que recebi depois do meu estágio probatório, no qual fui aprovado com nota máxima. Eu tenho elogios de todas as coordenadorias regionais por onde passei. Fui nomeado para três cargos de chefia.

Então, do ponto de vista formal, eu me encontro na condição de exonerado por não ter superado meu estágio probatório, uma decisão tão esdrúxula que eu nem me preocupo com ela. Advogados e juízes já me garantiram que é uma decisão tão absurda que conseguiremos uma liminar contra ela facilmente quando eu retornar ao Brasil.

Sul21: Você pretende voltar ao Brasil e voltar a trabalhar na Funai?

Ricardo Rao: Claro, pretendo sim. Não sou emigrante, não. Só não sei quando. O futuro é um grande ponto de interrogação. Esses criminosos estão empoderados. Toda a estrutura do Estado está infiltrada. Com a vitória do Lula, ele vai ganhar o governo, mas a gente precisa saber como será para ele ganhar o Estado. O Supremo Tribunal Federal deu ordem para não se invadir favela. Eles invadem todo dia, matam e ainda falam: “E aí, Supremo?” Nós não estamos vivendo no império da lei. Eu afrontei diretamente esse grupo político criminoso. Não sei quanto tempo vai levar para ser seguro o meu retorno. Na verdade, eu não sei se vai ser seguro o meu retorno. Eu estava conversando com a deputada Maria Dantas e ela me disse que vai demorar muito tempo.

É com um pesar muito grande que eu vejo o que está acontecendo no nosso país. Para mim, o Brasil está parecendo a Espanha no período pré-guerra civil.

*Com Sul 21

Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica Agência: 0197

Operação: 1288

Poupança: 772850953-6

PIX: 45013993768 – CPF

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Matéria

Pai de vice-prefeito de Atalaia do Norte liderou grupo que atacou bases da Funai no Javari

Madeireiro e dono de embarcações, Rosário Galate é, segundo líderes da região, autor de frases como “índio bom é índio morto”; ele também é amigo do atual prefeito, Denis Paiva (União-AM), e aliado do senador Eduardo Braga (MDB-AM).

“Esse Galate, quando ele era prefeito, ele dizia: índio bom é índio morto”, contou Djanin Kanamari, cacique da aldeia Massapê, a maior do Vale do Javari (AM), região conflituosa onde o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira e o jornalista Dom Phillips desapareceram, no dia 05.

O líder dos autodenominados Tüküna se referia ao madeireiro Rosário Conte Galate, ex-prefeito e pai do atual vice-prefeito de Atalaia do Norte (AM), Giuliano Galate (PP-AM). Ambos são, além de aliados, amigos de Denis Linder Roges de Paiva (União-AM), que desde 2020 chefia o Executivo municipal, e do senador Eduardo Braga (MDB-AM).

“Esse cidadão não pode fazer isso, ele vai matar nós, ele tá matando lá a gente”. O depoimento foi feito em língua própria, durante uma audiência com o Ministério Público Federal (MPF), em 2018, e posteriormente traduzido. A tese de Doutorado de Danielle Moreira Brasileiro, apresentada no programa de pós-graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), cita esses e outros trechos para ilustrar a situação vivida pelos povos isolados daquela localidade e por quem, como Pereira, dedicou a vida a protegê-los.

Admirado e respeitado pelos moradores, o indigenista foi um dos entrevistados para o trabalho. Segundo ele, a maior preocupação à época era o atendimento de saúde dos autônomos e recém-contatados, dada a vulnerabilidade epidemiológica daquelas populações. Basta uma gripe ou um resfriado para colocá-las em risco. Situações de violência foram relatadas por diferentes fontes.

Elas contam que, à revelia dos Kanamari, Rosário Galate comandava a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada à Fundação Nacional do Índio (Funai). “Ele era anti-indígena, ele não respeitava nossos parentes”, afirmou Djanin. A Sesai e a Funai foram citadas por Korá, outro líder Kanamari, como propagadoras de preconceitos, despreparo e qualificação no atendimento. Hoje, quem trabalha no órgão é Giuliano Galate Junior, filho do vice-prefeito.

Silvio Cavuscens e João Lino de Oliveira Neves destacaram em um artigo, mencionado na mesma tese, que várias serrarias se instalaram na região na década de 80; cinco delas, anos depois, ainda se encontravam lá, abastecidas com madeira proveniente da Terra Indígena (TI) Javari, a segunda maior do país e a maior do planeta em número de isolados. Os proprietários seriam Vitor Magalhães, Floriano Graça, Francisco Carvalho de Oliveira, Rosário Conte Galate e Walter Paiva. Este último é pai de Denis, o prefeito.

Os Galate também são donos de uma empresa de locação de embarcações, com sede em Benjamin Constant (AM), município vizinho a Atalaia. A unidade está, desde 2015, autorizada a operar na prestação de serviços de transporte na Região Hidrográfica Amazônica, nos trechos interestaduais de competência da União e em rotas internacionais para Peru e Colômbia.

INDIGENISTA PARTICIPOU DE OPERAÇÃO QUE DESTRUIU BALSAS ILEGAIS

Bruno Pereira havia deixado a coordenação regional da fundação e assumido o setor de isolados e recém-contatados. Acabou exonerado do último cargo em outubro de 2019, por pressão de ruralistas ligados ao governo de Jair Bolsonaro (PL-RJ), depois de coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros da TI Yanomami, em Roraima.

No mesmo período, ajudou a elaborar o plano conjunto com a Polícia Federal (PF) que flagrou sessenta embarcações ilegais explorando minérios no Javari. A Operação Korubo, como ficou conhecida, motivou a abertura de um procedimento por parte do MPF para identificar e punir os garimpeiros. O órgão alertou sobre a necessidade de um monitoramento constante na região.

Três dias depois da deflagração da Korubo, um grupo de parlamentares e representantes de garimpeiros foi recebido no Palácio do Planalto pelo ministro Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil, para reclamar da destruição de retroescavadeiras, o que motivara o bloqueio da rodovia como protesto contra a fiscalização. O encontro foi noticiado pela Agência Pública.

Pereira estava licenciado, como fez questão de frisar o presidente da Funai, Marcelo Xavier, ao se esquivar da responsabilidade pela tragédia, e atuando como colaborador da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Conforme o jornal Brasil de Fato, em 2019 o indigenista denunciou o desmonte da Funai sob a gestão de Bolsonaro. “Servidores de carreira são retirados de cargos estratégicos”, alertou. A Funai está sendo tomada por interesses que não são dos índios”.

Coincidência ou não, o último post de Pereira no Twitter foi retuitando um caso de perseguição e assédio contra funcionários públicos, mas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Igualmente crítico ao governo, o agente Roberto Cabral Borges foi transferido do setor de operações da sede do órgão para a área administrativa.

Os protestos exigindo comprometimento do governo brasileiro nas investigações são tema do programa De Olho na Resistência:

PROCURADORES DO MUNICÍPIO DEFENDERAM “PRINCIPAL SUSPEITO”

Os procuradores municipais de Atalaia do Norte, Ronaldo Caldas da Silva Maricau, e de Benjamin Constant, Davi Barbosa de Oliveira, chegaram a atuar como advogados de defesa de Amarildo da Costa de Oliveira, de 41 anos, conhecido como Pelado. O homem foi detido na semana passada, em uma abordagem por posse de drogas e munição. Ele é apontado como suspeito de envolvimento no desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips.
Seguidores questionam prefeito nas redes sociais. (Foto: Reprodução)

Denis Paiva, cuja capa no Facebook é uma montagem dele estendendo as mãos para Rosário Galate, foi cobrado nas redes sociais. Diante da repercussão negativa, os dois deixaram o caso. Antes, porém, a Prefeitura de Atalaia publicou nota informando que Maricaua foi procurado pela família de Amarildo para atuar como advogado particular.

*Matéria publicada no De Olho de Ruralistas

Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica Agência: 0197

Operação: 1288

Poupança: 772850953-6

PIX: 45013993768 – CPF

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Matéria

Justiça obrigou Arthur Lira a reconhecer filha com doença rara

Presidente da Câmara questionou paternidade confirmada em exame de DNA. Mãe recorreu ao Estado para bancar remédio essencial para tratamento.

Escrita por Alice Maciel, da Agência Pública

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), não tornou pública a existência de uma filha, fruto do relacionamento extraconjugal que teve em 2002 com Letícia*, à época com 20 anos, que trabalhava distribuindo panfletos da campanha de reeleição do político à Assembleia Legislativa de Alagoas. A Agência Pública teve acesso à decisão judicial de primeira instância, publicada em dezembro de 2010, que o obrigou a assumir a paternidade da menina, após teste de DNA, já com 7 anos de idade — não foram localizados recursos e decisões judiciais posteriores relativos ao processo de investigação de paternidade. Hoje, Gabriela* tem 19 anos – aos 4, foi diagnosticada com um tipo raro de epilepsia que causa atraso no desenvolvimento psicomotor, chamada de síndrome de West.

A jovem, que precisa de cuidados especiais e apoio nas necessidades básicas, como comer, trocar de roupa e andar, leva uma vida humilde e mora numa casa simples numa cidade próxima a Maceió. A Pública apurou que, em 2016, sua mãe precisou recorrer à Justiça para conseguir no governo do estado um remédio de alto custo para tratar as frequentes convulsões da filha. Gabriela fica sob os cuidados da avó quando a mãe sai para trabalhar como atendente de bilheteria.

O presidente da Câmara foi procurado para dar sua versão da história. A reportagem enviou 10 questões relacionadas ao tema. A resposta, encaminhada por nota, segue na íntegra: “O povo brasileiro quer saber o que estamos fazendo para combater a inflação, reduzir o preço dos combustíveis, da energia, do gás de cozinha, dos alimentos. O povo brasileiro espera medidas que gerem mais empregos, renda e traga desenvolvimento. É isso que estamos fazendo dia a dia: buscando soluções que melhorem a vida de cada cidadão e cidadã. Esse é o nosso foco permanente. A vida privada de um homem público não interessa quando não há nenhuma relação de irregularidade ou ilegalidade”.

Também procuramos Letícia pessoalmente, em 25 e 26 de maio, mas ela não quis falar sobre sua relação com Lira, que tem patrimônio declarado de R$ 1,7 milhão. “Eu não tenho nada para falar, sou uma pessoa normal, que segue a minha vida, trabalhando e fazendo as minhas coisas. Sem falar que minha vida pessoal não diz respeito a ninguém”, afirmou. Os nomes de mãe e filha foram alterados na reportagem para preservar suas identidades, assim como o local exato onde residem.

Em 2008, a bilheteira entrou com Ação de Investigação de Paternidade Cumulada com Alimentos contra o então deputado estadual. O processo, que já está arquivado, tramitou sob sigilo, mas a sentença acabou divulgada em órgão oficial da imprensa. Optamos por não divulgá-la e não citar trechos na íntegra também com o intuito de preservar a identidade de Letícia e Gabriela. Nela, há um resumo do caso.

Segundo o documento, Letícia teria relatado nos autos que não conseguiu nem mesmo ter acesso a Arthur Lira para contar da gestação. De acordo com ela, ao saber da filha por meio de seu assessor, o político teria se recusado a reconhecer a paternidade da criança. À época, Lira era casado com Jullyene Lins e já tinha um herdeiro de 3 anos, Arthur Lira Filho, nascido em janeiro de 2000. Seu caçula também é fruto do matrimônio com a ex-mulher. Álvaro Lins de Lira nasceu em março de 2006.

O teste de DNA realizado pelo laboratório da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) apontou o então deputado estadual como o pai biológico de Gabriela com mais de 99% de probabilidade. Mesmo assim, o parlamentar, por meio de seu advogado, contestou o exame. A defesa argumentou que o teste não seria próprio para confirmar a paternidade, e sim para caracterizar sua exclusão.

Como ele não apresentou nenhum estudo científico para o argumento, o juiz intimou o perito responsável pelo DNA — um professor renomado da universidade federal —, que, segundo o magistrado, se posicionou contra a realização de novo exame, diante da ausência de justificativa plausível. Após as explicações do pesquisador, o juiz reforçou em sua sentença que o resultado do teste de DNA tem total credibilidade.

Com a confirmação do parentesco, a sentença proferida em dezembro de 2010 determinou que Arthur Lira pagasse à filha pensão de 20% referente ao seu subsídio líquido — o salário bruto do parlamentar era de R$ 20 mil — e ainda a inclusão do nome do deputado e dos avós paternos de Gabriela na certidão de nascimento.

Sem recursos para tratamento de doença

Apesar de carregar o nome do político no documento de identidade, Gabriela não foi assumida publicamente. Em 2016, Letícia precisou recorrer à Justiça para que o Estado fornecesse mensalmente um medicamento anticonvulsivo para a filha, orçado à época em R$ 1.184,20.

“Diante do custo do medicamento, a beneficiada desta ação, humilde, não tem condições financeiras para custeá-lo, restando apenas a proteção do Judiciário para salvar sua vida”, informa a defesa, acrescentando ainda que Gabriela tem epilepsia e transtorno do espectro autista (TEA). Letícia e Gabriela foram representadas nos autos pela Defensoria Pública. O pedido foi acatado pela Justiça e, diante da demora do fornecimento do remédio, a defensora alertou: “O que está em ‘jogo’ é a saúde de uma criança doente e carente de recursos”.

Naquele ano, Arthur Lira já estava em seu segundo mandato na Câmara dos Deputados, recebendo salário líquido de R$ 23,6 mil — o que representaria R$ 4,7 mil de pensão, considerando-se a determinação da sentença de 2010. Na campanha de 2014, ele declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 1,16 milhão, incluindo duas fazendas. Além de atuar na política, Lira é agropecuarista, criador da raça de gado nelore.

A reportagem questionou o parlamentar sobre o pagamento da pensão alimentícia à filha, mas ele não respondeu às perguntas enviadas, encaminhando apenas a nota citada. O desconto relativo à pensão alimentícia também não é divulgado no portal da transparência da Câmara dos Deputados por ser considerado de “natureza pessoal”.

Sua filha, conforme dados do processo, era usuária do Sistema Único de Saúde (SUS), e a médica da jovem relatou no laudo anexado ao processo que ela fez uso de todas as alternativas terapêuticas disponíveis e fornecidas pelo SUS. “Menor é portadora de grave atraso neuropsicomotor com espectro autista secundário à epilepsia de difícil controle. Aos 4 anos de vida, desenvolveu epilepsia de West. Evoluiu posteriormente para epilepsia multifocal”, diz o documento.

A médica observa que Gabriela chegou a tomar vários anticonvulsivantes nacionais “e mesmo assim apresentava crises tônicas diariamente”. Ela relata que prescreveu um remédio importado que é utilizado “quando os anticonvulsivantes nacionais não conseguiram controlar epilepsias farmacorresistentes”. Depois que a menina começou a experimentar a medicação, segundo o laudo, houve melhora significativa das convulsões, assim como do desempenho motor. A médica ressaltou ainda que o uso do remédio possibilitou que Gabriela conseguisse sair da cadeira de rodas — o que não acontecia antes devido ao grande número de convulsões diárias. “Diante do exposto, solicitamos o fornecimento dessa medicação”, concluiu a profissional.

Lira não queria reconhecer a filha, diz ex-mulher

Mulher de Arthur Lira à época em que Letícia engravidou, Jullyene Lins disse à Pública que o deputado escondeu por muito tempo dela a existência da menina. Segundo a ex-esposa, o parlamentar só lhe contou a história após três anos do nascimento de Gabriela, em 2006, quando temeu que o caso viesse à tona devido à disputa política. Naquele ano, ele se candidatou para o segundo mandato na Assembleia.

De acordo com Jullyene, Lira teria lhe dito: “Olha, não vou reconhecer, não sei se é minha filha, mesmo se fizer DNA, o advogado vai dar um jeito”. Ela afirmou que ficou indignada com a postura do companheiro e diz ter sugerido que ele “pelo menos” ajudasse a menina financeiramente. No entanto, segundo Jullyene, Lira teria respondido: “Não quero saber, pra mim nem existe, não quero saber e você vai ficar calada”.

Jullyene contou que essa história foi o estopim da separação do casal. “Uma pessoa, que é pai dos seus filhos, tem uma conduta dessa, aí foi por água abaixo”, observou. Ela relata que o relacionamento com Arthur Lira já não andava bem porque o deputado, ainda casado, havia assumido publicamente o relacionamento que mantinha com outra mulher.

“Ele sempre foi muito namorador. A mulher já é tida para aguentar as traições do marido, e no Nordeste isso é pior ainda. Porque o machismo é assim aqui no Nordeste: se a mulher trair o homem, é rapariga, prostituta, mas, se o homem trair, ele é o gostosão, o fodástico. Então, ele sempre teve muitas namoradas e ao mesmo tempo ciúmes de mim. Eu não podia sair de casa, só saía com motorista”, relatou Jullyene.

Jullyene Lins foi casada com Arthur Lira e afirma que sofreu violência verbal e psicológica

Ex-mulher relata que Arthur Lira a teria agredido fisicamente

De acordo com Jullyene Lins, Arthur Lira exigia que a esposa fosse “uma dona de casa perfeita”. Ela conta que o deputado chegava em casa passando os dedos nos móveis para conferir se estava tudo limpo e, quando encontrava alguma poeira, gritava: “Você é uma inútil, não presta pra nada. Só presta mesmo pra cuidar dos meninos, pra dar educação, pelo menos não faz eu passar vergonha em um restaurante”.

“Eu era a dondoquinha, tinha que andar bem-vestida, arrumada, eu era no pedestal para política, para caminhar, para fazer reunião com as mulheres junto com a mãe dele, pra cuidar dos meninos e para cuidar da roupa dele. Pra isso eu prestava. Porque, se tinha uma blusa amassada, ele pegava, amassava mais, jogava no chão e gritava comigo perguntando o que eu estava fazendo dentro de casa, que não estava vendo que a blusa dele estava mal passada”, lembrou emocionada.

Jullyene diz que por causa do abandono — o companheiro sairia na maioria das vezes sozinho —, das traições e da violência, teve depressão. Ela relata que começou a beber, fumar e tomar muito remédio devido à tristeza, às crises de ansiedade e de pânico. O quadro teria se agravado após a suposta agressão física contra ela. Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu Arthur Lira da denúncia de agressão. Os ministros consideraram que a punição prescreveu e que não havia provas.

Jullyene ainda briga na Justiça para que o parlamentar quite um ano de pensão aos filhos (de 2012 a 2013) que ele teria ficado sem pagar, segundo ela.

A ex-esposa do presidente da Câmara dos Deputados depôs contra o político na Operação Taturana, deflagrada em 2007 pela Polícia Federal (PF). Arthur Lira, segundo o Ministério Público Federal (MPF), teria liderado um esquema de “rachadinhas” na Assembleia Legislativa de Alagoas, quando ele ainda era deputado estadual (2001-2007). Jullyene teria sido uma das funcionárias fantasmas empregadas no gabinete do parlamentar.

*Os nomes foram alterados para preservar a identidade das citadas

Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica Agência: 0197

Operação: 1288

Poupança: 772850953-6

PIX: 45013993768 – CPF

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Matéria

Alberto C. Almeida mostra por que Moro e Dallagnol têm que ser presos

Em uma sequência de tuítes, o cientista político, Alberto Carlos Almeida expõe diversos crimes cometidos por Sergio Moro e Deltan Dallagnol em ações da Lava Jato contra o ex-presidente Lula, que deveriam levá-los à prisão:

Leia abaixo:

*Da redação

Siga-nos no Whatsapp: https://chat.whatsapp.com/HP8y7rcSg0Z5XQeXMYWpd8

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica: Agência 0197
Operação: 013
Poupança: 56322-0
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68

PIX: 45013993768
Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Matéria

Por questão de princípios, Dilma recusa convite de Dória para ser vacinada e responde: “É inaceitável furar fila”

Receber um convite para se vacinar, aos 73 anos idade, tendo tratado um câncer e ficar de frente a uma questão como essa, de se vacinar antes dos demais brasileiros, Dilma optou pelos princípios, e respondeu que seria “inaceitável furar fila”.

Ou seja, ela buscou o caminho da ética, da decência, daquilo que seus golpistas nunca tiveram, mas que a pessoa carrega ou não com ela. E Dilma sempre foi uma mulher honrada, mostrando isso desde a época em que foi torturada pelos ditadores monstruosos para que entregasse seus companheiros de luta e que jamais cedeu às dores físicas e aos traumas que essa monstruosidade causa no ser humano.

Por isso é exemplar a atitude da ex-presidenta Dilma que foi sabotada pelo seu vice para, junto com outros lixos humanos, como Aécio, Cunha e demais golpistas, apunhalá-la pelas costas.

Sua atitude expressa a verdade que sempre carregou consigo e a dignidade dos grandes que os ratos não têm a mínima ideia do que seja.

Segundo nota publicada em seu site, “por razões éticas e de justiça” ela recusou o convite, porque “o Plano Nacional de Vacinação deve ser respeitado e, se é certo que a vacinação já começou, não há montante de vacinas disponível para que eu, agora, seja beneficiada”.

Leia a íntegra da nota publicada pela ex- presidenta Dilma Rousseff:

21/01/2021 5:07

Recebi o convite do governador de São Paulo para ser vacinada com a Coronavac no dia 25 de janeiro, em Porto Alegre. Agradeço, mas diante das circunstâncias tenho o dever de recusar a oferta, por razões éticas e de justiça. O Plano Nacional de Vacinação deve ser respeitado e, se é certo que a vacinação já começou, não há montante de vacinas disponível para que eu, agora, seja beneficiada. É inaceitável “furar a fila”, que deve ser estritamente respeitada por todos os brasileiros. Neste momento, considero imprescindível que sejam atendidos, de acordo com o Plano, primeiramente os trabalhadores da área da saúde que estão na linha de frente da luta contra a Covid19, além dos idosos que vivem em asilos e o grupo de idosos brasileiros mais expostos ao risco de adoecer gravemente ou morrer. Aguardarei pacientemente a minha vez e quero adiantar que já estou com o braço estendido para receber a Coronavac.

Faço questão de prestar tributo à contribuição do SUS, do Butantan e da Fiocruz, que são tão importantes e estratégicos para a saúde pública no Brasil e para o desenvolvimento das vacinas. Denuncio todos aqueles que, ao longo dos últimos anos, tentaram destruí-los, seja por restrição de recursos orçamentários, seja por visão preconceituosa, como ficou claro na saída dos médicos cubanos, seja por defender propostas privatistas.

Enalteço o trabalho dedicado dos epidemiologistas, biólogos, infectologistas, pesquisadores e servidores do sistema SUS, em especial da Fiocruz e do Butantan, cuja qualidade é reconhecida internacionalmente. Estendo estas homenagens e agradecimentos a todos os que se dedicam a combater esta pandemia que, por desleixo e desumanidade do governo federal, já roubou a vida de mais de 210 mil pessoas e está matando brasileiros até mesmo por falta de oxigênio. Por fim, reconheço e saúdo a solidariedade e a atitude humanitária do governo chinês, que proporcionou a parceria entre o Estado São Paulo/Butantan e o laboratório Sinovac para a importação e a fabricação das vacinas em nosso país. É uma vitória da cooperação entre os povos e da ciência e uma derrota do negacionismo.

DILMA ROUSSEFF

*Da redação

Siga-nos no Whatsapp: https://chat.whatsapp.com/HP8y7rcSg0Z5XQeXMYWpd8

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica: Agência 0197
Operação: 013
Poupança: 56322-0
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68

PIX: 45013993768
Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Matéria

Advogado ameaçou acabar com carreira de Bretas se ele não arquivasse inquérito

O diretor de Secretaria da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Fernando Antonio Serro Pombal, afirmou à Polícia Federal que o advogado Nythalmar Dias Ferreira Filho ameaçou acabar com a vida pessoal e a carreira do juiz da seção Marcelo Bretas se o julgador não arquivasse inquérito contra ele, garantindo ter documentos que o comprometeriam.

Nythalmar é investigado sob a suspeita de usar o nome de Bretas para oferecer facilidades a alvos da operação “lava jato”. Ele foi alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal no dia 23 de outubro deste ano.

As suspeitas de que o advogado usou o nome do juiz Bretas para vender facilidades nasceu de representação apresentada contra Nythalmar ao Tribunal de Ética da seccional fluminense da OAB, em 2019.

Pombal prestou esclarecimentos à PF em 10 de novembro. O servidor afirmou que, em 6 de novembro, recebeu uma mensagem no WhatsApp dizendo que, em busca e apreensão feita em 23 de outubro na casa de um advogado (sem citar seu nome), a PF apreendeu um notebook onde haveria áudios que comprometeriam o juiz (que igualmente não foi identificado) e a “lava jato”.

Depois de um tempo, Pombal contou que recebeu uma ligação do mesmo número. Uma mulher, que negou ser policial ou jornalista, declarando ser apenas uma “pessoa colaboradora e preocupada com a operação ‘lava jato'”, explicou que o áudio do computador se tratava de uma reunião entre o advogado, o juiz e o Ministério Público Federal sobre uma delação premiada. A mulher insistiu para o servidor tomar alguma medida com relação à PF. Porém, como ela não quis se identificar, Pombal desligou.

Em 10 de novembro, o diretor da 7ª Vara Federal Criminal do Rio narrou ter recebido uma mensagem no WhatsApp — de outro número — pedindo que lesse os arquivos que estavam sendo enviados e repassasse as informações a Marcelo Bretas.

Os documentos eram fotos de uma carta endereçada ao juiz federal. Na missiva, o subscritor não se identifica, mas deixa claro que é Nythalmar Dias Ferreira Filho, “inclusive pela riqueza de detalhes no processo da ‘lava jato’ e da forma de narrativa” em relação a Bretas, disse Pombal.

Segundo ele, o autor da carta faz uma série de ameaças ao juiz, “inclusive dizendo que acabaria com a vida pessoal dele e sua carreira”, assim como do “Dr. Eduardo”, identificado como “procurador do MPF” — o chefe da força-tarefa da “lava jato” no Rio é o procurador Eduardo El Hage.

Na carta, o subscritor afirma ter diversos documentos e arquivos que comprometeriam Bretas. A missiva é finalizada com a advertência de que o juiz federal teria até 10 de novembro para arquivar o inquérito contra o autor.

Pombal disse que contou o ocorrido a Bretas, e este lhe mandou falar com El Hage. O chefe da “lava jato” do Rio no MPF então indicou que narrasse os fatos e enviasse os documentos a outro procurador, o que o servidor afirmou ter feito.

Procurada pela ConJur, a assessoria de imprensa da Justiça Federal do Rio de Janeiro disse que Marcelo Bretas não iria comentar o relato de que foi ameaçado por Nythalmar, pois está de férias e só voltará a trabalhar em janeiro.

O MPF no Rio também disse que não irá se manifestar sobre o assunto.

Pedido de suspeição
O inquérito policial que apura as atividades do advogado Nythalmar Dias Ferreira Filho pode forçar Bretas a se declarar suspeito para julgar alguns processos que estão sob sua condução.

Outro advogado, Luís Alexandre Rassi foi quem levantou a questão em petição apresentada ao próprio juiz na semana passada. Rassi relata que terá de depor, na qualidade de testemunha, no inquérito que investiga Nythalmar. E o fato de ser advogado de Silas Rondeau, que responde ação que corre na 7ª Vara, faz com que Bretas deixe de ser isento. Isso porque o depoimento do advogado de Rondeau pode influir no desenrolar do caso Nythalmar, cujo desfecho é de evidente interesse do juiz.

Segundo a tese defendida pelo advogado, ele deporá como testemunha na investigação, que só pode seguir em duas direções. Ou se chegará à conclusão de que Bretas é vítima de crimes levados a cabo com o uso indevido do seu nome “ou que o mesmo é coautor de delitos praticados pelo advogado Nylthamar Dias Ferreiro Filho”. Para Luís Alexandre Rassi, em qualquer das situações, é necessário o reconhecimento da suspeição de Bretas.

 

*Sergio Rodas/ Conjur

Siga-nos no Whastapp: https://chat.whatsapp.com/FDoG2xe9I48B3msJOYudM8

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica: Agência 0197
Operação: 013
Poupança: 56322-0
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68
Agradecemos imensamente a sua contribuição

 

Categorias
Matéria

Maradona: os pobrecitos del Brasil e la traición!

Grondona parecia trazer certa satisfação em seu semblante. Realmente, era o doping de Maradona na Copa dos Estados Unidos. Ele estaria sendo punido porque dias antes comentou que a Fifa estava errada ao permitir jogos sob calor escaldante. E foi além em sua sinceridade habitual: a Fifa só tomaria alguma atitude para mudar esses horários determinados pelas emissoras de TV quando alguns jogadores morressem em campo. A ousadia custou caro a Diego Maradona.

Eli Coimbra foi um dos melhores repórteres que tive o prazer de conhecer. Descontraía o ambiente com sua chegada. Com seu jeito espontâneo e conhecimento do mundo do futebol. Mas naquela manhã de 1986 estávamos completamente perdidos na capital mexicana. O treino da Argentina no campo do Club América já tinha terminado. As entrevistas já tinham sido dadas. Nossa equipe de reportagem (éramos do pool SBT-Record) tinha se perdido no bairro de Santa Úrsula e quando chegamos vimos todos os jornalistas indo embora e os jogadores argentinos caminhando em direção oposta, a caminho do vestiário.

Foi então que Eli Coimbra gritou:

“Maradona, Maradona, uma entrevista para los pobrecitos del Brasil! Maradona!”

E docemente o ídolo…

O craque…

O autor do gol mais justiceiro de todos os tempos do futebol mundial levantou sua mano de Diós, virou-se e veio em nossa direção.

Abraçou o Eli, cumprimentou nossa equipe, que tinha o cinegrafista Ruy, o operador de VT e eu.

E se pôs à disposição para falar sobre o próximo jogo dos argentinos, que seria contra a Bélgica.

Maradona não tinha afetação.

Não tinha comportamento de estrela.

Era apenas um Diós do futebol.

Voltamos orgulhosos para a redação no Centro de Imprensa, que funcionava na sede da Televisa, a grande emissora do México.

Tínhamos uma reportagem exclusiva com o maior jogador do planeta e eu tinha conhecido de perto um grande ídolo.

E no jogo contra a Bélgica eu estava no Estádio Azteca.

E vi uma de suas obras de arte.

Antes da final contra a Alemanha, os jornalistas argentinos vinham saber o que os periodistas brasileiros achavam do grande duelo. Eu fui tão enfático, cravei a vitória portenha com tanta certeza, que me levaram ao estúdio deles de rádio para uma entrevista ao vivo.

E acertei até o placar da final: 3 a 2 para nossos hermanos, bicampeões mundiais de futebol.

Anos depois, exatamente oito anos, estava trabalhando na equipe do SBT em Dallas, no Centro de Imprensa da Copa de 94. Nossos vizinhos eram os argentinos da Telefe.

Maradona era uma das raras estrelas de um Mundial sem muita graça ou talentos.

Pelo que soubemos, tinha aceitado fazer uma dieta rigorosa e fazer uso de substâncias proibidas no esporte para entrar em forma. Era um acerto oficial entre os dirigentes sequiosos por uma atração e o estafe de Maradona.

De qualquer maneira, era Diego Maradona.

Ele era o diferencial.

Um belo dia, um repórter da Telefe entrou em nossa sala e afirmou que havia um jogador argentino apanhado no doping. Não se sabia quem era.

Mas era um furo de reportagem.

Lembro que o doutor Osmar de Oliveira, nosso narrador e apresentador, se postou diante das câmeras para dar a notícia.

Duas horas depois, o mesmo repórter da Telefe trouxe um vídeo em que o dirigente Julio Grondona passava à frente dos repórteres que cobriam o treino e soletrava: “O jo…ga…dor… é…Ma…ra…do…na”.

O dirigente parecia trazer certa satisfação em seu semblante.

Realmente, era o doping de Maradona na Copa dos Estados Unidos.

Ele estaria sendo punido porque dias antes comentou que a Fifa estava errada ao permitir jogos sob calor escaldante. E foi além em sua sinceridade habitual: a Fifa só tomaria alguma atitude para mudar esses horários determinados pelas emissoras de TV quando alguns jogadores morressem em campo.

A ousadia custou caro a Diego Maradona.

Os dirigentes se sentiram traídos por suas declarações sempre autênticas e se sentiram no direito de trair…

O “trato de cavalheiros” foi desfeito.

Mas não faz mal.

O dirigente argentino passou.

Os dirigentes da Fifa passaram.

Todos os que o traíram não fazem mais parte da história.

Só Maradona, porque Dieguito jamais será esquecido.

 

*Roberto Salim/Ultrajano

 

Siga-nos no Whastapp: https://chat.whatsapp.com/FDoG2xe9I48B3msJOYudM8

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica: Agência 0197
Operação: 013
Poupança: 56322-0
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68
Agradecemos imensamente a sua contribuição

 

Categorias
Matéria

Localizada mãe de Adriano da Nóbrega: cresce a pressão sobre o clã Bolsonaro

VEJA localizou Raimunda Magalhães, mãe de Adriano da Nóbrega, miliciano que liderava um bando de matadores no Rio. Se ela contasse tudo o que sabe…

A silenciosa cidade de Astolfo Dutra, no interior montanhoso de Minas Gerais, guarda um segredo com alto potencial de causar estrondo. Entre seus 13 000 habitantes, consta uma senhora aposentada que teria desembarcado naquelas paragens vinda do Rio de Janeiro atrás de vida mais sossegada. Ali, ela mora com a mãe, que sofre de Alzheimer, e com uma neta cadeirante. Até uns meses atrás, ninguém imaginaria que Dona Vera, como a chamam, é Raimunda Veras Magalhães, 70 anos, envolvida no esquema de “rachadinha” implantado no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando o hoje senador era deputado estadual. Pois bem: Dona Vera aparece entre os dezessete recém-denunciados pela bandalha, rol que abrange o filho do próprio presidente.

Ela vem a ser ainda mãe de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope acusado de chefiar uma quadrilha de matadores milicianos conhecida como Escritório do Crime, morto em fevereiro deste ano. Por suas ligações mais do que perigosas, a discreta residente de Astolfo Dutra é considerada pelos promotores testemunha-chave da engrenagem que teria irri­ga­do por mais de uma década a conta de funcionários fantasmas, como ela mesma — verba que ia parar em outros bolsos, segundo o Ministério Público do Rio.

Seu paradeiro permaneceu envolto em mistério durante mais de um ano de investigação. O MP chegou a tentar notificar Raimunda batendo à porta de uma filha, que não revelou onde estava a mãe. Os promotores só viriam a saber onde ela havia submergido ao rastrear o celular de Márcia Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz, o ex-assessor faz-tudo de Flávio, que orquestrava a rachadinha. Naquele dezembro de 2019, Márcia foi ao encontro de Raimunda, junto com o advogado Luis Gustavo Botto Maia, com o objetivo de engendrar um plano de fuga para a família Queiroz. Também informa o inquérito que Adriano, então foragido, daria uma mãozinha.

VEJA localizou Raimunda. Nervosa, ela primeiro tentou se esconder para depois disparar, aos gritos: “Não tenho nada para dizer. Perdi meu menino e não quero mais papo com ninguém”, esquivou-se. A essa altura, alguns vizinhos definem Dona Vera como “arquivo vivo”. “A gente tem medo que venha alguém aqui, saia metralhando e acabe sobrando para quem estiver por perto”, comenta um deles.

Foi a pedido de Adriano que Raimunda, à época expos­ta nos holofotes da rachadinha, se mudou para o interior mineiro, onde já morava uma parte da família, incluindo duas irmãs, todos de origem cearense. Adriano nunca foi visto naquelas bandas, onde a mãe hoje passeia com trajes simples e gosta de pechinchar. “Ela separa três modelos, escolhe o mais baratinho e ainda chora desconto”, conta uma vendedora, lembrando que Raimunda sempre paga em dinheiro.

Sua aparente penúria contrasta com o patrimônio deixado por Adriano, na casa dos 10 milhões de reais. Expulso do Bope em 2013 por ligação com a contravenção, ele era dono de fazendas, casas, apartamentos, cavalos de raça, empresas, tudo em nome de laranjas. De acordo com uma reportagem de VEJA, Raimunda contribuiu com um depósito para a compra de uma das fazendas, no Tocantins. Ela é sócia ainda de três restaurantes na Zona Norte carioca — em um deles, o filho tinha participação oficialmente. Sua defesa, porém, reforça a imagem da dureza financeira. “A Raimunda ficou desassistida até juridicamente”, ressalta a advogada Manuela, que garante não estar recebendo honorários.

É verdade que dos salários na Assembleia Legislativa não sobrava muita coisa — e isso o inquérito da rachadinha explica. Como funcionária do gabinete de Flávio, entre março de 2016 e novembro de 2018, ela recebeu 252 600 reais, mas repassou 52 700 para Queiroz e sacou em espécie outros 186 500 — valores que somam 94% da remuneração total. A quebra de sigilo bancário de Queiroz revela mais uma, digamos, generosidade de Raimunda para com o amigo: 69 200 reais vieram de dois de seus restaurantes.

O MP afirma, com base no rastreamento de seu celular, que ela não ia ao emprego — era uma “assessora fantasma”. Sua defesa sustenta que isso não procede, já que Raimunda sempre trocava de celular por recomendação do filho. Aliás, foi Adriano, que trabalhou com Queiroz na PM, quem intermediou a nomeação da mãe e de sua ex-­mulher, Danielle Mendonça — que, além de denunciada, estaria com câncer de mama e sofrendo de síndrome do pânico. No início do anos 2000, Adriano chegou a ser instrutor de tiro de Flávio, que lhe deu uma medalha pelos serviços prestados na polícia. É toda essa teia que Dona Vera tenta deixar para trás na pacata Astolfo Dutra.

 

*Da Veja

Siga-nos no Whastapp: https://chat.whatsapp.com/FDoG2xe9I48B3msJOYudM8

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica: Agência 0197
Operação: 013
Poupança: 56322-0
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68
Agradecemos imensamente a sua contribuição

 

Categorias
Matéria Notícias e Parceiros

MP: Queiroz descuida e deixa ‘vestígios concretos’ do uso de verba pública para quitar cobertura de Flávio

Depósito de R$ 25 mil identificado pelo ex-assessor parlamentar nas contas da mulher do senador levou investigadores a localizarem repasses fracionados nas vésperas de pagamentos de parcelas de imóvel; transação é uma das provas que embasam denúncia contra o filho do presidente.

Um ‘descuido’ do ex-assessor Fabrício Queiroz é uma das provas do Ministério Público do Rio para apontar o uso de verbas desviadas da Assembleia Legislativa fluminense no pagamento de uma cobertura adquirida pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), em 2011. A transação foi feita na conta da mulher do parlamentar, Fernanda, e descortinou depósitos fracionados às vésperas dos vencimentos do imóvel.

Flávio Bolsonaro foi denunciado por peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro no inquérito das ‘rachadinhas’, que investigou o repasse parcial ou total dos salários de servidores lotados em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa a Queiroz, que usava o dinheiro para quitar despesas pessoais do filho do presidente. Fernanda Bolsonaro também foi denunciada por lavagem de dinheiro.

Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, deixa o Instituto Médico Legal de São Paulo. Foto: EFE/Sebastião Moreira

O nome de Fernanda aparece na denúncia quando o Ministério Público descreve o ‘enriquecimento ilícito’ de Flávio ao longo dos anos. Uma das transações investigadas foi a compra de uma cobertura em Laranjeiras, na zona sul do Rio, por R$ 2,2 milhões em 2011.

Em agosto daquele ano, o casal precisaria desembolsar R$ 110 mil para quitar o sinal do imóvel, uma garantia de compra. No entanto, o Ministério Público apontou que a conta dos Bolsonaro ‘não possuía lastro financeiro para custear a operação’. Na véspera do pagamento, porém, um depósito de R$ 25 mil caiu na conta de Fernanda – e neste momento, segundo a Promotoria, Queiroz cometeu um ‘descuido’.

O depósito de R$ 25 mil feito por Queiroz, em amarelo, nas contas de Fernanda Bolsonaro.

O dinheiro teria sido sacado em espécie da conta do próprio ex-assessor antes de ser depositado em nome de Fernanda. Os promotores dizem que a transação ‘peculiar’ – saque em espécie, seguido de depósito quando existem mecanismos de transferências diretas – revelam que a intenção era ocultar o responsável pelo repasse. Queiroz, porém, errou na ‘dosagem’ e foi obrigado a se identificar no caixa.

“Em razão do alto valor depositado, o denunciado Fabrício José Carlos de Queiroz teve que registrar seu próprio nome na agência bancária como responsável pelo depósito em espécie, materializando nos registros bancários vestígios concretos da destinação final dos valores desviados da Alerj”, afirma a Promotoria.

Para a Promotoria, tal ‘descuido’ revela que, à época, Queiroz ‘ainda não estava familiarizado com os instrumentos de prevenção à lavagem de dinheiro’.

Fracionados. Queiroz não foi o único a cometer um ‘descuido’. Segundo o MP, na véspera do pagamento da segunda parcela da cobertura em Laranjeiras, em dezembro de 2011, o chefe de gabinete de Flávio na Alerj, Miguel Ângelo Braga Grillo, o ‘Coronel Braga’ depositou R$ 20 mil na conta de Fernanda Bolsonaro. Apesar de usar o nome da mulher do senador na identificação do depósito, quebra do sigilo bancário revelou que o Braga foi o responsável pelo repasse: Meia hora antes, ele havia sacado a mesma quantia da sua própria conta, em espécie.

O chefe de gabinete também foi denunciado pelo Ministério Público, acusado de integrar o ‘núcleo operacional’ das rachadinhas, responsável por validar a contratação e os pontos de diversos servidores que, apesar de serem funcionários da Assembleia, nunca bateram cartão na Casa. A medida garantia que o salário fosse pago normalmente.

O saque de R$ 20 mil em espécie feito pelo Coronel Braga, meia hora antes do depósito.

Os ‘descuidos’ de Queiroz e Braga não se repetiram, mas deram ao Ministério Público suspeitas que levaram à identificação de outros 27 depósitos feitos na conta de Flávio na véspera do pagamento das parcelas da cobertura em Laranjeiras.

Segundo o MP, entre 2013 e 2016, o senador recebeu R$ 52 mil em depósitos de R$ 2 mil e R$ 1 mil feitos dias antes da data de vencimento da dívida. A técnica burla os mecanismos de controle porque essas quantias podem ser depositadas sem a necessidade de identificação do responsável pela transação.

Os promotores apontam que o esquema contou com ‘camadas’ de lavagem de dinheiro para garantir que a verba não fosse ligada a Queiroz. O ex-assessor usava sua própria conta para receber parte dos salários desviados dos servidores da Alerj e, então, realizava saques em espécie para fazer depósitos fracionados nas contas de Flávio, com o objetivo de quitar parte da cobertura do filho do presidente.

“Os atos de lavagem de dinheiro ora imputados foram praticados de forma mais sofisticada, fracionando-se as elevadas quantias depositadas em valores menores, deixando ainda mais clara a intenção dos beneficiários finais e dos demais integrantes da organização criminosa em ocultar e dissimular a origem espúria dos recursos mediante depósitos anônimos”, aponta o Ministério Público.

Depósitos fracionados feitos na conta do senador Flávio Bolsonaro entre 2013 e 2016

COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS RODRIGO ROCA, LUCIANA PIRES E JULIANA BIEREENBACH, QUE DEFENDEM FLÁVIO BOLSONARO

Após a denúncia, os advogados Rodrigo Roca, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, que defendem o senador Flávio Bolsonaro, divulgaram uma nota classificando as imputações do Ministério Público do Rio como ‘crônica macabra e mal engendrada’ e afirmando que ‘todos os defeitos de forma e de fundo’ da denúncia serão pontuados na formalização da defesa.

“Em função do segredo de Justiça, a defesa está impedida de comentar detalhes, mas garante que a denúncia contra Flávio Bolsonaro é insustentável. Dentre vícios processuais e erros de narrativa e matemáticos, a tese acusatória forjada contra o senador se mostra inviável e não passa de uma crônica macabra e mal engendrada, influenciada por grupos que têm claros interesses políticos e que, agora, tentam voltar ao poder. A denúncia, com tantos erros e vícios, não deve ser sequer recebida pelo Órgão Especial. Todos os defeitos de forma e de fundo da denúncia serão pontuados e rebatidos em documento próprios e no momento adequado”.

 

*Estadão Conteúdo

Siga-nos no Whastapp: https://chat.whatsapp.com/FDoG2xe9I48B3msJOYudM8

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica: Agência 0197
Operação: 013
Poupança: 56322-0
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68
Agradecemos imensamente a sua contribuição