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Ibovespa tem maior queda mensal desde fevereiro de 2019 e dólar tem maior alta para janeiro em 10 anos

O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira (31) e terminou janeiro com um forte recuo de 1,63%, o primeiro após quatro altas e a maior baixa mensal desde fevereiro de 2019, quando o índice registrou perdas de 1,86%.

Foi também a maior queda do Ibovespa para um mês de janeiro desde 2016, quando o benchmark caiu 6,79%

Já o dólar subiu 6,8% neste mês, registrando sua maior alta para um mês de janeiro em 10 anos. Foi também a maior alta mensal desde agosto de 2019, quando a moeda dos Estados Unidos teve alta de 8,76%.

Enquanto isso, o dólar comercial subiu 0,63% a R$ 4,2851 na compra e R$ 4,2858 na venda, marcando nova máxima histórica. O dólar futuro com vencimento em fevereiro teve alta de 0,58% a R$ 4,269.

No mercado de juros, o DI para janeiro de 2022 registrou ganhos de quatro pontos-base a 5,01%, o DI para janeiro de 2023 avançou três pontos, a 5,53% e o DI para janeiro de 2025 ganhou também três pontos-base a 6,24%.

 

 

*Com informações do Infomoney

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Vídeo: Com o samba mais bonito do ano, setores religiosos conservadores querem censurar a Mangueira

A cidade do Rio de Janeiro está à espera de dois milhões de turistas no carnaval, mostrando que o grande cartão postal cultural do Rio são as escolas de samba. A Mangueira, a escola mais querida no Brasil, é responsável por atrair milhares desses turistas que invadirão a cidade durante o carnaval.

Os hotéis da orla da zona sul estão com lotação completa para o período. Bares, restaurantes lotados e a própria geração de empregos no setor de serviços mostram que o carnaval no Rio é uma fonte riquíssima de emprego e renda.

A questão central é que o carnaval é o que é e, por isso mesmo, atrai tantas pessoas de tantos lugares do Brasil e do exterior.

Por mais que tenha em seu simbolismo algumas distorções promovidas pelo interesse comercial da Globo, o desfile das escolas de samba, transmitido para mais de 100 países, é o ponto alto da maior festa popular do planeta ou do maior evento cultural da terra.

Mas este ano, seguindo a linha dos terraplanistas, nazistas, fascistas, bolsonaristas, setores religiosos conservadores cismaram de censurar o espírito carnavalesco da Mangueira, que é, como sempre foi, crítico em seus enredos.

Segundo Ancelmo Gois, no Globo, uma carta assinada por 21 entidades religiosas, lideradas pela arquidiocese do Rio, direcionada a Jorge Castanheira, presidente da Liesa que, mesmo sem citar nominalmente a Mangueira, pedem, de forma absurda, que eles sejam consultados pelos enredos, numa clara comissão de censores religiosos que querem agora nos devolver ao período da ditadura militar e dizer o que pode ou não ser cantado nas ruas do país. Era só o que faltava!

Em nome de um suposto princípio da boa fé, tolerância, imagina isso, e respeito, pedem que sejam ouvidos com o intuito de instá-los a observar atenciosamente o próximo desfile para que seja realizado de modo a não ofender, chocar, agredir ou encarnecer a fé de centenas de milhões de brasileiros.

Isso porque o samba da Mangueira começa com uma frase lindamente poética que diz:

Mangueira Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também

Basta esse poema carregado de verdade história para detonar a hipocrisia de conservadores que usam a religião como biombo para reprimir a liberdade de expressão do povo, dizendo logicamente que não é esta a intenção.

Entre os tais religiosos, estão, entre outros, a Associação Nacional de Juristas Islâmicos, Federação Israelita do Rio, Budismo Primordial e etc.

O fato é que escola de samba nenhuma enfia o bedelho na crença de ninguém, não pede a entidade nenhuma que conduza seus sermões a partir dos conceitos do samba. Por que o samba deveria abdicar da liberdade poética para atender aos bisbilhoteiros da fé alheia em nome de um respeito que os próprios não têm pela liberdade de expressão?

Que esse absurdo seja repudiado por todos. Já não basta a Damares, Bolsonaro e o pirado da Funarte que disse que o rock é satânico? Ou esses senhores, que se acham o oráculo da fé, são parceiros do texto nazista lido Roberto Alvim que lhe custou a cabeça falando na grande arte, na arte nobre?

*Carlos Henrique Machado Freitas

Assista ao vídeo:

[Enredo: A Verdade Vos Fará Livre]

Senhor, tenha piedade
Olhai para a terra
Veja quanta maldade
Senhor, tenha piedade
Olhai para a terra
Veja quanta maldade

Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também

Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também

Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no buraco quente
Meu nome é Jesus da Gente

Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro, desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil

Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão

Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque, de novo, cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão

Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão
Favela, pega a visão
Eu faço fé na minha gente
Que é semente do seu chão

Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E ressurgi pro cordão da liberdade

 

Composição: Luiz Carlos Máximo / Manu da Cuíca · Esse não é o compositor?

 

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Regina Duarte na cultura foi a vingança de Bolsonaro contra quem reclamou do discurso nazista de Alvim

Regina Duarte não é uma pessoa qualquer, veio para provocar uma crise na cultura muito maior do que a de Roberto Alvim. Sua sanha provocadora em prol do que existe de mais agressivo na direita é diametralmente oposta à aura da namoradinha do Brasil, criada pela Globo.

Regina Duarte é cínica, sórdida e faz questão de ser assim. Tem um não sei o quê de maldade nas suas falas, capaz de disseminar veneno com suas frases vazias de conteúdo, mas cheias de fel.

Não será diferente o comportamento de Regina Duarte na Secretaria de Cultura. Ela não pretende se desapegar do seu estilo agressivo com pitadas de sordidez.

A atriz, agora secretária de cultura, é a própria imagem do governo Bolsonaro e adotará a língua do próprio, usando o mesmo calibre matador para enfrentar qualquer adversidade, e serão muitas, uma mais complexa que a outra para, em suma, fazer da cultura artística no Brasil uma propriedade sua no sentido mais conservador possível.

Regina Duarte vem para a guerra contra todo o universo que envolve a cultura brasileira que, por natureza, é progressista.

Não esperemos nada de diferente de uma ruralista com todos os instintos de um madeireiro, de um grileiro e de um posseiro.

Não é por acaso que ela recebeu apoio público de Carlos Vereza, Ari Fontoura, Marcio Garcia, Maitê Proença, entre outros, como mostra a imagem abaixo.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Moro deixa de fora da lista dos mais procurados miliciano ligado ao clã Bolsonaro

Adriano da Nóbrega é aquele cujos parentes foram nomeados por Flávio Bolsonaro.

O ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Sergio Moro, deixou de fora da lista dos mais procurados do Brasil o ex-capitão Adriano da Nóbrega, comandante da mais antiga milícia do Rio de Janeiro e suspeito de integrar um grupo de assassinos profissionais do estado. A informação é da Folha de S.Paulo.

Esse ex-PM também é citado na investigação que apura a prática da famigerada “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro em seus tempos de deputado na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Adriano teve duas parentes nomeadas no antigo gabinete de Flávio.

Ele também foi defendido por Jair Bolsonaro em discurso na Câmara dos Deputados, em 2005, quando foi condenado por um homicídio.

Como lembra a Folha:

“De acordo com o Ministério Público, contas bancárias controladas por ele foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador, suposto operador do esquema no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro. Queiroz é amigo do presidente da República”.

Moro divulgou a lista sem o acusado em suas redes sociais. “A SEOPI/MJSP [Secretaria de Operações Integradas da pasta] elaborou, com critérios técnicos e consulta aos Estados, a lista dos criminosos mais procurados. A lista ajudará na captura, e segue a orientação do PR @jairbolsonaro de sermos firmes contra o crime organizado”, diz o texto.

 

 

*Com informações do Conversa Afiada

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Dólar acelera e bate recorde histórico, chegando a R$ 4,28

E lá se vão as reservas internacionais deixadas por Lula e Dilma.

Novo valor deixa para trás o recorde intradia anterior de 4,2785 reais na venda alcançado em 26 de novembro do ano passado.

O dólar acelerou a alta ante o real e bateu uma nova máxima histórica durante um pregão nesta sexta-feira (31), em mais um dia de força da moeda no exterior com pano de fundo de aversão a risco por temores sobre o coronavírus.

O dólar saltou a 4,2800 reais na venda às 12h10, maior valor nominal da história. Assim, deixou para trás o recorde intradia anterior de 4,2785 reais na venda alcançado em 26 de novembro do ano passado.

Por volta de 12h17, a cotação no mercado à vista subia 0,38%, a 4,2756 reais na venda.

Na B3, o contrato de dólar futuro de maior liquidez tinha ganho de 0,59%, a 4,2695 reais.

No exterior, o dólar registrava firmes altas contra outras divisas emergentes, como peso mexicano (+0,6%), rand sul-africano (+1,3%) iuan chinês offshore (+0,5%).

 

 

*Com informações do R7

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Casa Civil, sempre vazia, é o que nunca funcionou no governo Bolsonaro

É certamente a primeira vez na história em que um mesmo servidor do governo é demitido duas vezes em menos de 48 horas e de cargos distintos. Foi o que aconteceu com Vicente Santini, apeado primeiro da secretaria-executiva da Casa Civil, reconduzido depois à assessoria da Secretaria Especial de Relacionamento Externo do ministério por pressão dos filhos do presidente e defenestrado uma segunda vez 12 horas depois, aí para atender aos reclamos das fileiras bolsonaristas nas redes sociais. A vida não é fácil também para o governo.

A confusão traz a marca típica do jeito Bolsonaro de fazer as coisas. Todas as crises em que seu governo se meteu, até agora, eclodiram por iniciativa do próprio presidente ou de algum filho seu. Às vezes, de ambos, como é o caso agora.

Reparem: se o presidente não tivesse feito o escarcéu que fez ao ficar sabendo que Santini viajara de Davos à Índia em jatinho da FAB, tudo teria ficado por isso mesmo. Até porque, repetindo o próprio presidente, pode ser ate imoral, mas não é ilegal. Viagens dessa natureza constituem um dos casos em que a aeronave pode ser usada. Ocorre que o presidente, como é sabido, é dado a rompantes. E houve por bem bater o porrete na mesa, tonitruando a demissão fulminante, deixando ainda no ar a possibilidade de punição adicional.

Quem o ouviu jamais imaginou que, horas depois, ele tentaria reconduzir o mesmo Santini a um outro cargo na mesma Casa Civil. Atendia a um apelo de ao menos dois dos filhos: o deputado Eduardo e o senador Flávio. E Bolsonaro cedeu. Aconteceu o óbvio: uma gritaria danada nas redes nada sociáveis. Mal rompia o dia nesta quinta, e o presidente aplicava uma segunda demissão ao amigo dos filhos. A primeira desonra estava de bom tamanho. O rapaz acabou arcando com duas.

Vicente Santini é só personagem de um desarranjo maior. O que jamais funcionou no governo é o órgão no qual estava lotado: a Casa Civil. Onyx Lorenzoni comportou-se durante a campanha eleitoral e depois no curso da transição como se fosse o condestável da República. Assumia ares de homem forte do bolsonarismo. Quando alguém sugeriu, por exemplo, que a reforma da Previdência poderia seguir do ponto em que Temer a havia deixado, ele descartou a possibilidade com agressividade retórica, afirmando que a proposta do governo anterior era imprestável.

E foi justamente no curso da reforma que seu real tamanho foi se revelando. Onyx jamais foi um articulador confiável entre as lideranças do Congresso. Tampouco se fez interlocutor privilegiado dos respectivos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Acolumbre (DEM-AP). Ao longo do tempo, sua pasta foi sendo esvaziada, até chegar ao estágio atual em que se resume a literalmente nada.

Quando retomar a função nesta sexta, Onyx não tem mais sob sua responsabilidade o PPI, Programa de Parceria de Investimentos. Migrou para o Ministério da Economia. A Coordenação Política já tinha sido transferida para a Secretaria de Governo, hoje a cargo do general Luiz Eduardo Ramos, e a Subchefia de Assuntos Jurídicos já estava sob a responsabilidade da Secretaria-Geral da Presidência.

O que sobrou a Onyx Lorenzoni? Talvez deva pegar uma flanela e tirar o pó dos móveis. Notem que as duas demissões de Vicente Santini ocorreram em sua pasta, sem nem mesmo um comunicado prévio. Dá-se de barato que Bolsonaro pretende fazer uma reforma ministerial. Parece pouco provável que sobre um lugar na Esplanada ao ainda ministro. Ele é deputado federal — o segundo mais votado do Rio Grande do Sul — e certamente há lugar na Câmara para a defesa do governo Bolsonaro.

Segundo levantamento da Folha, no seu tempo à frente da Casa Civil, Onyx manteve 650 encontros com políticos, autoridades e representantes da sociedade civil. Desse total, 155 — 23,8% — eram do seu estado natal, cujo governo ele pretende disputar em 2022.

E o ministro, justiça se faça, mostra-se resignado. Foi perdendo atribuições no governo e não lutou minimamente para mantê-las. Parecia haver a admissão tácita de que lhe faltava estofo para o papel que o cargo exigia. A rigor, dadas as atuais funções, a Casa Civil poderia ser extinta, por mais exótico que pareça. Bolsonaro balcanizou a pasta entre vários outros ministérios para tentar neutralizar a incompetência de seu ministro. Chegou a hora de resolver a coisa de vez.

 

 

*Reinaldo Azevedo/Uol

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Os interesses de poder por trás do coronavírus e das questões humanitárias

Pesquisador Evandro de Carvalho analisa implicações econômicas e geopolíticas do surto do vírus na China.

Das 33 províncias chinesas, cerca de 12 delas têm 99 ou mais pessoas infectadas pelo coronavírus, responsável por síndromes respiratórias graves. Juntos, esses 12 territórios concentram 64% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, de acordo com o World Atlas. Somente Jiangsu e Guangdong configuram cerca de 21% do índice.

Na primeira província, está localizada a cidade Hangzhou, onde surgiu a e-commerce Alibaba. No segundo trimestre de 2014, a empresa lucrou mais que as gigantes eBay e Amazon juntas, de acordo com o Valor Econômico. No mesmo patamar, a vizinha de Macau e Hong Kong, Guangdong, é berço do maior polo de produção de eletrônicos no mundo e vende cerca de US$ 650 bilhões em exportação anualmente – cerca de um quarto de todas as exportações do país.

Evandro Menezes de Carvalho, doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) aponta que, com o isolamento de províncias em situações críticas de infecção, como Wuhan, e a paralisação de atividades econômicas, avalia que certamente a conjuntura afetará o jogo geopolítico que envolve a China e haverá, seguramente, um impacto no PIB chinês. Algumas empresas devem retomar as atividades somente depois do dia 10 de fevereiro, alargando ainda mais o Ano Novo do país.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Evandro Menezes de Carvalho falou sobre as implicações econômicas e geopolíticas do surto causado pelo coronavírus. Ele salientou que o modo com que o país asiático vem lidando com a questão “reduz bastante a possibilidade de um pânico generalizado que teria consequências mais dramáticas na relação da China com vários países no mundo, que é o primeiro ou segundo parceiro comercial de uma centena de países”.

Brasil de Fato: Como fica o jogo geopolítico entre a China e outras potências mundiais? Quais são os interesses geopolíticos que alguns países podem apresentar em um surto como esse?

Evandro Menezes de Carvalho: Dentro do jogo geopolítico, há interesses que consideram questões humanitárias para benefícios de poder e, é claro que para certos países, o impacto desta epidemia de coronavírus contribui para a medição de força com a China. Países que querem prejudicar a imagem da potência asiática no mundo, utilizam esse tipo de situação para disseminar, ou deixar disseminar em seu território, a ideia de que a China tem informações não confiáveis, gerando uma certa insegurança e uma relativa aversão ao país.

Certos países, então, aproveitam situações como essa para manipular e aumentar o temor pela China. Isso aumenta os custos chineses para dar continuidade ao que vem sendo feito para melhorar sua imagem internacional. Nisso, é importante lembrar que a China permaneceu no Acordo de Paris e mostra publicamente a importância disso, assim como tem defendido a manutenção e o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), enquanto outros Estados advogam o contrário.

E quais são as implicações econômicas desse surto?

Ainda que seja difícil postular isso hoje, e mesmo economistas têm essa dificuldade, haverá um impacto no PIB do país, sobretudo porque a China está em um momento em que a economia teve de ser paralisada. Não totalmente, mas na medida em que se fecham cidades e restringe-se o fluxo do tráfego de trens, carros, ônibus, tudo isso vai afetar a economia chinesa, seguramente.

Se já havia uma perspectiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) de crescimento em cerca de 6% – com muito esforço, 6,5% – provavelmente isso não será possível ainda esse ano. O próprio governo chinês já sabia com muita antecedência que ia haver essa redução do PIB. Mas há um risco de ser abaixo de 6%, porque o surto é um fato inesperado. Isso gera uma preocupação normal do governo chinês, mas não significa necessariamente que não haja possibilidade de recuperar isso. É mais ou menos o que aconteceu depois da SARS (sigla em inglês para Síndrome Respiratória Aguda Grave), entre 2002 e 2004, a China voltou a crescer. Mas é certo que isso vai gerar impacto.

Esse impacto no PIB também está diretamente ligado às consequências nas relações internacionais da China, certo?

Tem um impacto internacional sobretudo nos países próximos à China, cuja economia é influenciada pelo turismo na região, como Tailândia e Japão, que já estão sentindo as consequências. Nesse sentido, o governo chinês proibiu viagens de certos grupos da população para o exterior, uma medida de segurança e de saúde para não espalhar essa situação para o resto do mundo.

Tudo isso começa a criar uma série de dificuldades que vai impactar o mercado internacional. E, é claro, na medida em que a economia chinesa já tinha uma leve retração, é difícil mensurar isso em função do coronavírus, que fará com que o governo chinês venha a reavaliar suas prioridades e despesas de emergência no contexto atual. Ainda é muito cedo para se falar em números e dados, em quais setores serão mais prejudicados. Mencionei o turismo, porque é a causa da medida recente de proibir viagens internacionais de grupos de chineses.

E em relação ao turbilhão de notícias que circulam sobre o surto provocado pelo coronavírus: como esse fator é colocado em questão?

A primeira questão a ser salientada é que esse tema do coronavírus se tornou global pelo potencial de propagação do vírus. Agora, um aspecto importante diz respeito ao modo como a China está lutando com essa questão. No contexto atual, há uma miríade de notícias que circulam na Internet que muitas vezes é difícil identificar aquilo que é informação crível e confiável.

É importante sublinhar que o governo chinês tem estabelecido um diálogo muito produtivo e aberto com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O presidente Xi Jinping se reuniu com o diretor geral da OMS recentemente, e eles decidiram entrar em acordo para intensificar as buscas pelas causas desse vírus e estudar as consequências, a fim de encontrar, inclusive, formas e soluções para combater a epidemia. Isso mostra abertura e transparência, de modo que não há porque também desmerecer as informações que estão sendo prestadas pela mídia chinesa constantemente.

Então, são informações importantes que mostram, de um lado, como o governo chinês está lidando com a situação. E, ao mesmo tempo, permite ao mundo acompanhar o que tem que ser feito. Isso, por si só, reduz bastante a possibilidade de liberar um pânico generalizado, que teria consequências mais dramáticas na relação da China com vários países no mundo. A China hoje é o primeiro ou segundo parceiro comercial de uma centena de países, por isso um fato como esse acaba gerando expectativas muito grandes em escala mundial.

No momento em que se declara que isso é uma emergência global, caso isso venha a ocorrer, tem um impacto direto na China, não só na questão dos gastos públicos para resolver o problema internamente, economicamente, mas também na imagem da China. Nós já sabemos que vivemos em uma era de muitas fake news, e que a China não está imune a isso, sobretudo no plano internacional. Então, esse fato pode ser usado para reforçar ainda mais a imagem que os países ocidentais têm ou querem construir de que a China não é tão confiável. Isso gera um ônus muito grande para o país asiático: o de precisar se mostrar um país responsável lidando com essas situações de emergência.

E como é a perspectiva brasileira em relação ao surto causada pelo coronavírus? Como o Brasil pode ser afetado em termos geopolíticos e econômicos?

Da perspectiva brasileira, o que a gente precisa observar é: estamos preparados para enfrentar seja uma epidemia de coronavírus ou qualquer outra situação semelhante que venha a ocorrer no Brasil?

Agora, acho que no contexto atual, o principal impacto seria aparentemente econômico, porque várias delegações chinesas de negócios poderiam estar vindo ao Brasil agora, ou de brasileiros que estariam indo para a China. Há uma redução do intenso nível de interação entre os dois países, pela conjuntura do coronavírus. Além disso, alguns produtos podem passar por um escrutínio maior do ponto de vista de segurança sanitária. Então acredito que terá um impacto maior no comércio.

 

 

*Com informações do Brasil de Fato

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Coronavírus, emergência global: o estrago que já causa na economia moribunda brasileira

Analistas destacam que ações de empresas de commodities são as que mais podem sofrer no curto prazo.

O temor sobre os efeitos do coronavírus vem impactando fortemente os mercados, inclusive o brasileiro, em meio às indicações de que o surto da doença que se assemelha a uma pneumonia afete fortemente a economia chinesa e, consequentemente, a mundial.

Conforme destacou Zhang Ming, economista do governo do gigante asiático, o crescimento econômico do país pode cair para 5% ou menos no primeiro trimestre por conta do surto, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta quinta-feira (30) o coronavírus como emergência global. O Brasil, por ser um dos maiores exportadores para a China, pode ver diversos setores da economia sendo impactados.

O Itaú BBA, o Morgan Stanley, XP Investimentos e Bradesco BBI apontaram o impacto para diferentes setores da economia da América Latina e, especialmente, para a brasileira.

A equipe de análise do Itaú BBA avalia que a China é o parceiro comercial considerado chave para a economia latino-americana, sendo o principal parceiro de Peru, China e Brasil, com o gigante asiático sendo responsável por mais de 20% do total exportado desses países. Assim, dada a importância dessa relação, é possível um impacto direto para o PIB dessas nações.

Apesar de haver vários segmentos impactados, a mensagem é de que não há motivos para pânico, ainda mais quando se traçam paralelos com outros surtos de doença ao longo dos últimos anos e o impacto para a economia e para os mercados no longo prazo. Contudo, no curto prazo, algumas empresas podem sofrer.

Veja abaixo alguns dos setores que podem ser impactados de forma significativo pelo surto de coronavírus:

Commodities
Mineração, siderurgia e celulose

Os analistas do Itaú BBA fizeram um paralelo entre o novo coronavírus e a crise com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), em 2003, que também levou a uma desaceleração da economia chinesa.

A análise sugere que a crise do SARS teve um impacto limitado nos preços de commodities em geral. Após a crise no início daquele ano, na segunda metade de 2003 os preços das ações de companhias do setor recuperaram o valor de antes do surto da doença. Contudo, eles fazem a ponderação de que a China tem agora um papel mais forte como demandante de commodities do que há 17 anos.

Neste cenário, mineração e companhias de celulose aparecem como mais expostas à China, com o Ebitda (lucro antes de juros, depreciações e amortizações) sendo mais diretamente afetados, o que é negativo para Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3).

A China responde diretamente por 72% e 49% da demanda global por minério de ferro e cobre por via marítima, respectivamente, resultando em uma participação significativa no Ebitda das mineradoras. Os analistas apontam que 48% do Ebitda da Vale e 31% do Ebitda da CSN (CSNA3) estão vinculados ao gigante chinês.

Vale ressaltar que, durante o pico do surto de SARS, a produção de aço bruto e as importações de cobre cresceram a uma média de 22% e 53% ao ano respectivamente, indicando não haver um impacto claro no mercado físico do insumo.

“Dito isso, o sentimento negativo do mercado fez com que os preços do cobre caíssem cerca de 11% entre fevereiro e abril de 2003 antes de retornaram rapidamente aos níveis anteriores no final de maio”, avaliam os analistas.

Para eles, embora os preços mais baixos de minério de ferro e cobre possam pesar nas margens dos produtores, o efeito pode ser suavizado pelo fato das empresas de mineração estarem operando com custos baixos.

A China também responde pela maior parte do crescimento da demanda global de celulose (36%). Contudo, o impacto nas empresas brasileiras é diferente: ela é responsável por uma participação relativamente maior no Ebitda da Suzano (43%) do que da Klabin (15%).

“Houve um impacto limitado nos mercados físicos durante a crise da SARS, e os preços de celulose de fibra curta e longa permaneceram fortes e em alta, apoiados por um crescimento médio de 18% na produção de papel chinesa. No entanto, considerando que a China deve impulsionar todo o crescimento estimado para o setor nos próximos anos (entre 2020 e 2023), uma revisão para baixo das taxas de crescimento da demanda por celulose do país pode adiar a tão esperada recuperação dos preços da celulose”, avalia o Itaú BBA.

Por outro lado, avaliam, os resultados dos produtores de papel dependem mais da demanda regional, sugerindo uma resiliência relativamente mais alta dos números operacionais da Klabin em relação aos da Suzano. Enquanto isso, em meio ao surto (com as pessoas evitando sair de casa), o comércio eletrônico pode ganhar relevância na comparação com as lojas físicas na China, dando suporte ao aumento da demanda por embalagens.

Enquanto isso, as empresas siderúrgicas estão menos expostas diretamente à China, mas os preços globais podem impactar essas empresas. A maior parte das receitas e do Ebitda dessas companhias são provenientes de seus respectivos mercados domésticos, com a China tendo uma participação direta de menos de 5% do Ebitda.

“Dito isso, contudo, um potencial declínio nos preços globais do aço pode ter efeitos negativos sobre os preços no Brasil, Argentina e México devido às relações de paridade de importação. De fato, os preços domésticos de aço tipo HRC e vergalhão da China caíram 19% e 4%, respectivamente, de fevereiro a maio de 2003, antes de se recuperar para níveis anteriores em outubro daquele ano. Pelo lado positivo, moedas locais mais depreciadas podem ajudar a compensar parcialmente o impacto da queda dos preços”, avaliam.

Além disso, atenção para as possíveis medidas de estímulo do governo chinês, que podem ser anunciadas para reverter o cenário de desaceleração da economia e impactar positivamente as siderúrgicas e mineradoras.

Petroleiras

O petróleo do tipo brent registra uma queda de mais de 10% em apenas seis sessões, com o barril abaixo de US$ 58 o barril, uma vez que a preocupação sobre a demanda aumenta.

Conforme destacam os analistas do Morgan Stanley, as preocupações não são infundadas, uma vez que há um número crescente dos voos para a China está sendo cancelado, as restrições de viagens estão aumentando entre as cidades chinesas e o vírus está se espalhando para outros países. Levando em conta que tudo isso afeta as expectativas de crescimento econômico do maior importador de petróleo do mundo, há justificativas para a forte queda do petróleo.

As vendas de cargas da commodity da América Latina para a China foram interrompidas esta semana, com a crise do coronavírus paralisando um período de feriado já tranquilo, aponta a Bloomberg. Desde a semana passada, nenhuma venda de cargas para entrega em março do Brasil e da Colômbia foi registrada e cargas sem vender estão se acumulando, apontaram fontes à publicação.

As refinarias na China – que recebem 30% dos embarques do Brasil, Colômbia e de outros grandes exportadores da América Latina – deverão cortar a produção em meio a especulações de que restrições de viagem para conter a propagação do coronavírus reduzirão a demanda por gasolina, diesel e combustível de aviação, aponta a agência.

Um relatório da Platts Analytics calcula que, se o surto do coronavírus for tão grave como a epidemia da SARS, a demanda por petróleo poderá cair entre 700 mil e 800 mil barris diários no mundo, que são equivalentes a mais da metade do crescimento da demanda projetado para este ano. Segundo o ministro da Energia da Argélia, Mohamed Arkab, os membros da OPEP + estão considerando uma reunião de emergência em fevereiro devido a preocupações relacionadas ao coronavírus.

Porém, aponta o Morgan Stanley, caso a situação se estabilize, há espaço para os preços do petróleo voltarem para a casa dos US$ 65,00. Enquanto isso não acontece, as ações de petroleiras, como é o caso da Petrobras (PETR3;PETR4), podem repercutir a queda da cotação da commodity negativamente na bolsa.

A estatal tem reiterado sua política de seguir o princípio da paridade de importação – levando em conta preços no mercado internacional mais os custos de importadores, como transporte e taxas portuárias, com impacto também do câmbio – e já cortou três vezes o preço dos combustíveis no mês. Em 14 de janeiro, a companhia promoveu um corte de 3% no diesel e gasolina. Na semana passada, a empresa diminuiu o preço médio da gasolina e do diesel nas refinarias em 1,5% e 4,1%, respectivamente. Nesta quinta, houve um novo corte dos preços de combustíveis, também de 3%.

Frigoríficos

Já para os frigoríficos, que até então tinham registrado um forte rali por conta de uma outra doença que estava afetando a China, no caso a gripe suína africana, a expectativa é de um impacto negativo no primeiro trimestre de 2020 (principalmente para as exportadoras) por conta do coronavírus, mas um impacto mais limitado no ano cheio.

Há dois possíveis efeitos no radar, avalia a equipe de análise: i) a redução da atividade econômica, o que deve reduzir a acessibilidade em um contexto em que a carne já é cara e ii) o cancelamento de eventos do Ano Novo Chinês, que poderia guiar altos estoques de produtos no começo deste ano. “Vamos mais risco neste segundo ponto e não esperamos nenhuma mudança significativa nas estimativas para a oferta e demanda da China para 2020”, avaliam os analistas ao citar que, no surto de SARS, também não houve mudanças expressivas na demanda por proteína.

Para eles, o consumo de proteínas, assim como de produtos do varejo, sofrerão menos do que as commodities diretamente impactadas com investimentos ou atividade econômica. Em 2003, aliás, houve um aumento na demanda pelas três principais proteínas (de frango, de boi e de porco) em 3,1% na base de comparação anual, marcando uma aceleração frente os dois anos anteriores.

De qualquer forma, a expectativa é de um primeiro trimestre de 2020 mais fraco depois que todos os efeitos do coronavírus forem contabilizados, também levando em conta que o momento é pior do que o SARS, uma vez que houve uma explosão dos casos na véspera do Ano Novo Chinês.

Há evidências de que vários eventos do ano novo chinês foram cancelados mesmo fora da área em que os focos estavam concentrados. Entre os mais importantes, estavam eventos em Pequim e Hong Kong. O feriado começou em 24 de janeiro, sendo geralmente este o período de maior consumo de proteína no país.

Um aumento no estoque de proteínas devido ao consumo mais fraco, na avaliação deles, pode sim prejudicar os exportadores brasileiros de proteínas no curto prazo. “Desta vez, esperamos que as importações se recuperem menos rapidamente se houver um estoque restante por conta do Ano Novo Chinês”, avaliam.

Porém, não espera-se que o coronavírus mude o quadro geral do déficit de proteína na China no contexto da febre suína africana (ASF), uma vez que a queda no consumo devido ao cancelamento dos eventos do Ano Novo deve ser 14 vezes menor do que a queda na produção na China causada pelo ASF.

Os eventos do Ano Novo Chinês aumentam a demanda em cerca de 3% do consumo anual de proteína em comparação com a média mensal regular. Isso significa que um declínio pela metade nos eventos do ano novo chinês levaria a uma redução de 1,5% na previsão de consumo para o ano de 2020, o que equivale a cerca de 1 milhão de toneladas para as três proteínas combinadas.

Como lembrete, a gripe suína africana levou a uma redução de 14 milhões de toneladas na produção de proteína chinesa. “Apesar do potencial aumento de curto prazo para as exportações brasileiras de proteínas, esperamos que o ASF continue sendo o principal impulsionador do mercado global de proteínas”, avaliam.

Aliás, durante painel realizado pelo Credit Suisse na última quarta-feira (29), os principais produtores de proteína do Brasil disseram que a epidemia de coronavírus poderia até aumentar a demanda por alimentos produzidos no Brasil, especialmente nos países asiáticos. O CEO da BRF, Lorival Luz, disse que isso pode estar relacionado a uma maior demanda por segurança alimentar. Já o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, disse que uma comparação com o surto de SARS em 2003 não pode ser feita, pois, naquela época, o governo chinês restringia as vendas de animais vivos e o país importava mais. Porém, de acordo com o Bradesco BBI, no saldo final, não haverá impacto do coronavírus dentro das empresas do setor. Os analistas seguem com recomendação outperform (desempenho acima da média) para as ações da BRF (BRFS3) e JBS (JBSS3), com preços-alvos respectivos de R$ 47 e R$ 37.

 

 

*Do Informoney

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Vídeo: Damares discursa em evento no Chile e plateia vira de costas em protesto

A ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, foi alvo de protestos durante a 14ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe, no Chile. Enquanto Damares discursava, um grupo de mulheres na plateia se levantou e ficou de costas para ela.

O caso aconteceu na noite de ontem. Em vídeo que circula nas redes sociais, é possível ouvir a ministra brasileira falando sobre o combate à violência contra a mulher no Brasil e ver parte do público de pé e de costas. Damares continuou discursando mesmo assim.

A reportagem do UOL procurou o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos para comentar o caso e aguarda posicionamento.

No Twitter, opositores e críticos ao governo e à ministra repercutiram o ocorrido. “Damares Alves foi ignorada pela sociedade civil presente na XIV Conferência Regional da Mulher da América Latina e Caribe há pouco, na sede da ONU, no Chile”, escreveu a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP).

 

 

*Com informações do Uol

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Pandemia do coronavírus: OMS decreta emergência sanitária global, surto sem precedentes

Entidade afirma que se opõe à aplicação de restrições de viagem e de comércio contra a China e apresenta lista de medidas que cada país terá de adotar.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) decreta uma emergência sanitária global por conta do novo coronavírus. A decisão foi tomada nesta quinta-feira, em Genebra, depois de uma reunião entre especialistas e os governos dos países afetados. Por dias, Pequim pressionou para que a declaração não fosse realizada. Mas, para a OMS, o surto é “sem precedentes”.

A entidade alerta ainda que não há necessidade de restrição de viagens e nem de comércio. Mas insiste que a declaração é uma forma de apoiar países que não teriam a capacidade de lidar com um eventual surto. “Isso não é uma declaração não confiança com a China”, indicou a OMS. “Esse é o momento para que os fatos prevaleçam, não o medo”, declarou.

A OMS ainda anunciou que vai questionar restrições que países optem por colocar e pedir que governos que busquem essa saída “provem cientificamente” o motivo de eventuais barreiras. Segundo a agência, haverá uma pressão para que restrições sejam reconsideradas. “Esse não é um exemplo a seguir”, declarou a entidade.

“Nós precisamos agir agora para ajudar outros países a se preparar para a possibilidade [da entrada do vírus]”, diz Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “A razão para a declaração não é pelo que está acontecendo na China, mas pelo que acontece nos outros países.”

“Embora o número de casos em outros países seja relativamente pequeno em comparação com o registrado na China, devemos agir juntos. Não sabemos o tipo de dano que esse vírus pode causar se ele se espalhar em um país com um sistema de saúde mais frágil. Por isso, declaro emergência em saúde pública internacional”, declarou Tedros.

A iniciativa tem um forte componente político e ocorre poucas horas depois de as autoridades chinesas divulgarem o maior salto em apenas um dia no número de mortes. Um plano para uma resposta global também foi apresentado, com obrigações que devem ser seguidas por países em todo o mundo.

Até o momento, mais de 7,7 mil casos foram identificados na China, com 170 vítimas fatais. Outros 12 mil casos suspeitos estão sendo examinados e, no total, 88 mil pessoas estão sendo monitoradas por terem mantido contato com doentes ou parentes. No exterior, são 98 casos em 18 países.

Desde que o sistema foi criado, em 2009, a OMS decretou cinco emergências globais. Uma delas envolveu o Brasil, em 2016, por conta do zika vírus.

Com a medida, a OMS espera gerar uma mobilização global para impedir que novos epicentros do surto possam surgir. A declaração visa também abrir espaço para que recursos sejam destinados para enfrentar a nova emergência, inclusive para preparar países mais pobres e financiar uma vacina.

O principal temor da entidade é de que, fora da China, novos centros de proliferação da doença sejam estabelecidos. Para o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, há o potencial de um surto “muito maior” se novos focos se desenvolverem.

Em pelo menos quatro países, já se conhece casos em que houve uma transmissão entre pessoas que não estiveram na China. O último deles foi registrado nos EUA. No Japão, as autoridades confirmaram que houve transmissão entre pessoas que sequer apresentaram sintomas. Dentro da entidade, fontes confirmam à coluna que se a OMS tiver de lutar contra várias frentes ao mesmo tempo, o risco é de que a resposta tenha sérias dificuldades para frentes ao mesmo tempo, o risco é de que a resposta tenha sérias dificuldades para frear a proliferação da doença.

Medidas

A emergência, portanto, significa que governos de países com casos já confirmados, países com fronteiras com a China e mesmo aqueles apenas com ligações aéreas terão de adotar medidas de controle.

Para países como o Brasil, aeroportos e portos precisam realizar um intenso controle. Há também recomendações detalhas de protocolo sobre o que fazer com casos suspeitos e com casos confirmados da doença.

Atualmente, porém, apenas 32 países de um total de 194 estão conduzindo o monitoramento de quem entra em seus territórios.

Outro objetivo é ainda o de harmonizar as respostas da comunidade global. Sem uma orientação da OMS, cada governo está adotando medidas diferentes para lidar com a potencial crise. A Rússia, por exemplo, mais de 4 mil quilômetros de sua fronteira com a China, enquanto outros governos cortaram as ligações aéreas e até um barco com seis mil pessoas foi impedido de desembarcar na Itália por conta de um caso suspeito.

A entidade quer, agora, que as medidas tenham uma lógica científica e que não se use o vírus politicamente. Também há uma forte pressão por parte da China para que a OMS se posicione contra medidas consideradas como “exageradas”, o que aprofundaria a crise econômica e de confiança numa das maiores economias do mundo.

Política e pressão

A declaração ocorre uma semana depois de a agência de saúde da ONU alertar que era “cedo demais” para decretar a emergência. Há sete dias, a entidade não conseguiu um consenso entre os seus especialistas sobre a necessidade de se decretar a emergência. O encontro ainda foi marcado por uma forte pressão da China, temerosa de que tal iniciativa da OMS resultaria em um golpe contra a credibilidade do país.

Xi Jinping, já questionado pela crise política em Hong Kong e Taiwan, veria a declaração como um fator extra de enfraquecimento de seu poder.

Para não dar uma impressão internacional de que desconfiava da capacidade da China de conter o vírus, Tedros viajou até Pequim para se reunir com Xi. “Tivemos uma conversa franca”, contou.

Ao retornar para Genebra, o chefe da OMS insistiu em elogiar o governo chinês e dar a mensagem de sua entidade tem plena confiança no trabalho feito pelo presidente do país.

Não por acaso, na OMS, apesar da pressão internacional e de críticas internas, a ordem é a de prestar todas as homenagens, elogiar explicitamente a China por suas ações e garantir que não há influência política nas decisões da entidade.

“O fato de termos apenas 80 casos no exterior é por conta das medidas que o governo chinês tomou para evitar as exportações de casos”, disse Tedros. “E eles estão fazendo isso às custas de sua economia e sociedade”, destacou o etíope.

“Nunca vimos a escala de resposta como existe na China, com recursos e altamente organizadas. O desafio é grande, mas a resposta tem sido impressionante”, completou Mike Ryan, chefe do programa de emergências da OMS.

Na China, porém, vozes cada vez mais claras alertam para o fato de que houve uma demora para que o governo reconhecesse o problema.

 

 

*Jamil Chade/Uol