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Política

Com Moro Ministro, Lava Jato ambicionava dominar a PGR

Luis Nassif*

Diálogo mostra intenção de Januário Paludo se candidatar para promoção para tentar coordenar a 5ª Câmara do MPF de Combate à Corrupção.

Nas conversas de 20 de novembro de 2018, procuradores da Lava Jato mostram como uma decisão do Ministro Dias Toffoli tirou possibilidade de Lula obter prisão domiciliar. Também mostram entusiasmo com a vitória de Bolsonaro, prevendo que, com Sergio Moro como Ministro da Justiça, eles poderiam controlar totalmente a Procuradoria Geral da República.

20 Nov 18
08:07:22 Paulo https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2018/11/lula-envelhecido-impressiona-e-tribunais-voltam-a-discutir-prisao-domiciliar.shtml?loggedpaywall

08:07:35 Paulo cantei a bola… embora parece mais algo plantado pela defesa

08:09:44 Paulo e no Estadão tb: Sem esperanças. A declaração do presidente do Supremo, Dias Toffoli, ao El País, de que a prisão de Lula respeitou a Constituição desanimou ainda mais o ex-presidente preso em Curitiba. Desde a derrota do PT, Lula anda abatido. Caiu a ficha. A cúpula do PT começa a lamentar a estratégia de Lula de impedir que seu advogado, Sepúlveda Pertence, tente a prisão domiciliar no Supremo. Lembram que ele já está há quase oito meses na cadeia.

09:18:00 Athayde https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/11/20/bolsonaro-anuncia-wagner-rosario-para-ministro-da-controladoria-geral-da-uniao.ghtml

09:31:12 Roberson MPF Monica Bergamo?! Kkkk Isso aqui está a meio metro do chão de tão plantado

10:44:29 Diogo prezados, tem problema dois promotores do mppr ficarem ouvindo pessoal da j malucelli em relação aos fatos estaduais até meio dia na sala de reuniao?

10:54:19 Paulo Não podemos deixar o pgr Deltan saber o q se passa aqui!

11:30:17 Januario Paludo Caros, resolvi concorrer à promoção para sub. A sessão é dia 04 de dezembro. O que gostaria de fazer? Ainda não sei, mas possívelmente coordenar a 5 CCr na próxima gestão e, até lá, continuar atuando na LJ.

11:30:42 Laura Tessler massa demais!!!

11:30:58 Laura Tessler só acho ruim vc sair da LJ

11:31:05 Paulo 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏 fico feliz pela instituição, caro Januario!!!

11:31:20 Januario Paludo também acho.

11:31:26 Julio Noronha Muito toooooop!!! 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

11:36:12 Jerusa Top!!!! 👏🏼👏🏼👏🏼

(…)

12:25:52 Roberson MPF Que toooooooop. Jan PGR!!!!

12:26:06 Roberson MPF Orlando vice

12:26:20 Roberson MPF E Delta coordenador da Força Nacional Anticorrupção

12:26:29 Roberson MPF FNA neles

12:26:45 Roberson MPF PG SCI

12:27:30 Roberson MPF Moro MJ

12:27:38 Roberson MPF CF secretário de justiça

(…)

21:16:49 Jerusa https://www.oantagonista.com/brasil/lula-agora-tenta-escapar-de-gabriela-hardt/

21:57:28 Diogo Um doce pra adivinhar qts livros o Vladimir neto vendeu

22:05:42 Julio Noronha 30 mil?

22:09:08 Diogo 300 mil

22:09:11 Laura Tessler 1 milhão

*GGN

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Saúde

Gleisi Hoffmann: cirurgia cardíaca de 6 horas de duração acaba; deputada ficará 2 dias na UTI

A presidente do PT tinha 90% de obstrução e foi submetida a implante de mamária.

A presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), foi submetida a uma operação de revascularização do miocárdio. Duas mamárias foram realizadas para desviar sangue da aorta para as artérias coronárias. De grande porte, o procedimento teve a duração de 6 horas, segundo O Globo.

A operação foi a ‘céu aberto’, quando o peito é cortado.

Gleisi não apresentou sintoma algum apesar de a obstrução ser grande: 90%. A ausência de sinais frente a um problema cardiovascular grave é mais comum entre as mulheres. Gleisi tem 58 anos e é fumante.

O procedimento foi feito no Hospital DF Star, em Brasília, sob a coordenação da cardiologista e intensivista Ludhmila Hajjar.

A deputada ficará dois dias em recuperação na UTI e o tempo total de internação deverá ser de 1 semana.

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Política

Conversas obtidas pela PF mostram que Lava Jato negociou com jornalismo da Rede Globo para “descer a lenha” em Lula (leia os diálogos)

O dia 26 de novembro de 2018 foi agitado para os procuradores da finada “lava jato”. Naquela data, o Ministério Público Federal denunciou o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por suposta lavagem de dinheiro em um negócio na Guiné Equatorial.

Em diálogos obtidos pela “operação spoofing”, às quais a revista eletrônica Consultor Jurídico teve acesso, os lavajatistas demonstraram intimidade com a imprensa. Eles comemoraram o fornecimento exclusivo de informações para o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, e desenharam os desdobramentos da notícia em outros veículos.

“JN é uma ótima!!! Mas de qq forma é bom Tb depois dar uma provocada no Josias, Miriam Leitão, etc, para descerem a lenha”, escreveu a procuradora Laura Tesler — os diálogos são reproduzidos nesta reportagem em sua grafia original.

Os procuradores combinaram a estratégia, que envolvia passar a informação para a Rede Globo e, depois, para o jornalista Josias de Souza, com embargo para divulgação apenas depois da veiculação do “Jornal Nacional”, segundo o 247

Na ocasião, o advogado de Lula, Cristiano Zanin (hoje ministro do Supremo Tribunal Federal), classificou a denúncia como um atentado ao Estado democrático de Direito. “É mais um duro golpe no Estado de Direito porque subverte a lei e os fatos para fabricar uma acusação e dar continuidade a uma perseguição política sem precedentes pela via judicial.”

Anos depois, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) trancou a ação penal contra Lula reconhecendo que não havia elementos mínimos a justificar sua tramitação.

Leia a seguir os diálogos na íntegra:

26 Nov 18

21:16:01 Deltan Pessoal, preciso de uma opinião

21:18:00 Deltan 889015.ogg

21:20:16 Welter Prr Deixa para o JN os nomes, mas acho que valia a pena divulgar alguma coisa nas redes sociais

21:20:40 Julio Noronha Tb acho q vale deixar para o JN, e na sequência nas redes sociais

21:21:17 Athayde Voto no JN

21:21:41 Athayde Dps os demais surfarao na onda e vai aumentar a pressao

22:41:36 Orlando SP JN traz repercussão maior.

22:50:05 Roberson MPF JN é uma ótima!

22:55:52 Laura Tessler JN é uma ótima!!! Mas de qq forma é bom Tb depois dar uma provocada no Josias, Miriam Leitão, etc, para descerem a lenha

23:16:12 Deltan Barroso falou pra Josias que estávamos fazendo levantamento, mas não passou. Josias pediu

23:17:30 Deltan Opções: 1. Rechecarmos tudo e fazermos release logo antes do JN 2. Liberar Vladimir Neto pra soltar 3. Passar pra Josias com embargo, pra soltar no começo do JN 4. Vcs fazerem um vídeo na FT falando os nomes e que absurdo seria e eu posto

27 Nov 18

00:40:55 Deltan https://oglobo.globo.com/brasil/stf-deve-julgar-prisoes-em-segunda-instancia-no-inicio-de-2019-23260545

09:31:48 Deltan A arte da sedução, para solteiros e casados que querem reconquistar seu amor a cada dia rs https://youtu.be/3E46oWB4V0s

10:16:18 Diogo Opa

11:49:47 Januario Paludo a promoção deu xabu. A vaga era da aposentadoria do Moacir, que conseguiu voltar com liminar do STJ.

12:00:51 Paulo Vixe

12:01:53 Jerusa Que vergonha o STJ

12:09:00 Julio Noronha [Coluna] – O Estado de S. Paulo: http://bit.ly/2FGbS8j

12:09:25 Laura Tessler ótimo!!!!

12:51:34 Laura Tessler Zaf

13:31:02 Paulo hoje teremos reunião no horário definido

13:31:20 Laura Tessler 14h?

13:36:45 Diogo 13:45

13:36:48 Diogo 14 hs tenho reuniao ja

13:47:38 Diogo sem reuniao entao?

13:49:55 Julio Noronha Reunião sim

13:50:04 Julio Noronha Partiu?

13:58:33 Paulo po

13:58:37 Paulo não boicotem

16:33:11 Paulo Reunião 27/11/18 (PG JN AC DC IG JP LT): 1. Aia Pasadena com AGU: ratificada decisão de ficar como custos legis (v. reunião 19/10) 2.Diogo: 2.1. Acordo Ecorodovias é o que está com os melhores anexos. 2.2. Pedir nova prisão piloto, pois: a. Barroso agora prevento; b. 3 imõveis do filho desempregado pagos em espécie; 2.3. corretor foi procurado para que omitisse essa informação; d. Egmont identificou conta de Abi (foragido) no Paraguai. Aprovado, porém informação de Egmont não pode ser usada.

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Cotidiano

Racismo religioso aumenta no RJ e gera violência contra terreiros de matriz africana

Estudo realizado na zona oeste do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense mostra que 75% dos terreiros de religião de matriz africana abordados já foram alvo de algum tipo de violência. Os resultados também revelam que a segurança pública é tema de discussão recorrente pelos frequentadores desses espaços.

A pesquisa foi idealizada pela Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial), organização não governamental que atua promovendo debates e atividades com foco na Baixada Fluminense. O desenvolvimento do estudo contou com a parceria do Centro Cultural de Tradições Afro-brasileiras Yle Asé Egi Omim, criado em 2008, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Os resultados obtidos estão reunidos em relatório lançado neste sábado (30) com o título de Egbé, palavra do idioma iorubá que significa sociedade ou comunidade.

De acordo com o pesquisador que atuou na coordenação do trabalho, Patrick Melo, as duas regiões foram escolhidas por terem registrado, nos últimos anos, grande número de casos de ataques a terreiros de religião de matriz africana. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) tinha, até 2019, registros de 200 casas de axé que foram alvo de agressões, considerando também a zona norte da capital fluminense. Como nem todos os casos são notificados, o número certamente é maior.

As ocorrências envolvem ameaças, injúria racial, agressões físicas e até expulsões de seus próprios territórios determinadas por milícias ou organizações do tráfico. Em alguns episódios, o alvo se repete.

O estudo cita o caso emblemático da casa Xwe Nokun Ayono Avimaje, fundada há 10 anos em Nova Iguaçu, que já foi invadida e depredada três vezes. Há também registros de violações à liberdade religiosa, como por exemplo a imposição de horários restritos para que casas de axé possam promover seus rituais sagrados.

Diante dessa realidade, o objetivo do estudo foi entender como as comunidades enxergam a política de segurança pública. A metodologia envolveu a realização de grupos, durante um mês, com 10 a 12 participantes cada um. Os encontros, que contavam com um ou dois moderadores, ocorreram em quatro casas de axé localizadas no município de Nova Iguaçu e na zona oeste de capital fluminense. Os presentes puderam interagir e propor discussões, ao passo que os pesquisadores observavam as conversas, os comportamentos, as tensões.

Além da organização dos grupos focais, um formulário online foi preenchido por lideranças dos terreiros envolvidos. Através dos dados colhidos, foi traçado um perfil dos terreiros, que possuem em média 11 anos de fundação em seus territórios. Constatou-se também que as lideranças possuem idades entre 35 e 55 anos e são compostas por homens e mulheres em proporção igual.

Conforme os resultados divulgados, em todos os grupos focais, evidenciou-se um total descrédito com as instituições policiais para fins de proteção e segurança. O estudo indica que as denúncias de violações resultam em desapontamento. As autoridades policiais tendem a minimizar as agressões, classificando-as como briga de vizinhos e problemas de ordem pessoal, afastando assim o enquadramento como crime de ódio.

 

Segundo Patrick Melo, os dados obtidos no estudo indicam que as violações estão diretamente relacionadas com a omissão do Estado na defesa dos direitos humanos e dos direitos dos povos de religião de matriz africana. Observou-se que o tema da segurança pública aparece como uma preocupação de destaque no cotidiano dessas populações. Sem a devida proteção do poder público, elas buscam outros caminhos para enfrentar o cenário. “Essas comunidades atuam e se organizam de forma muito autônoma em rede, buscando o fortalecimento conjunto com outros terreiros”, diz Patrick.

Ele avalia que os registros policiais refletem uma incapacidade do Estado de reconhecer que os episódios envolvem manifestação de ódio contra essas comunidades religiosas de matriz africana. Ao mesmo tempo, considera que os territórios estão sendo dominados cada vez mais por grupos criminosos que perseguem quem não professa a fé cristã.

“Estamos falando sempre a partir de um viés moral cristão, a partir da qual há uma demonização das pessoas. A figura das comunidades de terreiro ou das manifestações religiosas de matrizes africanas é colocada inimiga daquele território. São endemoniados que vão tirar a paz daquele lugar. E aí, por isso, agridem aquelas pessoas”, acrescenta.

A crescente associação entre o crime e a fé cristã tem chamado atenção de diferentes especialistas em segurança pública. Em junho desse ano, a pesquisadora Viviane Costa deu uma entrevista à Agência Brasil sobre o lançamento do seu livro Traficantes Evangélicos, em que analisa a forma do uso de símbolos e narrativas neopentecostais entre grupos criminosos. Em 2015, um outro livro intitulado Oração de Traficante: uma etnografia, assinado pela socióloga Christina Vital Cunha, já chamava atenção para o fenômeno.

Racismo religioso
Patrick sustenta ser necessário denunciar com mais ênfase a ocorrência do racismo religioso nos episódios de violação aos terreiros de religião de matriz africana. Uma das reflexões levantadas no relatório divulgado se relaciona com o conceito de intolerância religiosa. Embora seja mais difundido, ele apresentaria algumas limitações para explicar a dimensão do problema.

“Ele mascara e não dá conta do que acontece, especificamente, com as religiões de matrizes africanas. O conceito de intolerância religiosa traz também uma falsa simetria, e é equivalente à contradição de que o Brasil, em tese, deveria ser um Estado laico, mas na prática, as religiões relacionadas com a herança colonial seguem entranhadas nas instâncias institucionais. Quantos casos de ataques a terreiros denunciados nas delegacias de polícia foram investigados, apurados e julgados? Quantas dessas situações tiveram justiça feita?”, questionam os pesquisadores, que advogam pelo uso do conceito de racismo religioso.

*Com Agência Brasil

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Deltan planejou usar ONG para receber prêmio, abastecer fundo e evitar impostos

Conjur – Um novo lote de conversas obtidas na “operação spoofing”, às quais a revista eletrônica Consultor Jurídico teve acesso, revelam o plano do ex-chefe da autodenominada força-tarefa da “lava jato”, Deltan Dallagnol, para usar a Transparência Internacional como intermediária no recebimento de um prêmio, abastecer o fundo que ele pretendia criar em sociedade com a ONG e, em último caso, evitar o pagamento de impostos.

Em 2017, a “lava jato” foi indicada ao Allard Prize, prêmio promovido pela University of British Columbia, no Canadá. Enquanto o resultado não saía, Dallagnol sonhou alto. E se preocupou com os detalhes da logística para trazer o dinheiro para o Brasil depois de receber uma mensagem dizendo que, se a “lava jato” não pudesse receber o prêmio, os organizadores só poderiam doá-lo a uma entidade de caridade registrada no país ou fazer o depósito para uma entidade externa — algo que, nesse caso, não seria caracterizado como doação.

Em 27 de junho daquele ano, em conversa com Bruno Brandão, diretor da TI com quem desenhava o fundo da “lava jato”, o ex-procurador perguntou: “Estou pensando se a TI não poderia receber no Canadá e transferir para cá, para fazer o fundo, ainda que deconte taxas ou o que for cabível. E vcs poderiam formar o fundo? Pode ser basicamente uma conta, formar uma comissão e abrir um edital para apresentação de projetos…” — os diálogos são reproduzidos nesta reportagem em sua grafia original.

Brandão confirmou haver representação da TI no Canadá (“Fraquinha, mas tem”) e sugeriu a doação do dinheiro para uma bolsa de estudos destinada a brasileiros. Em suas palavras, “podemos tentar fazer esta transferência sim, dos recursos, pro fundo que queremos abrir no Brasil”. Dallagnol respondeu que “tínhamos pensado em fazer algo para ganhar créditos pra FT”. E arrematou: “Se o dinheiro fica no Canadá, não ganhamos créditos. Não dá ibope”.

O representante da TI prometeu conversar com seus pares para viabilizar o plano de Dallagnol, que insistiu: “Vc checa com a TI se a TI-Canadá poderia receber e transferir para cá? Ou se recebendo lá, o funding que iria para ela da TI geral poderia vir para o Brasil?”. Brandão ressalvou que a universidade canadense teria de autorizar a doação para a ONG no Canadá e a transferência do prêmio ao fundo administrado pela TI no Brasil.

Na conversa, Dallagnol cobrou Brandão sobre a formulação de um regulamento para o fundo e insistiu no contato com a TI Canadá. O representante da ONG pediu mais uma vez para o ex-procurador checar a viabilidade do plano com a própria universidade. “Então, eles falaram isto. Creio que a primeira opção é indicarmos a TI canadá, informando que vai transferir, e vemos o que eles dizem. Na pior das hipóteses, pelo que entendi, não será legalmente uma doação, mas um pagamento e prov haverá tributos. Se for assim, creio que será o caso de fazer de qq modo. Mas pra isso presiamos do ok da TI Canadá. Acho melhor ter o ok e a identificação certinho da TI Canadá pra então pedirmos análise deles, pra não pedir algo que não seja factível pela TI…”.

O assunto voltou à pauta das conversas dos dois em 10 de julho de 2017, quando Dallagnol cobrou Brandão: “Alguma novidade sobre a questão do premio do Canada? E se usássemos o valor pra fazer um premio brasileiro? Se conseguissemos um matching, alcançariamos perto de 500 mil. Daria pra gastar 25k num premio anual brasileiro anticorrupção, a ser dado pela TI a partir do fundo… é uma opção tb”. “Ideia muito boa. Acho que seria uma opção interessante. Vou falar com nossa consultora que está na UNC para ver se tem novidade e lhe conto”, respondeu Bruno.

O assunto se encerrou em 25 de julho de 2017, quando Dallagnol revelou sua principal preocupação: não ter de pagar impostos. “Bruno, na questão do Allard Prize, preciso preencher um formulário para wire transfer…conseguiu ver a questão do pagamento à transparência do Canadá, para ser transferido para a Brasil, para instituir um prêmio anual?”. Bruno Brandão explicou que enfrentava dificuldade no contato e reafirmou que “a melhor ideia é a da premiação no Brasil”.

“Não entendi muito bem o que quis dizer, porque o problema é operacional. Se nós recebermos e doarmos, perderemos uma grana em tributos (pelo menos cerca de 1/3). Por isso seria importante que a doação vá direto pra Vcs… se Vc me autorizar, começo a articular isso com eles e copio Vc no email para Vc esclarecer tb… pode ser? (isso se ganharmos é claro).”

Não ganharam. O prêmio principal, cem mil dólares canadenses (R$ 372 mil, em valores atuais), acabou ficando com uma jornalista do Azerbaijão, Khadija Ismayilova, e os procuradores de Curitiba tiveram de se contentar com uma menção honrosa e dez mil dólares canadenses (R$ 37,2 mil).

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Opinião

Viva à sua maneira e respeite a maneira dos outros viverem

A vida pode ser menos complicada do que é.

Você é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Então só case com pessoa do sexo oposto ao seu. Mas não queira impor sua vontade a quem pensa diferente.

Vale a mesma coisa para o aborto. Você não é obrigada a abortar porque o aborto é permitido. A escolha é sua. Como deve ser de todas as mulheres, donas do próprio corpo.

As religiões se opõem ao aborto? O Estado é laico. Permite, respeita, protege e trata de forma igual as religiões e compreensões filosóficas da vida, inclusive a dos que negam a existência de Deus.

Você admite que outras pessoas ditem suas opiniões e pautem sua vida? Então não queira ditar as convicções de ninguém, nem pautar a vida de ninguém. Simples assim.

Viva à sua maneira e respeite a maneira como os outros vivem. Verá que a vida se tornará muito menos complicada.

*Blog do Noblat

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Saúde

Cirurgia de Lula foi bem-sucedida e presidente já está acordado, dizem médicos

O presidente chegou ao Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, às 8h desta sexta-feira (29), e deve permanecer internado até a próxima terça (3).

A cirurgia do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi bem-sucedida, segundo informou a equipe médica do mandatário durante coletiva de imprensa, na tarde desta sexta-feira (29), no Hospital Sírio-Libânes, em Brasília (DF).

Conduziram a cirurgia e participaram da coletiva o cardiologista Roberto Kalil Filho, o ortopedista especialista em quadril e cirurgião-chefe do procedimento do presidente, Giancarlo Cavalli Polesello, e a infectologista e coordenadora-geral da equipe de Saúde da Presidência da República, Ana Helena Germoglio.

Lula chegou às 8h na instituição hospitalar. Ele passou por uma artroplastia total de quadril (no lado direito), para proporcionar alívio da dor provocada pela artrose, além da correção de deformidades e da recuperação do movimento da articulação. A cirurgia, na prática, substitui a articulação “doente” no encaixe da perna com a bacia por uma prótese artificial.

No procedimento, a cabeça do fêmur e o acetábulo foram substituídos por implantes metálicos e de porcelana. Para isso, foi preciso cortar parte do osso para instalar a prótese. O presidente foi intubado e recebeu anestesia geral em função da complexidade da cirurgia, considerada invasiva.

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Política

General da reserva investigado por 8/1 tem celular, arma e passaporte apreendidos pela PF

Ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Ridauto Lúcio Fernandes é suspeito de organizar invasão aos Poderes.

A Polícia Federal cumpriu nesta sexta-feira (29) mandado de busca e apreensão contra o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes. Ele é investigado sob suspeita de ter atuado na idealização do ataque às sedes dos Poderes, em 8 de janeiro, segundo a Folha.

Ridauto prestou depoimento pela manhã e teve celular, arma e passaporte retidos pelos investigadores.

É a 18º fase da Operação Lesa Pátria. A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) determinou ainda o bloqueio de ativos e valores do general da reserva.

Ridauto Fernandes participou da invasão aos Poderes e, segundo a investigação, é possivelmente um dos idealizadores dos atos golpistas.

Ele foi diretor de Logística do Ministério da Saúde durante as gestões dos ministros Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, no governo Jair Bolsonaro (PL).

Durante os ataques golpistas, Ridauto gravou vídeos e enviou para amigos e familiares. Em um deles, o general disse que estava “arrepiado” com o que estava acontecendo.

“O pessoal acabou de travar a batalha do gás lacrimogêneo. Acreditem: a PM jogou gás lacrimogêneo na multidão aqui durante meia hora e agora eles estão aqui na frente e o pessoal está aplaudindo a Polícia Militar”, disse.

O general da reserva ainda disse que os manifestantes entendiam que os policiais militares estavam “cumprindo ordens para defender o patrimônio” e que seriam “bem-intencionados”.

Ridauto Fernandes chegou a general de brigada no Exército. Foi para a reserva após não ter sido promovido à terceira estrela, mesmo estando nas primeiras posições de sua turma das academias militares.

Formou-se na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1987. A turma tinha gente de diversos perfis: o general Gustavo Dutra, ex-comandante Militar do Planalto; o coronel Marcelo Pimentel, crítico da politização das cúpulas militares; o general da reserva Rodrigo Vergara, que assessorou o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira na ofensiva sobre o processo eleitoral; o coronel José Placídio Matias dos Santos, que incitou as Forças Armadas contra Lula em 8 de janeiro; e o coronel da reserva Adriano Camargo Testoni, indiciado pelo próprio Exército por proferir ataques ao Alto Comando da Força durante as invasões aos Poderes;

“Bando de generais filhos da puta. Covardes. Olha o que está acontecendo com a gente. [Ex-comandante] Freire Gomes, filho da puta. Alto Comando do caralho. Olha o povo, minha esposa”, disse o coronel Testoni em vídeo enviado a colegas.

Entre os colegas de turma, Ridauto foi apelidado de “Menino Maluquinho”, pela aparência física semelhante à do personagem de histórias em quadrinhos do cartunista Ziraldo.

Durante a formação, o general da reserva decidiu tornar-se um Kid Preto —nome dado aos militares que realizam os cursos de Forças Especiais, uma espécie de tropa de elite do Exército.

Ele chegou a ocupar cargos de chefia no Comando de Operações Especiais do Exército, em Goiânia, onde fica o principal centro de formação e emprego das tropas das forças especiais.

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Política

Vídeo: GloboNews divulga conversa de Moro com delator para grampear juízes ilegalmente

O ex-deputado estadual paranaense e ex-delator Tony Garcia, que alega ter desempenhado o papel de agente infiltrado do senador Sergio Moro durante o período em que o ex-juiz era o titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, entregou recentemente ao Supremo Tribunal Federal (STF) um conjunto de documentos explosivos. Esses documentos revelam uma suposta tentativa de Moro de investigar ilegalmente desembargadores, juízes e ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), incluindo o uso de grampos ilegais, segundo a Forum.

O programa Conexão GloboNews mostrou nesta sexta-feira (29), a transcrição na íntegra feita pela Polícia Federal da conversa entre Sergio Moro e o ex-delator Tony Garcia. Moro usou Garcia para grampear e monitorar desembargadores, juízes e ministros do STJ.

Os documentos em questão fazem parte de um acordo de colaboração premiada firmado entre Tony Garcia e Sergio Moro em 2004. Até recentemente, esses documentos estavam sob sigilo na 13ª Vara Federal de Curitiba, mas o juiz Eduardo Appio decidiu levantar este sigilo, permitindo que Tony Garcia tivesse acesso. Agora, esses materiais foram entregues pelo ex-delator ao STF com o objetivo de anular as ações de Moro contra ele.

No conjunto de documentos, obtido pela TV Globo, estão registradas cerca de 30 tarefas que foram designadas a Tony Garcia por Moro como parte do acordo para evitar sua prisão. Estas tarefas incluíam investigações de autoridades paranaenses com foro privilegiado, utilizando métodos questionáveis, uma vez que essas investigações estavam, legalmente, fora da alçada de atuação de Moro enquanto juiz.

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Política

Vídeo: Os kids pretos: O papel da elite de combate do Exército nas maquinações golpistas

Allan de Abreu – Piauí*

O assessor da Secretaria-Geral da Presidência da República, Mario Fernandes, general da reserva do Exército, estava indignado com a derrota de Jair Bolsonaro na eleição. Em meados de novembro, quando centenas de bolsonaristas clamavam por um golpe reunidos em frente aos quartéis pelo país afora, Fernandes decidiu fazer uma conclamação. No grupo de WhatsApp que reunia colegas militares, mandou uma carta endereçada ao então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, que não estava no grupo, mas recebera a mensagem do próprio Fernandes minutos antes. Ele escreveu:

– É agora ou nunca mais, comandante, temos que agir! E não existe motivação maior do que a proteção e o futuro desta grande nação e de seus filhos… Os nossos filhos!

A ação que o general pedia era um “evento disparador” capaz de deflagrar a virada de mesa. Ele não diz com todas as letras o que vinha a ser o tal evento, mas explica que deveria ocorrer “a partir da ação das forças de segurança contra as massas populares, com o uso de artefatos como gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral” e, em seguida, dá sugestões de local. “Tudo isso bem próximo ou em nossas áreas militares!” No Brasil, não é raro aparecer generais de pijama, como são chamados os aposentados que não têm comando de nada, desfraldando bandeiras golpistas, com uma verve meio amalucada.

O apelo de Mario Fernandes, no entanto, recorria a um elo comum: ele e o então comandante são “kids pretos”, o apelido dado aos especialistas em operações especiais do Exército, que são altamente treinados, entre outras técnicas, em ações de sabotagem e incentivo à insurgência popular – as chamadas “operações de guerra irregular”. Os kids pretos são, também, chamados de “forças especiais”. Eles compõem a elite de combate do Exército. Em sua mensagem, Fernandes sempre se refere a Freire Gomes como comandante, em letras maiúsculas. Mas, no final do texto, reforçando a camaradagem, chama-o de kid preto, também com maiúsculas.

Essa turma forma o grupo preferido de Bolsonaro na corporação. Nos tempos de Academia Militar das Agulhas Negra (Aman), Bolsonaro queria ser um força especial, também conhecidos como FE. Fez o curso de paraquedismo, a primeira etapa da formação, e submeteu-se à prova de ingresso duas vezes – foi reprovado em ambas. Três décadas depois de amargar uma expulsão branca do Exército, em razão de ter planejado um atentado a bomba no sistema de abastecimento de água do Rio, Bolsonaro chegou ao poder em Brasília e cercou-se dos kids pretos – única força em que Bolsonaro dizia confiar plenamente.

Um deles era o general Luiz Eduardo Ramos, que foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e, também, da Casa Civil. Outro era o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro que se encontra preso e, certamente, é o militar mais enrolado nas falcatruas do governo, do contrabando das joias sauditas à falsificação da carteira de vacinação contra a Covid, passando por toda sorte de manipulação com dinheiro vivo dentro do palácio. (Na operação pega-joia, houve o envolvimento de outros dois kids pretos: Cleiton Henrique Holzschuk, que tentou registrar as joias como bem privado de Bolsonaro, e Marcelo da Costa Câmara, que gerenciava o acervo particular do ex-presidente.)

Em quatro anos, a gestão de Bolsonaro convocou pelo menos 26 kids pretos. Além do general Ramos e do coronel Cid, nomeou o general Eduardo Pazuello, que fez a desastrosa gestão do Ministério da Saúde na pandemia. Seu principal auxiliar era o coronel Elcio Franco Filho, outro kid preto. O coronel ficou conhecido por não ter respondido ao e-mail da Pfizer oferecendo vacinas ao Brasil, depois por ter autorizado a compra de vacina superfaturada e, mais recentemente, por aparecer num áudio em que se discutia a mobilização de 1,5 mil soldados para dar um golpe e devolver o poder a Bolsonaro.

Mesmo antes da vitória de Bolsonaro, os kids pretos sabiam da predileção pelo grupo e já tinham planos de tutelá-lo. Em março de 2018, por exemplo, o general Luiz Eduardo Ramos participava de um jantar com outros militares brasileiros quando resolveu telefonar para o então deputado federal Jair Bolsonaro. Depois de uma rápida conversa, cujo conteúdo a piauí desconhece, Ramos desligou o telefone e confidenciou aos presentes: “Estão vendo? Esse cara está nas nossas mãos. Se ele for eleito, a gente vai governar por ele.” Coube ao general Ramos a articulação para que Bolsonaro colocasse no comando do Exército o general Freire Gomes, outro kid preto.

general Freire Gomes não atendeu ao apelo de Mario Fernandes no WhatsApp, mas a crônica do golpe inclui mais de uma tentativa de promover um “evento disparador”. Em 12 de dezembro, dia em que Lula era diplomado como presidente, bolsonaristas incendiaram cinco ônibus, três automóveis e uma viatura do Corpo de Bombeiros, e tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília, em protesto contra a detenção de um indígena xavante. Depois, em outro “evento disparador”, depredaram a sede dos três poderes da República, no dia 8 de janeiro.

Três dias antes do protesto de 12 de dezembro, a Agência Brasileira de Inteligência detectou que, entre os xavantes, havia três kids pretos infiltrados. Um agente da Abin, que conversou com a piauí sob anonimato por não ter autorização formal para se manifestar publicamente, disse o seguinte: “Tudo indica que os militares usaram esses indígenas como massa de manobra. Isso porque, em alguns casos, o Estatuto dos Povos Indígenas atenua a responsabilidade civil e criminal.” A informação não foi registrada em relatório e, assim, acabou sendo ignorada. (A prática de não produzir relatórios tornou-se mais comum durante a pandemia. Como Bolsonaro ficava irritado ao saber do avanço da Covid em informes da Abin, os agentes passaram a ignorar o assunto.)

No dia 8 de janeiro, o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, um kid preto que dirigiu o setor de Logística do Ministério da Saúde no governo Bolsonaro, gravou a si mesmo na intentona golpista e divulgou as imagens nas redes sociais. “Quero dizer que eu tô arrepiado aqui”, festejou, enrolado numa bandeira do Brasil, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo com olhos irritados pelo gás lacrimogêneo da Polícia Militar, elogiava a corporação. “O pessoal tá aplaudindo a Polícia Militar, porque a gente sabe que eles cumpriram ordem. […] Tem que ser aplaudidos, sim.”

Outros dois kids pretos da reserva recorreram ao Twitter. O coronel José Placídio Matias dos Santos fez um apelo ao general Júlio Cesar de Arruda, então comandante do Exército (a Polícia Federal ainda não sabe se ele estava ou não na Praça dos Três Poderes): “O Brasil e o Exército esperam que o senhor cumpra o seu dever de não se submeter às ordens do maior ladrão da história da humanidade. O senhor sempre teve e tem o meu respeito. Força!!” Pouco depois, nova mensagem: “Brasília está agitada com a ação dos patriotas. Excelente oportunidade para as FA entrarem no jogo, desta vez do lado certo.” No dia seguinte, fez uma provocação: “Será que o pessoal sabe que na manifestação de ontem em Brasília havia centenas de militares da ativa?” De Portugal, onde vive, o coronel Fernando de Galvão e Albuquerque Montenegro, outro kid preto, também tentou insuflar os golpistas. “Patriotas brasileiros, ignorem a grande imprensa nacional e internacional. Qualquer manifestação contra o establishment será sempre apresentada como atos antidemocráticos. Façam o que deve ser feito.”

Os três foram procurados pela piauí. O general Ridauto Fernandes não quis falar de sua presença no meio da massa golpista e limitou-se a dizer que sempre pautou sua conduta “pela legalidade, que está embutida no conceito da disciplina”. O coronel Placídio negou que as postagens golpistas no Twitter fossem de sua autoria. “Eu não incentivei [o golpe]. Ao contrário, repudio veementemente as depredações que ocorreram naquele dia. Eu não estava em Brasília e soube do ocorrido pelas notícias. Além disso, havia várias postagens na minha conta [do Twitter] que definitivamente não foram de minha autoria.” O coronel Montenegro não retornou o contato da piauí.

As forças de segurança reagiram ao 8 de janeiro exatamente como previra o general Mario Fernandes na sua conclamação golpista no WhatsApp: com o uso de bombas de efeito moral em área cuja segurança é de responsabilidade militar – no caso, o Palácio do Planalto. “O objetivo desses radicais claramente era causar comoção social e pressionar as Forças Armadas a promover a intervenção militar”, diz Carlos Fico, professor de história do Brasil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor de vários livros sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar. Procurado pela piauí, o general da reserva Mario Fernandes também preferiu não se manifestar. O Exército, por sua vez, informou apenas que quaisquer informações sobre o 8 de janeiro só serão repassadas aos órgãos que investigam os atos golpistas – no caso, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.

Os vídeos da intentona golpista mostram ações próprias de quem teve treinamento militar. Antes de chegar à Praça dos Três Poderes, os bolsonaristas se depararam com uma longa fileira de gradis, unidos um ao outro, que os impedia de avançar. Não era possível derrubar os gradis com 1, 2 ou 3 homens. O que se vê na imagem é uma ação coordenada, com vários se postando em lugares diferentes ao longo dos gradis e empurrando-os ao mesmo tempo. “É pura tática militar”, diz um oficial do Exército ligado aos FE que preferiu não ser identificado para não se indispor com os colegas de farda. Depois, em outra tática militar, os gradis são convertidos em escada para que os baderneiros desçam do teto do Congresso até o Salão Verde da Câmara. Ao chegarem à Praça, os golpistas se dividem em três. Um grupo vai em direção ao Congresso, outro se dirige ao STF e um terceiro caminha para o Palácio do Planalto. “Isso denota planejamento. A tendência natural de toda multidão é caminhar unida, numa única direção”, diz o militar.

Em conversa com a piauí, um policial do Senado contou que os baderneiros estavam divididos em duas linhas. A primeira, formada só por homens, cuidava do enfrentamento direto com a polícia e do arrombamento de portas e janelas do Congresso. A segunda, composta principalmente por idosos, distribuía água mineral para que o “primeiro pelotão” reduzisse os efeitos do gás lacrimogêneo e do gás de pimenta no rosto. “Assim que invadiram o Senado, percebemos que eles logo procuravam as mangueiras anti-incêndio para espalhar pelo ambiente e minimizar os efeitos do gás”, disse o policial.

Pelos vídeos da quebradeira é possível notar que alguns dos vândalos usavam luvas de couro para atirar de volta as bombas de gás. “Enquanto expele o gás, esse dispositivo fica muito aquecido e só pode ser recolhido com luvas. Um civil sem treinamento dificilmente se prepararia para isso”, afirma o militar do Exército. As postagens dos golpistas antes do 8 de janeiro deram algumas dicas, mas não recomendaram o uso de luvas. Exemplo de uma postagem bastante popular que convocava para a manifestação: “Ao ver uma granada de gás lacrimogêneo, não corra para pegá-la. Espere o pino sair, aí sim, pode pegá-la e arremessá-la de volta.”

O caso potencialmente mais grave aconteceu na invasão ao prédio do Senado. Ali, os golpistas atiraram uma granada do tipo GL-310, apelidada de “bailarina” por saltitar no chão enquanto dispara o gás lacrimogêneo, evitando que o alvo a capture e lance o artefato de volta. “O estranho é que as polícias do Senado e da Câmara não têm esse tipo de granada. Então isso veio de fora”, diz o policial do Senado entrevistado pela piauí. Os portais da Transparência da Câmara e do Senado, de fato, não apresentam nenhuma compra desse tipo de granada. A outra força de segurança que participou da contenção dos bolsonaristas, a PM do Distrito Federal, também não usa esse artefato, segundo um oficial ouvido pela reportagem. Já o Exército, esse sim, utiliza a GL-310 em larga escala para treinamentos militares, inclusive nos cursos dos kids pretos. Até agora, os investigadores da Polícia Federal nem sequer estão investigando o aparecimento, em meio aos protestos, de uma arma usada pelo Exército.

Ao contrário do que ocorre no Congresso e no STF, a segurança do Palácio do Planalto fica a cargo do Exército. Dois órgãos executam a tarefa: o Comando Militar do Planalto e o Gabinete de Segurança Institucional. No 8 de janeiro, o CMP estava sob a chefia do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, um bolsonarista fiel. Já o GSI era comandado pelo general Marco Edson Gonçalves Dias, que trabalhou na segurança de Lula nos dois primeiros mandatos do petista. Por coincidência, os dois generais são kids pretos. O general G.Dias, como é conhecido, pediu demissão do cargo depois que a CNN Brasil divulgou imagens mostrando sua inação diante dos invasores do palácio. O general Dutra de Menezes foi afastado do Comando Militar do Planalto em fevereiro e exonerado em abril.

Os investigadores suspeitam que a ação dos kids pretos podem ter algum envolvimento com os ataques ocorridos depois do 8 de janeiro. Nos dias subsequentes, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) registrou uma série de sabotagens em torres de transmissão de energia elétrica pelo Brasil. Quatro torres foram derrubadas (3 em Rondônia e 1 no Paraná) e dezesseis, danificadas (6 no Paraná, 3 em São Paulo, 6 em Rondônia, 1 em Mato Grosso). Os ataques a instalações de infraestrutura fazem parte do treinamento das forças especiais, mas não é um ensinamento exclusivo deles.

Apesar da onipresença no governo e as suspeitas de ações subterrâneas, os kids pretos compõem apenas 0,25% do contingente do Exército.

filme Tropa de Elite, de 2007, trouxe a público o sadismo e a crueldade do treinamento dos soldados do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), no Rio de Janeiro. O curso do Bope, na verdade, foi inspirado no treinamento dos kids pretos do Exército, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói. Ali, os sargentos e oficiais precisam demonstrar resistência física e psicológica extrema ao longo dos doze meses. Se aprovados, passam a integrar um dos quatro batalhões do Comando de Operações Especiais (COpEsp), todos eles instalados em Goiânia, ou a 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus.

É por isso que as “brigadas de operações especiais em Goiânia” aparecem duas vezes nos áudios que vieram a público depois da apreensão do celular de Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que está preso desde o dia 2 de maio. Num diálogo obtido pela polícia, Ailton Barros, um ex-paraquedista expulso do Exército nos anos 2000 e muito próximo de Bolsonaro, defende que o golpe, bem como a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, são tarefas para os kids pretos. Diz ele: “Tem que ser dada a missão às Brigadas de Operações Especiais de Goiânia pra prender o Alexandre de Moraes no domingo na casa dele, como ele faz com todo mundo. E na segunda-feira ser lido o decreto de GLO [Garantia da Lei e da Ordem] e botar o Exército pra agir.”

Em outra conversa, dessa vez com Elcio Franco Filho, o militar enrolado com as vacinas da Covid, Ailton Barros volta a radicalizar e a evocar os kids pretos: “Esse Alto Comando de merda que não quer fazer as porras! É preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia a prender o Alexandre de Moraes. Vamos organizar, desenvolver, instruir e equipar 1,5 mil homens.” O comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia era o general Carlos Alberto Rodrigues Pimentel. Mas, em janeiro, o Exército escolheu outro militar para comandar um dos quatro batalhões de kids pretos em Goiânia. Seu nome: o coronel Mauro Cid. Como se sabe, essa indicação foi a gota d’água: o presidente Lula demitiu o comandante do Exército, Júlio Cesar de Arruda, e nomeou o general Tomás Paiva.