Mobilização começou em discussões em grupos de WhatsApp sobre necessidade de deixar claro que sociedade não aceita retrocessos autoritários.
Empresários que assinaram o manifesto de apoio ao processo eleitoral brasileiro em resposta aos ataques de Jair Bolsonaro à urna eletrônica e ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, dizem que tomaram a decisão de romper o silêncio sobre a ofensiva do presidente ao identificar um risco real de ameaça à democracia e às instituições.
Sentiram a necessidade de mandar um recado claro, reforçando que a sociedade não aceitará retrocessos autoritários.
Ex-presidente do Santander e do Grupo Abril, o administrador Fábio Barbosa afirmou que o manifesto foi importante para externalizar a visão de um grupo grande e diverso de líderes empresariais, economistas, cientistas políticos e outros intelectuais de que não há duvidas sobre a lisura e credibilidade do processo eleitoral no país.
Ele contou que a mobilização começou informalmente e logo ganhou uma grande adesão.
— O manifesto começou com uma conversa de grupos pelo WhatsApp e logo teve adesão maciça. Mostrou o anseio em se manifestar sobre a questão, e faltava uma posição mais enfática dos empresários — disse, acrescentando que o manifesto chegou a 7 mil assinaturas.
Barbosa frisou que, em vez desse tipo de crise, há outras prioridades a serem enfrentadas, como a reforma tributária, administrativa. E ressaltou que o processo eleitoral não deve ser o foco neste momento:
— Há muitas outras prioridades no país. Por isso decidimos nos posicionar.
‘Sociedade não pode assistir calada’
Outro líder empresarial influente a assinar a carta, o CEO do Credit Suisse no Brasil, José Olympio Pereira, disse que o país vive “um quadro dramático de crise institucional em formação” e que a sociedade “não pode assistir calada”.
— Minha sensação é de que estamos igual ao sapo na panela. A temperatura está aumentando e a sociedade e os mercados estão fingindo que nada existe. Isso é muito grave. Temos que pular (da panela) enquanto é tempo. Não podemos assistir calados. É preciso dar um basta e esvaziar esse balão antes que a crise se forme — disse José Olympio.
Em nova pressão contra a participação de empresas chinesas no 5G brasileiro, o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, ofereceu ao governo Jair Bolsonaro apoio para que o Brasil se torne um sócio global da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
A entrada do país no programa de cooperação dentro da aliança militar foi discutida com Sullivan e o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, na manhã desta quinta-feira (5) em Brasília. Sullivan esteve ainda no Palácio do Planalto, para encontro com o presidente Bolsonaro.
Os americanos fizeram o aceno ao governo Bolsonaro na tentativa de convencer as autoridades brasileiras a vetar a participação da Huawei no futuro mercado de 5G nacional. O recado foi que uma coisa depende da outra.
A política oficial de Washington é que a presença de fornecedores considerados não confiáveis —como a Huawei e outras empresas chinesas— em redes de comunicação de quinta geração impedem o aprofundamento na cooperação de defesa e segurança.
Por isso, o acesso do Brasil ao programa da Otan só seria possível sem a participação dos chineses no 5G brasileiro. Em tese, segundo explicou um interlocutor, a adesão do Brasil na parceria dependeria do aval de outros integrantes da Otan, mas o apoio americano é considerado determinante.
Ao acenar com a possível entrada do Brasil num projeto de cooperação da aliança, o governo Joe Biden tenta angariar o apoio da ala militar do governo Bolsonaro nos esforços contra a presença da Huawei nas redes de 5G.
O tema atualmente divide os fardados. Militares que trabalham no GSI (Gabinete de Segurança Institucional) com o general Augusto Heleno são favoráveis ao banimento dos chineses, usando argumentos de segurança nacional, mas outros membros das Forças Armadas argumentam que nunca tiveram problemas com a Huawei nas mais de duas décadas em que ela opera no país.
A eventual ascensão do Brasil como “sócio global” da Otan permitiria aos militares condições especiais para a compra de armamentos de países que integram a organização. Também abriria mais espaço para a capacitação de pessoal militar nas bases da aliança ao redor do mundo.
A associação também cria mecanismos de assistência de membros da Otan em situação de conflito internacional. No caso de alguma operação militar em cenário de contenda, o Brasil poderia ser chamado a participar, mas estaria liberado a decidir não se envolver.
Na América do Sul, o único país que tem o status de “sócio global” da Otan é a Colômbia, o mais tradicional aliado dos EUA na região e com amplo histórico de cooperação militar com os americanos. Possuem o mesmo status Afeganistão, Austrália, Iraque, Japão, Coreia do Sul, Mongólia, Nova Zelândia e Paquistão.
A Otan foi criada no pós-guerra como uma aliança transatlântica entre Estados Unidos, Canadá e países da Europa Ocidental contra o poderio militar da União Soviética. No final dos anos 90, a organização começou seu processo de expansão junto a países que faziam parte da esfera de influência soviética. Na ocasião, ingressaram como membros plenos Polônia, República Tcheca e Hungria.
Um dos principais eixos da organização atualmente é a integração das estruturas militares dos integrantes da aliança, com a padronização de equipamentos —ponto central para os EUA, que fornecem esse material bélico.
Vetar a participação de empresas chinesas do 5G é hoje uma das principais prioridades da diplomacia americana. As pressões diplomáticas foram intensas no governo Donald Trump e não arrefeceram com a chegada de Biden à Casa Branca.
A viagem de Sullivan a Brasília é a segunda visita de alto nível de uma autoridade americana em menos de um mês para tratar do tema. No início de julho, o chefe da agência de inteligência americana (a CIA), William Burns, esteve na capital federal para uma série de reuniões, inclusive com Bolsonaro.
Podem acreditar, Fux fez um duro pronunciamento em rede nacional em que espinafrou Bolsonaro, ou seja, declarou guerra à presidência da República e cancelou a reunião entre os poderes. Não é pra menos, além dos ataques frequentes de Bolsonaro ao STF, hoje ele ameaçou Alexandre de Moraes, dizendo “a vez dele vai chegar”. Pelo jeito, a coisa vai piorar ainda mais para o lado de Bolsonaro. O que assistimos hoje na fala de Fux tem nome, ruptura. Agora, é aguardar os próximos acontecimentos.
Fux acaba de fazer um duro pronunciamento em rede nacional sobre crise entre a presidência da República e o Supremo Tribunal Federal. Ruptura, esta é a palavra.
Falando na unidade integral dos ministros do STF, Fux afirmou que estão juntos na defesa de cada um dos integrantes do Supremo, Fux, que frequentemente é escorregadio na hora de individualizar suas críticas a Bolsonaro, foi bastante eloquente em culpar Bolsonaro pela crise significativa entre os poderes.
O pronunciamento do presidente do STF, certamente, vai balançar a República, porque agora alcança certo grau de ruptura e, por conseguinte, todos os dados políticos e jurídicos envolvidos nessa questão.
Na realidade, dois pontos estão presentes na fala de Fux, a garantia de que o STF inteiro fechado com Barroso e Moraes e, por outro lado, um alinhamento do STF com a manifestação dos representantes do sistema financeiro que garantiram em carta que não aceitarão qualquer desagregação ou degeneração da constituição para agravar e adensar ainda mais a crise provocada por Bolsonaro.
“O presidente da República tem reiterado ofensas e ataques de inverdades a integrantes desta Corte, em especial os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Mores. Sendo certo que, quando se atinge um dos integrantes, se atinge a Corte por inteiro. Além disso, sua excelência [Bolsonaro] mantém a divulgação de interpretações equivocadas de decisões do plenário bem como insiste em colocar sob suspeição a higidez do processo eleitoral brasileiro”, afirmou Fux na sessão.
“Diante dessas circunstâncias, o Supremo Tribunal Federal informa que está cancelada a reunião outrora anunciada entre os chefes de poder, entre eles o presidente da República”, completou.
“O pressuposto do diálogo entre os poderes é o respeito mútuo entre as instituições e seus integrantes”, completou Fux.
Os reflexos dessa fala de Fux, com certeza, provocará muito barulho.
Meio desajeitado na justificativa, Mourão compra o novo discurso da elite econômica, nem Lula, nem Bolsonaro. Ele apelou para a idade de Lula, dizendo que ele está velho e não tem pique para o cargo, mas não falou nada de Bolsonaro, apenas disse que, para 2022, ele não quer Lula e muito menos Bolsonaro, numa clara adesão ao novo projeto eleitoral que se anuncia em várias frentes publicitárias no Brasil.
Certamente, Mourão está convencido de que Bolsonaro não tem chance. Como tem sido frequentemente marretado por Bolsonaro que o descartou para vice em 2022, Mourão só pegou o caminho da roça feito pelo próprio Bolsonaro, para virar virar-lhe as costas como troco.
O fato é que Mourão já assumiu o requentado slogan, “nem Lula, nem Bolsonaro”, mesmo seguindo como vice-presidente, dando uma aula de fisiologismo e oportunismo picareta por quem sente que Bolsonaro está com os dias contados na presidência.
Presidente convocou a população da cidade de São Paulo a se manifestar na Avenida Paulista contra os ministros do STF.
Após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter acolhido notícia-crime enviada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que o presidente Jair Bolsonaro seja investigado no inquérito das fake news, o chefe do Executivo realizou ataques tanto ao ministro quanto ao presidente do TSE, Luís Roberto Barroso. Em entrevista à Rádio 93 FM – RJ nesta quinta-feira (5), Bolsonaro convocou a população da cidade de São Paulo a se manifestar na Avenida Paulista contra os ministros com o objetivo de “defender a Constituição”. “Não podemos continuar com ministros (Judiciário) arbitrários”, declarou.
O presidente classificou Moraes como sendo “a própria mentira dentro do STF”. Para o presidente, Moraes faz “ações intimidatórias” e “joga fora da Constituição”. Em ameaça ao ministro, Bolsonaro afirmou: “A hora dele vai chegar”.
Na quarta-feira, 4, em entrevista ao programa Pingo nos Is, da Rádio Jovem Pan, Bolsonaro subiu o tom e disse que seria obrigado a jogar fora das quatro linhas definidas pela Constituição caso chegue a ele algo fora dos limites definidos pela Carta Magna
O chefe do Executivo disse nesta quinta que Moraes e Barroso lhe tiram muito tempo de trabalho e reforçou o discurso de que ambos “jogam contra a Constituição”.
BRASÍLIA (Reuters) – Depois de mais do que dobrar em 2019, aparentemente inabalada pela retórica anti-China de Jair Bolsonaro em sua campanha eleitoral, a entrada de investimentos chineses no Brasil não resistiu ao baque da crise gerada pela pandemia da Covid-19 e, no ano passado, despencou 74%, atingindo o menor patamar em seis anos.
É o que mostra pesquisa inédita do Conselho Empresarial Brasil-China divulgada nesta quinta-feira.
O fluxo de investimentos chineses para o Brasil ficou em 1,9 bilhão de dólares em 2020, ante 7,3 bilhões de dólares no ano anterior. A retração no período foi maior do que a queda total dos investimentos diretos líquidos no país no ano, de cerca de 50%, segundo dados do Banco Central.
Apesar de apontar prejuízos à relação política entre Brasília e Pequim com o aprofundamento das tensões entre o então presidente norte-americano Donald Trump em 2020, dado o alinhamento do governo Bolsonaro a Trump, a pesquisa do CEBC descarta que tenha havido abalo às relações econômicas.
O relatório, que é divulgado anualmente mas sofreu atrasos em 2020 por causa da pandemia, atribui os fluxos menores no ano passado ao resultado da recessão global que afetou os investimentos externos no Brasil e no mundo de forma geral.
“Esse tombo pode ser interpretado mais como um esfriamento dos fluxos de investimentos globais no exterior, que caíram 35% em 2020, do que por atritos políticos bilaterais”, diz o documento. “A deterioração do ambiente político entre Brasil e China em 2020 não parece ter afetado as relações econômicas bilaterais.”
Tulio Cariello, autor do estudo e diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), afirma que, apesar das críticas de Bolsonaro à China durante a campanha à Presidência, seu governo não promoveu rompimentos práticos na relação e houve até avanços institucionais, com a reativação da Cosban, comissão que representa o principal mecanismo de diálogo bilateral.
O relatório também destaca a ação dos Estados, particularmente do Nordeste, na busca por investimentos chineses. Em 2019, sete governadores ou vice-governadores dos nove Estados da região fizeram visitas oficiais à China e o Maranhão promoveu uma missão com 54 empresários ao país asiático.
“Acho que os Estados do Brasil já se deram conta que não necessariamente eles precisam passar por Brasília para fazer esse tipo de iniciativa, de atrair investimentos estrangeiros. Acho que no caso do Nordeste é bem claro isso”, afirmou Cariello, ressaltando que a descentralização de esforços contribui para aumentar os investimentos.
Em 2019, o Nordeste foi, pela primeira vez, a região que mais recebeu investimentos chineses no país, respondendo por 34% dos projetos confirmados. Considerando o estoque dos aportes já feitos pela China, no entanto, o Sudeste é o principal receptor, com o Estado de São Paulo concentrando 31% do total de projetos.
36% dizem que podem votar no presidente; número fica abaixo de Lula (61%), Ciro (43%), Doria (45%) e Datena (41%)…
Pesquisa PoderData realizada nesta semana (2-4.ago.2021) mostra que o presidente Jair Bolsonaro registrou queda em seu potencial de voto pelo 2º mês seguido e hoje é o candidato mais rejeitado entre os principais nomes cogitados para a eleição presidencial de 2022.
Hoje, 61% dos brasileiros dizem que não votariam pela reeleição de Bolsonaro de jeito nenhum. No início de julho eram 56%; em junho, eram 50%. O presidente também registrou queda no número de eleitores mais convictos, que declaram ter certeza que votariam nele: de 32% em julho, caíram para 25%. O presidente tem um potencial de voto.
O presidente tem um potencial de voto de 36%, considerando-se também os que consideram votar nele, mas não têm certeza (11%). O ex-presidente Lula lidera nesse quesito, com 61%. Bolsonaro também fica atrás de João Doria (45%), Ciro Gomes (43%) e Datena (41%) no potencial de voto….
Esta pesquisa foi realizada no período de 2 a 4 de agosto de 2021 pelo PoderData, a divisão de estudos estatísticos do Poder360. Foram 2.500 entrevistas em 491 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. Saiba mais sobre a metodologia lendo este texto.
Para chegar a 2.500 entrevistas que preencham proporcionalmente (conforme aparecem na sociedade) os grupos por sexo, idade, renda, escolaridade e localização geográfica, o PoderData faz dezenas de milhares de telefonemas. Muitas vezes, mais de 100 mil ligações até que sejam encontrados os entrevistados que representem de forma fiel o conjunto da população.
EVOLUÇÃO MÊS A MÊS
A taxa de eleitores fiéis ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve-se estável em relação ao último levantamento. Em julho, Lula tinha um total de 35% de eleitores convictos. Desta vez, o percentual ficou em 36%. A variação de 1 ponto percentual está dentro da margem de erro. Bolsonaro apresentou queda de 7 pontos.
Bolsonaro é o candidato que acumula maior rejeição. Logo atrás do atual presidente da República estão Ciro e Datena, empatados com 51%.
João Doria apresentou queda de 4 p.p. na rejeição, de 52% para 48%. A rejeição de Lula variou dentro da margem de erro e fechou a pesquisa em 34%, bem abaixo dos oponentes.
Dados públicos disponibilizados no Portal da Transparência informam que 100 generais de exército (último posto da escala hierárquica do Exército Brasileiro) receberam a patente de marechal, extinta desde 1967 após uma reforma no regramento da força terrestre que pôs fim ao título, normalmente atribuído a oficiais de alto escalão considerados heróis nacionais por comandarem tropas em conflitos bélicos. A partir da promulgação da Lei Federal 6.880, de 1980, chamada de Estatuto dos Militares, a possibilidade de um general passar ao posto de marechal voltou, mas em condições restritíssimas: somente em tempos de guerra.
Entre os generais elevados a tal posto, que não existe mais, exceto em casos de campanha, estão Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete Institucional da Presidência da República (GSI) do governo Bolsonaro, os ex-comandantes do Exército Edson Leal Pujol e Eduardo Villas Bôas, além de Sérgio Etchegoyen, que ocupou também o GSI, mas na gestão de Michel Temer. Enzo Peri e Francisco Roberto de Albuquerque, ex-chefes máximos da maior organização militar brasileira durante os governos Lula e Dilma Rousseff, são outros que engrossam a lista de marechais. (Confira as listas das três Forças Armadas ao final da matéria)
Na Marinha e na Aeronáutica, os postos equivalentes ao de marechal são, respectivamente, o de almirante e de marechal do ar, igualmente extintos. Nessas outras duas organizações militares a nomeação para a posição inexistente também corre solta. Na listagem disponível no Portal da Transparência é possível perceber que vários almirantes de esquadra e tenentes-brigadeiros (postos compatíveis com o de general de exército no Exército) receberam a “promoção” que deixou de existir há 54 anos. Eles somam 115 nesses dois ramos militares.
Os ex-comandantes da Aeronáutica Luiz Carlos Bueno, Juniti Saito e Nivaldo Rossato, que chegaram ao topo da hierarquia da FAB como tenentes-brigadeiros, figuram no site que divulga os gastos do governo federal como marechais do ar, da mesma forma que os almirantes de esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, Julio Soares de Moura Neto e Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que chefiaram a Marinha no passado, e que hoje são classificados como almirantes.
Foi a partir de uma Lei Federal que entrou em vigor em 2019, de número 13.954, que dispõem sobre questões previdenciárias dos militares e que não revogou o ordenamento jurídico anterior, que aparentemente esses generais passaram a figurar como marechais. Não se sabe qual foi a interpretação dada pelo governo federal para proceder com tais promoções, até porque o Ministério da Defesa não esclarece as circunstâncias dessas mudanças na hierarquia, tampouco a data em que elas ocorreram.
A reportagem da Fórum entrou em contato três vezes com a assessoria da pasta chefiada pelo general Walter Braga Netto, desde a última sexta-feira (30/07), por e-mail e via plantão do Centro de Comunicação, por WhatsApp, mas diferentemente da área de imprensa de outros ministérios, que respondem prontamente, o Ministério da Defesa ignorou os questionamentos sobre o assunto.
Viúvas e filhas de “marechais imaginários”
Recebendo proventos de marechal há também 3.867 pensionistas de generais de exército (viúvas ou filhas), que automaticamente passaram a garantir os vencimentos deste posto. Entre as beneficiadas está uma personagem conhecida quando o assunto é a regalia de filhas solteiras de oficiais militares que têm direito a polpudas pensões: a neta do ex-presidente brasileiro do período da Ditadura Militar (1964-1985) Emílio Garrastazu Médici, que numa manobra judicial, momentos antes de sua morte, adotou legalmente Claúdia Candal Médici como filha, para assegurar a ela volumosos pagamentos mensais que atualmente são de R$ 32.213,10.
Das 226 mil pessoas que recebem esse tipo de benefício militar no Brasil atualmente, 137.916 são filhas solteiras de integrantes das Forças Armadas, ou seja, 60% do total. A média dos vencimentos é de R$ 5.897, mas há pagamentos de valores muito maiores.
É o caso de Gecy Brilhante da Fontoura Rangel, filha de um almirante da Marinha (cargo também extinto, equivalente ao de marechal, no Exército, e marechal do ar, na Aeronáutica) falecido em 1996, data em que tiveram início os pagamentos a ela.
Gecy recebe R$ 60,5 mil mensais, já com os descontos feitos no demonstrativo, mas esse valor varia conforme o mês. Em setembro de 2020, a filha do oficial general dos mares que misteriosamente virou almirante recebeu R$ 117.012,43 de pensão.
Regalias não param por aí
Uma nota técnica do Ministério da Economia de julho de 2020 mostrava que um reajuste de 73% numa bonificação chamada “adicional de habilitação” (que incorpora aumentos nos vencimentos dos militares que fazem cursos) acarretaria num prejuízo aos cofres públicos de R$ 8,14 bilhões até o final de 2024. Isso sem falar nos casos de militares como Augusto Heleno e Walter Braga Netto, que além de garantirem robustos soldos ainda recebem salários de ministros de Estado, com direito a penduricalhos que renderam só no mês de junho passado mais de R$ 100 mil de vencimentos para cada um.
Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), divulgado em 27 de junho, por meio do mesmo Portal da Transparência, mostrou que o governo federal desembolsou R$ 19,3 bilhões só com o pagamento de pensões a dependentes de militares em 2020. No entanto, o que causa mais estranheza, para além da vergonhosa mordomia que custa mais de R$ 4 bilhões por ano ao erário público só com o pagamento de oficiais generais vivos, é o Exército Brasileiro, a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira promoverem centenas de seus quadros a uma patente que foi extinta numa reforma estrutural há mais de cinco décadas. Ainda que, em tese, um general de exército (chamado de ‘quatro estrelas’) possa ser promovido a marechal apenas em caso de comandar tropas em campanha, ou seja, no campo de batalha, em guerra, nenhum dos beneficiados com o “título” tem algo do tipo em seu currículo.
Em resumo, os marechais de gabinete foram criados por uma caneta e usufruem do elevado grau militar, que em muitos casos foram passados às suas viúvas e filhas.
Oposição quer explicações
O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) foi informado pela reportagem da Fórum sobre as promoções inadvertidas a oficiais generais das três Forças Armadas a postos que não existiriam mais e disse que o caso, ao que tudo indica, à margem da lei, causa estranhamento, e que exigirá, junto a outras lideranças parlamentares, uma explicação do Ministério da Defesa.
“É muito estranho. Na verdade, é esdrúxulo. Vamos propor um requerimento de informação ao Ministério da Defesa. Acho válido que seja assinado por vários líderes da oposição.”
Graduação destinada a heróis nacionais, no Brasil e no Mundo
O último Marechal brasileiro na ativa foi Mascarenhas de Moraes, que após a reserva teve o título mantido pelo Congresso, ostentando-o até a morte, em 1968. Ele comandou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), o contingente aeroterrestre que ajudou a aplacar o nazifascismo durante a 2ª Guerra Mundial, libertando a Itália do jugo terrífico de Mussolini e Hitler. Foi elevado ao posto em 1.946, pelo Congresso Nacional.
Já Waldemar Levy Cardoso, que morreu aos 108 anos, em maio de 2009, foi o último marechal vivo brasileiro. Ele foi comandante do 1° Grupo de Artilharia Expedicionário, que travou batalhas sangrentas em Monte Castelo, no território italiano, também na 2ª Guerra Mundial.
A França, por exemplo, nomeou seu último marechal em 1984, e o agraciado recebeu o título 14 anos após sua morte. O general Marie-Pierre Koenig foi considerado um herói da 2ª Guerra Mundial, depois de vencer tropas alemães e italianas, que estavam em vantagem numérica de 10 para 1 em relação aos franceses na Batalha de Bir Hakeim, na Líbia, em 1942, quando comandou a 1ª Brigada Francesa Livre na Guerra do Deserto, um feito bem mais glorioso que os monótonos despachos de folhas carimbadas de nossos marechais de repartição.
O ditador fascista espanhol Francisco Franco Bahamonde, ocupante do último posto na hierarquia do exército republicano de seu país, também tinha sua tara por títulos militares. Mas no seu caso, a obsessão beirava o ridículo.
Insatisfeito com o posto de general, a ambição de Franco foi além do cargo de marechal. As leis gerais que foram implantadas após a vitória das tropas sublevadas comandadas por ele que derrubaram o sistema republicano democrático e constitucional, após o fim da Guerra Civil (1936-1939), deram-lhe o título de “Jefe de Estado, Caudillo de España y de la Cruzada, Generalísimo de los Ejércitos con la Gracia de Dios”.
O exagero embaraçoso, especialmente no que diz respeito à concordância do Todo-Poderoso com o título, levou até mesmo a uma rusga com o influente arcebispo de Sevilha, Pedro Segura y Sáenz, que gostava de afirmar em seus sermões, durante a ditadura Franquista, que “caudilhos era chefes de quadrilhas de foragidos” e que, segundo Santo Ignacio de Loyola, caudilho era sinônimo de diabo. A falta de noção do Generalíssimo espanhol chegou ao ponto de exigir que carregassem sobre ele, ao entrar numa igreja, um dossel, espécie de cobertura de tecido, decorada e luxuosa, preso por quatro hastes, que cobre um santo ou divindade durante uma procissão.
Lista de promovidos ao posto de marechal e equivalente: