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Depois de proclamar sua incapacidade e a quebra do Brasil, pedidos de renúncia de Bolsonaro explodem nas redes

Bastou essa figura tosca chamada Bolsonaro admitir que, em dois anos de governo, não fez absolutamente nada pelo país e que a economia está quebrada, que as redes sociais reagiram pedindo a sua renúncia, numa explosão de indignação com todo o tipo de xingamento, com um único e claro objetivo, que ele renuncie.

Essa súbita manifestação nas redes, quase como uma explosão de cólera coletiva, reflete o sentimento, antes ruidoso, agora, violento da população.

O crescimento acelerado de sua rejeição, que já vinha sendo determinado pelos avanços de críticas ao seu governo, resulta agora numa expansão contínua de uma massa muito densa de brasileiros que está literalmente de saco cheio com a sua incapacidade, sua imoralidade e, sobretudo, seu vocabulário na hora de se referir à pandemia no Brasil, tratando as quase 200 mil vítimas fatais da Covid, assim como seus familiares que estão sofrendo, como invisíveis, tanto que ele volta a fazer barulho contra a imprensa dizendo que as informações sobre o vírus foram super dimensionadas e que isso acabou por impedi-lo de governar e ter uma política econômica eficaz.

O fato é que a palavra “renúncia” bombou no twitter, onde muitos dizem que esta é a melhor solução para Bolsonaro e para o país. Outros pedem a sua renúncia e de todo o clã. Outros ainda dizem para ele tirar a faixa da presidência que nunca mereceu usar por ser um moleque.

Enfim, como disse um dos internautas, quem assume publicamente que não consegue fazer nada pelo país estando na cadeira da presidência, só tem um caminho, a renúncia e a lata do lixo.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Lenio Streck: Pela primeira vez, Supremo Tribunal Federal reconhece parcialidade de Moro

Abstract: provar parcialidade no Brasil virou “ordália negativa” e uma prova diabólica – decisão do STF promete alterar esse quadro.

1. Contexto
Nos autos do agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus 144.615, a 2ª Turma do STF declarou a nulidade da sentença condenatória proferida pelo juiz Sergio Moro contra o doleiro Paulo Roberto Krug (processo n. 2002.70.00.00078965-2), por crimes financeiros no caso Banestado. Após voto que rejeitava o recurso do ministro relator Edson Fachin, o ministro Gilmar Mendes abriu a divergência, que foi seguida pelo ministro Ricardo Lewandowski, sob o argumento de violação da imparcialidade do julgador. A ministra Cármen Lúcia acompanhou o relator. No empate de 2×2, prevaleceu, por óbvio, a decisão mais favorável ao réu.

2. Os votos
O relator, ministro Edson Fachin, sustentou a tese da taxatividade do artigo 252 do CPP. Assim, na medida em que a conduta de Moro não se encaixava nos incisos do dispositivo, não havia parcialidade (ou suspeição, o que dá no mesmo). Para aprofundar, ler aqui.

Já o Min. Gilmar Mendes disse: “depois de o tempo demonstrar cada vez mais traços da realidade que antes não se evidenciava, os excessos eram marcantes na atuação do ex-juiz Sergio Moro exatamente em razão de suas condutas tendencialmente parciais.”

Gilmar, analisando detalhadamente a prova, descobre que não houve uma mera homologação de acordo à luz da legalidade e da voluntariedade, tampouco uma “mera” produção de prova de ofício pelo julgador, como disse o Ministro relator. Para ele, houve manifesta ilegalidade por violação à imparcialidade em razão dos seguintes pontos:

  • A leitura das atas de depoimentos mostra evidente atuação acusatória do julgador, pois o magistrado agiu de modo proeminente na realização de perguntas ao interrogado, fugindo completamente ao controle de legalidade e voluntariedade. Houve “atuação direta do julgador em reforço à acusação”.
  • Ao final da instrução, mesmo que o membro do MP já entendesse como suficiente o lastro probatório produzido, o julgador determinou a juntada de quase 800 folhas em quatro volumes de documentos diretamente relacionados com os fatos criminosos imputados aos réus, utilizando-se expressamente deles para fundamentar a condenação.

O ministro Gilmar dissertou sobre a imparcialidade enquanto base fundamental da jurisdição, o sistema acusatório e a separação de funções de acusar e julgar.

No voto, Gilmar cita vários trechos em que fica clara a parcialidade de Moro (o inteiro teor dos votos está aqui).

Para o ministro Gilmar, o juiz da causa (Moro) atuou como “parceiro do órgão de acusação na produção de provas que seriam posteriormente utilizadas no processo penal que tinha como réu o paciente”. O juiz efetivamente guiou e reforçou a tese acusatória com a direção do interrogatório.

3. A nulidade da sentença ou do processo?
Examinando o acórdão, talvez tenha faltado um ponto. Além de ter declarado a nulidade da sentença, talvez o mais adequado seja que fosse declarada a nulidade do processo. Se os elementos que embasaram a investigação e conduziram ao processo criminal propriamente dito estavam “contaminados” com a parcialidade do Moro, o mais correto seria anular tudo.

De todo modo, é um enorme avanço. Mesmo que tenha havido empate (2×2), esse julgamento se tornou o mais importante de 2020. O STF começa a entender, corretamente, que é inadequado hermeneuticamente dizer que o artigo 252 do CPP possui um rol taxativo, uma vez que nele não consta o requisito da imparcialidade. Fosse correta a tese do relator, provar a parcialidade de um juiz seria (ou seja) exigir uma prova diabólica. Ou uma autêntica “ordália invertida”: atira-se Moro na água com dez boias e cinco coletes salva-vidas; se ele afundar, está provada a sua parcialidade.

Esse é o ponto. Toda a dogmática diz que que o juiz tem de ser imparcial. Se ele não age desse modo, ele é o quê? Parece evidente que o Brasil tem de seguir o que diz o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que adota a teoria da aparência: ele exige não só a imparcialidade; ele exige a aparência de justiça. A tese é: “Justice must not only be done; it must also be seen to be done”.

Ou seja, a Constituição do Brasil e o Tribunal Europeu dos DH abominam o modelo “juiz Larsen” (Caso Hauschildt vs. Áustria). Registro: esse juiz (Larsen) pré-julgava e aplicava sua opinião independentemente do caso concreto. Atuava como parceiro da acusação. Nesse sentido, sugiro a leitura do Livro das Suspeições.

4. Minha concordância e minha discordância com o voto do min. Edson Fachin
Por último, quero dizer que concordo com o que diz o ministro Edson Fachin no seu voto, neste trecho:

“É um erro supor que essa busca por um país com justiça mais eficiente é ilusória. A ineficiência da Justiça dá mais incentivos à corrupção e, consequentemente, faz aumentar a pobreza. Penso que é exatamente como um esforço de aprimoramento da jurisdição, um esforço por maior eficiência, que deva ser visto o trabalho de diversas instituições no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro. Tais esforços são, antes de tudo, frutos de uma histórica demanda por mais eficiência na justiça, em primeiro lugar, mas também por maior qualidade na prestação de serviços públicos.” (página 21 do inteiro teor)

Só não entendo as razões pelas quais isso que acima está dito justifica, de algum modo, que um juiz aja parcialmente. Simples assim. Essa é a minha discordância! A citação do Ministro serve, sim, como fundamento para que exijamos, sempre, um juiz imparcial. E um Ministério Público isento. Sem dúvida que esses ingredientes fazem bem para a democracia.

E a propósito: para combater a ineficiência, reclamada pelo Min. Fachin no voto, vale atropelar garantias e tornar lícita a parcialidade de um magistrado? Eis a pergunta que deve ser respondida.

No mais, está mais do que na hora de sufragarmos a tese de que também a parcialidade do juiz é causa de nulidade semelhantemente ao que consta no art. 252 do CPP. Como fez o STF agora. Afinal, se toda a dogmática processual-constitucional exige um juiz imparcial (não conheço nenhum autor que diga o contrário), por qual razão se deve aceitar a parcialidade sem sanção processual? Parcialidade demanda sanção de nulidade processual. E sem que se necessite apelar a uma ordália negativa. Que é sempre diabólica.

*Do Conjur

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Bolsonaro não chegou aonde chegou por mérito, mas por culpa exclusiva da mídia e do judiciário

Por mais festas que os bolsonaristas façam aqui ou ali para seu mito, em dois anos, o cotidiano do governo Bolsonaro para a totalidade da população foi de total e absoluta incompetência, até porque nunca teve qualquer plano de governo.

Na promoção que Bolsonaro cotidianamente faz de si não está incluído nenhum feito de seu governo, porque não há qualquer feito, apenas suas manobras toscas que nada têm a ver com sua capacidade de governar, ao contrário, ele as usa para tentar disfarçar a sua inabilidade e de todos os que o cercam.

O cálculo político de Bolsonaro se limita a reduzir os danos de sua desastrosa gestão, utilizando as mais baixas formas de promoção pessoal para tentar,  momentaneamente, produzir fumaça que cubra sua inépcia.

Dito isso, a análise da situação em que o Brasil se encontra, tem que começar pelo começo, por quem deu, porque deu e como deu a vitória a esse burro empacado.

Mas como chegamos a isso?

Não foi nada parecido com sofisticação, foi apenas o que se transformou em coisa rotineira nesse país, o uso da mídia pela oligarquia e, consequentemente, o uso da justiça pela mídia.

O problema é que a situação se agravou a ponto de propiciar a chegada de Bolsonaro ao poder.

Então, vem a segunda pergunta: como reorganizar o país sem mexer nessas estruturas podres e impedir que outros Cunhas, Jeffersons e Bolsonaros tenham protagonismo em farsas que foram determinantes para jogar o Brasil no caos?

Ainda sem resposta.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Vídeo: Bolsonaro precisa explicar sua aparente tentativa de chantagem e intimidação contra o Ministério Público

Nenhum presidente brasileiro, até hoje, fez algo parecido.

No dia 31 de dezembro, em sua última live de 2020, o presidente Jair Bolsonaro reclamou da atenção que a mídia dá ao caso Queiroz. Até aí, tudo normal. É o tipo de coisa que o presidente faz em vez de trabalhar para comprar vacina.

Mas Bolsonaro resolveu dar um passo a mais, e acrescentou, no minuto 34 do vídeo:
“Agora, o MP do Rio, presta bem atenção aqui: imagine se um dos filhos de autoridade do MP do Rio fosse acusado de tráfico internacional de drogas. O que aconteceria, MP do Rio de Janeiro? Vocês aprofundariam a investigação ou mandariam o filho dessa autoridade pra fora do Brasil e procuraria uma maneira de arquivar esse inquérito? Um caso hipotético, falando de um caso hipotético. (…) Caso um filho de uma autoridade do Ministério Público do Rio de Janeiro entrasse no inquérito da Polícia Civil do Rio e ali um delator tivesse falado que ele participava de tráfico internacional de drogas. Fica com a palavra as autoridades do Ministério Público do Rio de Janeiro”.

Parece bem grave. Parece que o presidente da República tentou chantagear e intimidar o Ministério Público do Rio de Janeiro. O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga o filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro.

Se algum bolsonarista ou alguém da turma do “não é tão ruim assim” tiver outra hipótese para explicar o que o presidente da República disse em sua live de 31 de dezembro, por favor, enviem-na para a Folha. Todos queremos ouvi-la. Mesmo eu, que penso as piores coisas de Jair Bolsonaro, tive dificuldade de acreditar no que estava ouvindo. Novamente: se alguém do governo tiver uma outra explicação, será um prazer discuti-la. Ministro da Justiça? Procurador-geral da República? Deputada Janaina Paschoal? Wassef?

Quanto à acusação feita pelo presidente, de duas, uma. Se ela for verdadeira, Bolsonaro vazou dados sigilosos de uma investigação da Polícia Civil que obteve ilegalmente. Se ela for falsa, Bolsonaro caluniou tanto o Ministério Público quanto a Polícia Civil.

A propósito, se Bolsonaro tiver aparelhado a polícia a ponto de vazar a acusação, pode perfeitamente tê-la aparelhado a ponto de forjá-la.

E, presidente, se usar “hipoteticamente” nesses contextos livrasse alguém das consequências jurídicas do que diz, o senhor mal imagina o que seriam minhas colunas sobre seu governo hipotético.

Talvez Bolsonaro tenha dito o que disse justamente para provocar um escândalo e difamar o Ministério Público no meio da confusão resultante. Seria uma conduta típica da máquina de ódio bolsonarista. Se for o caso, talvez esta coluna esteja fazendo o jogo de Bolsonaro ao divulgar suas acusações. É um risco.

Mas se o que o presidente da República fez no dia 31 de dezembro for o que parece ser, trata-se de coisa grave demais para não ser denunciada. Seria crime muito mais pesado do que tráfico de drogas ou, aliás, do que “rachadinha”. Nenhum presidente brasileiro, até hoje, fez algo parecido.

O Ministério Público do Rio continuará com as investigações, sem se intimidar. O episódio não deve influenciar a escolha do novo procurador-geral de Justiça. Mas enquanto o presidente da República for capaz de fazer o que parece ter feito no dia 31 de dezembro de 2020 sem sofrer consequências, ainda estaremos longe da normalidade institucional.

https://youtu.be/Hosh56rj49Q

*Uol/Celso Rocha de Barros – Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

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Por total incompetência, Bolsonaro joga a responsabilidade da vacinação no colo de governadores e prefeitos

Esse é o plano.

Está na cara que, por total incompetência de seu governo, Bolsonaro vai jogar a responsabilidade da vacinação nas costas de prefeitos e governadores e, em seguida, fingir-se de morto.

Como Bolsonaro lidou com a pandemia?

Jogou e continuará jogando toda a responsabilidade do combate à pandemia nas costas do Congresso, de governadores e prefeitos e fazendo ataques a eles para tirar do foco a sua incapacidade e a dos militares de seu governo de lidarem com essa grave crise sanitária.

É isso que ele já está fazendo com a vacinação.

Até o mais boboca dos bobocas já entendeu isso.

Essa é a grande estratégia de guerra de seus generais, a começar pelo Pazuello.

Dória, nesse ponto, deu uma grande força a Bolsonaro. Assumiu o protagonismo da vacinação e, com isso, acabou pressionando prefeitos e outros governadores a fazerem o mesmo, pois, do contrário, seriam imediatamente cobrados pela população dos seus estados e municípios.

Assim, Bolsonaro seguirá como no combate à pandemia, livre de qualquer compromisso com uma logística de vacinação e vai repetir o mantra de que não deixará faltar recursos federais para a vacinação, como não faltaram para o combate à Covid.

Esse é o plano que já está sendo colocado em prática por quem não tem a mínima ideia de como se governa uma birosca, que fará um país.

*Da redação

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Leandro Fortes: Fé na escória

Acordo feito pelo PT ao bloco de Rodrigo Maia “pode ser explicado e compreendido, mas, nem por isso, precisa ser aceito”, afirma Leandro Fortes, do Jornalistas pela Democracia. “O maior risco, no entanto, como sempre ocorre ao se aliar à escória, é o de se entrar com tudo e sair com nada”.

O dilema petista – e da oposição de esquerda, em geral – sobre aderir ou não à trupe de liberais de condomínio liderada pelo deputado Rodrigo Maia, do DEM, pode ser explicado e compreendido, mas, nem por isso, precisa ser aceito.

Longe de ser um partido revolucionário, o PT é uma agremiação de centro-esquerda viciada em saídas conciliatórias, mas, ainda assim, ideologicamente superestimada. Isso porque, dentro do espectro político nacional, basta ter alguma sensibilidade social para ser considerado herdeiro do bolchevismo.

Em uma sociedade estupidamente conservadora e violenta, qualquer reformismo, mesmo que periférico, torna-se uma revolução em si. Não por outra razão, a reação das classes dominantes, mesmo a mudanças estruturais mínimas, é sempre brutal e disruptiva.

Vide a forma como a burguesia nacional interrompeu o ciclo petista, em 2016, apoiando um impeachment ilegal e, em seguida, usando o aparato do Judiciário para perseguir, prender e assassinar a reputação de adversários políticos.

Derrotada, a esquerda se vê, agora, na contingência de apoiar um arrivista de quinta categoria para a presidência da Câmara dos Deputados, o deputado Baleia Rossi, do MDB, para tentar evitar a possibilidade de, com Arthur Lira, do PP, Jair Bolsonaro passar a dominar a pauta da Câmara dos Deputados.

Não é, portanto, um dilema qualquer.

É certo que Baleia irá dar continuidade ao trabalho dos tubarões neoliberais que, a partir do Congresso Nacional, estão fatiando as riquezas do País e as entregando, quase de graça, aos países centrais do capitalismo, notadamente, aos Estados Unidos – padrinhos do golpe contra Dilma Rousseff.

O argumento nada desprezível da nomenclatura petista é o de que, com Lira, abrir-se-á espaço ilimitado para as aspirações autoritárias de Bolsonaro e uma brecha perigosa para o recrudescimento das pautas ultraconservadoras, como “escola sem partido” e quejandos.

É possível.

O maior risco, no entanto, como sempre ocorre ao se aliar à escória, é o de se entrar com tudo e sair com nada.

É sempre bom lembrar que essa direita que, envergonhadamente, se autodenomina “centrão”, forma uma espécie de “oposição republicana oficial”, na definição de Karl Marx, na obra “O 18 de brumário de Luís Bonaparte”.

Marx se referia à “corja de burgueses” que, em maio de 1848, organizou um golpe contra o rei Luis Felipe, a fim de estabelecer a chamada Segunda República da França. O fez por antipatia pessoal ao monarca e para ampliar os poderes da burguesia sobre os recursos e cargos do Estado.

Não havia, portanto, nenhum interesse público envolvido, muito menos desejos de mudanças estruturais do sistema. Tanto que, um mês depois do golpe, diante das reivindicações da esquerda proletária, essa mesma corja matou três mil adversários e exilou outros 15 mil.

Dali a menos de três anos, a fim de garantir seus privilégios, aquele centrão francês iria apoiar a aventura golpista de um autocrata idiota e repugnante, Luís Bonaparte. Sobrinho de Napoleão, tratava-se de uma espécie de Bolsonaro, também eleito presidente pelo voto popular, que viria a se autoproclamar imperador e, com mão de ferro, governar a França por vinte anos.

Exatamente no livro que trata do golpe de Luís Bonaparte, Marx, citando uma passagem de Hegel sobre todos os grandes fatos e todas as grandes personagens da História serem encenados duas vezes, acrescenta: a primeira, como tragédia, a segunda, como farsa.

É de se pensar a respeito.

*Leandro Fortes/247

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O Apocalipse Já de Bolsonaro. O caos está aí na nossa cara

Depois do festival de bobagens de 2020, governo começa o novo ano poupando a plateia de teorias conspiratórias, novas catástrofes e bodes expiatórios.

Em agosto de 2019, quando Alberto Fernández venceu as primárias para a Presidência da Argentina, Jair Bolsonaro resolveu atravessar a fronteira para escorregar numa casca de banana em terras alheias:

“Não esqueçam do que, mais ao Sul, na Argentina, aconteceu nas eleições de ontem. A turma da Cristina Kirchner, que é a mesma de Dilma Rousseff, que é a mesma de Hugo Chávez, de Fidel Castro. (…) Se essa esquerdalha voltar aqui na Argentina, nós poderemos ter no Rio Grande do Sul um novo estado de Roraima”.

Era o tempo em que venezuelanos atravessavam a fronteira e vinham para o Brasil. Hoje os brasileiros gostariam de dar um pulinho na Argentina. Lá, desde a semana passada, a população está sendo vacinada contra a Covid.

Virou o ano, o Brasil não tem vacinas, a Anvisa do almirante e o ministério da Saúde do general estão atordoados pelo negacionismo que Bolsonaro impôs ao seu governo. Ganha uma fritada de morcego do mercado de Wuhan quem souber o que fez o comitê interministerial criado em março para lidar com a pandemia.

Na exortação de agosto de 2019, Bolsonaro mostrou o lado apocalíptico de sua retórica. Quando ele falou na “gripezinha”, quando defendeu as virtudes da cloroquina e até mesmo quando classificou a segunda onda da pandemia de “conversinha”, manipulava a ignorância num processo de simples empulhação. Se tivesse razão (e não a tinha), as coisas poderiam melhorar. Quando falou num possível êxodo de argentinos, manipulava o apocalipse, e aí está o perigo, pois a Constituição lhe assegura mais dois anos de mandato.

O catastrofismo tem algo de impessoal. Quem anuncia catástrofes dissocia-se dos problemas. O capitão despediu-se de 2020 no meio da segunda onda de contágio, encostando nos 200 mil mortos. Aproveitou a oportunidade para anunciar que “nós podemos trazer o caos para cá” com “essa política de fechar”: “Esse inferno, essa assombração, está voltando, por irresponsabilidade de fechar tudo .”

Conversa velha. Em março, quando havia apenas um morto, Bolsonaro dizia que “se ficar todo mundo maluco, as consequências serão as piores possíveis”. Ninguém ficou maluco. Ele acrescentava: “Tem locais em alguns países em que já tem saques acontecendo, isso pode vir para o Brasil, pode ter aproveitamento político em cima disso”. Salvo os desordeiros que organizam aglomerações, nada disso aconteceu.

O profeta da catástrofe sempre tem um medo. Bolsonaro explicitou o seu: “Está havendo uma histeria. Se a economia afundar, afunda o Brasil. (…) Se acabar a economia, acaba qualquer governo. Acaba o meu governo. É uma luta pelo poder”.

Quando surgiu um boato delirante de decretação do estado de sítio, Bolsonaro desmentiu-o, com uma ressalva: “Ainda não está no nosso radar isso, não.” Não estava? Na semana seguinte, diante das manifestações que aconteciam em Santiago, profetizou:

“O que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil. Todos nós pagaremos um preço que levará anos para ser pago, se é que o Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês tanto defendem. (…) O caos está aí na nossa cara”.

Um dia, Bolsonaro viu o caos e divulgou-o: Era um vídeo que mostrava a central de abastecimento de Belo Horizonte, deserta. “São fatos e realidades que devem ser mostradas”, escreveu o presidente. Era mentira e desculpou-se.

Na tenebrosa reunião do ministério de abril, Bolsonaro expôs seu medo:

“A desgraça tá aí. Eles vão querer empurrar essa … essa … essa trozoba pra cima da gente.”

Não foi Bolsonaro quem criou o vírus, nem foi o vírus quem inspirou o almirante da Anvisa e o general da Saúde para criarem uma situação na qual faltam vacinas, seringas, agulhas e sabe-se lá mais o quê.

Depois do festival de bobagens de 2020, esses doutores poderiam começar o novo ano poupando a plateia de teorias conspiratórias, novas catástrofes e bodes expiatórios. Como são todos militares, podem recordar o exemplo do general Dwight Eisenhower na véspera do desembarque Aliado na Normandia, em 1944. Ele redigiu uma curta nota para a hipótese do fracasso.

Elogiava todo mundo e concluía: “Se alguma culpa deve ser atribuída à tentativa, ela é só minha”.

O tenente alemão

No início da manhã de 6 de junho de 1944, o tenente alemão Cornelius Tauber estava na Normandia e viu o início do desembarque dos Aliados.

Ele esperava que as coisas acontecessem como nas guerras passadas e surpreendeu-se: “Não vieram cavalos. Toda aquela tropa e nenhum cavalo.”

A logística dos Aliados não incluía quadrúpedes, só veículos e tanques. (Em 1941, quando a Alemanha invadiu a Rússia, seu Exército ainda dependia de 600 mil cavalos.)

O general e os oficiais que Bolsonaro botou no ministério da Saúde ficaram sem vacinas e seringas. Achavam que, como grandes compradores, estavam numa posição em que poderiam impor condições aos fornecedores. Como disse o capitão:

“O Brasil tem 210 milhões de habitantes, um mercado consumidor de qualquer coisa enorme. Os laboratórios não tinham que estar interessados em vender para a gente?”

Se Bolsonaro tivesse feito essa pergunta ao economista Paulo Guedes, teria descoberto o tamanho de seu terraplanismo econômico. Segundo a lei da oferta e da procura, quando há muita oferta, manda quem compra, mas quando há muita procura, manda quem vende. Com sua experiência no mundo do papelório, Guedes poderia lhe explicar também os mecanismos de condicionantes para compras antecipadas.

Mando, logo existo

Para quem não sabe, existe um Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios. A girafa mora na capitania do ministro Paulo Guedes e decidiu criar o “licenciamento urbanístico integrado”.

Ele estabelece que obras de até 1.750 metros quadrados podem ser liberadas com a ajuda de um processo eletrônico.

Sabe-se que há muita roubalheira nas burocracias que liberam obras. Sabe-se também que o ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, deixou de ser flor do orquidário de seu colega Paulo Guedes. Não custava ter ouvido alguns interessados, e não só alguns operadores do mercado imobiliário.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e acha que os ministros do Supremo são todos infalíveis. Ele se assustou com a saia justa revelada pelo ministro Marco Aurélio: a sinopse de notícias enviadas aos doutores sumiu com duas reportagens que tratavam da operação fura-fila das vacinas. Armada em nome da Corte.

O que o cretino não entende é por que os ministros precisam de sinopses das notícias. Como ele é um idiota, talvez precisem do mimo. Nesse caso, porque não o colocam na rede, para usufruto de quem lhes paga os salários?

*Elio Gaspari/O Globo

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Comissário da União Europeia chama de “imagens vergonhosas do Brasil” em meio à pandemia de Covid-19

Comentário de Paolo Gentiloni ocorre após aglomerações de fim de ano, como as provocadas por Bolsonaro no litoral de SP.

O ex-primeiro-ministro da Itália e atual comissário de Economia da União Europeia, Paolo Gentiloni, criticou neste sábado (2) o que chamou de “imagens vergonhosas do Brasil” em meio à pandemia de coronavírus.

Embora não tenha deixado claro a que imagens estava se referindo, o comentário de Gentiloni ocorre em um momento em que o país registrou aglomerações durante as festividades de fim de ano, como as provocadas pelo presidente Jair Bolsonaro no litoral sul de São Paulo.

“Tenho visto imagens vergonhosas do Brasil. Média da última semana: 36 mil casos e 700 vítimas por dia pela pandemia”, escreveu o italiano em uma publicação no Twitter.

Neste sábado (2), o Brasil registrou 15.957 casos e 301 óbitos pelo coronavírus, de acordo com os dados obtidos pelo consórcio formado por Folha, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1. Os números, entretanto, podem estar subnotificados devido ao atraso na consolidação dos dados relacionado a feriados e fins de semana.

No total, o país registrou mais de 7,7 milhões de casos e 195 mil mortes pela Covid-19, números que o colocam como a terceira nação com mais infectados (atrás de EUA e Índia) e segunda com mais óbitos —os EUA seguem na liderança.

Na última sexta-feira (1º), o presidente brasileiro fez um passeio de barco em Praia Grande, cidade vizinha a Guarujá, onde Bolsonaro passa as férias.

Vestindo uma camisa do Santos, o presidente decidiu saltar do barco e mergulhar no mar, acompanhado de seguranças. Bolsonaro nadou em direção à praia e, ainda dentro d’água, logo foi cercado por uma multidão sem máscara aos gritos de “mito”.

Dois dias antes, ele já havia ignorado mais uma vez as orientações de segurança para impedir a propagação do coronavírus ao se aproximar de simpatizantes, cumprimentar banhistas, pegar crianças no colo e posar para fotografias.

“O povo aqui na praia. Fazemos isso, nos arriscamos também um pouco para ver o que acontece”, disse Bolsonaro aos presentes em uma fala transmitida ao vivo em suas redes sociais. “Alguns até reclamam, é direito deles, mas sempre estivemos ao lado da população que é a nossa obrigação.”

“Estou fazendo isso, repito, com alguns riscos algumas vezes, mas nos sentimentos reconfortados por estar buscando sempre fazer a coisa certa (…) O povo está aqui na praia, alguns vão falar que é aglomeração, mas temos que enfrentar por toda a vida.”

*Com informações da Folha

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Vídeo: Nado de Bolsonaro na Praia Grande foi teatro tão bufo quanto o da “facada”

Quem se esquece daquele vídeo patético em que Bolsonaro aparece dando tchau para o nada, para ninguém, como se estivesse diante de uma multidão?

Esse é o método Bolsonaro e seu apoio virtual que passou a ser norma primeira desde a farsa da facada repetida em vários episódios em que o verme da Cloroquina produz farsas para chamar a atenção de uma parcela de dementes dispersa no pasto.

Não é preciso que alguém que estava na Praia Grande diga que aquilo tudo foi uma farsa grosseira, tão caricata e burlesca quanto a da facada e a do vídeo em que Bolsonaro aparece acenando para uma multidão imaginária.

É oportuno lembrar a fala de Merval Pereira após a vitória de Bolsonaro na eleição de 2018, quando afirmou que o recém eleito não tinha gasto quase dinheiro nenhum para derrotar o PT, apenas uma bem articulada e eficiente campanha na internet, o que só confirma que o falso mito foi sim sustentado pela mídia por sua força de comunicação de massa , e que ele nadou e surfou nessa balela.

A mídia brasileira tem um know how invejável na produção de farsas, como vimos tantas delas se perpetuarem durante os cinco anos de Lava Jato, quando as câmeras da Globo e as máquinas fotográficas de diversos veículos da grande mídia já estavam posicionadas em frente a casa de alguma vítima das operações da armação de Moro, com o japonês da Federal, com tudo.

Mas convenhamos, isso está longe de ser inaugural.

Quem se esquece da armação montada pelo jornalista da Globo, Cesar Tralli e seu parente da PF no factoide dos aloprados, na véspera do primeiro turno na disputa entre Lula e Alckmin? Fato que acabou levando a eleição para o segundo turno, em que Alckmin conseguiu a façanha de ter menos votos que no primeiro turno.

Bolsonaro é apenas um aprendiz da escola superior de farsas chamada Rede Globo de Televisão que, nos bastidores da política, trata a vida brasileira como quem trata de um roteiro das suas xaropadas novelas.

Essa armação da Praia Grande mostra Bolsonaro com menos zelo ainda do que naquela farsa bufa da facada em Juiz de Fora, facada que jamais foi questionada pela mídia brasileira, mesmo se mostrando mais grosseira que filme trust.

A questão aqui não é discutir a suposta aglomeração que Bolsonaro, de forma artificial, causou na praia do litoral paulista, mas o porquê da mídia alimentar essa farsa como fez com a falsa facada, e que motivos estão por trás desse alinhamento ainda muito forte ou talvez mais forte do que nunca, entre os barões da comunicação e o capitão do gabinete do ódio, porque essa crítica feita sob medida para que Bolsonaro pareça ser um antissistema, muito mais o ajuda do que atrapalha.

O que, na verdade, atrapalha Bolsonaro, são os resultados trágicos para milhares de famílias que perderam seus entes queridos para Covid por culpa desse insano e, junto, a violência de sua política econômica contra os trabalhadores, muito comemorada pela mídia brasileira.

Uma política econômica que, para os interesses da grande mídia teve excelentes resultados, principalmente porque, mantendo 14% dos brasileiros desempregados e mais uma nação de trabalhadores vivendo de bicos, como disse um certo banqueiro do Itaú, é bom para a economia, porque o preço dos salários, ou melhor, da mão de obra chega bem perto da escravidão, dando o que os neoliberais mais gostam, lucros fáceis e imediatos para os milionários brasileiros, banqueiros e industriais.

Então, meus caros, podem esperar que outros farsas virão e serão prontamente ecoadas pela grande mídia, a dos bancos, a dos neoliberais.

https://youtu.be/mzuJBtqen7E?t=866

*Carlos Henrique Machado Freitas

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O misterioso culto aos supostos poderes sobrenaturais de Bolsonaro

“Bolsonaro não é burro, sabe o que faz. ”

“A especialidade de Bolsonaro é iludir a esquerda com suas paspalhices.”

“É conversa que Bolsonaro não tem planos. Tem e é estratégico.”

Grosso modo, esses são alguns mantras de que Bolsonaro seria um ser de inteligência muito acima da média com poderes sobrenaturais que afrontam a realidade.

Ou seja, Bolsonaro é um Curupira que toma formas múltiplas de acordo com seu método de promoção pessoal.

É difícil entender essa linha de raciocínio, já que Bolsonaro ainda goza de certa popularidade por conta do Auxílio Emergencial.

Esse é um apelo fatal diante de um país cada dia mais empobrecido. Mas isso não saiu da caixola do demente, ao contrário, se dependesse de Bolsonaro, mesmo sob pressão, ele daria, no máximo, R$ 200 durante três meses.

O Congresso é que o colocou de joelhos e ele teve que se comportar como pai do milagre da multiplicação da grana que pingou na conta dos pobres.

Tudo isso agora acabou. A integração casual de seu governo com o povo se encerra aqui.

Não há outra forma de Bolsonaro encarar esse problema já que seu patrão, o mercado, já cortou suas asinhas quando solfejou o fim ou a flexibilização do teto de gastos.

Por outro lado, o mesmo está emparedado pelo fracasso econômico de seu governo.

O posto Ipiranga vendeu água barrenta no lugar de combustível e a economia brasileira emperrou no meio do barro esperando recursos internacionais que nunca vêm.

No Brasil, a carência só fez crescer desde o golpe em Dilma. A vida coletiva no Brasil não tem vez diante dos interesses e cálculos econômicos de um modelo que está a serviço das grandes corporações, sobretudo as financeiras.

Daí que, acreditar que essa tragédia que assola grande parte da sociedade é coisa pensada para dar popularidade a Bolsonaro, é um discurso muito além do especulativo, é irracional.

Bolsonaro não é nenhum Mister M.

Se ele prega para os convertidos bolsonaristas, está na conta.

O bolsonarismo é um não sei o que de coisa nenhuma. Do ponto de vista científico, é apenas um vácuo mental.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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