A defesa de Lula acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) contra medidas proferidas pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça(STJ) Felix Fischer no caso do sítio da Atibaia. Os advogados do petista alegam que o magistrado descumpriu a decisão de Edson Fachin, que anulou as condenações de Lula na Lava-Jato de Curitiba.
A reclamação, enviada a Fachin, aponta que, mesmo após seu despacho sobre a incompetência da Justiça de Curitiba para analisar casos de Lula, Fischer continuou dando seguimento ao processo do sítio no STJ. Após essa data, o magistrado abriu vista para a Procuradoria-Geral República (PGR) se manifestar sobre a ação. Os advogados alegam que a PGR também ignorou a decisão ao lançar ontem um parecer no processo.
Os advogados Cristiano Zanin e Valeska Martins solicitaram que Supremo casse a decisão de Fischer. Também pedem que o magistrado e a PGR sejam notificados para prestar esclarecimentos sobre terem dado andamento ao caso, afrontando a decisão do STF.
A falta de cilindros de oxigênio para pacientes que fazem o tratamento contra a Covid-19 é apontada pelo Ministério da Saúde como o “maior gargalo” neste momento da pandemia , principalmente para atender unidades de saúde no interior do país e também em pequenos hospitais em capitais.
O secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Luiz Otávio Duarte, disse em audiência pública na Câmara dos Deputados que foi feito um alerta aos secretários estaduais de Saúde que cobrassem das empresas contratadas um plano de contingência. Segundo ele, o ministério não tem informações detalhadas dos contratos para fornecimento de oxigênio e toda hora há uma “surpresa’.
— Há uma grande dificuldade de mapear o Brasil como um todo (..) Eu acho muito importante neste momento de pandemia uma integração do setor público e do setor privado, nós temos que andar juntos — afirmou o secretário.
O assessor especial da secretaria-executiva do Ministério da Saúde, Ridauto Fernandes, informou que o governo está comprando “como alternativa” 5 mil concentradores de oxigênio, um parelho de uso doméstico para ajudar a atender a demanda. Ele justificou que a instalação de miniusinas de oxigênio em unidades hospitalares leva de 30 a 40 dias, a um custo na faixa de R$ 500 mil a R$ 1 milhão, além também que necessidade de manutenção constante.
— Agora estamos em tempo de guerra. Eu gostaria que todos tivessem instalado ( miniusinas), mas infelizmente não há tempo hábil. Teríamos que ter começado isso há anos e comercialmente não seria inviável — afirmou.
Ao ser cobrado das medidas que a pasta está tomando para regularizar o fornecimento do oxigênio, Fernandes disse que a gestão pode ser melhorada, mas que os esforços estão sendo feitos “dia e noite” e que tudo que foi possível está sendo requisitado.
— Quantas miniusinas têm hoje no mercado disponíveis ? Nenhuma. Tudo que tinha nós demos um jeito de requisitar, colocar no avião e apoiar instalação. Quantos cilindros estão disponíveis? Nenhum. Tudo que tinha nós estamos requisitando — afirmou.
Outro problema apontado é a falta e carretas para fazer o transporte do oxigênio para os estados. Fernandes informou que a empresa White Martins, uma das maiores fornecedoras do país, conseguiu comprar 13 carretas usadas e que isso “será um alívio”.
Na audiência, o representante do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), o secretário de Saúde de Tocantins, Edgar Tolin, afirmou que no estado o consumo aumentou em seis vezes. O médico, emocionado, contou que nesta madrugada foi necessário fazer a transferência emergencial de pacientes de Palmas, capital de Tocantins, para que não morressem sufocados com a falta de oxigênio.
— Às 3h eu consegui transferir 12 pacientes, das duas UPAs que eles têm, senão hoje aqui no Tocantins nós já estaríamos com 10 ou 12 óbitos por sufocamento, a palavra é essa .A falta de oxigênio é sufocamento — disse Tolin, questionando também sobre a possibilidade de utilizar outros vasilhames para armazenar o oxigênio.
— Se tiver de transformar cilindros de gás em cilindro de oxigênio que se faça isso — disse o deputado Pedro Westhalen (PP-RS) defendendo medidas urgentes para a crise.
O representante do Ministério da Saúde informou que já existe a opção de usar outro tipos de envaze, como o cilindro de oxigênio industrial desde que seja feita antes uma “purificação” para que possa ser utilizado na área de saúde.
Após processo disciplinar começar a investigar aliado de Aras, ele retirou caso da Corregedoria do MPF e enviou ao CNMP, onde possui maioria.
A corregedora-geral do Ministério Público Federal (MPF), Elizeta de Paiva Ramos, escreveu em um ofício interno que uma manobra adotada pelo procurador-geral da República Augusto Aras poderia ser usada “para o atendimento de expectativas pessoais ou políticas” com o objetivo de blindar aliados ou perseguir adversários. É a primeira vez que a própria corregedora do MPF confronta o procurador-geral, apesar de ter sido indicada ao cargo com o apoio dele. A manifestação de Elizeta envolve uma decisão da Corregedoria de investigar um assessor do gabinete do procurador-geral, depois de não encontrar provas em uma acusação feita por Aras contra três procuradores que pediram demissão de sua gestão.
Aras, então, manobrou para retirar o processo da Corregedoria do MPF e enviou o caso ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), onde possui maioria. Na última terça-feira, o plenário do CNMP referendou o pedido de Aras e autorizou a transferência do processo. Em um ofício enviado ao CNMP, a Corregedora-Geral do MPF protestou sobre a manobra e alertou para o risco de uso político da investigação.
“O que não se mostraria razoável seria o traslado investigativo deste para esse órgão, apenas para discordar-se de suas conclusões, ou pior, para o atendimento de expectativas pessoais ou políticas determináveis simplesmente pelo cargo da pessoa investigada, seja para blindá-la, ou pior, para persegui-la”, escreveu Elizeta em um trecho do ofício 209/2021 da Corregedoria.
Procurada pelo GLOBO para comentar, Elizeta afirmou ter sido surpreendida pela ação de Aras.
“O PGR pediu e o Corregedor-Geral (do CNMP) atendeu seu pedido. A questão é complicada e não houve a concordância da Corregedoria do MPF. Essa avocação me deixou verdadeiramente passada! E mais não digo”, afirmou Elizeta, em mensagem enviada à reportagem.
O caso envolve um inquérito administrativo disciplinar aberto a pedido de Aras contra três procuradores que atuaram no grupo de trabalho da Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR) e pediram demissão por discordâncias com sua gestão: Luana Vargas, Hebert Mesquita e Victor Riccely. Após a saída deles, a equipe de Aras os acusou de vazar informações à imprensa sobre um depoimento da delação premiada de Marcelo Odebrecht que abordava sua relação com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli. Após essa representação, o inquérito administrativo foi aberto pela Corregedoria.
Após meses de apuração, a comissão do inquérito concluiu que não havia comprovação de que os três procuradores teriam sido responsáveis pelos vazamentos, já que outros membros também tiveram acesso às informações. Após tomada de depoimentos, a comissão do inquérito levantou suspeitas de que o responsável pelos vazamentos poderia ter sido um dos mais próximos auxiliares de Aras, o procurador João Paulo Lordelo, porque ele também tinha acesso ao depoimento de Marcelo Odebrecht. Por isso, a corregedora Elizeta de Paiva Ramos determinou a realização de diligências complementares para apurar se havia indícios contra Lordelo. Entretanto, não chegou a haver comprovação do envolvimento de Lordelo com os fatos investigados.
A comissão do inquérito administrativo pediu informações sobre processos do gabinete do PGR e solicitou o depoimento do chefe de gabinete de Aras, o procurador regional Alexandre Espinosa, também de sua extrema confiança. As ações começaram a provocar incômodo na cúpula da PGR. Como o inquérito administrativo começava a se aproximar dos seus aliados, Aras acionou o CNMP, órgão no qual possui maioria, e pediu que o processo fosse retirado da Corregedoria da PGR e enviado para o outro conselho –ação cujo nome técnico é “avocação”.
Procedimento é ‘excepcional’
Por ser composto de representantes de órgãos externos, como o Senado e o Judiciário, o CNMP tem posição hierárquica superior à Corregedoria do MPF, por isso pode determinar a avocação de um processo. Esse procedimento, entretanto, é feito apenas em raras condições nas quais se verifica que a Corregedoria de um dos órgãos do Ministério Público não tem independência suficiente para realizar as apurações.
O corregedor nacional do CNMP, Rinaldo Reis, aliado de Aras, levou o assunto a julgamento na sessão da última terça-feira e obteve a concordância dos demais conselheiros para avocar o processo. Ele forneceu aos demais conselheiros detalhes sobre a investigação e afirmou que o procedimento de avocação era “excepcional”.
Um dos motivos apresentados por Rinaldo foi a composição do Conselho Superior do MPF, onde Aras perdeu a maioria. Seis integrantes do conselho já assinaram ofícios que cobravam providências de Aras para investigar a atuação de Bolsonaro na pandemia e criticavam omissões do procurador-geral da República. Como o processo administrativo da Corregedoria do MPF teria que ser levado para julgamento do Conselho Superior, Rinaldo apontou que poderia haver retaliação a Lordelo apenas pelo fato de ele ser próximo a Aras.
— Poder-se-ia chegar à situação em que a correta apuração no vazamento restaria eclipsada pela discussão da vinculação de irregularidades a um membro auxiliar do excelentíssimo procurador-geral da República, no caso o procurador da República João Paulo Lordelo, como forma de descrédito ou desgaste institucional do próprio gabinete do procurador-geral da República — afirmou Rinaldo durante a sessão, na qual justificou retirar o processo da corregedoria.
Dentre as capitais brasileiras, Vitória (ES) foi a que recebeu a maior quantidade de cloroquina do governo federal, proporcionalmente à população. Foram 54 mil comprimidos de difosfato de cloroquina, quantidade que seria suficiente para medicar 15% dos habitantes da cidade ao menos uma vez.
O dado considera apenas as entregas feitas pelo Ministério da Saúde às capitais, sem levar em conta repasses e compras que possam ter sido feitos pelos governos estaduais e municipais. Em julho do ano passado, a prefeitura de Vitória – como tantas outras, estimuladas pelo governo federal – adotou o uso de cloroquina e ivermectina no tratamento à Covid. Os remédios não têm eficácia comprovada contra a doença.
Até o dia 18 de março, Vitória acumulava uma taxa de 200 mortes por Covid a cada 100 mil habitantes – número 47% maior que a taxa brasileira, que na mesma data havia chegado a 136 mortes por 100 mil habitantes.
Fonte: Dados abertos do governo federal; IBGE; Prefeitura de Vitória; Consórcio de veículos de imprensa.
Empresário vacinado às escondidas foi vice de Aécio e sócio de Valério.
O empresário Clésio Andrade, de 68 anos, foi um dos vacinados contra a Covid-19 às escondidas em Minas Gerais, segundo reportagem da revista Piauí dessa quarta-feira (24/3). Clésio foi vice-governador de Minas Gerais na gestão de Aécio Neves, entre 2003 e 2006, senador entre 2011 e 2014 e sócio do ex-publicitário Marcos Valério, conhecido por sua participação no esquema do mensalão.
Mesmo com os cargos políticos, Clésio manteve-se na presidência da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Ele foi presidente da organização por 26 anos, entre 1993 e 2019, acumulando também a presidência dos conselhos nacionais do Serviço Social do Transporte (Sest) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat).
Alegando problemas de saúde, o pedido de renúncia foi acompanhado de laudo médico com diagnóstico de necrose no fêmur das duas pernas. Com isso, as acusações contra ele foram remetidas para a Justiça de Minas Gerais
Cinco anos depois, em 2019, a 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), anulou as denúncias contra o ex-senador, que havia sido condenado em primeira instância, encerrando o caso.
No início da década de 1990, Clésio comprou participação em duas agências de publicidade de Belo Horizonte, SMP&B e DNA Propaganda, e colocou o publicitário Marcos Valério para dirigir as duas empresas.
Com Valério, o empresário teria articulado o esquema de fraude e colocado o publicitário para operar o caixa 2 na campanha à reeleição do ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo do Estado em 1998.
Vacinação às escondidas
Um grupo de políticos e empresários, a maioria ligada ao setor de transporte de Minas Gerais, e seus familiares tomaram, nessa terça-feira (23/3), a primeira das duas doses da vacina da Pfizer contra a Covid-19, em Belo Horizonte.
As vacinas beneficiaram, segundo a reportagem, cerca de 50 pessoas, e as doses foram aplicadas após uma compra por iniciativa própria, sem repassar ao Sistema Único de Saúde (SUS). Já a segunda dose está prevista para daqui a 30 dias. As duas doses custaram a cada pessoa R$ 600.
De acordo com a revista, os organizadores da vacinação foram os irmãos Rômulo e Robson Lessa, donos da viação Saritur. As doses teriam sido aplicadas dentro da garagem de uma das empresas do grupo.
Nurse Fabiana de Oliveira works during the New Year at a field hospital set up at a sports gym to treat patients suffering with the coronavirus disease (COVID-19) in Santo Andre, Sao Paulo state, Brazil, January 1, 2021. REUTERS/Amanda Perobelli
Um estudo da UFF (Universidade Federal Fluminense) estimou que o Brasil ainda viverá o pico de mortes por covid-19 nos próximos meses. Entre abril e o começo de maio, o país pode registrar até 5 mil mortes pela doença em 24 horas. A pesquisa acredita nisso porque entende que a covid-19 segue uma sazonalidade. E só a vacinação pode evitar que o Brasil atinja essa marca de 5 mil mortes diárias.
“Aqui, o pico de óbitos será provavelmente em abril ou início de maio, com um valor estimado entre 3 mil a 5 mil óbitos diários. O valor real do pico dependerá da velocidade da vacinação nos próximos meses e das medidas de distanciamento adotadas”, alerta o professor do Departamento de Estatística, Márcio Watanabe, que desenvolveu o estudo.
Sobre a vacinação, Watanabe enxergou um problema no PNI (Plano Nacional de Imunização), que não dá prioridade para pessoas com 50 a 60 anos.
“Indivíduos de 50 a 60 anos são responsáveis por uma expressiva parcela das internações e óbitos, mas não estão relacionados como grupo de risco no plano nacional de imunização-PNI. Enquanto o país não vacinar esse grupo de pessoas, e também os idosos e aqueles com comorbidades, ainda teremos um grande número de óbitos”, ressalta Wattanabe.
Enquanto a vacinação em massa não ocorre, só as restrições e medidas de distanciamento social são vistas como soluções. Wattanabe alerta para uma possível falha nos planos dos governadores. “É essencial reduzir aglomerações como ônibus lotados, que têm sido ignorados pelo poder público ao longo da pandemia”.
O estudo da UFF também apresenta uma perspectiva sobre o futuro e aponta que é preciso entender a sazonalidade da doença para fazer um planejamento público de combate. Mas Wattanabe entende que mesmo assim a covid-19 deve ficar endêmica na sociedade.
“Poderemos conviver com a COVID-19 da mesma forma que convivemos com outras doenças respiratórias, como a pneumonia, quando vacinarmos a grande maioria da população. Mas mesmo com a vacina, a doença será endêmica, ou seja, sempre haverá casos. Assim, um ponto fundamental para o futuro é a ciência encontrar algum tratamento que seja significativamente eficaz para pacientes hospitalizados com coronavírus”, concluiu o pesquisador.
Seis pessoas que tiveram cargos no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, antes de 2007, sacaram pelo menos 90% dos salários que receberam quando se tornaram, anos depois, assessores de Flávio e Carlos Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) e na Câmara Municipal do Rio, respectivamente. Receberam R$ 1,58 milhão e retiraram, em dinheiro vivo, pelo menos R$ 1,41 milhão.
Esses seis funcionários tiveram sigilo bancário quebrado pela investigação da “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Como a quebra começa em janeiro de 2007, depois que essas pessoas já tinham saído da Câmara dos Deputados, não é possível saber o que fizeram com os salários que recebiam do gabinete de Jair Bolsonaro.
Procurado, o Planalto disse que não iria se manifestar. O advogado de Carlos Bolsonaro, Antonio Carlos Fonseca, disse que não irá se pronunciar porque os processos estão em sigilo.
Frederick Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro, afirmou, por nota, que “ao contrário do que tenta induzir a reportagem, Flávio Bolsonaro nunca monitorou os hábitos financeiros e de consumo dos servidores que trabalharam em seu gabinete na Alerj. A forma como administravam as próprias contas era responsabilidade apenas deles. Seria no mínimo absurdo o parlamentar fazer tal tipo de controle e, portanto, não passa de fantasia a ideia de que houve rachadinha em seu gabinete”.
Método da rachadinha
O UOL teve acesso às quebras de sigilo da investigação da suposta “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, em setembro de 2020, quando ainda não havia uma decisão judicial contestando a legalidade da determinação da Justiça fluminense, e veio, desde então, analisando meticulosamente as 607.552 operações bancárias distribuídas em 100 planilhas -uma para cada um dos suspeitos. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou o uso dos dados resultantes das quebras de sigilos no processo contra Flávio, mas o Ministério Público Federal e o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) recorreram junto ao Supremo Tribunal Federal.
Os cálculos do UOL consideram os saques que, com certeza, têm origens nos salários recebidos. Ou seja, não é possível que esses valores sacados sejam fruto de outras fontes de renda.
Na série de reportagens “Anatomia da Rachadinha”, o UOL revelou que quatro assessores de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados sacaram 72% do que receberam.
Em seguida, esses mesmos assessores foram trabalhar com Flávio Bolsonaro na Alerj, onde continuaram a sacar a maior parte dos salários.
O uso constante de dinheiro vivo levanta suspeitas porque dificulta o rastreio pelos órgãos de controle, apontam especialistas no combate à corrupção e investigadores criminais.
Esse padrão foi identificado pelos investigadores do MP-RJ como parte do método usado durante a “rachadinha” na Alerj. A partir dos saques, os salários eram transformados em dinheiro vivo para entregas a operadores da “rachadinha”: nome pelo qual é conhecido o esquema ilegal de devolução de vencimentos de assessores de um político. A prática configura crime de peculato — roubo ou mau uso de dinheiro público.
“O senador Flávio Bolsonaro não praticou qualquer tipo de ilegalidade em seus mandatos. Todos os servidores que passaram pelo gabinete do parlamentar foram nomeados de acordo com as regras da Assembleia Legislativa e cumpriam suas funções dentro das normas da casa”, declarou Wassef, por nota.
Ana Cristina Siqueira Vale, ex-mulher de Bolsonaro
Mudança de padrão
Do grupo de seis ex-assessores, pelo menos quatro têm algum grau de parentesco com o presidente Jair Bolsonaro ou com uma de suas ex-mulheres.
Juliana Siqueira Guimarães Vargas, prima de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher de Jair Bolsonaro, passou pouco mais de três anos na Câmara dos Deputados, entre 1999 e 2003. Imediatamente em seguida, foi trabalhar com Flávio Bolsonaro na Alerj, onde ficou por oito anos, até 2011.
Os dados mostram que, entre 2007 e 2011, Juliana recebeu R$ 326 mil da Alerj, entre salários e benefícios, e sacou pelo menos R$ 244 mil (75%).
A análise do UOL constatou uma mudança de padrão nos saques de Juliana. Até o começo de 2008, a prima de Ana Cristina sacava praticamente tudo o que recebia da Alerj. A principal forma de retirar o dinheiro era por grandes saques únicos.
Mas, a partir do segundo semestre de 2008, Juliana passou a fazer mais saques fracionados, especialmente no valor de R$ 500. Também começou a sacar menos, em torno de 70% do que recebia.
Juliana é casada com o coronel do Exército Maurício da Costa Vargas. Hoje, Vargas está lotado no gabinete do Comandante do Exército, em Brasília.
Um padrão semelhante de movimentação bancária ocorreu com Michelle Almeida dos Santos. Teve cargo no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados por cerca de oito meses, entre 2002 e 2003.
Saiu do posto em Brasília para assumir uma vaga na Alerj, com Flávio Bolsonaro. Ficou três anos, passou um ano fora e voltou para mais quatro anos.
No período compreendido pela quebra de sigilo, Michelle recebeu R$ 374 mil da Alerj, entre salários e benefícios. Sacou pelo menos R$ 270 mil (72%).
Assim como Juliana, Michelle teve o hábito de sacar, de uma vez só, a maior parte do salário nos primeiros anos do cargo. Isso mudou em 2009, quando passou a fazer mais saques fracionados — principalmente nos valores de R$ 500, R$ 510 e R$ 550. Nos meses que antecederam sua exoneração, seu volume de saques despencou.
Saque de todo o salário
Dentre os seis ex-funcionários de Jair Bolsonaro, quem mais sacou dinheiro vivo foi Andrea Siqueira Valle. Ela é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle. Entre 1998 e 2006, período em que Jair Bolsonaro e Ana Cristina estavam juntos, Andrea teve cargo na Câmara dos Deputados.
Depois da exoneração, Ana Cristina ficou com todo o dinheiro acumulado da conta em que Andrea aparecia como titular e recebia o salário da Câmara: saldo de R$ 54 mil — quantia equivalente a R$ 110 mil, em valores de hoje. A conta ficava em uma agência dentro da Câmara, mas Andrea nunca viveu na capital federal.
Imediatamente em seguida, Andrea foi trabalhar no gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio, que era chefiado por ninguém menos que Ana Cristina. Ficou no cargo por dez meses e sacou, em dinheiro vivo, 100% do salário que recebeu. Também sacou toda a restituição do imposto de renda.
Ao sair do gabinete de Carlos, Andrea foi nomeada na Alerj, por Flávio Bolsonaro. Passou 11 anos no cargo. Os salários, que somaram R$ 675 mil líquidos, eram depositados em uma agência bancária em Resende (150 km do Rio de Janeiro).
Novamente, Andrea sacou 100% do que recebeu no novo cargo. Também retirou em dinheiro vivo 100% da restituição do imposto de renda. Foram R$ 691 mil em saques.
O padrão de saques dos salários de Andrea na Alerj era bastante específico: a ex-cunhada de Bolsonaro fez mais de mil retiradas de R$ 500. No total, isso dá R$ 593 mil, que corresponde à maior parte do que foi sacado.
Procurada pelo UOL em fevereiro, Andrea disse: “não tenho nada para conversar com vocês”. Também em fevereiro, o advogado Magnum Cardoso, que representa Ana Cristina, afirmou que “a defesa não irá se manifestar tendo em vista que o procedimento tramita sob sigilo.”
Em outubro passado, o MP-RJ denunciou Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz e 15 ex-assessores pelos crimes de peculato, apropriação indébita, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A denúncia ainda vai ser analisada pelo Órgão Especial do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), segunda instância que trata de casos dos deputados. O MP investiga ainda se Carlos Bolsonaro nomeou funcionários fantasmas e implementou um esquema de rachadinhas em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio.
Sinal pode significar ‘ok’, ‘vai tomar no c.’ e é também símbolo de supremacistas brancos nos EUA.
Um assessor especial de Jair Bolsonaro criou uma crise ao fazer gestos obscenos durante sessão do Senado Federal em que acompanhava o chanceler Ernesto Araújo, que debatia com os parlamentares.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, decidiu instaurar procedimento de investigação para apurar o fato. A polícia do Senado vai inclusive ouvir Filipe G. Martins, que é assessor especial para assuntos internacionais de Bolsonaro.
Uma fonte do Palácio do Planalto afirma que Pacheco está exigindo a demissão imediata do assessor.
Filipe G. Martins, que se apresenta nas redes sociais como professor de política internacional e “analista político”, fazia o gesto que une o indicador e o polegar de forma arredondada, e que pode ser lido como “ok”, mas também como “vai tomar no c.”.
O gesto ganhou nova conotação para grupos extremistas dos EUA, e foi classificado como “uma verdadeira expressão da supremacia branca” pela Liga Antidifamação (ADL), organização que monitora crimes de ódio naquele país.
Por isso, entrou na lista de símbolos do ódio.
Assim que o gesto foi percebido, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) discursou afirmando que o gesto era um desrespeito e que Filipe deveria ser retirado das dependências do Senado.
Ele compartilhou um vídeo com os senadores.
“É inaceitável, presidente. Em uma sessão do Senado federal, durante a fala do presidente do Senado, um senhor estar procedendo de gestos obscenos, está ironizando o pronunciamento do presidente da Casa. Não, presidente. Isso é inaceitável, é intolerável. Peço que conduza imediatamente este senhor, se ele ainda estiver aí, para fora das dependências do Senado Federal”, afirmou Randolfe.
“Isso é inaceitável. Basta o desrespeito que esse governo está tendo com mais de 300 mil mortos [pela Covid-19]. Não aceitamos que um capacho do senhor presidente da República venha aqui ao Senado, durante a fala do presidente do Senado, nos desrespeitar. Então, presidente, antes de começar a sessão, a primeira providência é que a polícia legislativa do Senado tome as providências necessárias em relação a esse senhor”, segue o parlamentar.
Martins postou em seu Twitter mensagem dizendo: “Um aviso aos palhaços que desejam emplacar a tese de que eu, um judeu, sou simpático ao ‘supremacismo branco’ porque em suas mentes doentias enxergaram um gesto autoritário numa imagem que me mostra ajeitando a lapela do meu terno: serão processados e responsabilizados; um a um”.
Ele também publicou imagens do ex-presidente Lula e do youtuber Felipe Neto fazendo o mesmo gesto com a mão. “A oposição ao Governo atingiu um estado de decadência tão profundo que tenta tumultuar até em cima de assessor ajeitando o próprio terno”, escreveu ele.
Veja o vídeo da reação do senador Randolfe Rodrigues:
Arthur Lira começa a cobrar de Bolsonaro o preço da traição.
Lira foi curto e grosso ao mandar recado a Bolsonaro: “todos conhecem o remédio amargo quando não mais governabilidade e que ele costuma ser amargo e fatal”.
Depois de duas bolas nas costas, uma com o episódio do médica Ludhmila Hajjar, indicada por ele para o ministério da Saúde e, outra, com o voto ontem de Kássio Nunes Marques que Lira e outros parlamentares do centrão tinham como certo o voto favorável à suspeição de Moro pelo ministro indicado por Bolsonaro ao STF. Mas Bolsonaro fez as contas políticas e preferiu enfrentar o moribundo Moro em 2022 do que Lula que, logo na primeira semana de elegível, pesquisas já mostravam Lula 10 pontos à frente de Bolsonaro tanto no primeiro quanto no segundo turno.
Lira já estava profundamente irritado porque se sentiu um idiota com a traição que Bolsonaro que recebeu a médica possível substituta de Pazuello, quando na verdade, já estava decidido, por indicação de Flávio, de Marcelo Queiroga para a pasta.
Não deu outra, hoje, em discurso bastante contundente, Lira deixou claro que o impeachment de Bolsonaro entrou no radar no Congresso. O mote para o discurso do presidente da Câmara foram as 300 mil mortes provocadas pelo negacionismo do genocida. Mas, na realidade, o pano de fundo é a política “venha a nós e ao vosso reino nada”, como é prática conhecida de Bolsonaro.
Ou seja, o centrão mostrou os dentes para o aliado traidor.
Certamente, na cabeça de Bolsonaro, com essa contagem, teríamos 60 mil mortos e não 300 mil, como mostra a realidade. Assim, ele emplacaria duas soluções em uma só mentira, desapareceria com 240 mil mortes e ainda diria que foi o seu kit-covid, encabeçado pela cloroquina que operou o milagre profilático.
Isso dá a dimensão da seriedade com que Bolsonaro, sentado na cadeira da presidência, utiliza a sua caneta Bic e o tamanho do redemoinho que a Lava Jato criou quando trabalhou com apenas um objetivo, prender Lula, tirá-lo da disputa eleitoral e, no mesmo corropio infrene, transformar piruá em pipoca colocando um ogro na presidência e, na mesma vasilha, a Lava Jato quase que inteira no governo a partir do ministro Sergio Moro.
Daí esse cheiro de enxofre que exala do Palácio do Planalto aonde um idiota faz figuração de presidente e, quando muito, trabalha para fazer molecagens como essa, porque além do mais tem as mãos sujas de outros carnavais.
Para variar, Bolsonaro, depois de cobrado durante a coletiva, culpou alguém de marte, já que seu gado terraplanista gosta dessas histórias pitorescas.
O fato é que a estupidez de Bolsonaro desafia até mesmo os marcianos. E o pior, dá garupa para muitos idiotas do seu pasto reproduzirem, através de uma legião de diabos digitais, todos os absurdos cometidos por esse quadro caótico em que o Brasil se encontra.