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A assombrosa íntima relação de Dallagnol com Barroso

Qualquer pessoa minimamente honesta entende duas coisas em todos os segredos revelados até então pelo Intercept entre Dallagnol e Barroso.

Na verdade, parece não haver restrições nessa relação, tal a intimidade com que Dallagnol fala de Barroso, relação esta sabida por outros procuradores e, por isso, o temor de Dallagnol de que essa intimidade fugisse da clandestinidade e chegasse à exposição pública.

A trama oculta que funde no mesmo balaio o chefe da Força-tarefa da Lava Jato, Dallagnol, o candidato à PGR Vladimir Aras e o Ministro Barroso é um capítulo à parte, mesmo que a unidade harmônica entre Dallagnol e Fachin se mostre bastante estreita, o que caracteriza a agudíssima intimidade dele com Barroso é a maneira direta com que fala do Ministro do Supremo.

Não se vê restrição de natureza alguma nessa conduta como, por exemplo, a do trecho em que Dallagnol diz não ter o whatsapp de Fachin, e sim de sua secretária. Mas, no caso de Barroso, o orientador Dallagnol propõe a Vladimir Aras que se encontre, de forma mais personalizada, com Barroso para não dividir a sua atenção com outras pessoas. Mas em nenhum momento o prodigioso procurador, chefe da Força-tarefa, mostra qualquer restrição relacionada a Barroso na sua rede de influência, revelando, com isso, uma possibilidade infinita de intervir junto ao Ministro, o que miopia nenhuma é capaz de embaçar.

Independente de ter uma vítima dessa trama presa numa carceragem política, como é o caso de Lula, o que se vê é que os coroados que somaram forças para que Lula fosse condenado e preso, ao contrário de guardarem o distanciamento característico de uma independência, têm uma relação clandestina que dispensa qualquer protocolo.

É bom lembrar que, dentro dessa monarquia judiciária que definiu as eleições para a Presidência da República em 2018, Barroso é duplamente coroado, a realeza não foi apenas contra todas as decisões que pudessem beneficiar Lula no STF, foi também um cronista ensaboado no TSE, ao lado de Rosa Weber e Fachin, na condução que negou a Lula todos os recursos, inclusive o que veio da ONU, para avaliar a manutenção da candidatura de Lula até que seu caso fosse julgado em última instância.

O que se pode dizer, sem qualquer desembaraço, quando se lê as mensagens vazadas pelo Intercept, é que não resta a menor dúvida de que, primeiro, Dallagnol não é um tonto, é um articulador que, direta ou indiretamente, influenciou todo o processo que julgou, condenou e manteve Lula fora da disputa presidencial sem qualquer prova de crime, para impedir a sua vitória nas urnas. Em segundo, não havia nenhum tipo de restrição informal nas relações particulares entre Dallagnol e Barroso, mostrando que no labirinto da Lava Jato entre os procuradores e as realezas decisivas do Supremo Tribunal Federal, a linha era direta.

 

*Por Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

 

 

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O lobby de Dallagnol e Moro com STF e Bolsonaro para abocanhar a PGR

Dallagnol usou o prestígio obtido como coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba para tentar emplacar nos bastidores o procurador regional da República Vladimir Aras, seu aliado no MPF (Ministério Público Federal), como o novo comandante da PGR (Procuradoria-Geral da República). Para isso, fez lobby com ministros do governo Jair Bolsonaro (PSL), senadores e ao menos três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

É o que mostram conversas privadas enviadas por fonte anônima ao site The Intercept Brasil e analisadas em parceria com o UOL. Os diálogos entre Deltan e Aras revelam que o coordenador da Lava Jato se engajou pessoalmente na campanha do aliado, articulando diariamente com ele estratégias para que fosse recebido por autoridades. Deltan mostra, em diversos momentos, receio de que sua interferência na disputa viesse a público: “bom ficamros [sic] na sombra”, disse a Aras em diálogo pelo aplicativo Telegram no dia 21 de fevereiro.

Vladimir Aras já ocupou postos-chave: foi secretário de Cooperação Jurídica Internacional da PGR na gestão do ex-PGR Rodrigo Janot e fez parte dos GTs (Grupos de Trabalho) de Crime Organizado e de Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros da PGR. Atualmente, é coordenador do Grupo de Apoio ao Tribunal do Júri Federal da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF.

Sergio Moro, que ainda era juiz federal àquela altura, já é tachado como alguém próximo do grupo de Bolsonaro. “Fala com Moro sobre minha candidatura a PGR”, escreveu Vladimir Aras às 13h22 de 11 de outubro de 2018 –quatro dias após o primeiro turno da eleição presidencial. “Com bolsonaro eleito, vou me candidatar”, completou às 13h23.

Nas conversas, Deltan diz, em mais de uma oportunidade, que havia tratado da candidatura de Vladimir Aras com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. No dia 14 de abril, às 15h33, dá um retorno:

“Peço reserva, mas Moro confirmou pra mim que Vc é o candidato que ele vai defender”.

Deltan Dallagnol em mensagem para Vladimir Aras Deltan e Aras passaram a acelerar as articulações em fevereiro. No dia 19, o candidato pediu explicitamente a ajuda do coordenador da Lava Jato para ter acesso à cúpula do Judiciário:

“Vc poderia me apresentar a Barroso e Fachin?”, questionou. “Preciso de aliados no STF”

Os ministros citados por Aras formam a linha de frente da Lava Jato no Supremo: Edson Fachin é relator dos processos ligados à operação na Corte, enquanto Luís Roberto Barroso é tido como o principal defensor das investigações. Além dos dois, Deltan faria contato em abril com Luiz Fux, outro ministro alinhado com a Lava Jato.

Deltan avaliou de que forma poderiam abordar a candidatura junto ao ministro Fachin.

Após saber que Barroso seria a estrela de um evento organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo CDPP (Centro de Debates de Políticas Públicas) em São Paulo, no dia 1º de abril, Deltan conseguiu uma entrada para Aras, que não havia sido convidado. “Seria uma boa oportunidade para apresentar pro Barroso”, disse em 19 de março, às 11h55.

Dificuldades de agenda prejudicaram um encontro privado entre Barroso e Aras na ocasião –Deltan chegou a articular para que o aliado encontrasse o ministro do STF em um jantar na véspera do evento, no dia 31 de março, e no hotel onde Barroso estava hospedado no dia 1º. Quando Aras diz que combinou com a assessoria de Barroso de conversarem durante o evento, Deltan afirma que não considera uma boa ideia: “Vc vai disputar a atenção dele com dezenas de pessoas”.

 

 

*Matéria completa no Uol