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Lula é convidado pelo Canadá para a Cúpula do G7

O governo do Canadá enviou uma carta oficial ao presidente Lula na última sexta-feira (30), convidando o chefe do Executivo brasileiro para participar da 51ª Cúpula de Líderes do G7, marcada para os dias 16 e 17 de junho, na cidade de Kananaskis.

O convite foi assinado pelo primeiro-ministro canadense, Mark Carney, e entregue pela Embaixada do Canadá no Brasil.

Segundo apuração da TV Globo, Lula sinalizou que pretende comparecer ao encontro, embora o Palácio do Planalto ainda não tenha confirmado a viagem. Caso aceite, esta será a segunda participação consecutiva do presidente brasileiro nas reuniões do grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

A possível presença de Lula no Canadá também poderá marcar o primeiro encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que já confirmou presença na cúpula. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também deve participar.

No ano passado, durante o G7 na Itália, Lula defendeu maior distribuição de renda e criticou a concentração do desenvolvimento da Inteligência Artificial “na mão de poucos”.

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Chico Buarque e outras figuras públicas criam petição pedindo a Lula o rompimento com Israel

No domingo, 25, Lula voltou a chamar a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza de ‘genocídio’ e ‘vingança’, após ataque aéreo matar 9 filhos da médica palestina Alaa Al-Naijar.

Nesta quarta-feira, 28, artistas, lideranças políticas e representantes de movimentos sociais assinaram uma carta aberta dirigida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), solicitando que o Brasil encerre suas relações diplomáticas e comerciais com Israel.

O texto justifica o apelo com base no ‘genocídio em Gaza‘.

Além de Chico Buarque, a carta é assinada por Chico Diaz, Manuela D’Ávila, Giovanna Nader, Gregorio Duvivier, Vladimir Safatle, Emir Sader e Paulo Sérgio Pinheiro.

O documento destaca que, nos últimos meses, tem havido uma escalada na violência exercida pelo Estado sionista de Israel contra a população civil palestina.

Além disso, a carta menciona o ‘bloqueio desumano e cruel’ que coloca em risco a vida de 2,3 milhões de pessoas em Gaza — incluindo 14 mil bebês em iminente perigo de morte — como uma das razões para exigir medidas contra Israel.

israel

Movimentos sociais pedem que Lula rompa com Israel
No domingo, 25, o presidente Lula voltou a classificar a ofensiva israelense na Faixa de Gaza como ‘genocídio’ e ‘vingança’, após um ataque aéreo matar nove filhos da médica palestina Alaa Al-Naijar.

Em fevereiro de 2024, em meio às tensões diplomáticas, Netanyahu declarou Lula ‘persona non grata’ após o presidente comparar as ações de Israel em Gaza ao Holocausto nazista.

A petição destaca que o Brasil continua exportando petróleo ao governo de Benjamin Netanyahu e mantém negociações comerciais envolvendo a compra e venda de equipamentos militares com Israel e suas empresas.

O documento também recebeu o apoio de movimentos sociais, sindicatos, parlamentares estaduais e federais, vereadores e organizações da comunidade árabe.

Entre os signatários estão Guilherme Boulos, Luiza Erundina e Sâmia Bomfim, todos do PSOL-SP, além de entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Associação Islâmica de São Paulo.

No texto, os autores afirmam: ‘É hora de nosso país dar o exemplo no cumprimento do direito internacional. […] É indispensável que o Brasil se una às nações que já impuseram sanções ao regime israelense”.

*ICL

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Brasil

A sombra militar sobre a democracia brasileira

Por Gustavo Guerreiro*

A história tem o péssimo hábito de nos pregar peças. Quando acreditamos ter virado definitivamente certas páginas sombrias, eis que elas ressurgem — ora como farsa, ora como tragédia renovada.

Os eventos de 8 de janeiro de 2023, com suas cenas dantescas de vandalismo institucional, revelaram o que muitos preferiam ignorar: a tutela militar sobre a política brasileira não é relíquia do passado, mas fantasma permanentemente presente.

A recente denúncia da Procuradoria-Geral da República contra 37 pessoas — incluindo generais de quatro estrelas como Braga Netto e Augusto Heleno — expõe as vísceras de uma conspiração que há muito extrapolou os limites do delírio golpista de botequim.

Segundo a PF, estamos diante de uma trama complexa, com núcleos operacionais estruturados, que envolvia desde a disseminação sistemática de desinformação até planos concretos de assassinato de autoridades eleitas.

A “Operação Copa 2022” e o plano “Punhal Verde e Amarelo” não são ficções distópicas, mas projetos minuciosamente elaborados nos gabinetes fardados.

O que espanta — ou talvez não devesse espantar — é a naturalidade com que parcela significativa da oficialidade abraçou a aventura golpista.

O almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; o tenente-coronel Mauro Cid, o faz-tudo de Bolsonaro — todos eles, em diferentes graus hierárquicos, participaram do que só pode ser descrito como uma insurreição contra a ordem constitucional.

Os “kids pretos”, esse grupo de militares das forças especiais presos em novembro de 2024, chegaram ao requinte macabro de planejar execuções sumárias do presidente eleito, seu vice e do ministro Alexandre de Moraes.

Em toda essa trama existe ponto crucial: nada disso é novidade na tragicomédia republicana brasileira.

Como bem observou José Murilo de Carvalho, um dos nossos mais argutos historiadores das relações civis-militares, as Forças Armadas funcionam como “poder desestabilizador” desde os estertores do Império.

A cultura do “soldado-cidadão”, essa aberração conceitual que confunde quartel com comitê político, criou uma casta que se julga moralmente superior aos civis — esses seres venais e corruptos que precisam, vez por outra, ser salvos de si mesmos.

Para entender os acontecimentos de 8 de janeiro, é necessário retroceder na história. A República brasileira emergiu de um golpe militar e nunca superou por completo esse trauma inicial. De 1889 para cá, poucos foram os períodos em que as Forças Armadas aceitaram a subordinação hierárquica ao poder civil eleito democraticamente.

A história é marcada por diversos exemplos que ilustram essa tensão: a própria Proclamação da República (1889), as revoltas tenentistas da década de 1920, a Revolução de 1930, a instauração do Estado Novo (1937), as pressões que levaram à deposição e ao suicídio de Getúlio Vargas (1945 e 1954), a crise política de 1961 e, por fim, o golpe de 1964.

Cada um desses episódios não se deu ao acaso, mas revela um padrão de intervenção castrense na política. O intervencionismo autoritário militar persiste como uma doença da democracia brasileira.

Como destaca Carvalho, a influência das FFAA na política decorre de um padrão estruturado, não de desvios episódicos. As Forças Armadas brasileiras desenvolveram o que o sociólogo Erving Goffman chamaria de características de “instituição total” — um mundo fechado, autorreferente, com códigos próprios de conduta e uma visão messiânica de seu papel na sociedade.

O resultado disso é uma contraelite técnica formada nas academias militares e que nutre profundo desprezo pela política — essa atividade suja e corrupta — ao mesmo tempo em que anseia por exercê-la. É a quadratura do círculo: desprezam a política mas querem fazê-la; abominam os políticos mas sonham em substituí-los.

Durante o governo Vargas, essa simbiose perversa atingiu seu ápice. Os militares ocuparam interventorias, comandaram empresas estatais, formularam políticas públicas.

O general Góis Monteiro cunhou a fórmula perfeita: tratava-se de fazer a “política do Exército”, não mais “política no Exército”. As despesas militares chegaram a consumir 25% do orçamento federal em 1933, enquanto o certificado de serviço militar tornava-se pré-requisito para o exercício de qualquer cargo público.

Aqui chegamos ao cerne ideológico do problema. Os militares brasileiros desenvolveram o que um dos principais intelectuais sobre o assunto, o historiador e cientista político Manuel Domingos Neto, denominou “patriotismo castrense” — uma construção mental autorreferente e narcísica que justifica qualquer atropelo institucional em nome de uma concepção muito particular de “pátria”.

Esse patriotismo militar difere radicalmente do patriotismo cívico dos cidadãos comuns. É sacralizado (justifica matar e morrer), maniqueísta (divide o mundo entre patriotas e traidores), obcecado pela ordem (mesmo que autoritária) e alimentado por uma narrativa histórica própria, frequentemente delirante.

Mais grave: é um patriotismo que define unilateralmente quem são os “inimigos internos” — categoria elástica que pode abranger desde comunistas imaginários até ministros do Supremo Tribunal Federal.

A condição de dependência tecnológica das Forças Armadas brasileiras, importadoras de equipamentos e principalmente de doutrinas, paradoxalmente alimenta esse narcisismo corporativo. Incapazes de projetar poder externo, voltam-se para dentro, transformando-se em árbitros autoproclamados da vida nacional.

É o complexo de vira-lata às avessas: impotentes no cenário internacional, compensam exercendo tutela sobre os civis desarmados.

Os acontecimentos recentes confirmam a permanência desses padrões históricos. Quando o general Hamilton Mourão, em 2015, celebrou publicamente o golpe de 1964 sem sofrer qualquer sanção, acendeu-se a luz amarela.

Daí em diante, a escalada foi vertiginosa: o general Villas Bôas pressionando o STF em 2018; militares da ativa manifestando-se abertamente sobre questões políticas; um capitão reformado (e moralmente deformado), nostálgico da ditadura, eleito presidente com apoio entusiástico dos quartéis.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, fixando a competência do STF para julgar militares envolvidos no 8 de janeiro, provocou mal-estar na caserna. Há relatos de que o clima nos quartéis era de velório.

A reação é reveladora: acostumados à impunidade garantida pela Justiça Militar corporativista, os fardados descobrem, atônitos, que crimes contra a democracia não são “questões internas” a serem resolvidas entre camaradas.

A investigação aberta por Moraes sobre a participação de militares nos atos golpistas representa um marco. Pela primeira vez desde a redemocratização, abre-se a possibilidade real de responsabilização criminal de oficiais de alta patente por crimes contra a democracia.

Não se trata mais de aposentadorias compulsórias ou transferências para a reserva — pantomimas que historicamente serviram para acobertar crimes graves.

Os custos dessa eterna tutela militar são incalculáveis. Para além dos períodos explicitamente ditatoriais, com seus mortos, torturados e desaparecidos, há o dano permanente às instituições democráticas.

Um país que vive sob a ameaça latente de intervenção militar se sustenta sobre uma democracia capenga, sempre olhando por cima do ombro, moderando suas ambições reformistas para não “provocar” os quartéis.

O 8 de janeiro é apenas o sintoma mais recente dessa patologia crônica. Enquanto manifestantes quebravam vidraças e defecavam em tapetes persas, oficiais de alta patente articulavam nos bastidores.

A omissão deliberada do Exército, que segundo relatórios impediu forças de segurança do DF de desmontar acampamentos golpistas, revela cumplicidade institucional com a sedição.

A politização das Forças Armadas compromete até mesmo sua função precípua de defesa externa.

Enquanto generais conspiram e coronéis publicam nas redes sociais, nossas fronteiras permanecem esquecidas, nosso equipamento militar envelhece, nossa doutrina estratégica patina. É o pior dos mundos: militares incompetentes para a guerra e perigosos para a paz.

A questão que se impõe é cristalina: ou estabelecemos, de uma vez por todas, o controle civil democrático sobre as Forças Armadas, ou continuaremos reféns de seus humores golpistas. Não há meio-termo possível.

A Constituição de 1988, em momento de fraqueza, manteve o papel das Forças Armadas como garantidoras da “lei e da ordem”, eufemismo que tem servido historicamente para justificar toda sorte de aventuras autoritárias.

É urgente reformar o artigo 142 da Constituição, extirpando qualquer ambiguidade sobre a subordinação militar ao poder civil. É necessário reformular a formação dos oficiais, hoje impregnada de doutrinas anacrônicas e ressentimentos corporativos. É imprescindível responsabilizar criminalmente, sem anistias preventivas ou contemporizações pusilânimes, todos os envolvidos em tramas golpistas.

A sociedade civil, a imprensa, a academia e as instituições políticas precisam exercer vigilância permanente.

Parte da responsabilidade pela permanência do problema é dos próprios civis, que por comodidade, medo ou preconceito evitam enfrentar o espinhoso tema da interferência militar.

O julgamento dos militares envolvidos no 8 de janeiro será um teste crucial. Se houver contemporização, se a responsabilização for apenas simbólica, estaremos enviando o sinal de que a democracia brasileira continua refém de seus algozes fardados.

Se, ao contrário, a Justiça for implacável — como deve ser com todos os que atentam contra a ordem constitucional —, talvez possamos finalmente exorcizar o fantasma da tutela militar.

O patriotismo castrense, com sua visão messiânica e seus delírios salvacionistas, é fundamentalmente incompatível com a democracia pluralista do século XXI.

Enquanto parcela significativa da oficialidade continuar acreditando que tem o direito divino de intervir na política, seja pelas armas, seja pela pressão institucional, viveremos sob ameaça constante de golpes.

A história nos ensina que democracias morrem não apenas por ataques frontais, mas também por erosão gradual de seus alicerces.

Cada general que se julga acima da lei, cada coronel que conspira nos quartéis, cada tenente que sonha com aventuras golpistas é um cupim roendo as vigas da República. É hora de dedetizar, antes que a casa caia.

*Gustavo Guerreiro, Doutor em políticas públicas e Pesquisador do Observatório das Nacionalidades. Viomundo.

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Nos EUA, Eduardo Bolsonaro nomeou imigrantes como facções terroristas para enviar brasileiros às masmorras de El Salvador

Autoexilado nos Estados Unidos desde fevereiro, o deputado federal licenciado, Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, sugeriu à administração de Donald Trump que imigrantes brasileiros detidos nos Estados Unidos e suspeitos de envolvimento com o PCC e o Comando Vermelho sejam enviados para cumprir pena na megaprisão de El Salvador, o CECOT, denunciada por violações de direitos humanos.

As informações são do Mother Jones, que destacou em publicação na última semana o risco para a comunidade brasileira como um todo no país norte-americano, diz Leonardo Sobreira, 247.

Após analisar os acordos de extradição entre Brasil e EUA, Eduardo sugeriu que poderia ser possível fazer com que “criminosos brasileiros cumpram suas penas em prisões em El Salvador”. Tais “criminosos”, segundo o Mother Jones, estariam presos nos EUA apenas por “supostas ligações” com as facções.

A proposta, que inclui a classificação desses grupos como organizações terroristas estrangeiras e já rechaçada pelo governo brasileiro, foi inspirada em ações anteriores de Trump contra gangues latino-americanas.

Apesar do apoio de Eduardo e de conversas com autoridades americanas, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende que a legislação brasileira não permite tal classificação.

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Brasil cogita reagir se ameaça dos EUA de punir Moraes se confirmar

Planalto monitora com atenção gesto de Trump, que cogita sanção contra ministro do STF; ofensiva dos EUA é vista como parte de política de intimidação regional.

O governo dos Estados Unidos, liderado pelo presidente Donald Trump, avalia aplicar sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi revelada nesta sexta-feira (16) pelo colunista Jamil Chade, do portal UOL, com base em fontes da Casa Branca e do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.

A proposta, ainda em fase preliminar de discussão, seria uma retaliação às decisões tomadas por Moraes no contexto da contenção de redes bolsonaristas e da responsabilização de atores envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

No Palácio do Planalto, a notícia foi recebida com cautela. A orientação atual é manter o diálogo institucional com os Estados Unidos e evitar confrontos diretos com a administração Trump.

No entanto, segundo interlocutores do governo federal ouvidos pela coluna, caso as sanções venham a ser oficializadas, a reação será imediata. A avaliação é de que qualquer medida punitiva contra um membro da Suprema Corte brasileira configura interferência externa grave nos assuntos internos do país.

Tentativa de intimidação revela estratégia mais ampla de Washington

A possível imposição de sanções contra uma autoridade judicial brasileira se insere em um padrão mais amplo de atuação dos EUA na América do Sul, especialmente desde o retorno de Trump à Casa Branca.

Segundo a mesma reportagem, há movimentações similares envolvendo governos e instituições do Chile, da Colômbia e da Bolívia — todos alvos recentes de pressão diplomática, sanções e operações de inteligência com fins políticos.

A lista de episódios envolvendo interferência direta ou indireta norte-americana é longa. Segundo o Vermelho, na Bolívia, o apoio velado a setores opositores durante a crise que levou à renúncia de Evo Morales continua sendo alvo de denúncias.

Na Colômbia, representantes dos EUA mantêm interlocução direta com lideranças conservadoras que tentam bloquear reformas sociais.

No Chile, a Casa Branca manifestou “preocupações” sobre o processo constitucional impulsionado pelo governo progressista, numa ação interpretada por setores locais como ingerência.

Operação sigilosa na Venezuela expõe violação de convenções diplomáticas

Um dos episódios mais sensíveis ocorreu recentemente na Venezuela. De acordo com fontes da diplomacia brasileira, agentes ligados ao governo dos EUA teriam participado da retirada de um exilado opositor da embaixada da Argentina em Caracas — instalação que estava sob os cuidados do Brasil desde o rompimento das relações diplomáticas entre Buenos Aires e Caracas.

O resgate clandestino, que teria contado com o apoio logístico de norte-americanos, levantou alertas sobre violações à Convenção de Viena e às normas internacionais que regulam a atuação de missões diplomáticas.

Embora os detalhes da operação não tenham sido oficialmente confirmados, o caso gerou constrangimento nos bastidores e acendeu o sinal de alerta em várias chancelarias da região.

Para o Itamaraty, esse tipo de conduta reforça a percepção de que a atual administração dos EUA opera sob uma lógica de tutela, atropelando instâncias multilaterais e normas elementares do direito internacional.

Governo brasileiro monitora e prepara resposta diplomática

Diante do risco de escalada, a posição do governo Lula tem sido marcada por prudência, mas com atenção redobrada. A diretriz, segundo fontes ouvidas por Jamil Chade, é manter uma postura institucional com a Casa Branca e evitar dar combustível às provocações da extrema direita, tanto no Brasil quanto nos EUA.

No entanto, autoridades brasileiras já discutem possíveis respostas diplomáticas, caso a sanção a Moraes se concretize.

Entre as medidas cogitadas estão uma nota de protesto formal, a convocação do embaixador norte-americano em Brasília e a articulação conjunta com países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e dos BRICS para denunciar o caráter intervencionista da ação.

A percepção no Planalto é de que a autonomia dos poderes brasileiros está sob ataque, e que o respeito à soberania nacional precisa ser reafirmado em todos os fóruns.

América do Sul volta a ser alvo de uma política de “contenção”

A movimentação da Casa Branca revela a retomada de uma política externa de contenção voltada à América do Sul, nos moldes da velha Doutrina Monroe.

A tentativa de desestabilizar instituições autônomas, como o Supremo brasileiro, e de interferir em processos políticos nacionais, faz parte de uma estratégia geopolítica dos EUA para frear o avanço de projetos soberanos e de integração regional, que voltaram a ganhar força com a eleição de governos progressistas em países como Brasil, Colômbia, México e Chile.

No centro dessa ofensiva está a instrumentalização do discurso de combate ao autoritarismo, que tem sido manipulado pela diplomacia trumpista para justificar ações unilaterais e pressões políticas contra países que resistem à agenda conservadora e neoliberal da Casa Branca.

A possível sanção contra Moraes, nesse contexto, é não apenas um gesto de hostilidade, mas uma mensagem política dirigida aos setores reacionários que ainda tentam minar a democracia brasileira.

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EUA articulam acesso a Fernando de Noronha e Natal sob alegação de direito histórico, diz site

Argumento utilizado é o de ‘direito histórico de retorno operacional’, por investimentos feitos pelos EUA durante a Segunda Guerra

O governo dos Estados Unidos, através de diplomatas ligados ao partido Republicano, vêm articulando informalmente com interlocutores brasileiros o uso irrestrito do Aeroporto de Fernando de Noronha (SBFN) e da Base Aérea de Natal (BANT), no Rio Grande do Norte.

Segundo informações reveladas pelo site “DefesaNet”, especializado em notícias da área militar, o argumento utilizado é o de “direito histórico de retorno operacional”, com base em investimentos realizados pelos EUA durante a Segunda Guerra Mundial e o período da Guerra Fria. O governo de Donald Trump utilizou o mesmo argumento para tratar do Canal do Panamá, onde reivindica o controle técnico-operacional da estrutura interoceânica.

No caso brasileiro, trata-se de ativos geoestratégicos de alto valor: Fernando de Noronha como sensor-forward base no Atlântico Sul equatorial, e Base Aérea de Natal como hub logístico de trânsito transcontinental, compatível com operações aéreas interteatrais e como base de prontidão para projeção sobre África Ocidental e litoral norte sul-americano.

Especialistas ouvidos pelo “DefesaNet” apontam que tanto Fernando de Noronha quanto a Base Aérea de Natal oferecem vantagens operacionais tangíveis para a arquitetura C4ISR (Comando, Controle, Comunicações, Computadores, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento) dos Estados Unidos.

A Distância de 360 km de Fernando de Noronha até a Base Aérea de Natal é uma vantagem inquestionável frente aos 1.540 km da Ilha de Ascensão até a costa da África. | DefesaNet

No caso de Fernando de Noronha, sua localização equatorial posiciona o arquipélago como um ponto ideal para vigilância oceânica de longo alcance, sendo uma plataforma natural para a instalação de sensores eletro-ópticos, radares de superfície marítima e equipamentos ELINT/SIGINT, voltados para o monitoramento de rotas navais e aéreas. Além disso, serve de vetor avançado de interdição e coleta de inteligência.

O aeroporto do arquipélago possui capacidade de operar como ponto de apoio tático para aeronaves de vigilância marítima e UAVs de média altitude e longa duração, como os MQ-9 Reaper ou os SeaGuardian.

A Base Aérea de Natal possui pista de pouso capaz de receber aeronaves estratégicas como o C-17 Globemaster III, o KC-135 Stratotanker e o novo KC-46 Pegasus. A base oferece acesso facilitado tanto a rotas transatlânticas, sendo um hub logístico de alto valor para operações conjuntas ou expedicionárias. Também apresenta condições ideais para reabastecimento em voo, evacuação médica, mobilização rápida de forças de reação e apoio a missões aerotransportadas em cenários de crise na costa ocidental africana, Caribe ou litoral norte da América do Sul.

As duas bases permitiram aos Estados Unidos estabelecer um arco de contenção atlântico que complementaria sua atual malha de bases e pontos de apoio, como Ilha de Ascenção, a Ilha de São Tomé e instalações em Dakar.

FAB Super Tucano A-28 com pintura Comemorativa do 1º Grupo de Aviação de Caça que combateu na Itália durante a Segunda Guerra Mundial | SO Johnson/ FAB

Argumentos utilizados pelos EUA

Os argumentos utilizados pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos, se baseia em três pontos. O primeiro vetor é de natureza histórico-operacional, pelos aportes financeiros, fornecimento de equipamentos, obras de engenharia e construção de pistas dados pelos EUA.

O segundo argumento é o “direito de retorno funcional”, que afirma que ativos militares financiados pelos EUA em países parceiros — especialmente em contextos de ameaça global ou competição estratégica — poderiam ser “reativados” com base em acordos tácitos ou no princípio de reciprocidade hemisférica.

O terceiro elemento utilizado pelos EUA envolve precedentes contratuais e legislativos. O extinto Acordo de Assistência Militar Brasil-EUA (1952), embora formalmente encerrado, segue sendo frequentemente citado em documentos técnicos e análises da RAND Corporation, CSIS e Heritage Foundation como referência à “tradição de interoperabilidade hemisférica”. J

Já o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) de 2019, firmado no governo Bolsonaro para viabilizar o uso da Base de Alcântara, é mencionado como precedente político e diplomático que abre margem para novas modalidades de acesso militar a instalações sensíveis sob controle brasileiro. A esse quadro somam-se ainda marcos legislativos internos dos EUA que reforçam a tese de mobilização extraterritorial.

*O Cafezinho

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China suspende compra de frango do Brasil por 60 dias após confirmação de foco de gripe aviária

Apesar dos cuidados, o consumo de carne de frango ou ovos bem armazenados em casa ou comprados, é seguro.

Brasil confirmou nesta sexta-feira (16) o primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. A informação foi confirmada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, após análise do Laboratório Federal de Diagnóstico Agropecuário, em Campinas (SP).

De acordo com informações de Fávaro a jornalistas, o status de emergência determinado pela China, acionado automaticamente por cláusula contratual após a divulgação do foco da gripe, dura 60 dias. Caso não seja registrado outro foco e o isolamento da granja afetada seja feito adequadamente, porém, o ministro acredita que a relação comercial pode ser restabelecida antes desse prazo.

A granja com foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) foi identificada no município de Montenegro (RS). Após a confirmação, o governo deu início ao protocolo estabelecido pelo Plano Nacional de Contingência de Influenza Aviária, com isolamento da área e eliminação das aves restantes.

A Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) também investiga o caso de mortalidade de aves no Zoológico de Sapucaia do Sul, que está fechado para visitação.

Em nota, o Serviço Veterinário Oficial do RS destaca à população que, apesar dos cuidados, o consumo de carne de frango ou ovos bem armazenados em casa ou adquiridos em pontos de venda é seguro, já que a doença não é transmitida por meio do consumo.

*BdF

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China vai isentar brasileiros de visto para viagens de até 30 dias

A China vai conceder isenção de vistos para brasileiros para viagens de até 30 dias.

A medida entra em vigor em 1º de junho e valerá por um ano, ou seja, até o dia 31 de maio de 2026, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, nesta quinta-feira (15), durante uma entrevista coletiva.

Argentina, Chile, Peru e Uruguai também foram inclusos na isenção.

A isenção de visto de até 30 dias vai valer para viagens de:

  • turismo;
  • negócios;
  • visita de família e amigos;
  • intercâmbio;
  • e trânsito.

Com a medida, o Brasil fica pé de igualdade com muitos países europeus e asiáticos.

Isso porque, desde o ano passado, a maioria dos países europeus, bem como seus vizinhos Japão e Coreia do Sul, não precisam de visto para viajar para a China.

O anúncio foi feito após um fórum entre autoridades chinesas, latino-americanas e caribenhas em Pequim no início desta semana, no qual o presidente Xi Jinping prometeu aumentar a presença da China com uma nova linha de crédito de US$ 9 bilhões e novos investimentos em infraestrutura, segundo o g1.

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Scania incluiu trabalhadores de greve liderada por Lula na ‘lista suja’ e colocou espião em assembleias

Greve de 12 de maio de 1978 na empresa sueca foi estopim de um ciclo de outros movimentos que marcariam definitivamente o curso do país.

A Scania será sempre lembrada pela greve de 12 de maio de 1978, quando os metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema iniciaram uma greve em plena ditadura militar (1964-1985) por reajuste salarial e melhores condições de trabalho que mudaria para sempre o rumo da história brasileira. A paralisação na empresa sueca foi o estopim de um ciclo de outros movimentos que marcariam definitivamente o curso do país e, para além da reivindicação salarial, abriria caminho para uma longa jornada rumo à volta da democracia. E escancarou também a colaboração da empresa para com a repressão militar e a perseguição aos trabalhadores.

A empresa, que desde 1964 apoiara a ditadura, oferecendo seus caminhões para a campanha “Ouro para o Bem do Brasil” e teve em sua presidência um dos fundadores do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPÊS), entidade articuladora do movimento que culminou no golpe de 1964. Era João Baptista Leopoldo de Figueiredo, irmão do último presidente da República durante a ditadura civil-militar, João Baptista de Figueiredo, e conhecido como “Primo Rico”, conforme detalha o livro reportagem Repressão Sociedade Anônima, que mostra a estreita colaboração de empresas metalúrgicas multinacionais e bancos com a ditadura civil-militar. A obra de Eduardo Reina e Maria Angélica Ferrasoli será lançada nas próximas semanas pela Alameda Editorial.

Naquele ano de 1978, a empresa era vista como vanguarda do movimento operário e considerada elite da indústria automobilística. A categoria registrava média de 25% de trabalhadores sindicalizados, mas a Scania, com aproximadamente 3 mil pessoas, ostentava uma taxa de sindicalização de 50%. Com a inflação do ano a 39,9%, o Sindicato dos Metalúrgicos articulava com os operários um movimento interno para exigir aumento real no salário. Pediam 3% a mais do que a reposição da inflação.

Chegou haver um acerto entre os trabalhadores e a direção da empresa, com o sueco Inge Lunnerdal à frente, que pagaria os 3%, além dos 39,9% da inflação. Mas quando foi feito o pagamento, os 3% não estavam incluídos. Insatisfeitos, os trabalhadores na Scania cruzaram os braços no dia 12 de maio de 1978.

Greve deflagrada
A notícia que correu na fábrica foi a de que Lennerdal levara uma dura do delegado regional do trabalho: se desse um tostão de aumento acima dos 39,9% oficiais, a Scania seria submetida a pesadas multas e punições pelo governo, de acordo com o escritor Fernando Morais, no livro Lula – Biografia, Volume 1.

“[A greve na Scania] Foi a certidão de batismo [da redemocratização brasileira]. Somos de uma geração vitoriosa porque a volta da democracia foi um fruto daquele movimento”, afirmou Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos (2005 a 2010) e preso político entre 1971 e 1976 por seu envolvimento na resistência ao governo militar, durante solenidade que celebrou os 30 anos da paralisação.

Quem doava para campanha ‘Ouro para o Bem do Brasil’ recebia uma aliança de latão com a inscrição ‘Dei ouro para o bem do Brasil’
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Com a greve deflagrada em maio de 1978, a Scania recorreu à Delegacia Regional do Trabalho. Mas paralelamente havia fechado um acordo verbal com os metalúrgicos, o que levou à suspensão da paralisação.

Entre os representantes da Delegacia Regional do Trabalho de São Bernardo presentes à reunião que instaurou o dissídio pedido pela empresa, segundo processo do Tribunal Regional do Trabalho, estavam Guaraci Horta (que seria interventor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo em março de 1979, na gestão do ministro do Trabalho Murillo Macêdo) e Guaracy Sousa Sampaio (interventor no sindicato dos Metalúrgicos de Santo André em 1981, também no período de Macedo no ministério).

O processo, que foi às instâncias superiores da Justiça do Trabalho, tem 201 páginas e pode ser consultado na íntegra no Centro de Memória Virtual da Justiça do Trabalho da 2ª Região. O direito irrestrito de greve só viria 10 anos depois, quando a Constituição Federal sacramentou a conquista em agosto de 1988.

Imprensa censurada
Por outro lado, a própria empresa desenvolveu uma ação para evitar que repórteres brasileiros pudessem cobrir o movimento e expusessem a situação dentro da fábrica. Mas para a imprensa sueca não houve censura.

Gunnar Lindquist, diretor-superintendente da empresa, disse em entrevista ao jornalista sueco Bjorn Kumm que a greve era ilegal e “surpreendeu” [a direção da fábrica]. “O Sr Lindquist lembrou que ‘o salário médio do metalúrgico da Scania é de Cr$ 6 mil 200 por mês’, incluindo o 13º salário. Acrescentou que a empresa paga ‘melhor que as outras fábricas do setor, isso não é segredo’”, relatou Kumm. Este texto foi publicado em 16 de maio de 1978 pelo Jornal do Brasil.

A fúria da empresa sueca também se voltou contra os jornalistas brasileiros. Lindquist foi acusado de “discriminação étnica” pelo Jornal do Brasil, pois “expulsou os jornalistas brasileiros das instalações de sua empresa e só deixou entrar um jornalista sueco”. Eles foram expulsos pelo segurança da empresa, de nome David, segundo outra reportagem, do jornal Última Hora, da mesma data.

“Eu não quero nem aventar a hipótese de que o movimento deflagrado na última sexta-feira tenha alguma relação com o fato de o futuro presidente da República ser meu primo”, desconversava Leopoldo de Figueiredo, presidente brasileiro da fabricante sueca de veículos, na mesma edição do jornal Última Hora, de acordo com o livro Repressão Sociedade Anônima. Ele evitava o uso da palavra greve e alegava desconhecer “o motivo ou motivos” da “suspensão de atividades”.

Repressão e perseguição
Dentro da Scania, João Baptista Leopoldo de Figueiredo reagiu com mais vigilância, repressão e perseguição a seus trabalhadores em greve.

“Por ocasião da greve dos metalúrgicos na região do ABC, iniciada dia 15 de maio último pela SAAR SCANIA-VABIS (sic), foi desenvolvida uma ação em conjunto com o setor de Segurança da fábrica visando identificar possíveis elementos ligados a causas estranhas”, relata o informe 014 do Serviço Nacional de Informações (SNI) de 8 de junho de 1978. O documento não esclarece o que seriam essas causas estranhas. A ação implementada pelos seguranças da montadora de veículos incluiu a violação aos bens pessoais dos trabalhadores, a partir da vistoria nos armários de cada um dentro das dependências onde trabalhavam. A violação dos armários foi autorizada pela chefia das seções.scania – sni documento com timbre da montadora e indicação de vigilante espião 1

Gilson Menezes, à época diretor do Sindicato dos Metalúrgicos e funcionário da firma sueca, era uma das lideranças da greve de 1978. Relatou que antes mesmo de se reunir com os representantes da empresa para tentar negociar “eles perguntavam se eu não tinha medo de ser jogado em alto mar, assassinado, porque vivíamos na ditadura militar. Depois do encontro, vieram diretores da Secretaria de Estado do Trabalho e diretores do DOPS [a polícia política] para perguntar sobre lideranças. Mantive minha posição e não apontei ninguém”, contou, anos depois. Gilson, que faleceu em 2020, foi o primeiro prefeito eleito pelo Partido dos Trabalhadores, na cidade de Diadema, em 1982.

Em depoimento à Comissão da Verdade de Diadema, no ano de 2014, Gilson contou que a repressão era intensa dentro da fábrica: “naquele tempo não se podia nem falar a palavra ‘greve’. Se um grupo de pessoas se reunisse na rua para conversar, já era motivo de perseguição”, lembrou.

Ele chegou a ser preso em 1980, quando passou um mês no DOPS na capital paulista, mas não foi torturado, ao contrário de tantos outros opositores aos militares. “Fui convocado para me apresentar [ao DOPS] porque era presidente do fundo de greve do Sindicato dos Metalúrgicos [de São Bernardo e Diadema]”, ressaltou.

Um bilhete manuscrito pelo então chefe do SNI, o general João Baptista Figueiredo, enviado a Heitor Aquino Ferreira, capitão da cavalaria em 1964, e que foi secretário particular de Golbery do Couto e Silva, de Ernesto Geisel e do próprio Figueiredo, informava que a “greve é super organizada, sem violência”, registrou Elio Gasparii no livro A ditadura acabada.

O bilhete data de 19 de maio de 1978 e consta de relatório do SNI classificado como secreto e rubricado pelo general Sebastião Ramos de Castro, de acordo com Gaspari. A informação contida no bilhete viera do “Primo Rico” de Figueiredo, João Baptista Leopoldo de Figueiredo, presidente do Conselho Administrativo da Scania.

Lista Suja
De acordo com levantamento apresentado no livro A Ditadura Acabada, de Elio Gaspari, a Scania demitiu 450 operários nos dois meses seguintes à greve e entregou ao DOPS uma lista de 344 nomes. Na “Lista Suja” cadastrada no DOPS em 21 de janeiro de 1981, produzida pelo Setor de Análise, Operações e Informações (SOI), inclui 17 de seus trabalhadores. Uma vez nessa lista, distribuída aos setores de relações humanas (RH) de outras empresas, o trabalhador não conseguia mais emprego.

Documentos do DOPS consultados no Arquivo Nacional mostram também a perseguição a metalúrgicos como João Bosco Arcanjo e José Henrique Mendes, trabalhadores da montadora e dirigentes sindicais. Há registros entre 1982 e 1985 relacionados a ações naquela ou em outras montadoras.

Outras comunicações, dentro dos arquivos do DOPS, comprovam a cooperação da direção da Scania com a polícia política. Um deles, que cita Mendes, foi feito em 1984, período em que ele já não trabalhava na fábrica: “Ref ao relatório fornecido pela Scania do Brasil S/A, anexo ao of 188/84 da DEL.SEC.POL ABCD, no qual consta que o epigrafado esteve presente nesta data, C/demais membros da ex-diretoria do Sind. dos Metalúrgicos de SBCampo e pediu que todos fizessem Operação Tartaruga, falando dos resultados do movimento da Ford”, registra a ficha nos itens 13-S-2-16/ 13-S-2-.185. Falecido em 1999, Mendes nem era mais operário nessa época do relatório da polícia política. Ele já atuava como assessor da Secretaria de Governo da Prefeitura de Diadema.

Outro documento a destacar é o acordo coletivo firmado entre a empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos, reproduzido no informe 1546 do Serviço Nacional de Informações de 4 de julho de 1983. Ele registra a implantação de uma comissão de representantes dos empregados, a comissão de fábrica. Segundo o informe, o acordo celebrado seria “decorrente da interferência da Svenska

Metallindustriarbetareförbundet”, o sindicato dos metalúrgicos da Suécia. Outra montadora representada pelo Sindicato dos Metalúrgicos no ABC, a Ford, já havia conquistado sua comissão de fábrica em 1981.

Espiões
No ano de 1985, no informe 172 da Divisão de Segurança e Informações do Ministério do Trabalho, um documento com o carimbo da própria Scania – “Confidencial – Saab-Scania – Seção de Vig. e Segurança” – relata que a empresa mandava espiões às assembleias do Sindicato dos Metalúrgicos.

“Na data de hoje, por volta das 14h30min., designamos o vigilante Antonio Carlos Lemos Martins para acompanhar a assembleia que seria realizada no Sindicato dos Metalúrgicos do São Bernardo do Campo às 15h00 (…) Chegando ao sindicato, o vigilante entrou no auditório de palestras, onde seria realizada a primeira assembleia”. A data dessa assembleia é 22 de março de 1985, e estão nominados no relatório do araponga todos os participantes que se pronunciaram e os temas em debates.

O relato é apenas uma pequena parte de um amplo material de espionagem do período, incluindo nomes de trabalhadores e atividades de mobilização na fábrica, no sindicato, no Paço Municipal de São Bernardo, entre outros locais.

A Scania informou através de nota enviada por sua assessoria de comunicação que “a empresa repudia qualquer tipo de violação aos Direitos Humanos e reforça que atua alinhada às melhores práticas globais de governança corporativa”

*Opera Mundi

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Comércio exterior do Brasil bate recorde histórico nos últimos 12 meses

Enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, se esmera em prejudicar o próprio país, impondo um tarifaço irracional que apenas isola os americanos do resto do mundo, o comércio exterior do Brasil segue registrando desempenho impressionante.

Segundo números oficiais divulgados ontem, a corrente de comércio do Brasil, que soma exportações e importações, totalizou US$ 607,65 bilhões no acumulado de 12 meses até abril. Este valor representa mais um recorde histórico para o país, superando o recorde anterior alcançado em 2023, de US$ 606 bilhões.

Já o saldo comercial do país ficou positivo em US$ 64,98 bilhões nos últimos 12 meses, o que é a segunda melhor performance da história, apenas superada pelos US$ 102 bilhões de 2024, sempre considerando o período de 12 meses de maio a abril do ano seguinte.

Um aspecto particularmente positivo dos números é o aumento da participação de produtos industrializados na pauta de exportação brasileira.

Segundo o Comexstat, o banco de dados público da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações brasileiras de produtos classificados como pertencentes à “indústria de transformação” chegaram a US$ 184 bilhões nos últimos 12 meses até abril, o maior valor da história, de acordo com o Cafezinho.

Enquanto as exportações agropecuárias e extrativas caíram nos 12 meses até abril, a da indústria avançaram 3% no mesmo período.

Em relação aos produtos exportados, os principais, por ordem de grandeza, foram petróleo, soja, moedas, minérios, carne, açúcares, café e aço.