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Nicolelis: Ou Brasil segue Inglaterra e decreta lockdown já ou economia irá colapsar e haverá pilhas de mortos

Professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos, Miguel Nicolelis é considerado um dos maiores cientistas do mundo. Um tweet do cientista, na última segunda (4), teve enorme repercussão. Ele advertiu:

“ou o país entra num lockdown nacional imediatamente, ou não daremos conta de enterrar os nossos mortos em 2021”. Numa entrevista à BBC Brasil, ele falou sobre o tweet e explicou: “ O Brasil precisa fazer algo muito parecido ao que aconteceu na Grã-Bretanha nos últimos dias. Isso, aliás, veio a partir do comitê científico britânico, que pressionou o primeiro-ministro e o governo para fazer um lockdown mesmo com o início da campanha de vacinação por lá. Era óbvio que não dava pra esperar pra vacina fazer seu efeito populacional. É preciso conter a escalada para o sistema de saúde não colapsar”

Na entrevista, Nicolelis apresentou um panorama da evolução da pandemia e dos impasses e desafios colocados para o Brasil. Leia os principais trechos:

A pressão não é mais só dos casos agudos de coronavírus. Nós temos agora todos os casos acumulados do ano passado, que não puderam ter atendimento por causa dos hospitais lotados. E temos também um número enorme de pacientes com sequelas da covid-19 que vão precisar de atendimento médico. Estamos falando de duas enormes demandas por serviços médicos, internações e unidades de terapia intensiva. E ainda há um terceiro grupo, que são de todas as doenças que estão represadas. Pacientes que estão sofrendo de doenças crônicas e agudas e precisam de cuidados médicos.

Nós vemos algumas particularidades muito específicas dessa segunda onda. Nós temos uma cepa que é mais transmissível, o que significa que vamos ter mais pessoas infectadas. Além disso, há um número de jovens e crianças afetados que está aumentando proporcionalmente. Até hospitais pediátricos em São Paulo estão com problemas de demandas de vagas para atender casos.

Um exemplo dramático disso é Manaus. A cidade colapsou muito mais rapidamente do que na primeira onda. E colapsou a um ponto que o prefeito veio dizer que o sistema de saúde não foi o único afetado. Ele teme um colapso do sistema funerário neste momento. Essa é uma preocupação que existe desde a primeira onda e ficou por debaixo do tapete, sem ninguém falar sobre isso. Mas foi algo que aconteceu em Nova York, no Texas e está acontecendo na Califórnia neste momento. Essa é uma grande preocupação, porque se você começa a perder a mão do sistema de manejo das vítimas, dos corpos, você começa a gerar problemas de saúde pública secundários gravíssimos.

A gente ainda não tem os dados completos da letalidade das novas cepas. A cepa da África do Sul é muito preocupante. Há mortes acontecendo na Austrália por causa da cepa britânica. Ela também já foi detectada no Japão. Isso significa que ela correu o mundo, como era de se esperar.

Com o espaço aéreo brasileiro aberto, nós estamos repetindo todos os erros da primeira onda. Com o agravante de que o país inteiro está tendo curvas de crescimento, algumas mais rápidas do que lá no início. Então essa é uma situação muito assustadora.

É evidente que sou sensível a todo o debate sobre a questão econômica. Mas essa dicotomia é falsa. Se o número de mortes começar a disparar, o sistema de saúde colapsa e nós não temos condições de manejar a pandemia da maneira correta. O que vai então acontecer com a economia? Ela também vai colapsar. As pessoas vão começar a morrer em números altíssimos por outras doenças e não vamos ter nem gente para fazer a economia girar. Não vamos ter pessoas para trabalhar, produzir e consumir bens.

*Com informações do 247

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Vídeo: Bolsonaro chama Bonner de “sem-vergonha, maior canalha”

Bolsonaro questiona diferença salarial entre o âncora e a colega Renata Vasconcellos e lança grave acusação de corrupção contra a Globo.

Ao sair do Palácio da Alvorada nesta quinta-feira (7), Jair Bolsonaro parou para conversar com apoiadores. O presidente fez ataque pessoal contra o apresentador e editor-chefe do ‘Jornal Nacional’, William Bonner. Alguns vídeos da ofensiva verbal circulam nas redes sociais.

“William Bonner, sem-vergonha”, disse Bolsonaro. Ele reagiu a uma matéria do ‘JN’ sobre a demora do governo em comprar seringas e agulhas para a vacinação contra a covid-19. “William Bonner, por que teu salário foi reduzido? Porque acabou a teta do governo. Vocês têm que criticar mesmo (o governo dele)”, disse.

“Quase três bilhões por ano (de publicidade governamental) para a imprensa e grande parte para vocês (do Grupo Globo). Acabou a grana”, complementou. “Outra coisa, que vergonha, você defende tanto salário igual de homem e mulher, né? Por que a Renata ganha metade do que você ganha? Por que você não fala?”, questionou o presidente.

E a artilharia pesada não parou por aí. “Por que, William Bonner, você não fala do 1 bilhão e 700 milhões de reais roubados, desvi… roubados por seu patrão Roberto Marinho, de acordo com o doleiro Dario Messer?”

Em agosto de 2020, Bonner leu nota no ‘Jornal Nacional’ na qual a família Marinho negou denúncia publicada no site da revista ‘Veja’ sobre supostas entregas de dólares e operações de câmbio não declaradas que Messer teria feito a Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho, segundo o doleiro disse em depoimento de sua delação premiada.

Em outro momento da conversa de hoje com simpatizantes, Bolsonaro retomou o ataque ao principal âncora da Globo. “Bonner, você é o maior canalha que existe. Canalhas. O tempo todo mentindo (sobre seu governo).” Resta conferir se William Bonner e a Globo vão responder a Bolsonaro.

Pouco depois, o presidente voltou a defender o voto impresso. Fez uma previsão sobre o processo eleitoral de 2022 no Brasil— quando ele poderá tentar um segundo mandato — caso a votação em papel não for retomada. “Nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”, disse, em referência aos protestos violentos de eleitores de Donald Trump, revoltados com hipotéticas fraudes nas urnas.

https://twitter.com/AragaoMosart/status/1347167551814594560?s=20

 

*Com informações do Terra

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É uma imoralidade que pessoas com dinheiro tenham acesso à vacina antes

Gonzalo Vecina é contra que o sistema privado crie uma fila de imunização paralela a do SUS.

O anúncio de que o setor privado negocia a compra de uma vacina indiana contra a Covid-19 tem dividido os especialistas em saúde entre os que veem a medida como benéfica ao SUS e os que a consideram uma “imoralidade” dentro do contexto de uma pandemia que já matou quase 200 mil pessoas e diante da escassez de doses.

O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, 67, professor de saúde pública da USP, afirma que, numa sociedade tão desigual quanto à brasileira, é uma “imoralidade” as pessoas com dinheiro possam ter acesso à vacina contra a Covid-19 nas clínicas privadas, antes dos usuários do SUS.

Para ele, uma parceria ética seria que o setor privado atuasse dentro das mesmas regras organizadas por uma política pública, priorizando os mesmos grupos mais vulneráveis.

“Mas não é essa a proposta que está aí. A proposta é pegar gente que, do meu ponto de vista, estaria na posição número 30 [no grupo de prioridades para a vacina] e colocar na posição número 1. Isso não é parceria. Isso é inominável”.

Qual o risco de as clínicas privadas oferecerem a vacina contra a Covid-19 para um público que pode pagar por elas? O maior risco é o moral mesmo. É uma imoralidade as pessoas que têm dinheiro terem acesso à vacina antes das pessoas que não têm dinheiro numa sociedade tão desigual como a nossa. As pessoas podem dizer: “ah, mas isso é galinha morta; no Brasil, é assim mesmo”.

Só que é uma galinha morta no meio de uma pandemia onde os nervos estão muito mais expostos, onde a gente tem que tomar muito mais cuidado para que essa pandemia não produza mais desigualdade ainda.

Nós sabemos que temos filas que andam diferente para tudo na saúde, exceto o transplante, para o qual há uma única fila rigorosamente seguida para ricos e pobres. Agora, a fila do tratamento do câncer, a fila da cirurgia cardíaca, a fila da cirurgia ortopédica, nenhuma é igual para quem tem dinheiro e para quem não tem dinheiro. Quem tem dinheiro é tratado antes, e nós ignoramos isso.

O que seria diferente então neste momento? Ter uma fila independente, que anda com velocidade diferente, no meio de uma pandemia, é imoralidade.

Do ponto de vista comercial, numa economia liberal, tudo bem. Mas, no meio de uma pandemia, é eticamente insustentável. A sociedade vai ter capacidade de fazer a sua crítica a essa fila não ética. A gente tem que buscar formas de diminuir o nível de desigualdade na nossa sociedade.

A própria pandemia já mostrou desigualdades de acesso ao tratamento… desigualdade no acesso ao tratamento e desigualdade na mortalidade. Nós sabemos que quem morre mais é preto, analfabeto e pobre. Esse é o perfil da mortalidade. Mas isso não afeta uma sociedade que está anestesiada para invisibilidade dessas diferenças.

Porém, é diferente quando você diz: aqui é a fila da vacina para quem tem R$ 2.000 e aqui é a fila da vacina que não sabemos como é nem quando começa. Isso é grave.

Por que a sociedade não está mobilizada contra essas desigualdades na pandemia? Por um lado, há um certo anestesiamento da sociedade. Por outro, tem um clima de salve-se quem puder. Não me interessa quem se salvará desde que eu esteja na primeira fila. É uma sociedade pouco civilizada.

Eu não consigo enxergar uma coisa dessas acontecendo na Europa. No entanto, aqui no Brasil, isso é quase uma normalidade. Tenho certeza de que algumas pessoas vão dizer que estou falando bobagem: ‘Como o Gonzalo, uma pessoa de bom senso está contra isso, que parece tão positivo’. Ou seja, dar a vacina para quem eu conseguir dar e não para quem deve receber. Mas essa é a regra de uma sociedade não civilizada, que a gente tem que evitar. É a regra da imoralidade, é não ética.

Há um vácuo por parte do governo federal no enfrentamento da pandemia. Essa parceria com o setor privado não poderia ser uma saída no momento em que nem vacina há? Uma coisa é uma parceria. O que é uma parceria? Eu pego parte do que eu tenho que fazer e passo para você. E você vai fazer a parte do que eu tenho que fazer como eu faria.

Mas não é essa a proposta que está aí. A proposta é pegar gente que, do meu ponto de vista, estaria na posição número 30 [no grupo de prioridade para ser vacinado] e colocar na posição número 1. Isso não é parceria. Isso é inominável.

Qual seria uma saída para uma parceria ética? Uma parceria ética seria você aplicar as vacinas que vou dar para você aplicar, com as mesmas regras que eu vou usar. Você só vai aumentar a velocidade.

Por exemplo, posso pegar todas as farmácias do Brasil e distribuir vacina para que elas apliquem em quem estiver na ordem para tomar aquela vacina, naquele momento. Isso pode ser feito.

A cooperação com a iniciativa privada é fantástica. Existem formas de fazer isso por meio da solidariedade, organizadas por uma política pública para que não sejam criadas mais desigualdades.

Quem define a vacinação no país é uma política pública. E ela que diz que a ordem de vacinação deve ser essa: profissionais de saúde, os mais idosos, os portadores de comorbidades.

Essa proposta pode ser levada para o setor privado, mas é óbvio que o setor privado vai ter uma série de condições de se negar a cumprir isso, por exemplo, que naquele dia não apareceu nenhum velhinho e que, por isso, vacinou o jovem.

Como sr. avalia esse momento em que as políticas públicas de saúde estão tão fragilizadas? O que pode ser feito? Estamos vivendo um desastre total. Aí o Ministério Público tem que se manifestar. A falta de política pública é um crime público, um crime contra o ordenamento jurídico. [Saúde] é dever do Estado e direito do cidadão executado através de políticas públicas.

Está lá no artigo 196 da Constituição, depois da vírgula do direito e do dever. Precisa existir essa manifestação do Ministério Público. É preciso exigir que o Estado cumpra seu papel ou que se troque o Estado.

Do ponto de vista epidemiológico, há alguma justificativa que possa amparar a participação do setor privado na oferta da vacina? Do ponto de vista epidemiológico, é insustentável [a vacinação na rede privada neste momento da pandemia].

É fundamental que a gente consiga alcançar a imunização de forma coletiva. Do jeito que está sendo proposto, há o coletivo, mas o coletivo não faz parte da ordem de prioridades.

 

*Com informações da Folha

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VÍDEO: Bolsonaro é recebido com marcha fúnebre e gritos de ‘genocida’ após reunião com Pazuello

Após reunião com Eduardo Pazuello, o presidente Jair Bolsonaro foi recebido com marcha fúnebre e gritos de ‘genocida’ na saída do ministério da Saúde nesta terça (05).

A marcha fúnebre foi tocada pelo trompetista Fabiano Leitão.

Bolsonaro não falou com a imprensa e saiu do local direto para o Palácio Alvorada.

Veja abaixo:

*Com informações do DCM

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Depois de proclamar sua incapacidade e a quebra do Brasil, pedidos de renúncia de Bolsonaro explodem nas redes

Bastou essa figura tosca chamada Bolsonaro admitir que, em dois anos de governo, não fez absolutamente nada pelo país e que a economia está quebrada, que as redes sociais reagiram pedindo a sua renúncia, numa explosão de indignação com todo o tipo de xingamento, com um único e claro objetivo, que ele renuncie.

Essa súbita manifestação nas redes, quase como uma explosão de cólera coletiva, reflete o sentimento, antes ruidoso, agora, violento da população.

O crescimento acelerado de sua rejeição, que já vinha sendo determinado pelos avanços de críticas ao seu governo, resulta agora numa expansão contínua de uma massa muito densa de brasileiros que está literalmente de saco cheio com a sua incapacidade, sua imoralidade e, sobretudo, seu vocabulário na hora de se referir à pandemia no Brasil, tratando as quase 200 mil vítimas fatais da Covid, assim como seus familiares que estão sofrendo, como invisíveis, tanto que ele volta a fazer barulho contra a imprensa dizendo que as informações sobre o vírus foram super dimensionadas e que isso acabou por impedi-lo de governar e ter uma política econômica eficaz.

O fato é que a palavra “renúncia” bombou no twitter, onde muitos dizem que esta é a melhor solução para Bolsonaro e para o país. Outros pedem a sua renúncia e de todo o clã. Outros ainda dizem para ele tirar a faixa da presidência que nunca mereceu usar por ser um moleque.

Enfim, como disse um dos internautas, quem assume publicamente que não consegue fazer nada pelo país estando na cadeira da presidência, só tem um caminho, a renúncia e a lata do lixo.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Lenio Streck: Pela primeira vez, Supremo Tribunal Federal reconhece parcialidade de Moro

Abstract: provar parcialidade no Brasil virou “ordália negativa” e uma prova diabólica – decisão do STF promete alterar esse quadro.

1. Contexto
Nos autos do agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus 144.615, a 2ª Turma do STF declarou a nulidade da sentença condenatória proferida pelo juiz Sergio Moro contra o doleiro Paulo Roberto Krug (processo n. 2002.70.00.00078965-2), por crimes financeiros no caso Banestado. Após voto que rejeitava o recurso do ministro relator Edson Fachin, o ministro Gilmar Mendes abriu a divergência, que foi seguida pelo ministro Ricardo Lewandowski, sob o argumento de violação da imparcialidade do julgador. A ministra Cármen Lúcia acompanhou o relator. No empate de 2×2, prevaleceu, por óbvio, a decisão mais favorável ao réu.

2. Os votos
O relator, ministro Edson Fachin, sustentou a tese da taxatividade do artigo 252 do CPP. Assim, na medida em que a conduta de Moro não se encaixava nos incisos do dispositivo, não havia parcialidade (ou suspeição, o que dá no mesmo). Para aprofundar, ler aqui.

Já o Min. Gilmar Mendes disse: “depois de o tempo demonstrar cada vez mais traços da realidade que antes não se evidenciava, os excessos eram marcantes na atuação do ex-juiz Sergio Moro exatamente em razão de suas condutas tendencialmente parciais.”

Gilmar, analisando detalhadamente a prova, descobre que não houve uma mera homologação de acordo à luz da legalidade e da voluntariedade, tampouco uma “mera” produção de prova de ofício pelo julgador, como disse o Ministro relator. Para ele, houve manifesta ilegalidade por violação à imparcialidade em razão dos seguintes pontos:

  • A leitura das atas de depoimentos mostra evidente atuação acusatória do julgador, pois o magistrado agiu de modo proeminente na realização de perguntas ao interrogado, fugindo completamente ao controle de legalidade e voluntariedade. Houve “atuação direta do julgador em reforço à acusação”.
  • Ao final da instrução, mesmo que o membro do MP já entendesse como suficiente o lastro probatório produzido, o julgador determinou a juntada de quase 800 folhas em quatro volumes de documentos diretamente relacionados com os fatos criminosos imputados aos réus, utilizando-se expressamente deles para fundamentar a condenação.

O ministro Gilmar dissertou sobre a imparcialidade enquanto base fundamental da jurisdição, o sistema acusatório e a separação de funções de acusar e julgar.

No voto, Gilmar cita vários trechos em que fica clara a parcialidade de Moro (o inteiro teor dos votos está aqui).

Para o ministro Gilmar, o juiz da causa (Moro) atuou como “parceiro do órgão de acusação na produção de provas que seriam posteriormente utilizadas no processo penal que tinha como réu o paciente”. O juiz efetivamente guiou e reforçou a tese acusatória com a direção do interrogatório.

3. A nulidade da sentença ou do processo?
Examinando o acórdão, talvez tenha faltado um ponto. Além de ter declarado a nulidade da sentença, talvez o mais adequado seja que fosse declarada a nulidade do processo. Se os elementos que embasaram a investigação e conduziram ao processo criminal propriamente dito estavam “contaminados” com a parcialidade do Moro, o mais correto seria anular tudo.

De todo modo, é um enorme avanço. Mesmo que tenha havido empate (2×2), esse julgamento se tornou o mais importante de 2020. O STF começa a entender, corretamente, que é inadequado hermeneuticamente dizer que o artigo 252 do CPP possui um rol taxativo, uma vez que nele não consta o requisito da imparcialidade. Fosse correta a tese do relator, provar a parcialidade de um juiz seria (ou seja) exigir uma prova diabólica. Ou uma autêntica “ordália invertida”: atira-se Moro na água com dez boias e cinco coletes salva-vidas; se ele afundar, está provada a sua parcialidade.

Esse é o ponto. Toda a dogmática diz que que o juiz tem de ser imparcial. Se ele não age desse modo, ele é o quê? Parece evidente que o Brasil tem de seguir o que diz o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que adota a teoria da aparência: ele exige não só a imparcialidade; ele exige a aparência de justiça. A tese é: “Justice must not only be done; it must also be seen to be done”.

Ou seja, a Constituição do Brasil e o Tribunal Europeu dos DH abominam o modelo “juiz Larsen” (Caso Hauschildt vs. Áustria). Registro: esse juiz (Larsen) pré-julgava e aplicava sua opinião independentemente do caso concreto. Atuava como parceiro da acusação. Nesse sentido, sugiro a leitura do Livro das Suspeições.

4. Minha concordância e minha discordância com o voto do min. Edson Fachin
Por último, quero dizer que concordo com o que diz o ministro Edson Fachin no seu voto, neste trecho:

“É um erro supor que essa busca por um país com justiça mais eficiente é ilusória. A ineficiência da Justiça dá mais incentivos à corrupção e, consequentemente, faz aumentar a pobreza. Penso que é exatamente como um esforço de aprimoramento da jurisdição, um esforço por maior eficiência, que deva ser visto o trabalho de diversas instituições no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro. Tais esforços são, antes de tudo, frutos de uma histórica demanda por mais eficiência na justiça, em primeiro lugar, mas também por maior qualidade na prestação de serviços públicos.” (página 21 do inteiro teor)

Só não entendo as razões pelas quais isso que acima está dito justifica, de algum modo, que um juiz aja parcialmente. Simples assim. Essa é a minha discordância! A citação do Ministro serve, sim, como fundamento para que exijamos, sempre, um juiz imparcial. E um Ministério Público isento. Sem dúvida que esses ingredientes fazem bem para a democracia.

E a propósito: para combater a ineficiência, reclamada pelo Min. Fachin no voto, vale atropelar garantias e tornar lícita a parcialidade de um magistrado? Eis a pergunta que deve ser respondida.

No mais, está mais do que na hora de sufragarmos a tese de que também a parcialidade do juiz é causa de nulidade semelhantemente ao que consta no art. 252 do CPP. Como fez o STF agora. Afinal, se toda a dogmática processual-constitucional exige um juiz imparcial (não conheço nenhum autor que diga o contrário), por qual razão se deve aceitar a parcialidade sem sanção processual? Parcialidade demanda sanção de nulidade processual. E sem que se necessite apelar a uma ordália negativa. Que é sempre diabólica.

*Do Conjur

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Bolsonaro não chegou aonde chegou por mérito, mas por culpa exclusiva da mídia e do judiciário

Por mais festas que os bolsonaristas façam aqui ou ali para seu mito, em dois anos, o cotidiano do governo Bolsonaro para a totalidade da população foi de total e absoluta incompetência, até porque nunca teve qualquer plano de governo.

Na promoção que Bolsonaro cotidianamente faz de si não está incluído nenhum feito de seu governo, porque não há qualquer feito, apenas suas manobras toscas que nada têm a ver com sua capacidade de governar, ao contrário, ele as usa para tentar disfarçar a sua inabilidade e de todos os que o cercam.

O cálculo político de Bolsonaro se limita a reduzir os danos de sua desastrosa gestão, utilizando as mais baixas formas de promoção pessoal para tentar,  momentaneamente, produzir fumaça que cubra sua inépcia.

Dito isso, a análise da situação em que o Brasil se encontra, tem que começar pelo começo, por quem deu, porque deu e como deu a vitória a esse burro empacado.

Mas como chegamos a isso?

Não foi nada parecido com sofisticação, foi apenas o que se transformou em coisa rotineira nesse país, o uso da mídia pela oligarquia e, consequentemente, o uso da justiça pela mídia.

O problema é que a situação se agravou a ponto de propiciar a chegada de Bolsonaro ao poder.

Então, vem a segunda pergunta: como reorganizar o país sem mexer nessas estruturas podres e impedir que outros Cunhas, Jeffersons e Bolsonaros tenham protagonismo em farsas que foram determinantes para jogar o Brasil no caos?

Ainda sem resposta.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Vídeo: Bolsonaro precisa explicar sua aparente tentativa de chantagem e intimidação contra o Ministério Público

Nenhum presidente brasileiro, até hoje, fez algo parecido.

No dia 31 de dezembro, em sua última live de 2020, o presidente Jair Bolsonaro reclamou da atenção que a mídia dá ao caso Queiroz. Até aí, tudo normal. É o tipo de coisa que o presidente faz em vez de trabalhar para comprar vacina.

Mas Bolsonaro resolveu dar um passo a mais, e acrescentou, no minuto 34 do vídeo:
“Agora, o MP do Rio, presta bem atenção aqui: imagine se um dos filhos de autoridade do MP do Rio fosse acusado de tráfico internacional de drogas. O que aconteceria, MP do Rio de Janeiro? Vocês aprofundariam a investigação ou mandariam o filho dessa autoridade pra fora do Brasil e procuraria uma maneira de arquivar esse inquérito? Um caso hipotético, falando de um caso hipotético. (…) Caso um filho de uma autoridade do Ministério Público do Rio de Janeiro entrasse no inquérito da Polícia Civil do Rio e ali um delator tivesse falado que ele participava de tráfico internacional de drogas. Fica com a palavra as autoridades do Ministério Público do Rio de Janeiro”.

Parece bem grave. Parece que o presidente da República tentou chantagear e intimidar o Ministério Público do Rio de Janeiro. O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga o filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro.

Se algum bolsonarista ou alguém da turma do “não é tão ruim assim” tiver outra hipótese para explicar o que o presidente da República disse em sua live de 31 de dezembro, por favor, enviem-na para a Folha. Todos queremos ouvi-la. Mesmo eu, que penso as piores coisas de Jair Bolsonaro, tive dificuldade de acreditar no que estava ouvindo. Novamente: se alguém do governo tiver uma outra explicação, será um prazer discuti-la. Ministro da Justiça? Procurador-geral da República? Deputada Janaina Paschoal? Wassef?

Quanto à acusação feita pelo presidente, de duas, uma. Se ela for verdadeira, Bolsonaro vazou dados sigilosos de uma investigação da Polícia Civil que obteve ilegalmente. Se ela for falsa, Bolsonaro caluniou tanto o Ministério Público quanto a Polícia Civil.

A propósito, se Bolsonaro tiver aparelhado a polícia a ponto de vazar a acusação, pode perfeitamente tê-la aparelhado a ponto de forjá-la.

E, presidente, se usar “hipoteticamente” nesses contextos livrasse alguém das consequências jurídicas do que diz, o senhor mal imagina o que seriam minhas colunas sobre seu governo hipotético.

Talvez Bolsonaro tenha dito o que disse justamente para provocar um escândalo e difamar o Ministério Público no meio da confusão resultante. Seria uma conduta típica da máquina de ódio bolsonarista. Se for o caso, talvez esta coluna esteja fazendo o jogo de Bolsonaro ao divulgar suas acusações. É um risco.

Mas se o que o presidente da República fez no dia 31 de dezembro for o que parece ser, trata-se de coisa grave demais para não ser denunciada. Seria crime muito mais pesado do que tráfico de drogas ou, aliás, do que “rachadinha”. Nenhum presidente brasileiro, até hoje, fez algo parecido.

O Ministério Público do Rio continuará com as investigações, sem se intimidar. O episódio não deve influenciar a escolha do novo procurador-geral de Justiça. Mas enquanto o presidente da República for capaz de fazer o que parece ter feito no dia 31 de dezembro de 2020 sem sofrer consequências, ainda estaremos longe da normalidade institucional.

https://youtu.be/Hosh56rj49Q

*Uol/Celso Rocha de Barros – Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

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Por total incompetência, Bolsonaro joga a responsabilidade da vacinação no colo de governadores e prefeitos

Esse é o plano.

Está na cara que, por total incompetência de seu governo, Bolsonaro vai jogar a responsabilidade da vacinação nas costas de prefeitos e governadores e, em seguida, fingir-se de morto.

Como Bolsonaro lidou com a pandemia?

Jogou e continuará jogando toda a responsabilidade do combate à pandemia nas costas do Congresso, de governadores e prefeitos e fazendo ataques a eles para tirar do foco a sua incapacidade e a dos militares de seu governo de lidarem com essa grave crise sanitária.

É isso que ele já está fazendo com a vacinação.

Até o mais boboca dos bobocas já entendeu isso.

Essa é a grande estratégia de guerra de seus generais, a começar pelo Pazuello.

Dória, nesse ponto, deu uma grande força a Bolsonaro. Assumiu o protagonismo da vacinação e, com isso, acabou pressionando prefeitos e outros governadores a fazerem o mesmo, pois, do contrário, seriam imediatamente cobrados pela população dos seus estados e municípios.

Assim, Bolsonaro seguirá como no combate à pandemia, livre de qualquer compromisso com uma logística de vacinação e vai repetir o mantra de que não deixará faltar recursos federais para a vacinação, como não faltaram para o combate à Covid.

Esse é o plano que já está sendo colocado em prática por quem não tem a mínima ideia de como se governa uma birosca, que fará um país.

*Da redação

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