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Brasileiro-palestino morre em prisão de Israel após desmaiar de fome

Circunstâncias da morte de Walid Khaled Abdallah, de 17 anos, em Meggido foram informadas por ONG.

O brasileiro-palestino de 17 anos Walid Khaled Abdallah morreu após desmaiar de fome e bater a cabeça no chão, no dia 22 de março, em uma prisão em Megiddo, Israel. As circunstâncias da morte de Walid foram divulgadas na quinta-feira (3) pela ONG Defesa das Crianças Palestinas (DCIP, na sigla em inglês) e confirmadas pela Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).

Outros adolescentes também detidos na mesma prisão teriam pedido ajuda aos guardas quando Walid desmaiou. O pedido foi ignorado pelos guardas. Segundo a ONG, foram os próprios colegas de Walid que o carregaram ao portão do pátio da prisão.

palestino

Adolescente brasileiro-palestino sofreu trauma
Em seguida, agentes penitenciários levaram Walid para a clínica da prisão. A equipe médica tentou ressuscitá-lo com um desfibrilador e adrenalina, mas o adolescente não resistiu. De acordo com a autópsia, Walid passou fome, sofreu desidratação por diarreia e apresentava infecções.

O exame, segundo a DCIP, revelou que Walid sofria de extrema perda da massa muscular e da gordura corporal, além de sarna nas pernas e na virilha. O estado do tórax e do abdômen indicavam que ele sofreu um trauma contundente. O intestino grosso tinha edemas, associados a uma lesão que ele pode ter sofrido.

A ONG afirmou que o adolescente sofreu por meses e que os guardas abusaram do garoto até que ele morresse. Walid esteve na clínica da prisão diversas vezes, quando reclamou, durante atendimento, da falta de comida e de um traumatismo craniano, de acordo com o ICL.

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China diz que tarifaço de Trump ‘coloca em perigo’ economia mundial e terá resposta

Gigante asiático já havia respondido com taxas sobre uma série de produtos agrícolas estadunidenses.

A China disse nesta quinta-feira (3) que “se opõe firmemente” às novas e abrangentes tarifas dos EUA sobre suas exportações, prometendo “contramedidas” para proteger seus direitos e interesses. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desencadeou uma guerra comercial global, depois de impor taxas sobre as importações de todo o mundo e tarifas extras severas sobre seus principais parceiros comerciais.

O republicano anunciou tarifas de 34% sobre as importações da China, um de seus maiores parceiros comerciais. O Ministério do Comércio da China pediu a Washington que “cancele imediatamente” as novas medidas, que “colocam em perigo o desenvolvimento econômico mundial”. A China já havia respondido às tarifas dos EUA com taxas de até 15% sobre uma série de produtos agrícolas estadunidenses, incluindo soja, carne suína e frango.

Um porta-voz diplomático criticou “o protecionismo e o assédio” dos Estados Unidos e pediu uma solução das divergências econômicas e comerciais “por meio de consultas justas, respeitosas e recíprocas”. O Ministério do Comércio de Pequim afirmou em um comunicado que essas tarifas “não estão em conformidade com as regras do comércio internacional e prejudicam seriamente os direitos e interesses legítimos das partes relevantes” e acusou os Estados Unidos de uma “típica prática unilateral de intimidação”.

As tarifas se somam a uma taxa de 20% imposta no mês passado. Em uma reunião semanal na quinta-feira, o Ministério do Comércio criticou o “protecionismo e a intimidação” de Washington, mas também disse que os dois lados estavam “mantendo a comunicação” sobre as fontes de discórdia em questões comerciais e econômicas. Na prática, as taxas sobre importações chinesas passam a ser de 54%.

Proibições para empresas estadunidenses
Em um primeiro documento publicado pelo ministério chinês, a China incluiu dez empresas estadunidenses no sistema de Listas de Entidades Não Confiáveis, o que significa que as empresas não poderão comercializar com a China e nem investir no país.

O sistema é utilizado, de acordo com o governo chinês, para garantir “as regras econômicas e comerciais internacionais e o sistema de comércio multilateral, se opor ao unilateralismo e ao protecionismo comercial e salvaguardar a segurança nacional da China, os interesses públicos sociais e os direitos e interesses legítimos das empresas”.

Em comunicado à parte, a corporação Illumina Inc. também foi incluída nesse mesmo mecanismo, mas com a medida específica de proibição de exportação de sequenciadores genéticas (máquinas que identificam a sequência de informações genéticas de organismos) para a China. A terceira medida colocou outras 15 empresas na Lista de Controle de Exportação.

Quais são as companhias
As primeiras dez vendem armamento ou fornecem serviços de vigilância e análise de dados para Taiwan. Segundo o Ministério do Comércio chinês, a decisão tem base em diversas leis, como a de Segurança Nacional, a de Sanções Antiestrangeiras. As ações, ainda segundo o ministério, prejudicam “seriamente a soberania nacional, a segurança e os interesses de desenvolvimento da China”.

As companhias são da indústria armamentista e/ou aeroespacial (Cubic Corporation, TCOM, L.P, Teledyne Brown Engineering,Inc., S3 AeroDefense e ACT1 Federal); aviação (Stick Rudder Enterprises LLC ); da construção naval e defesa (Huntington Ingalls Industries Inc; de análise de dados (Exovera e TextOre), e de engenharia (Planate Management Group)

Algumas destas empresas já tinham sido objeto das chamadas contramedidas em setembro de 2024. Elas foram implementadas em resposta ao anúncio do Departamento de Estado dos EUA de uma aprovação de venda de armamento militar a Taiwan em um valor de US$ 228 milhões (R$ 1,3 bi), que acabou se confirmando em outubro por um valor muito maior, US$ 2 bilhões (R$ 11,2 bi).

Já a Illumina, de acordo com o Ministério do Comércio, “violou os princípios normais de negociação do mercado, interrompeu transações normais com empresas chinesas, adotou medidas discriminatórias contra empresas chinesas e prejudicou seriamente os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”.

As outras 15 empresas possuem laços (em maior ou menor grau) com o Complexo Militar Industrial dos EUA. As medidas implementadas pela China, nesta terça, proibiram as empresas chinesas de exportar para essas empresas os chamados bens de dupla utilização (que podem ser utilizados tanto para fins pacíficos como militares). Veja a lista abaixo:

  • Leidos
  • Gibbs & Cox, Inc.
  • IP Video Market Info, Inc.
  • Sourcemap, Inc.
  • Skydio, Inc.
  • Rapid Flight LLC
  • Red Six Solutions
  • Shield AI, Inc.
  • HavocAI
  • Neros Technologies
  • Group W
  • Aerkomm Inc.
  • General Atomics Aeronautical Systems, Inc.
  • General Dynamics Land Systems
  • AeroVironment

*BdF

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Mercados dos EUA despencam com a marafunda neoliberal de Trump

Tarifas de Trump significam ruptura no comércio internacional.

Essa é uma posição quase unânime no mundo e de seus respectivos mercados, inclusive ou sobretudo os dos próprios Estados Unidos.

Dow Jones recuava 3,75% e o S&P 500 caía 4,39% às 12h45; o índice Nasdaq tinha queda de 5,78%.

As ações caíram nos EUA, Ásia e Europa. Aliados e adversários estavam igualmente ponderando suas respostas.

Os principais índices do mercado de ações europeu também registraram queda. O DAX, da Alemanha, caiu 2,93%. O Euro Stoxx 50, da Zona do Euro, recuou de 3,57%. Na Espanha, o Ibex teve baixa de 1,08%. O FTSE MIB recuou 3,59% na Itália. O FTSE 100, de Londres, caiu 1,59%.

Taxas adicionais aos países que cobram acima de 20% dos EUA. A China, por exemplo, será taxada em 10% a partir de 5 de abril e mais  24% no dia 9.

As tarifas de Trump são o mais recente sinal de seu apetite por risco de suicídio político.

Trump foi além da maioria das previsões, mostrando disposição de seguir seus instintos alucinados, mesmo quando os críticos, alguns aliados, consideram provável o fracasso.

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Presidente do Equador é dono de empresa sócia de exportadora ligada a narcotráfico

Claudia Jardim – A Pública  O atual presidente do Equador e candidato à reeleição, Daniel Noboa, é dono da empresa que é sócia majoritária de uma exportadora flagrada em um escândalo de tráfico de cocaína para Europa, apontam documentos. A droga era enviada em embalagens de banana e foi alvo de três interceptações da polícia nacional equatoriana.

De acordo com papeis vazados pelo Pandora Papers, investigação do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ, na sigla em inglês), Noboa e um de seus irmãos, John Noboa, aparecem como sócios-proprietários da Lanfranco Holdings S.A, empresa offshore com base no Panamá, um paraíso fiscal.

Por sua vez, a Lanfranco é a acionista majoritária, com 51% das ações, da Noboa Trading Co, empresa flagrada por traficar cocaína para a Europa ao menos três vezes.

A conexão entre essas empresas reveladas agora pela Agência Pública com exclusividade colocam Noboa – que busca sua reeleição em um segundo turno acirrado no dia 13 de abril – no centro da denúncia de tráfico de drogas, reveladas inicialmente pela Revista Raya.

  • A família de Noboa é dona de um dos maiores grupos empresariais do país, atuando na exportação de bananas e no controle de portos.
  • Daniel Noboa é o presidente mais novo da história recente do Equador, filho de Álvaro Noboa Pontón, empresário e político equatoriano.

“Exportou bananas misturadas com drogas”, acusou adversária política
Durante o debate presidencial de 23 de março, em Quito, Noboa foi questionado por sua adversária no segundo turno, Luisa González, sobre uma acusação de que a empresa Noboa Trading, controlada pela sua família, “exportou bananas misturadas com drogas”. O CEO da Noboa Trading é Roberto Ponce Noboa, primo do presidente.

O presidente não negou a acusação, mas tentou se eximir de qualquer responsabilidade no crime. “Eu não sou o dono, mas membros da minha família estão envolvidos nessa empresa. A Noboa Trading cooperou em cada um dos casos, e isso foi esclarecido perante o Ministério Público. Isso, portanto, absolve qualquer funcionário da Noboa Trading de qualquer irregularidade.” No entanto, documentos revelam que não é bem assim.

As supostas irregularidades que envolvem o mandato de Noboa se arrastam desde sua eleição em 2023. Noboa foi eleito sem ter declarado que é sócio de uma empresa, no caso a Lanfranco, em paraíso fiscal, o que é proibido por lei no país. Agora, os dados mostram que a Lanfranco é sócia majoritária da Noboa Trading, offshore com sede no Panamá.

De acordo com a Superintendência de Companhias, Valores e Seguros do Equador, a Lanfranco detém 51% das ações da Noboa Trading. E ainda de acordo com documentos vazados pelo Pandora Papers, Noboa e seu irmão, John, seriam os verdadeiros donos da Lanfranco.

“Confirmamos que os beneficiários finais da sociedade acima referida são meus filhos Daniel Roy Gilchristi Noboa Azin e John Sebastian Maximilian Noboa Azin, já que estou deixando a sociedade para eles, sem que eles tenham conhecimento expresso disso no momento”, diz um dos documentos com data de 10 de junho de 2015, endereçado por Álvaro Noboa Ponton ao escritório de advogados Alemán, Cordero, Galindo & Lee (Alcogal), com sede no Panamá.

Esse vínculo de Noboa e um de seus irmãos com a Lanfranco Holdings S.A foi revelado com exclusividade na Folha de S.Paulo, às vésperas da eleição de 2023.

Em outra série de documentos do Pandora Papers aos que a Pública teve acesso para esta reportagem, aparece a cópia dos passaportes de Daniel Noboa e seus dois irmãos, cartas bancárias certificando o vínculo deles na instituição financeira e um documento assinado por eles certificando a empresa ALCOGAL como sua representante legal.

Documento obtido pelo Pandora Papers, investigação do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ, na sigla em inglês)
A Pública solicitou uma entrevista com o presidente equatoriano, tanto aos assessores da Secretaria de Comunicação, quanto diretamente à vice-presidente Cynthia Gellibert. No entanto, até o fechamento desta reportagem, não obtivemos respostas.

Os documentos do Pandora Papers são de 2015. Não há registros na base de dados coletada em 2021 pelo ICIJ que indiquem que o presidente deixou de ser o proprietário da Lanfranco antes de assumir a presidência do país. Sendo assim, a posse de uma  empresa em paraíso fiscal seria ilegal perante a lei equatoriana, o que poderia colocar em questão a legalidade de seu mandato presidencial.

Documento obtido pelo Pandora Papers, investigação do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ, na sigla em inglês)
A Lanfranco também detém a maioria das ações das principais empresas que compõem o conglomerado Noboa no Equador. São elas: são: a Companhia Agrícola Rio Ventanas S.A. (Carivesa), Agrimont S.A., Honorasa S.A., Industrial Bananera Álamos S.A., Agrícola La Julia S.A., Bananera Las Mercedes S.A., Manufacturas de Cartón, Companhia Agrícola Angela Maria S.A. e Companhia Agrícola Loma Larga Sociedad Anónima.

Juntas, essas empresas geram uma receita de 450 milhões de dólares, segundo a Superintendência de Companhias, Valores e Seguros do Equador, valor que integraria o patrimônio do atual presidente e de seu irmão, mas que não foram declarados quando ele se candidatou à presidência por ser ilegal manter empresas em paraísos fiscais.

No Equador, segundo a Receita Federal local, metade do capital dos principais contribuintes provém de outros países. Deste total, 70% são transferidos através de operações realizadas em paraísos fiscais. O império bananeiro construído pelo pai do presidente, Álvaro Noboa, deve aos cofres públicos mais de 93 milhões de dólares em impostos.

A trama da cocaína traficada para a Itália
O escândalo envolvendo os Noboa com o narcotráfico – antecipado durante o debate presidencial – veio à tona após a publicação de uma investigação da Revista Raya, dia 26 de março. Na reportagem, o jornalista Andrés Durán afirma que a Noboa Trading foi flagrada em um esquema de tráfico de cocaína que tinha como destino a Croácia e a Itália.

No total, de acordo com a reportagem, foram apreendidos quase 600 quilos de cocaína no Equador nos contêineres da Noboa Trading. A primeira apreensão foi em 2020, em meio à pandemia de covid-19. Uma operação da Polícia Nacional equatoriana e da Unidade de Inteligência Aeroportuária (UIPA) apreendeu cerca de 160 quilos de cocaína escondidos em sacos de bananas que tinham como destino final a Croácia.

Em 2022, o esquema foi mais sofisticado: cerca de 320 quilos da droga foram encontradas no sistema de refrigeração do container, uma operação que implicou a implantação da droga por meio da abertura do sistema de refrigeração da estrutura criada para que as bananas não apodreçam durante o transporte até o destino final.  De acordo com reportagem da Revista Raya, o supervisor do carregamento das exportações da Noboa Trading era José Luis Rivera Baquerizo.

Ainda de acordo com a reportagem, o funcionário foi preso e logo foi libertado após a intervenção do advogado Edgar Lama Von Buchwald, que no momento era assessor de Noboa, então deputado. De lá pra cá, a relação entre Von Buchwald e Noboa se fortaleceu. O então assessor e advogado se tornou ministro de Saúde no governo de Noboa.

Em 2024, já durante a presidência de Noboa, a Polícia Nacional voltou a interceptar carregamento de droga nos contêineres da Noboa Trading. Dessa vez, foram apreendidos cerca de 76 quilos de cocaína escondidas no teto do container que seria enviado à Europa.

Outro ponto importante: o conglomerado Noboa tem controle da cadeia de produção, não utilizam agentes terceirizados. A família Noboa é dona da fazenda produtora,  controla a produção e colheita da banana, o transporte — cada veículo é monitorado por GPS — até a entrega às autoridades portuárias. Até as caixas de papelão para o transporte da banana pertencem à família presidencial. E parte dos portos do país – que são privatizados – são controlados também pelos Noboa.

Fernando Carrión, especialista em segurança e narcotráfico, acredita, no entanto, que narcotraficantes teriam contaminado as exportações da família Noboa. “Pela prática que tem o narcotráfico de contaminação das exportações, seria difícil dizer que a família do presidente esteja vinculada diretamente com o trânsito da droga. A contaminação pode acontecer em qualquer etapa”, afirma.

Tráfico & bananas
O tráfico de drogas em contêineres de bananas do Equador não é uma novidade. Mais da metade de toda a cocaína apreendida na Europa é encontrada em containers da fruta. De acordo com um relatório da Comissão Europeia, 57% dos contêineres de bananas exportados pelo Equador para a Europa chegam contaminados com cocaína. E mais da metade da cocaína apreendida no Equador também é transportada em carregamento de bananas.

Uma resposta óbvia seria um maior rigor na fiscalização, mas na avaliação do analista político Franklin Ramirez, professor de sociologia da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) em Quito, desde a presidência de Guillermo Lasso, antecessor de Noboa, há uma estrutura de conivência, agora herdada pelo atual governo, entre o crime organizado e o Estado equatoriano. “Não há vontade nem do Executivo, nem da Fiscalía (Procuradoria Geral da República) de ativar o dispositivo institucional para investigar a triangulação entre o crime organizado, lavagem de dinheiro e instituições financeiras tanto do Equador como nos paraísos fiscais”, afirma Ramirez. “É evidente que a lavagem de dinheiro está vinculada com o narcotráfico”, acrescenta.

Para Fernando Carrión, a explicação está no desmonte do Estado equatoriano. “Desde 2017, com a saída do presidente Rafael Correa, prevaleceu a lógica do Estado mínimo. O aparato estatal foi reduzido, e o orçamento destinado à segurança e ao combate ao narcotráfico foi drasticamente diminuído”, afirmou Carrión.

Reportagens apontam que o Equador se transformou em um centro de distribuição de drogas para a Europa. Esse novo protagonismo do crime organizado equatoriano coincide com a assinatura dos acordos de paz na Colômbia, em 2016. Com a dissolução das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), a pressão sobre os grupos paramilitares, que também controlam o tráfico de cocaína, e o deslocamento das dissidências da guerrilha para novas zonas de conflito desorganizaram a rota de tráfico estabelecida até então.

O país também se tornou o mais violento da região. Entre 2015 e 2019, a taxa era de 5,8 homicídios por 100 mil habitantes. No entanto, a partir de 2020, houve um aumento exponencial da violência, com o índice quase quintuplicando e alcançando 38,8 homicídios por 100 mil habitantes em 2024, segundo a organização Insight Crime. Em comparação com o Brasil, a violência no país vizinho é mais do que o dobro da observada aqui: em 2024, o Brasil registrou 18,21 homicídios por 100 mil habitantes.

Direita latinoamericana
Noboa faz parte dos governos de direita da América Latina que mantêm, ou pretendem, consolidar uma relação estreita de alinhamento político com Donald Trump nos Estados Unidos. A poucos dias da eleição presidencial, a CNN revelou um suposto plano de Noboa para militarizar o Equador com a instalação de uma base militar que permitiria o livre fluxo de tropas dos Estados Unidos para combater a criminalidade.

Em encontro com Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, no dia 29 de março, Noboa diz que conversaram sobre “cooperação em segurança”.

Se concretizado o plano, não será a primeira vez que militares dos Estados Unidos recebem carta branca para operar no território equatoriano. Em 1999, durante o governo do então presidente Bill Clinton, Washington instalou uma base militar na província de Manta, no Pacífico equatoriano. Mas a empreitada não durou muito tempo. A base militar foi desmantelada em 2009, durante o governo do presidente de esquerda Rafael Correa (2007-2017), que se opunha à presença militar dos EUA em seu território. A presença de militares estrangeiros era, e continua sendo, ilegal de acordo com a nova Constituição aprovada durante o governo Correa.

O segundo turno da eleição presidencial está previsto para o domingo, 13 de abril. A disputa será entre Noboa, candidato à reeleição, e Luisa González, herdeira política de Correa, do Movimento Revolução Cidadã.

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Trump anuncia tarifa de 10% sobre produtos do Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a tarifa de 10% sobre a importação de produtos brasileiros. O número foi exibido em uma tabela com países que devem sofrer com a chamada “reciprocidade de tarifas” em evento na Casa Branca nesta quarta (2).

O documento exibido por Trump mostra 25 países que serão incluídos no “tarifaço”, com diferentes alíquotas. A taxa para a China, por exemplo, será de 34%, enquanto para produtos da União Europeia será de 20%. Veja a tabela:

A taxa aplicada ao Brasil é o mínimo estabelecido pelo presidente americano, de 10%. Trump já tinha anunciado no mês passado uma tarifa de 25% sobre todo aço e o alumínio que entra nos Estados Unidos, e isso tende a ter reflexo nas exportações brasileiras.

O patamar cobrado do Brasil no “tarifaço” será o mesmo aplicado a países como Chile, Austrália e Colômbia. Com DCM.

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Conselheiro demitido: Elon Musk deve se afastar em breve do governo Trump

Elon Musk deve se afastar em breve de seu cargo à frente do Departamento de Eficiência Governamental, onde atuava como conselheiro da gestão Trump.

O presidente Donald Trump informou a seu círculo mais próximo que Elon Musk deve se afastar em breve de seu cargo à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), onde atuava como parceiro e conselheiro da gestão Trump.

Elon Musk já teria cumprido seu papel no governo Trump: o DOGE limitou significativamente o orçamento público, restringindo ou até negando recursos a áreas estratégicas, como o USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), responsável por promover ajuda humanitária dentro e fora do país. A agência foi praticamente extinta e se tornou alvo de disputas judiciais entre o governo e juízes federais, que tentam impedir seu fim definitivo.

Outra possível motivação para Musk ter assumido o posto no governo Trump foi o anúncio de tarifas comerciais, medida que pode impactar diversos países, incluindo o Brasil. O bilionário pode se beneficiar diretamente, já que sua fabricante de carros elétricos, Tesla, realiza toda a produção, inclusive de autopeças, nos EUA. Isso reduziria os custos de produção da empresa em comparação com outras montadoras, que dependem da importação de peças e matérias-primas de outros países.

Um alto funcionário do governo disse que Musk provavelmente continuará atuando informalmente como conselheiro. A transição, conforme as fontes, deve coincidir com o fim do período em que Musk exerce o status de “funcionário especial do governo”, uma condição temporária que o isenta de algumas regras de ética e conflito de interesses. Esse período de 130 dias deve expirar no final de maio ou início de junho.

Leia também: Musk tem que aceitar a lei, se vale para um, vale para todos, defende Lula

A saída de Musk tem apoio tanto entre aliados quanto entre críticos. Enquanto alguns acreditam ser este o momento ideal para ele deixar o governo, após os sucessivos cortes orçamentários e a reorganização da administração, outros afirmam que Musk é uma força imprevisível e difícil de gerenciar, enfrentando problemas para comunicar seus planos aos secretários do gabinete. Declarações inesperadas — incluindo planos não revisados para desmantelar agências federais — frequentemente causam turbulências na administração.

Trump diz a membros de seu gabinete que Musk sairá do governo em breve, diz  site

O risco político representado por Musk ficou evidente na terça-feira (1º), quando os democratas criticaram o investimento de aproximadamente US$ 20 milhões feito por ele na disputa eleitoral para a Suprema Corte em Wisconsin. Nesse caso, o candidato apoiado por Musk e Trump, Brad Schimel, perdeu para a juíza liberal Susan Crawford, candidata dos Democratas.

Trump, no entanto, já vinha preparando a saída de Musk. Em uma reunião de gabinete realizada em 24 de março, o presidente informou aos presentes sobre a decisão, segundo um alto funcionário do governo.

Logo após o anúncio, Trump convidou jornalistas para uma coletiva, onde elogiou Musk, que participou usando um boné vermelho com o slogan “MAGA” (“Make America Great Again”, ou “Faça a América Grande de Novo”, em português): “Elon, quero te agradecer — sei que você passou por muita coisa”, disse Trump, mencionando ameaças de morte e atos de vandalismo contra carros da Tesla, antes de chamá-lo de “patriota” e “meu amigo”.

Em entrevista à Fox News, Musk foi questionado se estaria pronto para deixar o governo. Ele respondeu dizendo que sua missão foi cumprida: “Acho que teremos cumprido a maior parte do trabalho necessário para reduzir o déficit em 1 trilhão de dólares dentro desse prazo.”

Na noite de segunda-feira (31), Trump disse a jornalistas que “em algum momento, Elon vai querer voltar para sua empresa”, acrescentando: “Ele quer. Eu o manteria o máximo de tempo que pudesse.”

“Como o presidente disse, esta Casa Branca adoraria manter Elon por aqui o máximo possível”, afirmou na terça-feira o porta-voz da Casa Branca, Harrison Fields, enquanto os resultados das eleições em Wisconsin chegavam. “Elon tem sido fundamental na execução da agenda do presidente e continuará esse bom trabalho até que o presidente diga o contrário.”

No entanto, muitos próximos a Trump estão cada vez mais aliviados com a saída iminente de Musk de seu papel central ao lado do presidente e com o fim das inúmeras surpresas do DOGE — que variaram desde um e-mail surpresa no fim de semana exigindo que funcionários federais listassem sua produtividade até cortes acidentais em programas essenciais.

Sem mencionar as preocupações sobre Musk como um passivo político, que acabou se tornando um ponto de unificação para os democratas divididos, segundo a TVTNews.

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The New York Times: As lambanças da administração Trump

À medida em que Trump procura reformular a ordem comercial global, as alianças dos EUA vão se desgastando.

Trump já está mostrando sinais de preocupação de que seus alvos possam se unir contra ele.

Como os EUA construiriam casas sem mão de obra migrante e materiais estrangeiros?

Dê uma olhada, linha por linha, nos custos estimados para construir uma casa de quatro quartos em Phoenix, segundo a agenda do presidente Trump.

Trump diz que está decidido sobre plano tarifário que entrará em vigor na quarta-feira.

Cory Booker condena as políticas de Trump no discurso mais longo do Senado já registrado

Grande parte do discurso do senador de Nova Jersey, que durou mais de 25 horas, foi gasto atacando a administração Trump. Ele eclipsou um discurso de Strom Thurmond de 1957.

Se Nova York colocar um cassino no Bronx, Trump receberá US$ 115 milhões.

Promotores vão pedir pena de morte para Luigi Mangione, diz Bondi. A procuradora-geral Pam Bondi disse que a decisão estava de acordo com uma ordem do presidente Trump.

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Israel já matou mais de mil palestinos em Gaza após retomada do genocídio

Número total de mortos em Gaza desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023, é de 50.357 pessoas.

O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, disse na segunda-feira (31) que 1.001 pessoas foram mortas no território e 2.359 feridas no território palestino desde que Israel retomou os ataques em larga escala em 18 de março. De acordo com o comunicado do ministério, o número inclui 80 pessoas mortas nas últimas 48 horas, elevando o número total de mortos em Gaza desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023, para 50.357 pessoas.

O Gabinete de Mídia do governo de Gaza detalhou os ataques israelenses contra profissionais da área médica e de emergência, bem como seus locais de trabalho e veículos desde o início da ofensiva israelense em 2023. Ao todo 1.402 profissionais da área médica foram mortos, sendo 111 trabalhadores de emergência. Ao todo, 362 trabalhadores da área de saúde foram presos, 26 trabalhadores de emergência presos, 34 hospitais queimados, atacados ou colocados fora de serviço e 142 ambulâncias bombardeadas.

Um dirigente do Hamas pediu, nesta segunda-feira (31), aos seus simpatizantes em todo o mundo que peguem em armas para lutar contra o projeto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de realocar os habitantes de Gaza em países vizinhos.”Diante deste plano sinistro, que combina massacres com fome, qualquer pessoa que possa portar armas, em qualquer parte do mundo, deve entrar em ação”, afirmou Sami Abu Zuhri em um comunicado.”Não retenham um explosivo, uma bala, uma faca ou uma pedra. Que todo mundo rompa seu silêncio”, acrescentou.

No domingo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que permitiria que os líderes do Hamas abandonassem Gaza, se o movimento islamista palestino aceitar entregar as armas. Netanyahu também disse que Israel está trabalhando na ideia de Trump de deslocar os moradores de Gaza para outros países.

O primeiro-ministro disse que, após a guerra, Israel garantiria a segurança geral em Gaza e “permitiria a implementação do plano de Trump”. Alguns dias após sua chegada à Casa Branca, no final de janeiro, Trump propôs um deslocamento em massa das 2,4 milhões de pessoas que vivem no território palestino, sem que elas que possam retornar.

Em sua primeira entrevista desde que foi libertado da Faixa de Gaza, em fevereiro, em meio ao primeiro acordo de trégua, um ex-prisioneiro israelense em Gaza afirmou que a recente retomada das operações militares de Israel este mês não ajudaria a libertar as dezenas de reféns ainda mantidos no território palestino.

O Hamas afirmou, em novembro de 2023, que os três morreram em um ataque aéreo israelense que atingiu o local onde estavam detidos. Os corpos foram devolvidos em fevereiro, após a libertação do pai. O prisioneiro entrevistado, Yarden Bibas, disse que não acredita que a retomada dos combates em Gaza encorajaria o Hamas a libertar os reféns.

*Com AFP e Al Jazeera/BdF

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Trump diz que não está brincando sobre terceiro mandato presidencial

“Não, não estou brincando. Não estou brincando”, disse Trump, mas “é muito cedo para pensar nisso”, diz Trump.

Reuters – O presidente norte-americano, Donald Trump, disse neste domingo que não estava brincando sobre considerar buscar um terceiro mandato presidencial, o que é proibido pela Constituição dos Estados Unidos, mas que ainda era cedo para pensar nisso.

Trump, que assumiu o cargo em 20 de janeiro para seu segundo mandato não consecutivo na Casa Branca, tem feito alusões vagas à busca por um terceiro mandato, mas abordou diretamente o assunto em uma entrevista à NBC News por telefone neste domingo.

“Não, não estou brincando. Não estou brincando”, disse Trump, mas “é muito cedo para pensar nisso”.

“Existem métodos pelos quais você poderia fazer isso, como você sabe”, afirmou. O republicano se recusou a elaborar sobre qualquer método específico.

Os presidentes dos EUA são limitados a dois mandatos de quatro anos, consecutivos ou não, conforme a 22ª Emenda da Constituição dos EUA.

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Fascista, futurista ou vigarista? As origens de Elon Musk

A relação entre fascismo, futurismo e tecnocracia não é nova, e a trajetória de Elon Musk inclui laços diretos, pessoais e familiares, com esse passado.

Jasper Saah
Liberation News

Elon Musk deixou de ser simplesmente o homem mais rico do planeta e para virar um “presidente” nas sombras, com as mãos sobre os controles do poder executivo dos EUA. Esse golpe da elite do Vale do Silício tem sido analisado de diversas perspectivas na mídia corporativa e alternativa. No final de 2024, o Liberation News fez um perfil de Peter Thiel, o “dono” da chamada “Máfia do PayPal” – que inclui Elon Musk e um grupo seleto de nomes que são players influentes no mundo do capital de risco e no Vale do Silício, mas que estão relativamente fora dos holofotes.

É fundamental entender que, no fim das contas, esses oligarcas do Vale do Silício são capitalistas e criminosos, e trabalham para os interesses de sua classe. Não é exagero chamar esse grupo de homens de máfia. No entanto, seria um erro ignorar as forças ideológicas e históricas que moldaram essa fração da burguesia no que ela é hoje.

Quem detém o futuro?
O futuro é uma ideia poderosa e motivadora, além de ser um campo de disputa. A classe capitalista gasta bilhões de dólares para estabelecer a hegemonia sobre a forma como imaginamos o futuro – por meio do ensino da ciência, do desenvolvimento da tecnologia, do cinema, da literatura, da arte e das formas como falamos sobre progresso e desenvolvimento –, e os chamados “futuristas”, como Musk, são figuras-chave nessa batalha de ideias.

Muitas pessoas e grupos se autodenominaram “futuristas” ao longo das décadas. O termo tem suas origens nos movimentos artísticos de vanguarda europeus do início do século 20. O poeta italiano e declarado apoiador do ditador fascista Mussolini F. T. Marinetti, escreveu o “Manifesto do Futurismo” em 1908. Esse texto exaltava a mecanização, a automação e a guerra como forma de “limpar” a Terra das estéticas românticas decadentes e ineficientes do século 19. Não surpreendentemente, Marinetti mais tarde seria coautor do manifesto e do programa político do Partido Nacional Fascista Italiano.

Embora os futuristas como movimento artístico tenham caído no esquecimento após a Segunda Guerra Mundial, muitos dos princípios centrais dos futuristas – a fetichização da violência, da tecnologia, da guerra e da velocidade; o repúdio ao passado; e a adoção irrestrita de toda nova tecnologia, independentemente das consequências – inspiraram cientistas, engenheiros e autores da era da Guerra Fria.

Nessa época, figuras futuristas como o cientista e autor de ficção científica Isaac Asimov e o ex-cientista de foguetes nazista que se tornou diretor da NASA, Wernher von Braun, eram presenças constantes na TV, pintando imagens dramáticas da exploração humana do espaço e do cosmos. Von Braun, membro do Partido Nazista e da SS, foi o engenheiro-chefe do foguete V2 alemão, que devastou Londres durante os bombardeios da cidade. Esse foguete foi construído com trabalho escravo em campos de concentração.

Após a guerra, von Braun foi levado secretamente para os Estados Unidos pela Operação Paperclip e se tornou parte fundamental do Programa Apollo. Em 1953, ele escreveu um livro chamado “Projeto Marte”, que imaginava o mundo no ano de 1980, unido sob um governo mundial. O poder desse governo mundial era consolidado por uma Estrela da Morte no estilo de Star Wars, chamada Lunetta, em órbita da Terra, que teve papel integral na aniquilação nuclear da URSS e da República Popular da China em uma devastadora Terceira Guerra Mundial. No texto, esse governo mundial liderado pelo Ocidente estava empreendendo uma missão tripulada a Marte, algo pelo qual von Braun nutria profunda fascinação e paixão.

Ao chegar em Marte, os astronautas no livro de von Braun encontram o planeta vermelho habitado por marcianos cuja sociedade é organizada de forma tecnocrática e liderada por uma figura executiva conhecida como Elon. Errol Musk, pai de Elon – sul-africano, político pró-apartheid, engenheiro e beneficiário de uma mina de esmeraldas na Zâmbia – afirmou em entrevistas que, em sua juventude, leu as obras de von Braun e de outro cientista de foguetes nazista, Hermann Oberth, anos antes do nascimento de Elon. De fato, o líder marciano de von Braun, junto com o fato de que o bisavô materno de Elon também se chamava Elon – um nome com raízes no hebraico bíblico – foi uma inspiração direta para o nome de seu filho.

Tecnocracia e fascismo
Por parte de mãe, Musk é neto de Joshua N. Haldeman, um canadense defensor do movimento tecnocrata que se mudou para a África do Sul em 1950 e foi um fervoroso apoiador da Alemanha nazista e do apartheid sul-africano. A tecnocracia foi um movimento norte-americano que se desenvolveu na década de 1930, nos EUA e no Canadá, e que promovia uma visão anticomunista, antidemocrática e antiliberal do desenvolvimento econômico, à luz das crises do capitalismo durante a Grande Depressão.

O movimento tecnocrata teve suas raízes em várias tendências utópicas, tecnocráticas e antidemocráticas, e foi formalizado na organização “Technocracy Inc.” por seu fundador, o engenheiro americano Howard Scott. Scott compreendia que a crise econômica da Grande Depressão era resultante do “sistema de preços” que governava a troca e circulação de commodities, e, a partir dessa compreensão, os tecnocratas se apresentavam como mais radicais e esclarecidos do que comunistas, fascistas ou democratas liberais.

Um aspecto do pensamento tecnocrata que ressoa até os dias de hoje é sua compreensão da automação. Em resumo, a visão da tecnocracia é de que a classe trabalhadora está em processo de extinção devido ao avanço da tecnologia. Isso lhes permite a fantasia de uma sociedade totalmente burguesa, na qual não há trabalhadores a serem explorados ou escravizados, mas apenas proprietários e máquinas.

Essa visão foi criticada de forma sucinta pelos comunistas da época: “Quando os tecnocratas descartam a classe trabalhadora como um elemento diminuto e insignificante, isso só significa que a direção geral de suas teorias está caminhando para o fascismo, isto é, para a evolução de novos suportes para o sistema capitalista em colapso.”

Em todos os aspectos, Musk é uma força motriz na retomada de muitas visões tecnocráticas, futuristas e, em última instância, fascistas quanto ao futuro. Além das teorias econômicas descritas acima, o Technocracy Inc. também propôs a criação de um “Tecnato da América”, descrito na revista “The Technocrat”, do Technocracy Inc., como uma entidade política que “abrangerá todo o continente americano, do Panamá ao Polo Norte, pois os recursos naturais e as fronteiras naturais dessa área a tornam uma unidade geográfica independente e autossustentável.”

Este é um mapa com o qual os imperialistas norte-americanos vêm sonhando há séculos. Nos séculos 18 e 19, houve inúmeras tentativas de integrar o Canadá, de roubar cada vez mais território mexicano e de anexar diretamente Cuba e Porto Rico. Expansionistas confederados organizados na ordem fraternal dos Cavaleiros do Círculo Dourado sonhavam em anexar todo o México e a América Central, o Caribe e o norte da América do Sul, transformando o Golfo do México e o Caribe em um “Círculo Dourado” de estados de plantações escravocratas.

Mas o fato de algo não ser sem precedentes não significa que não seja novo. O ressurgimento e a inversão dessas formas dos séculos 19 e 20 nos dias atuais é algo novo, mas não historicamente sem precedentes. Podemos ver os ecos da tecnocracia e do futurismo na figura de Musk e como isso o moldou, enquanto um indivíduo criado nesse meio – na interseção do fascismo americano, alemão e sul-africano, nas tradições do futurismo e da tecnocracia, e alinhado com os interesses capitalistas do imperialismo norte-americano e da supremacismo branco global.

A farsa da “inovação capitalista”
No primeiro mês do retorno de Donald Trump à presidência, ele praticamente cedeu poderes executivos a Musk, que assumiu esse papel como Assessor Sênior de Trump e Administrador do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), aproveitando a oportunidade para lançar um ataque em grande escala contra vários segmentos do governo federal. Um dos principais alvos foram agências e departamentos federais que atendem o Departamento de Educação, os Departamento de Assuntos de Veteranos e a Agência de Proteção Financeira do Consumidor, todos responsáveis por facilitar benefícios, assistência e programas sociais dos quais centenas de milhões de pessoas nos EUA dependem diariamente.

Musk conseguiu efetuar esses cortes, como se estivesse usando uma motosserra nesses programas e benefícios, porque, em essência, demonstrou ao longo de sua carreira ser um servidor disposto do capital. Em sua trajetória profissional, ele sempre encontrou novas fontes de lucro, independentemente do custo moral ou ético. Além disso, sua riqueza foi, em grande parte, criada pelo papel de Musk como uma espécie de Robin Hood reverso. Desde a Tesla até a SpaceX, suas empresas sempre dependeram da riqueza pública dos EUA como muleta para evitar o colapso ou fracasso.

A história da Tesla nesse sentido é bem documentada. Em 2010, durante a administração Obama, a Tesla Inc. enfrentava sérias dificuldades. Seu modelo de negócios, que prometia um carro esportivo de 100 mil dólares, com uma fabricação considerada de baixa qualidade e um produto pouco confiável, não era, previsivelmente, suficientemente atrativo para manter a solvência da empresa.

“Não podemos avançar […] sem uma grande quantidade de capital”, afirmou Musk em dezembro de 2008. Felizmente para ele, a administração Obama estava mais preocupada em dar uma aparência “verde” a projetos empreendedores do que em resolver a crise climática e promover uma transição justa para um sistema de energia renovável.

Quase um ano depois da admissão de Musk de que precisava de um aporte de capital, Obama distribuiu um pacote de estímulo de 800 bilhões de dólares para “criar uma nova economia de energia verde”. Uma das beneficiárias desse estímulo foi, claro, a Tesla, que recebeu um empréstimo federal de 465 milhões de dólares para fabricar o modelo Tesla Roadster. Contrariando a chamada “inovação” que a classe capitalista afirma oferecer à sociedade, o Roadster acabou incorporando completamente o chassi já existente do carro Lotus Elise, de 1996. Essa falta de inovação levou a preocupações com o design e a segurança do veículo, preocupações que se confirmaram após dois recalls consecutivos de centenas de Roadsters, ambos relacionados à incompatibilidade do chassi e do sistema elétrico com a estrutura e a carroceria do carro.

No que o Roadster falhou como automóvel, ele triunfou como peça de propaganda. Em 2018, a SpaceX de Musk lançou um Tesla Roadster ao espaço, supostamente para Marte, em um truque publicitário que buscava se tornar um meme. O carro em si continha um manequim no banco do motorista, uma cópia do livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, de Douglas Adams, e a “Trilogia Fundação”, de Isaac Asimov, estava armazenada digitalmente no computador interno do veículo.

As imagens do feito criam uma referência visual a um verso do Manifesto Futurista: “Queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito de sua órbita.”

Em última análise, o Roadster é hoje simplesmente um pedaço de sucata espacial flutuando em algum lugar entre a Terra e Marte.

E, mesmo com todas as centenas de milhões de investimento, a Tesla continua incapaz de produzir um produto simplesmente bom, quanto mais seguro. Por serem movidos por uma bateria de íon de lítio, qualquer colisão tem o potencial de provocar um incêndio na bateria. Além disso, as portas da Tesla dependem de mecanismos elétricos para funcionar, podendo aprisionar os ocupantes se a bateria superaquecer durante uma colisão ou se o veículo ficar submerso em água. Uma colisão comum pode transformar uma Tesla em uma armadilha mortal para os ocupantes em poucos segundos. Casos como esses se tornaram tão infames que surgiu um movimento popular para documentar o número de mortes envolvendo o Autopilot da Tesla por meio do site tesladeaths.com, que, no momento da redação deste artigo, registra um total de 52 mortes relacionadas ao sistema.

*Opera Mundi