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China reage e impõe vistos contra pessoal dos EUA

Pequim impõe restrições de visto a americanos em resposta às sanções dos EUA, citando interferência em assuntos internos ligados à região de Xizang.

A China decidiu impor restrições recíprocas de visto a funcionários dos EUA que se comportarem mal em questões relacionadas a Xizang, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, nesta segunda-feira (14).

Lin fez os comentários em uma coletiva de imprensa regular quando questionado sobre detalhes sobre as contramedidas da China às restrições de visto dos EUA para autoridades chinesas sobre questões relacionadas a Xizang.

Lin disse que as questões relacionadas a Xizang são assuntos internos da China, observando que o abuso das restrições de visto dos EUA contra autoridades chinesas viola gravemente o direito internacional e as normas básicas que regem as relações internacionais, diz o Cafezinho.

“Xizang está aberta. A China acolhe amigos estrangeiros para visitar, viajar e fazer negócios em Xizang”, disse Lin, acrescentando que a China se opõe à interferência de qualquer país ou pessoa nos assuntos de Xizang sob o pretexto de direitos humanos, religião e cultura.

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Noboa é declarado vencedor no Equador e extrema direita terá mais 4 anos no poder; Luisa Gonzalez não reconhece resultado

O presidente de extrema direita do Equador, Daniel Noboa, foi reeleito neste domingo (13) e terá mais 4 anos na gestão do país para dar continuidade a um governo que tem como pautas principais o neoliberalismo e o aumento da repressão. Ele recebeu 55,8% dos votos com 90% das urnas apuradas contra a candidata de esquerda, Luisa Gonzalez, que oficialmente recebeu 44,1% dos votos, mas não reconheceu o resultado, afirmando ter sido vítima de fraude eleitoral.

Em discurso depois da divulgação dos resultados oficiais pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a candidata de esquerda disse que Noboa usou o órgão eleitoral e o Tribunal Contencioso Eleitoral (TCE), como instrumentos de campanha. Ela também questionou o uso do “estado de exceção” neste sábado (12).

“Obrigada pelo esforço, pelo carinho e pela confiança. Estou aqui para defender isso como sempre. A Revolução Cidadã [projeto socialista do ex-presidente rafael Correa que governou entre 2008 e 2017] sempre aceitou os resultados, mas desta vez não os reconhecemos. Noboa usou as autoridades da CNE e do TCE para fazer o que queria, para atropelar a democracia, e depois declarou estado de emergência para garantir a fraude grotesca que estamos testemunhando”, disse.

Entre as medidas previstas no decreto executivo 599 estão a suspensão do direito à inviolabilidade do lar em 8 províncias. Nos mesmos locais, também está suspenso o direito à inviolabilidade da correspondência. O decreto permite ainda a instituição do toque de recolher em 22 cidades, a partir das 22h até as 5h, medida que não inclui Quito.

A justificativa de Noboa para a decretação do estado de emergência foi a ocorrência de “graves distúrbios internos” em função dos crescentes níveis de violência, criminalidade e intensidade de atividades ilícitas de grupos armados organizados nas áreas mencionadas. Luisa Gonzalez disse que vai pedir a recontagem dos votos e recebeu apoio dos eleitores da Revolução Cidadã.

O presidente eleito respondeu à candidata de esquerda. Em discurso depois da divulgação dos resultados, Noboa afirmou que a população “não tem dúvidas sobre quem é o vencedor”.

“Esta vitória foi histórica, com uma vantagem de mais de 10 pontos e mais de um milhão de votos. Não há dúvidas sobre quem é o vencedor. O Equador está mudando; já escolheu um caminho diferente: isso permitirá que nossos filhos vivam vidas melhores do que nós, proporcionará às gerações futuras vidas mais dignas, um governo mais transparente e mais progresso e planejamento”, disse.

Wilson Barba é dirigente do partido Revolução Cidadã. De acordo com ele, a reeleição de Noboa representa o reforço de ideias ultraliberais no país que, até agora, não deram resultado positivo para a população.

“Noboa representa a manutenção de um multimilionário no poder. Que defende os seus interesses. A dimensão do seu poder é incalculável. Para se ter uma ideia, quando o Equador tinha como principal fonte de renda as bananas, Noboa já dominava esse mercado. Correa rompeu esse ciclo, mas a reeleição de Noboa apresenta uma retomada de um ciclo de domínio dos grandes empresários”, disse ao Brasil de Fato.

Mais 4 anos de neoliberalismo
Noboa tomou posse em 23 de novembro de 2023, após ganhar uma eleição extraordinária, devido à demissão de Guillermo Lasso em abril do mesmo ano (para evitar seu impeachment). Seu governo, no entanto, se mostrou incapaz de lidar com as principais crises do país: a escalada da violência e os problemas energéticos.

Logo após assumir o comando do país, Noboa decretou estado de exceção com a atuação das Forças Armadas nas ruas para enfrentar a crescente crise na segurança. Ele chegou a realizar um referendo popular para ouvir os equatorianos sobre a proposta de ampliar a participação das Forças Armadas na segurança interna. Apesar de sair vitorioso no plebiscito, ele acumulou uma série de insucessos na política e não conseguiu reduzir a violência do país.

Ele pretende para o novo mandato estender o estado de exceção e tem como proposta no plano de governo “elaborar e implementar políticas de segurança pública conforme o atual cenário de riscos e ameaças”. Ele também pretende ampliar o número de presídios de segurança máxima. Noboa propôs uma mudança na Constituição para permitir novamente a instalação de bases militares estrangeiras no Equador, proibidas desde 2008. A Corte Constitucional decidiu que a reforma poderia ser feita na Assembleia Nacional, mas depois deveria ser votada em referendo pela população.

Ao mesmo tempo, o país continua batendo recordes de homicídios, com uma taxa de 45 por 100 mil habitantes. Cabe lembrar também das 450 pessoas mortas em massacres em prisões a partir de 2021, e dos hospitais públicos sem medicamentos nem insumos médicos.

Outro problema que o presidente reeleito terá que enfrentar é o abastecimento de energia. Desde o final de 2024, o país enfrenta apagões diários que duram entre 12 e 14 horas. Esses apagões geraram perdas econômicas de ao menos US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 8,6 bi).

Devido à situação, em outubro foi aprovado na Assembleia Nacional, por ampla maioria, um Projeto de Lei que viabiliza o investimento privado no setor elétrico com procedimentos simplificados, por enquanto, apenas até 100 MW. A lei foi aprovada apesar de a Constituição afirmar que a gestão da produção de eletricidade é reservada ao Estado.

Ele tem como proposta no plano de governo “ações para garantir a continuidade do serviço, projetos que visem uma energia mais sustentável e amiga do ambiente”. Noboa tem como proposta a geração de energias renováveis não tradicionais para ampliar a oferta energética. O presidente, no entanto, não especifica como seria feito isso.

Ele também colocou como bandeira o combate à corrupção de maneira incisiva. Para isso, ele elaborou um Plano Nacional de Integridade Pública e Combate à Corrupção 2024-2028 com empresas e o setor público.

Denúncias de irregularidades
As denúncias de Luisa González no segundo turno foram uma retomada do que ela já havia dito no primeiro turno. Após a rodada que decidiu os dois candidatos para a decisão, cresceram no país as denúncias sobre medidas do governo de extrema direita de Daniel Noboa para influenciar o resultado das eleições.

“Fomos para o segundo turno com um candidato que não respeitou nenhuma regra eleitoral e que pode não reconhecer sua derrota”, alerta o artista equatoriano e ex-diplomata no Brasil e na Venezuela, Pavel Égüez. “O CNE [Conselho Nacional Eleitoral] pode atrasar o anúncio dos resultados, pois, segundo a lei, ele tem 10 dias para o escrutínio, mas não há prazo para contestações, apenas o dia 24 de maio é marcado como a data para o período de mudança de governo.”

*BdF

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Brasil e China inauguram nova rota marítima direta entre os dois países

Partindo do Porto Gaolan em Zhuhai, no sul da China, a rota conectará diretamente ao Porto de Santana (AP) e ao Porto de Salvador (BA)

O governo popular municipal de Zhuhai, China, e o Grupo Parlamentar Brasil-China da Câmara dos Deputados promovem, nesta segunda-feira (14), em Brasília, a cerimônia de inauguração da nova rota marítima direta entre os dois países.

De acordo com a Embaixada da China, a rota marítima internacional Porto Gaolan (Zhuhai)-Brasil entra operação reduzindo o tempo de transporte em até 30 dias e os custos logísticos em mais de 30%.

Partindo do Porto Gaolan em Zhuhai, no sul da China, a rota conectará diretamente ao Porto de Santana (AP) e ao Porto de Salvador (BA).

A Xinhua, agência estatal de notícias chinesa, diz que a linha vai cobrir as principais zonas de produção mineral e agrícola brasileira, bem como seu cinturão industrial do Nordeste.

“Também ampliará o acesso a mercados emergentes na América do Sul, fornecendo soluções logísticas econômicas e eficientes para empresas do interior, estreitando a cooperação econômica e comercial China-Brasil”, diz a Xinhua.

Os navios partirão do sul da China, e atravessarão diretamente o Estreito de Malaca e o Cabo da Boa Esperança para o Porto de Santana (primeira parada) e para o Porto de Salvador (destino final), chegando diretamente a zona econômica do Brasil, segundo o Vermelho.

O Grupo Parlamentar Brasil-China destaca que, assim como os oceanos conectam terras distantes, esta nova rota fortalece os laços entre Zhuhai e o Brasil, abrindo caminhos para prosperidade mútua.

“Inspirados pela visão de um futuro compartilhado, damos este passo histórico para ampliar o intercâmbio comercial e promover novas oportunidades entre nossas nações”, diz o grupo parlamentar.

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‘Mundo renunciou a nós, mas nós não renunciaremos’, diz poeta palestino

Ensaísta e ativista Murad Al Sudani está no Brasil para assinar acordo de cooperação entre escritores palestinos e brasileiros.

“O mundo renunciou a nós, palestinos, mas nós não renunciaremos. Este é um desafio que fazemos à consciência mundial”, provoca o poeta, ensaísta, professor universitário, crítico literário e editor palestino Murad Al Sudani, em passagem por São Paulo nesta sexta-feira (11/04) para assinar um acordo de cooperação cultural entre Palestina e Brasil.

Secretário-geral da União Geral dos Escritores Palestinos, Al Sudani fez uma série de denúncias contra o Estado sionista de Israel durante encontro com jornalistas no sindicato da categoria na capital paulista. Pelo convênio firmado com a União Brasileira de Escritores, na quinta-feira (10/04), as duas entidades se comprometeram a traduzir e divulgar obras literárias de seus respectivos associados no outro país, com foco principal na produção de jovens autores.

O projeto deve se iniciar com a tradução para o português de uma série de contistas palestinos que têm produzido seus trabalhos no calor da hora, “em tempo de sangue”, como definiu o secretário-geral. “Os contos já estão escritos, por gente que estava sendo bombardeada”, disse ao explicar que os trabalhos ainda são inéditos, estão em processo de seleção e contam com o interesse de editoras brasileiras para a publicação local.

Genocídio em Gaza
Atribuindo a motivação genocida dos sionistas à cobiça pelas reservas de gás ao norte de Gaza, o escritor denuncia o Estado “criminoso” de Israel e seus sócios neste crime, como os Estados Unidos (“a polícia do mundo”): “Israel é um Estado de ladrões, que rouba os palestinos desde que foi fundado”. E completa: “agora vem Trump dizer ao povo de Gaza que deve ir embora. Ele nos considera Estados americanos?”.

Al Sudani descreve em números o extermínio em curso, citando o assassinato de centenas de acadêmicos, professores universitários e pesquisadores, de 211 jornalistas e de 47 integrantes da União Geral dos Escritores Palestinos, cujos corpos em parte ainda permanecem sob os escombros. “Foram destruídas 550 aldeias desde que o Estado de Israel foi implantado. Trocaram seus nomes, atacaram os lugares e suas identidades, falsificando e fabricando mentiras. Esses invasores não têm relação com o lugar, roubam todos os símbolos e tradições palestinos e dizem que pertencem a eles. Cortam centenas de oliveiras palestinas, roubam a comida popular palestina e dizem que é deles”, indigna-se. “Não têm raízes, então tentam arrancar as raízes do povo palestino.”

O escritor e ativista ressaltou também a destruição sistemática de universidades, escolas, centros culturais e museus, e concluiu, na mesma direção: “os sionistas não têm civilização nem cultura, por isso querem destruir a civilização e a cultura dos outros povos. O genocídio é físico e cultural, em todos os níveis, nas telas de vídeo, diante dos olhos do mundo”. Al Sudani deixa uma pergunta no ar: “o que este mundo hipócrita vai fazer? Eu me limito a ficar calado”.

Acordo entre escritores do Brasil e Palestina
Nesse contexto em que parte do mundo parece fechar os olhos para o genocídio palestino, o poeta afirmou que objetivo do acordo entre escritores de dois lados do mundo é sensibilizar intelectuais, literatos e comunicadores brasileiros para um extermínio que não diz respeito apenas aos palestinos, mas a toda a humanidade.

“Devemos dialogar com a consciência dos escritores, comunicadores e elites pensantes do mundo todo. Se não se mexerem com esse massacre, o que vai fazer eles se mexerem? O massacre é de toda a humanidade”, alertou o ativista, editor, entre outras, da Revista dos Prisioneiros, voltada para a realidade de cerca de 7 mil palestinos encarcerados, entre esses escritores que conseguem enviar seus relatos clandestinamente de dentro da prisão para a revista publicar.

Intermediado pela Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), o encontro entre as uniões de escritores daqui e de lá é desdobramento de iniciativa semelhante travada com a Rússia, no âmbito do BRICS e das tratativas para a criação de uma liga de escritores do bloco, de que a Palestina deve participar, embora não seja membro oficial do agrupamento. Quanto ao Brasil, seus intelectuais e seus editores, Murad Al Sudani é objetivo: “precisamos das vozes de vocês”.

*Opera Mundi

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Dados revelam operação de Israel para remover postagens pró-Palestina no Instagram e Facebook; Meta atendeu 94% das solicitações

Como “Israel” orquestrou a maior operação de censura em massa da história moderna.

Meta atendeu a 94% das solicitações de remoção emitidas por “israel” desde 7 de outubro de 2023 de postagens no Instagram e Facebook

Por Waqas Ahmed, Nicholas Rodelo, Ryan Grim e Murtaza Hussain*, no site da Fepal

Uma repressão abrangente a postagens no Instagram e no Facebook que criticam Israel — ou mesmo que apoiem vagamente os palestinos — foi orquestrada diretamente pelo governo israelense, de acordo com dados internos do Meta obtidos pelo Drop Site News.

Os dados mostram que a Meta atendeu a 94% das solicitações de remoção emitidas por Israel desde 7 de outubro de 2023.

Israel é, de longe, o maior originador de solicitações de remoção globalmente, e a Meta seguiu o exemplo — ampliando a rede de postagens que remove automaticamente e criando o que pode ser chamado de a maior operação de censura em massa da história moderna.

As solicitações governamentais de remoção geralmente se concentram em postagens feitas por cidadãos dentro das fronteiras do governo, disseram fontes internas da Meta. O que torna a campanha de Israel única é seu sucesso na censura de discursos em muitos países fora de Israel.

Além disso, o projeto de censura de Israel terá repercussões no futuro, disseram fontes internas, já que o programa de IA que a Meta está atualmente treinando para moderar conteúdo baseará as decisões futuras na remoção bem-sucedida de conteúdo crítico ao genocídio de Israel.

Os dados, compilados e fornecidos ao Drop Site News por denunciantes, revelam a mecânica interna da “Organização de Integridade” da Meta — uma organização dentro da Meta dedicada a garantir a segurança e a autenticidade de suas plataformas.

Solicitações de remoção (TDRs) permitem que indivíduos, organizações e funcionários do governo solicitem a remoção de conteúdo que supostamente viole as políticas da Meta.

Os documentos indicam que a grande maioria das solicitações de Israel — 95% — se enquadra nas categorias de “terrorismo” ou “violência e incitação” da Meta. E as solicitações de Israel têm como alvo predominantemente usuários de países árabes e de maioria muçulmana, em um esforço massivo para silenciar as críticas a Israel.

Múltiplas fontes independentes dentro da Meta confirmaram a autenticidade das informações fornecidas pelos denunciantes.

Os dados também mostram que a Meta removeu mais de 90.000 postagens para cumprir as TDRs enviadas pelo governo israelense em uma média de 30 segundos.

A Meta também expandiu significativamente as remoções automatizadas desde 7 de outubro, resultando em cerca de 38,8 milhões de postagens adicionais sendo “acionadas” no Facebook e Instagram desde o final de 2023. “Acionadas” em termos do Facebook significa que uma postagem foi removida, banida ou suprimida.

Solicitações de remoção
Todos os TDRs do governo israelense posteriores a 7 de outubro contêm exatamente o mesmo texto de denúncia, de acordo com as informações vazadas, independentemente da substância do conteúdo subjacente contestado.

Fontes afirmaram que nenhum TDR israelense descreve a natureza exata do conteúdo denunciado, embora as solicitações vinculem a uma média de 15 peças de conteúdo diferentes.

Em vez disso, os relatórios simplesmente afirmam, além de uma descrição dos ataques de 7 de outubro, que:

Esta é uma solicitação urgente referente a vídeos postados no Facebook com conteúdo incitador. O arquivo anexado a esta solicitação contém links para conteúdo que viola os artigos 24(a) e 24(b) da Lei Antiterrorismo de Israel (2016), que proíbe a incitação ao terrorismo, o elogio a atos de terrorismo e a identificação ou apoio a organizações terroristas. Além disso, vários dos links violam o artigo 2(4) da Lei de Proteção à Privacidade (1982), que proíbe a publicação de imagens em circunstâncias que possam humilhar a pessoa retratada, pois contêm imagens de pessoas mortas, feridas e sequestradas. Além disso, segundo nosso entendimento, o conteúdo do relatório em anexo viola os padrões da comunidade do Facebook.

O sistema de fiscalização de conteúdo da Meta processa os relatórios enviados pelos usuários por diferentes caminhos, dependendo de quem os está denunciando.

Usuários comuns podem denunciar postagens por meio da função de denúncia integrada da plataforma, acionando uma revisão.

As postagens denunciadas são normalmente rotuladas como violadoras ou não violadoras por modelos de aprendizado de máquina, embora, às vezes, moderadores humanos também as revisem.

Se a IA atribuir uma pontuação de confiança alta, indicando uma violação, a postagem será removida automaticamente. Se a pontuação de confiança for baixa, moderadores humanos revisam a postagem antes de decidir se devem ou não tomar medidas.

Governos e organizações, por outro lado, têm canais privilegiados para acionar a revisão de conteúdo. Os relatórios enviados por esses canais recebem maior prioridade e quase sempre são revisados ​​por moderadores humanos, e não por IA.

Após a revisão humana, as avaliações são realimentadas no sistema de IA do Meta para ajudá-lo a avaliar melhor conteúdo semelhante no futuro.

Embora usuários comuns também possam registrar TDRs, eles raramente são atendidos. TDRs enviados por governos têm muito mais probabilidade de resultar na remoção de conteúdo.

A Meta atendeu amplamente às solicitações de Israel, abrindo uma exceção para a conta do governo, removendo postagens sem revisão humana, de acordo com os denunciantes, enquanto ainda alimentava esses dados de volta à IA da Meta.

Um relatório da Human Rights Watch (HRW) que investiga a moderação de conteúdo pró-Palestina pela Meta após 7 de outubro descobriu que, das 1.050 postagens que a HRW documentou como removidas ou suprimidas no Facebook ou Instagram, 1.049 envolviam conteúdo pacífico em apoio à Palestina, enquanto apenas uma postagem era de conteúdo em apoio a Israel.

Uma fonte da Organização de Integridade da Meta confirmou que revisões internas de sua moderação automatizada descobriram que conteúdo pró-Palestina que não violava as políticas da Meta era frequentemente removido.

Em outros casos, conteúdo pró-Palestina que deveria ter sido simplesmente removido recebeu um “strike”, o que indica uma ofensa mais grave. Caso uma única conta receba muitos strikes pelo conteúdo que publica, toda a conta pode ser removida das plataformas Meta.

Quando preocupações sobre o excesso de fiscalização contra conteúdo pró-Palestina foram levantadas dentro da Organização para a Integridade, disse a fonte, a liderança respondeu dizendo que preferia impor uma fiscalização excessiva contra conteúdo potencialmente violador, em vez de uma fiscalização insuficiente e correr o risco de deixar conteúdo violador ativo nas plataformas Meta.

Remover, impedir, suspender
Dentro da Meta, vários cargos de liderança importantes são ocupados por figuras com conexões pessoais com o governo israelense.

A Organização para a Integridade é comandada por Guy Rosen, um ex-oficial militar israelense que serviu na unidade de inteligência de sinais do exército israelense, a Unidade 8200.

Rosen foi o fundador da Onavo, uma empresa de análise de dados web e VPN que o então Facebook adquiriu em outubro de 2013.

(Reportagens anteriores revelaram que, antes de adquirir a empresa, o Facebook usava dados coletados pela Onavo de seus usuários de VPN para monitorar o desempenho de concorrentes — parte do comportamento anticompetitivo alegado pela Comissão Federal de Comércio (FTC) durante o governo Biden em seu processo contra a Meta.)

A Organização para a Integridade de Rosen trabalha em sinergia com a Organização de Políticas da Meta, de acordo com funcionários. A Organização de Políticas define as regras e a Organização de Integridade as aplica — mas as duas se retroalimentam, disseram eles.

“Mudanças nas políticas geralmente são impulsionadas por dados da organização de integridade”, explicou um funcionário da Meta.

A partir deste ano, Joel Kaplan substituiu Nick Clegg como chefe da Organização de Políticas. Kaplan é um ex-funcionário do governo Bush que trabalhou com autoridades israelenses no passado no combate à “incitação online”.

A Diretora de Políticas Públicas da Meta para Israel e a Diáspora Judaica, Jordana Cutler, também interveio para investigar conteúdo pró-Palestina.

Cutler é uma ex-autoridade sênior do governo israelense e conselheira do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu. Cutler teria usado sua função para sinalizar conteúdo pró-Palestina.

De acordo com comunicações internas analisadas pelo Drop Site, em março, Cutler instruiu ativamente os funcionários da empresa a pesquisar e analisar conteúdo que mencionasse Ghassan Kanafani, um romancista árabe considerado um pioneiro da literatura palestina.

Imediatamente antes de ingressar na Meta como formuladora sênior de políticas, ela passou quase três anos como Chefe de Gabinete na Embaixada de Israel em Washington, D.C. — e quase cinco anos como adjunta de um dos conselheiros seniores de Netanyahu, antes de se tornar sua conselheira para Assuntos da Diáspora.

De acordo com informações internas analisadas pelo Drop Site, Cutler continuou a exigir a revisão de conteúdo relacionado a Kanafani, de acordo com a política do Meta de “Glorificação, Apoio ou Representação” de indivíduos ou organizações “que proclamam uma missão violenta ou estão envolvidos em violência para ter presença em nossas plataformas”.

Kanafani, morto em um atentado com carro-bomba em 1972 orquestrado pelo Mossad, atuou como porta-voz do grupo nacionalista palestino de esquerda, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP).

A FPLP foi classificada como grupo terrorista mais de um quarto de século após sua morte, o que, de acordo com as diretrizes do Meta e os esforços de Cutler, serve de base para sinalizar seu conteúdo para remoção, greves e possível suspensão.

Escopo global
Os documentos vazados revelam que as solicitações de remoção de Israel têm como alvo majoritariamente usuários de países de maioria árabe e muçulmana, sendo os 12 países mais afetados:

  • Egito (21,1%),
  • Jordânia (16,6%),
  • Palestina (15,6%),
  • Argélia (8,2%),
  • Iêmen (7,5%),
  • Tunísia (3,3%),
  • Marrocos (2,9%),
  • Arábia Saudita (2,7%),
  • Líbano (2,6%),
  • Iraque (2,6%),
  • Síria (2%),
  • Turquia (1,5%).

No total, usuários de mais de 60 países relataram censura de conteúdo relacionado à Palestina, de acordo com a Human Rights Watch — com postagens removidas, contas suspensas e visibilidade reduzida por meio de banimentos indiretos.

Notavelmente, apenas 1,3% das solicitações de remoção de Israel têm como alvo usuários israelenses, tornando Israel uma exceção entre os governos que normalmente concentram seus esforços de censura em seus próprios cidadãos.

Por exemplo, 63% das solicitações de remoção da Malásia têm como alvo conteúdo malaio e 95% das solicitações do Brasil têm como alvo conteúdo brasileiro.

Israel, no entanto, direcionou seus esforços de censura para o exterior, concentrando-se em silenciar críticos e narrativas que questionam suas políticas, particularmente no contexto do conflito em curso em Gaza e na Cisjordânia.

Apesar de a Meta estar ciente das táticas agressivas de censura de Israel há pelo menos sete anos, de acordo com denunciantes da Meta, a empresa não conseguiu coibir o abuso.

Em vez disso, disse um deles, a empresa “forneceu ativamente ao governo israelense um ponto de entrada legal para a execução de sua campanha de censura em massa”.

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Sem defesa e sob ameaça de deportação, crianças enfrentam tribunais migratórios nos EUA

Governo Trump suspende assistência legal a menores não acompanhados, e juíza adverte que medida viola leis de proteção infantil.

A reportagem da BBC News Mundo revela situações críticas de crianças estrangeiras levadas a tribunais migratórios nos Estados Unidos sem assistência legal. A questão se agrava pela política do governo Trump, que expõe a vulnerabilidade desses menores em um sistema judicial complexo. Em um tribunal de imigração em San Diego, a juíza Olga Attia tenta amenizar a tensão ao oferecer um livro de colorir para uma menina de cinco anos, que está sozinha enfrentando um processo de deportação após entrar no país de maneira irregular com seus irmãos. Estima-se que cerca de 26 mil crianças possam estar nessa situação, sem a companhia de pais ou responsáveis.

O cenário se torna ainda mais crítico com a recente revogação, em 21 de março, dos contratos com várias organizações que oferecem assistência jurídica gratuita a menores não acompanhados. Segundo uma carta da Associated Press, a razão dada para essa mudança foi a “conveniência do governo”. Contudo, uma juíza federal da Califórnia suspendeu temporariamente essa decisão, após uma ação de 11 grupos que alegaram desrespeito à legislação americana.

Em Los Angeles, a advogada Daniela Hernández Chong Cuy, que representa 83 menores, destaca um caso particularmente angustiante: uma mãe grávida deixou seu país, e a filha nasceu durante a jornada para os Estados Unidos. Na fronteira, ambas foram avaliadas como uma unidade familiar, mas apresentam histórias de abandono e violência distintas. Hernández expressa suas preocupações sobre a falta de representação legal para essas crianças e a dificuldade que elas têm em se defender sozinhas.

A advogada está reavaliando seus casos e focando nas situações mais urgentes, como aquelas que envolvem adolescentes prestes a completar 18 anos ou menores sob custódia federal, que são prioritários. No entanto, ela questiona se terá acesso a esses menores, aguardando uma resposta incerta.

Jonathan D. Ryan, um advogado com duas décadas de experiência no Texas, descreve a situação de maneira clara: “É como retirar deles o paraquedas antes de lançá-los do avião.” Ele representa 50 menores e investe cerca de 100 horas em cada pedido de asilo, enfatizando a crueldade da ideia de que uma criança possa se defender sozinha contra um promotor treinado.

Este panorama denuncia um sistema que, ao não oferecer apoio legal adequado para as crianças, perpetua a injustiça e o desamparo. A falta de recursos para assistência jurídica, combinada com a rigidez das políticas migratórias, coloca em risco o futuro dessas crianças, que enfrentam um processo judicial sem a devida proteção e orientação.
Ryan destaca que os processos migratórios nos Estados Unidos são considerados civis, o que implica que o direito a um advogado público gratuito, como comum em filmes policiais, não se aplica. Entretanto, uma lei aprovada pelo Congresso americano em 2005 garante que menores tenham acesso, “ao máximo possível”, a representação legal qualificada. Essa iniciativa foi posteriormente reforçada pela legislação de 2008 focada em tráfico de pessoas.

O Centro Acacia para a Justiça, responsável por coordenar uma rede de mais de 90 organizações, prestou assistência a cerca de 26 mil menores e orientou aproximadamente 100 mil outros. O financiamento do programa é de US$ 200 milhões anuais. Contudo, mesmo após recuar de uma decisão em fevereiro, o governo Trump continuou a pressionar para o cancelamento do contrato com o Centro, fazendo isso oito dias antes da renovação prevista.

A realidade das audiências sem um defensor legal é alarmante. Dados do Escritório Executivo de Revisão da Imigração (EOIR) mostram que 95% das crianças que têm advogados comparecem a suas audiências, enquanto apenas 33% das crianças sem representação legal o fazem. Essa ausência pode resultar em deportações sumárias. Mesmo quem comparece ao tribunal sem um advogado encontra mínimas chances de conseguir “alívio migratório”.

As crianças têm a possibilidade de permanecer no país caso consigam demonstrar abuso, abandono, perseguição ou se forem vítimas de tráfico humano. No entanto, especialistas entrevistados pela BBC News Mundo enfatizam que estes processos são juridicamente complexos e requerem evidências substanciais, além da articulação com diferentes órgãos do sistema de imigração.

Ryan argumenta que estados contam com um gasto significativo com juízes, promotores, intérpretes e a estrutura do tribunal em geral, enquanto o custo do advogado da criança é o menor aspecto nesse cenário, representando o mínimo que pode ser feito para garantir justiça, segundo Luis Mauro Filho, 247.

A administração Trump não se limita apenas ao cancelamento de contratos; um memorando emitido pela Casa Branca em 21 de março, intitulado “Prevenir abusos no sistema judiciário”, acusa advogados de imigração de orientarem clientes a mentir e omitir informações. A procuradora-geral Pam Bondi foi designada para revisar a conduta de todos os escritórios que processaram o governo federal nos últimos oito anos.

Ryan percebe tal medida como uma tentativa de intimidação. Ele ressalta que qualquer pessoa que entre em uma sala de tribunal e veja uma criança, cujo pés mal tocam o chão, entenderá, independente de sua orientação política, que essa criança merece ter alguém ao seu lado.

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China vira as costas aos EUA e aposta na soja do Brasil

Com tarifas sufocando a soja americana, a China redireciona suas importações ao Brasil e reforça plano para garantir segurança alimentar.

A China acaba de adquirir uma quantidade excepcionalmente grande de soja brasileira, evidenciando como a escalada da guerra comercial está inviabilizando as compras de grãos dos Estados Unidos. Pelo menos 2,4 milhões de toneladas de soja foram negociados no início desta semana, volume que representa quase um terço da média mensal processada pela China, segundo fontes familiarizadas com o assunto que conversaram com Hallie Gu, da Bloomberg News. Elas destacaram que a onda de compras foi incomumente grande e rápida.

Embora Pequim tenha diversificado suas importações agrícolas nos últimos anos, os EUA ainda são seu segundo maior fornecedor de soja. No entanto, com a rápida escalada da guerra tarifária entre os dois países — que está pressionando o setor agrícola de ambas as nações —, a realidade é que comprar soja americana tornou-se inviável.

Soja como alvo estratégico na guerra comercial
Ao direcionar tarifas contra os EUA, a soja — base da alimentação de suínos e aves — era uma escolha amplamente esperada. A China responde por metade da receita das exportações americanas do grão. Mas o país não está sozinho nessa estratégia: a União Europeia incluiu a soja em sua resposta tarifária às medidas dos EUA sobre aço e alumínio (embora tenha decidido adiar a implementação por 90 dias após a reversão de Donald Trump sobre as chamadas tarifas recíprocas).

O conflito sino-americano está remodelando um comércio que movimentou mais de US$ 12 bilhões em 2024, beneficiando produtores latino-americanos. A China já vem comprando mais soja do Brasil, seu principal fornecedor atualmente.

hina busca alternativas para garantir suprimentos
Além de aumentar as importações brasileiras, a China está adotando outras medidas para assegurar o abastecimento. O país trabalha para ampliar sua produção de grãos, reforçando a determinação de depender mais da produção doméstica e reduzir o uso de farelo de soja na ração animal. Uma das estratégias é promover tecnologia de dieta com baixo teor proteico, que utiliza mais aditivos como aminoácidos em vez de farelo, de acordo com o Cafezinho.

Em seu plano decenal de segurança alimentar, divulgado na segunda-feira, o Comitê Central do Partido Comunista da China afirmou: “Um país forte deve primeiro ter uma agricultura forte, e só uma agricultura forte pode tornar o país poderoso.”

Ovo ainda caro nos EUA, pressionado por gripe aviária e tarifas
A inflação nos EUA pode ter desacelerado no mês passado, mas os preços dos ovos continuam teimosamente altos, sem perspectiva de alívio imediato devido à gripe aviária e às tarifas. Em março, os consumidores pagaram em média US$ 6,227 por dúzia, um recorde, segundo o Bureau of Labor Statistics. O valor é o dobro do registrado um ano atrás, mesmo com a queda acentuada nos preços pagos pelos supermercados aos fornecedores.

O alto custo dos ovos é uma má notícia para Trump, que frequentemente atribuiu o fenômeno ao fracasso de seu predecessor. O governo tem trabalhado para aliviar a escassez aumentando as importações, e Trump tem creditado a si mesmo a recente correção nos preços no atacado.

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Produtos dos EUA enfrentam boicote após tarifas de Trump; empresas perdem US$ 8 tri em valor

As 500 maiores maiores empresas norte-americanas perderam o equivalente a três vezes o PIB do Brasil.

A reportagem do DW Brasil indica que, apesar do recuo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, os consumidores globalmente não estão boicotando produtos norte-americanos. A resistência é mais evidente nos países diretamente afetados pelo pacote de tarifas de Trump, como Canadá e na Europa, onde a mobilização popular está se intensificando sob o lema “compre local”, tanto nas lojas físicas quanto online.

No dia 2 de abril, Trump instituiu uma sobretaxa sobre todas as importações aos EUA, denominando o evento de “Dia da Libertação”, referindo-se a nações que, segundo ele, aproveitariam a situação. Contudo, no dia 9 de abril, apenas uma semana após a imposição, Trump anunciou uma pausa de 90 dias na tarifa, reduzindo a maioria das sanções para uma taxa básica de 10%.

Com a China, a abordagem é mais agressiva. Na mesma sequência de medidas, Trump decidiu aumentar as tarifas sobre produtos chineses de 104% para 125%, com a Casa Branca depois corrigindo esse número para 145%, o que resume todas as tarifas em vigor. Em resposta, o governo chinês, que tem se oposto ativamente à política tarifária do presidente americano, anunciou um aumento de tarifas sobre produtos dos EUA, que passam de 84% para 125%, começando a partir do dia 12 de abril. O presidente chinês, Xi Jinping, fez um apelo à União Europeia para que a região se una contra a “intimidação” promovida por Trump.

Na Europa, onde a sobretaxa de 20% sofreu um alívio, os consumidores estão se organizando virtualmente para promover boicotes. Campanhas e grupos foram criados em redes sociais, como o grupo francês “Boycott USA: Achetez Français et Européen!”, que já conta com mais de 30 mil participantes. Grupos suecos como “Bojkotta varor från USA” (Boicote aos produtos dos EUA) já somam mais de 180 mil membros, todos com o intuito de pressionar pelo fim das sanções.

Na Alemanha, uma pesquisa realizada pelo grupo Cuvey revelou que 64% da população prefere evitar produtos americanos, indicando que a política de Trump já influi sobre suas decisões de consumo. Além disso, um movimento surgido em redes sociais e fóruns como o Reddit incentiva consumidores na Europa e no Canadá a posicionar os produtos dos EUA de cabeça para baixo nas prateleiras dos supermercados, como um sinal visual de descontentamento.

Empresas europeias também estão se articulando contra as corporativas americanas. Um exemplo é o Salling Group, maior varejista da Dinamarca, que anunciou que marcará produtos da Europa com uma estrela negra, facilitando a identificação dos itens locais para os consumidores.

Essas ações demonstram como as políticas tarifárias de Trump têm gerado movimentos de resistência e solidariedade entre consumidores internacionais, mostrando uma oposição crescente às suas medidas e a busca por promover a compra de produtos locais, com o intuito de impedir o fortalecimento das marcas americanas no mercado global.
As empresas norte-americanas estão enfrentando perdas bilionárias de valor de mercado, resultado não apenas de um boicote de consumidores, mas também da instabilidade nas bolsas internacionais causada pela recente imposição tarifária global anunciada em 2 de abril.

De acordo com uma análise publicada no blog da jornalista Míriam Leitão, no jornal O Globo, as 500 maiores empresas dos Estados Unidos perderam aproximadamente US$ 8 trilhões entre os dias 1º e 8 de abril. Esse valor é equivalente a três vezes o PIB brasileiro, representando uma significativa perda de riqueza.

Essas perdas não são exclusivas das empresas norte-americanas; a crise está afetando companhias em todo o mundo. Em resposta a essa situação, o presidente Donald Trump teve que recuar em algumas de suas políticas devido à pressão crescente. As consequências das tarifas não se limitam ao valor de mercado dessas empresas, afetando também suas estruturas de negócios e as formas como os produtos são fabricados.

Setores particularmente impactados incluem as grandes empresas de tecnologia, cujos líderes são notáveis apoiadores de Trump. A perda é acentuada, pois muitas dessas empresas mantêm uma cadeia de produção altamente globalizada, com grande parte da manufatura ocorrendo fora dos Estados Unidos, especialmente na Ásia.

O professor de economia da ESPM, Leonardo Trevisan, comentou que a tentativa de Trump de combater a China através do incentivo à produção interna é complexa, já que 151 dos 190 países possuem acordos comerciais mais robustos com a China. Essa realidade não pode ser alterada rapidamente, pois levou anos para ser estabelecida.

Uma reportagem da revista The Economist, reproduzida no Estadão, caracteriza o impacto das políticas comerciais de Trump como sem precedentes na história recente. De acordo com a publicação, o presidente trocou as relações comerciais estáveis que levaram mais de cinquenta anos para serem construídas por um modelo de políticas arbitrárias e volúveis, cuja implementação é frequentemente anunciada por meio das redes sociais. A falta de previsibilidade tem gerado um clima de incerteza, em que mesmo seus assessores não conseguem antecipar os próximos passos da administração.

A reportagem também menciona um impasse criado com a China, sugerindo que essa situação pode ser difícil de reverter. Em um intervalo de apenas dez dias, as políticas de Trump desmantelaram as certezas que sustentavam a economia global, introduzindo níveis extraordinários de volatilidade e confusão. Embora parte do caos aparentemente tenha diminuído temporariamente, reconstruir a infraestrutura econômica que foi perdida será um processo demorado e desafiador.

A situação atual reflete uma transformação drástica nas dinâmicas do comércio mundial, o que exige uma adaptação significativa das empresas, tanto americanas quanto internacionais, diante de um novo cenário econômico global.

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Quando as mercadorias não cruzam fronteiras, os soldados farão

Navegamos em mares bravios, em meio às chamas ateadas pelo novo Nero, que não se constrange em incendiar a economia do próprio país.

O recuo de Donald Trump em impor seu tarifaço a todos os países, excluindo a China, nem de longe é uma estratégia planejada. Trump recuou por vários motivos, um deles, e talvez o mais importante, foi a contrariedade dos bilionários estadunidenses, que perderam trilhões de dólares desde o anúncio do tarifaço.

Matéria do The New York Time desta quinta-feira (10) afirma que muitas empresas dos Estados Unidos discordam do tarifaço de Donald Trump e enxergam na China um porto seguro em meio à tempestade regulatória proposta por Washington.

O descontentamento da maioria dos estadunidenses também pesou no recuo do bufão da cabeleira amarela. No sábado (5), milhares de manifestantes protestaram contra Donald Trump em Washington e em várias cidades dos Estados Unidos. Grandes faixas nas proximidades da Casa Branca criticavam a posição fascista do presidente. Em uma delas, os manifestantes pediam que Trump tirasse suas mãos da Seguridade Social.

Na área da política externa, a “Guerra Comercial” de Trump teve derrotas importantes, principalmente no Velho Continente. Sem perder tempo, as principais nações europeias se voltaram para o fortalecimento de acordos com outros países e blocos econômicos mundo afora. Na quarta-feira (9), a União Europeia se aproximou da China, iniciando conversas para a cooperação comercial com o gigante asiático.

Na terça-feira (8), a ministra de Relações Exteriores da Finlândia, Elina Valtonen, defendeu, ao lado da Suécia, um acordo entre União Europeia e o Mercosul no sentido de combater os efeitos do tarifaço de Trump.

Desde bem antes das medidas tresloucadas de Trump, o governo do presidente Lula vem aprofundando acordos importantes com as principais economias do mundo. A diplomacia brasileira tem sido incansável na condução do fortalecimento do multilateralismo, e nos dois primeiros anos de seu terceiro mandato o presidente visitou 32 países, buscando restabelecer a posição do país após a terra arrasada diplomática legada por Bolsonaro.

No início deste ano Lula fechou acordos importantes no Vietnã e no Japão. Em maio, o presidente terá agenda bilateral com Putin em sua visita à Rússia. Na sequência, volta à China, onde será o convidado de honra do Foro Celac-China, que reúne países latino-americanos e a nação asiática. Vale realçar que Lula se reunirá com o presidente Xi Jinping justamente quando Trump intensifica as tensões comerciais entre os EUA e a China.

É impossível neste momento deixar de pensar na importância da postura de Lula e do seu governo em momentos de crise econômica global.

O mais importante deles ocorreu em 2008, quando Lula foi criticado pelo tal “mercado” e pela mídia corporativa, ao profetizar, em plena crise iniciada nos Estados Unidos devido a uma bolha imobiliária, que o tsunami nos EUA seria apenas uma ‘marolinha’ no Brasil. Na contramão de vários economistas e analistas, Lula pediu, na época, que a população comprasse. O resultado foi exemplo para o mundo. O francês Le Monde reconheceu que a rápida recuperação do Brasil demonstrou a precisão da estratégia adotada pelo governo brasileiro ao concentrar suas ações no mercado interno. Aliás, essa mesma estratégia vai ser utilizada pela China em meio à guerra comercial declarada pelos EUA.

Vocês já imaginaram onde estaria a economia brasileira nesse momento se o presidente fosse Bolsonaro, aquele que bate continência para a bandeira dos Estados Unidos e que declarava amor eterno a Trump? Ou mesmo o governador Tarcísio de Freitas, que posou com o boné MAGA, da campanha de Trump…”Make America Great Again”? Ambos de um servilismo enojante.

Nesse momento, os religiosos e mesmo os agnósticos deveriam erguer as mãos para o céu e agradecer por termos na presidência um líder já testado em situações globalmente adversas e que a história revela conhecer o caminho a seguir.

Sim, caro leitor, navegamos em mares bravios. Aliás, em meio às chamas ateadas pelo novo Nero, que não se constrange em incendiar e golpear fortemente a economia do próprio país. Embora todos sejamos de algum modo atingidos pelo risco de recessão global, quem irá arcar com as consequências imediatas de elevação de preços e desemprego, impostas do tal tarifaço, será o consumidor estadunidense. Esse mesmo que insanamente elegeu o novo Nero.

Todo governo autocrata e totalitário necessita de um inimigo público. O de Trump é a China, taxada em 145%, sem qualquer critério senão o próprio voluntarismo de Trump – e a psicanálise deve explicar. Está claro que Trump reduz o comércio global a um balcão de negócios pessoais, um jogo de truco irresponsável. Trata-se de um maníaco que pode levar o planeta a uma situação irreversível. Lembro aqui de uma frase de Frederic Bastiat: quando as mercadorias não cruzam fronteiras, os soldados farão.

*Florestan Fernandez Jr,/247

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Bolsas dos EUA despencam e mostram que Trump mira na China e acerta o próprio pé

Ações despencam novamente com aumento da angústia em relação à guerra comercial de Trump

O S&P 500 caiu 3,5% ao dia.

Motivo: a Casa Branca esclareceu que as novas tarifas sobre produtos chineses totalizaram 145%.

Para fabricantes de vestuário dos EUA, política tarifária caótica do estabanado Trump, não ajuda, ao contrário, atrapalha.

A ideia geral nos EUA é a de que produzir algo tão estúpido como as tarifas de Trump, é para a vida toda.

Com a lambança de Trump, EUA e China caminham para uma divisão “monumental”, colocando a economia mundial em alerta.

Um aprofundamento da guerra comercial pode enfraquecer ainda mais os laços entre as superpotências. Os efeitos repercutirão no mundo como um todo.