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A última fala em público do Papa Francisco: “É com dor que penso em Gaza. Ontem foram bombardeadas crianças. Isto é crueldade. Isso não é guerra”

O papa Francisco sugeriu que a comunidade global deveria estudar se a investida militar de Israel em Gaza constitui um genocídio do povo palestino. O chefe da Igreja também vinha defendendo a entrada de ajuda humanitária em Gaza, o que vem sendo impedido por Israel.

Além disso, ele criticou os supostos excessos militares de Israel. “A defesa deve ser sempre proporcional ao ataque. Quando há algo desproporcional, você vê uma tendência de dominação que vai além da moralidade”, comentou em setembro de 2024.

O padre Gabriel Romanelli, que lidera a paróquia de Gaza, contou que falou com o papa, a última vez, no sábado (19). “Esperamos que os apelos que ele fez sejam atendidos: que as bombas sejam silenciadas, que esta guerra termine, que os reféns e prisioneiros sejam libertados e que a ajuda humanitária à população possa ser retomada e chegar de forma consistente”, disse Romanelli ao Vaticano News.

Ucrânia

A guerra na Ucrânia também preocupava o líder da Igreja Católica. Tanto ele quanto outros representantes do Vaticano mantiveram diálogo com russos e ucranianos para que se chegasse a um acordo que levasse ao fim do conflito, para troca de prisioneiros e outras tréguas.

Em novembro de 2022, antes da guerra de a Ucrânia completar um ano, Francisco revelou a jornalistas as conversas com autoridades da Ucrânia e da Rússia e disse que, para ele, tratava-se do início de uma nova guerra mundial. “Em um século, três guerras mundiais! A de 1914-1918, a de 1939-1945, e esta! Esta é uma guerra mundial, porque é verdade que, quando os impérios, seja de um lado, seja do outro, se enfraquecem, precisam fazer uma guerra para se sentirem fortes e também para vender armas! Porque hoje creio que a maior calamidade que existe no mundo é a indústria das armas”, destacou.

“Assistindo a sucessivas novas guerras, com a cumplicidade, a tolerância ou a indiferença de outros países, ou com simples lutas de poder em torno de interesses de parte, podemos pensar que a sociedade mundial está a perder o seu coração”, afirmou Francisco.

O primeiro papa latino-americano destacou que basta olhar e ouvir as avós de vítimas de conflitos armados. “É desolador vê-las chorar os netos assassinados, ou escutá-las desejar a própria morte por terem perdido a casa onde sempre viveram”, disse. O Pontífice acrescentou que ver as avós chorar “sem que isso se torne intolerável é sinal de um mundo sem coração”.

Ao publicar a encíclica Laudato Si’, em 2015, o papa já alertava para o aumento das guerras no mundo. “É previsível que, perante o esgotamento de alguns recursos, se vá criando um cenário favorável para novas guerras, disfarçadas sob nobres reivindicações”, afirmou o Pontífice.

Funeral

O Vaticano confirmou que o funeral do Papa Francisco será realizado no próximo sábado, 26 de abril, às 10h da manhã (horário local), na Praça de São Pedro. A Missa das Exéquias será celebrada na data, seguida do sepultamento na Basílica de Santa Maria Maior. Em 23 de abril, esta quarta-feira, o corpo será transportado à Basílica de São Pedro.

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Mais de 100 funcionários da Meta foram espiões e soldados das Forças de Defesa de Israel

Mais de cem ex-espiões israelenses e soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI) trabalham para a gigante da tecnologia Meta, incluindo sua chefe de política de IA, que serviu nas FDI sob um programa do governo israelense que permite que estrangeiros se voluntariem para o exército israelense.

Shira Anderson, advogada americana especializada em direitos humanos, é a chefe de política de IA da Meta e se alistou voluntariamente nas FDI em 2009, em um programa que permite que judeus não israelenses que não são elegíveis para o alistamento militar se juntem ao exército israelense.

Por meio desse programa, conhecido como Garin Tzabar, muitos estrangeiros que lutaram pelas FDI foram implicados em crimes de guerra e crimes contra a humanidade desde o início do genocídio israelense em Gaza, em outubro de 2023.

Anderson serviu como suboficial nas Forças de Defesa de Israel por mais de dois anos, onde trabalhou na Seção de Informações Estratégicas Militares, redigindo dossiês e propaganda de relações públicas.

Ela também foi a elo de ligação entre as FDI e adidos militares estrangeiros alocados em Israel, além de ser a elo de ligação com a Cruz Vermelha.

Como a IA é uma tecnologia emergente crucial para gigantes da tecnologia e forças armadas, o papel de Anderson na Meta é fundamental. Ela desenvolve orientações jurídicas, políticas e pontos de discussão de relações públicas sobre questões e regulamentação de IA para todas as principais áreas da Meta, incluindo suas equipes de produtos, políticas públicas e relações governamentais.

Na Meta, Anderson, que trabalha no escritório da Meta em Washington, D.C., está em companhia familiar

Mais de cem ex-espiões israelenses e soldados das Forças de Defesa de Israel são empregados pela empresa, mostra minha nova investigação, muitos dos quais trabalharam para a agência de espionagem israelense Unidade 8200.

Esses ex-membros das FDI estão distribuídos igualmente entre os escritórios da Meta nos EUA e em Tel Aviv, e um número significativo deles, como Anderson, possui especialização em IA.

Dado que Israel fez uso extensivo de IA não apenas para conduzir seu genocídio, mas para estabelecer seu sistema anterior de apartheid, vigilância e ocupação, o recrutamento de especialistas em IA das FDI pela Meta é particularmente insidioso.

Será que esses ex-espiões israelenses usaram suas conexões na Unidade 8200 para ajudar a gigante da tecnologia a colaborar com as FDI na construção de listas de morte?

De acordo com um relatório do ano passado, a Unidade 8200 se infiltrou em grupos de WhatsApp e marcou todos os nomes em um grupo para assassinato se apenas um suposto membro do Hamas também estivesse no grupo, independentemente do tamanho ou do conteúdo do bate-papo em grupo.

Como a unidade de espionagem israelense obteve acesso aos dados de usuários do WhatsApp mantidos pela Meta?

A Meta tem perguntas sérias relacionadas a crimes de guerra para responder.

Perguntas para as quais Anderson, sem dúvida, elaborou respostas de relações públicas.

Anderson tem uma lealdade de longa data a Israel. Ela ingressou nas Forças de Defesa de Israel após cursar história na Universidade da Califórnia, Berkeley, e depois concluiu o curso de direito na Universidade Duke, antes de retornar a Israel, onde trabalhou para um think tank israelense dirigido pelo ex-chefe das FDI.

Depois disso, tornou-se assistente jurídica do chefe da Suprema Corte de Israel. Foi a Suprema Corte de Israel que, há duas semanas, rejeitou uma petição para permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza, efetivamente dando sinal verde para o uso da fome como arma. Isso é um crime de guerra segundo a Convenção de Genebra.

A própria Anderson nega veementemente o genocídio. Durante uma aparição em um podcast no ano passado, ela disse: “Eu absolutamente não acredito que um genocídio esteja acontecendo” e negou que Israel tenha deliberadamente atacado civis.

Durante a entrevista, ela chamou o Hamas de “culto à morte” e disse que “Gaza é um Estado falido”, apesar de não ser um Estado, o fato central que subjaz à resistência palestina. Isso é algo que se esperaria que um advogado de direitos humanos soubesse.

Ela fez inúmeras declarações genocidas durante a entrevista, incluindo a de que “o desafio na Cisjordânia” é que “o direito internacional não permite que Israel faça o que faz em Gaza” porque a Cisjordânia está ocupada. Como resultado, lamentou, “regras diferentes se aplicam”.

Ela invocou o problema do bonde para argumentar por que matar um grande número de civis é justificável e, por seu tempo como ligação da Cruz Vermelha das Forças de Defesa de Israel, parece ter um ressentimento particular contra a organização humanitária, dizendo que ela “age como um país” em Israel. Você pode ouvir tudo aqui.

O caminho de Anderson para servir nas Forças de Defesa de Israel, por meio do programa Garin Tzabar, também é altamente controverso. Essa iniciativa permitiu que não israelenses (conhecidos como “Soldados Solitários”) se juntassem às FDI, assassinassem palestinos, cometessem crimes de guerra e, em seguida, se reintegrassem às suas sociedades de origem.

Processos judiciais contra voluntários do Garin Tzabar que retornaram às suas casas após servirem nas FDI estão avançando em vários países. No Reino Unido, evidências de crimes de guerra cometidos em Gaza por dez britânicos residentes em Londres foram recentemente apresentadas à Polícia Metropolitana de Londres.

Quantos possíveis criminosos de guerra são empregados pela Meta?

Você pode encontrar os nomes dos funcionários da Meta, sediada em Tel Aviv, aqui e aqui. Você pode encontrar os nomes dos funcionários baseados nos EUA e suas localizações aqui, aqui e aqui.

Alguns dos ex-espiões israelenses que agora trabalham para a Meta passaram um tempo significativo na Unidade 8200, em alguns casos pulando diretamente das Forças de Defesa de Israel para a Meta.

Guy Shenkerman, por exemplo, passou mais de uma década na unidade de espionagem israelense antes de se mudar para os EUA para se juntar à Meta no verão de 2022.

Miki Rothschild, vice-presidente de gerenciamento de produtos no campus de Sunnydale da Meta, passou três anos durante a segunda intifada como comandante do Esquadrão Moran da FDI, que controla ataques de mísseis de longo alcance.

Maksim Shmukler, que trabalha para a Meta em Menlo Park e também trabalhou para o Google e a Apple, passou seis anos e meio na Unidade 8200 antes de se mudar para o Texas.

Shenkerman, Rothschild e Shmukler são israelenses, enquanto Shira Anderson se voluntariou para usar suas habilidades para lavar a linguagem jurídica em que Israel se baseia para encobrir o genocídio.

O fato de a pessoa que ofereceu seus serviços profissionais para um estado de apartheid movido a IA agora ajudar a determinar como a Meta usará nossos dados para impulsionar um futuro de IA deveria preocupar a todos nós.

Deveria nos preocupar especialmente à luz da repressão brutal dos Estados Unidos contra aqueles que se manifestam contra o genocídio.

Em novembro, vimos a visão da Meta para esse futuro da IA quando a empresa anunciou que estava disponibilizando suas ferramentas de IA “Llama” para os EUA e seus aliados chamados “Five Eyes” para aplicações de segurança nacional.

No anúncio, a Meta disse estar “entusiasmada” em trabalhar com os principais fabricantes de armas e corporações estatais de segurança nacional dos Estados Unidos, incluindo Lockheed Martin, Palantir e Anduril.

Recapitulando. Uma ex-oficial das Forças de Defesa de Israel é a chefe de política de IA da Meta, onde trabalha ao lado de mais de cem outros ex-espiões das FDI e israelenses, e todos eles estão agora diretamente mobilizados para trabalhar com o aparato de segurança nacional dos Estados Unidos e com um governo federal que está desaparecendo e prendendo dissidentes que se manifestam contra o genocídio.

A notícia de que um grande número de ex-membros das FDI são empregados pela Meta surge após minhas investigações no início deste ano revelarem os ex-especialistas em IA da Unidade 8200 trabalhando com IA para grandes empresas de tecnologia e os ex-espiões importados para o Google por meio da aquisição da Wiz.

Com a proliferação de ex-espiões e soldados israelenses nas grandes empresas de tecnologia dos EUA, estamos diante da captura completa do estado de segurança nacional dos EUA por vozes pró-Israel. Por vozes que negam o genocídio enquanto assistimos jornalistas sendo queimados até a morte em tendas.

Que negam o genocídio enquanto assistimos bebês sem cabeça sendo carregados pelos escombros e ruínas de ruas outrora vibrantes. Vozes que negam o genocídio enquanto a mais alta corte de Israel acena com políticas de fome. Por vozes que, em Trump, parecem ter encontrado o homem ideal para executar a lista de desejos sionistas.

À medida que o futuro da IA avança, as pessoas que construíram a arquitetura digital que permite a vigilância e o controle total dos palestinos, e que escreveram o código que possibilitou seu genocídio, estão agora determinando esse futuro para todos nós.

A perspectiva é verdadeiramente assustadora.

*Por Nate Bear*, site da Fepal

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Mundo

Hezbollah presta condolências e diz que ‘Papa Francisco acendeu a centelha do amor entre as sociedades islâmica e cristã’

“O Hezbollah expressa suas condolências à Santa Sé”, diz comunicado do movimento xiita libanês.

O Papa Francisco será lembrado como o homem que acendeu uma chama de amor entre cristãos e muçulmanos no mundo, conclamando por um cessar-fogo na Faixa de Gaza até seus últimos dias de vida, declarou o movimento xiita libanês Hezbollah.

“O Papa Francisco simbolizou o espírito do diálogo inter-religioso com suas posições inspiradoras, e seus encontros marcantes com líderes islâmicos em Najaf e Al-Azhar foram marcos que acenderam a chama do amor e da mensagem da fraternidade humana”, afirma a nota, divulgada pela Sputnik na noite de segunda-feira (21).

Segundo o comunicado, as posições firmes do Papa Francisco contra o genocídio palestino cometido por Israel na Faixa de Gaza, sua condenação aos massacres no enclave, os apelos por ajuda humanitária, o reconhecimento oficial da Palestina e o apoio à causa palestina — assim como sua defesa constante do Líbano e condenação da agressão israelense ao país em todas as fases — “representaram a sinceridade de seu compromisso com os valores humanitários”, de acordo com o 237.

“O Hezbollah expressa suas condolências à Santa Sé e aos seguidores da Igreja Católica em todo o mundo, bem como a todos os cristãos, especialmente nossos irmãos cristãos no Líbano e à Nunciatura Apostólica no país, pelo falecimento de Jorge Mario Bergoglio [Papa Francisco], que acreditava na paz, rejeitava as guerras e tinha profunda fé na propagação dos valores do amor e da tolerância, construindo pontes entre religiões, culturas e povos para estabelecer o diálogo, o entendimento e a justiça”, acrescenta o comunicado.

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Política

Por que Chico Buarque e Carol Proner visitaram o Papa Francisco

Aquela visita clandestina em novembro de 2018 tinha como missão a denúncia dos fragrantes abusos do sistema de justiça contra Lula e a democracia, e mais uma vez a presença do Chico foi decisiva.

Os jornais publicaram a foto dos advogados e do Chico ao lado do Papa Francisco e a imagem serviu de impulso para a forte campanha de denúncia contra os abusos da Operação Lava Jato.

Não apenas o caso do Presidente Lula foi sendo percebido como perseguição política, mas também a estratégia como um todo, responsável por uma grave crise nos setores de energia e da construção civil.

O Papa Francisco foi um dos únicos líderes políticos a perceber e denunciar o uso da justiça para fins de desestabilização politica e da violação da presunção de inocência pelo abuso do poder midiático.

Essa foi uma contribuição pontual e inesquecível do Papa para o Brasil e para a América-Latina.

*Carol Proner em seu Facebook

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Política

O santo é forte: a cura que vem da ancestralidade e o enfrentamento ao racismo religioso

A história do Brasil é marcada pela criminalização das religiões de matriz africana.

Dona Teresa quando entra na senzala

Oi corre atrás de rezadeira com criança para benzer

A carne é fraca, o santo é forte na ribeira

Oi vira santo a noite inteira, quero ver agradecer

É preciso reconhecer o papel histórico que os povos e comunidades tradicionais de terreiro desempenham na sobrevivência e na luta contínua pela afirmação da dignidade humana da população negra desde o terrível crime da escravidão. É necessário reconhecer que os saberes ancestrais africanos e afro-brasileiros beneficiam não apenas pessoas negras, mas toda a sociedade brasileira.

O samba, epígrafe deste texto, de autoria da cantora Teresa Cristina, ilustra bem a importância dos conhecimentos tradicionais de cura, beneficiando inclusive os brancos colonizadores. Mas o reconhecimento público e institucional desses saberes continua sendo negado. O racismo religioso segue operando invalidação, no reconhecimento público por parte de certos gestores públicos e setores da sociedade.

Lélia Gonzalez afirma que a violência do racismo impossibilita o reconhecimento da “contribuição para o avanço da humanidade nos níveis filosófico, científico, artístico e religioso” realizada pelo povo negro. É o próprio racismo que atribui ao negro uma suposta incapacidade de pensar e de produzir conhecimento e ciência. A história do Brasil é marcada pela criminalização das religiões de matriz africana, com seus saberes medicinais reduzidos ao curandeirismo. A repressão às práticas de cura realizadas por sacerdotisas e sacerdotes dessas tradições já figurou, na história recente do país, como crime contra a saúde pública.

É nesse contexto histórico de apagamento e violência que, desde 2021, foi instituído no estado do Rio de Janeiro o “Abril Verde” — Lei 9.301/21, de minha autoria — como um mês dedicado ao enfrentamento do racismo religioso. A lei simbolicamente reconhece essas tradições como espaços de promoção da saúde. O verde faz referência a Ossãe, orixá das folhas e da medicina. A este grande Orixá pede-se a cura para os males do racismo, considerado um dos determinantes sociais das condições de saúde da população negra. Por isso, celebramos a importância dos saberes medicinais ancestrais. Saberes que confrontam o racismo e ampliam a compreensão hegemônica de saúde, reconhecendo o corpo em sua integralidade, na qual os terreiros nos ensinam que a natureza e espiritualidade são indissociáveis da noção de saúde.

Esta reflexão segue os passos de uma luta histórica, marcada por vitórias institucionais que carecem de regulamentação e aplicabilidade. É preciso efetivar a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), conquista do movimento negro no Sistema Único de Saúde (SUS). A PNSIPN, instituída em 2010, já destacava a relevância dessas práticas preservadas nas comunidades de terreiro como parte do direito à saúde no SUS.

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Nessa direção, a recente resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) sobre o papel dos terreiros na promoção da saúde, assim como garantir o respeito das complexidades culturais dos povos tradicionais nos equipamentos do SUS. A resolução n° 715 de 2023, na sua orientação 46, reconhece as manifestações da cultura popular dos povos tradicionais de matriz africana e suas comunidades tradicionais de terreiro como equipamentos promotores de saúde e cura complementares do SUS.

Reconhecer os terreiros como espaços de cuidado e promotores de saúde é reconhecer que a cura também vem da ancestralidade, das folhas, dos cantos, da fé e da resistência negra. O Abril Verde é mais do que um símbolo: é um chamado à ação, à escuta e ao respeito. Que a política pública caminhe ao lado dos saberes tradicionais, que o SUS acolha, valorize essas práticas de cura. Porque, contrariando as violências, enquanto houver terreiro, haverá cura, dignidade e vida pulsando pelo Brasil afora.

*Renata Souza é deputada estadual, autora da Lei que institui o Abril Verde no estado do Rio de Janeiro, cria da Favela da Maré, jornalista e pós-doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Feminista negra, preside atualmente a Comissão da Mulher da Alerj. Foi reeleita a deputada estadual mais votada da história. É coautora do livro Pedagogia do Axé: saberes, lutas e resistências do povo negro (Ed. Aruanda).

*BdF

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Política

Como delegada acusada de golpe planejou barrar eleitores de Lula para reeleger Bolsonaro, segundo a PGR

A ex-diretora de inteligência de Ministério da Justiça Marília de Alencar integra segundo núcleo denunciado por golpe, que será julgado pelo STF nesta semana, junto com o ex-diretor da PRF Silvinei Vasques e Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro. Grupo é acusado de tentar favorecer ex-presidente com blitze nas estradas no 2º turno de 2022.

O segundo turno das eleições de 2022 foi marcado por tensão devido a uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) — na época sob comando do governo de Jair Bolsonaro (PL) — para fiscalizar a circulação de ônibus em áreas de forte base eleitoral do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em especial no Nordeste.

A operação, que desrespeitava uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibindo a PRF de qualquer ação no transporte público no dia da votação, levou o então presidente da Corte, Alexandre de Moraes, a ameaçar de prisão em flagrante o então diretor da instituição, Silvinei Vasques.

Dois anos e meio depois, Vasques e mais cinco denunciados podem virar réus no Supremo Tribunal Federal (STF) a partir desta terça-feira (22/04), acusados de participar de uma suposta trama golpista para evitar a eleição de Lula e manter Bolsonaro no poder.

Faz parte do grupo a única mulher denunciada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) entre os 34 acusados de organizar e implementar a tentativa de golpe de Estado — a delegada da Polícia Federal (PF) Marília Ferreira de Alencar, que foi diretora de Inteligência no Ministério da Justiça no final do governo Bolsonaro e teria municiado a operação da PRF com informações sobre os municípios com mais eleitores de Lula.

Além disso, Alencar também é acusada de ter contribuído para que as forças de segurança do Distrito Federal (DF) não impedissem bolsonaristas radicais de invadir e vandalizar as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro de 2023.

Na ocasião, ela era subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF, nomeada pelo então secretário de Segurança Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e também acusado de participar da trama golpista.

A delegada nega as acusações e contratou para defendê-la o advogado Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça do governo de Dilma Rousseff (PT). Um dos argumentos da defesa é que o próprio Ministério Público Federal arquivou um inquérito civil contra Alencar, após não encontrar evidências de sua omissão no 8 de janeiro.

O STF já tornou réus oito denunciados em março, acusados de integrar o chamado “núcleo crucial” da trama golpista, incluindo Bolsonaro, Anderson Torres e três generais do Exército que integravam seu governo — Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil).

Segundo a acusação, os seis denunciados que serão julgados agora formam o “núcleo de gerenciamento das ações” ordenadas pelo núcleo crucial. Para a PGR, eles teriam direcionado a atuação de órgãos policiais, coordenado o monitoramento de autoridades, mantido contato com manifestantes acampados ou elaborado minutas golpistas.

Além de Silvinei Vasques e Marília de Alencar, estão nesse núcleo o delegado federal Fernando de Sousa Oliveira, o general da reserva Mário Fernandes, o coronel do Exército Marcelo Costa Câmara e Filipe Garcia Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro — todos negam qualquer ilegalidade.

Na terça-feira (22/04), a Primeira Turma do STF — formada por Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin — começa a julgar se há elementos suficientes para abrir um processo criminal contra eles por cinco crimes: golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

A operação para barrar eleitores de Lula
Formada em direito pela Universidade de Brasília, Marília de Alencar é delegada da PF há 17 anos.

No governo Bolsonaro, foi diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública durante a gestão de Anderson Torres (2021-2022).

Ela era subordinada ao delegado da PF Fernando de Sousa Oliveira, também denunciado, que à época era diretor de Operações do Ministério da Justiça.

Com a derrota de Bolsonaro na eleição de 2022, Torres virou secretário de Segurança do DF e levou os dois para sua equipe: Oliveira se tornou secretário-executivo da pasta e Alencar, subsecretária de Inteligência.

Para a PGR, os três atuaram tanto no uso indevido da PRF nas eleições, quanto na omissão das forças de segurança do DF deixando de conter os bolsonaristas radicais nos ataques de 8 de janeiro.

Segundo a acusação, Marília de Alencar foi quem determinou a elaboração de um relatório mapeando as cidades em que Lula teve votação expressiva no primeiro turno para orientar a operação de blitze da PRF nessas localidades.

De acordo com depoimento à PF de Clebson Ferreira de Paula Vieira, analista de inteligência encarregado da coleta de dados, Alencar lhe solicitou relatórios com as cidades em que Lula ou Bolsonaro receberam mais de 75% dos votos, que foram produzidos com o Business Intelligence (BI), ferramenta de dados usada pela PF.

Ainda segundo ele, depois ela teria solicitado a impressão apenas dos resultados do petista, que concentrava cidades do Nordeste. Na sequência, ela teria relatado ter notado coincidência entre essas cidades e os locais da operação da PRF no segundo turno.

A PGR também aponta como provas mensagens recuperadas do celular da delegada pela PF, que haviam sido apagadas e estavam gravadas em nuvem. Parte do conteúdo recuperado estava com mensagens fora de ordem e foram reorganizadas pela investigação.

Segundo a acusação, logo após o resultado do primeiro turno, em 2 de outubro, a denunciada teria enviado a seguinte mensagem a Oliveira: “Temos que pensar na ofensiva quanto a essas pesquisas”.

Já no dia 6 de outubro, ela teria indicado a seu chefe que tudo estava “alinhado” e que já havia feito “a sua parte”.

Foi identificado pela PF também um grupo de WhatsApp intitulado “EM OFF” que era formado por ela, Oliveira e Leo Garrido Meira Salles, então coordenador-geral de Operações da Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência do Ministério.

Em 13 de outubro de 2022, por exemplo, Alencar teria enviado mensagem no grupo afirmando que em “belford roxo [cidade do Rio de Janeiro] o prefeito é vermelho precisa reforçar pf” e “menos 25.000 votos no 9 [em referência a Lula]”.

Em seguida, diz a PGR, ela teria perguntado a Oliveira qual seria o próximo passo sobre os relatórios e teria recebido a resposta: “52 x 48 são milhoes 5 de votos para virar”, indicando que seriam necessários cinco milhões de votos para virar o resultado das eleições.

*BBC

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BRICS firmam aliança para enfrentar a fome no mundo

Declaração Conjunta reforça união global por segurança alimentar, com foco em pequenos produtores, sustentabilidade e inclusão social

A Reunião Ministerial realizada na última quinta-feira (17), em Brasília, teve como tema “Promovendo uma Agricultura Inclusiva e Sustentável por meio da Cooperação, Inovação e Comércio Equitativo entre os BRICS”. Ministros e líderes de Agricultura dos 11 países membros aprovaram e assinaram uma Declaração Conjunta, reforçando o compromisso com desenvolvimento agrícola sustentável, segurança alimentar e redução das desigualdades no campo.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, os BRICS representam 54,5% da população mundial, um terço das terras agrícolas e mais de um terço dos recursos de água doce do planeta. O bloco responde por 75% da produção agrícola global e abriga metade das 550 milhões de propriedades familiares existentes.

“Esses dados mostram o papel decisivo dos BRICS na agricultura e na segurança alimentar mundial. Reuniões como esta são espaços privilegiados para diálogo e cooperação”, destacou o ministro Carlos Fávaro.

Segurança alimentar e cooperação emergencial

Inovação e solidariedade movem pacto agrícola do BRICS

O primeiro eixo da Declaração trata da segurança alimentar, com ênfase no acesso equitativo a alimentos de qualidade, especialmente em crises globais. O documento reconhece a importância da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e incentiva o envolvimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e do FIDA em políticas relacionadas, segundo o Cafeziho.

Entre as medidas acordadas estão o fortalecimento de estoques reguladores, investimentos em infraestrutura de armazenamento e políticas de preços mínimos para estabilizar o acesso a alimentos. Em situações excepcionais, como escassez ou alta de preços, os BRICS se comprometem a agir com solidariedade.

Agricultura Familiar e Inclusão Tecnológica
A secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Fernanda Machiaveli, destacou a necessidade de políticas para agricultura familiar. “A tecnologia deve facilitar o trabalho no campo, gerar renda e garantir alimentos saudáveis”, afirmou.

A Declaração propõe parcerias para produção de máquinas adaptadas à agricultura familiar, visando atrair jovens e promover uma transição justa. “Esses produtores sofrem com as mudanças climáticas, mas também podem mitigá-las com práticas sustentáveis”, explicou Machiaveli.

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A íntegra da nota de Lula sobre a morte do Papa Francisco

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do Papa Francisco nesta segunda-feira, 21. Francisco morreu na madrugada desta segunda-feira, 21, às 2h35 do horário de Brasília, na Casa Santa

O presidente brasileiro e o pontífice tinham um a relação de amizade. Os dois se conheceram quando Jorge Mario Bergoglio, nome de batismo do Papa, ainda era cardeal em Buenos Aires, diz a Exame.

Veja a nota na íntegra:
A humanidade perde hoje uma voz de respeito e acolhimento ao próximo. O Papa Francisco viveu e propagou em seu dia a dia o amor, a tolerância e a solidariedade que são a base dos ensinamentos cristãos.

Assim como ensinado na oração de São Francisco de Assis, o argentino Jorge Bergoglio buscou de forma incansável levar o amor onde existia o ódio. A união, onde havia a discórdia. E a compreensão de que somos todos iguais, vivendo em uma mesma casa, o nosso planeta, que precisa urgentemente dos nossos cuidados.

Com sua simplicidade, coragem e empatia, Francisco trouxe ao Vaticano o tema das mudanças climáticas. Criticou vigorosamente os modelos econômicos que levaram a humanidade a produzir tantas injustiças. Mostrou que esse mesmo modelo é que gera desigualdade entre países e pessoas. E sempre se colocou ao lado daqueles que mais precisam: os pobres, os refugiados, os jovens, os idosos e as vítimas das guerras. e de todas as formas de preconceito.

Nas vezes em que eu e Janja fomos abençoados com a oportunidade de encontrar o Papa Francisco e sermos recebidos por ele com muito carinho, pudemos compartilhar nossos ideais de paz, igualdade e justiça. Ideais de que o mundo sempre precisou. E sempre precisará.

Que Deus conforte os que hoje, em todos os lugares do mundo, sofrem a dor dessa enorme perda. Em sua memória e em homenagem à sua obra, decreto luto de 7 dias no Brasil.

O Santo Padre se vai, mas suas mensagens seguirão gravadas em nossos corações.

*Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil

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Adeus Papa Francisco

Papa Francisco morre aos 88 anos.

O anúncio da morte do Papa Francisco, aos 88 anos, foi feito, com pesar, por volta das 4h30 (horário de Brasília) desta segunda-feira (21), diretamente da Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, por Sua Eminêcia, o cardeal KevinFarrell, na TV do Vaticano.

A morte do papa ocorreu duas horas antes, às 2h35.

“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”, anunciou Farrell. “Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”

A morte de Francisco ocorreu um dia após o papa fazer sua primeira aparição pública prolongada desde que recebeu alta, em 23 de março, de uma internação hospitalar de 38 dias por pneumonia.

No domingo de Páscoa, Francisco entrou na Praça de São Pedro em um papamóvel aberto pouco depois do meio-dia, saudando a multidão entusiasmada . Ele também ofereceu uma bênção especial pela primeira vez desde o Natal.

Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa em 13 de março de 2013, surpreendendo muitos observadores da igreja que viam o clérigo argentino, conhecido por sua preocupação com os pobres, como um estranho.

Ele procurou projetar simplicidade em seu grande papel e nunca tomou posse dos ornamentados apartamentos papais no Palácio Apostólico usados ​​por seus predecessores, dizendo que preferia viver em um ambiente comunitário para sua “saúde psicológica”.

Ele herdou uma igreja que estava sob ataque por causa de um escândalo de abuso sexual infantil e dilacerada por disputas internas na burocracia do Vaticano, e foi eleito com o claro mandato de restaurar a ordem.

Mas, à medida que seu papado progredia, ele enfrentou duras críticas dos conservadores, que o acusavam de destruir tradições acalentadas. Ele também atraiu a ira dos progressistas, que sentiam que ele deveria ter feito muito mais para remodelar a igreja de 2.000 anos.

Enquanto lutava contra a dissidência interna, Francisco se tornou um astro global, atraindo grandes multidões em suas muitas viagens ao exterior, promovendo incansavelmente o diálogo inter-religioso e a paz, ficando do lado dos marginalizados, como os migrantes.

Único nos tempos modernos, havia dois homens vestindo branco no Vaticano durante grande parte do governo de Francisco, com seu antecessor Bento XVI optando por continuar a viver na Santa Sé após sua surpreendente renúncia em 2013, o que abriu caminho para um novo pontífice.

Bento, um herói da causa conservadora, morreu em dezembro de 2022, deixando finalmente Francisco sozinho no palco papal.

Francisco nomeou quase 80% dos cardeais eleitores que escolherão o próximo papa, aumentando a possibilidade de seu sucessor continuar suas políticas progressistas, apesar da forte resistência dos tradicionalistas.

*Reuters

 

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Com Lula, desigualdade teve queda recorde e não foi em função do Bolsa Família

Dados da FGV mostram que aumento da renda dos mais pobres superou a dos mais ricos.

A renda do trabalho da população mais pobre do Brasil cresceu 10,7% em 2024, quase o dobro do avanço observado entre os 10% mais ricos (6,7%), informa a Agência Gov.

O dado integra estudo divulgado pela FGV Social, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), e aponta para a maior redução da desigualdade de renda registrada no país em anos recentes.

A média de crescimento da renda do trabalho foi de 7,1% no ano.

“Tivemos uma redução muito forte da desigualdade em 2024. E tudo isso está mais forte em termos de renda do trabalho do que em relação a outros componentes de renda”, afirmou Marcelo Neri, pesquisador da FGV e responsável pelo estudo.

Neri destaca o papel da Regra de Proteção do Bolsa Família, que permite a manutenção do benefício por quem consegue emprego com carteira assinada. “O mecanismo criou um colchão de segurança para que beneficiários não perdessem o apoio ao ingressar no mercado formal, garantindo que o crescimento fosse mais forte justamente na base da pirâmide, e no momento chave”, analisou.

O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, também destacou a importância da medida: “A Regra de Proteção do Bolsa Família é um instrumento essencial para garantir que os beneficiários possam buscar novas oportunidades no mercado de trabalho sem perder o apoio do governo”.

Além disso, o Brasil registrou a menor média anual de desemprego da história: 6,6%. Segundo o MDS, 75,5% das vagas formais em 2024 foram ocupadas por beneficiários do Bolsa Família, e 98,8% por pessoas do Cadastro Único. Com Forum.