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Bolsonaro perde elites e não ganha povão

“O plano ousado de Bolsonaro, de mexer nos preços do petróleo e em breve no da energia elétrica isola-o das elites. Mas não garante apoio do povão”, escreve a jornalista Helena Chagas sobre a intervenção de Jair Bolsonaro na Petrobras.

Jair Bolsonaro colocou em marcha um plano ousado, apostando no populismo para se cacifar para 2022. Deixou as elites perplexas e os mercados de cabelos em pé ao demitir o presidente da Petrobras para interferir em sua política de preços e agora anuncia que vai botar o dedo na tomada do setor elétrico. Não dá para negar que, aos olhos de quem pagas as contas do combustível, da passagem a da luz, são medidas populares. São duvidosas, porém, as chances disso dar certo.

Dificilmente Bolsonaro conseguirá trocar, a esta altura, o apoio do establishment e dos mercados, com o qual se elegeu e pelo qual tem sido sustentado, pelo apoio das classes médias e baixas que, teoricamente, seriam beneficiadas pelas novas medidas — o que parece ser o que pretende. Antes de tudo, porque é preciso dar tudo certo. Alguém acredita nisso, vindo de um presidente que não agiu como precisava na pandemia, na vacina, no aumento do preço dos alimentos? Até agora, felizes, mesmo, parece que só os caminhoneiros.

A perda do apoio dos mercados e de boa parte das elites, por sua vez, tem um custo alto para um presidente que erigiu seu governo sobre as fundações de uma agenda liberal, comandada por um ministro com o perfil de Paulo Guedes.

O edifício nunca subiu, e essa agenda vinha perdendo paulatinamente a credibilidade junto ao establishment. Mas o que era um processo gradativo, levado na base do “me engana que eu gosto”, ficou agudo. Bolsonaro dinamitou essas fundações. O prédio só não caiu porque nunca existiu, mas a ideia de que, com ele, só restará um imenso vazio — de projeto, de esperança — se propagou entre quem estava ali.

A primeira consequência política que se desenha é que Jair Bolsonaro perderá a ajuda dessa turma do mercado e dos expoentes do pensamento liberal para a reeleição. Muito provavelmente, esse pessoal buscará outra solução no campo da direita ou da centro-direita. João Dória? Luciano Huck? Sabe-se lá.

Valeria a pena, para o presidente, se ele se tornasse um candidato das massas, depois de baixar os preços dos combustíveis, da eletricidade e injetar mais algumas parcelas do auxílio emergencial na veia dos mais pobres. Não o será.

Num país em que as mortes pela Covid-19 estacionaram numa média móvel de mais de 1.000 pessoas por dia, os sistemas de saúde entram em colapso e a vacinação da população anda a passos de tartaruga, porém, vai ser muito difícil criar um clima de boa vontade. A imagem de um governo inepto e incompetente, grudada a um presidente insensível com as mortes e com a dor da população, fica cada vez mais difícil de apagar. Donald Trump que o diga.

*Helena Chagas/247

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Economia

Reação à intervenção: ETF brasileiro EWZ cai 6% e ADR da Petrobras despenca 17% no pré-market da Bolsa de Nova York

Pregão desta segunda-feira promete ser movimentado em meio ao noticiário indicando maior intervenção do governo nas estatais.

O EWZ, principal ETF brasileiro negociado no mercado americano, que replica o índice MSCI Brazil, registrava queda de cerca de 5% no pré-market da Bolsa de Nova York nesta segunda-feira (22). Às 8h45 (horário de Brasília), a baixa era de 6,22%, em meio ao anúncio do governo de trocar o CEO da Petrobras (PETR3;PETR4) e ainda indicar intervenção no setor de energia elétrica. Os papéis da Petrobras PBR (equivalente às ações ordinárias) tinham uma derrocada de mais de 17% no mesmo horário: a derrocada era de 17,13%, a US$ 8,31. Já os PBR-A tinham baixa de 14,29%, a US$ 8,70.

Após a indicação do governo do general Joaquim Silva e Luna para presidência da Petrobras, em substituição a Roberto Castello Branco, a percepção de risco para as ações da Petrobras, que já estava alta por conta das críticas de Jair Bolsonaro ao reajuste de combustíveis e ao CEO da estatal, aumentou ainda mais, levando os ADRs (recibos de ações, na prática, os papéis negociados nos EUA) a caírem mais de 9% no after market na sexta após terem registrado uma queda de mais de 7% no pregão regular. O EWZ, principal ETF brasileiro negociado no mercado americano, que replica o índice MSCI Brazil, já tinha caído 3,64% no after market na sexta.

Soma-se a isso mais declarações do presidente Bolsonaro que pode impactar outras ações. Em conversa com apoiadores no sábado (20), após dizer que decidiu afastar Roberto Castello Branco porque os reajustes dos preços dos combustíveis este ano foram uma “covardia”, o presidente prometeu agir também no mercado de energia elétrica. “Vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema também”, afirmou, o que pode impactar também os papéis da Eletrobras (ELET3;ELET6).

*Com informações do Infomoney

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Política

Comissão de Valores Mobiliários pode abrir investigação sobre divulgação de troca na Petrobras

Mudança anunciada por Bolsonaro em rede social levou empresa a perder R$ 28 bilhões em valor de mercado no Brasil.

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) analisa a abertura de um processo administrativo para investigar a nomeação do general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras, que teve forte impacto sobre o valor das ações da estatal.

O objetivo é avaliar se o anúncio seguiu as regras de divulgação de fatos relevantes que possam ter impacto no valor das ações das companhias. O anúncio da troca foi feito oficialmente no fim da tarde de sexta (19), mas na quinta (18), o presidente Jair Bolsonaro já havia sinalizado a mudança.

Entre as primeiras declarações de Bolsonaro sobre “mudar alguma coisa” na estatal e o anúncio oficial, o valor de mercado da Petrobras despencou R$ 28 bilhões na bolsa de valores de São Paulo. Após a divulgação do novo nome, os papéis continuaram caindo em Nova York.

Oficialmente, a CVM diz apenas que não comenta casos específicos e “acompanha e analisa informações envolvendo companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário”.

Mas a abertura de processos em casos como esses é um procedimento usual para avaliar o cumprimento das regras que combatem possíveis abusos e assimetria de informações entre os diversos participantes do mercado.

No artigo segundo da Instrução CVM 358, a autarquia define como fato relevante informações que possam influir “na cotação dos valores mobiliários [ações]” e na “decisão de comprar, vender ou manter tais títulos”.

“Para assegurar o acesso ordenado e equitativo do mercado a tais informações, a Instrução CVM 358 imputa ao DRI [diretor de relações com investidores] das companhias abertas o dever de divulgá-las, de modo claro e preciso, pelos canais oficiais de comunicação, além de zelar pela sua ampla e imediata disseminação”, escreveu a autarquia em comunicado de 2016 sobre o tema.

No comunicado, a CVM diz que é atribuição do diretor responsável averiguar de forma proativa a ocorrência de divulgações que não sigam os procedimentos estabelecidos.

Na quinta, o presidente sinalizou a mudança durante sua live semanal em redes sociais. Reclamou de reajustes nos preços da gasolina e do diesel feitos no dia anterior e afirmou que “alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias”.

“Tem que mudar alguma coisa, vai acontecer”, repetiu.

Na sexta, em evento em Pernambuco, voltou a tocar no tema, repetindo que não tinha o interesse em interferir na gestão dos preços mas repetiu que promoveria mudanças na estatal. “Anuncio que teremos mudança sim na Petrobras”, disse.

Naquele momento, as ações já derretiam nas Bolsas, com investidores temendo intervenções na política de preços criticada por Bolsonaro. O presidente da República confirmou a mudança em sua página do Facebook às 20h21. A Petrobras arquivou comunicado sobre o tema na CVM às 21h01.

No texto, dizia que recebeu ofício do MME (Ministério de Minas e Energia) solicitando a convocação de uma assembleia de acionistas para nomear Silva e Luna na presidência do conselho de administração da empresa, que é a instância responsável por aprovar o nome do presidente da companhia.

Silva e Luna vai substituir Roberto Castello Branco, economista indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes para comandar a estatal desde o início do governo Bolsonaro. O mercado esperava que o executivo fosse reconduzido para novo mandato de dois anos em reunião do conselho desta terça (23).

Bolsonaro decidiu pela troca após se irritar com declarações recentes de Castello Branco, que disse que a insatisfação dos caminhoneiros não era problema da Petrobras. Neste sábado, o presidente da República afirmou que precisa “trocar as peças que porventura não estejam dando certo”.

Afirmou ainda que fará novas trocas no governo e que pretende “meter o dedo” também no setor elétrico, diante das altas tarifas de energia no país.

*Nicola Pamplona/Folha

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Preços de combustíveis: apenas uma pequena peça da destruição setorial

Será que o presidente Bolsonaro resolveu dar uma reviravolta na sua política privatista e voltada para o mercado, intervindo na direção da Petrobras, demitindo seu presidente, muito ligado ao Ministro Guedes e defensor de uma política de mercado para privatização acelerada e preços internacionais instantâneos na companhia?

Ninguém sabe, mas que a demissão do Castello Branco não é uma coisa trivial, com certeza não é.

A ação de Bolsonaro, na prática, questiona alguns princípios fundamentais da ideologia ultraneoliberal que vinha seguindo, como o respeito à governança das empresas com ações negociadas nas bolsas, a primazia do privado sobre o estatal e o abandono de intervenções governamentais em assuntos diretamente produtivos. Tirar o presidente da Petrobras, por discordar da política de preços, ameaça o programa de privatizações, pois afasta potenciais compradores de refinarias e tem um enorme efeito sobre o comportamento especulativo com as ações da Petrobras, uma das principais entre as negociadas na Bolsa de Valores do Brasil, com repercussões em Nova York, afetando os interesses de grandes fundos financeiros internacionais.

A intervenção coloca os membros do Conselho de Administração (CA) da empresa, muitos deles representantes de fundos de investimento, em xeque, ao mesmo tempo que as autoridades do Ministério de Minas e Energia tentam criar uma narrativa que não mudará a política de preços, nem a venda das refinarias. Os governos Temer e Bolsonaro reduziram drasticamente a presença de representantes diretos do governo na composição do CA da Petrobras, escolhendo mais representantes do mercado financeiro eleitos com o voto do Governo. Na próxima semana, o CA se reunirá e se saberá qual a sua posição, de apoio ao governo ou de renúncia.

A nota pública da direção da Petrobras reconhecendo o recebimento da indicação do general Joaquim Silva e Luna afirma que Castello Branco tem mandato até 20 de março de 2021, quase numa insubordinação frente às ordens de Bolsonaro, dizendo que recebeu a solicitação de convocação de Assembleia Geral Extraordinária para realizar as mudanças, sem marcar sua data.

Se a Presidência da Petrobras será mudada, qual o futuro das privatizações de refinarias e da política de preços? Era o próprio CA, representando os interesses dos acionistas de curto prazo e dos fundos financeiros, e até de grupos de importadores de derivados, que vinha pressionando a diretoria da Petrobras para acelerar os reajustes dos preços dos combustíveis e agora se vê frente a uma mudança de presidência da empresa, com indicações de um general, ex-ministro da Defesa do governo Temer, de um maior alinhamento com o governo, o que pode significar maiores dificuldades para implementar, tanto a continuidade da política de Paridade de Preços de Importação (PPI), como a própria privatização das refinarias. Como dizem alguns, a Presidência da Petrobras exige um técnico, mas com perfil de negociador e sensível às questões sociais, dado o tamanho e importância da empresa para a economia brasileira. Não pode ser apenas um tecnocrata do capital financeiro.

Para reduzir a crise dos aumentos continuados dos preços de gasolina, diesel e GLP o governo também anunciou medidas como a redução dos impostos federais sobre os combustíveis, para tentar conter os aumentos na bomba, pressionados pela elevação dos preços internacionais do petróleo e depreciação do real com elevação da taxa de câmbio. O ministro da Economia sabe que essas medidas precisam ser seguidas ou da redução de despesas equivalentes ou de ampliação de receitas sob pena de crime de responsabilidade do presidente e de violações da Lei de Responsabilidade Fiscal. Com a crise fiscal, essas compensações prometidas são de complexa execução.

Já em maio de 2018 (Gabrielle de Azevedo, 2018), alertávamos que as medidas paliativas, com base em redução temporária de impostos, tomadas pelo governo da época para enfrentar a greve dos caminhoneiros, eram insuficientes e porque “na origem da crise estão as variações diárias dos preços de combustíveis, em um ambiente recessivo com contração da atividade econômica, que baixou a demanda por frete, impedindo o repasse de aumento de custos”.

E terminávamos aquele artigo dizendo:

Alternativas sustentáveis a essa política exigem uma nova política de preços da Petrobras, retomada do refino nacional, consolidação da empresa integrada do poço ao poste, garantia de rentabilidade de longo prazo para os acionistas e enfrentamento dos desafios financeiros com políticas de ajuste longo, com alongamento da dívida e recuperação de investimentos. Isso será possível com o atual governo?

Hoje, a situação se agravou. O governo Temer, e depois o governo Bolsonaro, aprofundaram a política de repasse dos preços internacionais para os preços domésticos, sem considerar as diferenças entre os mercados de vários países e a realidade do mercado de combustíveis no Brasil. Os projetos de expansão da capacidade de refino foram paralisados e ampliou-se o market share de derivados importados na oferta nacional dos produtos.

Enquanto nos EUA, por exemplo, há uma grande pulverização de refinarias independentes que competem entre si, podendo se integrar ou não com redes de distribuição e de varejo, sem nenhum grupo econômico dominante, as exportações de petróleo e gás eram até recentemente controladas pelo governo, que colocava a segurança energética como parte fundamental da política de segurança nacional. Os próprios espaços dos sites das refinarias eram monitorados pelos órgãos de segurança. As grandes empresas internacionais dos EUA eram apoiadas e estimuladas pelas Forças Armadas e pelo Departamento de Estado, em suas políticas de presença nos países produtores, especialmente no Oriente Médio, onde estado e mercado se fundiam no setor de hidrocarbonetos. Como dizíamos naquele artigo de 2018, “para o resto do mundo, o Estado americano é ativo na defesa de suas grandes empresas, enquanto para o mercado interno seu setor petrolífero é dominado por pequenas e médias empresas”. Mesmo no refino, as maiores refinarias e maiores redes dos EUA são de empresas integradas, que combinam sua produção própria de petróleo com a refinação dos derivados, administrando as margens de cada setor internamente às companhias.

A situação brasileira é completamente distinta. As empresas internacionais, especialmente a Shell e Exxon têm presença centenária no país na comercialização de derivados, atuando na distribuição, sem grandes investimentos no refino. A Petrobras surgiu para consolidar uma posição de garantia de abastecimento dos derivados em todo o país, construindo um parque de refino capaz de atender grande parte da demanda nacional, montando uma infraestrutura logística que possibilita a entrega dos produtos em qualquer parte do território nacional. É evidente que não há mais monopólio legal do abastecimento, mas, de fato, a Petrobras detinha uma posição dominante, quase um monopólio dos derivados.

Essa estrutura de mercado tem bônus e ônus. O poder de mercado da Petrobras obstaculizava a entrada de novos concorrentes, mas seu compromisso com as necessidades nacionais possibilitava uma política de preços que isolava parcialmente as flutuações dos preços internacionais dos preços dos derivados vendidos no mercado brasileiro. Na distribuição, a Petrobras detinha um poder de mercado mais ou menos correspondente a um terço do mercado, com a Shell sendo a segunda maior distribuidora, em associação com a maior produtora de etanol, além de inúmeras distribuidoras privadas, com presença regional importante.

Apesar das redes de distribuição, a legislação brasileira impedia que as distribuidoras também fossem proprietárias dos postos de vendas no varejo, que opera através de mais de 37 mil postos no país. A BR Distribuidora já foi privatizada, com a vendas de suas ações na Bolsa e perda de controle da Petrobras, nome que permanece nos postos, numa espécie de fake news, uma vez que não pertencem mais a uma rede controlada pela empresa.

Os preços das bombas de gasolina expressam o comportamento das margens desses diversos segmentos. Os postos de combustíveis, quase monopólios locais, disputam numa determinada área a determinação de preços finais, com um intervalo de variação relativamente pequeno, dentro de cada distribuidora. As margens das distribuidoras dependem da situação da área atendida por elas, de sua estrutura de custos e da possibilidade de repassar para os postos de varejo as pressões de elevação de seus custos. As refinarias, quase todas da Petrobras, são geridas para otimizar o resultado geral da produção dos diversos tipos de derivados, aproveitando-se de diferentes estruturas das unidades de processo instaladas no conjunto dos sites, que definem a mais eficiente forma de utilizar as diversas correntes de petróleo cru, que ampliem as margens do refino.

As cargas processadas combinam petróleo nacional produzido aqui com petróleos internacionais importados, para compor as melhores correntes capazes de refinar o melhor mix de produtos para atender o mercado nacional e até exportar alguns derivados. A otimização é do conjunto do parque de refino, mesmo que não seja ótimo para todas e cada uma das refinarias. A eficiência sistêmica é maior do que a soma das eficiências de cada uma das unidades. Com a privatização, essa otimização se perde definitivamente, em troca de monopólios privados regionais, sub-ótimos para o conjunto do país.

As relações entre os preços internacionais do petróleo cru e os preços domésticos da matéria prima utilizada pelas refinarias são distintas quando há uma empresa integrada, que produz seu próprio petróleo e a refinaria isolada, que tem que adquirir no mercado sua carga a processar.

O parque de refino da Petrobras foi historicamente construído para processar petróleo leve importado, que o Brasil não produzia. Com o aumento da produção do petróleo brasileiro mais pesado, a empresa, durante os governos Lula e Dilma, fez um enorme investimento nas unidades de processo, para aumentar a capacidade de conversão do petróleo nacional pesado em derivados leves. Esse investimento permitia o processamento do petróleo nacional aos seus custos de produção, dando margens para a Petrobras administrar as margens de seus segmentos de produção de petróleo cru e seu refino. Nos momentos de altos preços internacionais do petróleo cru, as margens do E&P, responsável pela sua produção, aumentavam mais do que compensando as perdas potenciais de não repassar imediatamente o aumento dos custos para os preços dos derivados, refinados pelo segmento de abastecimento da companhia, que tinha prejuízos, mas a corporação como um todo mantinha sua lucratividade.

No caso das compras realizadas no mercado, seja a importação ou a compra de terceiros, o que entra no custo do derivado é o preço de aquisição do petróleo, com os custos cambiais, tributários e de logística incorporados. O preço dos derivados assim é fortemente influenciado pelas variações dos preços do petróleo cru, definido nos mercados internacionais, mas também dependentes da taxa de cambio, que transforma os preços internacionais em custos domésticos.

É preciso também destacar que os próprios preços internacionais do petróleo cada vez dependem mais de movimentações puramente financeiras, com um número de contratos futuros muito maior do que os contratos de entrega física do produto, determinando o que se chama de preço internacional do petróleo, seja o Brent ou WTI, por exemplo. Cada vez mais a especulação puramente financeira afeta o comportamento dos preços do produto, com uma movimentação física muito menor do que se transaciona nos mercados de contratos futuros.

No caso da empresa integrada, que tem produção própria da matéria prima, a precificação é distinta. Do ponto de vista da segmentação contábil, é possível utilizar preços internos de transferência (PIT), com alguma referência a preços internacionais, para contabilizar os resultados diferenciados de quem produz o petróleo e de quem o transforma em derivados para vender ao mercado.

Mas do ponto de vista corporativo, os resultados vão depender das diferenças dos custos de produção do petróleo nacional e dos preços dos derivados vendidos ao mercado. As margens são originadas de diferenças entre custos de matéria prima, e não seus preços de mercado, e os preços que podem ser cobrados dos consumidores dos derivados, depois de refinados.

Uma empresa integrada, portanto, tem maior resiliência para resistir às variações de preços de mercado do petróleo, administrando a melhor maneira de repassar os impactos sobre seus custos, com preços de derivados mais estáveis. Não interessa aos produtores as variações constantes dos preços. A suavidade das flutuações dos fluxos de caixa é um objetivo das empresas produtivas. A volatilidade é boa para especuladores, traders e investidores financeiros. Como dito no artigo de 2018:

Nos momentos em que o preço do petróleo internacional se eleva (ou baixa), o preço de transferência acompanha de forma correspondente, afetando os resultados segmentados. Em relação ao resultado corporativo, no entanto, os custos de produção do petróleo não seguem diretamente os preços de mercado, dependendo muito mais do capital já investido, da produtividade dos campos e dos custos operacionais domésticos, que não seguem instantaneamente as variações do preço do petróleo cru no mercado internacional, apesar de manterem uma relação de longo prazo com este. É por isso que, na empresa integrada monopolista, não é preciso variar a cada dia, ou a cada hora, os preços dos derivados no mercado doméstico, quando eles são produzidos com petróleo nacional.

O que dizer dos acionistas? Essa política de suavização das flutuações dos preços domésticos em relação aos internacionais prejudica ou não o retorno aos acionistas da empresa? Há acionistas e acionistas. Aqueles que estão visando os resultados de curto prazo vão querer que a Petrobras se aproveite ao máximo da volatilidade dos preços internacionais, repassando quase que instantaneamente suas flutuações mundiais para os preços nacionais. É claro que essa disposição não é tão firme nos momentos de queda dos preços globais.

É por isso que outros acionistas valorizam a estabilização dos fluxos de caixa, com aproveitamento do poder de mercado e produção interna para administrar as subidas, reduzindo sua intensidade, mas também compensando as suas quedas, diminuindo a velocidade da descida. Em um mercado com uma empresa amplamente dominante, produtora de grande parte do petróleo a ser refinado dentro do próprio país e pertencendo à própria empresa, essa política acaba aumentando do valor de longo prazo para os próprios acionistas.

Com o aumento das importações de derivados, o mercado brasileiro se torna mais dependente dos preços internacionais, já que o importador tem que arcar diretamente com os preços do seu fornecedor, com os custos de internação acrescidos, que são repassados ao consumidor final brasileiro. A redução do market share da Petrobras reforça essa dependência.

Do ponto de vista tributário, os maiores impostos que recaem sobre os preços dos derivados são importantes para as receitas estaduais. O ICMS, por exemplo, tem no setor de derivados sua principal fonte, sendo o mais importante provedor de recursos fiscais de muitos estados brasileiros. Com uma alíquota percentual do preço final, o ICMS acaba crescendo ou reduzindo, em proporção às variações dos preços dos derivados, mas como percentagem, não pode ser o elemento definidor das variações, que dependem principalmente da política de repasses nacionais das variações internacionais de preços.

Nos últimos anos, o Brasil caminhou na direção de desmontar esse sistema. Como dizíamos em 2018, mesmo que a Constituição estabeleça responsabilidade estatal pelo abastecimento nacional, as mudanças das políticas para o setor nos últimos anos

Retiram dos objetivos nacionais a garantia do abastecimento do mercado doméstico, colocando como meta fundamental para o desenvolvimento da produção ampliar as exportações e, para o refino, a atração de capitais internacionais. Há, portanto, uma escolha deliberada de política setorial para maior dependência de atores internacionais, reduzindo o papel da Petrobras nesse setor, aumentando os impactos da volatilidade dos preços mundiais sobre o mercado doméstico. É uma escolha de política! Escolha equivocada, mas escolha!

Essa escolha é a origem dos problemas dos preços dos combustíveis. Não só foram mudados os objetivos da política nacional, como foram estimulados os registros de novos importadores de derivados, as refinarias foram operadas em níveis de utilização muito abaixo do que poderiam funcionar e a política de privatização por partes da Petrobras quebra a estrutura integrada da empresa, tornando-a principalmente uma grande exportadora de petróleo cru.

A venda de algumas refinarias, juntamente com o parque de terminais, tanques e dutos vai aumentar ainda mais a vulnerabilidade do mercado brasileiro para as flutuações de preços internacionais.

Hoje, com a elevação dos preços do petróleo no mercado internacional, as receitas da Petrobras com sua exportação de petróleo cru aumentam, ampliando seus lucros pois os seus custos de produção são muito menores do que os preços internacionais, ampliando os lucros do E&P, mesmo sem repassar o aumento dos preços dos derivados para o mercado interno. A política de redução da utilização das refinarias e de abrir o mercado para os importadores cria problemas para a ampla utilização dessa política que poderia estabilizar o fluxo de caixa da empresa, mesmo com a queda de curto prazo dos rendimentos do Abastecimento.

Agora, os preços internacionais de petróleo estão em alta, o que pressiona os preços domésticos. A política de repasse rápido dessas flutuações ao mercado interno força os preços domésticos a subir. O governo promete, por dois meses, isentar os impostos federais que incidem percentualmente sobre os preços e quer mudar a forma de cobrança do ICMS, com sua transformação em um valor fixo por unidade vendida dos derivados, reforçando o papel de contribuinte substituto para as refinarias e importadores.

Além de agravar os problemas fiscais – tanto do governo federal como, principalmente, dos governos estaduais –, que já são graves em uma economia estagnada com um ciclo longo de quase paralisação, a isenção não se sustenta se a pressão altista dos preços se mantiver, como parece ser o caso.

A origem do problema é a maior dependência externa, a drástica redução da Petrobras, que passa a ser gerida como uma geradora de caixa de curto prazo, destruindo a fortaleza e os benefícios de sua integração do “poço ao poste, passando pelo posto”. A venda das refinarias é mais um passo a uma completa internacionalização dos preços de combustíveis no país, que abre mão de influir em um importante preço da economia.

Entregue aos acionistas de curto prazo, representantes de fundos de investimento que priorizam a recuperação mais rápida de seus investimentos, mesmo que às custas da destruição do capital da empresa no longo prazo, o governo agora se vê compelido a tentar mudar de rumo, mas sofre as consequências de suas atitudes anteriores que consolidaram esse modelo de descaso com os impactos das decisões sobre a economia nacional. Conflitos se aprofundam entre acionistas e governo, governo e direção da empresa, governo federal e estaduais e os trabalhadores e consumidores que resistem aos preços altos e destruição de uma empresa nacional da relevância da Petrobras.

O que está acontecendo, como acontece na maioria das crises que envolvem o petróleo, é uma disputa de quem se apropria da enorme renda petroleira proveniente das diferenças entre os preços finais e os custos efetivos de produção. Qual a parcela dos consumidores, dos governos, das empresas produtoras, dos distribuidores, dos varejistas e dos trabalhadores será decidida no conflito entre os grupos de interesse, que ocorre nos mercados, nas regulações e nas políticas das empresas privadas e nas orientações das empresas estatais que atuam no setor. As especificidades do petróleo provêm da sua importância estratégica, indispensável para a mobilidade de pessoas e produtos. O petróleo não é uma mercadoria qualquer. A disputa é fortemente política e social. Não será apenas a troca do presidente da empresa ou isenções tributárias de curto prazo que resolverão o impasse. É preciso uma reformulação completa da política para o setor.

*José Sergio Gabrielli – Ex-presidente da Petrobras (2005/2012)/247

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Petrobras: Bolsonaro entre a cruz e a caldeirinha, entre o mercado e os caminhoneiros

Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco e a mídia faz alarido em prol do coveiro do petróleo nacional.

Bolsonaro não é contra os reajustes dolarizados que sugam os brasileiros para servir aos acionistas internacionais.

O problema é que a explosão do preço do diesel mexe com os caminhoneiros que, de base eleitoral, pode se transformar no seu pior pesadelo se a categoria resolver parar o país, como fez com Temer, tendo apoio oportunista de Bolsonaro.

Para a mídia que, certamente, tem interesses contrariados na mudança de comando da Petrobras, não importa se essa política que esfola a economia brasileira funciona como um mata-leão para a maioria dos brasileiros, para ela, os lucros dos acionistas internacionais é sagrado e, mexer no oráculo dos lacaios do nosso petróleo, é um sacrilégio imperdoável.

A mídia só faz entrevista com economistas tucanos que são os próprios idealistas da entrega das riquezas nacionais para defender os papa lucros internacionais. Afinal o golpe em Dilma e Lula que tinha como base a dobradinha Globo e Lava Jato, era pra isso. Roubarem o petróleo dos brasileiros para beneficiar o capital internacional. Golpe que elegeu Bolsonaro que, agora, está entre a cruz e a caldeirinha, entre o mercado e os caminhoneiros.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Bolsonaro demite Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras

Estatal será comandada pelo general Joaquim Silva e Luna, segundo mensagem publicada em rede social.

Jair Bolsonaro anunciou nesta sexta-feira (19) que substituirá o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna. O anúncio foi feito em rede social.

“O governo decidiu indicar o senhor Joaquim Silva e Luna para cumprir uma nova missão, como conselheiro de administração e presidente da Petrobras, após o encerramento do ciclo, superior a dois anos, do atual presidente, senhor Roberto Castello Branco”, diz a publicação.

A nota foi publicada em rede social como uma imagem, com cabeçalho atribuído ao Ministério de Minas e Energia. O texto foi publicado na página do ministério em seguida, quando Bolsonaro já havia feito a divulgação da troca.

Para que a substituição seja concretizada, a indicação ainda precisa do aval do Conselho de Administração da Petrobras. A estatal informou que o conselho tem reunião ordinária prevista para a próxima terça (23) – a pauta do encontro não foi divulgada.

O Conselho de Administração da estatal é composto por até onze membros. Sete deles são indicados pelo acionista controlador, que é a União; três nomes vêm dos outros acionistas, e o último é escolhido pelos empregados da Petrobras.

Críticas à Petrobras

O anúncio acontece um dia depois de Jair Bolsonaro fazer críticas à gestão da Petrobras e às sucessivas altas no preço dos combustíveis.

“Nesses dois meses nós vamos estudar uma maneira definitiva de buscar zerar o imposto para ajudar a contrabalancear esses aumentos, no meu entender excessivo, da Petrobras. Mas eu não posso interferir, nem iria interferir na Petrobras, se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias, você tem que mudar alguma coisa, vai acontecer”, disse em transmissão na quinta.

Bolsonaro afirmou que o último reajuste de preço da Petrobras foi “fora da curva”.

“Teve um aumento, no meu entender, aqui, eu vou criticar, um aumento fora da curva da Petrobras. 10% hoje na gasolina e 15% no diesel. É o quarto reajuste do ano. A bronca vem sempre para cima de mim, só que a Petrobras tem autonomia”, afirmou.

Com a ameaça de intervenção na estatal, o principal índice da bolsa de valores brasileira, a B3, caiu 0,64% nesta sexta, puxado pelo recuo de mais de 6% nas ações preferenciais e de 7,5% nas ações ordinárias da Petrobras.

A indicação de Roberto Castello Branco para a presidência da Petrobras foi feita ainda em 2018, durante a transição de governo.

Castello Branco tem pós-doutorado pela Universidade de Chicago e ocupou cargos de direção no Banco Central e na mineradora Vale. Passou pelo Conselho de Administração da Petrobras e foi diretor no Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Quem assume o cargo

General da reserva do Exército, Joaquim Silva e Luna foi o primeiro militar a exercer o cargo de ministro da Defesa, no governo do ex-presidente Michel Temer. Em 2019 assumiu a presidência da usina binacional de Itaipu.

Ele tem pós-graduação em Política, Estratégia e Alta Administração do Exército pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Também é pós-graduado, pela Universidade de Brasília, em Projetos e Análise de Sistemas.

Durante a carreira no Exército, Silva e Luna comandou o 6º Batalhão de Engenharia de Construção (1996-1998), em Boa Vista (RR), e a 16ª Brigada de Infantaria de Selva (2002-2004), em Tefé (AM).

Em Brasília, foi diretor de patrimônio (2004-2006), chefe do gabinete do comandante do Exército (2007-2011) e chefe do Estado-Maior do Exército (2011-2014).

Também participou da Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai e atuou como adido em Israel de 1999 a 2001.

*Com informações do G1

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Bolsonaro está desesperado e com os pés amarrados ao pé da mesa da financeirização tucana na Petrobras

Bolsonaro sabe que o processo de financeirização da Petrobras foi o principal objetivo do golpe tucano-Globo via Lava Jato contra Dilma.

Temer, o rato de bueiro, aceitou fazer o serviço sujo do bando de FHC que esfola o bolso dos brasileiros para dar lucros exorbitantes aos acionistas internacionais da Petrobras.

Pedro Parente, aquele que foi colocado na Petrobras por FHC depois do golpe tramado por ele contra Dilma, já que o PSDB nunca mais voltará a governar o país pelas urnas, agora virou o fantasma que assombra e tira o sono de Bolsonaro.

Com a disparada dos preços dos combustíveis que hoje seguem os preços e interesses internacionais, a Petrobras está matando a economia brasileira que vai continuar sua derrocada em todo o ano de 2021.

Isso significa aumento exponencial de inflação, sobretudo dos alimentos com a dispara absurda do diesel, do gás de cozinha e da gasolina. E Bolsonaro, vendo sua popularidade que já anda em queda ir de vez para o ralo, está em pânico.

A Globo, que defende os interesses internacionais, convoca seus comentaristas vigaristas na Globonews para tentar barrar qualquer virada de mesa na Petrobras, já que Bolsonaro quer a cabeça do presidente da empresa que representa os interesses do grande capital contra a população brasileira. Isso em um país que já apresenta um enorme aumento no grau de endividamento das famílias.

Soma-se a isso, a queda de 6,1% em dezembro passado no varejo do país indicando o rumo da economia brasileira em 2021.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Aberta a tampa do bueiro: “Cérebro” da Lava Jato na Suíça sugeriu que Petrobras o contratasse

O ex-procurador suíço Stefan Lenz, que liderava as investigações contra a Petrobras e a Odebrecht na Suíça, sugeriu em carta de julho de 2016 para o procurador Orlando Martello, da Lava Jato, que a estatal brasileira o contratasse para ampliar a possibilidade de a empresa recuperar dinheiro desviado.

Lenz acenou com a proposta quando ainda ocupava o cargo no Ministério Público da Suíça e indicou que existiam investigações desconhecidas dos brasileiros que poderiam ser úteis.

A carta faz parte dos documentos obtidos pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir da liberação do STF (Supremo Tribunal Federal) —um trecho da mensagem foi incluída em uma comunicação da defesa do presidente ao STF, nesta semana. O documento teria sido salvo por Deltan Dallagnol, procurador que atuou como chefe da Operação Lava Jato.

“Eu nunca fui contratado pela Petrobras e nunca ajudei”, disse Lenz à coluna. “Não houve prática ilegal na troca de provas e informações entre mim e a equipe de Lava Jato.”

O processo não andou com o Brasil. Mas Lenz conseguiu fechar um acordo para colaborar com os procuradores peruanos, que também investigavam sua classe política e pagamentos por parte da Odebrecht.

O documento faz parte do primeiro lote de 1 terabyte de material apreendido na Operação Spoofing (investigação contra hackers que invadiram celulares dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato), repassada recentemente à defesa de Lula pela Justiça.

Segundo os advogados Cristiano Zanin e Valeska Martins, essa informação não representava a totalidade da operação e seria necessário obter todos os sete terabytes de dados.

Para mostrar a importância do acesso à integra, os advogados apontaram na mensagem ao STF trechos do que já conseguiram identificar na primeira remessa de informações —como a carta escrita por Lenz.

Trata-se, na avaliação dos advogados, de mensagens que revelariam como procuradores brasileiros e suíços transmitiam informações sobre as investigações “fora dos canais oficiais e ao arrepio do que prevê o acordo entre os dois países”. Isso incluiria “supostas informações sobre os sistemas de Odebrecht que eram utilizadas nas diligências e até nas denúncias apresentadas”.

Lenz foi considerado dentro do MP suíço como o “cérebro” das investigações sobre o caso brasileiro. Nos dois anos em que liderou o inquérito, seu trabalho resultou em mais de mil contas bloqueadas com um valor total de US$ 1 bilhão, além de reunir dados sobre Eduardo Cunha, Nestor Cerveró, Henrique Alves, dirigentes de empresas, operadores e doleiros.

Em outubro de 2016, ele rompeu com a cúpula do MP da Suíça e abriu uma crise dentro da procuradoria do país europeu. Numa carta, ele criticou abertamente a maneira pela qual o MP lidou com os procuradores, sem garantir nem reconhecimento, salários adequados ou recursos para realizar o trabalho.

Transição já tinha sido comunicada de forma confidencial para Lava Jato

A carta mostra que o procurador já falava abertamente sobre a possibilidade de sair do MP suíço antes mesmo de a ruptura ocorrer. Para ele, a alternativa seria voltar a ser um advogado —disse que se dedicaria a estar do mesmo lado dos procuradores e defendendo as vítimas: “Por exemplo, a Petrobras e/ou as autoridades brasileiras”.

“Como você sabe, existem muitas investigações ocorrendo e existem muitas e importantes evidências na Suíça com uma relação direta aos casos de vocês [Lava Jato] e a Petrobras, em específico”, diz.

“Alguns vocês conhecem. Uma parcela ainda grande vocês não sabem”, diz na carta. Lenz afirma que tentou instalar uma equipe conjunta de investigação, o que daria aos brasileiros acesso direto à informação. “Mas parece que, por motivos políticos, isso não será possível.”

Ele, então, oferece outros caminhos. “Existem outras formas de ter informação do que e quem está sendo investigado na Suíça”, escreve.

Segundo Lenz, na mesma carta, um dos caminhos para as vítimas seria tornar parte da queixa, o que daria acesso aos processos. Para o suíço, existiria ainda a possibilidade de que a Petrobras ou mesmo as autoridades brasileiras entrassem com processos contra as instituições financeiras do país europeu.

Contratação pela Petrobras como opção

O então procurador, nesta mesma carta, passa a focar na situação específica da Petrobras. “Ouvi que a Petrobras vai ajudar as autoridades brasileiras no caso de [Eduardo] Cunha. Eles deveriam fazer o mesmo em todos os casos nas investigações suíças que eles foram vítimas de pagamentos criminosos”, disse. Para ele, portanto, fazer parte dos processos na Suíça daria à empresa “uma enorme vantagem”.

Ele diz que isso exigiria uma “assistência de um advogado na Suíça, o que poderia ser fornecido por mim, quando eu –pelos motivos que expliquei– deixar meu trabalho como procurador”.

“Com o profundo conhecimento do assunto e especial nas investigações em curso, eu poderia liderar o lado brasileiro por meios dos procedimentos dos quais já tenho familiaridade.”

Entre os pedidos, Lenz sugere que Martello “tome a temperatura com os advogados da Petrobras” sobre o tema.

Lenz afirma que também mandaria a mesma mensagem para Deltan Dallagnol. Mas pediu que a informação fosse mantida “em absoluta confidencialidade”. Ele ainda deixou claro ao procurador que, se ele não se sentisse “confortável” em tratar do assunto, bastava que “esquecessem” de tudo que havia sido dito naquela mensagem.

Lava Jato: provas utilizadas foram transmitidas por canais oficiais

A reportagem informou o conteúdo das mensagens à Assessoria de Comunicação do Ministério Público Federal no Paraná. Mas a força-tarefa exigiu o documento obtido pela coluna.

Eis a resposta da Lava Jato.

“1. O repórter, distante das melhores práticas de jornalismo, não encaminhou as supostas mensagens em que se baseia a reportagem, o que prejudica o direito de resposta e a qualidade das informações a que o leitor tem acesso.

2. Registra-se que tais mensagens, obtidas de forma criminosa, foram descontextualizadas ou podem ter sido alteradas ao longo dos anos para produzir falsas acusações, que não correspondem à realidade. Nesse contexto, importante ressaltar que a perícia aplicou técnicas para se certificar de que os arquivos não seriam modificados a partir da realização da própria perícia (futuro) e da apreensão pela Polícia Federal, mas em momento algum atestou a inexistência.

3. De qualquer forma, para contribuir com a correta informação do leitor, esclarece-se que o ex-procurador suíço jamais foi contratado como advogado pela Petrobras ou pelo Ministério Público. A contratação de advogado pela Petrobras é da exclusiva avaliação e decisão da referida empresa, não tendo o MPF, absolutamente, qualquer ingerência neste assunto.

4. Como o jornalista não encaminhou as mensagens, fazem-se esclarecimentos mais amplos a respeito do assunto, informando que durante a Operação Lava-Jato houve troca de informações diretas nos moldes das normas e recomendações nacionais e internacionais. Seguiu-se o que é preconizado pelos manuais de boas práticas internacionais da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, pelo GAFI (Grupo de Ação Financeira Internacional), do Banco Mundial, do G20 e da AGU (Advocacia-Geral da União).

5. Seguindo ainda essas mesmas recomendações, todas as provas utilizadas nas investigações e processos brasileiros foram transmitidas pelos canais oficiais e franqueadas às respectivas defesas.”

*Jamil Chade/Uol

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A multa da Petrobras com os americanos foi sete vezes maior do que o valor que a Lava Jato diz ter recuperado

Quem se esquece dessa imagem em destaque em toda a mídia nacional em que Dallagnol entrega para a Petrobras o cheque da mixaria recuperada, enquanto, fora dos holofotes, a mesma Lava Jato produzia o maior rombo nos cofres da maior estatal brasileira?

Pois bem, sabe-se agora que a multa da Petrobras com os americanos foi sete vezes maior do que todo o valor que a Lava Jato diz ter recuperado.

A informação foi dada pelo Globo, de que, primeiro o nome de Lula e do próprio PT jamais foram citados pela Petrobras no documento enviado pela empresa à justiça americana.

Por esse motivo, toda a farsa da Lava jato cai por terra, afinal, Dallagnol, Moro e o restante do califado de Curitiba montaram até aquele powerpoint ridículo para dizer que Lula era o chefe do maior roubo da humanidade. Tudo com o aval dos holofotes e microfones da Globo, ao vivo e a cores.

Ora, quem deu essa informação foi uma das vozes dos Marinho, Ascânio Seleme, em seu artigo neste sábado (31) no Globo:

“Para não virar ré nos EUA, a Petrobras concordou em pagar US$ 4,8 bilhões em multas, o que corresponde a R$ 27,7 bilhões. O valor é sete vezes maior do que as sentenças da Lava Jato devolveram aos cofres da estatal.”

Quando se junta essa informação com as da Vaza Jato que, desde 2015, aqueles R$ 2,5 bilhões para a tal fundação Dallagnol, como disse Gilmar Mendes, já haviam sido acordado, como mostrou o Intercept nas mensagens trocadas entre os procuradores da Força-tarefa, todos tinham consciência do gigantesco prejuízo que a Petrobras e, consequentemente o Brasil amargariam, em compensação, também sabiam, desde 2015, quanto os procuradores, usando o velho subterfúgio de uma fundação para lavar dinheiro renderia à camarilha curitibana.

Em outras palavras, quanto mais se mexe no submundo da Lava Jato e as peças vão se encaixando, mais fede e se vê que Lula foi condenado de forma criminosa por um bando que a cada dia se desmoraliza mais por uma série de crimes que cometeu em nome da justiça. Vê-se também como o sistema de justiça no Brasil deixou livre, leve e frouxo correr na cara de todos um sistema porcamente montado para uso político contra o PT, ao mesmo tempo em que produziu um rombo gigantesco na Petrobras que, se a PGR não cortasse as asinhas dos espertos, comandados por Moro e Dallagnol, essa turma embolsaria R$ 2,5 bilhões sem dar satisfação a ninguém. E os ladrões ainda sairiam, como tentaram fazer durante cinco anos, como os grandes heróis nacionais, como diziam os tolos de plantão.

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Por que a Petrobras radicalizou estratégia para não entregar acordo com os EUA para defesa de Lula?

Estatal pede ao STF para ser tratada juridicamente como uma embaixada estrangeira que não se submete aos tribunais brasileiros.

A Petrobras lançou mão de uma “estratégia inédita” e radical para resistir ao pedido da defesa de Lula para ter acesso aos detalhes do acordo que a estatal assinou com os Estados Unidos no final de 2018. Em ofício ao Supremo Tribunal Federal, a petroleira solicitou tratamento privilegiado concedido a embaixadas estrangeiras, para ficar imune a decisões judiciais proferidas no Brasil.

A petição foi protocolada nos autos do caso triplex e da acusação envolvendo supostos benefícios da Odebrecht a Lula. Para a defesa do petista, o pedido da Petrobras “carece de seriedade”. “A Petrobras é uma empresa brasileira e não uma embaixada, e, além disso, a petrolífera figura nas ações penais como assistente de acusação”, de modo que “deve arcar com o ônus inerente à posição por ela assumida voluntariamente”, afirmou ao Valor Econômico desta segunda (26).

Para não entregar os documentos solicitados pela equipe de Lula, a Petrobras argumenta que nada no acordo com os EUA interessa aos processos contra o ex-presidente. Além disso, os documentos dos acordos assinados com os EUA são sigilosos e estão em posse das autoridades norte-americanas.

O ACORDO

Em setembro de 2018, a Petrobras assinou um acordo de não acusação com o Departamento de Justiça e outro termo (cease and desist order) com a Comissão de Valores Imobiliários, sujeitando-se a pagar uma multa de cerca de 3,6 bilhões de reais, para evitar que as acusações de violação à lei anticorrupção dos EUA (FCPA) fossem levadas a julgamento.

A defesa de Lula quer saber se, naquele processo que gerou dezenas de milhares de páginas, os agentes dos EUA levantaram alguma prova de que o ex-presidente participou do esquema na Petrobras – algo que também não foi provado pela Lava Jato em Curitiba. Ao longo do trâmite do caso triplex em instâncias inferiores, a defesa solicitou acesso aos documentos, mas até hoje, a Petrobras tangenciar o pedido.

Segundo o Valor Econômico desta segunda (26), o ministro Edson Fachin tomará uma decisão preliminar sobre o pedido da Petrobras, mas a tendência é de que ele leve a discussão para a Segunda Turma do Supremo. Indicado por Bolsonaro, Kassio Nunes assumirá uma vaga no colegiado, diz o jornal, a partir de 5 de novembro.

 

*Com informações do GGN

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