Categorias
Uncategorized

Transição aponta dívida de R$ 5 bilhões com órgãos internacionais

GT de Planejamento, Orçamento e Gestão disse que despesas bilionárias da União envolvem ONU, OMC e OIT.

O economista Antônio Corrêa de Lacerda, do grupo técnico (GT) de Planejamento, Orçamento e Gestão do gabinete de transição, disse nesta terça-feira (6/12) que o Brasil possui uma dívida de R$ 5 bilhões com órgãos internacionais, entre eles a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

“A dívida atual do Brasil para com órgãos (que envolvem ONU, OMC, OIT e uma infinidade de outros órgãos, da área de meio ambiente e outra áreas) monta R$ 5 bilhões. Então, essa é a dívida que o Brasil tem junto a esses órgãos. Evidentemente isso vai na contramão do projeto de inserção nacional, porque o básico que você tem que fazer é cumprir esses compromissos junto a esses órgãos internacionais”, disse Lacerda em coletiva do GT, ao lado do coordenador dos grupos temáticos, ex-ministro Aloizio Mercadante, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

De acordo com Lacerda, que também é presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), o grupo está fazendo um levantamento completo de todo esse passivo que a União tem junto a órgãos internacionais. “Estamos verificando o espaço no orçamento de forma a orientar o novo governo e as pessoas que serão indicadas para o ministério de forma a resgatar essa função”, concluiu.

Mercadante disse que a política externa do atual governo tornou o Brasil “um pária”.

A equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já confirmou que o Ministério da Economia deve ser desmembrado em três pastas no futuro governo: Economia, Planejamento, Orçamento e Gestão e Indústria e Comércio.

A atual configuração do Ministério da Economia foi definida no início do mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL), que integrou várias pastas em um superministério, comandado desde 2019 por Paulo Guedes.

Segundo Mercadante, foi um equívoco acabar com o Ministério do Planejamento, que atende toda a demanda intraministerial. Ele ainda disse ainda que praticamente toda a estrutura do ministério está pronta.

*Com Metrópoles

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação e reflexão de qualidade e independência.

Caixa Econômica Agência: 0197
Operação: 1288
Poupança: 772850953-6
PIX: 45013993768 – CPF

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Uncategorized

Índia: falta de vacina é culpa de impasse criado por Brasil e países ricos

Na busca por se aliar aos interesses dos países ricos, de atender demandas de Donald Trump e em seu sonho de entrar na OCDE, o governo de Jair Bolsonaro foi contra a proposta feita pela Índia ainda em 2020 para que patentes sobre vacinas fossem abolidas. Um dos resultados seria permitir que a produção dos imunizantes pudesse ocorrer em laboratórios distribuídos pelo mundo.

Agora, Nova Delhi diz que é justamente a falta de uma maior distribuição para a produção de versões genéricas da vacina que impede o abastecimento global.

Nesta terça-feira, numa reunião fechada na Organização Mundial do Comércio em Genebra, Nova Delhi foi explícita em constatar que o “pior dos pesadelos” se confirmou diante da incapacidade de se encontrar um acordo: não há vacinas para todos.

O Brasil comprou sua vacina da Oxford/AstraZeneca. Mas o produto é fabricado na Índia. O problema é que, com um governo nacionalista, Nova Delhi dificultou a exportação dos imunizantes para permitir que sua campanha de vacinação fosse iniciada.

Além disso, os indianos indicaram que vão começar a exportar as doses. Mas, num primeiro momento, para seus aliados na região e vizinhos, num gesto geopolítico calculado.

O primeiro lote de exportações será enviado para o Butão, ainda na quarta-feira. Um dia depois, dois milhões de doses da vacina também serão enviadas para Bangladesh. Não há uma data para o fornecimento ao Brasil.

Na OMC, o governo da Índia tomou a palavra para voltar a defender a ideia de uma suspensão das patentes do produto.

Para a Índia, “os piores temores de escassez e fornecimento se tornaram realidade, com programas de lançamento de vacinas de quase todos os países do mundo sofrendo atrasos devido à fabricação insuficiente e não disponibilidade do número necessário de doses de vacinas”.

Enquanto isso, porém, Nova Delhi alerta que “um grande número de instalações de fabricação em muitos países com capacidade comprovada para produzir vacinas seguras e eficazes são incapazes de utilizar essas capacidades devido a novas barreiras de propriedade intelectual”.

Esta é a prova, na opinião da Índia, de que o atual sistema de patentes não é suficiente para atender a enorme demanda global de vacinas e tratamentos.

Segundo a Índia, o que os países desenvolvidos disseram sobre a suficiência de tais acordos de licenciamento para aumentar as capacidades de fabricação provou ser insuficiente. As licenças voluntárias, mesmo quando existem, estão envoltas em segredo, os termos e condições não são transparentes e o escopo é limitado a quantidades específicas, ou para um subconjunto limitado de países, encorajando assim o nacionalismo.

Nova Delhi ainda colocou dúvidas sobre a capacidade de o mecanismo da OMS de distribuir vacinas poder ser uma solução.

Países como África do Sul, Afeganistão, Paquistão, Zimbábue, Egito, Mongólia, Chade, Indonésia, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka, Camboja e Venezuela também falaram em apoio à proposta. A OMS também é favorável à ideia indiana.

Brasil abandona sua posição tradicional e passa a defender patentes

Mas o projeto conta com uma forte rejeição por parte dos países ricos, detentores das patentes. O Brasil foi o único país em desenvolvimento a declarar abertamente que era contra a proposta, abandonando anos de liderança internacional para garantir o acesso a remédios aos países mais pobres.

Há 20 anos, foi a ação internacional do Brasil que levou a OMC a estabelecer regras para permitir um maior acesso a remédios. Naquele momento, a luta era para enfrentar a Aids. A liderança se transformou em um dos maiores ativos da política externa de FHC e Lula.

A quebra de patentes acabou ocorrendo num caso, sob a gestão do então ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Mas foi o papel assumido pelo governo nas negociações que catapultou o país para um outro patamar no debate internacional.

Para rebater os indianos, Europa, EUA e Japão insistiram que a quebra de patentes não resolveria a questão do abastecimento de matérias-primas.

Eles também enfatizaram que o atual sistema contém ferramentas suficientes para resolver quaisquer problemas relacionados à propriedade intelectual e que a implementação da proposta de renúncia minaria os atuais esforços para combater a pandemia. Um dos impactos seria afastar investimentos do setor privado.

Esses países observaram que embora haja financiamento público para pesquisa e desenvolvimento, a produção e distribuição das vacinas continua sendo um risco de investimento para o setor privado.

*Jamil Chade/Uol

Siga-nos no Whatsapp: https://chat.whatsapp.com/HP8y7rcSg0Z5XQeXMYWpd8

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica: Agência 0197
Operação: 013
Poupança: 56322-0
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68

PIX: 45013993768
Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Uncategorized

União Europeia quer critério climático no comércio mundial e pressiona governo Bolsonaro

Se depender da Europa, a pressão ambiental sobre as exportações brasileiras vai aumentar. A partir de hoje, líderes das maiores economias mundiais se reúnem para a cúpula do G-20 e, na agenda, estará o esboço de uma arquitetura para o mundo pós-pandemia.

Uma das propostas feitas pela UE (União Europeia) é de que todos os acordos comerciais sejam permeados e condicionados por critérios de compromissos ambientais, de biodiversidade, emissões de gases e climáticos.

Os europeus não querem que isso se limite aos tratados bilaterais. Mas também à própria reforma da OMC (Organização Mundial do Comércio), a partir de 2021, com ideias sobre o estabelecimento até mesmo de impostos climáticos sobre bens que viriam de países onde as leis ambientais não sejam da mesma dimensão. O presidente Jair Bolsonaro também defende uma reforma da OMC, mas não nos mesmos termos de Bruxelas.

A esperança da UE é de que o tema ganhe o apoio de Joe Biden, o presidente eleito americano, que já indicou às capitais europeias que colocará o clima no centro de sua agenda. A volta dos Estados Unidos (EUA) ao Acordo de Paris também está sendo visto como um incentivo para que se pressione países no que se refere às metas de emissões de CO2.

Além disso, o G-20 será liderado por um governo europeu — a Itália — e que já indicou que colocará a questão ambiental como prioridade das negociações durante todo o ano.

Nos bastidores, diplomatas brasileiros confirmam que as propostas europeias no G-20, se tiverem o apoio americano, poderão representar um desafio inédito para o governo em Brasília.

Trump vinha bloqueando agenda ambiental Ao longo dos últimos dois anos, a agenda ambiental só não esteve mais presente na cúpula do G-20 por conta da oposição de Donald Trump diante do tema. A Casa Branca bloqueou negociações que pudessem indicar mais ambição ou qualquer tipo de compromisso. Para o Brasil, a blindagem americana teve um apoio positivo, evitando que o país estivesse ainda mais exposto às críticas internacionais.

Mas, com a cúpula deste fim de semana representando o adeus internacional de Trump, os demais governos já se prepararam para incrementar a pressão sobre o tema.

Antecipando uma crítica, Bolsonaro também usou a reunião dos Brics nesta semana para fazer ameaças veladas aos governos europeus, no que se refere à compra de madeira ilegal. Numa live promovida na noite de quinta-feira, o presidente voltou a criticar a França, argumentando que existem motivos comerciais para que Paris adote uma postura contrária ao Brasil.

A resposta europeia, porém, será mais estrutural e mais ampla que críticas isoladas. Ursula van der Leyen, presidente da Comissão Europeia, deixou claro que o objetivo é o de estabelecer um modelo em que países terão de “desconectar o crescimento de suas economias da exploração de recursos naturais”. Um dos temas principais do governo brasileiro ao se defender das críticas é justamente sobre a necessidade de promover o desenvolvimento e crescimento de sua economia.

 

*Jamil Chade/Uol

Siga-nos no Whastapp: https://chat.whatsapp.com/FDoG2xe9I48B3msJOYudM8

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica: Agência 0197
Operação: 013
Poupança: 56322-0
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68
Agradecemos imensamente a sua contribuição

 

 

Categorias
Uncategorized

Os interesses de poder por trás do coronavírus e das questões humanitárias

Pesquisador Evandro de Carvalho analisa implicações econômicas e geopolíticas do surto do vírus na China.

Das 33 províncias chinesas, cerca de 12 delas têm 99 ou mais pessoas infectadas pelo coronavírus, responsável por síndromes respiratórias graves. Juntos, esses 12 territórios concentram 64% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, de acordo com o World Atlas. Somente Jiangsu e Guangdong configuram cerca de 21% do índice.

Na primeira província, está localizada a cidade Hangzhou, onde surgiu a e-commerce Alibaba. No segundo trimestre de 2014, a empresa lucrou mais que as gigantes eBay e Amazon juntas, de acordo com o Valor Econômico. No mesmo patamar, a vizinha de Macau e Hong Kong, Guangdong, é berço do maior polo de produção de eletrônicos no mundo e vende cerca de US$ 650 bilhões em exportação anualmente – cerca de um quarto de todas as exportações do país.

Evandro Menezes de Carvalho, doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) aponta que, com o isolamento de províncias em situações críticas de infecção, como Wuhan, e a paralisação de atividades econômicas, avalia que certamente a conjuntura afetará o jogo geopolítico que envolve a China e haverá, seguramente, um impacto no PIB chinês. Algumas empresas devem retomar as atividades somente depois do dia 10 de fevereiro, alargando ainda mais o Ano Novo do país.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Evandro Menezes de Carvalho falou sobre as implicações econômicas e geopolíticas do surto causado pelo coronavírus. Ele salientou que o modo com que o país asiático vem lidando com a questão “reduz bastante a possibilidade de um pânico generalizado que teria consequências mais dramáticas na relação da China com vários países no mundo, que é o primeiro ou segundo parceiro comercial de uma centena de países”.

Brasil de Fato: Como fica o jogo geopolítico entre a China e outras potências mundiais? Quais são os interesses geopolíticos que alguns países podem apresentar em um surto como esse?

Evandro Menezes de Carvalho: Dentro do jogo geopolítico, há interesses que consideram questões humanitárias para benefícios de poder e, é claro que para certos países, o impacto desta epidemia de coronavírus contribui para a medição de força com a China. Países que querem prejudicar a imagem da potência asiática no mundo, utilizam esse tipo de situação para disseminar, ou deixar disseminar em seu território, a ideia de que a China tem informações não confiáveis, gerando uma certa insegurança e uma relativa aversão ao país.

Certos países, então, aproveitam situações como essa para manipular e aumentar o temor pela China. Isso aumenta os custos chineses para dar continuidade ao que vem sendo feito para melhorar sua imagem internacional. Nisso, é importante lembrar que a China permaneceu no Acordo de Paris e mostra publicamente a importância disso, assim como tem defendido a manutenção e o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), enquanto outros Estados advogam o contrário.

E quais são as implicações econômicas desse surto?

Ainda que seja difícil postular isso hoje, e mesmo economistas têm essa dificuldade, haverá um impacto no PIB do país, sobretudo porque a China está em um momento em que a economia teve de ser paralisada. Não totalmente, mas na medida em que se fecham cidades e restringe-se o fluxo do tráfego de trens, carros, ônibus, tudo isso vai afetar a economia chinesa, seguramente.

Se já havia uma perspectiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) de crescimento em cerca de 6% – com muito esforço, 6,5% – provavelmente isso não será possível ainda esse ano. O próprio governo chinês já sabia com muita antecedência que ia haver essa redução do PIB. Mas há um risco de ser abaixo de 6%, porque o surto é um fato inesperado. Isso gera uma preocupação normal do governo chinês, mas não significa necessariamente que não haja possibilidade de recuperar isso. É mais ou menos o que aconteceu depois da SARS (sigla em inglês para Síndrome Respiratória Aguda Grave), entre 2002 e 2004, a China voltou a crescer. Mas é certo que isso vai gerar impacto.

Esse impacto no PIB também está diretamente ligado às consequências nas relações internacionais da China, certo?

Tem um impacto internacional sobretudo nos países próximos à China, cuja economia é influenciada pelo turismo na região, como Tailândia e Japão, que já estão sentindo as consequências. Nesse sentido, o governo chinês proibiu viagens de certos grupos da população para o exterior, uma medida de segurança e de saúde para não espalhar essa situação para o resto do mundo.

Tudo isso começa a criar uma série de dificuldades que vai impactar o mercado internacional. E, é claro, na medida em que a economia chinesa já tinha uma leve retração, é difícil mensurar isso em função do coronavírus, que fará com que o governo chinês venha a reavaliar suas prioridades e despesas de emergência no contexto atual. Ainda é muito cedo para se falar em números e dados, em quais setores serão mais prejudicados. Mencionei o turismo, porque é a causa da medida recente de proibir viagens internacionais de grupos de chineses.

E em relação ao turbilhão de notícias que circulam sobre o surto provocado pelo coronavírus: como esse fator é colocado em questão?

A primeira questão a ser salientada é que esse tema do coronavírus se tornou global pelo potencial de propagação do vírus. Agora, um aspecto importante diz respeito ao modo como a China está lutando com essa questão. No contexto atual, há uma miríade de notícias que circulam na Internet que muitas vezes é difícil identificar aquilo que é informação crível e confiável.

É importante sublinhar que o governo chinês tem estabelecido um diálogo muito produtivo e aberto com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O presidente Xi Jinping se reuniu com o diretor geral da OMS recentemente, e eles decidiram entrar em acordo para intensificar as buscas pelas causas desse vírus e estudar as consequências, a fim de encontrar, inclusive, formas e soluções para combater a epidemia. Isso mostra abertura e transparência, de modo que não há porque também desmerecer as informações que estão sendo prestadas pela mídia chinesa constantemente.

Então, são informações importantes que mostram, de um lado, como o governo chinês está lidando com a situação. E, ao mesmo tempo, permite ao mundo acompanhar o que tem que ser feito. Isso, por si só, reduz bastante a possibilidade de liberar um pânico generalizado, que teria consequências mais dramáticas na relação da China com vários países no mundo. A China hoje é o primeiro ou segundo parceiro comercial de uma centena de países, por isso um fato como esse acaba gerando expectativas muito grandes em escala mundial.

No momento em que se declara que isso é uma emergência global, caso isso venha a ocorrer, tem um impacto direto na China, não só na questão dos gastos públicos para resolver o problema internamente, economicamente, mas também na imagem da China. Nós já sabemos que vivemos em uma era de muitas fake news, e que a China não está imune a isso, sobretudo no plano internacional. Então, esse fato pode ser usado para reforçar ainda mais a imagem que os países ocidentais têm ou querem construir de que a China não é tão confiável. Isso gera um ônus muito grande para o país asiático: o de precisar se mostrar um país responsável lidando com essas situações de emergência.

E como é a perspectiva brasileira em relação ao surto causada pelo coronavírus? Como o Brasil pode ser afetado em termos geopolíticos e econômicos?

Da perspectiva brasileira, o que a gente precisa observar é: estamos preparados para enfrentar seja uma epidemia de coronavírus ou qualquer outra situação semelhante que venha a ocorrer no Brasil?

Agora, acho que no contexto atual, o principal impacto seria aparentemente econômico, porque várias delegações chinesas de negócios poderiam estar vindo ao Brasil agora, ou de brasileiros que estariam indo para a China. Há uma redução do intenso nível de interação entre os dois países, pela conjuntura do coronavírus. Além disso, alguns produtos podem passar por um escrutínio maior do ponto de vista de segurança sanitária. Então acredito que terá um impacto maior no comércio.

 

 

*Com informações do Brasil de Fato

Categorias
Uncategorized

Dados de emprego do Caged comprovam falácia do discurso de Guedes em Davos

Na Suíça, governo abre mão de ferramentas para impulsionar economia forte e sustentável enquanto mercado só da conta de criar empregos de baixa renda.

Na última sexta-feira (22), o Ministério da Economia divulgou os números de 2019 do Caged, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. O governo e a imprensa tradicional comemoraram o resultado de criação de 644 mil novas vagas no mercado de trabalho, o melhor desempenho em seis anos. O que pouca gente destacou foi que não houve saldo positivo de crescimento em postos de trabalho com rendimento acima de 2 salários mínimos. Ou seja, seguimos fechando mais empregos de maior renda e qualidade e gerando, lentamente, empregos de baixa remuneração. Deste total, cerca de 106 mil postos foram nas chamadas modalidades de contrato intermitente, estabelecida pela Reforma Trabalhista de Michel Temer, ou parcial/por período determinado, no setor de serviços e comércio.

No mesmo dia, o ministro Paulo Guedes voltava de sua viagem ao Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, onde anunciou a adesão do Brasil ao Acordo sobre Compras Governamentais (GPA), da Organização Mundial do Comércio (OMC). Pelo GPA, os países signatários ficam obrigados a tratar empresas nacionais e estrangeiras com isonomia para aquisição de bens, serviços e obras. Qualquer medida de proteção às empresas nacionais deixa de ser permitida. Aos jornalistas, Guedes declarou que a adesão ao acordo permitirá ao Brasil “receber maiores fluxos de investimentos e se integrar às cadeias globais de negócios”. Na avaliação de economistas ouvidos pela CARTA MAIOR, a medida pode aprofundar os problemas registrados nos números do Caged.

“Trata-se de um processo de abertura que vai ajudar a liquidar as empresas brasileiras em nome de trazer pra cá empreiteiras estrangeiras. Nenhum país grande faz isso; ninguém abre mão do poder de Estado no desenvolvimento nacional para contratar empresas de fora. Primeiro as suas”, lembrou o economista Sérgio Mendonça, que foi Secretário Nacional de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento e Supervisor Técnico do Dieese e hoje coordena o projeto Reconta Aí (https://recontaai.com.br/). “Mas essa equipe é contra qualquer estratégia de desenvolvimento industrial a partir da ação do Estado. Acham que temos que abrir a economia e, com o choque de fora, vamos nos redimir de problemas de corrupção nas empreiteiras, como se não houvesse corrupção em empresas como a Alstom e a Halliburton. É uma visão darwinista e que acredita que o de fora é melhor do que o dentro. É o contrário. E isso vai nos destruir”, alerta.

Para a professora de Economia da Universidade de Brasília, Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, quaisquer melhoras para o setor que possam vir de acordos internacionais não podem eliminar o cuidado e atenção com a demanda interna, porque é ela que afeta e beneficia a população brasileira. “Quando você faz um acordo de liberalização de compras governamentais, cria demanda lá fora e agrada o mercado externo em vez de criar aqui dentro e de estruturar um desenvolvimento menos excludente. Temos que aproveitar todas as oportunidades, mas isso não pode se dar à revelia de uma política econômica de desenvolvimento sustentável a partir da demanda interna. E o que importa é o desenvolvimento econômico atrelado ao social. Não só uma questão de números”, afirma.

A urgência da retomada de uma política econômica sustentável no médio e longo prazo é mostrada justamente pelos números divulgados pelo Caged. Em 2018, o trabalho intermitente respondia por 10% dos postos, agora subiu para 13%, e quem consegue voltar a ter carteira assinada passa a ganhar, em média, 10% a menos do que antes da demissão. Ao mesmo tempo, a indústria, responsável por vagas mais qualificadas, segue perdendo espaço no Produto Interno Bruto (PIB). Caiu de 28,5% em 2005 para 21,2% em 2018. Na prática, quem tem pouca qualificação migra pra informalidade e quem tem se vê obrigado a passar ao trabalho autônomo, como microempreendedores individuais (MEI) ou prestadores de serviço como motoristas de Uber – que em Davos se reuniu com o ministro para dizer que quer ampliar suas operações no país. O resultado comprovado é a queda da renda e, consequentemente, da demanda, o que, em médio prazo, impede a economia de decolar.

“A visão conservadora da equipe de Paulo Guedes é a de que a oferta é o que determina as condições de demanda e o crescimento da economia. Mas no capitalismo ninguém produz se não houver perspectiva de lucro, algo que depende da demanda. E todas as medidas do governo vão no sentido de reduzir a demanda, e não de aumentá-la”, explica Maria de Lourdes Mollo.

A economista enumera, em primeiro lugar, a Reforma Trabalhista, que precarizou o trabalho e derrubou a renda. Depois, a Reforma da Previdência, que vai ser responsável por uma pauperização enorme da população brasileira. Depois as mudanças nas regras de reajuste do salário mínimo, que não vai subir mais de acordo com o PIB. E a indústria brasileira, que está sendo destruída sem que tenha alcançado um patamar sustentável.

“Isso tudo resulta num mercado de trabalho que não está conseguindo absorver os empregos que tinha pouco tempo atrás nem gerar novos, diante dessas reduções de demanda. O governo tenta aumentar a demanda com a liberação do fundo de garantia. Mas isso dá impacto na hora e depois não se sustenta. O que sustentaria seria um crescimento de mais de 4%, para reincorporar as pessoas cujos empregos foram perdidos em condições melhores. E isso não virá com a política de austeridade, que reduz a capacidade do Estado, que é alta, de gerar demanda. É uma concepção que entrega as ferramentas do governo para implementar uma política econômica mais forte”, acrescenta, relacionando com a entrada do país no GPA.

Crescimento com desigualdade

Outro risco da política do governo Bolsonaro propagada em Davos é a de um crescimento que, além de baixo, pode trazer maior concentração de renda. Guedes destacou, em sua passagem pela Suíça, a reunião com o ministro britânico Sajid Javid e a construção de um possível acordo de livre comércio com o Reino Unido, após a saída do país da União Europeia. Guedes falou também de um possível acordo comercial com a Coreia do Sul, numa volta ao modelo bilateral de negociações estrangeiras.

“ A lógica de Guedes é anti-multilateral. É de se submeter ao que o império manda e ao que os interesses bilaterais determinam. É uma lógica colonial, em vez de fortalecer emergentes e economias em desenvolvimento que tem características um pouco semelhantes às nossas, como pobreza, desigualdade e concentração de renda. Questões estruturais não se resolvem com quem quer tirar vantagem de acordos unilaterais feitos com você. São acordos lesivos, que não vão potencializar o desenvolvimento econômico social porque são baseados na lógica do crescimento com concentração de renda”, acredita Regina Camargos, pesquisadora da Unicamp.

Ela lembra do chamado “milagre econômico”, durante a ditadura militar, quando o Brasil chegou a crescer até 11% ao ano, mas concentrou renda absurdamente. Além desses patamares de crescimento serem impensáveis na atual conjuntura, até para países como a China, que tem um gigantesco mercado interno, o crescimento proposto pela equipe de Guedes seria um crescimento para poucos. “Se, com muito esforço o Brasil chegar a 2% de crescimento, vai ser algo que vai favorecer 1% da população, mantendo a economia funcionando para os mesmos, enquanto a maioria vai continuar com subempregos ou subocupada. Podemos ficar três anos assim, mas essa economia não se dinamiza e não se sustenta. O que dinamiza é o agravamento da desigualdade e da pobreza”, acrescenta Regina.

Para a pesquisadora, o foco deve ser na questão estrutural, “senão, segue sendo voo de galinha, que diante do primeiro espirro da economia central, no elo mais forte desses acordos bilaterais, impacta no elo mais fraco”. A meta do governo de gerar 1 milhão de empregos em 2020 está condicionada a um crescimento de 3% da economia nacional. Mas a previsão da Secretaria de Política Econômica para o PIV este ano é de 2,4%.

Na avaliação de Sergio Mendonça, quanto menos peso temos, mais devemos jogar no sistema multilateral, porque ali é possível diluir o peso das grandes economias. Mas Bolsonaro estaria seguindo o caminho de Trump, de enfraquecer os sistemas multilaterais. “Óbvio que os Estados Unidos não querem se submeter a regras multilaterais, mas para o Brasil isso é um erro. O comércio externo daqui depende muito mais de ter estratégia interna de desenvolvimento para se relacionar com outros países do que achar que vamos mudar a economia de fora pra dentro. Mas Guedes foi a Davos para reduzir ainda mais o papel do Estado e deixar para o mercado definir esses fluxos financeiros”, critica.

E o meio ambiente?

De alguns anos pra cá, Davos deixou de tratar de questões estritamente corporativas para analisar outros fatores e riscos que podem influenciar os negócios e o capitalismo em geral. Foi o que aconteceu quando o Fórum Econômico Mundial debateu os efeitos degenerativos da perda de controle do mercado financeiro pelos governos, quando começou a discutir desigualdade e, agora, a agenda ambiental. São temas que passaram a figurar no relatório de riscos globais, lançado anualmente no encontro. Mas, em Davos, Guedes não se mostrou muito preocupado com a agenda. Declarou em uma das mesas de que participou que é a pobreza a responsável pela destruição do meio-ambiente, bastando combatê-la – como se o governo Bolsonaro estivesse fazendo algo neste sentido – para evitar a destruição da natureza. Foi necessário o ex-vice presidente dos EUA Al Gore para desconstruir a fala.

Depois da passagem pela Casa Branca, Al Gore integra o conhecido grupo dos defensores do capitalismo civilizado, e tem sido consultor de grandes empresas que prospectam negócios na área da chamada economia verde, que pode movimentar 70 bilhões de dólares em investimentos nos próximos anos. A fala de Guedes na Suíça, além de não se sustentar por qualquer dado científico, desagradou assim quem pretende fazer negócios nessa área.

“São negócios muito lucrativos e o Brasil é, para o mundo capitalista, uma nova fronteira de negócios na área da biodiversidade, da água, da exploração sustentável. Como o governo brasileiro fez lambanças ambientais enormes nos últimos anos, Guedes tomou um pito lá. Como assim você vai queimar a galinha dos nossos ovos de ouro? O recado de Davos pra ele foi: ‘concordamos em quase tudo com o que você diz e podemos colocar dinheiro no Brasil, mas calma aí com a questão ambiental’. Se dependesse de Bolsonaro, o cuidado ambiental seria zero, porque ele tem fatura para pagar quem financiou sua campanha. Mas foi cobrado pelos fundos de investimento e empresas de olho na economia verde”, analisa Regina Camargos.

Paulo Guedes tampouco estava preocupado com isso em Davos. Foi reafirmar sua política neoliberal, mostrar currículo e tentar viabilizar a reeleição de Bolsonaro. Mas tem limites que até o Fórum Econômico Mundial não mais ultrapassa, mostrando que este é realmente um governo fora de seu tempo – no que há de pior e mais atrasado.

 

 

*Com informações da Carta Maior

Categorias
Uncategorized

Jamil Chade: Amadora, diplomacia brasileira é duramente golpeada por Trump

Numa mensagem em seu twitter nesta manhã de segunda-feira, Donald Trump escreveu o que praticamente todos sabem: na Casa Branca, “America First” significa exatamente o que o slogan diz. Primeiro, defendemos os nossos interesses e qualquer aliança tem de estar disposta a entender que serve aos nossos objetivos.

Só o governo brasileiro e a nova chancelaria brasileira pareciam não querer acreditar. Ou entender, o que é mais grave.

Numa resposta à desvalorização do real, que torna as exportações agrícolas mais competitivas e podem afetar os produtores dos EUA, o governo americano anunciou a imposição de tarifas sobre a siderurgia brasileira.

Uma retaliação ilegal e que repete com o Brasil o mesmo comportamento que Washington vem mantendo com a China.

Mas a decisão vai muito além dos metais. Ela golpeia o centro da política externa de Bolsonaro, que fez questão de anunciar sua admiração pelo presidente americano e, ao longo dos meses, repetiu como estava sendo tratado como um aliado especial pelo chefe do Salão Oval.

Um primeiro sinal claro do “desencanto” ocorreu quando o governo americano mandou uma carta oficial para OCDE para apontar quais países teriam preferências para aderir à instituição, sem citar o nome do Brasil.

O governo Bolsonaro, nos bastidores, pediu explicações. Mas, oficialmente, os dois “parceiros” reiteraram que aquela carta não era importante e que o que interessava era o compromisso público de Trump com a adesão do país, o que jamais se transformou em realidade.

Um segundo desencanto veio quando o governo brasileiro não conseguiu obter as autorizações para voltar a exportar carne bovina ao mercado americano.

Agora, quase um ano depois de assumir a diplomacia brasileira, a realidade é que a nova decisão de Trump deixa o chanceler Ernesto Araújo numa enorme saia-justa.

Em fóruns internacionais, a aliança entre o Brasil e os EUA já afastou o país do bloco das economias em desenvolvimento.

Na OMC, o Brasil sequer conseguiu eleger um de seus quadros mais qualificados para presidir uma negociação. Motivo: a instrumentalização feita pela Índia da existência da relação carnal entre Bolsonaro e Trump.

Também na OMC, o Brasil indicou que abandonaria certos privilégios que tinha como país em desenvolvimento, além de abrir seu mercado para o trigo americano.

Em política externa, não existem amigos. Apenas interesses. Tampouco há espaço para declarações de amor – muito menos num segundo encontro.

Em 2017, Ernesto Araújo publicou nos Cadernos de Política Exterior do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), uma defesa das políticas de Donald Trump e seu papel em “salvar” o Ocidente.

“Só quem ainda leva a sério a história do Ocidente, só quem continua sendo ator e não mero espectador, são os norte?americanos, ou pelo menos alguns norte?americanos.

Hoje, é muito mais fácil encontrar um ocidentalista convicto no Kansas ou em Idaho do que em Paris ou Berlim”, escreveu.

Um ano depois de comandar o Itamaraty, ou ele entende que Trump apenas tem o interesse de salvar seu mandato, ou está na hora de buscar uma função em algum think-tank financiado pelos ultra-conservadores americanos.

Quanto ao presidente Bolsonaro, um admirador convicto da Ditadura Militar, ele poderia passar mais seu tempo estudando o fato de que nem seus generais de cabeceira se entregaram aos EUA e, ouso dizer, não bateram continência à bandeira americana.

 

 

*Jamil Chade/Uol

Categorias
Uncategorized

Trump sacrifica Brasil para atingir seus objetivos

Na esperança de criar um impasse e evitar a expansão da OCDE, governo Trump trai promessa com o Brasil e entrega proposta que inclui apenas a adesão de Argentina e Romênia na entidade com sede em Paris.

GENEBRA – A decisão do governo dos EUA de não endossar a entrada do Brasil na OCDE, revelada pela agência Bloomberg, escancara a dimensão de amadorismo do governo de Jair Bolsonaro.

Ajudamos Donald Trump a atacar seus inimigos, apresentamos propostas na ONU contra a Venezuela à pedido da Casa Branca, abandonamos uma posição histórica na OMC ao lado dos países emergentes e até escrevemos nossos discursos na Assembleia Geral das Nações Unidas usando as mesmas palavras. Acreditamos tanto na promessa que há quem diga que soltamos um “eu te amo” nos bastidores.

Em troca, seriamos os aliados preferenciais. E até promovidos para o clube dos países ricos, a OCDE. Isso foi o que Trump disse ao presidente brasileiro em março.

Mas nada disso ocorreu. Uma carta enviada pelo governo americano para o secretário-geral da entidade, Angel Gurria, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, indicou que a Casa Branca prefere começar a expansão da OCDE apenas com Argentina e Romênia.

Nos bastidores, os americanos continuam dizendo aos brasileiros que a candidatura do País é apoiada por eles. Mas a realidade em Paris é diferente. Não há nem prazo e nem plano.

A carta é resultado de semanas de negociações. Depois de uma reunião desastrosa em julho, a OCDE não conseguiu definir como seria sua expansão. Gurria buscava uma resposta e, depois de gestões, recebeu uma carta no final de agosto. Nela, Pompeo trairia o Brasil.

No fundo, observadores acreditam que o problema não seja exatamente o Brasil. Mas sim a própria expansão da OCDE. A Casa Branca não quer essa ampliação e, de forma consciente, sugeriu na carta a entrada de apenas um europeu. Isso tudo sabendo que a UE não aceitaria a proposta.

Para Bruxelas, é fundamental que os dois países que fazem parte do bloco também estejam na OCDE. Portanto, além de Romênia, a Bulgaria também deveria entrar ao mesmo tempo.

Resultado: o processo se estagnou e não há, por enquanto, qualquer tipo de solução.

Quem perde, por enquanto, é a gestão de Ernesto Araújo, fervorosos defensor de um alinhamento automático com os EUA.

Enquanto isso, na OMC, o Brasil abriu mão de ser tratado como país em desenvolvimento em futuros acordos. Isso já teve consequências. Um diplomata brasileiro que iria presidir as negociações sobre os subsídios à pesca teve seu nome vetado pela Índia. Motivo: a aproximação excessiva do Brasil aos EUA.

Resultado: fizemos o trabalho sujo ao longo dos meses para os americanos. E, na hora de ir buscar o pagamento, fomos avisados que a retribuição fica para a próxima.

Na Síria, sem os curdos, os americanos jamais teriam derrotado o Estado Islâmico. Quando não precisaram mais dessa população, anunciaram que estavam retirando os soldados que os protegiam contra os turcos. Em poucos dias, mais de 60 mil curdos tiveram de abandonar suas casas diante dos ataques turcos.

Foram traídos.

Resta esperar que, assim como ocorreu com os militares em 1964 ou com Eurico Dutra nos anos 40, o novo governo logo se dê conta que uma suposta aliança automática com os EUA jamais trouxe um benefício ao Brasil. Jamais.

 

 

*Jamil Chade/Uol

Categorias
Uncategorized

Provável impeachment de Donald Trump traz risco a Jair Bolsonaro

Atrelado aos EUA, brasileiro afastou-se dos Brics, que se reunirão aqui, e pode ficar sem aliado forte

O Brasil será anfitrião em novembro da 11a reunião dos líderes dos Brics, bloco do qual fazem parte também Rússia, Índia, China e África do Sul. No Itamaraty, comenta-se que os preparativos são pró-forma e que a única utilidade do bloco hoje é o banco dos Brics, que ainda engatinha.

Segundo um diplomata, é impossível que russos e chineses tratem nesta reunião, ou em qualquer outra, de questões geopolíticas sensíveis. Sempre haverá o risco de seus planos serem revelados pelo Brasil aos Estados Unidos, devido aos laços umbilicais entre Jair Bolsonaro e Donald Trump.

Esses laços já afetam o Brasil. A Organização Mundial do Comércio (OMC) é dirigida desde 2013 por um diplomata brasileiro, Roberto Azevedo. Agora em setembro, a Índia avisou que não aceita um brasileiro à frente de uma negociação, dentro da OMC, sobre subsídios pesqueiros. Motivo: submissão do Brasil a Washington.

Essa submissão se mostrará um desastre ainda maior, a deixar o Brasil sem um amigo peso-pesado pelo mundo, caso Trump não escape do impeachment a que responde, ou perca a reeleição do ano que vem para um candidato do Partido Democrata, que é da oposição.

Com Michel Temer, o Brasil sofreu os efeitos de apostar todas as fichas diplomáticas numa força política americana e o cálculo dar errado.

Com ele no poder a partir de maio de 2016, o Itamaraty, tendo à frente o senador tucano José Serra, torceu publicamente pela vitória da democrata Hillary Clinton na eleição de novembro daquele ano. Deu Trump. Resultado: os EUA barraram por todo o governo Temer o desejo do emedebista de botar o Brasil na OCDE, clube de 35 nações ricas ou simpatizantes.

Apesar dos laços entre Bolsonaro e Trump, a viagem do brasileiro a Nova York para estrear na reunião anual das Nações Unidas teve algo esquisito.

Dias antes da viagem Bolsonaro disse que jantaria com Trump. Seus assessores sopravam a jornalistas que ele exigia sentar-se do lado direito do americano. Não houve jantar. Nem reunião formal entre os dois, apesar de estarem no mesmo hotel. Conversa a sós, Trump teve com os líderes de Cingapura, Coreia do Sul, Nova Zelândia, Paquistão e Polônia. Com Bolsonaro, apenas um encontro improvisado, sem registro na agenda de ambos.

Apesar da esquisitice, um diplomata brasileiro, com larga experiência, assistiu aos discursos de Bolsonaro e de Trump, um na sequência do outro na ONU, e não tem dúvida: foram combinados.

O discurso do brasileiro foi submetido previamente pelo filho Eduardo, a quem quer nepotisticamente nomear embaixador em Washington, a Steve Bannon, ideólogo da ultradireita global e o estrategista da eleição de Trump. Só depois foi distribuído pela Presidência ao corpo diplomático brasileiro nas Nações Unidas, disse um diplomata a CartaCapital.

A chefia do time brasileiro na ONU sofreu uma troca às pressas. O embaixador Mauro Vieira foi degolado, por ter sido ministro das Relações Exteriores de Dilma Rousseff. O atual ministro, Ernesto Araújo, indicou um substituto em 13 de agosto, aprovado no Senado em 18 de setembro. Vieira estava no Congresso no dia do discurso de Bolsonaro e não quis comentá-lo. Disse que não tinha visto.

O texto é obra de um quarteto que também foi a Nova York. Eduardo Bolsonaro, que postou na internet fake news contra a jovem ambientalista sueca Greta Thunberg. Augusto Heleno, chefe do órgão de inteligência do governo (GSI), que sente vergonha de ganhar 19 mil reais líquidos como general inativo. Araújo, para quem Trump é o salvador da civilização ocidental. E Filipe Martins, ex-funcionário da embaixada dos EUA em Brasília que hoje é assessor especial de Bolsonaro.

Martins pôs no Twitter uma foto da transmissão, pela Globonews, de Trump discursando. A foto mostra o instante em que o canal dizia na tela “Trump: o futuro não pertence aos globalistas, mas aos patriotas”. Com a foto, Martins escreveu: “O futuro é nosso! O globalismo não irá prevalecer”. Globalismo é como bolsonarismo e trumpismo chamam padrões civilizatórios mínimos.

Também no Twitter, Martins negou que tenha havido combinação do discurso com a equipe do presidente americano . “Essa convergência não é resultado de coordenação prévia, mas da comunhão de valores perenes”, escreveu.

Uma comunhão que ameaça fazer do Brasil um inútil nos Brics.

 

 

*Com informações da Carta Capital

Categorias
Uncategorized

Carta de Lula ao povo brasileiro: “O país está sendo destroçado por um governo de traidores”

Leia a íntegra da carta de Lula.

Companheiras e companheiros de todo o Brasil,

Sempre acreditei que o povo brasileiro é capaz de construir uma grande Nação, à altura dos nossos sonhos, das nossas imensas riquezas naturais e humanas, nesse lugar privilegiado em que vivemos. Já provamos, ao longo da história, que é possível enfrentar o atraso, a pobreza e a desigualdade, com soberania e no rumo da justiça social. Mas hoje o país está sendo destroçado por um governo de traidores. Estão entregando criminosamente as empresas, os bancos públicos, o petróleo, os minerais e o patrimônio que não lhes pertence, mas ao povo brasileiro. Até Amazônia está ameaçada por um governo que não sabe e não quer defendê-la; que incentiva o desmatamento, não protege a biodiversidade nem a população que depende da floresta viva.

Nenhum país nasce grande, mas nenhum país realizará seu destino se não construir o próprio futuro. O Brasil vai completar 200 anos de independência política, mas nossa libertação social e econômica sempre enfrentou obstáculos dentro e fora do país: a escravidão, o descaso com a saúde, a educação e a cultura, a concentração indecente da terra e da renda, a subserviência dos governantes a outros países e a seus interesses econômicos, militares e políticos.

Apesar de tudo, ao longo da história criamos a Petrobrás, a Eletrobrás, o BNDES e as grandes siderúrgicas hidrelétricas; os bancos públicos que financiam a agricultura, a habitação e o ensino; a rede federal e estadual de universidades, a Embrapa, o Inpe, o Inpa, centros de pesquisa e conhecimento, todo um patrimônio a serviço do país.

O que foi construído com esforço de gerações está ameaçado de desaparecer ou ser privatizado em prejuízo do país, como fizeram com a Telebrás, a Vale, a CSN, a Usiminas, a Rede Ferroviária, a Embraer. E sempre a pretexto de reduzir a presença estado, como se o estado fosse um problema quando, na realidade, ele é imprescindível para o país e o povo.

O mercado não vai proteger um dos maiores territórios do mundo, o subsolo e a plataforma continental; a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal. Não vai oferecer acesso universal à educação, saúde, seguridade social, segurança pública, cultura. O mercado não vai construir um país para todos.

A Petrobrás está sendo vendida aos pedaços a suas concorrentes estrangeiras. Já entregaram dois gasodutos estratégicos, a distribuidora e agora querem as refinarias, para reduzi-la a mera produtora de petróleo bruto e depois vender o que restou. Reduzem a produção de combustíveis aqui para importar em dólar dos Estados Unidos. E por isso disparam os preços dos combustíveis e do gás para o povo.

Se a Petrobrás fosse um problema para o Brasil, como a Rede Globo diz todo dia, por que tanta cobiça pela nossa maior empresa e pelo pré-sal, que os traidores também estão entregando? Agora mesmo querem passar a eles os poços da chamada Cessão Onerosa, onde encontramos jazidas muitas vezes mais valiosas que as ofertas previstas no leilão.

Problema é voltar a comprar lá fora os navios e plataformas que sabemos fazer aqui. É a destruição da cadeia produtiva de óleo e gás, pela ação do governo e pelas consequências do que fez um juiz em Curitiba. Enquanto fechava acordos com corruptos, vendendo a falsa ideia de que combatia a corrupção, 2 milhões de trabalhadores foram condenados ao desemprego, sem apelação.

Os trabalhadores e os mais pobres são os que mais sofrem com essa traição. Cada pedaço do país e das empresas públicas que vendem, a qualquer preço, são milhões de empregos e oportunidades roubadas dos brasileiros.

É uma traição inominável matar o BNDES, vender o Banco do Brasil e enfraquecer a Caixa Econômica, indispensáveis ao desenvolvimento sustentável, à agricultura e à habitação. O ataque às universidades públicas também é contra a soberania nacional, pois um país que não garante educação pública de qualidade, não se conhece nem produz conhecimento, será sempre submisso e dependente das inovações criadas por outros.

Bolsonaro entregou nossa política externa aos Estados Unidos. Deu a eles, a troco de nada, a Base de Alcântara, uma posição privilegiada em que poderíamos desenvolver um projeto aeroespacial brasileiro. Rebaixou a diplomacia a um assunto de família e de conselheiros que dizem que a terra é plana. Trocou nossas conquistas na OMC pela ilusão da OCDE, o clube dos ricos que o desprezam. Anunciou um acordo com a União Europeia, sem pesar vantagens e prejuízos, e agora brinca de guerra com os europeus para fazer o jogo de Trump.

Quem vai ocupar o espaço da indústria naval brasileira, da indústria de máquinas e equipamentos, da engenharia e da construção, deliberadamente destroçadas? Quem vai ocupar o espaço dos bancos públicos, da Previdência; quem vai fornecer a Ciência e a Tecnologia que o Brasil pode criar? Serão empresas de outros países, que já estão tomando nosso mercado, escancarado por um governo servil, e levando os lucros e os empregos para fora.

Fiquem alertas os que estão se aproveitando dessa farra de entreguismo e privatização predatória, porque não vai durar para sempre. O povo brasileiro há de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence. E saberá cobrar os crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o país.

É urgente enfrentá-los, porque seu projeto é destruir nossa infraestrutura, o mercado interno e a capacidade de investimento público – para inviabilizar de vez qualquer novo projeto de desenvolvimento nacional com inclusão social. O povo brasileiro terá mais uma vez que tomar seu próprio caminho. Antes que seja tarde demais para salvar o futuro.

Por isso é tão importante reunir amplas forças sociais e políticas, como neste seminário que se realiza hoje em Brasília, junto ao lançamento da Frente Parlamentar Mista da Soberania Nacional. Saúdo a todos pela relevante inciativa que é o recomeço de uma grande luta pelo Brasil e pelo povo.

Daqui onde me encontro, renovo a fé num Brasil que será novamente de todos, na construção da prosperidade, da igualdade e da justiça, vivendo na democracia e exercendo sua inegociável soberania.

Viva o Brasil livre e soberano!

Viva o povo brasileiro!

Luiz Inácio Lula da Silva”

Curitiba, 4 de setembro de 2019