Uma das coisas que mais chamam a atenção nas duas últimas pesquisas Ipec e Datafolha, além da possível vitória de Lula no primeiro turno e da queda vertiginosa de Bolsonaro, ampliando ainda mais a distância entre os dois principais candidatos, é o colapso da chamada terceira via.
Ou seja, o sonho da mídia ter seu candidato está oficialmente melado. Quem imaginava que Moro disputaria uma fatia do eleitorado, já entendeu que não se faz um candidato de véspera, o máximo que se consegue é um foguinho de palha dar uma fumacinha, mas que, em seguida se transforma numa samambaia crescendo para baixo.
A terceira via oficial da mídia, todos sabem, estava focada em três personagens do próprio mundo bolsonarista, Mandetta, ex-ministro da Saúde de Bolsonaro; Moro, que além de prender Lula para Bolsonaro vencer, foi ministro da Justiça e Segurança Pública; e Dória, que se elegeu como braço direito de Bolsonaro em São Paulo. Dos três, Mandetta já pulou fora, Dória não pediu a boia por orgulho ou alguma estratégia inútil, e Moro está andando em círculos ali na zona da terceira divisão na beira do barranco.
Sim, porque a terceira via não passa de um campeonato de cabeça de bagre da terceira divisão de times de cascudo, mostrando que a mídia não faz a cabeça do eleitor, sobretudo para construir alguma coisa. Isso, sem dizer do retumbante fracasso da mesma mídia que pretendia varrer não só Lula, mas o PT do mapa político brasileiro.
O que se diz aqui, grosso modo, está baseado apenas nos números apresentados pelo Ipec e Datafolha.
Qualquer cientista político que honre seu nome, saberá muito bem explicar por que esse castelo de milho, que jurava ser capaz de fazer a cabeça do eleitor e quebrar a coluna vertebral da esquerda, vai dizer que nem de voo da galinha esse troço chamado terceira via pode ser classificado.
Assim, dificilmente os barões da mídia seguirão gastando vela com defunto ruim. E a tendência é a de que esse campo, que é por si só uma abstração, seja lembrado apenas pelo vexame, ao velho estilo da volta dos que não foram.
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A mídia nunca falou mal de Mandetta, menos ainda falou bem para ser candidato à presidência da República. Por isso, estava pra lá de desenhado que sua candidatura havia flopado.
Provavelmente, ele será elenco de apoio de Moro ou de Dória como já estava previamente combinado.
O fato é que Mandetta não tem discurso, sequer de saúde pode falar, já que aquele papel de bom moço vestido com o coleto do SUS, não passava de figuração.
Até os mais bobocas dos mortais sabiam que Mandetta era um ponta de lança da saúde privada, melhor dizendo, alguém que, como deputado, sonhava em privatizar o SUS, como queria a máfia mais radical do jaleco branco.
A desimportância de Mandetta é tanta que, sua saída da disputa eleitoral, não altera absolutamente nada. Todos ficaram no mesmo lugar.
O que não se pode esquecer é que Mandetta, assim como Moro, foi ministro do governo fascista de Bolsonaro, porque ninguém é ministro de um monstro por acidente de percurso.
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Jair Bolsonaro tem muitos defeitos, mas não é bobo. Rapidamente, farejou o apetite de Sergio Moro por sua cadeira. Em dezembro de 2019, o presidente tentou amarrar o ministro a um plano mais modesto: ser seu vice na campanha à reeleição. “Seria uma chapa imbatível”, cortejou.
No mês seguinte, Moro foi questionado sobre a possibilidade de concorrer à Presidência. “Não tenho esse tipo de pretensão”, despistou. Como a resposta soou evasiva, ele ressaltou sua condição de subordinado. “Evidentemente, os ministros do governo Bolsonaro vão apoiar o presidente”, garantiu.
O capitão, que não é bobo, continuou desconfiado. Os dois se distanciaram, e a advogada Rosangela Moro parou de repetir que seu marido e Bolsonaro seriam “uma coisa só”. Na manhã de 24 de abril de 2020, o presidente disse a aliados que o ex-juiz queria seu lugar. Horas depois, Moro deixou o governo com ataques ao ex-chefe, diz Bernardo Mello Franco, de O Globo.
A filiação de Moro ao Podemos não marcou apenas o lançamento de um novo presidenciável. Entrou em cena, agora sem disfarces, um candidato a tirar Bolsonaro do segundo turno. O ex-juiz se apresentou como alternativa para o eleitorado de direita. Reciclou, em outro tom, o discurso vitorioso em 2018.
Além de bradar contra a corrupção, Moro prometeu “proteger a família brasileira” da violência e das drogas. Exaltou “nossos valores cristãos”. Elogiou as Forças Armadas. Disse ser um “bom brasileiro”. Citou trechos da Bíblia e do Hino Nacional.
A cerimônia foi desenhada para vender a imagem de um salvador da pátria. Ao fundo, o telão exibia a bandeira do Brasil. No púlpito, uma seta em verde e amarelo apontava o nome de Moro.
“Nunca tive ambições políticas, quero apenas ajudar”, jurou o ex-ministro. Orientado por marqueteiros, ele sacou uma fábula para tentar justificar a candidatura. Disse que um jovem perguntou, no exterior, se ele havia abandonado o país. “Aquilo foi como um tiro no meu coração. Eu não poderia e nunca vou abandonar o Brasil”, declamou, sem tirar os olhos do teleprompter.
Além de mirar a classe média antipetista, Moro buscou seduzir empresários e banqueiros que perderam o encanto com Paulo Guedes. Prometeu austeridade, reformas e privatizações. Recitou chavões a favor do empreendedorismo e da livre iniciativa.
O presidenciável iniciou a campanha ao lado de outros bolsonaristas arrependidos, como os ex-ministros Henrique Mandetta e Santos Cruz. O general, influente no Exército, arrastou um pelotão de militares da reserva.
Os rapazes do MBL e a deputada Joice Hasselmann, ex-líder do governo, também marcaram presença. Até a bancada da cloroquina subiu no palanque. Ao fim do discurso, Moro foi festejado pelos senadores Eduardo Girão e Marcos do Val, paus-mandados do Planalto na CPI da Covid.
O ex-juiz não esboçou nenhuma autocrítica sobre o passado recente. Prometeu livrar o país dos “extremos”, como se não tivesse ajudado um extremista a se eleger. Citado como nova opção da “terceira via”, Moro representa, na verdade, a segunda via do bolsonarismo. Por isso mesmo, tem boas chances de dividir a direita e tirar o capitão do páreo.
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Não, não falo aqui apenas dos tucanos, Dória e Leite. Mandetta e Ciro, seguem, cada um a seu estilo, a mesma pagada. Moro, nem isso.
O figurino de lobo solitário não veste essa turma.
Na verdade, os apostadores da terceira via, não sabem em que os candidatos a candidatos podem ser úteis.
Falar em Deus, combate à corrupção, família e armas, não surte efeito algum.
Bolsonaro talhou todos esses truques eleitoreiros depois que fez o que fez, ou o que não fez, na pandemia e na economia.
Todos esses sofismas políticos estão desidratados depois de quase 3 anos de governo Bolsonaro.
Como colocar emoção na fala desses pálidos candidatos sem um mínimo de inspiração? Ninguém sabe, ninguém nem se atreve a palpitar.
Dória vai para a televisão mostrar ao povo como fazer o seu chá?
Eduardo Leite vai confiar seus sentimentos à população e acha que isso basta?
Mandetta vai falar de pandemia quando o país estará totalmente livre dela?
Ciro continuará na sua gastura pessoal tentando pintar Lula e Dilma com as cores que escolheu, se isso só fez piorar sua colocação nas pesquisas?
Todas essas figuras representam candidaturas mortas. No máximo, serão candidatos caranguejos andando de lado, ou candidatos Coalhada com seu pique no lugar.
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A tradução dessa terceira via está nos padrinhos que conhecemos e, sobretudo, no triste e sórdido quadro que sonham para o país.
O Estado sempre foi pensão vitalícia da turma da Lei do Gerson.
Se sacarmos o catálogo histórico, veremos que esse processo se repete abundantemente em todos os governos de direita.
Isso já é parte de nossa civilização de compadrios e, lógico, patrimonialismo em estado puro. É só ver de onde saiu a grana do super parque gráfico do Globo na era FHC.
Essa será sempre referência política dessa gente, é cultural. Não tem lado B. Por isso a terceira via não existe, o que existe é a velha estrada secreta que leva aos cofres públicos a elite brasileira e seus lacaios, da qual muitos são parte.
A terceira via é tão melancólica que nem candidato tem. Alguém já viu isso?
A referência política de Moro, Dória, Mandetta, Ciro e mais uma penca que compõem esse orfeão desafinado, inventado pela mídia, é nenhuma.
Só canta o refrão de sempre, nem extrema esquerda, nem extrema direita, como se no Congresso esses picaretas não somassem vozes com Bolsonaro. através de seus sócios dentro daquele pardieiro.
Essa turma vai embrulhar com papel brilhoso o próprio genocida para lhe dar um aspecto mais temperado, e vai sim requentar o lixo e apoiar com gosto a cavalgadura.
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A essa altura dos fatos, não venham cotizar a direita com essa geografia marota.
Bolsodória foi o principal slogan do Dória para deixar bem claro que era tão canalha quanto e pensava exatamente igual ao genocida em exaltação à ditadura, torturadores, criminosos que serviram ao regime de exceção. Tanto que, mesmo negando,no programa Roda Viva, Dória repetiu, com outras palavras, o bordão que os bolsonaristas assumiram como mantra, “bandido bom é bandido morto”.
Mesmo sendo este o slogan de sucesso da campanha eleitoral utilizada por José Guilherme Godinho, o Sivuca, para deputado estadual do Rio de Janeiro, Bolsonaro é a própria personificação desse slogan que Dória reproduziu. Isso, sem falar da disputa nefasta com Guedes para saber quem é mais liberal e privatista. Não dá para saber aonde começa um e termina o outro, pois são literalmente sacos de estrume da mesma farinha.
Mandetta, um dos mais entusiasmados deputados golpistas que, com um sorriso largo, ergueu o cartaz escrito “Tchau Querida”, é o mesmo que vivia aparecendo com o colete do SUS em suas coletivas quando ministro da Saúde, mas que, em nome dos interesses da indústria privada da saúde, lutou, como o anão moral que é, pelo fim do Sistema Único de Saúde.
Não foi sem motivos que ele virou ministro da Saúde de Bolsonaro. Ninguém é parceiro de um genocida por acidente.
Lógico que aqui não se vai perder tempo com um calhorda, cretino chamado Sergio Moro, o super ministro de Bolsonaro que trocou as pastas da Justiça e Segurança Pública e a eleição de Bolsonaro pela cabeça de Lula, num acordo amarrado por Paulo Guedes bem antes da eleição.
O resto da história, todos já sabem através da Vaza Jato e do próprio STF que o classificou como “juiz parcial”, que significa, juiz vigarista, safado, corrupto e ladrão.
Tudo isso para terminar melancolicamente demitido, mesmo depois de ter bancado o babá do clã Bolsonaro.
Ciro Gomes, não tem graça comentar. Ele se transformou numa caricatura burlesca do próprio Bolsonaro com seus ataques baixos a Lula e Dilma, reproduzindo os bordões que mais agradam os bolsonaristas, mostrando que tipo de bisca o sujeito virou com o seu piriri, pororó.
De resto, se juntar Simone Tebet, Eduardo Leite e Amoedo, não dá fubá para fazer um mingau ralo.
Trocando em miúdos, essa gente toda é apenas uma xepa podre engolível do próprio genocida a quem, agora, dizem ser contra. Basta olhar para os tais movimentos que querem rebocar essas malas, para concluir que, diante da população, estão com os quatro pneus arriados, sucateados. Daí aquele traque seco que deram na Paulista no último dia 12.
Não é por acaso que essa turma toda tem apoio da mídia golpista.
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Apinhado de banqueiros e rentistas, o chá das quatro ontem na Paulista, ainda teve Dória dançando para desmoralizar ainda mais o sarau nababo.
No convescote-cívico-ecumênico da terceira via, tinha mais candidatos do que público. Amoedo, Ciro, Mandetta, Tebet, Dória e mais uns 10. De público mesmo, somente uma meia dúzia.
Essa história de frente ampla, na verdade, só mostrou que é uma frente estreita, minúscula, raquítica e falida.
Assista:
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Não bastasse Bolsonaro ter que lidar com a informação de que, depois de Roberto Jefferson, o próximo da fila rumo à cadeia, por ordem de Alexandre de Moraes, é Carluxo, vem a notícia de que o TSE tem condições reais de cassar a chapa Bolsonaro-Mourão.
Lógico que a turma da terceira via está vibrando com essa possibilidade.
O grande problema desses ex-bolsonaristas que ajudaram a criar o monstro e que se proclamam terceira via, é que o eleitorado não quer saber de nenhum dos nomes postos nem de graça, porque sabe que fora do discurso, o conteúdo de Dória, Mandetta, Moro e cia, é exatamente o mesmo de Bolsonaro.
Aliás, a turma da terceira via nem toca nos assuntos, preço do gás de cozinha, gasolina, sexta básica, pobreza e miséria, porque simplesmente apoiaram todas as pautas antipobre, antipovo do governo Bolsonaro, pautas decalcadas dos governos de FHC.
Mas não deixa de ser uma boa notícia até para os modorrentos da terceira via o fato de o TSE admitir que há sim condição legal de, numa única tacada, cassar Bolsonaro e Mourão juntos, abrindo assim caminho ao pleito presidencial para um desses nomes que tentam se firmar como possibilidade de uma terceira via, o que, na prática, é inexistente, pois estes estão, como sempre estiveram, a serviço do mercado e contra o povo brasileiro.
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A pedido do presidente, general mandou que todas as declarações da pasta fossem feitas no Planalto, em movimento para retirar protagonismo de ex-ministro.
Por ordem do presidente Jair Bolsonaro, o então ministro da Casa Civil e general Braga Netto enquadrou o Ministério da Saúde e ordenou que todas as declarações sobre a pandemia da Covid-19 fossem feitas dentro do Palácio Planalto.
O militar ainda avisou que qualquer nota à imprensa deveria passar pelo aval da Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência para “unificação da narrativa”.
A ordem de 23 de março de 2020 está registrada em documentos entregues pela Casa Civil à CPI da Covid no Senado. O ofício foi direcionado, à época, ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, no momento em que Bolsonaro e o ex-deputado federal davam orientações opostas sobre o combate à pandemia.
Antes da mudança, a Saúde fazia apresentações diárias sobre a crise com membros da cúpula da pasta, que tiravam dúvidas também sobre as características da doença e as melhores formas de evitar o contato. Nessas falas, a equipe de Mandetta recomendava evitar aglomerações e reconhecia que a crise sanitária poderia ser grave.
A medida tomada por Braga Netto foi um dos mais agressivos movimentos do Planalto para tentar esvaziar as atividades do Ministério da Saúde na gestão de Mandetta.
Bolsonaro já minimizava os riscos da Covid-19 e boicotava as medidas de distanciamento social decretadas por prefeitos e governadores. Em 15 de março de 2020, o presidente havia ignorado orientações da Saúde para se aglomerar com apoiadores em manifestação que lançou as bases do negacionismo do governo na pandemia.
No documento entregue à CPI, Braga Netto informava à Saúde, a pedido de Bolsonaro: “Todas as coletivas de imprensa dos Ministérios ou Agências Federais sobre o COVID 19 (sic) deverão ser realizadas no Salão Oeste do Palácio do Planalto”.
A ordem foi cumprida em 30 de março, quando o Ministério da Saúde registrava 34 mortos pela Covid-19. O Palácio do Planalto convocou a imprensa para acompanhar declaração de ministros sobre a pandemia, liderada por Braga Netto.
O general negou, neste dia, que havia chance de Bolsonaro demitir Mandetta, o que aconteceria em 16 de abril. “[Quero] deixar claro para vocês: não existe essa ideia de demissão do ministro. Isso está fora da cogitação no momento”, disse Braga Netto.
Apesar de minimizar o comportamento de Bolsonaro na pandemia à época, o titular da Saúde reagiu com ironia na entrevista ao lado do general. “Vamos lá, em política, quando a gente fala ‘não existe’, a pessoa já fala ‘existe’.”
Mandetta disse à Folha que a mudança de local das declarações foi uma “tentativa atabalhoada” do Planalto de assumira a liderança do combate à pandemia. “Demoraram para perceber o tamanho da crise”, disse ele, que agora articula candidatura ao Planalto.
Para o ex-ministro, a ordem ainda sinalizava a transição, na cúpula do governo, de negar a pandemia para passar a ter raiva de quem divergia das posições do presidente.
“Desde o começo foram mal. Primeiro, negaram. Depois ficaram com raiva. Aí passaram a esperar por milagre, com a cloroquina, e agora é a depressão que estamos vendo. Eles estavam na fase da raiva de quem dá a notícia”, disse
Ainda irritava Bolsonaro o protagonismo de Mandetta na crise sanitária. O ex-deputado passou a receber destaque diário na imprensa por declarações sobre a pandemia e elogios de desafetos do presidente, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
As falas de Mandetta soavam como um contraponto a Bolsonaro. O presidente passou a dar sinais de que demitiria o ministro. Em 5 de abril de 2020, ele disse que integrantes de seu governo “viraram estrelas”, que a hora deles iria chegar e que não tinha medo de “medo de usar a caneta”.
Mandetta afirma que o “clima já era azedo” quando Braga Netto enquadrou a Saúde. O próprio general teria pedido para ele não participar mais das declarações à imprensa sobre a pandemia, segundo o ex-ministro.
“Eles queriam despersonalizar. Mas quando você tem uma emergência sanitária, o ministro da Saúde é o coordenador. Eu estava exercendo o que mandava este papel”, afirmou.
Em nota, a assessoria de Braga Netto disse que é atribuição da Casa Civil a coordenação de medidas interministeriais. A pasta disse ainda que a mesma orientação foi dada a outros ministérios.
Nomeado ministro da Defesa em março de 2021, o general da reserva agora está no centro de crise institucional por ter feito defesa de mudança no sistema de votação com a urna eletrônica.
A CPI da pandemia tem requerimentos para chamar Braga Netto. Ele foi coordenador do comitê de crise do Planalto sobre a Covid-19. Os senadores, porém, desistiram de votar o pedido no último dia 3, entre outras razões, por receio de ampliar a crise institucional entre os Poderes.
Após a Saída de Mandetta, o Planalto ampliou a influência sobre decisões do Ministério da Saúde. As entrevistas da pasta até voltaram a ser feitas com mais frequência dentro do ministério, mas sob comando dos militares que ocuparam o órgão na gestão de Eduardo Pazuello.
Em abril, a pasta passou a divulgar o “Placar da Vida” e destacar o número de recuperados da doença para tentar minimizar o avanço de infectados e mortos.
No mês seguinte, a Saúde divulgou orientações estimulando o uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid, como a cloroquina, contrariando recomendações dos técnicos da própria pasta.
O ministério ainda tentaria restringir a divulgação do número total de casos e mortes pela Covid, iniciativa derrubada após forte pressão do Congresso e do Judiciário.
Mandetta tornou-se um dos alvos de ataques de Bolsonaro. Na versão do presidente, o ministro foi omisso ao recomendar que pessoas esperassem os sintomas da Covid-19 para buscar ajuda médica. Bolsonaro defende o uso precoce de medicações sem eficácia contra o vírus.
Fora do governo, o ex-ministro mudou o tom e passou a apontar o presidente como ator principal das falhas em ações de combate à pandemia. Ele disse à CPI da Covid que o mandatário adotou discurso negacionista que pode ter contribuído para espalhar mais rapidamente a doença.
Mandetta também apontou desprezo do presidente pela ciência. “Era muito constrangedor para um ministro da Saúde explicar que o ministro da Saúde estava indo por um caminho, e o presidente, por outro”, afirmou aos senadores.
A documentação encaminhada pelo Ministério da Defesa à CPI da Covid, no Senado, confirma que as requisições para aumentar a fabricação de cloroquina pelo Exército foram emitidas para suposto “tratamento do [sic] Covid-19”, e não da malária.
No depoimento que prestou à CPI, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello procurou minimizar a produção da cloroquina pelo Exército, ao dizer que o LQFEx (Laboratório Químico Farmacêutico do Exército) “produz a cloroquina todos os anos, o tempo todo”.
Na sequência das indagações do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Pazuello disse que “a distribuição de cloroquina é normal para malária […] para os indígenas, não para Covid. Nós não fazíamos distribuição… Aliás, eu sou completamente contra distribuição de qualquer medicamento, principalmente cloroquina ou qualquer um, sem a prescrição médica”.
Documento do Exército mostra que produção de cloroquina foi aumentada para suposto “tratamento” da Covid-19, e não da malária Imagem: Reprodução.
A documentação enviada pelo Ministério da Defesa à CPI da Covid no último dia 15 é dividida em duas partes. Na primeira, um ofício assinado pelo ministro Walter Braga Netto, o ministério disse que o laboratório do Exército “atende demandas oriundas do Ministério da Saúde”. À CPI, Pazuello disse que “não dei essa ordem, eu não conheço a ordem” de aumento de produção de cloroquina pelo laboratório do Exército e que ela teria ocorrido em março, ainda durante a gestão do ministro da Saúde Luiz Mandetta.
No ofício à CPI, Braga Netto disse que, “em apoio ao Ministério da Saúde, houve o atendimento da demanda existente, à época do início da pandemia, para produção do medicamento cloroquina, e o LQFEx iniciou a retomada da produção”.
O ministro mencionou a Nota Informativa nº 5/2020, do DAF (Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos), vinculado à SCTIF (Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde) do Ministério da Saúde, “orientando o uso da cloroquina como terapia adjuvante no tratamento de formas graves da Covid-19”. A nota informativa foi emitida ainda durante a gestão de Mandetta.
A segunda parte da documentação enviada pela Defesa é o processo administrativo com mais de 800 páginas que registra os preços e as requisições para aquisição de insumos farmacêuticos destinados à produção de medicamentos para atender tanto “à demanda operacional das diversas unidades do Exército” quanto para “as demandas do Ministério da Saúde”.
Na documentação há pelo menos 14 requisições que citam a necessidade de “produção de cloroquina utilizado [sic] no tratamento do [sic] Covid-19”. Para as compras, foi usado, “em caráter emergencial”, um termo de execução descentralizada de 2019. A malária não é citada em nenhum momento como motivo para a produção da cloroquina.
“Justifico tal solicitação pela necessidade de aquisição do item supracitado para produção de cloroquina utilizado [sic] no tratamento do [sic] Covid-19”, diz a primeira requisição do gênero, datada de 19 de março de 2020, assinada pela chefe da Divisão de Planejamento, Controle e Apoio Logístico da 1ª Região Militar do Comando Militar do Leste, a tenente-coronel Sandra Fernandes de Oliveira Monteira.
Procurado para esclarecer esse ponto, o ministério respondeu à coluna que “os assuntos pautados na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19, no Senado Federal, serão tratados apenas naquele fórum”.
Na resposta à CPI, o Ministério da Defesa disse ainda que o laboratório do Exército “não realiza, por não ser sua missão, qualquer juízo de valor de eficácia de medicamentos, tão pouco da prescrição médica. Os demais Laboratórios, da Marinha e da Aeronáutica, não realizam produção de cloroquina”.